Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo
Autora: Flora Fairfield
E-mail: florafairfield@yahoo.com
Categoria: Romance/Drama
Classificação: PG-13
Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts
Disclaimer: Eles não são meus. São da Rowling. E eu não vou ganhar dinheiro nenhum com essa história.
* * *
Capítulo 10: Feitos Um Para O OutroJulieta: O Romeo, Romeo! wherefore art thou
Romeo?
Deny thy father and refuse thy name;
Or, if thou wilt not, be but sworn my love,
And I'll no longer be a Capulet.
(...)
Romeu: I take thee at thy word:
Call me but love, and I'll be new baptized;
Henceforth I never will be Romeo.
Julieta: Oh, Romeu, Romeu, onde estás tu, Romeu?
Renega teu pai e recusa teu nome;
Ou, se não quiseres, sê apenas meu amor
E eu não mais serei uma Capuleto.
(...)
Romeu: Eu tomo a tua palavra:
Chama-me apenas amor, e eu serei novamente batizado;
Daqui em diante, eu nunca mais serei Romeu.
(William Shakespeare, "Romeu e Julieta", Ato II, Cena II)
15 de maio
O primeiro feitiço que Voldemort lançou atingiu o alvo como uma flecha bem disparada. Uma batida de coração apenas foi o tempo que Draco teve entre pensar que estava perdido e sentir a dor lancinante da Maldição Cruciatus penetrando sua carne, seus ossos e sua alma. Ele caiu de joelhos num segundo, toda a cena diante de seus olhos esquecida. Havia apenas dor. Dor e escuridão. Apoiou suas mãos no chão e deixou escapar um grito desesperado. Ele esquecera o quanto doía. Ou talvez, Voldemort fosse mais capaz do que os outros com aquele feitiço. Você-Sabe-Quem definitivamente possuía a prática necessária. E Draco se sentia fraco. Batido, esfolado, dolorido, esquecido por Deus - se é que Deus existia - e fraco. Alguma parte da sua mente que tentava permanecer coerente repetia que aquilo não poderia ter começado há muito tempo, que os outros fariam algo para impedir, mas, no fundo, quem se importava? A dor era a única coisa que penetrava os sentidos de Malfoy e ele se sentia derrotado.
Após uma eternidade, finalmente, o feitiço parou. Draco apoiou a testa no chão, esgotado e ofegante. Seus olhos estavam fechados e ele achava que a mera ação de abri-los seria capaz de parti-lo ao meio. Seu corpo inteiro doía, como se estivesse coberto por hematomas e ele demorou um pouco mais para se lembrar de onde estava, de quem era e do que estava acontecendo. Quando finalmente o fez, contudo, quase desejou voltar ao esquecimento.
Controlando-se para não deixar transparecer todo o desconforto que estava sentindo, Draco conseguiu abrir os olhos e focalizar o assoalho diante de seu nariz. Mais alguns segundos e ele começou a achar que conseguiria se erguer. Tentou levantar a cabeça rápido e desistiu. A dor ainda era horrível. Com um esforço gigantesco, ele conseguiu, usando as mãos como apoio no chão, virar um pouco a cabeça para cima, apenas o suficiente para poder olhar ao redor.
Sua visão estava embaçada por causa da fumaça. A sala que antes estivera envolta na penumbra, começava agora a brilhar com a luz e o calor do fogo. O incêndio que se iniciara no andar superior estava se espalhando para o térreo. Não demoraria muito para que as chamas consumissem a casa e aí, tudo estaria verdadeiramente perdido.
Tentando manter-se abaixado por causa da fumaça, Draco mal conseguiu ter uma idéia do que tinha acontecido ao seu redor. Viu Black caído no chão, desacordado. Era impossível saber se ele ainda estava respirando daquela distância. Potter estava de pé, assim como Voldemort, e os dois estavam duelando. Era um duelo feroz. Eles estavam usando feitiços dos quais Malfoy apenas ouvira falar e alguns que ele sequer conhecia. E as coisas não pareciam estar indo muito bem para Potter. Você-Sabe-Quem parecia estar no controle, enquanto o outro apenas se defendia da melhor forma possível. A única coisa na mente de Draco era que ele precisava sair dali. O quanto antes.
Arrastando-se pelo chão, tentando fazer o mínimo de barulho possível, ele se aproximou de Black. Seu corpo ainda doía como nunca. Sua cabeça parecia que ia explodir, mas a dor ainda era preferível à morte. O duelo continuava e, por isso, os dois não perceberam quando ele chegou perto de Black e colocou a mão no pescoço do outro, procurando por alguma pulsação. Ele não estava morto. Voldemort provavelmente estava esperando acabar tudo com Potter para fazer as outras mortes ainda mais dolorosas. Enquanto Draco ainda estava olhando freneticamente ao redor, procurando desesperado por uma saída, eles ouviram vozes por trás da porta. Vozes fracas, é verdade. O som estava abafado. Mas mesmo assim eram vozes amigas e Draco sentiu seu coração começar a bater de novo com alguma esperança.
Era cedo demais para isso, contudo, porque, quando ouviu o barulho do lado de fora, Harry se distraiu por um instante. Não deve ter sido mais do que meio segundo e, no entanto, foi suficiente para Voldemort.
Malfoy viu perfeitamente Potter voando através da sala, violentamente, até bater contra a porta, com um baque surdo. Sua varinha tinha escapado e ele estava desarmado. Qualquer esperança que tivesse começado a nascer no coração de Draco morreu com aquele barulho. Voldemort estava caminhando lentamente na direção deles, varinha em punho e um sorriso sádico no rosto. Era ali: o ponto final. O dia pelo qual eles estavam esperando há tanto tempo. Era assim que tudo terminava. Todos os sonhos, todas as esperanças, de uma vez por todas. Draco fechou os olhos por um momento e pensou em Gina. O que seria dela? Meu Deus, o que seria dela?
Depois, abriu-os novamente. Precisava encarar a morte de frente. Olhou para Voldemort e, em seguida, para Potter. Teve que se conter para não deixar escapar uma pequena exclamação de surpresa. Ele teria jurado que, após o feitiço de Você-Sabe-Quem, o outro estaria desacordado. Mas não estava. Potter o encarava de volta com um olhar que valia por milhares de palavras. A fumaça estava começando a se tornar insuportável. Draco inspirou uma vez e teve que tossir depois, ao senti-la penetrando em seus pulmões. Prendendo a respiração por alguns segundos, ele colocou a mão no bolso da veste, procurando por algo que trouxera até ali por um motivo bem claro. Depois, com um movimento rápido e preciso, ele jogou a varinha para Potter, fazendo-a rolar no chão.
Quando Voldemort percebeu, já era tarde demais. Tarde demais para que pudesse esboçar qualquer reação. Potter ergueu a varinha e murmurou algo que Draco não ouviu. No segundo seguinte, a sala foi preenchida por uma luminosidade absurda. A mesma luz que houvera antes na batalha. Malfoy encolheu-se no chão, fechando os olhos. Era insuportável e ele sabia que, se passasse mais de um segundo olhando para aquilo, ficaria cego.
A luz ainda durou algum tempo. Talvez segundos, talvez minutos. Draco não estava realmente em posição de contar. Depois, ela simplesmente parou.
Ele abriu os olhos, mas não conseguiu ver nada imediatamente. Demorou para se acostumar de novo com a escuridão. Quando finalmente conseguiu vislumbrar algo, viu Potter, de pé, ignorando o fogo e a fumaça, parado diante do que deveria ser o corpo de Voldemort. Em toda a sua vida, Malfoy nunca tinha se sentido tão feliz. Tão aliviado.
Levantou-se devagar, apoiando-se contra a parede e foi na direção de Potter. O outro ainda estava parado, sério e, aos seus pés, o corpo de Você-Sabe-Quem estava lentamente se transformando em cinzas.
- Está tudo acabado - sussurrou Malfoy mais para si mesmo do que para o outro.
- Sim - respondeu Potter. E, após uma pausa - Foi a sua varinha - falou, devolvendo-a.
- Não - disse o outro, examinando-a entre os dedos - Foi a varinha do meu pai. A varinha de Lúcio - Harry não falou nada. Apenas o encarou com uma expressão surpresa, e, ao mesmo tempo, parecia saber de algo que Draco não sabia - Nós precisamos ir embora - Malfoy acrescentou após tossir novamente. Tudo o que faltava agora era eles morrerem queimados após Voldemort ter sido destruído.
- Fiquem longe da porta! - eles ouviram o aviso vindo do lado de fora, no momento em que Draco se virou na direção de Black. Mal teve tempo, contudo, de se jogar no chão para se proteger quando uma grande explosão fez a porta da casa voar pelos ares.
A sala foi subitamente invadida pela luz.
Eles estavam salvos.
Depois de ver os outros membros de Ordem entrando na casa para resgatá-los, Draco perdeu a consciência por alguns minutos. Seu corpo não conseguia agüentar mais: a Maldição Cruciatus, a fumaça, o fogo, o esforço, a tensão. Era mais do que qualquer um poderia suportar e, por mais que ele fosse um Malfoy, ainda era apenas humano.
Quando abriu os olhos novamente, viu o céu sobre sua cabeça e, depois, deu de cara com Snape e Lupin o encarando.
- Está tudo bem - Remo falou, num tom que provavelmente usaria com uma criança e Severo estava a ponto de repreendê-lo por ser tão condescendente.
- Eu sei - Draco respondeu, contudo, antes que Snape pudesse dizer qualquer coisa. Lupin abriu a boca para falar algo, mas, por mais que quisesse ouvir, Malfoy sentiu sua visão começar a se embaçar e a escuridão voltou a envolvê-lo.
Quando acordou de novo, não estava mais na casa. Piscou um pouco até se acostumar com a pouca iluminação no quarto e, logo que percebeu onde estava, seu coração parou. Ele estava em Hogwarts, acordando na sua cama, nos seus aposentos. Um pânico súbito e irracional o invadiu. Ele estava com medo. Um medo cego de que tudo não tivesse passado de um sonho, de que a luta final ainda não tivesse sido travada. Seu corpo doía, é verdade, mas Draco sequer percebeu. Levantou-se, lutando para se controlar, procurando por algum sinal no quarto de que tudo aquilo não tinha realmente sido um sonho. Não havia nada.
Ele saiu do quarto e foi para o banheiro, quase tremendo. Era algo absurdo o pânico que o invadira. Malfoy não se lembrava de ter se sentido assim em nenhum outro momento da sua vida, mas simplesmente não conseguia evitar.
Acendeu as luzes do banheiro com a varinha que encontrara sobre a mesinha de cabeceira e depois abriu a torneira para lavar o rosto, tentando se acalmar. Quando levantou a cabeça de novo, contudo, e abriu os olhos para encarar seu reflexo no espelho, viu algo que fez seu coração voltar ao ritmo normal de batimentos. Estava ali: o machucado que ele conseguira na hora em que o muro explodiu, o corte na sua bochecha. Draco levou sua mão até ele, ignorando o desconforto. Então, tudo não havia sido um sonho. A casa, os comensais, o duelo... era tudo real.
Ele respirou aliviado e deixou a idéia de que Voldemort estava destruído começar a penetrar na sua alma. Havia vivido tanto tempo com aquela sombra pairando sobre sua cabeça que agora era difícil se adaptar. Era difícil acreditar que ele poderia viver sem medo, que o horror e a Guerra tinham chegado ao fim e que ele havia sobrevivido. Difícil e absolutamente maravilhoso.
Quando ainda estava contemplando o próprio reflexo no espelho, Draco ouviu o barulho da sua porta se abrindo. Entrou no quarto rápido. Ele não precisava olhar para saber quem era. Somente uma pessoa poderia entrar assim nos seus aposentos, sem bater e sem se preocupar com o que ele poderia fazer em retorno. Quando a viu, não conseguiu falar nada. Ela o encarou com um sorriso e os olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Malfoy apenas andou até onde ela estava e a envolveu num abraço firme. Havia tanta coisa naquele abraço! Tanto medo e tensão e tanto alívio. Ela era dele. Finalmente, ela poderia ser dele, sem complicações, sem Guerra, sem receio. E isso era tudo o que ele queria. Ali, abraçando-a, Draco descobriu que sua maior felicidade com o final de tudo não era saber que Voldemort não poderia mais matá-lo; não era saber que ele agora poderia viver em liberdade; era a certeza de que agora, ele poderia abraçá-la e abraçá-la e abraçá-la, sem o medo excruciante de perdê-la.
- Você não deveria estar de pé - Gina disse, com um sorriso, quando ele finalmente afrouxou um pouco os braços ao redor da cintura dela. Draco não respondeu. Apenas continuou encarando-a e Virgínia levou suas mãos até o rosto dele para acariciar sua face.
- Eu estava com medo - Malfoy disse, então, fechando os olhos - de que tudo não tivesse passado de um sonho.
- Meu amor - Gina falou, levantando-se nas pontas dos pés para beijar-lhe o rosto - me desculpe... Eu deveria ter estado aqui... Eu queria estar aqui quando você acordasse, mas...
- Havia trabalho na enfermaria?
- É. Ainda há - ela completou, seus olhos se anuviando por um momento - Mas eu precisava saber como você estava.
- Por que eu não estou na enfermaria?
- Você não estava assim tão ferido e há outras pessoas pior. E, bom, conhecendo você, eu achei que você preferiria acordar no seu próprio quarto e não na enfermaria, com todas aquelas pessoas ao redor.
- Tem razão. Eu prefiro assim - ele disse, descansando a sua testa contra a de Gina e fechando os olhos - Por favor, me diga que está tudo acabado - ele sentia uma necessidade cega de ouvir isso dos lábios dela.
- Está tudo acabado, meu amor. Harry o matou.
- Para sempre?
- Para sempre.
- E você vai ser minha agora?
- Para sempre, Draco, para sempre... - ela repetiu. Os braços dele se contraíram novamente, apertando-a mais uma vez num abraço. Ele precisava dela. Precisava saber, garantir que ela estava ali após tanta dor e tanto sofrimento - Eu trouxe algo para você - Gina falou, algum tempo depois, enquanto o levava de volta na direção da cama.
- O quê? - Draco perguntou curioso, enquanto deitava-se.
- Isso - ela disse, colocando sobre o colo dele um envelope que parecia já ter sido bastante manuseado - Eu falei que deixaria você ler as cartas quando estivesse pronto, não falei?
- E eu estou?
- Bom, se não estiver agora, não vai estar nunca - ela sorriu - Agora, deixe eu cuidar desse seu corte antes de voltar para a enfermaria...
- Não - ele disse, rápido, surpreendendo a si mesmo.
- Draco, eu preciso voltar para a enfermaria... há trabalho a ser feito...
- Eu sei. Não era disso que eu estava falando - Malfoy respondeu levando a mão até o machucado - Eu não quero que você faça ele desaparecer...
- Por que não? Olha que uma cicatriz dessas pode acabar estragando o seu rostinho perfeito... - ela brincou, sabendo que ele era extremamente vaidoso.
- Você se importa? - Draco por sua vez perguntou, sério.
- Não - respondeu Virgínia sinceramente.
- Então eu quero ficar com ela. Como uma lembrança.
- Está bem - Gina concordou, por fim. Inclinou-se, depois, sobre a cama e beijou-lhe demoradamente antes de sair - Eu volto - ela falou quando já estava na porta.
- Se você não voltar, eu vou te buscar - Draco murmurou com um sorriso depois que ela já tinha ido. Em seguida, reclinou-se na cama com um suspiro cansado, mas feliz. Voldemort estava morto e ele estava vivo. Mais vivo do que nunca. Gina Weasley o amava e tudo estava bem no mundo.
Usando a varinha, Draco acendeu as velas que iluminavam o quarto. Abriu, então, o envelope que Gina lhe dera e deixou escorregar de dentro dele as duas cartas. As duas cartas que tinham começado tudo.
Primeiro, ele leu a sua própria, endereçada à Gina. E depois, leu a carta de suicídio. Não era difícil entender o efeito que as duas tiveram na garota. Eram palavras poderosas. Ali, lendo-as, Draco finalmente entendeu por completo a visão que tivera na sua iniciação. Não fora um sonho, nem um produto da sua própria criatividade. Ele sabia. Simplesmente sabia que a cena que vira sob o efeito da poção era a cena com que seu eu do futuro se deparara naquele dia, na Itália. A dor de perdê-la havia sido torturante. Pior do que a dor da própria morte. Pior do que qualquer Cruciatus. Maior dor ainda, contudo, ele sentiu ao ler as palavras na carta de suicídio. Ele não podia imaginar a sua Gina, a Gina que ele conhecia, escrevendo-as. Ele não podia - não queria - imaginar tudo o que acontecera - tudo o que seu maldito pai fizera - para ela se tornar aquela pessoa sem esperança. Ele entendeu finalmente também o seu desespero no futuro, desespero esse suficiente para fazê-lo arriscar uma viagem no tempo para tentar acertar as coisas. No lugar dele, esse Draco teria feito a mesma coisa.
A simples idéia de ver a sua Gina passando por um sofrimento daqueles era terrível e Draco soube, naquele momento, que poderia passar a sua vida inteira protegendo-a. Ele sabia que nunca poderia suportar as suas lágrimas e a sua dor. Ele sabia o que deveria fazer.
Levantou-se imediatamente da cama e vestiu-se. Não colocou o uniforme completo da Ordem. Para onde iria, precisaria de roupas trouxas. Depois, guardou a varinha no bolso e fez uma última inspeção em frente ao espelho para saber se estava apresentável. Por fim, saiu do quarto com um objetivo claro em mente. Ele sabia exatamente o que tinha de fazer.
Quando Draco encontrou Lupin, o outro estava envolvido numa conversa com McGonagall. Os dois estavam discutindo o estado de Black, mas Draco não estava realmente interessado.
- Senhor - ele disse, chamando o ex-professor de Defesa Contras as Artes das Trevas - Eu preciso falar com você.
- Não pode esperar um pouco, Sr. Malfoy? - perguntou McGonagall, claramente contrariada por ter sido interrompida, e encarando-o como se ele ainda fosse um dos alunos dela.
- Sinto muito, mas não - Draco respondeu secamente.
- Está tudo bem, Minerva. Eu encontro você na enfermaria - Remo disse, conciliador. E, após a outra ter ido embora com um último olhar reprovador para Draco: - Isso foi extremamente rude da sua parte.
- Eu sei, mas francamente não me importo. O que eu quero é importante demais para isso.
- O que houve? - Lupin perguntou, subitamente preocupado.
- Eu preciso daquela chave do portal programável que você emprestou para a Gina e...
- Você não está pensando em fugir, está??? - o outro arregalou os olhos.
- Claro que não - Draco respondeu impaciente - A segunda coisa de que eu preciso é você.
- Eu?
- É. A sua presença.
- Para quê?
- É uma longa história. Você pode apenas confiar em mim?
- Draco...
- Apenas confie em mim, por favor. E esteja com a chave preparada para daqui a duas horas. Eu te encontro na entrada do Salão Principal.
- Para onde você quer que eu programe a chave?
- Toledo. E a Gina vai com a gente.
- Draco, o que é que você está tramando?...
- Você já vai descobrir. Apenas esteja lá, okay? - o outro falou enquanto já ia se afastando. Não chegou a esperar por uma resposta. Aquela fora a parte fácil. Agora, ele precisava encontrar Gina e convencê-la a embarcar com ele naquela loucura.
Ela estava na enfermaria, ajudando Madame Pomfrey e outros médi-bruxos. Quando o viu ali, de pé, a garota quase o fulminou com o olhar.
- Você deveria estar deitado, quietinho na cama! - ela exclamou em tom de repreensão, se aproximando.
- Eu li as cartas - ele disse simplesmente, esperando que ela entendesse na hora a sua necessidade de encontrá-la.
- E daí? - ela respondeu, contudo, sem abandonar a expressão indignada - Você precisa descansar...
- Não. Eu preciso falar com você e isso não pode esperar! - ele retrucou, tentando colocar na voz a urgência que sentia em seu coração.
- Está bem - Gina respondeu após uma pausa - Venha. Vamos sair daqui - e o puxou para o que fora uma sala de aula e agora estava vazia, perto da enfermaria - O que houve? - ela perguntou, depois de fechar a porta.
- Eu preciso te fazer uma pergunta. Uma pergunta muito importante - Draco falou sério e Gina, contaminada por aquela seriedade, apenas o encarou, os olhos preocupados procurando penetrar na alma dele. Pouco depois, Malfoy continuou, segurando as mãos dela - Você quer se casar comigo? - a resposta que Virgínia deu foi a mais inesperada possível: ela riu sonoramente.
- Draco! Eu pensei que fosse algo sério...
- Ah, me desculpe! Eu deveria saber que uma decisão que só pode afetar o resto das nossas vidas não é séria - ele disse, extremamente ofendido e irritado.
- Não é isso - Gina corrigiu rapidamente, percebendo que sua resposta sem dúvida não fora o que ele esperava - Eu pensei que fosse uma pergunta ruim. É claro que eu quero me casar com você.
- Quer?
- Claro que sim, Draco.
- Você se casaria comigo amanhã?
- Amanhã?
- É, amanhã! Você tem certeza suficiente para dizer que casaria comigo amanhã?
- Tenho - Gina respondeu após uma pausa.
- E daqui a duas horas?
- Draco! - ela exclamou rindo - Que tipo de pergunta é essa?
- Você, Virgínia Ann Weasley, se casaria comigo daqui a duas horas?
- Casaria - ela respondeu finalmente - Pronto. Satisfeito? Agora, eu tenho que voltar ao trabalho...
- Não!
- Não o quê?
- Você não vai voltar ao trabalho. Nós vamos encontrar o Lupin na entrada do Salão Principal. Por mim, você podia ir assim mesmo, mas, conhecendo as mulheres, você vai querer tomar um banho e trocar de roupa e...
- Para quê, Draco?
- Para o nosso casamento!
- O quê?
- Daqui a duas horas!
- Você está maluco?
- Você disse que se casaria comigo...
- HIPOTETICAMENTE! Eu pensei que fosse uma pergunta retórica!
- Então quer dizer que você não vai casar comigo?
- Draco! - Gina exclamou com um suspiro - Isso é loucura.
- Por quê? Eu te amo e você me ama e nós dois temos certeza... Por que esperar?
- Draco, nós mal nos conhecemos...
- Tem jeito melhor? Nós vamos passar todo o tempo do mundo juntos... - Gina não pôde deixar de sorrir - Vamos lá, pequena, a loucura não é tão grande assim...
- Mas e a minha família?
- Os seus irmãos vão me odiar de qualquer jeito.
- Sim, isso é verdade. Mas e os meus pais?
- Eles também vão me odiar.
- Draco, eu não posso me casar sem eles ao menos estarem presentes. Eu não posso!
- Está bem - ele respondeu, controlando-se. Estava se esforçando para entender o porquê da presença deles ser tão importante para ela - Você acha que pode convencê-los a ir conosco?
- Como assim?
- Convide-os.
- Eles não vão entender...
- Você não quer nem ao menos tentar?
- Por que é assim tão importante que a gente se case hoje? - ela disse, se esquivando da pergunta dele.
- Porque eu te amo. Porque eu não consigo imaginar minha vida sem você. Porque eu não quero passar nem mais um dia sem a certeza de que você é minha. E porque eu fiz uma promessa para mim mesmo de te fazer feliz. Não importa o quê.
Gina o fitou por alguns instantes. Depois, finalmente respondeu com um sorriso:
- Está bem. Eu vou tentar.
- Me encontra na entrada...
- Do Salão Principal. Eu estava ouvindo. Para onde nós vamos?
- Toledo - ele respondeu, beijando-a - Nós vamos nos casar na Catedral de Toledo.
- Draco, por que...
- Gina, você está desperdiçando tempo precioso! Vá falar com seus pais que eu cuido do resto! - ele exclamou, empurrando-a na direção da porta - Vá!
- 'Tá bom, 'tá bom. Já estou indo... - e, parando uma última vez antes de sair da sala - Eu te amo.
- Eu também te amo, pequena, eu também te amo - Malfoy falou para si mesmo com um sorriso depois que ela fechou a porta.
Draco estava impaciente.
- Quantos minutos nós ainda temos? - ele perguntou para Lupin.
- Um a menos que da última vez que você perguntou.
- Isto não está certo. Ela já deveria estar aqui - o outro falou, olhando para o relógio pela milésima vez - Já se passaram quinze minutos!
- Draco, se você me dissesse o que está acontecendo...
- Nós vamos nos casar, okay? Isto é, se ela aparecer.
- Ah! Então é isso! Vocês vão se casar agora?! Mas e a família dela? E...
- Você por acaso está tentando fazer com que eu me sinta pior?
- Claro que não. É só que...
- É só que o quê? - Malfoy perguntou, virando-se para o outro - Eu não preciso que você me diga que é uma loucura ela querer se casar comigo! Não preciso que você me lembre dos motivos que ela tem para não estar aqui!
- Não era isso que eu ia falar, Draco.
- Então era o quê?
- Eu ia falar que, bem, é tradição que as noivas se atrasem um pouco - Lupin completou com um sorriso - Parece que você não está louco sozinho - e ele apontou para um ponto atrás de Draco. Quando o outro se virou, viu Gina se aproximando. Ela estava usando um vestido simples champagne, e Draco não se lembrava de tê-la visto tão bonita antes.
- Bom, eu estou aqui - ela falou quando chegou perto deles - Vamos?
- Mas e os seus pais? - Malfoy perguntou. O sorriso no rosto da garota vacilou um pouco.
- Eles não vêm - ela respondeu.
- Gina, se você achar melhor...
- Draco - ela o interrompeu - eu estou aqui, não estou? Eu quero levar isso adiante.
- Tem certeza? - os segundos que ela demorou para responder foram os mais longos da vida dele.
- Tenho.
- Então vamos.
- Será que eu poderia fazer só uma pergunta antes? - Lupin interrompeu os dois.
- Claro - eles o olharam esperando.
- O que é que eu estou fazendo aqui? - perguntou finalmente, fazendo Gina também se virar para Draco com um olhar interrogativo.
- Bom, nós precisamos de um padrinho, não precisamos? - o outro respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Então, o que você me diz?
- Eu ficaria honrado - Lupin respondeu sinceramente.
- Ótimo. Agora vamos antes que o tempo da chave se esgote!
Remo retirou do bolso a caixinha com a fênix de prata e, instantes após tocarem-na, os três abriram os olhos em Toledo.
Draco sabia que o que estava fazendo era loucura, mas simplesmente não podia evitar. Queria se casar com ela. Queria poder dizer para quem quisesse ouvir que ela o escolhera. Para sempre. Quando chegaram à Toledo, ele deixou Lupin e Gina esperando na porta da Catedral. Depois, refez o caminho até a casa do Padre Pedro. Demorou um pouco mais do que planejava para encontrar o lugar, afinal, fazia tempo desde a última vez que estivera ali. Quando finalmente achou a casa, encontrou o Padre do lado de fora, no pequeno jardim. Chamou-lhe, sem conseguir esconder o sorriso que tinha no rosto e o Padre sabia, simplesmente sabia por que ele estava ali e o que ele queria.
- Veio cumprir sua promessa, hein?! Antes até do que eu imaginava! - exclamou bem humorado, enquanto entrava na casa para lavar as mãos que estavam sujas de terra e colocar uma batina limpa.
Pouco depois, estavam os dois caminhando pela cidade de volta para a Catedral. O mesmo caminho que fizeram juntos quando Draco se escondera ali. Fazia tanto tempo e tanta coisa mudara que ele encontrava dificuldades em se reconhecer como aquele mesmo homem. Mas isso não tinha importância agora. Tudo o que interessava era que ele iria se casar com a única mulher que amara. A única mulher que ele queria.
Chegando na igreja, encontraram Lupin e Gina esperando no mesmo lugar.
- Ah, então essa é a sua dama! - o Padre falou, segurando delicadamente as mãos de Virgínia entre as suas - Meus parabéns, meu jovem. Ela é belíssima.
- Eu sei, Padre, eu sei - Draco respondeu impaciente - Agora, será que dá pra gente continuar com isso antes que a noiva resolva mudar de idéia? - completou, meio brincando, meio falando sério.
- Está bem, está bem - e os quatro entraram na Catedral, que estava deserta naquele hora do dia. Deserta como quando Draco a vira pela primeira vez. Por um instante, ele novamente perdeu o fôlego diante da beleza do local e soube que não era o único quando Gina, que estava segurando a sua mão, virou para ele ligeiramente boquiaberta e exclamou baixinho:
- Ela é linda!
- Bom, vamos? - o Padre perguntou, guiando-os para o altar principal. Draco e Gina se colocaram de frente para ele e Lupin ficou um pouco atrás, do lado de Draco.
- Antes de nós começarmos, só para confirmar: vocês entendem que esse casamento não vai ter valor legal nenhum, não entendem?
- Sim, nós entendemos - Gina respondeu pelos dois.
- Muito bem, então. Ajoelhem-se.
- Nós estamos aqui reunidos hoje para celebrar em sagrado matrimônio a união de duas pessoas. Cada uma delas, eu tenho certeza, percorreu o seu próprio caminho, ao seu próprio tempo, até estar aqui, pronta para ajoelhar-se diante de Deus e fazer um juramento eterno. O matrimônio é talvez o mais importante dos sacramentos porque ele significa não só um compromisso com Deus, mas principalmente um compromisso que se faz com outra pessoa. E é somente através do amor e do respeito que vocês podem ter esperança de manter esse compromisso. Aconteça o que acontecer, seja na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença, vocês estão aqui hoje para fazerem o juramento de se amarem e de se respeitarem. Você, Virgínia, aceita de livre e espontânea vontade esse compromisso e faz esse juramento?
- Sim - respondeu Gina. Seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. Draco poderia apostar que, antes de tudo terminar, ela estaria chorando.
- E você, Draco, aceita de livre e espontânea vontade esse compromisso e faz o juramento?
- Sim - Malfoy respondeu, surpreendendo a si próprio com a onda de emoções que uma simples palavra pôde provocar.
- Vocês podem se levantar, então - o Padre falou - Onde estão as alianças?
Pronto. Ele fizera a pergunta pela qual Draco definitivamente não estava esperando. Como ele pudera esquecer logo algo tão importante?
Ele e Gina se entreolharam, ambos pegos de surpresa.
- Vocês podem usar as nossas - uma voz disse, às costas dos dois. O casal se virou, Draco sem saber direito o que pensar e Gina com um grande sorriso no rosto.
- Mamãe! - ela exclamou, abraçando a mulher que chegara.
- Nós não poderíamos deixar a nossa única filha se casar sem a nossa presença, poderíamos? - a Sra. Weasley perguntou, retribuindo o abraço da garota e Draco ouviu o resto da sentença apesar dele não ter sido proferido: 'mesmo que seja com um Malfoy'.
- Papai! - Gina continuou, abraçando agora o Sr. Weasley e ignorando qualquer atmosfera ruim. Ela estava tão feliz, mas tão feliz que Draco não se importou. Para vê-la assim, ele seria capaz de quase qualquer coisa. E se casar com as alianças dos pais dela não era assim tão ruim. Afinal de contas, eles podiam ser Weasleys, mas pareciam ao menos ter um casamento feliz e isso era tudo o que Draco desejava.
O Sr. e a Sra. Weasley tiraram as alianças e Lupin realizou um feitiço rápido para fazê-las caberem nos dedos do Draco e da Gina.
- Muito bem - o Padre disse, então - Agora que esse pequeno contratempo já foi solucionado, nós podemos continuar?
- Sim, claro - o casal respondeu junto, voltando ao seu lugar em frente ao Padre que abençoou os anéis e, então, disse:
- Virgínia - a garota o fitou séria, seus olhos cheios d'água e suas bochechas marcadas pelas lágrimas que já haviam caído - você deve agora colocar a aliança na mão do seu noivo, repetindo: 'Com essa aliança, eu te desposo'.
Obedientemente, ela segurou a mão de Draco e, enquanto fazia o anel escorregar para o dedo dele, disse numa voz ligeiramente tremida por causa da emoção:
- Com essa aliança, eu te desposo.
- Draco - o Padre falou após uma pequena pausa, sinalizando que o outro deveria fazer o mesmo.
- Com essa aliança, eu te desposo - Malfoy disse, fitando-a admirado. A mão de Gina dentro da sua parecia fina e frágil. Ela estava tremendo um pouco e ele a segurou firmemente, como quem quer passar tranqüilidade, mas, internamente, ele estava tremendo tanto quanto ela.
- Então, eu os declaro marido e mulher - concluiu o Padre - e lembro-lhes que o que Deus uniu no Céu, nenhum homem na Terra pode separar.
Pronto. Eles estavam casados. "Para sempre", pensou Draco e nenhum pensamento poderia ser mais agradável. Ele olhou para a garota sorridente na sua frente e não havia nenhuma sombra de dúvida pairando na sua cabeça. Ele a amava. Contra todas as chances, ele a amava.
Draco não conseguia vislumbrar o que aconteceria dali em diante. Conhecendo ela e se conhecendo, ele poderia apostar que os dois ainda teriam algumas boas brigas pelo caminho, mas ele sabia, simplesmente sabia que, independente dos desentendimentos e dos obstáculos, os dois continuariam juntos. Fosse qual fosse o futuro, eles o enfrentariam juntos. E era isso que importava.
Naquele momento, diante daquele altar, olhando a mulher que amava nos olhos e sabendo que ela o amava de volta, Draco Malfoy conheceu a felicidade perfeita. Emocionado demais para falar qualquer coisa, ele simplesmente sorriu, se inclinou e a beijou.
Seu destino estava selado.
N/A: Bom, só um comentário antes que qualquer pessoa me pergunte: os pais da Gina sabiam onde eles iam se casar porque ela contou quando estava tentando convencê-los a ir e eles chegaram lá da mesma forma que o Draco, a Gina e o Lupin.
