"N/A: Este capítulo é diferente. Ele é tipo uma songfic, mas não é. Pq na song (pelo menos nas minhas) a música é inteira e na ordem, e a fic é inspirada nela. Aqui, a música não está inteira, nem em ordem e eu apenas encaixei os trechos, ou seja, o capítulo não foi inspirado na letra".
Capítulo 12 – Por caminhos opostos
Música: Stigmatized – The Calling
-Draco você não pode fazer isso! – a voz de Lucio era quase inaudível, mas aos ouvidos de Draco era como se tivessem mil vezes mais alta.
Ele se abraçava a Gina para tentar não ouvir a voz de seu pai aclamando salvação, pra não sentir o terrível remorso que o sondava, pra tentar ignorar o amor que agora ele sabia ter por seu pai.
-Obrigada, Draco. Eu sinto muito... – murmurou Gina, que ainda sentia um pouco das dores, estava bem fraca.
If I give up on you I give up on me
Se eu desistir de você eu desisto de mim
Draco não pode deixar de se sentir feliz tendo Gina ali, ao seu lado, segura e viva, mas a voz de seu pai gritando logo tirou esse pequeno momento feliz e Draco não conseguiu mais resistir e levantou a cabeça, olhando para seu pai.
-Draco, eu sou seu pai, essa Weasley não pode valer mais...Draco...
Lucio estava mais branco ainda do que antes, na hora em que Draco lhe falou. Os cabelos estavam grudados na testa devido ao suor, que molhava suas vestes também. Draco nunca tinha visto seu pai desalinhado e sujo. Mas, mesmo sujo e desalinhado, não parecendo mais àquele imponente Malfoy, pra Draco ele era o seu pai e estava, por mais que ele pensasse que isso nunca aconteceria, lhe doendo muito perdê-lo.
"Talvez eu pudesse fazer algo pra salvá-lo, ainda há tempo", ele se virou pra Gina.
-Gina, me ajude. Pense, talvez nós possamos salvar meu pai, ainda há tempo, tem que haver um modo...
Gina abaixou os olhos e apenas fez um gesto para que Draco olhasse novamente para o pai.
A cabeça de Lucio já não estava mais levantada olhando para Draco, como estava a um segundo atrás. Ela estava caída em cima de seu braço e o seu corpo já não tremia mais, estava inerte, morto.
-Não! Não pode ter passado cinco minutos, não!
Draco se comprimiu à parede fina da proteção tentando sair, mas era impossível. Então ele foi andando até onde o pai estava. Ele tirou a mão para fora, para tocar em seu pai, mas não conseguiu. "Eu matei meu pai...eu o matei...meu próprio pai..."
-Vem cá, Draco. – Gina o abraçou, a única coisa que poderia fazer agora era consolá-lo.
Ela estava se sentindo triste pela morte de Lucio, por ser o pai de Draco, por ter morrido de uma maneira tão horrível. Mas Gina não pode deixar de lembrar de como ele era impiedoso e frio, não pode esquecer que era um Comensal e por isso, ela não derramou nenhuma lágrima. Ela não choraria, não conseguiria chorar, por alguém que já havia destruído tantas vidas, por alguém que planejava matar sua família.
-Ah, Gina...- murmurou Draco, no ombro de Gina. – Era meu pai...
Gina deu um beijo no rosto de Draco, e não pode deixar de reparar que ele não estava chorando. "Deve ser difícil não deixar as emoções irem embora com as lágrimas... é muito pior não chorar...", ela pensou.
Então ficaram ali, abraçados, tentando não pensar no que acabara de acontecer, esperando o veneno perder o efeito, o que durou meio hora.
-Draco...- chamou Gina – acho que já podemos sair daqui.
Ele levantou o rosto do ombro de Gina e a olhou. Ela nunca poderia ter pensado que veria Draco tão abatido como estava vendo agora. Ele não tinha aquele ar arrogante, nem superior que sempre mantinha, e seus olhos não eram nem frios, nem contentes, nem nada, estavam opacos, não tinha nenhum brilho neles.
-Nós precisamos conversar. – pelo menos, a voz arrastada permanecia.
Ela não achava que ele estava em condições de conversar. Queria apenas levá-lo dali, pra longe da lembrança de seu pai e deitá-lo numa cama pra que descansasse, ele não parecia nada bem. E aquele lugar, pra Gina, não parecia nada bom pra uma conversa.
-Acho melhor nós voltarmos e...
-Não. – a voz de Draco saiu firme, nada parecida com a aparência dele: acabado.
-Draco, você não me parece bem pra ficar aqui conversando. Ainda mais com... – ela mostrou o corpo de Lucio.
Draco abaixou a cabeça por um momento, parecia estar pensando, indeciso. Mas, então, ele levantou a cabeça, e parecia estar decidido.
-Eu vou chamar a carruagem e logo virão buscá-lo. E a mim também.
Gina sentiu um impacto quando Draco disse que também ia embora, mas ficou calada enquanto observava ele apertando uma pequena pedra verde.
-Acho melhor, já que você deseja conversar agora, colocar algum feitiço aqui, pois talvez os garotos podem vir atrás de mim, já faz um bom tempo que saí para colher cogumelos...
Draco concordou com a cabeça e conjurou algumas proteções pra que ninguém os visse, como aqueles antitrouxas que muitos bruxos usam.
Então, ele puxou Gina pra um pouco mais longe do local onde estavam, pra não ter que ficarem encontrando a toda hora a imagem de Lucio caído no chão, morto. Sentaram-se um de frente ao outro. Draco parecia muito decidido no que iria falar e Gina estava começando a ficar com medo disso.
-Eu gosto muito de você, Gina. Não quero ficar longe. – ele começou.
Gina achava que Draco iria dizer que não queria mais estar com ela, que estava arrependido de tê-la salvado, mas não, ele estava afirmando que gostava dela, que iriam ficar juntos, assim ela pensou.
-Eu também, Draco, muito. –ela sorriu e segurou sua mão, estava muito fria, como sempre. E apesar dela se declarar também, Draco não deu um sorriso, não mudou sua expressão.
-Eu tomei uma decisão, uma coisa que pode mudar nossas vidas. Uma coisa que vai mudar nossas vidas.
-Qual? – ela perguntou, não estava gostando do jeito sério que ele estava levando aquela conversa, não mesmo.
-Esses dias atrás, eu estava muito indeciso, como você pode perceber. Meu pai sempre havia dito que eu seria um Comensal, eu sempre quis ser um, mas de uns anos pra cá isso me pareceu confuso, idiota. Por que eu teria que seguir um bruxo que pode me matar a qualquer momento, que não terá piedade de mim? Eu fiquei me perguntando isso até ontem à noite. Então, quando eu acordei esta manhã, e vi que alguém iria morrer, quem quer que fosse, vi que não queria ter essa responsabilidade. Não que eu me importe, nunca liguei pra ninguém, até você aparecer. Eu não me importo que as pessoas morram, mas naquela hora eu não queria que elas morressem por minhas mãos, não me pareceu justo – ele fez um esforço pra dizer esta palavra – acabar com a vida de alguém sem motivos...
-Não é justo. Todo mundo merece viver, todo mundo.
-Foi por isso, Gina, que eu decidi, hoje de manhã, que não seria um Comensal, que não valia a pena.
Gina via que aos poucos o brilho dos olhos de Draco voltavam, mas ainda pareciam tão distantes... Indecifráveis.
-Você está certo, não vale a pena matar pessoas inocentes.
-Mas meu pai acreditava que sim.
-Oh, Draco, ele...- ela não sabia o que dizer – ele estava obcecado por poder.
-Também. Mas ele acreditava em Voldemort, sacrificava sua vida por ele. Ele queria poder ser alguém maior, ter mais poder.
-Não precisamos de poder, de sermos superiores a todos, Draco. Temos o amor, temos que conviver unidos, não brigando entre si.
-Amor. Há algum tempo eu diria que isto nunca existiu, que era uma bobagem, mas agora, depois que te conheci, não posso mais negar que exista... Mas...
-Mas?
-Eu matei meu pai, Gina. O desejo dele era que eu me tornasse um Comensal, sempre foi.
-Eu sei que seu pai achava que isto era uma coisa boa, Draco, mas você mesmo viu que não é. Então porque está ai, dizendo tanto que ele acreditava em Voldemort, que seu pai queria que você fosse?
-Porque eu vou ser um. – a voz de Draco já não estava mais fria e séria como antes, ele falava, agora, como Gina como sempre havia falado, mostrando o que sentia. Mas ela desejou, que naquela hora, ele estivesse falando sem sentimento nenhum. Assim ela podia pensar que ele estaria mentindo; mas ela sabia que não estava.
-Você – sua voz falhou um pouco – você disse agora pouco que decidiu não ser um.
-Disse, mas isso foi antes de matar meu pai. Agora eu irei fazer o que ele desejava.
-Draco! Você não matou seu pai. Você... Você me salvou...apenas isso. Não havia nada a ser feito.
-Oras, Gina! Ele estava aclamando para ser salvo. Ele nunca me deixaria morrer ali, sem fazer nada e eu simplesmente lhe pedi perdão e o abandonei. Eu tenho que fazer algo pelo meu pai, já que eu o deixei morrer, já que eu o matei.
-E você acha que seguindo Você-Sa... – "Oras, eu não tenho que ter medo de um nome" – Volde...Voldemort você fará jus ao seu pai? Você só estará se prejudicando, e a muito outros também.
-Eu estarei fazendo o que meu pai sempre quis, seguindo quem meu pai sempre seguiu e confiou. Eu só perderei você, Gina... – ele encarou-a, realmente não queria deixar Gina, não depois de tudo aquilo para salvá-la. – A não ser que você...
-Que eu?
-Que você se torne uma Comensal, que venha comigo.
Gina demorou um pouco para absorver o que Draco havia lhe dito. "Ser uma Comensal, se unir a Voldemort?".
-Draco até hoje eu ainda tenho pesadelos com aquele Tom Riddle. Até hoje eu ainda não consigo pegar num diário sem tremer e você acha que eu me uniria a Voldemort? – ela estava espantada consigo mesma por conseguir contar pra alguém que ainda tinha medo de Riddle, e estava contente por não ter mais medo de dizer Voldemort. Talvez tivesse medo sim, mas já conseguia pronunciar o nome tão temido.
Draco viu que os olhos de Gina, apesar de mostrar um pouco de insegurança, estavam com uma crescente fúria. Ele não tinha imaginado que Gina ficaria assim tão nervosa.
-Você pode esquecer isso, Gina. Não é por querer servir ao Lord, é para ficar ao meu lado, pra podermos viver juntos.
-Pra ficarmos junto não é necessário nos unirmos a ele. – Gina rangia os dentes, de tão brava com Draco – Basta apenas você desistir da idéia idiota de querer se juntar a ele e ficarmos juntos.
-Não é simples, Gina! Voldemort já pensa que eu irei ser um Comensal da Morte, ele já me considera um. E se eu de repente abandoná-lo, ele não aceitará calmamente. Ainda mais se ele souber que estou com você. É possível nos matar.
-Então lute contra ele! Torne-se um Auror lute para que ele seja derrotado, para que não hajam mais pessoas mortas.
-Danem-se as pessoas, Gina. Eu estou falando de você e eu. Estou dizendo que eu vou ser um Comensal, que vou fazer o que meu pai quer. Pra mim, agora, nada está acima do meu Lord, Gina, nada. Estou dizendo que quero que você se junte a mim.
-E se eu disser que eu não vou me juntar a você, Draco Malfoy? E se eu perguntar se eu estou acima do seu Lord, se o nosso amor está acima dele, o que você responderá?
Draco ficou confuso com aquela pergunta. Na cabeça dele, Gina o seguiria. Por ele saber que ela gostava muito dele, nunca pensou que ela não aceitaria, que ela o faria ter que pensar novamente se valia à pena ir para o lado das trevas. Ele se viu sem resposta. Já escolhera Gina uma vez, a escolheria de novo?
-Eu... Eu não sei.
Gina baixou a guarda. Sua voz se tornou calma e seus olhos eram novamente doces, como Draco se lembrava.
-Então, Draco. Se você está indeciso é porque não tem certeza do que quer. Pense é melhor ficarmos juntos, eu e você, não com um bruxo no nosso caminho.
-Meu pai e minha mãe estavam bem juntos, e seguindo Voldemort...
-Eles acreditavam numa mesma coisa. Você não está certo se quer isso e eu tenho certeza de que não quero. Draco, - ela o encarou, os olhos castanhos brilhando – não vale a pena. Fique comigo.
Tease me, by holding out your hand
Me provoque, estendendo sua mão
-Talvez isso seja melhor... – Draco estava quase se rendendo a Gina. Ela estava o convencendo de que a vida junto dela sem Voldemort seria melhor, ele não teria que servi-lo quando ele quisesse, nem teria que ficar matando pessoas a toda hora, parecia bom.
-É o melhor, Draco.
Então, fascinado pelos olhos castanhos de Gina, lhe chamando, não agüentou mais e a beijou. Ele tinha esquecido como era bom ter Gina em seus braços, a presença quente dela, se tivesse se lembrado disso nunca teria pensado na possibilidade de sair de perto dela. Mas, então, sem saber porque, veio a Draco uma vontade abrir os olhos, uma coisa que ele achava idiota durante o beijo, mas o fez. Então, ele acabou vendo o que não devia: o corpo de seu pai, ao longe, estendido no chão. E do nada ele largou Gina.
-Não.
-O que foi, Draco?
-Eu não posso, Gina. Meu pai queria e eu vou fazer o que ele desejava.
-Draco, eu não tô entendendo...
Draco estava novamente sério, como no começo da conversa, parecia que não tinha sentimentos, emoções.
-Vou ser um Comensal. Você queria vir comigo ou não. Eu não vou desistir.
Then leave me, or take me as I am
Então me deixe, ou me aceite como eu sou
-Mas Draco…
-Você virá comigo, Gina?
-E…eu… não sou importante pra você?
Novamente ele parecia meio incerto do que iria dizer, mas desta vez não voltou atrás.
-É muito importante pra mim, Gina. Mas eu não posso conviver com essa culpa... Meu pai quis dessa maneira... Eu vou seguir Voldemort...
Gina esqueceu as lágrimas que estavam querendo cair e se irritou novamente.
-Você não é culpado pela morte de seu pai. Ele próprio causou sua morte e se você se senti culpado, não vai ser se unindo aquele bruxo maldito e matando mais gente que vai melhorar sua situação!
-Você não entende!
-Eu entendo que você quer estragar sua vida, Draco. Não faça isso... Por favor....
-Gina – ele segurou Gina pelos braços e falou calmamente – eu vou seguir o caminho que meu pai queria, eu devo isso a ele já que o matei. Talvez não tenha matado, como você diz, mas o deixei morrer, o que não é diferente. Já está decidido, não tente mudar.
Gina não agüentou e começou a chorar. Ela o abraçou, ainda brava por ele querer ir para as trevas, mas a idéia de que iria perde-lo era mais forte e doía mais.
-Oh, Draco, você é um tolo. Eu nunca deveria ter gostado de você, nunca.
-Não me arrependo de ter salvado você. Eu não conseguiria mesmo conviver com sua morte, não mesmo. Te amo.
-Ah, Draco... Não quero me separar de você...
-Venha comigo, então, Gina. Não é tão difícil assim.
-Não posso, não mesmo. – falou soluçando.
-Isso é um adeus, Weasley...? – ele falou lentamente.
-É... É um adeus, Malfoy.
Então, se beijaram. As lágrimas de Gina escorrendo pelo rosto de Draco. O último beijo por um longo tempo. Dois mundos diferentes se separando novamente, seguindo caminhos opostos.
Eles já podiam ouvir ao longe o ruir das rodas da carruagem chegando, era mesmo adeus. Viveriam sempre marcados por um amor tão complicado e difícil de se viver. Estariam sempre estigmatizados.
We live our lives on different sides,
Vivemos nossas vidas de maneiras diferentes
But we keep together you and I
Mas continuamos juntos, você e eu
Just live our lives, stigmatized
Apenas vivemos nossas vidas, estigmatizadas
-Estou morrendo de fome… Onde se meteu, Gina? – reclamava novamente Rony.
-E eu estou preocupado, onde as duas podem ter ido? Já rodamos este bosque inteiro. Nem sinal.
-Falou certo, Harry. Rodamos, pois nem Rony sabe por onde estamos indo, creio que estamos andando em círculos.
-Claro que não! – falou Rony, indignado – Eu conheço este bosque como ninguém! Brinquei muito com Fred e Jorge aqui, eles me traziam e depois eu ficava perd... Ah, deixa pra lá. Mas olha – ele apontou o dedo – a gente não tinha passado por aquele monte negro ali.
-O que é aquilo? – perguntou Mione.
-Vamos lá ver.
Os três foram em direção ao monte negro e logo que se aproximaram descobriram que era Cho Chang amarrada numa árvore, com vestes muito estranhas.
-Quem fez isso com Cho? – Harry estava apreensivo – Vamos soltá-la.
-Espere, Harry. – falou Mione – Olhe as roupas dela!
-Parecem, parecem de... – Rony estava meio indeciso se terminava sua frase já que a cara de Harry era de incredulidade.
-Parecem de Comensal.
Os três amigos se viraram para verem quem falara e deram de cara com Gina. Mas não a Gina que estava sentada com eles no café da manhã. Era uma Gina com as vestes sujas, os cabelos embaraçados e com algumas folhas, o rosto mais pálido do que o normal e sem os costumeiros olhos brilhantes. Ela não parecia mais igual, havia algo que tinha mudado, parecia mais confiante, mais corajosa. Não parecia mesmo a Gina meiga e tímida que havia saído para colher cogumelos.
-Vo...você está bem? – Harry mal conseguiu falar.
-Estou, Harry. Mas acho que você não vai estar quando eu lhe contar algo sobre sua namoradinha...
=*=
-Por favor, Srta. Weasley. – a voz de Cornélio Fudge, ecoou pela enorme sala que estava tão silenciosa que parecia vazia, já que só o que se escutava era os passos de Gina indo para a cadeira ao centro.
Ela estava como coração batendo a mil, já que nunca estivera em um julgamento, nem nunca pensara que deporia em um. Encarou os cinco bruxos que estavam a sua frente, entre eles Dumbledore e o Ministro, e agradeceu que não precisasse ter que ficar de frente para as pessoas que estavam atrás de si, iria se sentir muito intimidada com tantos olhos a julgá-la.
-Conte-nos o que aconteceu, Srta. Weasley – falou Dumbledore com sua voz calma e seus olhos bondosos de sempre.
Gina começou a contar tudo nos mínimos detalhes, desde quando ela foi pega por Cho Chang até quando ela encontrou o irmão com os amigos. Ela já não parecia tão nervosa como estava antes, pois os olhos calmos de Dumbledore haviam lhe tranqüilizado.
E não muito longe de onde Gina estava, Draco a escutava atento. Ele se basearia no depoimento de Gina para dar o seu. Se ela dissesse a verdade ele admitiria tudo, mas se ela inventasse outra coisa pra que não se comprometesse, ele também iria concordar, só se, é claro, não lhe prejudicasse.
Mas apesar de seus esforços para se concentrar apenas nas palavras, Draco não pode deixar de ver como Gina estava mais bonita. Eles não se viam desde o dia da morte de seu pai e isso já fazia dois meses. E ele também não pode deixar de notar, assim como muitos que Gina parecia menos tímida, mais confiante em si mesma, e ele ficou feliz internamente por ela estar melhorando já que ele continuava na mesma.
I can feel the blood rushing through my veins
Eu posso sentir o sangue correndo nas minhas veias
When I hear your voice, driving me insane
Quando ouço sua voz, me deixando louco
Hour after hour day after day
Hora após hora, dia após dia
Every lonely night that I sit and pray
Em cada noite solitária que eu sento e rezo
Sempre pensava em Gina e se talvez não tivesse sido melhor ter ficado com ela. Mas logo vinha a lembrança de seu pai e Draco voltava a achar que escolhera o caminho certo, ser um Comensal. E ele já estava com a marca negra no braço. Voldemort fizera questão de oficializar logo a entrada de Draco ao seu grupo e também disse que ficou muito penalizado com a perda de um Comensal como Lucio. Draco pouco acreditou, mas isso não mudou sua decisão em servir a ele.
Ele viu que Gina estava terminando o seu depoimento. Ela relatara exatamente o que aconteceu, pelo menos a parte que ela sabia. Só omitira a roupa de Draco, que era de Comensal e que sabia que ele se tornaria um. "Ela tentou me proteger, ah, Gina...".
Gina sabia que Draco estaria ali no julgamento também, já que ele teria que depor, mas não o tinha visto até àquela hora, e quando foi voltar ao seu lugar viu o brilho de cabelos platinados e sabia que só havia um assim, o de um Malfoy.
Ela soube que o próximo depoimento seria o dele, mas não queria ficar ali por mais nenhum segundo. Não estava agüentando o clima tenso que havia na grande sala, então saiu de lá discretamente.
Já era noite, e céu estava como Gina gostava: sem nuvens, mostrando o brilho das estrelas. Ela ficou tão distraída observando os astros, que nem percebera que havia passado meia hora.
-Nesses tempos, com Voldemort voltando, não é seguro ficar sozinha sonhando com estrelas, Weasley.
Gina nem precisou se virar para saber que o dono da voz arrastada era Draco.
-Já terminou seu depoimento?
-Já. Agora será o trio perfeito. – disse, enquanto se sentava ao lado dela, em um banco.
-Trio perfeito?
-É, Potter o heróizinho, Granger a sabichona e Weasley o companheiro fiel. Pra mim são o cabeça rachada, a sangue-ruim e o lombriga vermelha, mas já que preferem chamar eles assim...
Ela não pode deixar de rir da graça de Draco, mesmo sendo de seu irmão e amigos que ele falava.
-Foi difícil pra Harry engolir a idéia de que Cho era uma Comensal.
-Pra mim também. Aquela chinesa metida a besta não merecia a honra de servir ao Lord... Não sei como ele a aceitou...
-Honra?
Draco deu de ombros.
-Já tentou se suicidar de saudades minhas? – perguntou.
-Ainda não. Sabe, Harry tem andado tão carente e eu também, então...
-Ah, Gina Weasley, você já me trocou por Potter? – falou tentando parecer indignado.
-Você sabe que não, Draco. Eu não...
-Eu sei. Você sabe que eu não considero o que você disse. Podemos ficar...
-Não. Não quero ficar junto de você sabendo que você pode ser ordenado a me matar a qualquer hora, ou matar minha família. – "Iria ser ótimo acabar com sua família", ele pensou – Melhor ficarmos separados, Draco.
-Você que quer, Gina. Nós poderíamos continuar juntos, mesmo eu sendo você-sabe-o-quê! – ele falou irônico.
We'll live our lives, we'll take the punches every day
Viveremos nossas vidas, levaremos socos todos os dias
We'll live our lives I know we're gonna find our way
Viveremos nossas vidas, eu sei que acharemos um jeito
-Não com a profissão que eu escolhi. – ela falou séria.
-E qual é?
-Acho que já está na hora do depoimento de Cho Chang, e este eu não quero perder. – ela fugiu.
-Então vamos.
Eles entraram novamente na sala, tentando ser discretos. Mas algumas pessoas cochicharam curiosas, querendo saber se o romance dos dois continuava, já que não disseram nada no depoimento e nem era necessário contar o que aconteceu no tempo em que Lucio morreu até Gina encontrar com o trio.
-Eu aposto que ela vai implorar perdão. – falou Gina, se sentando.
Draco estranhou o jeito diferente de Gina, normalmente ela ficaria com dó de Cho, ou então não faria comentários irônicos sobre ela.
-Disto todo mundo sabe.
O depoimento de Cho foi totalmente o contrário do de Draco e Gina. Ela distorceu os fatos, disse que Draco era um Comensal e que Lucio fora assassinado, apesar de nem estar lá na hora do ocorrido.
-Srta. Chang, - falou Fudge - a senhorita não pode afirmar que Sr. Malfoy fora assassinado já que não estava no lugar do fato. E são necessárias provas para culpar Draco Malfoy de também ser um Comensal, já que ninguém que depôs aqui hoje fez esta acusação.
-Claro que ele é um Comensal, ele me amarrou, e me vestiu para me incriminar. Eu estava apenas indo procurar Gina Weasley e ele me pegou.
-A srta. não havia dito que entrou na floresta porque Virginia Weasley a influenciou a ir atrás de um estranho barulho? Agora esta dizendo que foi procurá-la?
-NÃO IMPORTA! – Cho gritou – Eu sou inocente, não sou uma Comensal. – ela começou a chorar. – Vocês têm que acreditar...
-Devido às circunstâncias, nós só podemos acreditar no que dizem as Srtas. Weasley e Granger e o Srs. Malfoy, Weasley e Potter. E condená-la a Azkaban. – finalizou Fudge.
-Não!!! Vocês não podem fazer isso comigo. – ela correu até onde Harry e os outros estavam sentados e agarrou as pernas dele. – Harry, querido, fale pra eles que eu não sou das trevas, diga que você me ama, eu sou sua namorada, Harry!
-Você me enganou, Cho. Pessoas como você merecem Azkaban, eu sinto muito.
Cho cansada de implorar se levantou e antes que alguém pudesse tirá-la de perto, cuspiu na cara de Harry.
-Você matou Cedrico e sou eu que mereço Azkaban? Todos pensam que você é o herói, mas você não é nada Harry. Eu te odeio, você destruiu minha vida!
E a Sra. Weasley que estava perto se ofendeu com o cuspe. Ela se levantou de sua cadeira, apesar do esforço inútil de Arthur para mantê-la sentada, foi até a chinesa e começou a lhe dar bolsadas. E olha que a bolsa de uma bruxa com sete filhos não é nada leve, nem pequena.
-Você vai aprender com umas boas palmadas a ter educação, garota! – ela falava – Eu sabia que você não servia ao Harry.
Bem perto dali, Draco estava se divertindo com a cena.
-Olha, olha, ela vai acertar a barriga agora!
-Não acho graça nisso, Malfoy. É minha mãe ali.
-Fique contente, Gina. Os gordos braços de sua mãe estão servindo para algo – ele ria.
Gina ignorou os comentários de Draco e viu aliviada que estavam tirando Cho de lá. Ela tinha medo que, se não tirassem logo a chinesa, sua mãe também seria mandada a Azkaban por tê-la matado a bolsadas.
E Draco, que parecia meio chateado com a cena acabando, perguntou a Gina, distraído:
-A propósito, qual a profissão que você escolheu?
-Uma coisa simples: Auror.
Meia dúzia de pessoas se viraram pra ver quem era que tinha acabado de cair da cadeira ao lado de uma sorridente ruiva.
We're gonna live our lives
Vamos viver nossas vidas
Gotta live our lives
Temos que viver nossas vidas
Stigmatized
Estigmatizados
