Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Categoria: Romance/Drama

Classificação: PG-13

Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts

Disclaimer: Draco, Gina, Harry e Cia não são meus. Eles são todos da Rowling, mas como eles não gastam com uso, eu os peguei emprestados um pouquinho. Prometo devolvê-los sem muitos arranhões e somente com alguns traumas psicológicos. Ah! Eu não vou ganhar dinheiro nenhum com essa história, mas agradeceria se recebesse as opiniões de vocês. Eu sou toda ouvidos...

N/A: Em primeiro lugar, eu tenho que pedir milhares de desculpas pela demora. Eu sei que esse capítulo levou uma eternidade para sair, mas realmente o final de ano aqui em casa é sempre uma loucura, eu fiquei praticamente sem usar o computador, e, depois, viajei pouco depois do Natal e demorei mais para voltar do que esperava. Com tudo isso, acabei demorando para escrever. Também negligenciei vários emails que recebi. Eu peço desculpas pela demora nas respostas. Acho que agora já consegui responder a quase todos. É que desde que eu voltei para casa, dei preferência a terminar o capítulo e acabei não respondendo aos emails imediatamente por causa disso. Mas eles já estão praticamente em dia agora.

N/A2: Eu não poderia também deixar de agradecer às reviews e aos emails que eu recebi sobre o segundo capítulo. Eu fico imensamente feliz que vocês tenham gostado. Esse capítulo foi um que eu particularmente gostei de escrever. As idéias foram surgindo naturalmente. Tenho que admitir que fiquei um pouco surpresa a princípio quando várias pessoas - inclusive a minha beta - disseram que chegaram quase às lágrimas com o final. Realmente eu posso jurar que dessa vez não foi minha intenção fazer ninguém chorar, mas depois que eu reli o capítulo com calma, eu também quase chorei e aí eu entendi vocês. Muito obrigada mesmo e eu espero que vocês gostem desse terceiro capítulo! Eu, particularmente, adorei o final dele...

Boa leitura!

*   *   *

Capítulo 3: Negação

21 de dezembro

O dia estava claro. Um belo dia de inverno, sem nuvens e sem nenhum sinal de tempestade no céu. Hogwarts ainda estava toda coberta com a neve que caíra durante a noite e o frio mantinha as pessoas no interior do castelo, perto das lareiras ou encolhidas debaixo dos cobertores. Seria Natal logo e, não fosse pela Guerra, todos estariam felizes, provavelmente enchendo os corredores com luzes e fitas e cantos. Diante das circunstâncias, contudo, ninguém se sentia realmente bem para fazer as coisas típicas dessa época do ano. A única concessão era para as crianças órfãs mantidas em uma das alas de Hogwarts. Elas tinham alguns enfeites e presentes. Talvez até um pouco de canto que, numa manhã como essa, seria capaz de emocionar qualquer passante, por mais endurecido que fosse o seu coração, lembrando-o dos dias anteriores ao inferno.

Os aposentos de Draco Malfoy, entretanto, ficavam em uma ala bem distante da pertencente aos órfãos. Ele não gostava particularmente de crianças. Achava-as inconvenientes, no mínimo, e irritantes na maioria das vezes. Quanto mais longe delas, ele pensava, melhor. Ignorava, contudo, que, apesar de seu comportamento quase sempre imprevisível, as crianças tinham uma incrível capacidade de surpreender os adultos. E de trazer à superfície o que de melhor havia neles. Dessa forma, graças aos seus próprios preconceitos, ao invés de acordar com o leve e doce som do canto dos pequeninos nos seus ouvidos, Draco Malfoy acordou para o silêncio cortante do seu quarto. E para o frio da solidão em sua cama.

Ele sabia que deveria haver algo de errado com isso. Ele não deveria estar sozinho. Ao menos não nessa manhã. Mas ele estava.

Suas cortinas estavam abertas, deixando o sol entrar e iluminar todo o aposento, sem misericórdia. Olhando para o relógio em sua cabeceira, ele notou que já eram nove da manhã e estranhou que tivesse dormido até tão tarde. Normalmente, Draco tinha problemas para dormir e acordava cedo. Bem cedo. Principalmente quando a claridade do sol invadia seu quarto daquele jeito. Mas não hoje. Hoje, ele acordou de um sono pesado e sem sonhos. Um sono realmente reconfortante como ele não dormia há anos.

Piscando e esfregando os olhos até que eles estivessem abertos e atentos, Draco olhou ao redor da cama, procurando suas roupas. Ele não estava vestindo o pijama usual, e suas vestes do dia anterior, bem como a fênix de ouro, seus sapatos e meias estavam espalhados pelo chão. O fogo na lareira havia morrido em algum momento durante a noite, deixando o ambiente gélido. Tentando ignorar o ar frio que entrou em contato com sua pele assim que ele saiu debaixo dos cobertores, Draco colocou suas calças e as meias e deu a volta na cama para encontrar sua camisa. Ele a colocou lentamente e, antes que pudesse abotoá-la, uma batida na porta chamou sua atenção. Piscando mais uma vez, e procurando colocar de lado o sono ainda óbvio em seus olhos, Draco atendeu a porta.

- Malfoy, será que eu poderia falar com você um momento? - a voz inconfundível de Harry Potter disse.

'Meu Deus', Draco pensou, empalidecendo consideravelmente. 'Ele sabe' eram as palavras que se repetiam sem parar na sua cabeça. Tentando parecer calmo como sempre, contudo, ele perguntou firme:

- Sobre o que você quer falar, Potter?

- Sobre ontem à noite, claro, Malfoy, sobre o que mais poderia ser? - Harry respondeu, entrando no quarto sem esperar uma permissão - Deus! Como está frio aqui dentro! O que você está tentando fazer? Morrer de hipotermia? - ele completou, acendendo o fogo na lareira com sua varinha.

- Eu realmente não acho que a temperatura do meu quarto seja da sua conta, Potter! - Malfoy disse, batendo a porta com raiva - Olha, eu não sei o que foi que ela te disse, mas...

- Ela? Ela quem? - o outro perguntou, sem entender. O coração de Malfoy pulou uma batida - Do que você está falando? - Harry continuou.

- Bom, eu é que tenho que te fazer essa pergunta. Do que você está falando?

- Da iniciação, claro - Draco deixou escapar uma respiração aliviada diante da resposta - Do que você pensou que fosse?

- Da minha conversa com a Gina - ele respondeu rapidamente. Afinal de contas, uma mentira sempre é mais fácil de se engolir quando misturada com a verdade.

- Ela não me disse nada da conversa de vocês. Por quê? Algo que eu deveria saber?

- Não, nada que seja da sua conta - Draco respondeu, sem piscar.

- Malfoy, se eu descobrir que você fez alguma coisa para ela...

- Relaxe, Potter. Eu não fiz nada diferente do usual - ele respondeu, mentindo de novo. Nada sobre a noite anterior havia sido usual.

- Muito bem - Harry disse, finalmente, num tom de voz que indicava que ele não havia acreditado nem um pouco e que iria tirar a história a limpo com a garota - O que eu queria realmente falar é que, bem, por mais que você não acredite em mim, eu estou feliz que você tenha aceitado a indicação para Ordem. Ela foi merecida.

- Ah, mas eu acredito que você esteja feliz! - Draco falou, cheio de veneno em sua voz - Afinal de contas, isso serviu com certeza para acalmar a sua consciência, não? Para fazer você se sentir um pouco melhor sobre o fato de que você foi salvo por um dos seus maiores inimigos!

- Deus, Malfoy! Por que você tem que tornar tudo tão difícil?! Eu realmente estou tentando aqui... - Harry respondeu, enfurecido.

- Pois então, não tente! Eu não quero nada que venha de você! Não a sua piedade, nem a sua simpatia e muito menos a sua amizade! - 'Bom, talvez a sua noiva', Draco não pôde deixar de acrescentar mentalmente, 'mas eu duvido que isso você queira me dar'.

- Eu realmente não entendo - Harry disse, após uma pausa, a voz surpreendentemente calma.

- Não entende o quê? - o outro perguntou, ríspido.

- Como a Gina consegue passar mais de três minutos seguidos perto de você - Potter respondeu com desprezo e, sem perceber que as suas últimas palavras feriram Malfoy mais do que qualquer outra coisa que ele pudesse falar, saiu do quarto sem dizer mais nada.

Uma vez sozinho de novo, Draco se deixou cair na cama pesadamente. Nada estava saindo certo nessa manhã. E, para piorar, ele não acreditava que as lembranças da noite anterior iriam deixá-lo em paz tão cedo. Suspirando, ele levou as mãos ao rosto e se virou na cama, murmurando contra o colchão 'Meu Deus! Onde eu estava com a cabeça?!'. Mas não havia nada que ele pudesse fazer quanto a isso. E ele não estivera sonhando, ele sabia. A maior prova de que tudo acontecera de verdade era o cheiro dela, impregnado no travesseiro, nos lençóis, no próprio Draco, no quarto em si. Ele não conseguia entender como Potter não percebera, afinal, ele provavelmente conhecia bem aquele cheiro. Malfoy não conseguia imaginar uma fragrância mais doce e, no momento, ele se sentia sufocado por ela. 'Meu Deus', ele murmurou de novo, 'O que eu estava pensando?'. Mas ele não estivera pensando. Essa era a verdade. Ele apenas fizera o que parecera certo no momento, sem pensar nas conseqüências ou mesmo nos motivos reais. Tudo o que ele lembrava era a imagem que vira, dela morta, e nada parecia mais doloroso do que perdê-la, do que se afastar dela. E nada parecera mais divino do que beijá-la. Isso acontecera, contudo, no ímpeto do momento. Ele ainda estava sob efeito daquela maldita poção da sabedoria, que fizera tudo parecer tão claro, tão perfeito e óbvio. Agora, à luz do dia e sem a desculpa da poção, entretanto, ele se perguntava se não cometera o maior erro da sua vida.

Draco estava confuso. Mais confuso do que antes, até. Ele não sabia o que pensar, o que fazer. E, para piorar a situação, Gina provavelmente estava mais confusa do que ele, e com mais raiva também. Ela ainda não contara nada para Potter, isso pelo menos era óbvio. Com certeza, não tivera tempo, mas, como uma boa grifinória, ela acabaria contando e isso tornaria a vida de Draco um inferno ainda pior. Com mais um suspiro cansado, ele se levantou. Não adiantaria nada ficar deitado na cama, tentando entender o que acontecera ou imaginar o que ela estaria pensando. O que ele precisava fazer era encontrá-la. Nem que fosse simplesmente para dizer o quanto ele se arrependia.

Com essa resolução em mente, Draco tomou um banho rápido e vestiu seu uniforme. Não se permitiu pensar muito nela enquanto se arrumava. Temia que uma olhada naqueles olhos castanhos fosse suficiente para fazê-lo perder a cabeça novamente, o que, com certeza, era tolice. Afinal de contas, ele era Draco Malfoy e um Malfoy nunca perde a cabeça. Uma vez pronto, com a fênix de ouro presa cuidadosamente nas suas vestes, ele saiu dos seus aposentos, seguindo para a enfermaria, onde Gina já deveria estar.

Seu coração batia mais rápido do que o normal. Ele estava nervoso, não era possível negar, e isso o deixava com raiva de si mesmo. Tudo o que ele tinha de fazer era insultá-la de alguma forma, fingir que nada acontecera, ignorá-la. Parecia simples e com certeza não seria a primeira vez que ele faria algo do gênero, mas ele sabia que, se fizesse qualquer uma dessas coisas, a machucaria demais. Isso não deveria ser importante, mas, por algum motivo que ele preferia não investigar, era. 'Você não se importa realmente com ela', Draco repetia mentalmente enquanto se aproximava cada vez mais da enfermaria, 'Tudo é culpa da maldita poção'. Quando ele virou um corredor, contudo, e a avistou a alguns passos de distância, seu coração pulou novamente uma batida. Cuidadosamente, Draco começou a caminhar na direção dela, mas, antes que a alcançasse, Potter apareceu pelo outro lado do corredor e foi falar com Gina. Escondendo-se em uma reentrância da parede, Malfoy podia vê-los conversar, mas não podia ouvir o que diziam.

Observando atentamente, ele notou que Weasley parecia bastante perturbada. Ela levou uma das mãos ao rosto, cobrindo os olhos, e balançou a cabeça em sinal de negação. Por um instante, ela virou o rosto na direção de Draco, e ele pôde notar que ela estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Suas bochechas estavam marcadas pelas lágrimas derramadas. Potter a encarava com uma expressão preocupada, sua mão apoiada no ombro dela. Malfoy não podia ouvi-los, mas tinha uma idéia clara do que eles estavam falando. Subitamente, uma onda de raiva o invadiu. Potter não tinha o direito de estar com ela naquele momento. O que quer que fosse, era Draco quem deveria estar com Gina. Era ele quem deveria estar conversando com ela e não o maldito Menino-Que-Sobreviveu. Com isso em mente, Malfoy deu um passo para frente, pronto para interrompê-los. Foi nesse momento, contudo, que Potter resolveu fazer algo que feriu Draco como um punhal sendo atravessado no seu coração. Aparentemente, o perfeito Potter não estava satisfeito em se apoiar no ombro dela e, deixando suas mãos deslizarem para as costas de Gina, ele a envolveu num abraço. Ela, por sua vez, deixou-se abraçar sem protesto, apoiando sua cabeça no peito dele e, aparentemente, chorando ainda mais.

Draco ficou sem ação. Ele não entendia por que a imagem dos dois ali, abraçados, o feria tanto. Não eram só ciúmes. Era muito mais do que isso. Ele se sentia traído. Em alguma parte da sua mente, ele sabia que isso era tolice. Afinal de contas, Potter era o noivo dela, não o contrário. No momento, contudo, ele não estava preocupado com a razão. Ele havia esquecido que viera ali para dizer o quanto se arrependia pela noite anterior, para culpar a poção e não os seus próprios sentimentos; ele havia se esquecido do quanto não se importava com Gina. As únicas coisas que ele parecia perceber eram os dois, na sua frente, e o grande buraco que podia ser sentido em seu coração.

Não querendo presenciar mais nenhuma cena de demonstração de afeto entre o casal - Draco realmente não achava que conseguiria agüentar se eles resolvessem se beijar -, ele se virou e refez o caminho de volta para seus aposentos. Sua cabeça latejava, seu coração se contraía e suas pernas andavam sozinhas, pois o seu cérebro estava preocupado demais em processar as últimas informações para dar alguma ordem ao corpo. Entrando no quarto, ele se jogou novamente na cama - de onde não achava que deveria ter saído nunca - só para descobrir que os elfos domésticos ainda não tinham arrumado o quarto e que, portanto, os lençóis continuavam impregnados com o cheiro dela. Enraivecido e cansado, Draco se levantou, agarrou o casaco que estava em cima de uma poltrona, e saiu. Ele não iria suportar ficar dentro do castelo. Não queria ver ninguém, falar com ninguém, então resolveu ir para o frio do lado de fora de Hogwarts, onde, com certeza, não haveria outra alma viva perambulando.

Logo que o ar gélido bateu no seu rosto, fazendo-o tremer um pouco, Draco começou a se sentir melhor. Ele gostava do frio. Estava acostumado a ele. Conforme caminhava, seu coração foi voltando ao normal e ele foi se acalmando. Era essencial que ele encarasse tudo aquilo de forma mais racional. Ele era da Sonserina, afinal, não um maldito grifinório, e, mais do que isso, ele era um Malfoy. Nenhuma pessoa deveria ser capaz de jogá-lo nessa montanha russa emocional. Nenhuma pessoa e, certamente, não uma Weasley. Draco não se importava com ela. Ele não queria se importar com ela.

Quando finalmente voltou para o castelo, já tinha passado bastante da hora do almoço. Suas mãos estavam quase congeladas, já que ele se esquecera de pegar as luvas, mas Draco estava satisfeito consigo mesmo. Nada como uma longa caminhada no frio para endurecer o seu próprio coração. Ignorando todas as pessoas com quem cruzou, Malfoy foi direto para o seu quarto - que dessa vez já tinha sido limpo e arrumado - e permaneceu quieto, sentado em uma das poltronas, se convencendo mais um pouco de como ele fazia bem em tirar completamente Gina Weasley da sua cabeça. Uma vez, no meio da tarde, ele ouviu batidas na porta. Era ela, ele tinha certeza, mas, ao invés de atender a porta, Draco continuou sentado, de olhos fechados. Depois de um tempo, Gina desistiu e ele respirou aliviado. Realmente não queria vê-la.

Quando chegou a hora que Dumbledore marcara, um pouco antes do pôr-do-sol, ele se levantou e refez os passos da noite anterior, de volta para a sala do conselho da Ordem. Havia realmente muito o que se discutir e Draco se sentia mesmo mais confortável em falar sobre a Guerra quando estava nesse estado de humor mais amargo, com o coração mais endurecido. Afinal, não seria bom que ninguém começasse a achar que ele estava se tornando mais suave, certo? Não, com certeza Draco Malfoy não corria esse risco hoje. Não mesmo.

- A esfera de influência de Voldemort cresce - disse Lupin - Nós não podemos mais ignorar as ações dele em outros países. Por toda a Europa e mesmo em partes da África e da Ásia, é possível sentir o cheiro do seu trabalho! - o ex-professor de Defesa contra as Artes das Trevas completou. Ele estivera viajando nos últimos seis meses para colher informações sobre as ações de Você-Sabe-Quem no exterior. Agora, ele estava de volta ao Reino Unido para relatar o que descobrira e vinha encontrando dificuldades em convencer os presentes da gravidade da situação.

- Mas nós não ouvimos nenhum relato de ataques de comensais da morte fora da Grã-Bretanha - interrompeu um dos Weasley mais velhos. Draco não sabia exatamente qual. Havia sempre tantos deles.

- Simplesmente porque Voldemort utiliza outras táticas. Não há comensais suficientes para agir em toda a Europa. Ele ainda está recrutando novos seguidores para isso. No meio-tempo, entretanto, ele está se associando com trouxas.

- Trouxas??? - Malfoy disse, surpreso. Durante todo o discurso de Lupin, ele estivera apenas meio ouvindo. Potter estava sentado na sua frente, no lado oposto da mesa em meia-lua e Draco vinha encontrando dificuldades em tirar seus olhos dele. A cena do abraço no corredor ainda doía em sua lembrança e era quase impossível prestar atenção na monotonia da voz do ex-professor. Quando chegou aos seus ouvidos, contudo, que Lorde Voldemort estava se associando com trouxas, Draco acordou dos seus devaneios - Por acaso eu ouvi direito? - todo o resto da audiência parecia igualmente surpreso.

- Sim, Sr. Malfoy. Foi exatamente isso que eu disse.

- Como? - perguntou Snape friamente - É quase impossível para nós imaginar que Você-Sabe-Quem iria fazer algo desse gênero.

- Voldemort fará tudo o que for necessário para nos destruir. Ele quer apenas provocar caos. Em todo o mundo, há um aumento nas atividades terroristas. O Lorde das Trevas não se associa diretamente aos trouxas, mas ele age por baixo dos panos, instigando velhas rivalidades, promovendo e patrocinando grupos radicais, grupos separatistas e movimentos racistas, sem mencionar seu estímulo a organizações terroristas. Ele quer instigar o ódio e como ele não gosta de trouxas, não vê problema algum em deixar que eles próprios se matem! - disse Lupin exaltado. Por um momento, não houve respostas afirmativas nem discordantes. Todos pareciam considerar o que acabara de ser dito até que Dumbledore cortou o silêncio.

- Há precedentes históricos - ele afirmou, sua voz tranqüila como sempre.

- Grindelwald nas décadas de 20, 30 e 40 - completou o pai dos Weasleys. Dumbledore balançou a cabeça concordando.

- Grindelwald compreendia que, por mais que nossa existência seja escondida dos trouxas, nós vivemos no mesmo lugar, nós dividimos os mesmos espaços, os mesmos países e, eventualmente, somos afetados pelo que acontece com eles e vice-versa. Por isso, ele fez a sua guerra contra nós em duas esferas. Mesmo se ele fosse derrotado no mundo mágico, se os trouxas também fosse vencidos no seu próprio mundo, mergulharíamos todos em tamanho caos que ninguém seria poupado - explicou Alvo, sem sequer mencionar a participação decisiva que tivera na última grande guerra. Perto do que Grindelwald fez, os atentados de Voldemort nos anos 70 eram coisa de criança.

Malfoy, por sua vez, estava tão acostumado a não se importar com o que acontecia com os trouxas que, na sua visão, a idéia de que o mundo mágico poderia ser afetado decisivamente pelas miudezas da sociedade trouxa era absurda, praticamente uma heresia. Quando ele verbalizou esse pensamento, contudo, Dumbledore o interrompeu imediatamente:

- E essa, Sr. Malfoy - ele disse - é a diferença entre um visionário e um medíocre. Grindelwald pode ter sido um bruxo das trevas, mas ele era inteligente. Ele era um visionário que olhou além do seu próprio ódio para tentar entender o nosso mundo e também, é claro, para tentar descobrir como usar seus inimigos contra eles próprios. E sua interpretação estava correta. Nós precisamos dos trouxas muito mais do que eles de nós. É essencial que o mundo deles seja estável para que nós possamos viver em paz. Um medíocre, ao contrário, é alguém incapaz de olhar além dos seus arredores e através das correntes em sua mente para compreender as conseqüências de seus atos - Draco olhou para o diretor surpreso. Nunca antes Dumbledore o havia repreendido publicamente e, agora, ele o chamara de medíocre na frente de todos. O salão inteiro parecia surpreso, não acostumado com essa reação vinda do líder da Ordem. A raiva começou a subir na cabeça de Draco, e ele sentiu todos os pensamentos racionais abandonarem sua mente, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa estúpida, Potter interrompeu:

 - Nós devemos presumir, então que Grindelwald foi o responsável pela II Guerra Mundial?

- O único responsável? Não - respondeu McGonagall - Mas ele agiu como mola propulsora, reconhecendo a rivalidade e o ódio latente que existiam e sabendo, digamos, colocar as pessoas certas nos lugares certos.

- Hitler então era um bruxo? - Granger não se conteve. Draco estava, na realidade, surpreso que ela conseguira ficar tanto tempo com a boca fechada.

- Hitler? Não. Nem Mussolini. Mas outros eram.

- Será que nós podemos voltar a discutir a questão principal aqui? - Ronald Weasley interrompeu - Nós estamos perdendo tempo falando de um bruxo das trevas que já está mais do que morto, enquanto outro continua vivo e nos causando sérios problemas!

- Se Voldemort - disse Malfoy ainda com raiva por ter sido insultado antes, mas momentaneamente satisfeito por poder descontar sua irritação na estupidez de outra pessoa, especialmente quando essa pessoa era Rony Weasley - está usando a mesma estratégia que Grindelwald empregou há mais de cinqüenta anos, então nós não estamos perdendo tempo enquanto discutimos aquela campanha, Weasley. Estamos apenas estudando aquilo contra o qual deveremos lutar - ele completou com um sorriso superior, controlando-se para não acrescentar algo do tipo 'Não que eu esperasse que você pudesse compreender. Afinal, a falta de proteína na sua dieta quando você era criança deve ter impedido seus neurônios de se desenvolverem. Não é sua culpa, na realidade, se seus pais nunca tiveram dinheiro para comprar carne. Também! Com tantas bocas para alimentar...'

- Malfoy, seu... - começou Weasley, como que adivinhando os insultos não ditos, mas Lupin o interrompeu a tempo:

- Senhores! - ele falou num tom firme - Independente de qualquer coisa, nós precisamos decidir o que vamos fazer. Que Voldemort está semeando o caos por toda a Europa, nós sabemos. É fato. E mesmo que ainda não seja possível visualizar todos os sintomas disso, logo será tarde demais para que possamos fazer qualquer coisa. Grindelwald poderia ter sido impedido anteriormente se os indícios tivessem sido corretamente interpretados. Ao contrário, ninguém o levou a sério e as coisas saíram do controle, assumindo proporções gigantescas. Para isso a Ordem de Fênix foi criada: para vigiar e impedir que tudo ocorresse de novo. Mas, adivinhem?! Já está acontecendo! Desde que Harry derrotou Voldemort da primeira vez, muitos acharam que nunca precisaríamos lutar contra tal ameaça novamente. Assim, nossas defesas enfraqueceram. Nós não estávamos preparados para isso, que dirá os poucos membros da Ordem que restam no exterior e que não tiveram que enfrentar outro bruxo das trevas dessas proporções desde que Grindelwald em pessoa morreu! Isso sem mencionar os trouxas, coitados, que sequer têm idéia do que estão enfrentando. Eles todos precisam de assistência!

- Nós mal temos pessoas suficientes para nos mantermos, Lupin, e você sugere que nós mandemos gente para fora?! - falou Snape, sem esconder seu desprezo pela proposta.

- Não é uma questão de escolha, Severo. É uma necessidade - o outro respondeu calmamente.

- Assim como é uma necessidade que nós consigamos manter nossas próprias defesas! A Fortaleza Negra caiu, mas isso significa apenas que logo Voldemort estará em nossos calcanhares ainda mais furioso! Nós precisamos de todas as pessoas que nós temos e mais todos os reforços que pudermos conseguir!

- Eu sei, Severo, mas ainda assim afirmo que é vital que nós mandemos pessoas para fora. Não adianta nada nós conseguirmos nos manter se o mundo inteiro ao nosso redor desmoronar!

- Remo está certo, Severo - concordou Black inclinando-se na cadeira - Nós não temos chance de vencermos Voldemort se nos preocuparmos apenas com nossas fronteiras.

- Ah, e você com certeza tem uma opinião muito imparcial nesse assunto, não é mesmo, Black? - retrucou o professor de poções com desprezo na voz - Ora, sejamos francos! Você concordaria com seu amigo lobisomem mesmo se ele dissesse que nós todos deveríamos nos vestir como dançarinos turcos para derrotar os comensais da morte!

- Ora, seu... - começou Sirius num tom bem próximo ao que Rony utilizara anteriormente ao se dirigir a Malfoy. Dessa vez, foi Dumbledore, contudo, quem interrompeu:

- Senhores, por favor - ele começou como se estivesse falando com um par de alunos do primeiro ano - Nós não estamos aqui para brigar. Remo está certo. Não podemos ignorar o que se passa no exterior. Snape, entretanto, também está certo. Nós não podemos simplesmente esquecer nosso próprio exército, nossos próprios esforços. Que devemos, então, fazer? - ele perguntou, percorrendo com olhar todos ao redor da grande mesa - Eu considero essencial que enviemos auxílio aos membros da Ordem fora do Reino Unido, mas eu não devo e não vou obrigar ninguém a ir. Uma coisa é lutar aqui, perto de casa, defendendo diretamente os nossos lares. Outra coisa, é ir defender lares alheios em outros países. Essa deve ser uma missão voluntária e provavelmente vai colocá-los em situações difíceis e inesperadas. Será também necessário lidar com trouxas com uma certa freqüência, já que Voldemort os envolveu nessa Guerra e, por isso, eu não quero oferecimentos relutantes. Como eu disse, considero essa tarefa de valor inestimável, mas preciso de voluntários. Quem se dispõe a ir? - ele perguntou, por fim, na sua voz calma. Dumbledore tinha um jeito de falar que, ao mesmo tempo em que realçava a importância da missão, não chegava a coagir ninguém a se voluntariar. Estava claro que era uma escolha pessoal e ninguém seria reprimido, qualquer que fosse a sua opção.

- Eu irei, é claro - respondeu Lupin, quase que imediatamente.

- Sim, lógico - concordou Dumbledore - Não creio que ninguém terá objeções a você liderar essa missão, Remo - e como realmente ninguém no salão protestou, ele continuou - Quem mais?

Draco podia sentir a atmosfera pesada que desceu imediatamente sobre os presentes. Todos se mexiam inconfortáveis nas suas cadeiras, os corações batendo acelerados, enquanto o silêncio cheio de expectativas ainda reinava. Não era uma decisão fácil para ninguém. Até mesmo Malfoy estava meio convencido de que era algo necessário, mas daí a realmente abandonar o lugar que eles sempre conheceram como casa no meio da Guerra... não, esse era um passo muito grande para se tomar levianamente.

Por um instante, pareceu que ninguém iria abrir a boca, mas subitamente um homem ruivo - tinha que ser um Weasley! - falou simplesmente:

- Eu irei - todos pareciam surpresos e os pais dele, em particular, pareciam aterrorizados - Já morei no Egito por um longo período e também na Alemanha, logo antes da Guerra começar. Conheço muitos bruxos estrangeiros e estou acostumado a lidar com eles - Dumbledore balançou a cabeça concordando, enquanto Lupin sorria. Depois, eles olharam novamente para os outros, esperando mais manifestações.

Malfoy encarou o Weasley que falara com mais surpresa que os outros. Não esperava que um deles fosse realmente abandonar sua família. Na realidade, não estava bem certo se isso configurava 'abandonar' alguma coisa. Era apenas uma outra forma de participar da Guerra. 'E uma bem longe daqui' completou ele mentalmente. Foi então que algo na cabeça de Draco estalou. 'Bem longe daqui' ele repetiu, começando a perceber o significado dessas palavras. Se havia algo de que ele precisava, esse algo era sair dali o mais rápido possível. Ele precisava ir para longe. De fato, quanto mais distante ele estivesse dela, melhor se sentiria.

- Eu também vou - disse uma voz tímida pertencente a uma pequena mulher que, na época de Hogwarts estivera na Lufa-Lufa. Draco não se lembrava do nome dela - Sempre passei os verões na França com meus pais. Também estou acostumada a lidar com bruxos estrangeiros - ela completou, a voz mais firme.

Esquecendo um pouco os olhares surpresos que a garota também recebeu, Malfoy voltou para os seus próprios pensamentos. Ele precisava ir embora. Precisava ir para onde ela não pudesse encontrá-lo, precisava de tempo para pensar e ele obviamente não conseguia pensar quando ela estava por perto. Se conseguisse, teria mandado-a embora do quarto antes que pudesse beijá-la, porque, depois disso, ele não achava que teria conseguido mesmo se quisesse. A missão em si parecia um pouco absurda. Necessária, mas absurda. Já era ruim o suficiente ter que lutar no seu próprio país. Sair do seu caminho para continuar lutando parecia coisa de louco. E só a idéia de ter que lidar com trouxas era suficiente para deixar Draco com náuseas, mas, por outro lado, ele teria a desculpa perfeita para ir embora sem desertar.

- Eu vou - uma outra voz o despertou de seus pensamentos. Dessa vez, era uma mulher mais velha. Ele se lembrava dela de alguma forma. Tinha estado na Grifinória.

- Você está louca, Angelina? - sussurrou um dos gêmeos Weasley alto o suficiente para que quase todos ouvissem.

- Não estou louca, não! - a mulher respondeu indignada - O que eu não vou fazer é ficar sentada aqui, enquanto Voldemort tenta virar o mundo de cabeça para baixo! Ah, mas não vou mesmo!

- Muito bem! Mas se você vai, então eu também vou!

A conversa teria arrancado risos de uma platéia mais descontraída. Do jeito que era, apenas algumas pessoas deixaram um sorriso leve escapar. Os pais dos Weasley pareciam desconsolados, mas não disseram nada.

- Você está louco, Fred? - o outro gêmeo perguntou sério.

- Nem um pouco.

- Muito bem. A escolha é sua - foi a resposta. Malfoy não se lembrava de ter visto os gêmeos tomarem caminhos diferentes nenhuma outra vez nem na escola, nem na Guerra. 'Acho que sempre há uma primeira vez para tudo' ele pensou.

- Bom - disse Dumbledore - mais alguém?

Draco podia notar os membros mais velhos da Ordem se mexendo nas cadeiras. Alguns deles queriam ir, mas eram valiosos demais onde estavam. Aquela era uma tarefa para os jovens. Já bastava Lupin estar entre eles. Por mais alguns instantes, Dumbledore pesquisou a sala com seu olhar esperando alguma manifestação e durante esses instantes, Draco travou uma batalha consigo mesmo. Seu coração estava acelerado. A missão em si não possuía atrativos, mas a possibilidade de se afastar daquela loucura era tentadora demais. Por fim, ele deixou o medo vencer. Deixou seu medo de sentir, seu medo de arriscar, seu medo de se envolver guiar suas ações. Ele precisava ir para longe dela ou então não responderia por seus atos.

- Eu irei - ele falou finalmente, colocando no rosto seu sorriso superior. Imediatamente todas as faces ao redor da mesa se viraram para ele. Ninguém esperava que Draco Malfoy fosse se dispor a executar uma tarefa como essa. Potter o encarava com um ar questionador, de quem perdeu alguma parte da conversa e agora não está entendendo nada. Granger lhe lançou um olhar enigmático, de quem sabe mais do que aparenta e fez Malfoy imaginar o que Gina não teria contado a ela. Weasley, por sua vez, parecia em estado de choque. Dumbledore era o único que não parecia desconfiado ou chocado ou sequer surpreso. Ele apenas balançou a cabeça como fizera anteriormente e então se dirigiu aos outros:

- Bom, nós já temos seis voluntários. Não é muito, mas é o que podemos enviar. Essa sessão está, portanto, encerrada e eu gostaria de pedir apenas que os voluntários ficassem para trás porque Lupin ainda tem coisas a discutir com vocês.

Logo os membros da Ordem tinham esvaziado o salão, deixando sentados na grande mesa apenas os dois Weasleys, a garota que fora Lufa-Lufa - Draco ainda não se lembrara do nome -, Johnson - ela jogara no time de quadribol da Grifinória, ele finalmente recordou -, Lupin, Dumbledore e o próprio Malfoy.

- Bom, eu fico feliz em poder contar com vocês - começou o lobisomem, passando para cada um deles pergaminhos enrolados - Os pergaminhos contêm boa parte das informações que eu consegui recolher. Nós não vamos atuar todos juntos. Separados, poderemos fazer mais, por isso, eu vou dividi-los. Susan - ele disse para a garota da Lufa-Lufa - como você costumava ir muito à França, é para lá que você irá. Nosso contato naquele país chama-se Fleur Delacour.

- Ela esteve aqui na época do Torneio Tribruxo.

- Exatamente. Gui - ele continuou, virando-se para um dos Weasley - você disse que morou na Alemanha.

- Sim.

- Então, é para lá que você irá. Angelina, Fred. Bom - Lupin hesitou - eu preciso mandar alguém para a Rússia. Vocês podem ir juntos, mas talvez seja preciso que viajem não só porque o território é grande, mas porque pode ser necessário visitar outros países, okay?

- Okay - os dois responderam, visivelmente aliviados por não terem sido separados.

- E quanto a você, Sr. Malfoy - Lupin disse, por fim, virando-se para Draco e medindo-o com o olhar - Você vem comigo para a Espanha - ele esperou por algum protesto, mas como Malfoy manteve sua expressão ilegível e não disse nada, continuou - Nós partiremos essa noite ainda, por isso eu não darei mais detalhes agora. Vocês devem voltar para seus aposentos e arrumar suas coisas. Eu estarei esperando todos daqui a uma hora, na frente da escola, com as carruagens que nos levarão até a plataforma em Hogsmeade. No trem, darei todos os detalhes - e após uma pausa - Vocês podem ir agora.

Os cinco se levantaram, mas a voz de Dumbledore impediu Draco de seguir os outros até a porta.

- Um momento, Sr. Malfoy - ele disse - Remo, você pode ir. Não se preocupe. Se ele tiver que ir, eu não o atrasarei - Draco parou perto da porta, esperando até que Dumbledore saiu de sua cadeira e parou também, na sua frente. Os dois já estavam sozinhos.

- Você não quer que eu vá? - Malfoy perguntou insolentemente para quebrar o silêncio.

- Eu não quero que você faça nada que você não queira fazer, Sr. Malfoy - o diretor respondeu, sempre com aquele brilho no olhar que fazia com que ele parecesse saber mais do que deveria.

- E o que você sabe sobre o que eu quero? - Draco perguntou, com raiva.

- Mais do que você pensa.

- Mais do que eu penso? O que é isso? Outra maneira de brincar com a minha mente como você fez ontem, naquela maldita iniciação?

- Nós não brincamos com a sua mente. Nada do que eu falei foi mentira.

- Pois eu acho que foi! Eu acho que a visão que eu tive era o que vocês queriam que eu visse e não o que eu precisava ver e acho que aquela outra poção, a tal poção da sabedoria, só serviu para confundir ainda mais a minha cabeça! E para me levar a fazer coisas que eu definitivamente não queria fazer! - ele gritou furioso.

- Você tem certeza que não queria fazer essas coisas, Sr. Malfoy? - Dumbledore perguntou, sem levantar a voz. Sua calma apenas servia para irritar Draco ainda mais.

- É claro que eu tenho! - o outro respondeu, mentindo. Naquele momento, ele não tinha certeza de absolutamente nada.

- Eu gostaria que você reconsiderasse sua decisão de ir - Dumbledore disse após uma pausa, deixando claro no olhar não acreditara na última sentença de Draco.

- Por quê?

- Porque eu acho que sua escolha foi feita pelos motivos errados.

- Os meus motivos não interessam a você - Malfoy respondeu com desprezo - Eu vou. Está decidido - ele completou, virando-se para a porta, pronto para sair sem ouvir mais nada.

- Se eu estivesse no seu lugar - a voz de Dumbledore o interrompeu, contudo - eu não seria tão rápido em desconsiderar tudo o que a poção da sabedoria me fez sentir ou pensar. É verdade que ela pode produzir certos efeitos surpreendentes, mas, na minha experiência, isso acontece com mais freqüência naquelas pessoas que relutam em acreditar, naquelas pessoas que não querem que tudo o que a poção as faz perceber seja verdade. A poção não provoca ilusões, Sr. Malfoy, portanto, o mais provável é que tudo o que você sentiu seja real e você apenas não esteja pronto para aceitar.

Draco fechou os olhos, controlando-se para não explodir. Ele não queria parar para considerar o que Dumbledore falara. Ele não podia fazer isso com medo de que mudasse de idéia, então, fez a única coisa que considerou segura: continuou andando. Passou pela porta, atravessou a ante-sala, seguiu pelos corredores até seus aposentos. Lá, perdeu algum tempo ocupando-se em juntar suas coisas e arrumá-las. Não era muito. Ele viajava com pouco para o caso de precisar se mover rapidamente, como agora. Quando terminou, olhou para o relógio e viu que ainda tinha quinze minutos sobrando. Temendo ficar parado no mesmo lugar, pensando, e assim dar oportunidade para que as palavras de Dumbledore finalmente penetrassem na sua mente, ele resolveu se dirigir para o local de encontro. Se andasse devagar, chegaria exatamente na hora.

Saiu, então, do quarto, fechando a porta e lutando consigo mesmo para não deixar que os pensamentos sobre a noite anterior mudassem a trajetória de seus pés e o levassem para a enfermaria. Ele tinha sido bem sucedido em andar por uns cinco minutos na direção das portas da escola quando a última voz que ele gostaria de ouvir no momento interrompeu sua marcha.

- Draco! - ele ouviu Gina chamar. Ela vinha correndo pelo corredor para alcançá-lo - Draco! - ela exclamou novamente quando tinha chegado perto - Então é verdade? - Weasley perguntou, a ansiedade evidente em seu rosto. Malfoy tentou ignorá-la. Ele sabia que isso era o certo a se fazer: virar e ir embora, mas de alguma forma seus pés pareciam presos ao chão.

- Como você soube? - ele perguntou.

- Harry - a simples menção desse nome foi suficiente para que Draco lembrasse a cena no corredor e recobrasse o controle sobre seu corpo.

- Por que eu não estou surpreso? - ele perguntou com sarcasmo, se virando para continuar o caminho.

- Draco - ela o chamou novamente, dessa vez, puxando-o pelo ombro.

- Você não deveria estar se despedindo dos seus irmãos, não, Weasley? - ele perguntou cruelmente.

- Por favor, não mude de assunto - Gina disse, com suavidade, levantando as mãos para tocar o rosto dele, mas, antes que ela o fizesse, Malfoy a interrompeu:

- Não encoste em mim! - ele falou com raiva - Não encoste em mim! - e, vendo a expressão absolutamente ferida e magoada no rosto dela, os olhos castanhos arregalados e cheios d'água, a boca tremendo, ele continuou, dessa vez deixando que ela percebesse a dimensão do desespero em sua alma - Eu preciso ir, Weasley! Eu preciso ir! - ele repetiu - Será que você não entende?

Draco não sabia se ela era capaz de compreender. Ele não achava que Virgínia Weasley conseguiria algum dia entender a sua necessidade de ir embora. Nem ele mesmo compreendia completamente. Só sabia que precisava sair dali antes que enlouquecesse. Seu mundo já estava torto o suficiente sem que ele precisasse se apaixonar por uma Weasley - que ainda por cima estava noiva do precioso Potter - para piorar ainda mais as coisas. Talvez alguma parte dela, contudo, entendesse o seu drama - Draco nunca chegou a saber com certeza - porque Gina abaixou seus olhos momentaneamente dos dele e isso foi tudo o que Malfoy precisou para conseguir ir embora.

Depois que ele havia dado uns doze passos, ouviu novamente a voz dela o chamando, mas não parou. Se parasse de novo, duvidava que conseguisse retomar o caminho. Não pôde deixar, contudo, de escutar aquela voz melodiosa uma última vez.

 - Draco - ela falou; e continuou, não se importando se ele pararia para prestar atenção ou não - Boa sorte.

De todas as coisas que ela poderia ter dito, essa foi a pior. Ele teria preferido se ela o tivesse xingado, amaldiçoado. Draco sabia que a ferira profundamente e ainda assim ela não lhe desejara mal. Ele deveria ter parado, dado meia volta, envolvido-a em um abraço e dito que nunca mais iria embora, que eles passariam o resto da vida juntos. Deveria. Mas, sendo Draco Malfoy, ele não o fez. Ao contrário, continuou andando decidido, cada passo mais perto do seu destino e mais longe dela; cada passo mais fácil conforme a distância aumentava e ele endurecia o coração. Não seria difícil, afinal, esquecê-la. A noite anterior havia sido apenas um momento no infinito de uma vida e, em último caso, ele só precisaria se lembrar de que era um Malfoy, e ela, uma Weasley; e que os dois são como água e óleo: não se misturam nunca.

N/A3: Primeiro: não, eu não estava sendo irônica quando eu disse que gostei desse final... eu realmente gostei. Mas não se preocupem, não é o final da história. O próximo capítulo, infelizmente, não terá a participação direta da nossa querida Gina. Eu sei que isso é horrível, mas é necessário. O Draquinho ainda tem um longo caminho a percorrer antes que consiga aceitar seus próprios sentimentos e, por isso, ele precisa passar uns tempos sozinhos. Nós teremos, entretanto, bastante Lupin - vocês não amam ele como eu? - e um pouco mais de ação, se tudo correr bem. Prometo solenemente não demorar muito para colocar o próximo capítulo no ar. Palavra de escoteira!