Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Categoria: Romance/Drama

Classificação: PG-13

Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts

Disclaimer: Eles não são meus. São da Rowling.

N/A: Eu quero pedir milhares de desculpas pela longa demora com esse capítulo. Eu enfrentei um caso muito sério de bloqueio, onde eu sabia exatamente o que tinha que acontecer na história, mas as palavras simplesmente não vinham. Um horror. Não posso dizer que fiquei completamente satisfeita com o capítulo, mas foi o que eu consegui. Prometo solenemente não demorar um mês para colocar o próximo no ar. Prometo. Pode ser que esse possua alguns erros de digitação. Eu não fiz uma revisão muito cuidadosa porque vou viajar amanhã, então, tenho que publicar o capítulo agora ou só depois do carnaval. Quando eu voltar, eu corrijo os erros. Quero pedir desculpas também para todas as pessoas que me mandaram emails no mês de fevereiro. Eu não respondi a praticamente nenhum. Eu sei que isso é imperdoável, mas eu juro que vou responder assim que voltar de viagem. Eu não estava com cabeça para pensar em mais nada enquanto não conseguisse terminar esse capítulo. Espero que, após tanto tempo, ele tenha ficado pelo menos satisfatório.

Boa leitura! E não se esqueçam de me dizer o que vocês acharam, okay?!

*   *   * Capítulo 7: Esperanças Perdidas

25 de abril

Draco Malfoy abriu seus olhos lentamente. Estava escuro dentro da tenda e provavelmente ainda estava escuro também do lado de fora. O sol, contudo, não demoraria muito para nascer. Ele parou um pouco, olhando para o teto da barraca, tentando entender por que estava se sentindo tão bem. Foi quando ouviu a voz sonolenta de alguém murmurando algo ao seu lado e, então, todas as lembranças da noite anterior voltaram à sua mente. Olhando para baixo, Draco não pôde conter um leve sorriso. Gina ainda estava dormindo, com a cabeça apoiada sobre o peito dele e um dos braços ao redor da sua cintura. Seu corpo estava fazendo peso sobre um dos braços de Draco, deixando-o dormente, mas ele não se importava. Não estava nem um pouco desconfortável. O contrário, na realidade. Poucas vezes em sua vida, Malfoy lembrava-se de ter acordado assim, tão satisfeito. Devagar, ele levou a sua mão livre até o rosto de Gina e acariciou delicadamente a bochecha dela. A garota em resposta murmurou alguma outra coisa, também incompreensível e se mexeu um pouco na cama.

- Virgínia Weasley - Draco sussurrou suavemente, sem tirar a mão do rosto dela - Virgínia Weasley - repetiu depois, mais baixo, para si mesmo dessa vez - É hora de acordar - sussurrou, secretamente desejando que isso não fosse preciso, que os dois pudessem ficar daquele jeito para sempre. Como que ouvindo as palavras dele, contudo, Gina subitamente se mexeu, piscando, levando a mão aos olhos para esfregá-los e depois até a boca para esconder um bocejo preguiçoso e finalmente deixando a cabeça cair de novo sobre o peito de Draco. Tudo isso sem aparentemente ter percebido a presença do outro - É impressão minha - Malfoy falou num tom divertido, fazendo-a pular e se sentar na cama rapidamente - ou você está tão acostumada a acordar com homens estranhos na sua cama que nem nota mais? - completou com seu sorriso superior característico.

- Malfoy! - ela exclamou, aparentemente confusa demais para prestar atenção ao comentário dele - O que você está fazendo aqui? - perguntou, olhando primeiro para a entrada da barraca, depois para ele e para si mesma, notando que ambos estavam completamente vestidos - O que eu estou fazendo aqui? - perguntou levando uma das mãos à cabeça.

- Você adormeceu do lado de fora. Eu te carreguei - ele respondeu, a expressão impassível.

- E se convidou para deitar comigo? - ela falou, colocando as mãos na cintura. Gina Weasley com cara de sono e irritada era uma visão absolutamente hilária, mas Draco resistiu bravamente à vontade de rir.

- O que eu posso dizer em minha defesa? A minha cama estava terrivelmente fria - respondeu, novamente com seu sorriso superior.

- Desgraçado - Gina falou, mais como uma observação do que como um xingamento, mas ao invés de se levantar e expulsá-lo, ela simplesmente deitou de novo ao seu lado, pousando a cabeça exatamente sobre o braço dele que estava estendido, ainda dormente. Draco não conseguiu conter um gemido de dor - O que foi? - ela perguntou, levantando-se de novo preocupada

- Meu braço está dormente. Parece que alguém resolveu dormir em cima dele a noite inteira - completou, lançando um olhar acusador para a outra.

- Hei! Você que se convidou para dormir aqui. Agora não venha reclamar - ela respondeu, procurando no bolso do casaco sua varinha - Mas como eu acordei de bom humor, eu conserto pra você - continuou, sorrindo enquanto murmurava o feitiço correto - Como está?

- Perfeito - ele respondeu, abrindo e fechando os dedos - Isso não deveria ser coisa só de médi-bruxa? Quer dizer, você é enfermeira...

- E eu não sei? - Gina respondeu, colocando a varinha em cima da mesa ao lado da cama - Mas com tudo o que eu aprendi nessa Guerra, já merecia o título honorário - completou, séria e pensativa. Draco se xingou mentalmente por tê-la feito se lembrar da Guerra. Sem dúvida, não queria que ela percebesse que já deveria ser hora de levantar e lutar a última batalha. Tinha uma idéia muito clara de como gostaria de passar esses poucos minutos que restavam e ela definitivamente não envolvia deixar Gina sair daquela cama. Segurou, então, de leve a manga do casaco dela e a balançou para chamar atenção. Quando Virgínia se virou para encará-lo, Draco apenas lançou-lhe um sorriso cheio de segundas intenções e arcou levemente as sobrancelhas.

- Ora, por favor! - Gina exclamou, sorrindo e deixando-se cair de novo no travesseiro. Ela entendera perfeitamente o que ele dissera.

- Que isso, Weasley, assim você fere meus sentimentos - Draco respondeu, fingindo estar profundamente magoado.

- Esqueça - ela respondeu, por sua vez fingindo estar profundamente irritada. Ele passou, então, um dos braços por baixo dela, abraçando-a ao redor da cintura e apoiando o rosto no ombro de Gina - Diga-me, Malfoy, por acaso tirar proveito de donzelas adormecidas para dormir com elas é uma de suas especialidades agora? - ela perguntou, obviamente brincando com ele.

- Donzelas? - Draco retrucou, levantando uma das sobrancelhas, mas arrependeu-se logo que recebeu um chute firme na canela - Ai, Weasley! Essa doeu! - ele exclamou, levantando-se um pouco, apoiado em um dos cotovelos.

- Era essa a intenção - ela respondeu, aparentemente sem se emocionar com as reclamações.

- Ah, é assim, então que você vai me tratar? - ele perguntou, num tom de voz baixo e ameaçador.

- É - ela respondeu, sem se assustar.

- Pois bem. Então é assim que eu vou te tratar também - Draco falou, ainda ameaçador e, num piscar de olhos, sem dar tempo para Gina dizer qualquer coisa ou protestar, ele inclinou a cabeça em direção à dela e a beijou com toda a intensidade que poderia. Diferentemente do beijo anterior, esse não teve suavidade alguma. Ele a beijou como alguém que sabia que poderia não sobreviver às próximas horas. Beijou-a como alguém que está perto da morte e sabe disso. Por alguns instantes, ela pareceu estar correspondendo da mesma forma, intensamente, mas então, de súbito, Gina recuou, tentando se separar dele. Draco ainda tentou impedi-la, mas não conseguiu - O que houve??? - ele perguntou profundamente irritado com a interrupção e ao mesmo tempo com um pouco de medo de que ela fosse dizer que simplesmente não o queria perto, que ele tinha entendido tudo errado desde o início. Mil coisas passaram na sua cabeça durante os poucos segundos que ela demorou para responder:

- Nós ainda não escovamos os dentes, Malfoy - Gina disse, cobrindo a boca com a mão - por um instante ele apenas ficou olhando para ela, tentando confirmar se ouvira direito. Ela só podia estar brincando.

- Dane-se, Weasley! - ele exclamou finalmente, tirando a mão dela do caminho - Quem se importa? - perguntou antes de beijá-la de novo. Ou pelo menos, antes de tentar beijá-la de novo, porque novamente Gina se esquivou.

- Eu me importo!

- Você não pode estar falando sério! Quer dizer que agora eu não posso nem mais te beijar? - ele perguntou, positivamente furioso.

- Não antes de nós escovarmos os dentes! - Draco procurou na sua cabeça algo para dizer contra esse argumento. Esteve a instantes de simplesmente agarrá-la pelos braços e arrastá-la pelo acampamento até onde a fonte de água estava e escovar os dentes dela ele mesmo, mas até ele sabia que isso seria estúpido demais. Sua raiva, contudo, diminuiu consideravelmente quando ela levantou a cabeça e deu-lhe um longo e doce beijo no rosto, murmurando - Mas nós ainda podemos ficar deitados aqui um pouco mais.

A seu favor, nós podemos dizer que Draco tentou. Realmente tentou resistir àqueles olhos, mas era impossível lembrar por que ele estava com raiva quando ela estava tão próxima.

- Eu realmente te odeio, sabia? - ele falou, deitando-se de novo, ao lado dela, abraçando-a. Não estava mentindo. Ele a odiava tanto quanto a amava. Ele a odiava porque a amava. Porque perto dela ele nunca conseguia ser ele mesmo. Porque ela parecia ser capaz de convencê-lo a fazer qualquer coisa com um sorriso maroto ou um olhar suplicante. Porque ela o fazia pensar que todos os problemas sumiriam se ele apenas fosse capaz de enterrar sua cabeça no colo dela e dormir ou chorar ou sonhar. Porque ela era uma Weasley e ele um Malfoy e a vida nunca deveria ter se tornado assim tão complicada.

- O sentimento é mútuo - ela respondeu, dando-lhe um beijo leve na testa e acariciando o cabelo de Draco suavemente. Os dois permaneceram assim, quietos, aproveitando o silêncio por alguns minutos. Depois, Malfoy deslizou sua mão pelo braço de Gina até entrelaçar seus dedos aos dela. Sem querer, ele havia escolhido a mão que carregava o anel que Potter lhe dera. Draco virou sua cabeça para baixo, fitando o anel, tocando-o de leve. Gina provavelmente notou o interesse dele, mas não falou nada. Aquele seria o momento perfeito para perguntar. O momento perfeito para descobrir a verdade. Draco não achava que agüentaria mais um minuto sem saber por que ela ainda usava o anel de noivado mesmo depois de tudo o que acontecera entre eles. Juntando toda a sua coragem, ele finalmente abriu a boca para perguntar.

- Gina - falou ainda tocando a jóia - por que você usa esse anel? - ele indagou. Sentiu o corpo dela se enrijecer ligeiramente com a pergunta.

- Draco - ela começou - você se lembra daquele envelope que você me entregou depois que nós fugimos da sua casa?

- Lembro - ele respondeu devagar, depois de vasculhar sua memória atrás das lembranças daquele dia por alguns instantes, ainda sem saber o que aquilo tinha a ver com a pergunta que fizera.

- Então... - ela parou um pouco antes de continuar. Parecia pensar um minuto sobre o que deveria contar ou como. Quando abriu a boca, contudo, para completar a história, foi interrompida por uma voz que entrava na tenda naquele momento.

- Gina! O que deu em você pra dormir até essa hor... - a voz de Ronald Weasley imediatamente parou quando ele pareceu perceber a cena que se revelava na sua frente. Por alguns instantes, ele apenas encarou-os, boquiaberto sem conseguir dizer mais nada. Gina havia se sentado na cama e Draco a seguira com relutância. Ele devia ter imaginado que algum dos irmãos dela iria arranjar um jeito de estragar o que estava indo tão bem - Seu desgraçado! - Weasley exclamou, finalmente conseguindo reagir - Eu vou te matar!!!! - ele completou, avançando na direção de Malfoy. Seu rosto estava vermelho, seus punhos, cerrados e seus dentes, trincados. Por mais que Draco não quisesse admitir, ele era uma figura ameaçadora no momento e, se não fosse por Gina levantar da cama num pulo e se colocar entre o irmão e Malfoy, a situação poderia ter se tornado muito crítica.

- Não vai não!!! - a ruiva exclamou por sua vez, apoiando as mãos no peito de Ronald para detê-lo.

- Você está maluca, Gina??? - o outro perguntou horrorizado - Deitada com Malfoy na sua CAMA????

- Isso não é da sua conta, Rony - ela falou, séria. Draco achou que aquele era um bom momento para se levantar e começar a se dirigir para a saída, mas Weasley não parecia querer deixá-lo escapar tão facilmente.

- Você fica onde está, seu Malfoy desgraçado, filho de uma égua, eu vou te matar! - ameaçou, fazendo outra tentativa para avançar contra ele, mas Gina impediu de novo.

Draco sabia que aquela seria uma hora para ficar quieto, fazer cara de arrependido e deixar a garota cuidar do irmão. Isso seria sensato e correto, mas também iria contra seus primeiros instintos. Deixando, então, a sua própria raiva por ter sido interrompido emergir um pouco, ele sorriu o sorriso mais superior que conseguiu e falou:

- Ora, você não ouviu a moça? O que quer que tenha acontecido, não é da sua conta, Weasley.

- Seu cafajeste, desgraçado, bastardo, eu juro que vou te matar - Rony bufou, tentando se desvencilhar da irmã. Draco apenas continuou sorrindo, sem se mexer. Juntando todas as suas forças, Gina conseguiu dar um empurrão forte no irmão, afastando-o e quando ele ia avançar de novo, ela levantou o dedo e gritou, por sua vez:

- Fique onde está, Ronald Arthur Weasley! - ela também estava com raiva, muita raiva e, surpreso, Rony obedeceu, mas não calou a boca:

- Você ainda está defendendo ele?! Como você pode...

- Rony! É claro que eu estou defendendo ele! Você acha que eu não sabia que ele na MINHA cama COMIGO? - alguns instantes de absoluto silêncio seguiram essa declaração, enquanto os dois homens olhavam para ela absolutamente surpresos. No caso de Rony, ele tinha no rosto uma expressão de completo nojo misturado com ultraje. Já Draco continuava com seu sorriso superior, mas internamente, ele estava eufórico. Quase esqueceu a presença ignóbil de Ronald ali de tão bem que se sentiu ao ouvir Gina assumir que queria sim estar com ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

- Gina, você está maluca? - Rony perguntou, quase num sussurro. Draco não pôde deixar de se sentir ferido. Ele sabia que Weasley o detestava, mas de certa forma, foi a consciência de que todas as pessoas naquele acampamento considerariam Gina louca por simplesmente considerar a possibilidade de ficar com ele que o feriu. Ele não era tão ruim assim, era?

- Weasley - Draco interrompeu antes que Gina pudesse responder. Ele queria agora mais do que nunca deixar o outro furioso - Você não ouviu o que ela falou? O que eu e a sua irmã fazemos à noite não é da sua conta - completou, alargando ainda mais o sorriso.

- Ah, seu... - Rony começou, já avançando novamente.

- Cala a boca, Draco! - Gina falou, de novo se colocando na frente do irmão - Você não está ajudando.

- É com isso que você quer passar as noites, é, Gina? Com esse traste? - o outro perguntou, ainda furioso.

- Rony, eu te amo, mas isso realmente não é da sua conta. E, caso você não tenha percebido, nós estamos os dois completamente vestidos. Vocês dois vão lutar daqui a pouco do mesmo lado. Não deveriam estar querendo se matar agora - completou, após uma pausa.

- Mas, Gina...

- Mas nada, Rony - ela interrompeu, com a voz cansada - Por favor, vá embora. Eu já acordei, vou estar pronta logo.

- Está bem - Weasley respondeu depois de alguns segundos encarando-a - Se é assim que você quer - Então, desistindo, virou-se e saiu da barraca, deixando os dois sozinhos novamente.

Por alguns instantes, Draco permaneceu em silêncio. Ele gostaria de poder voltar no tempo e esquecer que Weasley entrara naquela barraca e os interrompera, mas isso não era possível. O momento perdera-se e agora tudo o que restava era mais confusão e mais perguntas e uma grande mistura de sentimentos conflitantes que apenas contribuía para deixá-lo ferido e com raiva. Draco não sabia exatamente de onde essa raiva vinha. Só sabia que ela parecia dominá-lo com mais freqüência do que ele deveria permitir. Talvez fosse a parte do seu corpo que ainda lutava contra os seus sentimentos pela ruiva que estava parada ao seu lado. Talvez fosse a parte do seu corpo que ainda se enfurecia com a idéia de que ele poderia morrer em poucas horas, logo depois de se descobrir perdidamente apaixonado. De um jeito ou de outro, ele sabia que era tarde demais para conversar ou para discutir ou para tentar entender. Era tarde demais para os dois.

Sem dizer nada, então, e sem olhar para ela mais uma vez, ele se encaminhou para a entrada da tenda, pronto para dar às costas àquilo tudo. Antes que pudesse sair, contudo, a voz dela o interrompeu:

- Boa sorte, Draco - ela falou e Draco se virou para encará-la com relutância. Uma vez que seus olhares se cruzaram, entretanto, ele não pôde resistir. Havia tanta coisa naquele olhar! Havia medo e incerteza, mas também havia ternura e preocupação. Ela gostava dele! Ela tinha que gostar e se importar pelo menos um pouco para fitá-lo daquela forma! Antes que seu coração tivesse tempo para endurecer-se, então, Draco deu alguns passos para frente e a envolveu num abraço doce e firme. Ele a segurou com força e com medo, porque sabia que aquela poderia muito bem ser a última oportunidade que ele teria de fazê-lo. Relutante ainda, Draco a soltou e levou suas mãos ao rosto dela, emoldurando-o e perdendo-se dentro daqueles olhos castanhos que teimavam em persegui-lo. O seu coração estava acelerado. Ele sabia o que queria dizer, o que deveria dizer. Fechando os olhos por um segundo para juntar a coragem que precisava, Draco aproximou seu rosto do dela e murmurou por fim, de forma quase inaudível:

- Eu te amo.

Depois, ainda sem abrir os olhos, ele a beijou de leve, tocando suavemente seus lábios e saiu da tenda. Saiu tão rápido que Gina demorou alguns segundos para entender o que tinha acontecido. A verdade é que ele estava aterrorizado. Aterrorizado com o que acabara de fazer. Uma coisa era confessar relutantemente para si mesmo que ele gostava dela. Outra coisa, era confessar para ela, mesmo sabendo que ela ia se casar com outro. Ele estava louco. Completamente insano. E resolveu sair da barraca o mais rápido possível porque não agüentaria olhar naqueles olhos e saber que ela não o amava de volta. Ele não precisava disso horas antes de morrer.

Do lado de fora, o sol já brilhava e o acampamento estava pulsando com movimento e vida. Parecia um mundo diferente daquele que ele acabara de abandonar e de certa forma, era mais fácil manter-se sob controle nesse ambiente claro e cheio de gente, longe da penumbra suave da tenda de Gina. Sem perder tempo, Malfoy tratou de se recompor. Pegou água para lavar o rosto e escovar os dentes, verificou se seu uniforme estava apresentável, e depois foi encontrar Snape, tudo isso ignorando categoricamente todos os olhares curiosos que recebeu por ter saído de manhã da barraca de Virgínia Weasley. Com um pouco de sorte, ele não viveria para ter que ouvir as fofocas do dia seguinte.

Tudo pareceu acontecer em poucos instantes. Os momentos que ficaram gravados na mente de Draco, frescos e claros, até a sua morte. A espera pela batalha pode ter demorado. A noite anterior pode ter parecido infinita - e quisera Deus que realmente houvesse sido! -, mas uma vez que o estopim foi aceso e os eventos do dia se colocaram em movimento, tudo passou num piscar de olhos. Logo, os barulhos da guerra eram as únicas coisas que chegavam aos ouvidos de Draco: os gritos, as explosões. Ele podia sentir a adrenalina em suas veias, o sangue pulsando acelerado. Era impossível pensar em outra coisa que não fosse a luta para sobreviver ao próximo minuto. Era impossível parar para ponderar o absurdo daquela Guerra sem sentido. Era impossível imaginar onde ela estava ou como. E por isso ele era extremamente grato.

Draco estava servindo sob o comando de Snape. Até o momento, a tarefa principal deles ali ainda não tinha começado. Quando a batalha - a verdadeira batalha - entre Potter e Voldemort se iniciasse é que eles deveriam entrar realmente em cena para impedir que qualquer pessoa interferisse. Aquela Guerra poderia ser vencida por uma pessoa e uma pessoa apenas. Se Harry Potter não conseguisse fazer o que havia sido predestinado, os destinos de todos ali estariam condenados ao mesmo fim. Draco se lembrava de ter dado uma boa olhada nele naquele dia. Estava sério. Terrivelmente sério. Como se carregasse o peso do mundo sobre os ombros. Era um Harry Potter diferente do usual. Havia algo nele, uma aura de grandeza, um senso de determinação. Para qualquer pessoa que o observasse naquele dia, não seria difícil acreditar que ele nascera para ser o bruxo mais poderoso de todos os tempos. Draco Malfoy passara boa parte da sua vida odiando-o, culpando-o, procurando maneiras para desacreditá-lo e destruí-lo, mas, diante da batalha que se revelava à sua frente e diante da expressão férrea de Harry, ele não pôde deixar de se sentir aliviado. Nem mesmo ele poderia negar que aquela era a tarefa para a qual Potter nascera.

A luta continuava ao redor quando, no centro do campo de batalha, os dois, Harry e Voldemort, finalmente se encontraram. Draco estava a uma certa distância e não podia ouvir o que estava sendo dito. Mesmo se pudesse, estaria preocupado demais em manter outros afastados para que nada atrapalhasse o duelo.

Com o canto dos olhos, Malfoy observou os dois com as varinhas em punho, prontos para começar. No segundo seguinte, todo o campo foi inundado por uma luz ofuscante, tão intensa que deixou os dois exércitos sem ação por alguns instantes. Quando a luz diminuiu, os olhares se voltaram ansiosos para o centro, tentando descobrir se tudo já estava terminado. Por uma fração de segundo, Draco chegou a achar que o final havia sido aquele, que a luta estava terminada, mas antes que a alegria desse pensamento pudesse chegar ao seu coração, ele olhou melhor e percebeu as duas figuras ainda de pé, ainda com as varinhas em punho, circundadas agora por uma grande bolha brilhante, uma esfera de energia. Era impossível olhar diretamente para os dois por muito tempo. A luz que emanava era quase cegante. Draco, então, virou-se e se posicionou para continuar lutando. Estranhamente, um silêncio mortal havia tomado conta da batalha. Praticamente todos estavam ocupados em vigiar o duelo. A falsa tranqüilidade durou mais alguns segundos que pareceram se estender para sempre. Depois, algo aconteceu. Algo que com certeza não estava planejado.

Um grito se fez ouvir sobre o silêncio dos exércitos. O grito de uma mulher. Imediatamente, a atenção de Potter hesitou. Ao invés de olhar para frente, para Voldemort, ele olhou para algum ponto a sua direita. A luz da esfera diminuiu. Já era possível olhar diretamente para ela. Um instante depois e outro grito se ouviu. Dessa vez, sem hesitação, Potter abaixou a varinha e correu na direção da voz. Tudo aconteceu num instante. Draco mal teve tempo de reagir - a não ser para xingá-lo mentalmente - e, no momento seguinte, outra figura tomou o lugar de Potter no duelo. Era Dumbledore. Ele também ergueu a varinha e novamente a luz ofuscante atordoou os exércitos. A esfera brilhante voltou, mas não era a mesma coisa. Ela não brilhava tão forte e nem era tão homogênea. Algo com certeza havia ido muito errado.

Sem pensar, Draco começou a fazer seu caminho para a direção dos gritos, onde Potter ainda devia estar. Ele queria entender o que ocorrera. No centro, Voldemort e Dumbledore continuavam lutando, mas Malfoy não olhava mais. Estava concentrado em encontrar Harry. Para isso, saiu correndo, desviando-se dos feitiços e pulando os corpos caídos. A luta havia recomeçado e os comensais da morte pareciam revitalizados depois que Potter fugiu. Os soldados da Ordem, por sua vez, estavam confusos. Apesar de ninguém saber exatamente o que deveria ter acontecido, todos sentiam que aquele não poderia ter sido o planejado.

Draco correu mais um pouco até que encontrou o que estava procurando. Seu coração parou diante da cena que se revelava na sua frente. Alguns membros da Ordem se encontravam ao redor, impedindo que qualquer pessoa atacasse Harry. Esse, por sua vez, estava sentado no chão, com as costas viradas para Draco, claramente segurando em seus braços o corpo de uma mulher. Ela estava caída no chão e vestia um uniforme da Ordem. Draco não podia ver seu rosto, mas tinha uma idéia clara de quem era. Ficou paralisado, olhando. Era como se todo o mundo ao seu redor tivesse sumido. Aquilo não podia ser verdade. Ela não podia estar morta. Não podiam ter sido os seus gritos que ele ouviu. Ele achava que teria sido capaz de reconhecer um pedido de socorro dela em qualquer lugar, em qualquer momento, mas obviamente não conseguiu. Todos os sentimentos que a visão no dia da sua iniciação da Ordem provocou invadiram-no novamente com ainda mais força. Aquilo não podia ser possível. Tinha que ser um pesadelo. Tinha que ser. Subitamente, Draco sentiu uma necessidade imensa de vê-la, de tocá-la, de ter certeza. Não podia ser ela. Juntando todas as forças que ainda restavam no seu corpo, ele começou a dar alguns passos na direção de Potter. Alguém gritou alguma coisa para ele, mas Malfoy não prestou atenção. A única coisa que ouvia eram as batidas do seu coração, cada vez mais aceleradas e cada vez mais desesperadas.

Foram apenas alguns passos. Os passos mais difíceis da sua vida. A coisa mais dura que ele teve que fazer. Quando se aproximou, Draco pôde ouvir os soluços de Potter. Ele estava chorando. Pôde escutar algumas palavras abafadas - "meu amor", entre elas. Isso serviu apenas para lhe dar mais certeza. Quando finalmente alcançou os dois, Malfoy fechou os olhos por um instante. Ele não acreditava em Deus, mas ele rezou. Aquilo simplesmente era surreal demais para ser verdade. Depois, ele abriu os olhos.

No segundo seguinte, estava dando um passo para trás, assustado. Ele tropeçou em uma irregularidade do terreno e caiu, sem conseguir tirar os olhos da garota. Não era Gina. Milagrosamente não era Gina. A garota que Potter estava abraçando tinha cabelos pretos, bem escuros, e olhos puxados. Era um rosto familiar. Com certeza tinha ido a Hogwarts com eles, mas Malfoy não conseguia se lembrar exatamente do nome. E também não se importava. Não era Gina. Isso era tudo o que ele precisava saber.

Depois, algo no seu cérebro estalou. Harry Potter havia abandonado a batalha por causa dessa garota. Ele estava chorando abraçado ao corpo dela. Draco se lembrou de todas as vezes que Gina o procurara, dos encontros ao redor da fogueira, dos sorrisos dela, da noite após sua iniciação. Não havia como Harry Potter ter dado aquele anel para ela. Era simplesmente impossível. Malfoy se xingou mentalmente. Ele devia ter estado cego, surdo e burro, tudo ao mesmo tempo. Estúpido. Completamente estúpido. Não havia tempo restante, contudo, para ficar ali, caído e sem ação. Ele precisava fazer alguma coisa.

Draco se levantou, então, e olhou ao redor. A batalha continuava. No centro, Voldemort e Dumbledore ainda duelavam, mas agora a esfera estava praticamente sem brilho. A batalha seria perdida e, com ela, toda a Guerra. Tudo seria perdido. "Não, não tudo", Draco corrigiu mentalmente. Subitamente, ele sabia o que devia fazer.

Vasculhou com os olhos suas proximidades, procurando por cabelos vermelhos. Weasley surpreendentemente não estava por perto. Nem ele, nem nenhum dos seus irmãos, mas Granger estava. Ela tentava junto com outros, proteger Harry e a garota caída. Draco se aproximou, lançou um feitiço contra um comensal que estava vindo atacá-la. Depois, a virou, segurando-a pelos ombros. Por um instante, ele pôde ver o medo nos olhos dela, a incerteza sobre o que ele estava ali para fazer. Sem perder tempo, contudo, ele perguntou:

- Onde está Gina?

- O quê? - ela perguntou surpresa.

- Gina. Onde ela está? Sob o comando de quem? Onde? - ele continuou, controlando-se para não sacudi-la com força.

- Ela está na retaguarda, com McGonagall. Seu pai implorou para que ela não viesse para cá.

Draco nunca soube exatamente por que Granger respondeu a pergunta. Talvez Gina tivesse lhe contado algo. Ou talvez tivesse sido apenas a intensidade que ela viu nos olhos dele. Uma intensidade tão alheia a um Malfoy. Talvez.

- Obrigado - ele falou encarando-a nos olhos com a mesma intensidade, antes de soltá-la e virar para seguir seu caminho.

- Malfoy - Granger o chamou antes que ele pudesse se afastar. Quando Draco se voltou, ela deu um pequeno sorriso de encorajamento - Boa sorte. Arraste-a se for preciso.

- É o que eu pretendo fazer - ele respondeu e seguiu, sem se preocupar em analisar como Granger descobrira exatamente o que ele tinha em mente. O único pensamento em sua cabeça era encontrar Gina. Ele precisava achá-la. Depois, iria arrastá-la para longe daquilo tudo. Ele não a deixaria morrer com os outros. Malfoy ainda tinha boa parte do dinheiro que roubara do pai. Era mais que suficiente para que ele e Gina fugissem e começassem uma vida longe de todo aquele absurdo. No meio de tantas mortes, era provável que a falta dos dois não fosse notada. E, se fosse, Draco confiava na sua capacidade de se esconder de Voldemort. Independente de qualquer coisa, contudo, ele precisava tentar.

A batalha estava mais frenética do que nunca. Eles lutavam em uma planície cercada por um bosque, que ficava afastada de qualquer civilização. Além disso, a Ordem havia protegido o local com vários feitiços anti-trouxa. Os comensais da morte não se importariam realmente se tivessem que lutar em plena Londres. Quanto mais caos, melhor, mas Dumbledore, é claro, tomava sempre muito cuidado com esses detalhes. Draco estava correndo no meio de todos, as costas voltadas para o centro, onde o duelo continuava, então ele não sabia realmente o que estava acontecendo. Rezava silenciosamente para que Voldemort não vencesse tão rápido. Precisava de tempo para pegar Gina e fugir. Esse ainda era o único pensamento em sua cabeça.

Instintivamente, ele seguia desviando-se de feitiços lançados e poções atiradas. Passava correndo e ninguém prestava muita atenção. Aos poucos, conforme ele se afastava do centro da ação, as lutas foram ficando mais escassas, o número de corpos caídos no chão diminuía. Logo, ele começou a ver pessoas em macas e médi-bruxos e bruxas debruçados sobre elas. Estava perto de Gina, ele podia sentir, mas ainda não a via em lugar algum. Por mais que tentasse, não vislumbrava nenhuma sombra de vermelho.

Viu McGonagall parada, dando instruções a um bruxo jovem mais na frente e foi na direção dela. A razão para que a professora de transfigurações tivesse sido deixada na retaguarda era simples: todos temiam o pior. Temiam a derrota ou então uma meia-vitória, onde, apesar de Voldemort ser destruído, as perdas seriam incontáveis. Era preciso que alguém de extrema confiança e capacidade ficasse para trás para poder cuidar de tudo depois da batalha caso não sobrassem muitas pessoas. A chefe da Grifinória foi a eleita.

Draco parou diante dela ofegante e cansado. Seu uniforme estava em desalinho, ele estava suado e sujo de terra e sangue. Estava horrível.

- Você está ferido, Sr. Malfoy? - ela perguntou, surpresa.

- Não. Eu estou procurando a Gina.

- Como? - ela indagou ainda mais surpresa.

- A Gina. Onde ela está?

- Ela saiu com um grupo a mais ou menos quinze minutos... - depois disso, Draco não ouviu mais nada. Sem sequer esperar que McGonagall terminasse, ele virou-se nos calcanhares e voltou por onde tinha vindo. A necessidade de encontrá-la apenas havia crescido em seu peito. Normalmente era tão fácil avistá-la numa multidão, com aquele cabelo vermelho brilhante, mas naquele dia, aparentemente os céus estavam trabalhando contra ele.

A adrenalina ainda corria em suas veias. Seu coração ainda batia acelerado. E o desespero aumentava a cada passo. Ele PRECISAVA encontrá-la. Precisava como nunca precisara de nada antes em sua vida. Conforme corria, era como se todo o mundo exterior fosse desligado dos seus sentidos. Ele não estava preocupado com a Guerra ou com a vitória. Estava preocupado apenas com ela e todos os seus esforços estavam concentrados em procurá-la. Esse provavelmente foi o seu pior erro. Um erro quase fatal.

Quando Draco percebeu, foi tarde demais. Quando ele deu por si, já estava caído no chão, seu corpo sendo atravessado por uma dor aguda e profunda que ele conhecera apenas uma vez antes. Era a maldição cruciatus, ele sabia. Sentia-se sendo perfurado, cortado, esfolado, espancado. Dor. Apenas dor. Só tinha consciência da dor. Mais nada. Alguns instantes depois, o feitiço foi interrompido. Seu corpo doía. Seus punhos estavam cerrados e as palmas das mãos sangravam onde as unhas tinham entrado na pele. Ele tremia. A varinha que ele estivera segurando caíra no chão. Draco tateou um pouco à sua procura, mas não a encontrou.

- Procurando por isso? - ele ouviu uma voz perguntando acima da sua cabeça. Levantou os olhos vagarosamente. Draco sabia de quem era aquela voz.

- Goyle - Malfoy falou, juntando as forças que lhe restavam para se levantar e encarar o outro de frente. Goyle tinha entre os dedos a varinha que Draco deixara cair.

- Eu realmente acho que hoje é o meu dia de sorte - ele falou, sorrindo com um brilho assassino no olhar. Draco sabia que ele seria um prêmio valioso para qualquer comensal da morte e os seus ex-'amigos' em particular tinham ainda mais motivos para querê-lo morto. Rapidamente, Malfoy olhou ao seu redor. Ele estava perto da linha das árvores, longe do centro da planície. Estava desarmado, mas ainda tinha alguns frascos de poções nas vestes. Se tentasse pegá-los agora, com certeza estaria morto num piscar de olhos, mas poderia utilizá-los se conseguisse uma distração. Pensando rápido, ele concluiu que suas chances eram melhores se conseguisse fugir para o bosque, onde havia árvores que podiam ser usadas para proteção. Ele não sabia como ia conseguir - no momento, até ficar de pé já era doloroso o suficiente -, mas ele sabia que precisava conseguir.

No instante seguinte, contudo, Goyle levantou a sua varinha apontando-a diretamente para o coração de Draco. Era agora ou nunca. Sem parar para pensar duas vezes, então, Malfoy correu. Correu mais rápido do que acharia possível naquelas condições. O feitiço que Goyle lançara passou raspando na sua orelha e ele podia ouvir os passos do outro o perseguindo. Mais um feitiço foi lançado e também passou apenas perto. Logo, Draco estava dentro do bosque, usando as árvores como proteção. Goyle continuava lançando feitiços, mas sua mira não era muito boa. Malfoy apenas corria. Entrou cada vez mais no bosque, em zigue-zague, sem ter noção de onde pretendia chegar. Vasculhava ao redor atrás de algum lugar onde pudesse se esconder, mas Goyle estava no seu encalço. As árvores estavam se tornando mais freqüentes. Os galhos batiam no seu rosto, machucando-o. Por duas vezes, Draco tropeçou em raízes, mas não caiu. Continuou correndo. Sua respiração estava ofegante. Seu corpo doía. Suas pernas vacilavam. E todo o tempo, Goyle continuava no seu encalço.

A terceira vez foi definitiva. Cansado, Draco tropeçou na raiz de uma árvore novamente e caiu. Ainda tentou se arrastar, mas era tarde demais. A luta havia acabado. Sentiu Goyle se aproximar e o virar com um chute. Draco o encarou. Não era a primeira vez que ele encarava a morte de frente, mas com certeza seria a última. Ainda pensou em alguma reação quando, do campo de batalha, ele viu a explosão. A luz se levantou acima das árvores. Goyle também se virou para vê-la. Quando voltou-se para Draco novamente, seus olhos brilhavam em antecipação e seus lábios contorciam-se num sorriso de vitória.

- Está vendo? - ele perguntou - Acabou. Voldemort venceu - e, no seu coração, Draco sabia que era verdade. Tudo pelo que ele lutara estava perdido. Sentiu seus olhos encherem-se de lágrimas. Antes que pudesse chorar, contudo, seu corpo foi novamente invadido pela mesma dor. Sentiu-se contorcer. Goyle queria torturá-lo antes de matá-lo. Por que isso o surpreendia? Deveria ter sido óbvio desde o início.

A dor parou por alguns segundos só para recomeçar em seguida. Cada respiração doía. Era impossível fazer qualquer movimento. Ele sentia sua consciência escapando aos poucos. Não demoraria para que desmaiasse. Talvez, Goyle o mantivesse vivo para torturá-lo um pouco mais depois. Talvez. Mas no fundo, isso não importava. Abriu de novo os olhos e fitou o céu. O sol brilhava no meio de algumas nuvens brancas e fofas. 'Um belo dia para se morrer', Draco pensou. Depois, a escuridão começou a dominá-lo. Ele tentou lutar, tentou abrir os olhos de novo, tentou pensar em Gina, mas a dor era insuportável. A dor era insuportável. Seu rosto estava molhado com lágrimas, sangue e suor. Suas mãos estavam feridas e sangrando. Seu coração estava partido. Todas as esperanças estavam perdidas. Todos os sonhos. Ele sentiu sua vida escapando por entre seus dedos. Sentiu o peso de todas as palavras não ditas, de todos os gestos que ele deixou de fazer. Por fim, deixou sua mente ser invadida por imagens acre-doces dela, da única pessoa que poderia ter feito tudo valer a pena; a única pessoa que poderia salvá-lo e que, de fato, o salvou em mais sentidos de que ele gostaria de admitir. Depois, mais nada. Nenhum pensamento, nenhuma lembrança, nenhum sonho. Apenas a escuridão e a dor.