Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo
Autora: Flora Fairfield
E-mail: florafairfield@yahoo.com
Categoria: Romance/Drama
Classificação: PG-13
Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts
Disclaimer: Eles não são meus. São da Rowling.
N/A: Finalmente, aqui está o capítulo 8. Eu realmente tinha intenção de colocá-lo no ar até quarta-feira, mas ele acabou crescendo mais do que eu planejava e por isso eu demorei. Sem falar que minhas aulas na faculdade também recomeçaram e o meu tempo agora é limitado.
Dedicatória: Eu não poderia deixar de dedicar esse capítulo para a minha querida beta, claro, que fez aniversário na quarta-feira, dia 12. Carlinha, eu prometo que em sua homenagem o próximo capítulo terá bastante D/G action, ok? Feliz Aniversário mais uma vez e, por favor, continue sempre pegando no meu pé pr'eu escrever mais rápido e colocar mais beijos nas histórias! ;o)
Boa leitura!
* * *
Capítulo 8: A Sabedoria De Um ToloBizarre
Love Triangle
Frente
Every time I think of you / Cada vez que penso em você
I
get a shot right through / Sou atingida por um disparo direto
Into a bolt of blue / Num raio de tristeza.
It's no problem of mine /
Não é um problema meu
But it's a problem I find /
Mas é um problema que encontro,
Living the life that I can't leave behind
/ Viver a vida que não consigo
deixar para trás.
There's no sense in telling me / Não
tem sentido em me dizer
The wisdom of a fool won't set you free
/ "A sabedoria de um tolo
não vai te libertar".
But that's the way that it goes / Mas é assim que
acontece
And it's what nobody knows / E
é o que ninguém entende,
And every day my confusion grows / E
a cada dia minha confusão aumenta.
Refrão:
Every time I see you falling / Cada vez que te vejo caindo,
I get down on my knees and pray / Eu fico de joelhos e rezo.
I'm waiting for the final moment / Estou esperando pelo momento final no
qual
You'll say the words that I can't say / Você dirá as palavras que não consigo
dizer.
I feel fine and I feel good / Eu me sinto ótima e me sinto bem,
I feel like I never should / Eu me sinto como nunca deveria me
sentir.
Whenever I get this way / Toda vez que fico deste jeito
I just don't know what to say / Simplesmente não sei o que dizer.
Why can't we be ourselves / Por que não podemos ser nós mesmos,
Llike we were yesterday / Como
fomos ontem?
I'm not sure what this could mean / Não tenho certeza do que isto poderia
significar,
I don't think you're what you seem / Não acho que você seja o que aparenta
I do admit to myself / Eu realmente admito a mim mesma
That if I had someone else / Que se eu tivesse mais alguém,
Then I'd never see / Então nunca veria
Just what we're meant to be / Exatamente o que estamos destinados a
ser.
12 de maio
Um ruído constante o incomodava. De tempos em tempos, o mesmo apito estridente. Ele estava tentando dormir. Será que ninguém percebia? Será que era pedir demais querer um pouco de sossego e silêncio? Aparentemente, era. Por mais que ele tentasse, não conseguia relaxar, não conseguia descansar. O apito sempre voltava, em intervalos regulares. Que barulho irritante! Draco estava cansado, mas o ruído não lhe dava paz. A cada instante, ele se sentia mais alerta, mais consciente da luz, do som e da dor. A cada instante, ele se sentia mais perto de despertar. Era como acordar de um longo sono. Um sono reconfortante. Ele sabia que não seria agradável. Já começava a perceber a garganta seca, as pernas pesadas, as costas doendo. Já tinha consciência de todo o seu corpo, mas não queria ter. Queria dormir. Se não fosse por aquele ruído insistente... "Chega!", pensou Draco, "Eu não agüento mais isso", completou, abrindo os olhos finalmente.
Foi uma sensação estranha. Primeiro, porque ele não sabia onde estava. Não tinha a mínima idéia. Estava deitado em uma cama, num quarto branco, circundado por um tipo de cortina. Não estava vestindo seu pijama nem seu uniforme e sim um tipo estranho de camisola ou avental também branco. Havia uma agulha espetada no seu braço, uma coisa estranha enfiada no seu dedo e, do lado da cama, havia um aparelho esquisito, com uma linha verde, que emitia um apito sempre que essa linha se contorcia. Ou pelo menos foi isso que Draco pensou que acontecia. Era um lugar diferente e ele não se lembrava de alguma vez ter estado num local assim antes. Algo lhe dizia que não era uma das câmaras de tortura de Voldemort, que deviam ser escuras e úmidas, não claras e secas. "Talvez eu esteja morto", pensou, mas sabia que não era verdade. A segunda razão pela qual abrir os olhos tinha provocado uma sensação estranha era que Draco se sentia como se despertasse pela primeira vez. Era mais que acordar de um sono revitalizante: era como acordar depois de ter saído do útero materno. Cada sensação parecia velha e nova ao mesmo tempo. E, acima de tudo, ele se sentia vivo. Como nunca se sentira antes.
Subitamente, alguém abriu a cortina ao redor da cama. Era uma mulher, que pareceu tão surpresa ao dar de cara com Draco fitando-a quanto ele ao vê-la. Ela terminou de abrir as cortinas e se dirigiu a ele, sorrindo:
- Ah, então o senhor está acordado! - exclamou. Draco sentiu uma resposta mal-criada chegar até a ponta da sua língua, mas ao abrir a boca, encontrou dificuldades para proferi-la. Sentiu sua garganta arranhar. Vendo seu esforço, a mulher encheu com água um copo que estava sobre uma mesa no quarto. Draco o aceitou silenciosamente, notando que havia outra cama ao seu lado. Nela, um homem estava adormecido.
- Obrigado - ele falou quando terminou de beber. Sua voz estava rouca e ele desistiu de ser rude com a mulher porque, no momento, apenas ela poderia lhe dizer que lugar era aquele.
- Eu vou chamar o médico para avisá-lo que o senhor acordou.
- Médico? Isso é um hospital? - Draco perguntou, surpreso. Aquilo sem dúvida não parecia um hospital.
- Sim. O senhor está se sentindo bem?
- O que diabos aconteceu comigo? - ele indagou, ignorando a pergunta dela.
- O senhor foi trazido há pouco mais de duas semanas por um caçador.
- Duas semanas? Eu estou aqui há duas semanas???
- Por favor, não se agite! - ela implorou, subitamente preocupada - Acalme-se. Eu vou chamar o médico e ele vai responder a todas as suas perguntas. Não vou demorar - disse, virando-se.
- Não, espere! - Draco chamou, tentando parecer mais calmo - Antes de ir, você poderia me fazer um favor?
- Sim, claro.
- Seria possível desligar esse raio de aparelho? - ele falou, apontando para o dispositivo que ficava apitando - Esse barulho é realmente irritante.
- Senhor, eu não posso fazer isso - ela respondeu encarando-o como se ele fosse de outro planeta - Esse aparelho serve para nós monitorarmos seu coração.
- Então esses apitos...
- São o seu coração batendo - e após uma pausa - Eu já volto com o médico, está bem?
Draco deixou-se recostar de novo na cama, confuso. As lembranças dos últimos acontecimentos estavam se tornando mais claras na sua mente. Havia o céu ensolarado e Goyle, óbvio, com um sorriso vitorioso. Havia dor. Uma dor extrema. E depois, não havia nada. Vazio. Escuridão. Nada. Draco se lembrava da batalha e da grande explosão. Sabia que deveria estar morto naquele momento. Ou pior: deveria estar nas mãos de Voldemort, mas não estava. Ao contrário, acordara no que parecia ser um mundo diferente do seu, um mundo quase irreal, onde nada era familiar. Ele estava sozinho. Completamente sozinho.
Logo depois que esse pensamento lhe ocorreu, o homem que dormia na cama ao lado se mexeu, fazendo barulho, como que querendo contrariá-lo, lembrá-lo que havia outras pessoas ali, que ele não era o único. Draco o olhou de soslaio com desconfiança. Segundos em seguida, o homem começou a roncar. Não era muito alto, mas era suficiente para deixar Malfoy realmente irritado. Não que isso fosse difícil, mas naquela situação delicada, onde ele não tinha a mínima idéia de onde estava e de como tinha ido parar ali, tornara-se ainda mais fácil. Era uma sensação estranha não estar no controle, não saber. Imediatamente, Draco decidiu que era a pior sensação do mundo. Logo logo, ele iria começar a duvidar também de quem era.
Antes que isso acontecesse, contudo, a porta do quarto se abriu, deixando entrar novamente a mulher de antes, só que dessa vez ela estava acompanhada por um outro homem, alto e magro, de cabelos castanhos. Devia ter uns trinta e poucos anos. "Deve ser o médico", Draco pensou imediatamente, sua curiosidade vencendo temporariamente a sua raiva.
- Bom dia! Eu sou o Dr. Henry Edwards - exclamou o médico jovialmente - Como o senhor está se sentindo?
- Estaria melhor se soubesse o que aconteceu comigo - Malfoy respondeu mau-humorado.
- Bom - o sorriso do médico vacilou um pouco - nós estávamos esperando que o senhor pudesse nos ajudar nisso.
- Se eu soubesse, não estaria perguntando.
- Está bem - o Dr. Edwards disse com cautela. Com certeza, já tinha percebido que aquele não seria um paciente fácil - Eu vou lhe dizer o que nós sabemos, okay?
- Sou todo ouvidos - Draco respondeu, ainda com sarcasmo na voz.
- Você foi encontrado numa floresta há 300 quilômetros daqui por um caçador. Ele disse à polícia que havia um homem com você, um homem que parecia estar te atacando. Quando esse caçador se aproximou, o homem se virou para ele e ele atirou. O homem morreu. Isso foi no dia 25 de abril, há mais de duas semanas. Você recebeu os primeiros cuidados em um pequeno ambulatório da cidade e quando estava estável para transferência foi trazido para cá. Você estava em coma quando foi encontrado e só recobrou a consciência hoje. O que nós não entendemos exatamente é o porquê do coma. Nós encontramos sinais de que seu corpo foi submetido a um estresse extremo, mas nada mais. Não havia sinais de trauma, nem de envenenamento ou overdose, nada que pudesse induzir o estado de coma.
- Bom, se você que é o médico não consegue entender, como eu conseguiria? - Draco perguntou, fingindo impaciência. Nem se ele quisesse poderia explicar a Maldição Cruciatus para esse médico. Estava claro agora, pelo menos, que ele estava em um hospital trouxa. Teria que ser extremamente cuidadoso com tudo o que falasse - Quando eu posso ir embora? - essa pergunta pareceu pegar o Dr. Edwards de completa surpresa.
- O senhor acabou de acordar. Nós ainda temos que fazer um exame neurológico completo para investigar possíveis seqüelas. A enfermeira McNeal me informou que o senhor estava um pouco desorientado quando acordou.
- É claro que sim! Eu estive em coma por duas semanas! Quem não estaria desorientado?
- Está bem. O senhor pode então me dizer o seu nome?
- Claro! O meu nome é... - por um momento, Draco hesitou. Com Voldemort vencendo a Guerra, não demoraria para que suas garras se estendessem até o mundo trouxa. Usar, então, o seu nome verdadeiro seria bastante estúpido. Ele precisava de um nome falso. Ele pensou em usar o nome da sua identidade na Espanha, mas lá ele tinha sido descoberto. A identidade não era mais segura. Ele encarou o médico com uma expressão confusa. Por um segundo, hesitou. Depois, a resposta se tornou clara. Ele não daria nome algum - ... eu... eu não me lembro... - completou, então, usando toda a sua habilidade para mentir. A enfermeira e o Dr. Edwards trocaram um olhar de confidência e Draco temeu que eles desconfiassem - O quê??? - perguntou, nervoso - Eu já disse que não lembro!!!
- Está bem. Não há necessidade para se exaltar - o médico interrompeu - Perdas de memória não são incomuns após acontecimentos traumáticos. Os exames indicarão se há alguma causa física para a sua amnésia. O mais provável, contudo, é que as causas sejam psicológicas. Eu vou mandar um psiquiatra vir vê-lo depois, está certo?
- O que seja - Draco respondeu aliviado, mas ainda assim mau-humorado. Em qualquer outra situação, teria considerado um ultraje que o médico sugerisse que ele precisava de um psiquiatra. Malfoys nunca enlouquecem! Eles sempre mantém o completo controle sobre suas faculdades; mas, diante da situação, achou melhor calar a boca e concordar. Não queria mais confusão do que o mínimo necessário.
- Muito bem. A polícia também vai querer falar com você sobre o que aconteceu. Eu vou explicar para eles a sua condição, mas é provável que mesmo assim eles queiram fazer algumas perguntas, okay?
- Okay - Malfoy disse, cruzando os braços. Ele nunca tinha sido tão humilhado em sua vida. Ser interrogado por um policial trouxa??? Aquele era sem dúvida o fundo do poço. Sem dúvida!
- Eu tenho outros pacientes para ver agora, mas logo voltarei para acompanhá-lo nos exames. A enfermeira McNeal vai tirar um pouco de sangue para alguns testes e, se você precisar de qualquer coisa, basta tocar a campainha ao lado da cama que ela virá vê-lo. Tudo certo?
- Tudo certo - Draco concordou deixando evidente a sua ironia, enquanto o Dr. Edwards saía do quarto. Ele estava furioso. Absolutamente furioso. Quando a enfermeira se aproximou sorrindo, com uma agulha na mão, ele quase desmaiou. Nunca em sua vida inteira tinha imaginado algo do gênero. Por favor! Que tipo de medicina esses trouxas praticam? Nem na Idade Média, a medicina bruxa era assim tão brutal. Agulhas e aparelhos que apitam e embalagens plásticas com líquidos transparentes que ficam pingando. Só faltava agora ela querer fazer um buraco na barriga dele. Mais um pouco e Draco teria preferido estar na câmara de tortura de Voldemort. Lá, pelo menos, ele teria alguma noção do que estava acontecendo e do que precisaria fazer para tentar escapar. Ali, ele estava preso em um mundo estranho, onde tudo era novo e ele se sentia completamente perdido. Completamente.
O sol penetrou pela janela e iluminou o quarto cedo na manhã seguinte. Draco, contudo, não foi acordado pela luz. Ele já estava desperto, deitado na cama. Não conseguiu dormir mais do que umas duas horas durante toda a noite e, com certeza, não mais que uns trinta minutos consecutivos. Sempre acordava preocupado, com o mesmo pensamento em mente. Um pensamento que tinha nome: Virgínia Weasley. Acima de qualquer outra coisa, a idéia de que ela poderia estar morta era extremamente dolorosa. Malfoy tentou se agarrar à esperança de que ela tivesse conseguido escapar, mas sabia que as chances eram pequenas. Além disso, não podia deixar de pensar que ela estar morta ainda seria melhor do que estar nas mãos de Voldemort. Deus sabe o que aquele monstro seria capaz de fazer com Gina. Imaginar um mundo sem Virgínia Weasley, contudo, sem seus olhos brilhantes ou seu sorriso era a parte mais difícil. Draco contemplava agora seriamente a possibilidade real de passar todos os anos restantes de sua vida sem vê-la e essa não era uma idéia feliz. Fazia com que ele desejasse ter morrido também, naquele campo, pelas mãos de algum comensal da morte.
Draco estava tão absorto nos seus próprios pensamentos que sequer percebeu os dois olhos verdes que o observavam da outra cama. Ele não sabia o nome do paciente com quem dividia o quarto. Fizera questão de não falar nada no dia anterior e o outro não o incomodou, contentando-se apenas em observá-lo à distância. Naquela manhã, contudo, enquanto ainda estava com a cabeça cheia de imagens de uma certa ruiva, Malfoy foi subitamente interrompido por uma vozinha aguda, que ele não classificaria com outro adjetivo que não 'irritante':
- Então, qual o nome dela?
Draco virou-se surpreso, ainda tentando entender a pergunta que acabara de ser feita.
- Como? - ele indagou, franzindo as sobrancelhas.
- Qual é o nome dela? Da garota em quem você está pensando? - como em poucos momentos em sua vida, Malfoy ficou sem saber o que dizer. Apenas abriu e fechou a boca duas vezes, sentindo sua irritação e sua frustração crescerem - Desculpe, - o homem continuou - mas a expressão no seu rosto era transparente. Só uma mulher poderia provocá-la.
- Eu não estava pensando em mulher nenhuma! - Draco respondeu finalmente, com raiva na voz.
- Ah, desculpe! - o homem continuou, parecendo se sentir envergonhado - Eu apenas assumi que era uma garota, mas se você é gay...
- O quê????! - Malfoy exclamou, levantando-se um pouco na cama e virando-se para encarar o homem melhor - Você está maluco?! - completou, com um olhar mortal.
- Não. Era apenas uma possibilidade válida, mas se não é o seu caso, então com certeza você estava pensando numa garota.
- Eu não estava pensando em garota nenhuma - afirmou novamente - Como poderia? Eu não consigo lembrar nem o meu próprio nome! - acrescentou, lembrando-se da sua mentira.
- Ah, me desculpe, mas nós dois sabemos que isso não é verdade.
- Como? - Draco perguntou, subitamente gélido. Aquele homem não poderia saber mais sobre ele, poderia?
- Ora, não se preocupe. Eu não vou falar nada para ninguém - o homem disse com uma piscadela. Malfoy apenas o encarou como se ele de repente tivesse crescido mais uma cabeça.
- Como...? - perguntou de novo, ainda desconfiado.
- Você fala enquanto dorme. Eu tenho sono leve.
- Eu falo enquanto durmo? - Malfoy perguntou, com medo. Se isso fosse verdade, ele poderia estar em maus lençóis. Deus sabe o que ele poderia ter revelado.
- Fala - respondeu o outro simplesmente.
- E o que eu falo?
- A maior parte não dá pra entender - o homem disse. Malfoy respirou aliviado - mas eu sei que há uma garota envolvida na história... então, diga-me: qual é o nome dela?
- Você é uma pessoa curiosa demais - Draco comentou, virando-se para a janela.
- Não é a primeira vez que eu ouço isso. Então, qual o nome?
- Tem certeza que você está prestando atenção na conversa? - o outro indagou, lançando-lhe um olhar de aviso.
- Claro que sim. E você ainda não me falou o nome.
- Por que diabos você está tão interessado nisso?!
- É como você mesmo disse: eu sou uma pessoa curiosa. Então, qual é...
- Virgínia! Ok? O nome dela é Virgínia. Satisfeito agora?
- Claro - o homem calou a boca por alguns instantes e Draco deu um suspiro de alívio. Pouco depois, contudo, ele recomeçou - Então, como ela é?
- Será que dá pra você ficar quieto, por favor???
- Desculpe. Eu estava apenas tentando conversar. Afinal, nós dois estamos presos aqui de qualquer jeito. A propósito, qual é o seu nome? O meu é James. Eu trabalho em uma construtora, e você? Em que você trabalha?
- Eu sou um assassino profissional - Malfoy respondeu, encarando-o seriamente, com olhos frios. Não estava mais agüentando aquele interrogatório. Estava pior do que quando a polícia aparecera na tarde anterior. Com ela, ele apenas fingira não se lembrar de nada. Agora, ele se sentia encurralado. Depois de responder, virou-se na cama, dando as costas para o homem e cobrindo a cabeça com o travesseiro.
Após alguns segundos, James continuou:
- Ah, entendi! Você está de brincadeira comigo! Foi muito boa. Por uns instantes, eu quase cheguei a acreditar. Falando sério agora, em que você trabalha? Eu gosto de trabalhar em construções. É bom estar sempre construindo algo, não acha? Você gosta do seu trabalho? Eu tenho certeza que sim. A minha mulher é advogada. Está sempre muito ocupada. Eu acabo ficando mais tempo com as crianças do que ela. A não ser agora, claro, que eu estou aqui. Foi um acidente em uma obra. Eu ouvi o que aconteceu com você. Deve ter sido horrível. Você está falando com um psicólogo? Eu sei que é meio chato admitir que a gente precisa de ajuda, mas eles são realmente bons. A minha mãe era uma psicóloga, mas ela morreu. Senão, eu podia te indicar para ela. A minha mulher tem um psicólogo. Se você quiser, eu posso pegar o número pra você. Não? Tem certeza? Está bem. Você é quem sabe. O que a sua mulher faz? Ela...
- Ela não é minha mulher! - Draco exclamou finalmente sem conseguir se controlar. Ele estava a ponto de levantar e esganar o homem. Pelo menos assim ele calaria a boca!
- Ah, então é por isso! - James falou e depois ficou em silêncio por um longo tempo. Draco realmente tentou se controlar, mas não conseguiu. Finalmente, virou-se para ele:
- Por isso o quê???
- Que ela não está aqui. Quer dizer, você viu quando minha mulher e meus filhos vieram ontem. A enfermeira até fechou a cortina. Se ela fosse sua mulher, com certeza já teria aparecido. Vocês brigaram? Ela te traiu? Você a traiu? O que aconteceu? Eu e minha mulher quase nos separamos uma vez, mas eu não conseguiria viver sem ela. Como você consegue?
- E quem disse que eu consigo? - murmurou Malfoy de má vontade.
- Ah, então é isso: você está com o coração partido. Pobre coitado! Mas não se preocupe. Às vezes, pode não ser definitivo. Se bem que se ela nem veio te visitar...
- Ela não sabe que eu estou aqui!
- Não? Você já tentou ligar pra ela? Quer dizer, se ela não sabe, nós não podemos realmente culpá-la, não é mesmo? Você deveria avisá-la. Afinal, se alguma coisa acontecesse com ela, você ia querer saber, certo? Com certeza sim. Se você pedir à enfermeira, ela pode te deixar usar o telefone. Quer que eu a chame? Hein?
- Não - Draco respondeu secamente. Estava cansado demais até para ignorá-lo. Talvez, se respondesse às perguntas, o homem calasse a boca mais cedo.
- Por que não? O que quer que ela tenha feito, você obviamente ainda gosta dela. Não quer nem mesmo tentar?
- Eu não posso ligar para ela - Malfoy respondeu, imaginando que 'ligar' era uma maneira que os trouxa usavam para falar com alguém - porque eu não sei onde ela está.
- Ela foi embora? Que pena! Então foi você quem partiu o coração dela?
- Eu não fiz nada disso!!! - Draco exclamou, furioso. Ele estava no limite do seu auto-controle - Ninguém fez nada disso. Eu só não sei onde ela está, ouviu? Não adianta você ficar me perguntando, EU NÃO SEI!
- Está bem - e após uma pausa - Me desculpe. Você tem razão em ficar com raiva. Foi muito insensível da minha parte tocar no assunto assim, sem saber o que realmente aconteceu. Eu vou te deixar em paz agora.
- Obrigado - Draco disse antes de se virar de costas de novo. Todas aquelas perguntas tinham deixado-no ainda mais preocupado. Que homenzinho infeliz por fazê-lo pensar na Gina daquela forma. Quisera ele que as coisas fosse simples assim! Quisera ele que bastasse chegar numa lareira, acender o fogo, jogar um pouco de pó-de-flu e pronto! Encontrar a Gina do outro lado. Quisera ele que Goyle nunca o tivesse encontrado e que agora, ele pudesse estar longe dali, com Virgínia ao seu lado. Mas as coisas não aconteceram assim. Raramente as coisas acontecem como nós queremos.
- Você tem certeza que não quer nenhuma ajuda? - James voltou a falar. Era como se durante cada minuto calado ele tivesse lutado para dizer alguma coisa e agora finalmente não agüentasse mais - Eu sei que eu não deveria me meter, mas a minha mulher conhece alguns investigadores profissionais. Talvez um deles pudesse localizar a garota pra você.
- Obrigado - Draco se obrigou a dizer. Sabia que o homem no fundo estava tentando ser gentil. De uma forma bem desastrada, é verdade, mas pelo menos ele estava tentando - Mas eu não acho que nenhum detetive poderá me ajudar.
- E como você pode saber sem nem tentar?
- Confie em mim. Eu sei - James ficou em silêncio mais um pouco depois disso. Malfoy já estava começando a agradecer mentalmente quando o outro resolveu começar a falar de novo:
- Me desculpe. Eu sei que eu não devia me meter, mas é só que... bem... Você a ama, não? Eu também amo minha mulher e fico imaginando quando ela quase se separou de mim... pensando no meu desespero e, sinceramente, eu não sei como você vai conseguir.
- Nossa! Muito obrigado por compartilhar isso. Eu me sinto bem melhor agora - Draco respondeu com ironia, num tom seco.
- Eu estou falando sério. Não sei como eu faria. Acho que, se fosse eu, ia acabar me jogando do alto de algum prédio. A vida seria impossível sem ela. Ou melhor: a vida não existe sem ela, porque ela é a minha vida inteira, o que me mantém são. Sem ela, pra quê viver?
- Você está falando essas coisas de propósito só pra animar meu espírito? - Malfoy perguntou, agora profundamente irritado, mas, principalmente, assustado, porque uma parte sua dizia que aquele homem tinha razão. Ele estava sozinho. Em outra época, ele teria abraçado a oportunidade de fugir daquilo tudo, pegar seu dinheiro e ir viver longe de todos. Costumava se orgulhar do fato de que não precisava de ninguém. Mais que isso até: de que não queria ninguém por perto. Vasculhou sua mente procurando o momento exato em que isso mudara; o momento em que ele começou a encontrar dificuldades para imaginar um mundo e uma vida sem Virgínia Weasley. Era impossível dizer dia, hora e local. E era impossível principalmente porque ele tinha a impressão de que sempre a amara; de que a parte de sua existência em que ele a desconhecia era desprezível e até mesmo vergonhosa. Ele existia para amá-la.
Era estranho para ele se definir através de outra pessoa, mas essa era a verdade: em algum momento, o centro de sua vida passou a ser ela e não mais ele próprio. Talvez se Draco Malfoy fosse um homem comum, que tivesse crescido numa família comum, ele estivesse acostumado a isso: acostumado a amar e ser amado, acostumado a pensar na sua família e nos seus amigos em primeiro lugar e aí, talvez seu amor por Gina não se manifestasse de forma tão intensa. A verdade, entretanto, é que, crescendo como ele cresceu, toda a sua capacidade de amar estava agora concentrada em uma única pessoa e era um sentimento avassalador. Como ele poderia viver sem ela? Como ele poderia esperar encontrar no mundo outra pessoa como ela? Como ele poderia se sentir tão feliz, tão satisfeito e completo nos braços de outra mulher? E, ao mesmo tempo, como ele poderia viver uma vida egocêntrica e isolada como antes? Era impossível. Uma vez que ele sentiu o que é amar alguém, como ele poderia esquecer e se contentar com menos?
Qualquer pessoa que o tivesse conhecido antes e o visse agora não entenderia. Provavelmente, acharia que ele estava mentindo. Afinal, como alguém pode parecer duas pessoas completamente diferentes? O Draco Malfoy que estudou em Hogwarts não poderia ser o mesmo Draco Malfoy que estava deitado em uma cama de hospital, tentando imaginar como ele conseguiria viver sem Gina Weasley. Simplesmente não era possível. E ele sabia disso. Sabia tanto que lutara o quanto pôde contra a mudança, mas, no fim, perdera. Obviamente. Como poderia ganhar quando não tinha absoluto controle sobre o ritmo do seu coração sempre que ela se aproximava? A primeira pessoa que disse que o amor pode fazer milagres não tinha idéia de que isso era assim tão verdadeiro. O amor pode fazer milagres e ele se considerava a prova viva disso.
Cansado e vencido, Draco fechou os olhos, procurando bloquear qualquer resposta que James desse. Por um dia, o outro já fizera o bastante. Ele não queria mais ouvir e não queria mais falar. Tudo o que ele queria era fechar os olhos e imaginar que ela estava ali, viva e sã, abraçando-o, beijando-o. Tudo o que ele queria era sonhar.
- Draco - ele estava ouvindo a voz dela, doce e melódica como sempre. Sentia a mão dela apoiada no seu ombro, chamando-o. Virou-se na cama para vê-la. Ela estava lá. Olhando-o com olhos brilhantes no escuro - Você estava tendo um pesadelo, meu amor.
- Estava? - perguntou ele, ainda desorientado. Estava suando.
- Sim, estava - ela sorriu - Estava gritando e tremendo.
- Meu Deus! - ele disse, lembrando-se - Eu sonhei... sonhei que nós estávamos separados... sonhei que Voldemort havia vencido a batalha final e você... você... eu não sabia onde você estava...
- Shhh... - ela falou suavemente, abraçando-o - Está tudo bem. Eu estou aqui. Nada poderia ter nos separado. Você sabe disso.
- Nada?
- Nada. Absolutamente nada.
- Mas era tão real...
- Era apenas um sonho, meu amor. Você sabe disso. Sabe que Voldemort não ganhou a batalha final. Nós ganhamos. E nós estamos juntos.
- Mas nós poderíamos ter sido separados. Perdidos um do outro...
- Não, nunca. Eu não permitiria. Eu iria te encontrar.
- Promete?
- Prometo. Eu procuraria até no inferno se fosse preciso. Eu te amo. Eu te amo...
- Eu também te amo - ele respondeu, enterrando a cabeça nos braços dela, deixando-se abandonar, perdido e vulnerável como nunca fizera, como se fosse uma criança procurando consolo. Era tão fácil... tão fácil simplesmente abraçá-la...
- Draco - ele ouviu a voz de novo - Draco! - mas dessa vez, havia um tom diferente nela, um tom de urgência, de medo. Um tom de desespero - Draco! Acorde! - ele ouviu de novo. Levantou a cabeça e não a encontrou. Ela não estava mais ali. Ela não estava mais ali! Seu coração batia acelerado. Onde ela estava? Para onde ela tinha ido? Ela não estava mais na cama. Olhando ao redor, não havia mais cama. Apenas escuridão, apenas vazio. Para onde ela tinha ido? Ele estava sozinho. Ele estava caindo - Draco! - a voz falou de novo - Draco, abra os olhos - ele queria obedecer, queria vê-la, mas não conseguia - Draco, meu amor, abra olhos - ela pediu de novo. Ele tentou. Precisava vê-la. Juntando todas as suas forças e concentrando-se, ele finalmente conseguiu e, quando abriu os olhos, ela estava ali, encarando-o de volta.
- Gina - Malfoy murmurou ao vê-la - Você está aqui. De verdade.
- É claro que eu estou - ela respondeu sorrindo, os olhos brilhantes com lágrimas não derramadas.
- Você me encontrou - ele sussurrou, puxando-a e enlaçando-a firmemente - Você me encontrou - repetiu ainda sem soltá-la.
- Sim, encontrei.
- Eu não estou sonhando?
- Você não está sonhando.
- Mas o que aconteceu? A batalha... Nós ganhamos? - Gina se afastou um pouco para poder responder olhando-o:
- Não, nós não ganhamos. Mas nós também não perdemos - ela disse, enxugando as lágrimas que escorreram pelas suas bochechas.
- Como?...
- Voldemort não foi destruído. Ele está fraco, mas não morto.
- Então a Guerra...
- ...não terminou ainda - Draco demorou alguns segundos para digerir isso. Estava tão feliz no momento por encontrá-la viva e sã que não conseguiu perceber o real peso do que ela estava falando.
- Mas o que aconteceu? Qual foi aquela história toda com Potter e a garota...
- Foi um golpe baixo. Voldemort mandou que seus comensais fizessem a única coisa que poderia impedir que Harry se mantivesse concentrado. Ela está morta agora e ele está em frangalhos - Gina respondeu tristemente.
- Então quer dizer que Potter realmente não gosta de você?
- É claro que ele gosta, Draco. Nós somos amigos. Mas é só isso. Você achava que fosse mais?
- Achava - ele admitiu - Eu achava que ele tivesse te dado esse anel como uma promessa de casamento - continuou, passando os dedos sobre o anel na mão de Gina.
- Você achava que... meu Deus... como você pôde acreditar nisso, Malfoy? Que tipo de pessoa você acha que eu sou? Alguém que seria capaz de estar noiva de Harry e ao mesmo tempo... O que você estava pensando? - ela falou indignada, levantando-se da cama.
- Eu obviamente não estava pensando... eu...
- ...o quê? Achou que eu fosse como você?
- Weasley!
- Não, Draco, eu não quero ouvir. Nós não temos tempo pra isso agora - ela falou, passando as mãos no rosto - Nós temos que ir embora.
- Embora para onde?
- Para Hogwarts, claro. Como eu disse: a Guerra não terminou. Nós temos uma chance única agora, que é atacar Voldemort enquanto ele ainda está fraco. Nós não podemos desperdiçá-la.
- O quê? Você quer que eu volte para aquele terror?
- Draco...
- Não! Será que você não entende? Essa é a nossa chance.
- Nossa chance?
- É! A nossa chance de fugir, de ir embora, escapar de tudo isso. Nós podemos ir juntos, Gina. Só nós dois, longe de Voldemort e da Guerra e dos pesadelos...
- Draco, eu não posso...
- É claro que você pode! Nós podemos!
- Não, eu não posso - ela disse como se estivesse enojada somente por considerar a possibilidade.
- Você não faria isso por mim? - ele disse, endurecendo sua expressão.
- Não tem nada a ver com você...
- É claro que tem a ver comigo! Você não quer ir embora comigo!
- Como você pode ser assim tão infantil? Será que você não entende? O meu mundo inteiro está em frangalhos! Você não sabe da metade das coisas que aconteceram! Harry está num estado de dar pena, Rony esteve entre a vida e a morte na enfermaria, Dumbledore... Dumbledore está morto e ninguém sabe o que fazer... e eu passei as últimas duas semanas desesperada atrás de você, morrendo de medo de que os comensais tivessem te levado. Você tem idéia de quantas vezes eu ouvi que devia desistir? Você tem idéia do que eu estou passando?
- E ainda assim você não quer ir embora!
- Não é questão de querer! É a minha família, a minha vida. Você realmente acha que eu conseguiria ser feliz sabendo que os abandonei?
- Eu tenho certeza de que eles ficariam felizes se soubessem que você está bem.
- Eu nunca me perdoaria, Draco - ela falou com lágrimas nos olhos.
- E se nós perdermos, Gina? Você já pensou nisso? Nós vamos morrer. Antes, não havia opção. Eu não podia ir embora e te deixar lá, mas agora a opção está diante dos nossos olhos. Eu não quero voltar. Eu não quero passar por tudo aquilo de novo. Venha comigo. Seremos só nós dois.
- Draco, e se nós ganharmos? Você já pensou nisso? Nós ainda poderíamos ter a nossa vida. A diferença é que nós não seríamos os únicos.
- Você está disposta a arriscar?
- Eu não tenho escolha.
- Sim, você tem - ele falou desesperado. A idéia de perdê-la novamente era apavorante. Se ele apenas pudesse convencê-la... - Se você me ama - falou num último recurso - venha comigo. Vamos fugir.
- Draco, eu te amo, mas eu não posso ir - ela falou enquanto algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. Malfoy não imaginara que uma simples frase pudesse partir seu coração em pedaços tão pequenos.
- Então você não me ama - ele disse lançando-lhe um olhar frio.
- Draco...
- Vá embora. Eu não vou voltar com você. Estou cansado da Guerra - afirmou, desviando o olhar. Estava com o orgulho ferido. Ele se expusera completamente para ela e ainda assim havia sido recusado.
- Você não quer nem ao menos saber quem me deu esse anel? - ele não respondeu - Foi você, Draco. Você me deu esse anel - ela disse numa voz suave - Estava junto com a sua carta. Nela, você me disse para usá-lo em homenagem a um futuro que não iria acontecer. Também disse que você tinha toda a capacidade para mudar e eu tinha exatamente o que era necessário para provocar essas mudanças. Desde que eu li aquelas palavras, não consegui mais desistir de você. Eu passei a me sentir responsável porque, se era verdade que você poderia se transformar em um bom homem por minha causa e eu não fizesse nada, então seria minha culpa. E eu passei a usar o anel primeiro como uma lembrança da minha responsabilidade e, depois de um tempo, como um sinal de esperança... esperança por um futuro que poderia sim acontecer. Venha comigo. Venha comigo, meu amor, para que nós possamos acabar com tudo de uma vez por todas e finalmente viver em paz.
Draco não a encarou. Ele sabia que se a olhasse não resistiria, mas era preciso. Tentou bloquear tudo o que ela falara repetindo para si mesmo que não importava, que se ela o amasse, ela iria embora. Ela tinha que amá-lo mais que a todos os outros, não? Mais do que ela amava sua família ou Potter, já que ele a amava completamente. Se isso fosse verdade, ela não hesitaria. E, mesmo não conseguindo imaginar como viver sem ela, Draco ainda era um Malfoy e nunca aceitaria nada pela metade.
- Você não vai voltar comigo mesmo? - ela perguntou e, mesmo sem vê-la, ele sabia que ela estava chorando. Não respondeu à pergunta - Está bem então - Gina falou e esperou alguns segundos como se ainda tivesse esperanças de que ele mudasse de idéia. Como isso não aconteceu, ela continuou - Não se preocupe. Eu não vou falar para ninguém que te encontrei e também não vou deixar mais ninguém te procurar. Eu também nunca mais vou te procurar, você entendeu, Draco? - e, como ele novamente não respondeu à pergunta, Virgínia lentamente virou-se e saiu do quarto. Cada passo seu ecoando no chão como uma sentença final.
Depois que ela saiu, Draco finalmente se entregou. O que ele tinha acabado de fazer? Ele a tinha mandado embora. E por quê? Por causa do seu orgulho. Tudo por causa do seu orgulho. 'E porque ela não me ama o suficiente' repetiu mentalmente, como se tentasse se justificar. Ele a mandara embora. Não havia justificativa para isso. Malfoy estava perdido. Sem conseguir se controlar, ele virou-se na cama, encolheu-se e chorou. Eram lágrimas de raiva e de orgulho ferido e de dor, uma dor lancinante que parecia querer parti-lo ao meio, lembrando-o da realidade cruel de que ele a mandara embora. Para sempre.
Pouco tempo depois, Draco foi incomodado pelo barulho da porta do quarto se abrindo. Por um instante, pensou que fosse ela voltando, mas quando olhou, descobriu que era apenas James. Era tudo de que ele precisava.
- Então? - o outro perguntou animadamente. Malfoy simplesmente o ignorou - Como foi? Eu vi a sua visitante e resolvi dar uma volta pra que vocês tivessem mais privacidade. Era ela, não era? A sua garota? - Draco fechou os olhos e continuou ignorando-o - Vocês não brigaram, brigaram? Porque isso seria horrível! O que foi que aconteceu?
- Será que dá pra você calar a sua maldita boca?! - Malfoy exclamou finalmente, não conseguindo mais se controlar.
- Desculpe. Mas depois disso, acho que fica óbvio que sim, vocês brigaram. Por quê?
- Porque ela não quis ficar comigo, está bem? Está satisfeito agora?
- E por que ela não quis ficar?
- Porque ela queria que eu fosse com ela.
- E por que você não foi?
- Porque não!!! Se ela realmente me amasse, ela teria ficado.
- E se você realmente a amasse, você teria ido, não é mesmo?
- O quê? - Draco perguntou perplexo.
- Eu estou apenas dizendo que o raciocínio que pode ser usado a seu favor, também pode ser usado a favor dela, não é mesmo?
- Não, não pode!
- Mas é claro que pode!
- E o que você sabe, hein? O que você tem a ver com essa história toda? Tudo o que você sabe fazer é falar e falar e falar. A sua mulher deve gostar de trabalhar muito só para ficar longe de você e eu aposto que o motivo pra ela querer se separar era que ela não agüentava mais ter que ouvir a sua voz!!! - no momento que as palavras começaram a sair da sua boca, Draco se arrependeu, mas já era tarde demais. Ele já tinha falado tudo. Pôde ver claramente a expressão na face do outro murchar e cair, como em câmera lenta. Ele não estava mais acostumado àquilo, a deliberadamente machucar alguém daquela forma e se sentiu culpado. Tão culpado que, após uma pausa, fez o que nunca pensara se vir fazendo antes - Olha, me desculpe - ele murmurou - Eu não quis realmente dizer tudo isso... Eu estou com raiva, é só... eu realmente...
- Esqueça - James o interrompeu - Eu estava apenas tentando ajudar, mas você tem razão. Eu não tenho nada a ver com a história. Você pode me atacar o quanto quiser, mas isso não muda o fato de que nada é minha culpa. Se alguém é culpado é você e não sou eu que, por orgulho, vou passar o resto das minhas noites sozinho - completou friamente. Depois, puxou a cortina ao redor da cama e Draco não o viu mais. Nem o ouviu. De qualquer forma, já tinha ouvido o suficiente para uma vida inteira.
As palavras de James continuaram ecoando na cabeça dele por toda a noite. E a cada minuto que passava, tornava-se mais difícil justificar para si mesmo o que ele tinha feito. Malfoy sabia que tinha tomado muitas decisões estúpidas na sua vida. Mais do que poderia contar, mas aquela com certeza era a pior de todas e a que poderia ter as conseqüências mais terríveis. Ele não queria estar ali, sozinho. Queria estar com ela e poderia estar com ela, não fosse seu gênio terrível e seu orgulho. Afinal de contas, ele era um Malfoy. Por mais que tentasse, nunca seria capaz de mudar isso.
Não conseguiu dormir sequer um segundo até o amanhecer. Passou as horas sendo assombrado pelo peso das suas próprias palavras e pela certeza de que alguma parte do seu corpo sabia exatamente o que deveria ser feito. Por mais que fosse difícil e por mais que fosse contra tudo o que ele aprendera, ele sabia. Sabia que deveria levantar-se e ir atrás dela, pedir desculpas, implorar se fosse necessário, dizer que ele não conseguia imaginar o mundo sem ela. Era isso que precisava ser feito e era isso que ele iria fazer. De um jeito ou de outro. Porque a verdade é que ele a amava e todo o resto não tinha importância perto dela.
N/A2: Bom, nós estamos chegando ao final da história. Provavelmente, o próximo capítulo será o último e nós teremos depois um epílogo. Por isso, pode ser que o capítulo 9 demore um pouquinho mais para sair. Afinal, se ele vai ser o último, eu vou ter que fazê-lo valer a pena, não é mesmo?
