Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Categoria: Romance/Drama

Classificação: PG-13

Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts

Disclaimer: Eles não são meus. São da Rowling.

N/A: Bom, só pra vocês pararem de me chamar de má, aqui está o capítulo seis, escrito em tempo recorde e com bastante Gina Weasley pra vocês ficarem satisfeitos! Divirtam-se!!!

N/A2: Antes de deixar vocês em paz para lerem o capítulo, eu quero agradecer às reviews e aos emails e pedir mil desculpas pelos quase ataques cardíacos que eu causei. Se faz vocês se sentirem melhor, era essa a intenção... :oP mas eu estou postando o sexto capítulo agora, então ninguém mais vai precisar me matar nem passar mal, nem nada do gênero... espero que vocês gostem!

*   *   *

Capítulo 6: Estrelas Cadentes

"- Entendo que é possível olhar nos olhos de alguém - ouvi-me dizendo - e de súbito saber que a vida será impossível sem eles. Saber que a voz da pessoa pode fazer seu coração falhar, e que a companhia dessa pessoa é tudo que sua felicidade pode desejar, e que a ausência dela deixará sua alma solitária, desolada e perdida."

( Derfel para Ceinwyn em "O Rei Do Inverno" de Bernard Cornwell)

24 de abril

Draco Malfoy virou-se na cama mais uma vez. Ele praticamente não tinha conseguido pregar os olhos durante toda a noite. Sempre tivera dificuldades para conseguir dormir, mas nestas últimas semanas que passara em Hogwarts, cheio de tarefas e preocupações e estratégias, o problema havia se acentuado. Ainda era cedo, por volta de cinco e meia da manhã, mas ele sabia que suas chances de pegar no sono eram inexistentes, então resolveu se levantar, tomar um longo banho para relaxar e depois ir até as masmorras, ver se Snape precisava de alguma ajuda de última hora nas poções que estava preparando.

Mesmo àquela hora, o castelo fervilhava com atividade. Grande parte do exército já tinha partido para o acampamento, mas um bom número ainda permanecia, terminando as preparações para ir também, à tarde. Quase todos os membros da Ordem estavam ainda em Hogwarts e haveria uma reunião do conselho mais tarde, por volta das nove horas da manhã. Todos estavam preocupados e ansiosos. Draco queria que aquele dia passasse o mais rápido possível para que o próximo viesse e a última batalha pudesse finalmente ser travada. Era nisso que todos falavam, era a isso que Snape se referira quando conversou com Malfoy na noite do ataque à Fortaleza Negra: a batalha que, segundo Dumbledore, havia sido profetizada há décadas.

É claro que Harry Potter deveria desempenhar um papel vital nessa luta. Como poderia ser diferente? Afinal de contas, ele é o todo-perfeito Menino-Que-Sobreviveu! E, aparentemente, era a única pessoa viva que poderia destruir Voldemort. O nascimento do maldito Potter também fazia parte da profecia e, por isso, o Lorde das Trevas havia tentado matá-lo quando ele ainda era um bebê. Você-Sabe-Quem também sabia da batalha. Segundo Dumbledore, o indicativo de que a data seria o dia seguinte era uma chuva de meteoros que ocorreria durante a noite. É claro que havia mais coisa, histórias antigas, velhos feitiços, coisas do destino, enfim... Malfoy, obviamente, achava a história inteira uma grande baboseira, mas, felizmente, ninguém perguntou a opinião dele. A única vantagem que ele via era que, pelo menos assim, a Guerra terminaria. Para o bem ou para o mal, mas terminaria.

Exatamente o que deveria acontecer, apenas Potter e Dumbledore sabiam. Bem, talvez Weasley e Granger tivessem alguma idéia, mas o que o Menino-Que-Sobreviveu deveria fazer era secreto. Ninguém sabia. Malfoy não se importava realmente, contanto que ele fizesse direito - sempre há uma primeira vez para tudo - e mandasse Voldemort de volta para o inferno. Era tudo o que ele queria.

Como se suas preocupações já não fossem suficientes, havia ela. Gina passara o último mês na Fortaleza Negra, então ele ainda não a havia encontrado, mas era fato que ela deveria vir a Hogwarts para a reunião do Conselho antes de seguir para o acampamento e aí, os dois iriam inevitavelmente se ver. Esse pensamento era ao mesmo tempo bom e absolutamente assustador, então Malfoy preferia simplesmente enterrá-lo em algum lugar do seu inconsciente e pensar nas coisas que ele precisava fazer.

Quando já estava na metade do caminho para as masmorras, Draco levou displicentemente a mão ao peito para ajeitar as vestes e quase se xingou em voz alta. Virou-se, então e refez o caminho para o seu quarto rapidamente. Ele havia esquecido de colocar no uniforme a fênix de ouro, distintivo da Ordem. Passara tanto tempo sem usá-la, na Espanha e na Alemanha que agora era difícil lembrá-la. Apressado, virou para o corredor que terminava na gárgula que dava acesso à sala de Dumbledore. Seus aposentos ficavam relativamente perto da sala do diretor e aquele era o caminho mais curto. Quando levantou os olhos, contudo, e olhou para frente, seu coração congelou.

Parada de costas, diante da estátua, a dez passos dele, estava exatamente a pessoa que Draco mais queria encontrar e a que mais temia rever. Sem fôlego, por um instante ele apenas a observou, as vestes pretas caindo até abaixo dos joelhos, as calças também pretas que cobriam os canos das botas e os cabelos vermelhos cuidadosamente presos numa trança que ia até o meio das costas. Ela ainda não havia percebido a presença dele e isso o deixou tentado a virar-se e ir embora. Afinal, não havia razão para que ela ficasse feliz em vê-lo. Draco dera-lhe motivos suficientes para odiá-lo. Repetindo mentalmente que o encontro teria que acontecer cedo ou tarde, contudo, Malfoy se obrigou a dar alguns passos para frente e dizer, a voz não muito firme:

- Não vai entrar? - perguntou, quase num sussurro, fazendo com que ela se virasse imediatamente.

- Estou esperando ser chamada - Gina respondeu, encarando-o, mas Draco não disse mais nada. Como ele poderia? Como colocar em palavras imperfeitas a avalanche de sensações que aquele simples olhar dela provocou? Como descrever a felicidade pura que invadiu o seu coração? Palavras não foram feitas para descrever esse tipo de sentimento. Elas simplesmente não eram suficientes, não eram precisas, não eram perfeitas o bastante. Draco não estava acostumado a se sentir assim. Ele não conseguia pensar em nenhuma palavra que fosse ao mesmo tempo forte e doce para descrever o que estava acontecendo com seu coração, então ele fez o que fazia melhor: não disse nada - Eu soube que você levou um tiro - Gina falou, por fim, andando na direção dele de forma que apenas três passos os separassem.

- Não foi nada - Draco respondeu, sem tirar os olhos dela nem por um instante.

- Uma bala no seu pulmão dificilmente se qualifica como 'nada' - ela observou, a voz ligeiramente irritada.

- Você sabe o que eu quis dizer... quer dizer... eu estou bem agora - Malfoy respondeu, tropeçando contra a sua vontade nas palavras. Não estava acostumado a se sentir assim, não inarticulado.

- Eu sei - ela sorriu - Mas eu fiquei preocupada.

- Não deveria - ele falou, desviando pela primeira vez o olhar.

- Por que não?

- Porque eu não mereço - Malfoy respondeu, virando-se de novo para ela - Gina, o que eu fiz com você foi horrível... eu sei que eu te magoei. Você tem todas as razões do mundo para nunca mais querer falar comigo.

- Eu tenho - ela respondeu.

- Então por que você ainda não me mandou embora?

- Draco, nós estamos no meio de uma guerra - ela falou, com um suspiro - Eu não posso me dar ao luxo de ficar com raiva, ou magoada, ou ressentida - continuou, com lágrimas nos olhos - Quando você levou o tiro... eu fiquei tão preocupada. E a verdade é que você pode morrer amanhã ou depois, e eu também, sem aviso, sem... sem tempo para despedidas. Como eu posso ficar magoada diante dessa realidade? - ela perguntou, por fim.

- Gina...

- Quer dizer, se eu vou morrer, eu quero pelo menos morrer em paz.

- Paz? - Draco perguntou, virando-se e encostando-se na parede - Paz... Eu não acho que sei o que essa palavra significa...

- Não sabe? - ela falou, se aproximando até estar a apenas um palmo de distância - Eu sei - continuou, levando sua mão até a bochecha dele - Eu me senti em paz nos seus braços - completou, num sussurro, antes de acabar com o pouco espaço que restava entre os dois, levantando-se nas pontas dos pés e encostando de leve seus lábios nos de Draco.

Mesmo se quisesse resistir, Malfoy não teria conseguido, mas a verdade é que ele sequer tentou. Estava hipnotizado pelo olhar dela, inebriado com o cheiro dela e absolutamente surpreso com a ousadia. Apenas passou um dos braços ao redor da cintura de Gina, puxando-a para ainda mais perto e levou a outra mão até cabeça dela, entrelaçando seus dedos ao cabelo ruivo, e deixou-se perder naquele beijo. Não foi um beijo doce, apesar de ter tido doçura nele, nem foi um beijo suave, apesar de também ter tido suavidade: foi um beijo intenso, quente, completamente apaixonado. O beijo de dois amantes que se reencontram após tanto tempo. Havia tanta saudade e tanto desejo e tanta paixão e ao mesmo tempo havia medo e incerteza. Estava tudo junto, tudo misturado naquele simples ato.

Por alguns minutos, foi como se o tempo em si parasse. Em todo o universo, havia apenas Draco e Gina. E o beijo. Mais nada. Mais ninguém.

Quando os se separaram, por fim, sorrindo, sem ainda romper o abraço, ficaram por alguns instantes perdidos numa terra onde não havia Guerra, nem mortes, nem diferenças entre Weasleys e Malfoys. Havia apenas uma felicidade simples, uma sensação de harmonia e de unidade.

Draco abriu os olhos para encontrá-la ainda com os olhos fechados, os braços ao redor do seu pescoço. Se algum dia ele tivesse alguma dúvida de que ela era a mulher mais bonita que já tinha visto, bastaria lembrar aquele momento. Aquele momento eterno. Ele abriu a boca para tentar expressar o que estava sentindo, tentar dizer o que ela significava para ele, mas quando ia pronunciar a primeira palavra, os dois foram subitamente despertados do seu mundo de sonho por um barulho bem real: o barulho da gárgula da sala de Dumbledore se movimentando.

Gina retirou imediatamente as mãos do pescoço dele e se afastou num salto, assustada. Por um instante, Draco desejou que ela não tivesse parecido tão preocupada com a possibilidade de alguém os pegar naquela situação, mas ele também não queria ter que enfrentar os seis irmãos dela e mais Potter, então colocou as mãos no bolso e se recompôs - afinal de contas, ele ainda era um Malfoy. Em alguns segundos, a gárgula tinha acabado de se movimentar e o Menino-Que-Sobreviveu - tinha que ser ele! - saiu pela passagem.

- Gina - ele começou, mas parou ao perceber a presença de Draco. Alternando olhares suspeitos de um para outro, ele deixou claro que sabia que algo estranho tinha acontecido. Weasley não era tão boa quanto Draco em manter uma expressão inocente no rosto - Gina - Potter repetiu finalmente - você já pode entrar.

- Está bem - ela respondeu com a voz meio tremida e entrou, tomando cuidado para não deixar seu olhar cruzar com o de Malfoy.

Assim que a gárgula fechou a passagem de novo, Draco virou-se para continuar seu caminho até o quarto, realmente esperando escapar do interrogatório. Infelizmente, Potter percebeu a manobra.

- O que acabou de acontecer aqui? - Harry perguntou, seguindo-o.

- Absolutamente nada.

- Absolutamente nada é uma ova! O que você fez com ela??? - ele puxou Malfoy pelo braço, obrigando-o a parar.

- A pergunta, Potter, não é o que eu fiz com ela. É o que ela fez comigo - respondeu, sorrindo maliciosamente. Depois, soltou-se e continuou o caminho, ignorando a expressão completamente perplexa no rosto de Harry.

A verdade era que, naquele momento, Draco não estava nem um pouco preocupado com o que o outro poderia pensar ou deixar de pensar. Ele não estava nem um pouco preocupado com nada que pudesse acontecer. Seu coração ainda estava preenchido com a memória recente daqueles olhos e daqueles lábios. Como ela conseguia ter esse efeito tão devastador sobre ele? Fazia mais de um ano que os dois não se encontravam, mas ainda assim, quando a viu, Draco esqueceu todo o resto. Era como se nenhum minuto tivesse passado, como se o tempo inteiro, ele estivesse adormecido, esperando por esse reencontro. Como se, sem ela, ele não fosse capaz de viver, mas de apenas sobreviver, vagando num mundo sem esperança e sem amor.

Quando entrou no seu quarto novamente, havia posto de lado sua idéia inicial de descer para ajudar Snape. Não estava com cabeça para mais nada. Na realidade, provavelmente nem se lembrava que talvez o professor precisasse de ajuda. Talvez, houvesse esquecido até mesmo a batalha iminente, a Guerra e a ameaça de morte. Apenas apoiou as costas na parede e deixou-se escorregar até o chão, mantendo os joelhos dobrados e inclinando a cabeça para trás. A única coisa em sua mente era a loucura que apossara-se de seu coração. Ele era um Malfoy. Deveria manter a pose e a dignidade diante de todos. Deveria carregar seu nome como um símbolo da sua superioridade e da superioridade de todos os bruxos puro-sangue. Deveria ser frio e distante, duro e temível; mas, naquele momento, não era nenhuma dessas coisas. Era apenas um homem apaixonado, vulnerável e assustado. Penetrara no território onde não há diferenças entre Weasley e Malfoys, entre brancos, negros ou orientais, entre Ordem de Fênix e Comensais da Morte, pois todos os homens sentem da mesma forma, todos estão sujeitos ao medo e ao amor e todos anseiam pelo perdão e pela paz.

Draco Malfoy sabia que estava apaixonado há algum tempo. Ele tentara negar e tentara mentir; tentara fugir e, se as circunstâncias fossem outras, provavelmente teria continuado fugindo, mas, no fundo, ele falhara. Sabia disso agora, enquanto estava ali, sentado no chão do seu quarto, sozinho e perdido. Soubera disso quando pousara seus olhos nela, e a abraçara e beijara; e, nesses simples atos, encontrara mais felicidade do que em toda a sua vida de respostas inteligentes e ações bem calculadas. Nada que pudesse ter feito poderia tê-lo preparado para a força dos sentimentos que descobrira dentro do seu peito naquela manhã. Ele imaginava se era assim que todas as pessoas se sentiam quando se percebiam apaixonadas pela primeira vez: se elas se surpreendiam com a sua própria capacidade de amar outro ser humano; e se sentiam-se completas ao se aproximarem do objeto de suas afeições e terrivelmente solitárias ao se afastarem. Foi provavelmente esse o primeiro momento em que Draco se deu conta de que, independente do que ele fizesse com sua vida, nunca seria capaz de esquecer Virgínia Weasley. Ele podia continuar mentindo, podia fugir até o fim do mundo, mas nunca se livraria daquela doce lembrança amarga.

Foi provavelmente essa certeza que lhe deu um pouco mais de forças. Forças para se levantar do chão e ajeitar o uniforme. Forças para achar a fênix dourada e prendê-la nas vestes. Forças para dizer a si mesmo que aquilo tudo não passava de uma grande loucura, mas não forças suficientes para abrir a porta e encarar o mundo. Ele estava louco, sim, mas sua insanidade tinha nome: o amor e, contra ela, não havia nada que homem algum pudesse fazer para lutar. Ele próprio tentara e falhara. E estava fadado a continuar falhando. Aquela foi a primeira vez que Draco Malfoy se reconheceu pelo que era: um homem destinado a carregar na consciência um amor impossível e sem esperanças.

Como sempre acontece quando nós queremos que o tempo se alongue e demore para passar, as horas voaram com uma velocidade impressionante e, antes que Draco pudesse ter apaziguado sua consciência conturbada, precisou sair para participar do Conselho da Ordem. Seu coração ainda estava carregado, sua mente ainda estava em polvorosa, mas não havia mais nada que ele pudesse fazer. O sentimento de impotência o perturbava mais que tudo, mas ele estava tão confuso que nem ao menos conseguiu ficar com raiva. Se conseguisse, pelo menos poderia esquecer todos os seus outros sentimentos durante o arrombo de violência. Desejou, inclusive, poder cruzar com Potter ou Weasley ou Granger pelo caminho para provocá-los como nos tempos de escola. Seria algo infantil, com certeza, mas ao menos seria uma saída.

Do jeito que sua sorte andava, contudo, Draco não encontrou ninguém além de Lupin. O ex-professor o cumprimentou animadamente - ou ao menos com o máximo de animação que alguém que estava para enfrentar a batalha mais difícil de sua vida poderia demonstrar - e Malfoy apenas grunhiu em resposta. Se Lupin tivesse dito mais alguma coisa, provavelmente acabaria por conseguir transformar toda aquela confusão dentro do outro em raiva pura e simples, mas ele conhecia Draco o suficiente para saber que o melhor era ficar quieto. Então, não houve discussão alguma.

Os dois chegaram juntos à sala do Conselho da Ordem, que já estava praticamente lotada. Malfoy sentou-se na sua cadeira e notou que Potter já estava sentado e que o olhava com uma desconfiança clara. Mantendo a pose, Draco respondeu ao olhar com um sorriso que era tudo, menos inocente. Ele sabia que agindo assim apenas contribuía para aumentar as suspeitas e a raiva do outro, mas não se importava. Alguns minutos depois, contudo, sua atenção foi completamente desviada quando Gina entrou na sala. Ela lançou-lhe um olhar de esguelha, mas desviou-o assim que notou que Draco a estava observando, e procurou  seu lugar, que ficava do lado oposto da mesa em meia-lua, à direita de Granger. Assim que ela sentou, a última inclinou-se em sua direção fazendo alguma pergunta que Malfoy obviamente não conseguiu ouvir. Antes que Gina pudesse respondeu, entretanto, Dumbledore entrou e começou a reunião.

Exatamente o que foi dito durante o conselho, contudo, Draco não seria capaz de dizer. Para sua sorte, nada de novo foi discutido. Os planos foram repassados, as funções de cada um, revistas e a história toda da profecia, recontada, mas Malfoy não estava prestando a mínima atenção. Culpa de quem tinha colocado o lugar de Gina Weasley assim, tão dentro do seu campo de visão. Era absolutamente irresistível a tentação de ficar observando-a. Irresistível. Ele passou, então, metade do tempo, roubando olhares de esguelha na direção dela e a outra metade, tentando disfarçar. Se alguém estivesse realmente prestando atenção nele, contudo, teria percebido em dois tempos. Naquele dia, provavelmente pela primeira vez em sua vida, Malfoy não estava conseguindo esconder seus sentimentos atrás da sua usual máscara de frieza. Gina, por sua vez, estava com as bochechas levemente coradas, como se adivinhasse a atenção inesperada que vinha recebendo. Isso, é claro, apenas a deixava ainda mais atraente.

Quando Dumbledore encerrou o conselho, Draco a observou levantar rápido e se dirigir à porta, fugindo de qualquer pergunta da Granger ou do Potter. Por um momento, ele quis segui-la, mas foi chamado por Snape para uma última reunião. Durante a batalha, Malfoy ficaria sob o comando do professor de poções - que graças a Deus nunca mais tocara no assunto da garota Weasley com ele - e Dumbledore queria dar umas instruções de última hora. Draco realmente tentou prestar atenção, enquanto o salão se esvaziava, mas falhou completamente. O máximo que conseguiu foi manter uma expressão compenetrada e balançar a cabeça sempre que lhe faziam uma pergunta.

Quando foi dispensado, praticamente todos já tinham ido embora e ele deveria ir para as masmorras, esperar Snape. Todos partiriam depois do almoço, em grupos pequenos, para o acampamento e suas coisas já estavam preparadas desde o dia anterior. Assim que saiu da sala do Conselho, contudo, foi interrompido por uma voz chamando seu nome. Ele virou-se em encontrou um Weasley, o que estivera com ele na Alemanha, parado perto da janela onde Draco conversara com Gina no dia de sua iniciação.

- Malfoy - o outro repetiu. Já estava recuperado da intoxicação.

- O que foi, Weasley?

- Eu quero me desculpar.

- Desculpar pelo quê?

- Por ter duvidado de você em Berlim, Malfoy.

- Não se preocupe - Draco respondeu, momentaneamente sem conseguir insultá-lo - Não foi nada que muitas pessoas teriam feito diferente.

- Também queria agradecer. Você salvou minha vida.

As palavras 'de nada' chegaram a dançar na ponta da língua de Draco. Ele quase as falou em voz alta. Quase. No fim, contudo, optou por uma resposta mais característica:

- Não se preocupe - repetiu - Garanto que não foi nada pessoal. Eu estava apenas fazendo meu trabalho - completou, virando-se e saindo da ante-sala, abandonando um Weasley perplexo para trás.

Draco se sentia cansado como em poucos momentos em sua vida. Estava exausto e não queria se enterrar em uma das masmorras com Snape até que fosse hora de sair para o acampamento. Ele queria falar com ela, queria tirar toda aquela história a limpo, perguntar por que ela usava um anel que Potter lhe dera em um dedo e, ao mesmo tempo, o beijava no corredor. Queria beijá-la e descansar em seus braços. E estava perdido demais para lutar contra essa vontade. Sem perceber, então, seus pés tomaram o caminho da enfermaria. Com certeza ela estaria lá, ajudando nos últimos preparativos. Seguiu meio que num transe, sem prestar muita atenção nos corredores ou nas pessoas com quem cruzou. Quando estava, contudo, a poucos passos do seu destino, outra voz o interrompeu:

- O que você está fazendo aqui, Malfoy? - ele se virou apenas para ver outro Weasley, ele não se lembrava do nome desse, fitando-o com desprezo.

- E desde quando isso é da sua conta? - Draco conseguiu responder, devolvendo o desprezo e tentando continuar o caminho.

- Desde que envolve a minha irmã! - o outro exclamou, segurando-o pelo braço.

- Sua irmã? - Draco retrucou, escondendo sua surpresa - O que ela tem a ver com isso?

- Diga-me você, Malfoy!

- Você está louco, Weasley - ele falou, soltando o braço.

- Quem está louco é você, Malfoy, se acha que pode olhar para a minha irmã do jeito que você olhou durante a reunião inteira e não querer nenhuma represália!

- Represália? Ora, essa é muito boa, Weasley! Eu já estou morrendo de medo!

- E deveria, Malfoy! Você acha que eu sou estúpido, acha? Acha que eu não sei o que aquele seu olhar significa? Acho bom você ficar bem longe da minha irmãzinha!

- Oh, ele está com medo do que eu vou fazer com a irmãzinha dele - Draco disse em tom de deboche - Que louvável!

- Malfoy - o outro disse, puxando-o pelo colarinho - Não brinque comigo! Eu vi o que você fez com os pulsos daquela alemã! É assim que você trata todas as suas mulheres, é?

- Seu imbecil! - Draco falou, enfurecendo-se e empurrando Weasley para longe - Você tem coragem de comparar a sua irmã com aquela mulher?

- Não tente me enganar!

- Você é que se engana chamando Gina de sua 'irmãzinha'. Até onde eu sei (e, acredite, é o bastante), ela não tem mais nada de criança nela - Draco respondeu, deixando a malícia transparente nas suas palavras. Isso foi a gota d'água para Weasley. Num impulso de raiva, ele avançou contra Malfoy e acertou um soco em cheio no seu nariz. Por alguns instantes, Draco não viu nada na sua frente. Apenas cambaleou e, sem equilíbrio, caiu para trás no chão, ainda cego com o impacto e com a dor. Quando tentava se recuperar para reagir, contudo, ouviu uma voz gritar e correr na direção do seu atacante.

- Carlinhos! Você está louco?! - Gina falou, colocando-se na frente do irmão para que ele não pudesse atacar de novo.

- Quem estão loucos são vocês! Gina, saia da minha frente! - Weasley gritou, tentando passar por ela.

- De jeito nenhum! - ela respondeu, também gritando e tentando empurrá-lo.

- Eu não acredito que você está defendendo ele! Você não sabe o que ele disse...

- Não me interessa! - Gina gritou de novo, empurrando-o mais uma vez - Tudo o que eu sei é que vocês deveriam estar se preparando para lutar do mesmo lado amanhã e não saindo no tapa agora!

- Gina...

- Vá embora, Carlos! Vá embora! - ela repetiu, num tom que não admitia recusa e com uma expressão férrea no rosto. Seu irmão, finalmente, virou-se para sair, mas não sem antes lançar um último olhar para Draco e falar, ameaçador:

- Você está avisado, Malfoy.

Assim que ele estava fora do alcance visual, Gina inclinou-se para Draco, ajudando-o a se levantar e sentar, com as costas apoiadas na parede.

- O que foi que você disse, afinal? - ela perguntou, a voz mais suave.

- Apenas que você não era mais uma criança - Malfoy respondeu, mas dessa vez não havia suavidade nenhuma no seu tom. O contrário na realidade. O soco que Weasley lhe dera servira para acordá-lo daquele sonho e agora, ele estava realmente furioso consigo mesmo e com ela, claro, por despertar tantos sentimentos conflitantes nele.

- Ah, mas essa é a pior coisa que você poderia dizer para um dos meus irmãos - ela respondeu, sorrindo e ignorando o tom ríspido na voz dele - Eu acho que você quebrou o nariz, Draco - Gina continuou, depois de examiná-lo, pegando sua varinha e murmurando um feitiço - Provavelmente vai ficar sensível durante alguns dias, mas já está consertado - completou, tirando dessa vez um lenço do bolso para limpar o sangue que estava por todo o rosto de Draco.

- Não se preocupe - ele falou, ainda furioso, afastando a mão dela sem delicadeza - um feitiço pode fazer isso melhor, Weasley - e murmurou um encantamento para limpar o sangue do rosto e das vestes.

- Draco, o que houve? - Gina perguntou, sem entender o que estava acontecendo.

- Houve, Weasley, que você não me deixa em paz! - ele quase gritou - E agora os seus irmãos não vão me deixar em paz também!

- Mas, Draco...

- Eu não quero ouvir, Weasley! Apenas me deixe em paz! Será que isso é tão difícil assim? - por um momento, Gina apenas o encarou, os olhos castanhos cheios de lágrimas.

- Não, não é - ela respondeu, por fim, e, no instante em que ela se levantou e virou de volta para a enfermaria, Draco percebeu o que acabara de fazer e se arrependeu profundamente.

- Gina - ele tentou chamá-la, mas sua voz saiu fraca e baixa e ela não voltou, provavelmente sequer ouvir.

Por alguns momentos, Draco continuou sentando no chão, contemplando a sua própria estupidez. Depois, com um suspiro, levantou-se e seguiu para as masmorras.

Draco deitou-se na grama, apoiando a cabeça com as mãos. O céu estrelado se estendia na sua frente, as estrelas brilhando como se aquela fosse a última noite do mundo. Estava ventando um pouco no acampamento. Um vento frio que aumentava e diminuía conforme uma vontade superior desconhecida. Ao seu lado, a fogueira ardia, as chamas dançando para um lado e para o outro conforme o ar se movimentava. Ele escolheu deitar-se em um local afastado das tendas, o mais afastado possível. Sabia que a maioria das pessoas iria querer ver a chuva de meteoros, e não queria estar perto de nenhuma delas. Não queria ser observado. Draco fechou, então, os olhos por alguns instantes, saboreando os aromas da noite, e quando os abriu novamente, ela estava parada, em pé, diante deles, como se tivesse se materializado do nada.

Seus cabelos não estavam presos naquela noite. Estavam soltos, voando livremente atrás dela. A semelhança com as chamas da fogueira, movendo-se conforme o vento, era extraordinária.

- Não se preocupe, Malfoy - ela falou, sem esconder a irritação - eu não pretendo demorar. Só vim porque da última vez, eu fiz um pedido...

- Para uma estrela cadente - Draco completou.

- Exato. E agora que eu já te encontrei de novo ao redor de uma fogueira, eu vou te deixar paz - continuou, virando-se para ir embora.

- Gina - ele a interrompeu antes que ela começasse a andar - Não vá - desde de manhã, ele vinha se torturando com a consciência de que ela poderia nunca mais querer falar com ele e que isso seria sua culpa. Única e exclusivamente. Era um pensamento assustador. Ele precisava dela muito mais do que gostaria de admitir.

- E por que eu não iria? Em algum momento você fez algo para merecer que eu quisesse ficar? - ela perguntou, ainda irritada.

- Não, não fiz.

- Então me dê um motivo, apenas um motivo para ficar - Gina disse, finalmente encarando-o de novo, de braços cruzados.

- Eu posso morrer amanhã - Draco respondeu, sem desviar os olhos dela, sabendo que esse argumento a convenceria.

- Seu chantagista desgraçado! - a outra exclamou, mas não havia raiva nas suas palavras. Ele sabia que tinha vencido a discussão, então lançou-lhe um meio sorriso e esperou que ela ajoelhasse ao seu lado, ainda reclamando - Isso foi golpe baixo!

- O que você queria de mim, Weasley? Eu sou um Malfoy.

- Tem razão. Eu não deveria ter esperado nada melhor - ela concordou, olhando para baixo, sem encará-lo.

- O que foi?

- Nada... Quer dizer, eu não sei...

- Vai dar tudo certo, Gina.

- Malfoy, você andou bebendo? - ela perguntou, lançando-lhe um olhar absolutamente desconfiado. Aquilo era a última coisa que ela esperava que ele falasse.

- Não, claro que não. Apenas disse o que você queria ouvir. Era isso que você queria ouvir, não?

- Era. E ao mesmo tempo não era.

- E depois dizem que eu sou difícil de entender...

- Eu estou falando sério, Malfoy - ela disse, dando um tapa de leve no braço dele - É que ouvir sempre as suas versões pessimistas do futuro era meio reconfortante. Pelo menos eu sabia que as coisas nunca ficariam piores que como você as pintava.

- Jura? Não era isso que você dizia antes, Weasley. Eu deveria pedir essa declaração por escrito.

- Nos seus sonhos.

- Ah, que isso! Há coisas tão mais interessantes para você fazer nos meus sonhos...

- Malfoy! - ela interrompeu, num tom de aviso.

- O quê? - ele perguntou inocentemente - Afinal, não é nada que...

- Malfoy, eu estou avisando! - Gina exclamou.

- Está bem, está bem - ele realmente não queria que ela se enfurecesse e fosse embora. Precisava dela nesta noite - Você quer ouvir a minha visão pessimista das coisas para se sentir melhor? - Draco perguntou após alguns instantes.

- Quero - foi a resposta.

- Bem, vejamos: Potter vai nos mostrar o quão incompetente ele é (nada que eu já não tivesse descoberto há séculos) e não vai conseguir matar Voldemort. Como conseqüência, óbvio, será destruído. Os comensais da morte estarão em maior número e como eles são bem melhores que nós em todos os feitiços das artes das trevas vão acabar conosco facilmente. A maior parte do nosso exército vai morrer logo e esses serão os sortudos. Alguns, claro, vão sobreviver apenas para serem aprisionados, torturados e escravizados. Não necessariamente nessa ordem. Eu esqueci alguma coisa? Ah, claro: e o mundo será condenado a passar o resto dos seus dias numa escuridão eterna.

- Malfoy, eu nunca soube que você tinha um dom para o melodramático.

- Está se sentindo melhor, agora? - ele perguntou preferindo ignorar o último comentário.

- Não exatamente - Gina respondeu - Mas realmente eu não vejo como as coisas poderiam ficar piores do que isso - ela concluiu com um suspiro.

- O que houve? Quer uma versão otimista agora?

- Não, quero a versão realista.

- Você tinha que escolher a mais difícil, não é mesmo? - ele perguntou, fingindo irritação. Gina apenas riu - Nós não estamos derrotados. Não vai ser fácil nem para um lado nem para o outro, mas se Potter vencer Voldemort, nós cuidaremos dos outros - Draco completou, meio contrariado por ter que admitir que eles estavam dependendo do Menino-Que-Sobreviveu.

- Você acha que Harry vai vencer?

- Eu realmente espero que sim, Gina. Realmente espero que sim - repetiu, voltando seus olhos para as estrelas - Eu não quero morrer amanhã.

- Nenhum de nós quer.

- Mas é diferente.

- Por quê?

- Porque por bastante tempo eu não me importei. Não fazia diferença se eu ia viver ou morrer. Agora, eu sei que ainda há muito nesta vida que eu ainda quero experimentar.

- O que mudou? - ela perguntou. Por algum tempo, Draco não respondeu nada. Apenas continuou olhando para o céu. Depois, quando Gina já estava quase desistindo de esperar, ele finalmente murmurou:

- Você. Você fez toda a diferença para mim - Malfoy disse as palavras ainda sem encará-la, envergonhado-se pela sua própria admissão. Já estava pensando no que poderia acrescentar para disfarçar um pouco o que estava sentindo, quando percebeu Gina se inclinando sobre ele. Ela pôs os cotovelos, um de cada lado lada cabeça dele para se apoiar e depois se abaixou e deu um beijo na testa de Draco.

- Me desculpe - ela falou, mantendo-se inclinada, os narizes dos dois quase se tocando - Me desculpe pelo meu irmão. Ele foi um imbecil.

- Nada que me surpreenda - Malfoy disse, o coração acelerado com a proximidade dela - Afinal de contas, ele é um Weasley - completou, mas Gina não ficou com raiva. Apenas riu.

- Você não toma jeito, não é mesmo?

- E por acaso você quer que eu tome, Weasley?

- Não - ela respondeu - Se você tomar, vai perder a graça - continuou, beijando-lhe de leve nos lábios. Depois, deitou-se ao lado de Draco, apoiando a cabeça no peito dele. Malfoy tirou as mãos de trás da cabeça e usou-as para abraçá-la. Ele não se sentia assim tão bem há muito tempo. Tê-la ali, nos seus braços, provocava as melhores sensações que Draco conhecia.

- Olhe - ele falou após algum tempo - Já começou.

Gina levantou um pouco a sua cabeça para olhar o céu, sem entretanto sair do abraço. A chuva de meteoros já começara.

- É lindo! - ela exclamou depois de algum tempo.

- Faça um pedido, Weasley - disse Draco - Pode ser o último da sua vida.

- Mas são tantas estrelas cadentes! Será que se eu fizer um pedido diferente para cada uma, todos serão atendidos? - a única resposta de Malfoy foi uma risada seca - 'Tá bom, eu sei. Meio patético. Mas será que, como elas são muitas, se eu fizer só um pedido, ele vai ser intensificado? Ter mais chances de se realizar?

- Por que diabos você está me perguntando isso? Não é como se eu fosse um especialista em desejos...

- Malfoy!...

- Cala a boca, Weasley, e faz o maldito pedido antes que a chuva de meteoros acabe!

- Ah, está bem! Você é muito chato - Gina falou antes de fechar os olhos e silenciosamente mentalizar seu desejo - Pronto. Agora é a sua vez.

- 'Tá de sacanagem comigo, né?

- Claro que não! - ela exclamou, levantando a cabeça para encará-lo.

- Eu? Um Malfoy? Fazer um pedido para uma estrela cadente? Você só pode estar brincando, Weasley.

- Não estou não! Estou falando muito sério.

- Mas isso é ridículo!

- Malfoy! Feche os seus malditos olhos e faça o raio de um pedido agora!

- Por quê?

- Porque eu estou mandando! - Draco até começou a respondeu que ninguém mandava nele, mas a verdade é que assim, com as bochechas meio coradas de raiva e o olhar absolutamente mortal, Gina Weasley estava mais irresistível do que nunca.

- Ai, Deus! - ele murmurou, dando-se por vencido - As coisas que a gente não faz por uma garota! - e fechou os olhos obedientemente para fazer o pedido - Satisfeita? - perguntou quando terminou.

- Sim! - ela respondeu, dando-lhe um beijo rápido - Agora me diz: o que você desejou?

- Sem chance!

- Ah, por favor!

- Se eu contar, não vai se realizar, Weasley!

- Você realmente acredita nisso, Malfoy?

- Esqueça. Eu não vou dizer.

- 'Tá bom, Como eu disse: você é muito chato - ela falou, apoiando de novo a cabeça no peito dele.

- O que você desejou?

- Não é óbvio? - Gina respondeu - Eu desejei que Harry derrotasse Voldemort.

- Potter! - ele falou, subitamente com raiva - O seu desejo tinha que estar relacionado a ele, não é mesmo? - Malfoy tinha conseguido até agora esquecer o maldito Menino-Que-Sobreviveu e se concentrar apenas na ruiva que estava nos seus braços, mas aquilo foi demais.

- Draco...

- Por que você não está com ele agora, Weasley? Hein? Por quê?

- Draco, por favor, fique quieto! Não diga mais nada!

- Por que não?

- Porque se você continuar, vai me deixar com raiva e eu vou ter que ir embora. Eu não quero que isso aconteça. Quero ficar aqui com você - Gina pediu, seus olhos brilhantes implorando silenciosamente. Como Malfoy poderia dizer não?

- Está bem - ele murmurou por fim. Afinal, se ela preferia passar o que poderia ser a última noite de sua vida com ele ao invés de Potter, que motivo ele tinha para reclamar - Não toco mais no assunto - continuou, contrariado.

- Obrigada - ela falou, deitando de novo. Ficaram em silêncio por um bom tempo, esquecendo o mundo ao redor. Por fim, foi Gina quem falou primeiro - Você teve um caso com a alemã - ela disse subitamente, pegando Draco de completa surpresa.

- Como você... quer dizer... como...?

- Ela me falou. Eu precisei tratar dela porque aparentemente as poções que você ministrou tinham estranhos efeitos colaterais após o uso constante - ela disse em tom de reprovação. Ele preferiu ignorar o comentário - Ela não poderia perder a oportunidade de se gabar.

- Peraí! Como ela sabia... Você contou para ela? Quer dizer, como Frida sabia de nós...?

- Não foi você quem contou?

- Não!

- Bom, também não fui eu - Gina afirmou - De alguma forma, ela deve ter descoberto - 'então foi isso', Malfoy pensou. A mulher havia sido uma isca para ele desde o princípio. Ele se xingou mentalmente por ter caído na armadilha - Draco, você...

- Eu o quê? - ele perguntou mais rudemente do que planejara, ainda irritado consigo mesmo.

- Você a amava? - a resposta dele foi uma gargalhada ruidosa.

- Claro que não, Gina! Como eu poderia amá-la? - ele perguntou. 'Quando simplesmente não consigo te tirar da cabeça?', completou mentalmente - Ela nunca significou nada para mim. E, obviamente, nem eu para ela.

- Bom - Weasley falou e Draco ficou tentado por um instante a perguntar como ela poderia dizer aquilo quando estava noiva de outro, mas achou melhor não tocar no assunto - Malfoy - Gina começou - qual foi o seu desejo para você ficar com tanta raiva que o meu era relacionado ao Harry?

- Eu desejei - o outro falou, cansado demais para discutir - que essa noite pudesse durar para sempre.

Depois disso, Gina não falou mais nada e ele não quebrou o silêncio. Ficou apenas deitado, abraçando-a, aproveitando o que poderiam ser seus últimos momentos de tranqüilidade. Umas duas horas mais tarde, quando a chuva de meteoros já tinha terminado, Gina estava adormecida. Com medo de acabar pegando no sono também e ser surpreendido de madrugada pelos seis irmãos dela, Draco levantou-se com cuidado para não acordá-la e a pegou o colo. Inconscientemente, Gina colocou os braços ao redor do pescoço dele e murmurou algo incompreensível. 'Pelo menos, ela não me chamou de Potter', ele pensou. Depois, jogando com os pés um pouco de terra na fogueira para apagar o fogo, se dirigiu para a tenda onde ela deveria dormir.

Tomando cuidado para não fazer barulho e acordar alguém no acampamento, Draco entrou na barraca e a colocou na cama. Tirou os sapatos de Gina e por um momento pensou se deveria ou não tirar o casaco também, mas acabou decidindo que não conseguiria fazê-lo sem despertá-la. Com um último olhar na direção dela, Malfoy virou-se para ir embora. Quando já estava diante da entrada, contudo, mudou de idéia. Fechou, então, a barraca e voltou para perto da cama. Tirou seus sapatos e seu próprio casaco e com todo o cuidado do mundo para não acordá-la e, conseqüentemente, ser expulso dali, deslizou por debaixo das cobertas para o único lugar daquele acampamento inteiro onde ele encontraria alguma paz: o lado dela. Em menos de cinco minutos, estava profundamente adormecido.

N/A3: E então, o que acharam???? Vocês pediram tanto pra Gina voltar que agora eu quero saber o que vocês acharam do retorno!!!!! Por favor, ME DIGAM!!!! Ah, e eu prometo que, daqui para frente, ela vai estar em todos os capítulos.

N/A4: Outra coisinha: eu posso ter dito que a próxima batalha é a última, mas isso não significa que o próximo capítulo seja o último. Essa fic deve ter nove ou dez capítulos (ainda não decidi) e um epílogo.

N/A5: O livro do qual eu extraí o fragmento que inicia esse capítulo, "O Rei Do Inverno" faz parte de uma trilogia chamada "As Crônicas De Artur", que também inclui os livros: "O Inimigo De Deus" e "Excalibur". Eu não poderia perder a oportunidade para fazer propaganda desses livros que são absolutamente apaixonantes e maravilhosos. Eu recomendo pra qualquer pessoa que goste das histórias do Rei Artur.