Capítulo 9 -  Uma Comensal

Ela queria falar com ele, mas estava com vergonha de ir até o quarto. Não sabia por que, mas estava com vergonha.

Talvez fosse porque ela estivesse com uma camisola não muito nova e pelo fato de que Draco poderia estar também de pijama e ela nunca o tinha visto com outra roupa que não fosse ou as vestes de Hogwarts ou algumas vestes de bruxo que ele usou em alguns dos encontros.

Depois de tanto pensar, ela resolveu ir. Já era tarde e Cho e Mione já se encontravam dormindo. Gina saiu da cama bem devagarzinho, com passos bem leves e quase pisou na cabeça de Cho. A menina tinha mudado de posição desde a última vez que Gina tinha a visto na luz. Mas por sorte ela conseguiu desviar a tempo e não pisou.

Ficou parada no corredor, estava bem escuro, já que não havia janelas por ali. Mesmo depois de ter tomado a decisão de que iria ver Draco, Gina ainda hesitou um pouco. "Será que ele já está dormindo?". Resolveu descer pra cozinha e tomar um pouco de água pra se acalmar e depois iria.

Se fosse outra pessoa, já teria trombado diversas vezes, mas Gina já estava acostumada com todos os móveis e foi tranqüilamente pela sala escura até chegar a cozinha. Chegando lá, acendeu a luz, e quase deu um grito quando viu Draco sentado na porta.

-O que – ela pôs a mão no peito, tamanho foi o susto – você está fazendo aí?

Ele riu da cara assustada dela. Achou que ela estava linda com a camisola e os cabelos desarrumados, ele adorava os cabelos dela.

-Não estava com sono... – "Claro, meu pai chega amanhã e depois disso você irá me odiar e Harry Potter estará morto. É fácil dormir pensando nisso!" – E você?

-Vim pegar um copo d'água. – Ela ficou em dúvida se falava ou não que estava indo para o quarto dele. Resolveu falar – Eu ia bater no seu quarto, queria conversar.

-Não é certo ir no meio da noite ao quarto de meninos, Srta. Weasley. – falou malicioso.

Gina estava de costas, enchendo o copo, sentiu-se aliviada que Draco não pudesse vê-la corar, mas não deixou de achar graça do comentário maldoso dele.

-Talvez se fosse só para uma conversa, Sr. Malfoy, não seria errado. – disse, ainda um pouco vermelha, se sentando ao lado dele.

-Você fica bem nesta camisola.

Gina queria que Draco parasse de falar coisas que a deixassem vermelha e desejou que sua mãe não tivesse lavado seus dois únicos robes pra que ela pudesse estar vestindo um agora, já que notou que Draco estava com um por cima de seu pijama.

Ela colocou o copo vazio do lado e tentou mudar de assunto.

-O que está te preocupando tanto, Draco?

Ele parou de olhar pra cima e encarou-a, não demonstrando que estava surpreso.

-O que te leva a achar que eu estou preocupado?

-Por você estar distraído, olhando pro nada, por você não ter reclamado de nada, de ninguém, já que na metade do tempo em que estávamos juntos em Hogwarts você só falava mal de Rony.

Draco abriu a boca pra falar alguma coisa, mas fechou-a. Era incrível como Gina reparou tudo isso nele. Então seu pai estava enganado. Seria melhor ele ter agido como ele mesmo e ter mostrado sua intolerância por todas as pessoas que estavam naquela casa e pela própria casa, mas agora ele já botara mais suspeitas, pelo menos em Gina. Mas, felizmente, ela só achava que ele estava preocupado, o que de fato estava, mas também estava aflito, desencorajado e com muito receio de fazer algo que poderia se arrepender.

-Não sei o que vou fazer do meu futuro. – Acabou confessando.

-Você não tem nada em mente, nada mesmo?

-Tenho algumas possibilidades, – respondeu Draco – mas talvez não sejam – 'corretas', ele quis dizer – realmente o que eu quero. – Ele se sentia bem ali, ao lado de Gina. Estivera, nos últimos minutos, sozinho, pensando o que valia a pena em sua vida.

Claro, ele sabia que Gina valia muito, que agora que ele conhecera um pouco desse sentimento que tinha por ela, não queria mais deixá-la, mas por outro lado, tinha sua família. Draco sempre se orgulhara dela, achava que era muito bom pertencer a uma família que tinha prestígio, gostava de ser temido por alguns bruxos, já que ele era o filho de um suposto Comensal. Mas desde que Gina aparecera, Draco viu que começou a se importar menos com isso, mas mesmo assim ainda gostava de todo esse poder. Mas se juntando a Voldemort ele teria que ser servo dele, obedecer, se submeter a tudo, destruir vidas, não que ele ligasse muito para os outros, mas matar alguém por motivo nenhum não parecia uma coisa muito – ele odiava esta palavra – justa.

-Draco? – chamou Gina.

-O quê? – ele voltou seu rosto para ela.

-Aí está. Você distraído de novo. Acho que não deveria se preocupar tanto com isso, não por enquanto. Tente aproveitar o tempo livre aqui, afinal depois não saberemos quando nos veremos.

Eles já estavam bem juntos, pois estavam sentados no chão, entre a porta. Então Draco passou o braço por trás de Gina, fazendo aconchegar sua cabeça no ombro dele. Ele sentiu o perfume que vinham dos cabelos dela, e disse meio pesaroso:

-Vai ser difícil não ter mais você por perto.

-Parece que você fala isso como se não fossemos nos ver mais.- comentou ela.

-Talvez não...

-Por que, Draco? Você não está querendo sumir e...

Draco calou Gina lhe dando um beijo. Ele não queria continuar um assunto que não acabaria bem, e além dos mais, palavras já não importavam muito agora.

E Gina também estava gostando. Já não estava mais se sentindo envergonhada desde que começaram a conversar e Draco parou de fazer comentários sobre moças comportadas. Ela sentia-se bem o sentindo junto de si bem frio. Normalmente ele não era quente, não emanava aquele calor que todos diziam ter quando estavam com a pessoa amada, não Draco era frio, mas isso não significava que ele não era carinhoso e que ela não gostasse de estar tão junta dele. Ela gostava muito, já se acostumara com a presença gelada de Draco.

Só que agora Gina estava sentindo que Draco, aos poucos, parecia estar menos gelado. Talvez, pensou ela, fosse o calor que ela sempre tinha, que estava deixando-o menos frio. E então Gina percebeu que seu rosto já não estava mais virado para a pequena trilha que tinha em frente à porta da cozinha, mas sim, pro lado de Draco e que suas costas já não estavam mais sem apoio, mas sim, encostadas no batente da porta. Draco tinha-a  virado tão suavemente e ela estava tão entretida no beijo que nem percebera. E agora, ela sentia as mãos de Draco em suas costas, puxando-a mais e mais pra perto dele, então se deu conta que suas mãos estavam na nuca de Draco, debaixo do robe, mas ela não as tirou dali, estava sim, colocando-as mais e mais e com decepção sentiu que Draco afastou seus lábios dela.

Draco a olhou nos olhos. Vendo que eles brilhavam mais do que ele podia lembrar, e sentindo as mãos dela querendo tirar seu robe, não lhe restou nada a fazer a não ser tirá-lo. Então olhou novamente pra Gina e viu que ela sorria, e não pode deixar de sorrir também, desejando que aquele momento durasse pra sempre.

Gina gostou dele ter tirado o robe, gostou que aquele toque frio de Draco tivesse sumido e voltou a beijá-lo. Ela não estava certa do que estava fazendo, pois não conseguia pensar direito, mil coisas vinham a sua cabeça e mesmo assim ela só conseguia se concentrar na sensação boa que estava tendo com Draco passando a mão no seu pescoço, ás vezes, indo pro seus cabelos. E quando Draco abaixou a mão e ela sentiu que ele iria querer puxar sua camisola, ela ouve um grito:

-VIRGÍNIA WEASLEY!

De tão assustados, Draco e Gina se soltaram e com uma rapidez enorme se levantaram tentando se recompor. Draco viu a Sra. Weasley parada na porta, que dava para a sala, envolta por um robe rosa e com a cara nada boa.

Mas Gina sabia que nada boa era pouco pra a expressão que sua mãe tinha. Ela sabia que quando sua mãe estava com o rosto muito vermelho, a respiração ofegante, com a cara assustada e ao mesmo tempo ameaçadora e a chamava de Virgínia, Molly estaria muito e muito furiosa e não bastariam palavras para acalmá-la, aliás, nesses momentos era melhor ficar calado.

-O que vocês dois estavam fazendo? – desta vez ela não gritou, mas falava com a boca quase fechada, o que era pior que um grito.

"Será que não era óbvio?", perguntou-se Draco. Ele estava se divertindo com a mãe de Gina bufando em sua frente, mas não demonstrou isso pra não piorar as coisas pro lado de Gina.

-Nós estávamos apenas, namorando! – ele falou isso com tanta calma, que fez Gina desviar um pouco a atenção de sua mãe e olhá-lo.

Ele parecia muito calmo, assim como a voz dele e se não tivessem naquela situação, Gina poderia jurar que os olhos de Draco brilhavam de divertimento. Mas aí ela notou o robe de Draco jogado perto do pé dele, mas que por sorte estava escondido da Sra. Weasley, já que a mesa tapava a visão dela.

Molly ignorou o comentário de Draco e se dirigiu para Gina:

-Você não colocou nenhum robe, Virgínia? Não acha que não é muito educado sair só de camisola na frente de uma visita?

-Eu não tinha nenhum. A senhora os lavou e...

-Você tem várias capas também, não tem? Por que não vestiu uma? – Gina viu que não adiantaria mesmo usar nenhum argumento pra escapar de sua mãe – E o senhor, Sr. Malfoy? Não colocou nenhum robe?

Horas depois, Gina desejaria que sua mãe não tivesse feito aquela pergunta pra Draco, pois com certeza teria evitado a confusão ou pelo menos ela seria menor. Então ele respondeu:

-Claro que eu coloquei um robe. – Draco já estava ficando irritado com aquela velha a lhes encher o saco, toda nervosa, ele odiava, principalmente, que lhe cobrassem maneiras, ainda mais que lhe perguntasse se ele não sabia se vestir.  – Eu apenas tirei-o e...– ele olhou pros lados, procurando o robe – Ah! Está aqui.

Draco se abaixou para pegar seu robe. E enquanto isso, Molly ficou mais irritada ainda pelo descaramento de Draco de admitir que tirara o robe e sabe se lá mais o que! Ela não controlou seus atos e pegou a primeira coisa que lhe apareceu na frente: um pequeno vaso de flores carmim.

-Mamãe... – tentou Gina. Mas foi tarde demais.

Quando Draco se levantou a única coisa que ele viu foi um vaso vindo em sua direção, antes de sentir uma enorme dor e cair desmaiado.

Gina soltou um grito quando viu Draco caindo e a Sra. Weasley no mesmo instante percebeu que não fizera algo muito sensato, poderia arranjar encrencas com os Malfoy e isto era o que ela menos queria.

-Gina, chame seu pai, se ele já não acordou com seu grito.

Gina estava debruçada sobre Draco, quase chorando, vendo a face pálida dele, mais pálida do que o normal.

-A senhora o matou! – ela disse a mãe, tentando conter as lágrimas.

-Não seja tola, um simples vaso não mata ninguém. Mas chame seu pai que é melhor levá-lo pra cama.

Gina então chamou o pai e os três, com um pouco de esforço e muito atrapalhados, conseguiram levar Draco ao quarto de Carlinhos e deixá-lo ali. E Gina continuava preocupada.

-Mas não seria melhor levá-lo ao hospital ou chamar um médico?

-Não se preocupe, Gina, eu já levei um desses na cabeça também. Não acontecerá nada, amanhã ele acordará e terá, no máximo, uma dor de cabeça.

Se Arthur teve a intenção de acalmar Gina, só piorou as coisas. Agora ela tinha a imagem da mãe como uma tacadora de vasos ambulante e não estava nada feliz que Draco fora vítima dela, afinal, a culpa fora mais sua por ter saído do quarto de madrugada, pensava ela.

E quando Gina acordou, depois de uma noite mal dormida pensando em como Draco estaria, ela foi dar uma olhada nele. Mas desceu as escadas, triste, já que ele ainda não tinha acordado e estava em um sono bem pesado.

Ela se sentou a mesa do café, onde já estavam todos. "Menos Draco...", pensou.

-Por que dessa cara triste, Gina? – perguntou Jorge.

-Você não parece bem – atalhou Fred.

-É. Tome esse chá, talvez você melhore.

Gina mal notava as palavras que lhe eram dirigidas. Só percebeu que uma xícara fora posta em sua frente. Bem, ela não estava com fome, mas resolveu que o chá ela deveria tomar. Mas quem o colocara ali mesmo? Ela nem sabia. E enquanto tomava o chá, levantou os olhos para a mesa. Notou que todos a olhavam de uma maneira divertida e não gostou disso, nunca gostou de ser o centro das atenções, isso a deixava envergonhada.

E do nada, lhe veio uma enorme onda de sono e Gina quase caiu de cara no seu prato, e como veio, o sono passou e ela voltou a si. Ouviu que todos estavam a rir, mas Fred e Jorge estavam muito contrariados e ela prestou a atenção na conversa deles.

-Mas eram pra ficar pretos. Impossível ela não estar enfeitiçada. Tem certeza que fizemos certo, Fred?

-Talvez tenhamos esquecido de algo...colocamos folhas de mandrágoras, não?!

-Colocamos. É, temos que admitir que ela está agindo por livre e espontânea vontade...

-Do que vocês estão falando? – Gina perguntou.

-Da poção descolorante. – responderam os dois.

-Depois que você a bebeu, era pra seus cabelos ficarem pretos, assim indicaria que você estava agindo sobre o efeito de algum feitiço ou maldição.

-Mas como eles estão brancos – continuou Fred – quer dizer que você não tem nada.

-Como assim, brancos? – perguntou Gina, enquanto puxava uma mecha de seu cabelo. – Mãããee!!! – ela se levantou e começou a correr atrás dos dois, que riam da cara nervosa que ela tinha.

-Não se preocupe, Gina – Jorge tomou fôlego – ela passa em uma hora.

-Aí seus cabelos voltaram a ter a cor normal. Não deixaríamos você com um cabelo de velha.

-Mas até que não é má idéia, Fred!

Eles corriam em volta da casa, Gina já estava ficando sem fôlego, ainda mais com a capa que ela estava vestindo, já que depois que a mãe lhe dera um sermão, quando colocaram Draco na cama, Gina não ousaria contrariá-la.

-Vocês irão ver quando mamãe souber disso – ela falou, parando de correr.

-Ela não poderá fazer nada!

-Nós já sabemos aparatar! –  e riam-se, sumindo pela porta da cozinha.

Gina andou até a cozinha também e quase arrancou um grito de sua mãe, quando esta a viu com o cabelo todo branco.

-O que foi isso?

-Fred e Jorge...uma nova poção deles.

-Até adultos, esses dois não tomam jeito. – murmurou a Sra. Weasley, fazendo uma cara de desistência – Gina você não poderia pegar para mim alguns legumes na horta?

-Eu vou me trocar – ela já não agüentava mais ficar com aquela capa. Ela estava com tanto sono e preocupada com Draco, que havia pegado a mais grossa e pesada – e logo venho.

Pouco depois de Gina sair para o jardim, Cho disse a Harry que queria ver a horta e foi para fora atrás de Gina, enquanto ele, Rony e Mione viam as novas invenções dos gêmeos.

=*=

A cabeça doía bastante. Mas mesmo assim Draco se forçou a abrir os olhos. Por um momento, ele se perguntou onde estava, já que não estava acostumado com aquele cubículo com cortinas vermelhas. Então se lembrou de onde estava e se lembrou também do incidente da noite passada. "Aquela gorducha acertou mesmo aquele vaso na minha cabeça. Mas que mulher! Espero que Gina não seja...", mas foi aí que ele se deu conta.

Seu pai havia dito que chegaria no dia seguinte e amanhã já era hoje! Draco, devido ao forçado sono, acabou não se decidindo sobre o que realmente queria e agora talvez fosse tarde, talvez a decisão já fora tomada por outros e Draco teria que segui-la. Mas mesmo assim ele não desistiu de tentar descobrir o que perdera.

Ele vestiu rapidamente as primeiras vestes que encontrou, coisa que nunca havia feito. Ele não precisou nem pensar, pois a partir do momento em que se aterrorizou com a idéia de que poderia ser o responsável pela morte de uma pessoa, Draco já havia decidido não ser comensal. Ele não se importava que as pessoas morressem tentando deter Voldemort, mas não queria se juntar a ele para matá-las.

Desceu as escadas pulando alguns lances e logo deu de cara com Harry, Mione, Rony e os gêmeos sentados na sala. Ele sabia que uma pessoa tinha que estar sumida, e se relutou um pouco se falava ou não com eles, pra perguntar sobre Gina e Cho e decidiu que seria melhor ir, mesmo depois do que acontecera, falar com a Sra. Weasley.

Ele atravessou a sala e foi até a porta da cozinha. Enquanto Molly trabalhava em frente ao fogão, Draco se lembrou do ocorrido de madrugada e pôs a mão na cabeça, sentindo um enorme galo, oculto por seus cabelos. Era certo de que isto não iria mata-lo, mas ele teve vontade de sacar sua varinha e jogar um Crucio em cima da senhora ruiva que cantava alegremente mexendo as panelas. Mas ele se segurou e disse calmamente.

-Bom dia, Sra. Weasley.

Molly se virou de imediato, sabendo que aquela voz arrastada era do namorado de sua filha. Apesar de saber que não havia feito nada de tão grave, sentiu-se aliviada pelo jovem estar bem. Não queria arranjar encrencas com os Malfoy.

-Bom dia, Draco. – ela resolvera que começaria a tratá-lo como sempre tratava os amigos de seus filhos: como seus próprios – Já é um pouco tarde, mas você pode tomar um chá se desejar.

-Não, obrigado. – ele estava sendo o mais formal possível. Por mais calor maternal que aquela mulher mostrasse, Draco não queria ter nenhum tipo de afeto com aquela família, que não fosse com Gina -  Eu queria saber onde está Gina.

-Ela foi pegar alguns legumes pra mim, mas depois voltou e disse que iria apanhar cogumelos. Vi que Cho Chang foi atrás dela, mas Gina disse não tê-la encontrado. Deve ter se distraído com qualquer coisa. Aquela chinesinha parece ter sempre vivido na cidade grande.

Mas Draco não achava que tinha acontecido isso. Na cabeça dele, Cho havia sido pega por algum comensal, como era o começo do plano: pegar alguém da casa e com isso atrair Harry para perto deles. Draco sugeriu senão seria melhor os comensais invadirem a casa, mas Lucio disse que assim sendo, Harry poderia escapar por pó de Flú,  ou de qualquer outro modo. Mas com alguém de refém, Lucio garantiria que Harry não escapasse.

"Preciso ajudar Chang, não posso deixá-la à mercê dos Comensais e Voldemort". Mas ele não sabia como faria isso, pois seria impossível enfrentar vários comensais e Voldemort sozinho, mas seria mais pior ainda enfrentar seu pai. Ele sabia que Lucio ficaria muito decepcionado com Draco estragando o plano, talvez até o deserdasse, o desconsiderasse como filho e Malfoy. Draco respeitava o pai demais pra ir contra ele, mas agora era sua vida que estava em jogo, não a taça de Quadribol, ou a das casas. Então ele foi até a sala.

Ficou parado na porta entre a cozinha e a sala, observando os cinco amigos a se divertirem. Logo que notaram sua presença, ficaram sérios e pararam de agir espontaneamente. Rony perguntou:

-O que você quer, Malfoy? Gina te deu um fora?

Draco ficou com uma raiva enorme. Ele não havia provocado-os agora, estava apenas tomando coragem para encará-los e dizer que precisava de ajuda para salvar a namoradinha do herói, alertá-los sobre o perigo de Voldemort. Mas vieram com pedras na mão. "Bem, o que eu podia esperar? Esta é uma típica ação minha". Mas mesmo achando que eles tinham razão em não confiar nele, Draco não mudou sua visão sobre eles: patéticos. "Se eu lhes contar, irão acreditar em mim? Provavelmente acharam que estou envolvido, o que é verdade. Mas não acreditarão que eu quero ajudar aquela Chang. Então eles que se danem! Eu vou me virar e salvar aquela coisa sozinho".

Então, ele simplesmente ignorou os rostos voltados para ele esperando uma resposta e foi para cima, no quarto de Carlinhos. Draco até cogitou a possibilidade de pedir ajuda a Gina, mas ele viu que teria que explicar demais, e ela não gostaria nada de saber tudo, além do mais, ele lá sabia onde tinham cogumelos?

No quarto, ele pegou a capa de comensal que seu pai havia lhe dado. Draco lembrou que, para seu pai, ele já era um comensal desde bebê, só precisava ter algumas experiências e magia negra. Seria uma grande decepção.

Sentando-se na cama, Draco sabia que logo viria um recado a Harry, informando terem pegado alguém da casa. Então ele colocou a mão no pescoço, querendo pegar a pedra e sentiu, quando a tocou, que estava quente e brilhava muito. Com aquela agitação toda, ele nem percebera que seu pai estava o chamando. Apertou a pedra e logo surgiu uma pequena seta, e Draco logo presumiu que teria que seguir a direção apontada. Então, ele tirou a pedra de seu pescoço e pegou a capa, virando ao contrário para que pudesse ser usada como capa de invisibilidade e a vestiu.

Desceu silenciosamente pelas escadas, e estando invisível, sentiu-se tentando a aprontar com os cinco, mas pensou melhor e viu que era necessário agir rápido. Saiu pela porta da cozinha e foi seguindo a direção em que a seta o ia levando. Logo percebeu que ela estava indicando para o bosque em que Draco havia visto quando chegou lá um dia atrás. Ele desvirou a capa novamente, agora já era seguro ser visto, e seguiu em frente.

Ele odiava qualquer tipo de lugar que tinha muitas árvores em volta não lhe dando a visão do que viria depois. Pegou isso desde o dia em que teve que cumprir detenção junto de Harry, Mione e Neville na Floresta Proibida. Claro, que depois disso ele viu Voldemort algumas vezes, mas não pode deixar de esquecer o seu pavor enquanto corria sozinho, largando Harry, tentando encontrar Hagrid junto de Canino. Aquela sensação ruim de pavor sempre voltava quando ele entrava em alguma floresta.

Mas desta vez ele sabia que seu pai e vários outros comensais estariam lá e não hesitou na hora de entrar por entre as árvores e moitas que formavam aquele bosque.

E depois de alguns minutos sem mudar de direção, a seta finalmente indicou outro lado e Draco pode virar, não tendo que continuar a andar só para frente. Apesar de ele não ter tido medo de entrar neste bosque, ele ficou agradecido por ele não ter as árvores tão juntas umas as outras como as de Hogwarts, pois assim permitiam que entrassem luz, o que não dava um aspecto sombrio a ele.

Foi quando ele viu que novamente a pedra indicou outra direção e virou. Depois de alguns passos, de trás de uma árvore surgiu alguém envolto numa capa, que Draco reconheceu como sendo de um comensal. Ele não soube definir se era bruxo ou bruxa, pois o rosto estava escondido pelo capuz. Mas logo a pessoa falou:

-Está atrasado, Malfoy.

Era uma mulher. Draco não conhecia todos os Comensais bruxos, mas as bruxas ele conhecia, pois não eram muitas e aquela voz que saiu por debaixo do capuz, ele tinha certeza, não era de nenhuma delas, mas lhe era estranhamente familiar.

-Quem é você? – resolveu, então, perguntar.

-Sabe, Malfoy, eu estava conversando algum tempo atrás com seu pai. Disse a ele que achava que sua paixão fingida pela Weasley era real. E ele, logicamente, não acreditou em mim. Mas admita, você gosta daquela fedelha, não é?!

Draco pensou um pouco. Ele sabia que já havia ouvido aquela voz, mas é claro, ela não era tão confiante e não tinha este tom sarcástico, o que podia mudar um pouco a voz.

-Não vou ficar dizendo nada a uma estranha que se julga muito superior. Onde está meu pai?

-Ora, Malfoy, eu posso sim, me achar superior. – ela parou bem em frente de Draco – Ainda não sabe quem eu sou?

Ele já estava ficando irritado com ela, já que não respondia nenhuma pergunta que ele fazia. Mas ela era uma Comensal e Draco não se atreveu a desafiá-la, não por enquanto.

-Quem é você? – perguntou pela última vez.

-Será que é tão difícil assim? – ela riu-se sozinha – Eu vou te dar umas dicas. Sou a namorada de um dos filhos dos Comensais e pertenço a uma grande família que tem cabelos vermelhos. Adivinhou?

-Não blefe. É feio mentir sabia?

-Oras, Malfoy, eu estou dizendo que sou sua namoradinha! Irmã de Rony, fui apaixonada por Harry Potter.

-Não é possível. Você não pode ser Gina! – ele disse incrédulo.

Então ela arrancou o capuz e mostrou o rosto delicado e com algumas sardas e os flamejantes cabelos vermelhos. "Mas é mesmo Gina! Por isso a voz era tão familiar...por isso não identifiquei, ela nunca falava assim com tanta confiança e cinismo. Eu não posso acreditar".

Ela estava rindo da cara de espanto de Draco.

-Você nunca imaginou que eu era uma Comensal, não?!

-Isto é impossível. – falou Draco – Você não pode ter mentido tão bem assim pra mim, Gina.

A garota então riu com mais vontade e então de repente ficou séria.

-Eu não posso acreditar que você pensou mesmo que eu era a Weasley! Como você é tolo, Malfoy! Pelo menos agora eu sei que conseguirei enganar aqueles nojentos que estão naquela casa repugnante.

Foi aí que Draco entendeu tudo.

-Você é, é Cho Chang?

-Claro, seu idiota, tomei poção Polissuco. Você é patético Malfoy. Quase não dá pra acreditar que é filho de Lucio.

Realmente, agora ela atingira os limites de Draco.