Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo
Autora: Flora Fairfield
E-mail: florafairfield@yahoo.com
Categoria: Romance/Drama
Classificação: PG-13
Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts
Disclaimer: Eles não são meus. São da J.K. Rowling e da Warner. Não tenho intenção de ganhar dinheiro algum com essa fic. Ela está aqui apenas para divertir os fãs e me ajudar a manter a minha sanidade mental, já que essas personagens não param de discutir na minha cabeça... Ah, antes que eu esqueça: a única coisa que eu pretendo conseguir com essa fic são as opiniões de vocês, portanto, mandem reviews ou mandem emails, como preferirem, mas mandem, ok?!!!!
N/A: Bom, aqui está finalmente o segundo capítulo. A pedidos, esse capítulo está bem maior que o último e é por isso que eu demorei mais do que planejava para postá-lo. Ele é bem grandinho e tem bastante coisa. A má notícia é que eu não tenho certeza se vou conseguir postar o terceiro capítulo antes do final do ano. É que época de Natal é sempre uma loucura e, depois, eu vou viajar no ano novo e, portanto, ficar longe do meu computadorzinho, então eu não sei. Mas prometo que vou tentar, okay? Pra compensar, pelo menos, eu coloquei uma boa dose de interação D/G nesse capítulo... Espero que vocês gostem!
N/A2: Como sempre, eu quero agradecer a todos que mandaram reviews e emails. Vocês são muito, muito gentis!!!! Muito obrigada mesmo! A opinião de vocês para mim é tudo, então, continuem falando, please!!!
* * *
Capítulo 2: Se nós tivéssemos essa noite juntos...Unstoppable
(The Calling)
Come and lay right on my bed, sit and drink some wine
/ Venha e deite-se na minha cama, sente e beba
algum vinho
I'll try not to make you cry
/ Eu vou tentar não fazer você chorar
And if you'd get inside my head, then you'd understand
/ E se você entrasse na minha cabeça, então
você entenderia
Then you'd understand me
/ Então você me entenderia
Why I've felt so alone, why I kept myself from love
/ Por que eu me senti tão sozinho, por que eu
me mantive afastado do amor
And you became my favorite drug
/ E você se tornou minha droga favorita
So let me take you right now and swallow you down,
/ Então deixe-me te tomar agora e te engolir
I need you inside
/ Eu preciso de você dentro
Refrão:
If we had this night together
/ Se nós tivéssemos essa noite juntos
If we had a moment to ourselves
/ Se nós tivéssemos um momento para nós dois
If we had this night together, then we'd be unstoppable
/ Se nós tivéssemos essa noite juntos, então nós continuaríamos sem parar
Do you think that this is right, or is it really wrong
/ Você acha que isso é certo, ou é realmente errado
I know that this is what we've been wanting
/ Eu sei que isso é o que nós temos desejado
And all this is burning in my soul, it fills up to my throat
/ E tudo isso está queimando na minha alma,
preenche até a minha garganta
It fills up till my heart is breaking
/ Preenche até que o meu coração esteja se
partindo
(Refrão)
Now, we can both learn
/ Agora, nós dois podemos aprender
Somehow, you'll see it's all we have
/ De alguma forma, você verá que isso é tudo o que temos
Love, it keeps us together
/ Amor, ele nos mantém juntos
and I need love
/ E eu preciso de amor
When I wake up without you, knowing you're not there
/ Quando eu acordo sem você, sabendo que você
não está lá
I'm only feeling half as good
/ Eu só me sinto meio bem
Well I'm gonna find a way
/ Bem eu vou encontrar um jeito
To wrap you in my arms, you make me feel alive
/ De envolver você nos meus braços, você faz
com que eu me sinta vivo
(Refrão)
20 de dezembro
A neve cobria todo o terreno de Hogwarts. Olhando de uma janela no terceiro andar, Draco foi invadido por uma montanha de lembranças da sua infância naquele local. Para gerações e gerações de bruxos, a escola havia sido como uma segunda casa e suas paredes significavam segurança. Agora, entretanto, ela estava de portas fechadas. Abrigar os alunos seria por demais perigoso - principalmente quando todos os professores estavam envolvidos na Guerra - então não havia barulho de crianças, nem decoração alegre de Natal. Os corredores estavam limpos e silenciosos, perturbados apenas pelo eventual ir e vir de soldados. A escola transformara-se em uma base de operações importante, além de ser também a sede da Ordem de Fênix.
Draco fechou os olhos ao se lembrar do motivo pelo qual estava ali. Quando ele saíra da Fortaleza Negra, quase carregando Harry Potter, encontrou o exterior bem mais calmo. Snape estivera correto. A luta tinha terminado e eles tinham vencido. Sem saber o que tinha acontecido lá dentro, Granger e Weasley correram imediatamente para socorrer Potter, preocupados e também desconfiados por encontrá-lo com Malfoy. Se a situação fosse outra, Draco provavelmente teria ficado com raiva por causa da desconfiança, mas no seu estado de espírito, ele apenas ficou grato por se livrar de Harry, deixando-o com seus amigos, e saiu andando sem sequer prestar atenção às perguntas dos dois. Tudo o que ele queria era desaparecer. Como isso seria impossível, contudo, ele planejava ter pelo menos alguns momentos de tranqüilidade para se recompor, colocar os pensamentos em ordem e tentar entender o que tinha acontecido, por que ele tinha salvo seu mais antigo rival.
Não havia, contudo, muitos lugares em que ele pudesse se esconder. Pessoas andavam de um lado para o outro, os corpos espalhados pelo chão estavam começando a ser recolhidos e identificados, e todos pareciam ocupados em fazer algo. Não demoraria para que alguém aparecesse com alguma tarefa para Draco, então ele simplesmente apoiou-se em uma das muralhas da fortaleza, do lado de fora, e deixou-se escorregar até o chão. Sua cabeça pesava sobre os ombros, e ele a deixou cair, a testa apoiada nos joelhos. Estava confuso. Extremamente confuso. Ele não entendia por que a felicidade da pequena Weasley deveria ser tão importante, ele não entendia o que tinha feito e isso o deixava com raiva. Draco permaneceu assim por alguns minutos, se punindo mentalmente, até que a exaustão acabou por vencê-lo e ele adormeceu. Pouco tempo depois, entretanto, foi despertado subitamente.
- Malfoy! Acorde, Malfoy! - a voz ríspida de Ronald Weasley chegou aos seus ouvidos.
- O quê? O que houve? - Draco perguntou, um tanto desorientado.
- Harry acordou.
- E o que eu tenho a ver com isso Weasley? - o outro respondeu, lembrando-se finalmente de tudo - Você não deveria estar lá, segurando a mão dele? - era possível ver as orelhas de Rony começando a ficar vermelhas de raiva diante do último comentário.
- Deus, Malfoy! Você tem que tornar tudo mais difícil, não é? - ele sibilou - Quando Harry acordou, ele contou como você o salvou...
- Esqueça, Weasley - o outro interrompeu, levantando-se por fim.
- Esquecer o quê?
- Você veio me agradecer, não é? Agradecer por salvar a vida do seu querido Potter e se desculpar por ter desconfiado de mim, certo?
- Bem... - começou Rony, meio desconcertado e com as orelhas agora queimando de raiva.
- Nossa! Como são previsíveis esses grifinórios! Pois eu só tenho uma coisa a dizer para você: dane-se! Esqueça! Eu não quero ouvir!
- Seu desgraçado! - Rony disse enraivecido, empurrando Malfoy contra a muralha com força - Eu vim aqui agradecer e isso é tudo o que você tem para falar? - ele o segurava contra a parede pelo colarinho - Você não passa de um desgraçado! Você não é melhor que um maldito comensal da morte, seu...
- Pode pegar seus insultos, Weasley - disse Draco, finalmente se soltando e empurrando-o para longe - junto com os seus agradecimentos e engoli-los! Eu com certeza não os quero! - ele sussurrou furioso - Volte para o lado da cama do seu precioso Potter. Ele vai sentir sua falta se acordar de novo e você não estiver lá para lamber as botas dele! - Malfoy completou, virando-se para ir embora, sem dar tempo para Weasley reagir.
Ele sabia que não deveria ter explodido daquela forma. Foi um erro, mas uma vez que ele começou a falar, não conseguiu se conter. Poucas pessoas possuíam a capacidade para tirá-lo do sério como Ronald Weasley. Tentando ignorar a onda súbita de raiva que o invadia só de relembrar o incidente, Draco abriu novamente os olhos e encontrou a mesma paisagem branca dos terrenos de Hogwarts o encarando de volta. Ele ouviu um barulho de porta se fechando e virou para ver quem tinha entrado na ante-sala. Harry Potter, que encontrava-se sentado em uma poltrona perto da entrada, levantou-se imediatamente para falar com Virgínia Weasley. Os dois conversavam em voz baixa. Era impossível ouvi-los, mas Draco desconfiava que tivesse algo a ver com ele. Enquanto o casal conversava, Malfoy não podia deixar de notar como a mão de Potter repousava casualmente sobre um dos ombros dela ou como os dois pareciam confortáveis um com o outro. Instintivamente, ele se virou de novo para a janela. Não queria prestar mais atenção naquilo. Pouco depois, contudo, Potter se dirigiu a ele:
- Nós devemos começar daqui a pouco, Malfoy - ele disse antes de passar por outra porta que levava à câmara onde logo Draco também deveria entrar. Sua última conversa com Potter ainda ecoava viva em sua mente. Tinha sido depois que todos já estavam estabelecidos na Fortaleza Negra. Os feridos estavam sendo tratados na enfermaria que eles montaram e havia começado a ser decidido quem deveria ficar ali para guardar o lugar e quem deveria partir em outras missões. Os comensais pareciam atordoados com a ação e com a derrota, e ainda não tinham começado as retaliações, mas todos sabiam que era apenas uma questão de tempo. Na fortaleza, eles estavam vivendo a calmaria antes da tempestade. Uma vez que os comensais se recuperassem do susto, revidariam com toda a força. Era crucial, então, que a Ordem de Fênix planejasse uma estratégia o mais rápido possível.
Draco estava fazendo o que podia para se manter alheio a tudo e para evitar uma certa enfermeira. Não era difícil, visto que Weasley tinha trabalho suficiente com todos os feridos e raramente saía da enfermaria. Ele não a via desde a noite anterior à batalha e já estava confuso o bastante desse jeito, então não queria vê-la tão cedo. Passava a maior parte do tempo nas masmorras, fazendo poções. As poções que ele e os outros usavam nas lutas. Ele não era o único a fabricá-las, mas como Snape sabia que Draco gostava de poções e gostava de ficar sozinho, ele tinha colocado seu ex-aluno em uma sala das masmorras, separado dos outros. Era tranqüilo lá embaixo e Malfoy realmente gostava da solidão. Era quase possível esquecer todo o horror daquela Guerra insana. Quase.
Ele tentava também ignorar os comentários que estavam florescendo na fortaleza sobre seu papel no salvamento de Potter. Black não o havia repreendido por não ter ficado do lado de fora como havia sido ordenado. De fato, poucas pessoas sequer chegaram a lhe dirigir a palavra, e os que o fizeram foram saudados com o mau humor usual. Ninguém entendia como ele, Draco Malfoy, tinha salvo a vida de Harry Potter. Nem mesmo o próprio Draco Malfoy. E todos, sem exceção, estavam surpresos porque ainda desconfiavam secretamente - e, em alguns casos, nem tão secretamente assim - dos motivos pelos quais um Malfoy teria se associado ao exército de Dumbledore.
Então, em uma tarde particularmente calma, na qual Draco estava ocupado, como sempre, em colocar ingredientes no caldeirão e remexer o conteúdo até a poção estar pronta, ele ouviu às suas costas o ruído de outra pessoa entrando na sua sala nas masmorras. Por um instante, seu coração se acelerou instintivamente, achando que talvez fosse a pequena Weasley que finalmente o tivesse descoberto. Ela era, afinal, a única pessoa que ainda falava com ele. Logo, entretanto, ficou óbvio que Draco enganara-se.
- Malfoy - a voz o chamou - nós precisamos conversar - um Harry Potter completamente recuperado se encontrava de pé, perto da porta, esperando por uma resposta.
- Estava demorando - o outro murmurou de má vontade - O que você quer?
- É tão difícil assim de imaginar?
- Não, não é nem um pouco difícil. Esses valores grifinórios estão sempre levando vantagem sobre você, não?
- Você salvou minha vida, Malfoy. O que espera que eu faça?
- Me agradeça simplesmente nunca mais dirigindo a palavra a mim - Draco respondeu seco, voltando-se para o caldeirão.
- Isso não vai ser possível - Harry retrucou, se aproximando. Como o outro permaneceu calado, ele continuou num tom mais gentil - Eu só quero entender.
- Entender o quê?
- Ora, você sabe muito bem o quê! Eu nunca acreditei que, se nós nos encontrássemos naquela situação, você realmente faria algo para me salvar, mas você fez, então eu obviamente estava errado.
- Não necessariamente.
- Como assim 'não necessariamente'? Você me salvou, não salvou?
- Salvei.
- Então?...
- Potter, desista. Vá embora. Eu não quero falar com você.
- Muito bem - o outro respondeu finalmente, após uma pausa - Mas é preciso que você saiba que eu te indiquei para a Ordem de Fênix.
- O quê?! - o queixo de Malfoy quase caiu com a surpresa. De todas as coisas que ele poderia ouvir, essa era certamente a menos esperada - Você o quê?
- Eu te indiquei para a Ordem de Fênix. E a indicação foi obviamente aceita.
- Você está brincando comigo.
- Não estou não. Você deveria ter sido aceito antes. Sua ação nessa Guerra tem sido com certeza importante. Você é um aliado valioso e Snape queria te indicar antes, mas as pessoas não...
- Não confiavam em mim.
- Exatamente.
- E agora elas confiam? Simplesmente porque eu salvei a sua maldita vida? - ele perguntou, a raiva começando a invadi-lo.
- Agora elas estão dispostas a arriscar.
- Isso é ridículo! Eu não quero esse raio de indicação! Não quero fazer parte de ordem nenhuma! - Draco quase gritou, descontrolando-se.
- Você certamente não está falando sério?! Entrar para a Ordem é a maior honraria que você poderia receber! Sem falar que vai levá-lo ao centro de todas as decisões que tomamos!
- Será que você não entende, Potter? Eu não queria salvar a sua vida! Eu não dou a mínima pro que acontece ou deixa de acontecer com você! E se dependesse de mim, você estaria morto agora! - ele gritou.
- A questão é que dependia de você. Só de você! E eu não morri! - Harry gritou de volta. Quando Draco não respondeu, contudo, permanecendo encarando-o em silêncio, ele perguntou, mais baixo - Por quê? Por que você me salvou?
O rosto de Gina Weasley foi a primeira coisa a aparecer na mente de Draco Malfoy diante da pergunta. Seu rosto e o brilho do anel em seu dedo. Olhando, então, diretamente nos olhos de Potter, ele ponderou se deveria falar a verdade. Por fim, decidiu-se pelo caminho mais seguro.
- Acredite, você realmente não quer que eu responda a essa pergunta - ele respondeu e sua voz tinha um tom final, de quem não admite mais questionamento.
- Muito bem, então. Mas eu não vou retirar a sua indicação para a Ordem. Se você realmente não quer fazer parte dela, você deverá repetir essas palavras para o conselho na hora da sua iniciação - e com isso, ele saiu das masmorras, deixando para trás um homem ainda mais confuso e atormentado.
Era por isso, então, que Malfoy estava em Hogwarts. A sua iniciação deveria começar em instantes e ele não tinha idéia do que aconteceria nela. Provavelmente nada de muito horrível, afinal de contas ele não estava se tornando um comensal da morte. Estava, ao contrário, apenas entrando para a seleta organização de Dumbledore, cujo objetivo era lutar contra os bruxos das trevas. A organização existia desde a década de 40, quando o bruxo Grindelwald foi derrotado pelo diretor, e permanecia a maior parte do tempo separada, dispersa. Tornar-se um membro dela, contudo, era um compromisso para a vida inteira e, sempre que necessário, você poderia ser novamente chamado. Apenas poucas pessoas no exército efetivamente faziam parte da Ordem. Potter estava certo quando afirmou que era a maior honraria que alguém poderia receber. Todos que eram aceitos deveriam ter-se demonstrado dignos de extrema confiança e também valiosos e valorosos em batalha, além de serem pessoalmente indicados por outro membro da organização. Além disso, era o conselho da Ordem que determinava os rumos, as estratégias, e a maioria dos planos da Guerra. Outros eram ouvidos, claro, em missões específicas e em situações específicas, mas o destino do exército como um todo era decidido na câmara em que Draco estava se preparando para entrar.
Ele ainda não se decidira sobre o que falaria. Não sabia se iria aceitar a indicação. Seria loucura recusar, era óbvio, e se Snape o tivesse indicado, ele provavelmente não teria pensando duas vezes. A verdade é que, entre outras coisa, Malfoy estava relutante em aceitar qualquer coisa que viesse por intermédio de Harry Potter.
- Você está preocupado - uma voz melodiosa interrompeu suas divagações, enquanto uma mão delicada foi colocada de leve no seu ombro. Draco fechou os olhos tentando ignorar o súbito contato.
- O que você quer, Weasley? - ele se obrigou a perguntar, mas sua voz saiu bem menos ríspida do que planejara. Ela saiu apenas cansada.
- Nada - ele deixou uma leve gargalhada escapar diante da resposta e se virou, sentindo o anel no dedo dela enquanto tirava a mão de Gina do seu ombro.
- Eu duvido - Draco disse e ela sorriu como uma criança que acabou de ser pega em flagrante travessura.
- Muito bem. Então eu quero alguma coisa.
- O quê? - ele perguntou novamente, não conseguindo sentir muita raiva agora que Gina estava ali na sua frente. Muitas vezes durante o último mês ele achara que iria matá-la na próxima vez que a visse. Talvez por isso também a estivesse evitando.
- Harry me disse que você não quer entrar para a Ordem - ela disse calmamente.
- Potter! Sempre Potter! Por que eu não adivinhei que ele tinha algo a ver com isso?
- Malfoy...
- Não, Weasley, eu não quero ouvir - ele disse firmemente, mas não chegou a se afastar dela. Provavelmente sabia que era inútil, que ela o seguiria de qualquer forma.
- Eu não perguntei se você quer ouvir. Você vai ouvir! - e continuando num tom mais gentil - Você sabe muito bem que seria tolice rejeitar a indicação. Seria...
- Eu não quero ter nada porque Potter simplesmente acha que me deve algo.
- Mas ele te deve algo! Ele te deve a vida!
- Será que você não entende? Eu não queria salvá-lo...
- Pela história que eu ouvi, você não o salvou por acidente!
- Isso não importa! - ele suspirou levando as mãos ao rosto, cansado - Você não entende.
- E como você quer que eu entenda - ela respondeu, tirando as mãos dele do rosto delicadamente e encarando-o nos olhos - se você não explica?
- E nem vou explicar - ele disse, por fim, após uma longa pausa - Acredite, Weasley, você não quer ouvir a explicação.
- E você, Malfoy, não deveria tomar essa decisão por mim. Mas, tudo bem, se você não quer me contar, então não conte - Gina falou com toda delicadeza do mundo - Apenas não rejeite a Ordem por isso. Você não está cansado de ter todos desconfiando de suas intenções o tempo inteiro? Não quer mostrar para eles do que Draco Malfoy é capaz? - ela completou com um sorriso, o mesmo sorriso maroto de dois anos antes e Draco ficou subitamente furioso. Furioso consigo mesmo por deixá-la guiá-lo desse jeito e furioso com ela por sequer tentar. Ele queria dizer algo que a magoasse, ele precisava dizer algo que a ferisse.
- Por que você está tão interessada no que eu faço ou deixo de fazer, Weasley? - ele começou com veneno na voz - Frustrada por que você mesmo não faz parte da Ordem? Por que todos os seus irmãos, até mesmo os gêmeos imprestáveis, estão lá dentro daquela câmara, esperando, e você está aqui fora, tentando descontar suas frustrações em mim? Hein? É isso?
- Claro que não, Malfoy - ela respondeu, baixando os olhos - Claro que não - Gina repetiu e havia um tom de tristeza tão marcado no seu jeito de responder que Draco se arrependeu quase que imediatamente por ter dito o que disse. Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, um silêncio carregado e estranho, até que Malfoy finalmente resolveu abrir a boca para tentar consertar o estrago que fizera.
- Não é culpa sua, sabia? - ele podia perceber que ela estava sorrindo de leve ao ouvir isso - Se os seus irmãos estúpidos não estivessem sempre tentando te proteger, sempre te deixando na retaguarda, eu tenho certeza que você estaria na Ordem agora - e, antes que ele pudesse se conter, esticou sua mão para o rosto dela, levantando-o suavemente pelo queixo, até que ele pudesse olhar nos olhos brilhantes com lágrimas não derramadas dela, e completou - Não que eu possa culpá-los, contudo, por tentar protegê-la. Não mesmo - como se tivesse acabado de perceber o que fizera, Draco soltou o queixo de Gina e desviou o olhar para a janela. Com certeza era mais seguro fitar a paisagem branca do que aqueles olhos castanhos.
- Eu não sei se eu teria coragem - ela falou depois de algum tempo - Já é ruim o suficiente ter que cuidar dos feridos. Não sei se eu agüentaria estar na linha de frente e efetivamente ver as feridas sendo infligidas.
- Você teria coragem - ele respondeu firmemente - O chapéu não teria te colocado na Grifinória se você não tivesse.
- Eu não sei se era essa Guerra que o chapéu tinha em mente quando fez a escolha.
- Provavelmente não, mas isso não faz diferença.
- Eu não sei. Mas é possível que, antes que esse inferno passe, eu tenha uma chance de me provar - Gina falou, sem muita vontade.
- Deus queira que não - Draco respondeu, encarando-a novamente - Deus queira que não - ele repetiu e continuou a olhá-la, sem se preocupar com mais nada. Talvez a resposta para as suas perguntas estivessem dentro daqueles grandes olhos castanhos.
- Quanto à Ordem... - Gina disse finalmente, quebrando o silêncio e desviando o olhar.
- Potter mandou você falar comigo, não mandou?
- Harry não manda em mim, Malfoy - ela respondeu, um pouco irritada - Ele apenas comentou o que você tinha falado. Ele sabe que eu sou a única pessoa com quem você ainda troca mais de cinco palavras consecutivas. Bom, além do Snape, claro, mas você não poderia esperar que Harry fosse pedir ajuda ao Snape, poderia?
- Não, não poderia - e após uma pausa - Então você veio falar comigo por que Potter pediu sua ajuda? - ele não entendia por que era tão importante para ele que Gina estivesse ali por sua própria vontade.
- Eu vim falar com você... - ela começou, mas nunca chegou, entretanto, a concluir, pois nesse exato momento, as portas da câmara se abriram e Harry Potter entrou de novo na ante-sala, se dirigindo a Malfoy:
- Nós estamos prontos para você - ele falou.
Draco voltou seus olhos para Gina, esperando que ela completasse a frase, mas ela apenas sorriu para ele - de novo aquele sorriso maroto - e murmurou:
- Boa sorte, Malfoy. Não faça nenhuma besteira - com um leve aceno de cabeça para Harry, ela se virou e saiu pela outra porta, para o corredor. Sem outra opção e com vontade de matar o precioso Potter - não que isso seja realmente uma surpresa - pelo seu senso de oportunidade perfeito, Draco o seguiu para dentro da câmara.
A sala de reuniões do conselho da Ordem de Fênix era simplesmente grandiosa. Mesmo acostumado com os ambientes ricos e luxuosos da sua Mansão, Draco não conseguiu conter uma exclamação de surpresa. O teto da câmara era encantado como o do Grande Salão, mas, ao invés de espelhar o céu de inverno do lado de fora, que no momento estava começando a escurecer, ele mostrava o céu claro de um dia de verão, com nuvens brancas fofas e raios de sol que iluminavam todo o local. Não havia ornamentos exagerados nas paredes. Apenas alguns poucos quadros e muitas janelas que mostravam todo o terreno de Hogwarts. A sala ficava em uma torre, a torre mais alta da escola, mas ainda assim era quadrada e não circular. O chão impecável era de mármore branco, com um grande círculo desenhado em dourado. A primeira metade do círculo, a parte mais perto da porta, ficava completamente descoberta, enquanto a segunda metade era toda coberta por uma grande mesa em meia lua. A mesa era de madeira escura, sólida, e ao redor dela estavam sentados os membros da Ordem de Fênix. Alguns estavam ausentes em missões, mas a maioria estava ali. A mesa certamente havia sido aumentada com mágica para que todos pudessem se sentar e, do centro do círculo - que era marcado por uma pequena mesa redonda de mármore maciço - saía uma reta dourada que ia até cada uma das pessoas sentadas. Dumbledore se encontrava no lugar que ficava exatamente no meio de todos e atrás dele, apoiado no encosto de sua cadeira, estava uma ave, uma fênix, que observava tudo com olhos extremamente atentos.
Potter indicou com a cabeça que Draco deveria se colocar diante da mesa redonda, no centro do círculo, e se dirigiu para uma cadeira que ficava perto de uma das pontas da mesa. Isso não deixou de ser um pouco surpreendente, já que Malfoy esperava que ele ficasse bem perto de Dumbledore, mas as cadeiras do centro da mesa estavam ocupadas por membros mais velhos da Ordem. Era impossível não notar um certo clima de desconforto no ar. Obviamente, nem todas as pessoas na sala estavam tranqüilas em aceitar a iniciação de um Malfoy, mas ninguém deve ter ousado questionar uma indicação do próprio Menino-Que-Sobreviveu e, claro, o fato de que ele salvara a vida de Potter era inegável. Notando isso, Draco sentiu pela primeira vez uma vontade imensa de se sentar com eles, naquela mesa, apenas para mostrar que ele podia, para mostrar que ele tinha chegado até ali. Gina tinha razão. Ele queria mostrar para essas pessoas que se achavam melhores do que ele do que Draco Malfoy era capaz.
Uma vez que ele se colocou ma posição indicada, Dumbledore começou a falar:
- Bem-vindo, Sr. Malfoy, ao conselho da Ordem de Fênix. Um homem ou mulher só é aceito dentro dessas paredes depois de ter dado mostras do seu valor e do seu comprometimento com a nossa causa. Além disso, ele deve ser especificamente indicado por um membro da Ordem por algum ato de bravura. Ao salvar a vida do Sr. Potter, você provavelmente pode ter decidido o rumo que essa Guerra vai tomar, ou pelo menos, impedido-a de tomar um rumo que seria por demais terrível. Nada mais natural, então, Sr. Malfoy, que você tenha sido por isso indicado para se juntar a nós. A sua indicação foi obviamente aceita e, agora, o que falta é apenas um pequeno teste antes que você possa tomar seu lugar à nossa mesa. Eu quero deixar claro, contudo, que você não está de forma alguma obrigado a permanecer aqui e em qualquer momento da iniciação, você poderá ir embora sem concluí-la, se você assim preferir.
Draco ouvia tudo com uma expressão calma e compenetrada. A sua máscara usual de frieza que ninguém - ou pelo menos quase ninguém - conseguia penetrar estava sendo bem utilizada, mas Dumbledore o olhava de forma penetrante como se pudesse ler a sua própria alma.
- À sua frente, sobre a mesa redonda, há três cálices - ele disse e Draco olhou para baixo notando pela primeira vez as taças, todas cheias com líquidos de cores diferentes e marcadas com o desenho de uma fênix em alto relevo - Em cada um deles, há uma poção que ninguém fora dessa sala sabe como produzir. Você deverá beber todas as três. Primeiro, o cálice transparente contém uma poção da verdade. Ao contrário da maioria das poções desse tipo, essa não vai fazer com que você se sinta desligado do seu corpo e do que você está falando. Você terá plena consciência de tudo o que está acontecendo e ainda será senhor da sua mente, mas não conseguirá mentir. A iniciação é o único momento em que será pedido que você beba uma poção da verdade. A partir dela, apenas a sua palavra nessa sala deverá ser suficiente, está claro?
- Sim - Draco respondeu com firmeza.
- Então, beba o conteúdo do cálice, Sr. Malfoy - sem hesitar, Draco estendeu o braço e pegou a taça, levando-a à boca. A poção não tinha gosto nem cor. Era perfeita para ser ministrada em segredo a alguém, principalmente porque ela não provocou nenhum efeito diferente. Draco não sentiu absolutamente nada. Provavelmente só perceberia a ação da receita se tentasse mentir.
- Muito bem. Agora, o cálice negro. Ele contém a mais importante e a mais perigosa das três poções. Ela provavelmente merece o nome de poção da verdade mais do que a primeira, porque ela deve, uma vez ingerida, lhe mostrar um vislumbre, uma visão completamente verdadeira - Dumbledore levantou a mão impedindo Draco de fazer qualquer pergunta - Sim, eu sei, Sr. Malfoy, que é confuso. Provavelmente só vai ficar claro depois que você beber o conteúdo do cálice. É possível que você veja algo que já aconteceu, algo que vai acontecer ou mesmo algo que nunca aconteceu nem nunca acontecerá. Independente disso, eu posso lhe garantir que a poção lhe mostrará exatamente aquilo que você mais precisa ver - Dumbledore fez uma pausa, esperando por alguma reação, mas ela nunca veio. Ele continuou, então - Beba, Sr. Malfoy.
Dessa vez, Draco hesitou um pouco internamente. Olhando todos aqueles rostos esperando um fracasso, contudo, ele se decidiu. Estendendo de novo a mão, ele pegou a taça. O líquido era escuro, negro, e seu gosto, extremamente amargo. Assim que terminou de beber a poção e colocou o cálice de volta na mesa, Draco começou a sentir seu estômago se embrulhar. Ele sentiu náuseas e se contorceu, achando que ia vomitar. Antes disso, entretanto, a dor lancinante começou. Uma dor gigantesca, diferente da dor da maldição cruciatus, mas tão terrível quanto. Todo o seu corpo doía igualmente, desde os pés até o último fio de cabelo. Ele tentou se apoiar na mesa, mas não conseguiu. Finalmente, caiu no chão, a cabeça virada para o teto. Ninguém na mesa fez menção de ajudá-lo. A dor não diminuiu e, por um segundo, Draco pensou que estava morrendo. Logo depois desse pensamento, tudo ficou escuro.
Ele demorou um pouco para entender o que estava acontecendo. Num minuto, ele estava de pé, diante do conselho da Ordem, e, no seguinte, estava parado na porta de um quarto mal iluminado pelo luar. Draco não tinha idéia de onde estava. Nunca estivera naquele apartamento antes. Desorientado, olhou ao redor, e quase caiu de surpresa ao perceber que, às suas costas, não havia nada. Absolutamente nada. Estava tudo escuro, como se ele estivesse parado à beira do infinito. Ele parecia preso em um estranho pesadelo. Assustado, Draco se virou novamente na direção do quarto, tentando controlar a sua respiração. Olhando mais atentamente, ele notou a silhueta de uma pessoa deitada na cama, em posição fetal, contra a janela. Subitamente feliz por encontrar alguém que poderia ajudá-lo, ele se precipitou para dentro do quarto, acendendo o interruptor. Quando se virou novamente para a cama, contudo, se deparou com a pior cena que sua imaginação poderia ter produzido.
Havia sangue por todo o lado. A cama estava ensopada, tingida de um vermelho vivo assustador. No meio de tudo, estava uma mulher... era Gina, deitada... quieta... morta... O cérebro de Draco demorou para processar o que estava vendo. Gina estava morta. Aquilo não podia ser verdade, podia? Precisando ter certeza, ele se aproximou, tocando-a primeiro de leve e depois, notando a frieza do seu corpo, puxando-a desesperadamente contra seu peito. Era impossível colocar em palavras tudo o que ele estava sentindo. Ele não deveria se sentir assim tão devastado, afinal de contas, ela era apenas uma Weasley, certo? Mas, no momento, todo o seu raciocínio lógico parecia estar esquecido, perdido em alguma parte da sua alma, enquanto todo o seu coração gritava em desespero. Ela estava morta.
Draco abaixou sua cabeça, apoiando-a na cabeça de Gina. Não parecia perceber mais nada ao seu redor além daquele corpo sem vida, sem esperança. Sem que ele notasse, lágrimas começaram a cair do seu rosto. Lágrimas pelo futuro que ele nem sabia que queria e que agora estava perdido para sempre. Lágrimas por ela.
Ele fechou os olhos, tentando esquecer onde estava e o que tinha acontecido. Fechou os olhos desejando poder morrer também, junto com ela. Subitamente, contudo, Draco sentiu uma luz batendo em seu rosto, incomodando-o. Ele queria se livrar da luz e voltar para a escuridão. Queria escapar, mas a luz não o deixou em paz. Draco, então, abriu finalmente os olhos e teve que se conter para não gritar de surpresa.
Sua mão estava sobre a mesa, ainda segurando o cálice negro do qual ele acabara de beber a poção e, na sua frente, Dumbledore o encarava de forma penetrante, seus olhos brilhando. Surpreso e sem entender o que tinha acabado de acontecer, Draco olhou ao redor da mesa, vendo todos os rostos encarando-o como se nada de extraordinário houvesse ocorrido. Gina estivera morta nos seus braços e agora ele estava de volta, como se não fosse nada. Um misto de raiva e indignação o invadiu. Como eles ousavam brincar com a mente dele daquela forma? Estava a ponto de explodir quando finalmente entendeu que tudo estava bem, que Gina ainda estava viva. Isso foi suficiente para acalmá-lo, para fazê-lo voltar à realidade e encarar novamente o conselho da Ordem.
- Bom, Sr. Malfoy - Dumbledore começou - É certo presumir que você já teve a sua visão?
- Sim - Draco respondeu antes que pudesse pensar. Com certeza, era o efeito da poção da verdade.
- Muito bem. Está na hora, então, da terceira poção. Mas antes, você deve responder a uma pergunta: Draco Malfoy, você deseja se juntar à Ordem de Fênix, e assim se comprometer conosco por toda a sua vida, de livre e espontânea vontade e sem nenhum motivo que não esteja relacionado com a sua vontade de nos ajudar a vencer essa Guerra?
Na sala, nenhum ruído podia ser ouvido. Todos os olhos estavam grudados em Malfoy.
- Sim - finalmente ele respondeu, como antes, sem que pudesse pensar. Nem mesmo ele sabia que seria essa a resposta que sairia da sua boca antes de ouvi-la em voz alta.
- Muito bem, então - e após uma pausa - O cálice azul contém o que nós chamamos de poção da sabedoria. Ela não fornece todas as respostas. Não há nada no mundo que possa fazer isso, mas ela vai ajudar a clarear sua mente para que você possa entender o que acabou de ver. E você não precisa se preocupar, Sr. Malfoy, ninguém nesta sala irá lhe perguntar sobre detalhes de sua visão da mesma forma que você não deverá fazer essa pergunta para nenhum dos membros da Ordem, está claro?
- Sim - Draco respondeu.
- Beba, então, o conteúdo do último cálice - Dumbledore ordenou.
Com a mão ligeiramente trêmula e com um pouco de medo do que a terceira taça poderia revelar, Draco a pegou entre os dedos. Dessa vez, o líquido era vermelho como sangue e doce, extremamente doce. Assim que terminou de bebê-lo, Draco começou a se sentir melhor. O efeito foi instantâneo. Era como se os seus pensamentos, as suas lembranças estivesses sendo reorganizados na sua mente. Tudo o que antes parecia um emaranhado de palavras e de sentimentos estava começando a fazer sentido.
- Sr. Malfoy - Dumbledore falou, interrompendo-o - não se preocupe. Haverá tempo suficiente para que você possa examinar seus pensamentos. E o efeito da poção da verdade deverá passar em alguns minutos. Agora, entretanto, é hora de você ser recebido entre nós - e conforme Dumbledore falava, mais uma reta dourada foi surgindo do chão, em direção à mesa, onde uma cadeira vazia, que não estava ali antes, havia aparecido. A cadeira ficava na ponta esquerda da mesa, o lado oposto de onde ficavam os lugares de Potter, Weasley e Granger - Você deve, agora, percorrer a mesa da direita para a esquerda, cumprimentando todos os membros da Ordem.
Aquele foi provavelmente um dos piores momentos da vida de Draco. Nunca antes ele tinha visto tantas pessoas que ele detestava - e que o detestavam de volta - juntas em uma mesma sala e seu único consolo era perceber que elas estavam gostando daquilo tanto quanto ele. Por fim, contudo, Draco chegou ao seu lugar e, na mesa à sua frente, encontrou o distintivo da Ordem - uma fênix de ouro com as asas abertas - que ele deveria passar a usar no seu uniforme, como eram usados os distintivos de monitores em Hogwarts.
- Bom, essa reunião está oficialmente terminada - disse Dumbledore logo que Draco se sentou - Todos deverão estar aqui amanhã, à mesma hora, pois há muito o que discutir. Por hoje, contudo, vocês estão dispensados.
Lentamente, cada um dos presentes foi se levantando e saindo, sem dizer mais nenhuma palavra. Parecia que estavam saindo de um funeral e, com certeza, era assim que eles estavam se sentindo, tendo acabado de aceitar um Malfoy na Ordem. Todos, exceto, é claro, Snape e Dumbledore. Este encarava Draco com um olhar divertido, como se soubesse desde o início que aquilo iria acontecer.
Também silenciosamente, Malfoy se levantou e seguiu os outros. Ainda não tinha se livrado do efeito da última poção. Seus pensamentos continuavam se movimentando, como engrenagens que se encaixam, e ele precisava de tranqüilidade para raciocinar. Foi direto para os seus aposentos, então, sem se preocupar em acender as luzes, e se jogou na cama de quatro colunas, fechando os olhos.
As imagens que ficavam voltando sempre à sua mente eram as da conversa que ele tivera com seu eu do futuro na Mansão, há dois anos. Finalmente ele era capaz de entender o medo e o desespero daquele homem. Ele dissera que encontrara Gina morta, que ela tinha se matado e fora exatamente essa cena que Draco vira. Ele demorou um pouco para entender, mas finalmente tudo ficou claro, tudo começou a fazer sentido: como ele se sentia perto dela, por que ele salvara Potter, por que ele sentia ciúmes loucos só de imaginá-la nos braços do noivo. Deveria ter sido óbvio desde o início, mas como ele poderia ter adivinhado? Ela era, afinal de contas, apenas uma Weasley. Antes, ele dissera que não se importava com o que aconteceria com Gina. Por que ele deveria ligar se ela era encontrada com os pulsos cortados ou não? Ao segurá-la em seus braços, morta, contudo, Draco percebera o quanto estivera errado. Dumbledore estava absolutamente correto quando disse que ele veria exatamente o que precisava ver. Isso não o impedia, contudo, de continuar sentindo medo.
Batidas leves na porta interromperam o seu raciocínio e Draco levantou-se irritado para ver quem queria falar com ele. Quando abriu, contudo, a porta, deu de cara com os olhos castanhos de Gina, encarando-o.
- Nós não terminamos a nossa conversa - ela falou simplesmente.
- A cerimônia de iniciação já foi concluída - ele comentou - Se eu tivesse dito não, você não poderia fazer mais nada a respeito - Draco completou antes que pudesse se impedir, mas ainda assim se moveu para o lado para que ela entrasse e acendeu as luzes com um movimento de varinha - Eu estou realmente cansado, Weasley - ele não se sentia forte o suficiente para lidar com ela naquele momento. Temia fazer coisas das quais se arrependeria depois.
- Não se preocupe, Malfoy - Gina respondeu, sentando-se na beirada perto do pé da cama - eu não vou fazer perguntas difíceis. Só quero saber como foram as coisas.
- Weasley - ele respondeu, fechando a porta e sentando-se na cama também, na cabeceira - Você sabe tão bem quanto eu que a cerimônia é secreta.
- Seu bobo! - a outra exclamou rindo - Eu não quero uma descrição detalhada do que aconteceu! Só quero que você me diga como foi, no geral.
- No geral? Bom, no geral, acho que foi tudo bem - ele disse por fim, jogando na direção dela o distintivo da Ordem - Eu fui aceito, não fui?
- Que bom! - Gina respondeu, examinando a fênix - Eu estou muito orgulhosa - ela completou sorrindo.
- O que, pelo amor de Deus, eu escrevi para você naquela carta??? - Draco perguntou, mudando de assunto subitamente.
- Eu já disse: talvez um dia eu te conte, quando você estiver pronto. Mas por que o interesse tão repentino? Você não tocava nesse assunto há dois anos!
- Eu só estava tentando entender.
- Entender o quê?
- Você.
- Eu?
- É, você! Por que você está sempre por perto? Por que você se importa tanto? Deve ter sido uma senhora carta!
- Foi. Realmente foi - Gina respondeu séria - Você preferiria se eu não me importasse? - ela perguntou por fim.
- Não. Às vezes eu acho que você é a única coisa que me mantém são nesse inferno. Mesmo, é claro, que na maior parte do tempo, você só faça me irritar! - ele acrescentou por boa medida, com um sorriso. Gina sorriu de volta por um momento, e depois ficou séria de novo.
- Você perguntou antes se eu tinha ido conversar com você só por que Harry pediu minha ajuda e a resposta é não, Draco. Eu fui falar com você porque eu quis. Você sabe que eu adoro atazanar a sua paciência.
- É verdade, pequena, você adora. Eu sou irresistível ou não sou? - ele perguntou, lançando para ela um olhar significativo.
- Ora, por favor, não seja convencido, Malfoy.
- Gina, isso é o mesmo que pedir ao sol para parar de brilhar!
- É verdade - ela não resistiu e começou a rir - Você está certo - e após uma pausa - O que houve com você?
- Como assim?
- Bom, essa é a primeira conversa realmente civilizada que nós temos. Você não está nem tentando me expulsar...
- Adiantaria se eu tentasse?
- Claro que não, mas isso nunca te impediu antes. Diga-me: o que houve?
- Nada.
- Eu estou falando sério.
- Se você perguntar de novo, Weasley, eu vou te expulsar.
- Nós dois já chegamos à conclusão de que você não vai conseguir.
- Ah, mas eu vou! Nem que eu tenha que te carregar para fora!
- Eu gostaria de ver você tentar!
- Isso é um desafio? - Malfoy perguntou num tom perigoso e Gina achou melhor recuar.
- Não, não é. Apenas fiz um comentário.
- Acho bom - e mudando de assunto - Afinal de contas, como você consegue?
- Consigo o quê?
- Saber quando eu estou mentindo. Eu passo boa parte do tempo tentando mascarar da melhor forma possível o que eu estou pensando e aí, chega você e estraga tudo. Como você consegue, Gina?
- Eu não sei, Draco. Talvez... bom, talvez haja algum tipo de ligação entre nós por causa de tudo o que aconteceu, de tudo o que poderia ter acontecido... e nós não podemos esquecer que foi você quem salvou minha vida.
- É verdade. Eu tinha esquecido isso.
- Como você pode esquecer algo assim? - ela perguntou abismada.
- Não sei. Quer dizer... eu penso bastante sobre esse assunto, mas agora tinha me escapado... não sei. Aquele foi o dia mais louco da minha vida.
- O mais louco? Mesmo depois de tudo o que você viu nessa Guerra?
- Experimente sentar e conversar com você mesma, dezoito anos mais velha, Weasley, e talvez você entenda o que eu quero dizer.
- Pelas cartas, eu acho que não ia gostar muito de me encontrar - ela comentou com um tom amargo - Eu não era muito feliz.
- Você se matou - Draco acrescentou secamente.
- Sim, me matei - e após uma pausa - Às vezes, eu fico pensando, tentando imaginar tudo o que o seu pai faria comigo se eu tivesse continuado prisioneira...
- Não faça isso - Draco interrompeu. Era algo doloroso demais de se considerar.
- Eu não consigo evitar, Draco - ela continuou, com lágrimas nos olhos - Quer dizer, você o conhecia, sabia do que ele era capaz...
- Eu já disse - ele a interrompeu de novo, se aproximando e colocando uma de suas mãos na bochecha dela delicadamente - Não faça isso, Gina. Não vale a pena perder seu tempo imaginando coisas que não vão acontecer. Meu pai está morto e foi muito bem cremado.
- Eu sei, mas...
- Shhh... - ele murmurou, levando um de seus dedos aos lábios dela para impedi-la de continuar - Não fale mais nada - Draco sussurrou e, milagrosamente, ela obedeceu.
Não pela primeira vez em sua vida, Malfoy observou o quão bonita ela era, com os cabelos vermelhos emoldurando seu rosto e aqueles olhos castanhos profundos e, no momento, completamente vulneráveis. Sem pensar, quase que instintivamente, Draco se inclinou e a beijou. Primeiro de leve, como aquele primeiro beijo, há dois anos, e depois com um pouco mais de intensidade. Gina, contudo, o interrompeu, parando para encará-lo e abrindo a boca para dizer algo. Novamente, Draco a impediu, colocando um dos dedos sobre os lábios dela.
- Não, Gina, por favor - ele sussurrou, seus olhos implorando - por favor, não diga nada - e, pela segunda vez, ela o obedeceu, permitindo que Draco a beijasse de novo, agora sem leveza. Ele tentou colocar naquele ato tudo o que sentira ao segurá-la morta; toda a confusão que clareava-se pouco a pouco em sua mente; todo o medo e também toda a ternura, todo o amor, e o resultado foi o primeiro beijo de verdade que os dois trocaram. O primeiro beijo que significava mais, muito mais do que qualquer um poderia imaginar. O primeiro beijo de duas pessoas completamente, perdidamente apaixonadas.
N/A3: Antes que qualquer pessoa diga que acha que os dois ficaram juntos cedo demais, eu tenho um pedido a fazer: ESPEREM PELO PRÓXIMO CAPÍTULO!!!! Eu sou má, não sou?
