Capítulo 14 – Chamas na Floresta Proibida

Depois de dois dias Gina voltou para Hogwarts. Agora ela sabia que seria praticamente impossível fazer as coisas certas, pois ela não conseguia de jeito nenhum tirar a dúvida da morte de Carlinhos: teria sido Draco ou não? Então, a primeira coisa que ela fez foi falar com Dumbledore sobre isto e ver se ele já havia pensando se deixava ela sair do cargo.

Como foi esperado, o professor a autorizou a deixar de ser Monitora. Gina sugeriu que Colin fosse o Monitor da Grifinória, mas como Dumbledore achou que ser capitão do time de Quadribol já era bastante coisa pra se fazer, e também se baseando na experiência de Gina de não ter tempo pra nada, ele achou melhor escolher uma outra aluna do ano de Gina que não tivesse compromisso com nada. E os dois também concordaram em escolher o Monitor da Corvinal como Monitor-Chefe, já que ele era bastante responsável. Assim, Gina pode tirar pelo menos uma coisa de sua cabeça, mas isso não diminuiu o peso que ela sentia a toda hora...

E o tempo foi passando. Pra felicidade de Gina, sua mãe, nem ninguém mais apareceu dando lhe outra notícia de morte familiar. Mas ela viu com pesar vários outros alunos se ausentando pela morte de algum parente ou próximo. Estavam mesmo em tempos de guerra.

Ela havia passado o Natal em casa mesmo, e soube que Rony, Hermione e Harry desistiram de fazer o que antes haviam planejado e agora estavam na Academia de Auror em treinamento. Gina não havia contado a ninguém a sua decisão de também ser Auror, mas aquilo, por enquanto, não era importante. Ela queria era encontrar Draco. Mas como? Não tinha coragem de lhe mandar uma carta, não depois de tê-lo rejeitado, depois de dizer que combateria contra ele: mas Gina necessitava saber se fora Draco o responsável pela morte de Carlinhos, ou se pelo menos ele sabia como tinha realmente acontecido. Ela precisava saber.

-Não podemos fazer isso! – disse Draco indignado, mas sem aumentar sua voz.

-Entenda, Draco, já não temos seu pai aqui. – "Ela vai repetir isso quantas vezes?" ele se perguntou – Esta mansão é grande demais somente pra duas pessoas, já era pra três também. Mas seu pai nunca quis sair daqui e...

-Eu também não quero, aliás, não vou. Impossível romper anos de tradição. Já está decidido.

-Draco Malfoy, você pode ter dezoito anos, mas eu ainda sou sua mãe.

Já fazia quase uma hora que Draco e Narcisa estavam discutindo sobre o destino que teriam eles e a Mansão Malfoy.

-A senhora pode ter o sobrenome Malfoy, mas não sabe o que é ser um Malfoy, não tem esse sangue correndo nas veias, não sente o quanto esta mansão é importante. Papai nunca quis sair daqui e não iria querer que nós saíssemos – "Talvez se ele tivesse vivo depois do que eu fiz, ele me expulsasse...".

-Pense comigo, querido, – Draco sabia que toda fez que sua mãe começava a lhe chamar de querido pausadamente é que ela já estava perdendo a paciência – nós não precisamos vendê-la, nem nada, apenas nos mudamos pra um lugar menor, menos suspeito, mais perto do Lord, só isso.

-Não podemos simplesmente sair daqui e deixar todos esses quadros, artefatos das trevas, largados.

-Deixarei alguns elfos cuidando de tudo, querido, já que de vez em quando será necessário virmos aqui para pegarmos alguma coisa.

-Já estou decidido, eu não saio daqui.

Narcisa fez um gesto de impaciência e foi se sentar numa poltrona perto da lareira.

-Você é realmente um Malfoy, Draco. Como pode ser tão obstinado como seu pai?

Draco deu um sorriso, vendo que sua mãe acabara se rendendo. A idéia de sair daquela mansão, que pra alguns era terrivelmente fria e assustadora, não entrava na cabeça de Draco. Ele pretendia passar o resto de sua vida ali. "Com quem quer que seja...".

-Não há nenhum lugar melhor do que aqui, mãe, não há.

Narcisa parecia nem ouvir o que Draco dizia, seus olhos estavam paralisados no crepitar da lenha na lareira, mas então ela piscou e virando-se para Draco, que estava atrás dela, falou:

-Antes que eu me esqueça, o Lord das trevas marcou uma reunião para amanhã para falarmos sobre o ataque a Hogwarts.

-Ah, sim, o ataque a Hogwarts... – ele repetiu se lembrando de uma certa ruivinha que estudava lá.

Como Colin tanto desejou, a Taça de Quadribol veio para Grifinória, apesar deste ano eles não terem Harry como apanhador, mas sim um garotinho do 5º ano. Fosse por ele, Grifinória nunca teria ganhado este último jogo, já que Sonserina foi quem apanhou o pomo, mas graças aos artilheiros, a casa do Leão ganhou pela vantagem de pontos.

A comemoração poderia ter sido mais alegre, se todos não tivessem receosos a cada passo que davam. Apesar de estarem felizes pela vitória, nos olhos permanecia a tristeza das mortes que eles sabiam estar acontecendo fora do colégio.

E assim foi o ano, muito pior do que o ano seguinte ao que Cedrico foi morto. Aquele foi um ano em que Dumbledore proibiu tudo o que ele poderia tirar dos alunos, mas logo depois de não haver nenhum ataque durante os meses seguintes, tudo voltou a ser normal.

Só que este ano, em que Gina estava no 7º ano, havia ataques, e tudo era o dobro do que foi naquele: eles não podiam mais sair após o anoitecer, as aulas de Hagrid foram transferidas para dentro do castelo, onde os alunos tinham que ficar apertados em uma sala junto dos bichinhos "mansos" que ele trazia; as aulas nas estufas com a Madame Sprout diminuíram, eram mais práticas do que teóricas e quando eles saíam para as estufas, Hagrid tinha que acompanhar a classe até lá e depois voltar com ela. Houve apenas um passeio a Hogsmeade; os treinos de quadribol só eram realizados com a presença de um professor no campo e a luz do dia. Os alunos só saíam do castelo no sábado à tarde, mas não sem ter sempre um professor olhando por perto – todos odiavam quando era a semana de Snape ficar com eles, o professor parecia ter repugnância ao sol e à alegria dos alunos, então fazia de tudo para tornar a tarde menos alegre, o que não era difícil naqueles tempos.

E assim foi o último ano de Gina. Já não bastava ter que estudar sem os encontros com Draco, sem as trabalhadas de Rony, sem a ajuda de Hermione, e... Ah, OK, sem a amizade de Harry, Gina tinha que ficar encarcerada no castelo.

Tempos depois, as notas dos testes finais haviam sido entregues, a maioria dos alunos já podia tirar esse peso da cabeça, inclusive Gina, que por pouco que não ficou com a nota baixa em DCAT; por sorte ela passou. Amanhã todos poderiam ir embora, volta para suas casas, ficarem perto de seus familiares, coisa que desejavam avidamente. E por terem tido esse ano tenso, resolveram dispensar os alunos nesses dois últimos dias. Assim quem quisesse podia ficar na biblioteca lendo, na sala comunal papeando ou até nos gramados fora de Hogwarts andando até os lugares permitidos.

E foi pelos gramados que Gina resolveu andar. Naquele dia, ela estava especialmente deprimida. Sabia que logo que saísse teria que encarar a dura verdade que por enquanto ela não via: trevas. Ela teve uma idéia de como estava sendo terrível quando passou o Natal em casa, mas daqueles tempos pra cá, as coisas pioraram muito e Gina estava com muito medo de encarar a realidade. Então, ela abandonou as suas companheiras grifinórias faladeiras e ficou caminhando sozinha pelos gramados não ligando se ela era a única aluna a andar sozinha por ali.

Ela resolveu dar uma passada pelas estufas, fazia muito tempo que não olhava algumas plantas engraçadas que havia por lá, talvez fosse a última vez que as veria. Ela olhava por fora, já que algumas plantas não eram muito amistosas para se tocar. E foi quando passava pela estufa três, que Gina sentiu algo lhe agarrando o braço e lhe puxando da pra dentro da sala. Teria gritado por pensar que fosse alguma planta carnívora, mas algo também lhe tampou a boca. Ela já estava se preparando pra tirar o que quer que fosse que estava em seu braço, quando lhe viraram subitamente e ela quase gritou novamente.

-Não! – ele disse tapando-lhe a boca de novo - Você pode chamar atenção.

Gina colocou as mãos nos joelhos e foi recuperando o fôlego. Quando sentiu que tinha ar suficiente pra falar, ela ficou ereta novamente e disse, encarando Draco com ira nos olhos.

-O que você está fazendo aqui? – "Ah, ele não devia estar aqui... não agora que eu estou assim vulnerável, não agora...".

Draco, por alguns instantes, perdeu a fala diante da imagem de Gina. Ele não a via fazia quase nove meses, e como ela mudara! Não parecia tanto com aquela menina ingênua e frágil que ele vira naquele dia em que tropeçara na mochila dela. Parecia tão mais madura, as palavras mais decididas, os olhos mais penetrantes, se não fosse por Gina resistir aquele dia, dia da morte de seu pai, Draco a teria agarrado por ali mesmo, fazia tanto tempo que ele não sentia a pele dela contra a sua, sua presença sempre aquecedora. Draco queria terrivelmente tocar nos cabelos de Gina, mas não podia, ela quisera assim, não podia.

-Eu estava preocupado – falando assim, nem lhe parecia que havia a admirado a segundos atrás, ele parecia até meio desinteressado – por seu irmão.

Uma onda de tristeza invadiu Gina; ela se esqueceu de como era bom ter Draco ao seu lado. Agora, lhe parecia que era terrível vê-lo e lembrar que ele fazia parte de um grupo que destruía vidas, que destruíra a vida de seu irmão.

-Você – ela tinha medo de lhe perguntar aquilo e ele lhe responder afirmativamente – sabe quem o matou?

-Sei. – ele estava ficando com medo que ela desmaiasse, não havia cor em seu rosto – Eu estava lá.

Gina se apoiou em uma mesa ao seu lado e foi aí que ela percebeu que estava dentro da estufa das mandrágoras e ficou preocupada com isso.

-Ma...Malfoy! – ela falava baixo – Olha onde você nos trouxe, se alguma dessas mandrágoras acordar...

Era duro pra ele a ouvir dizer Malfoy ao invés do habitual Draco, que ele tanto gostava de ouvir com a voz dela, como também era difícil pra ele dizer Weasley, ao invés de Gina.

-Não se preocupe, elas estão cobertas pela terra, não há perigo de ouvirmos os gritos de nenhuma.

Gina não ficou nem um pouco tranqüila, se esta foi a intenção de Draco. Ela estava mais apreensiva, já que notava que nem todas as mandrágoras estavam totalmente cobertas.

=*=

Não muito longe dali, um grupo de dez dragões, trazidos não se sabe como, começava a tacar fogo na tão negra Floresta Proibida. Era impossível de se ver, mas havia cerca de dez bruxos em cada dragão, bruxos com vestes muito negras e com uma capa com um inconfundível capuz, eram Comensais da Morte. As chamas dos dragões eram tão grandes que podiam alcançar várias árvores de uma vez, fazendo com que o trabalho fosse mais rápido.

Com tudo em fogo, logo os habitantes estranhos da temida floresta começaram a correr por todos os lados para escaparem das chamas que acabavam com qualquer tipo de vida por ali.

Também não demorou muito pra que os alunos de Hogwarts percebessem o que estava ocorrendo e começassem a correr para dentro do castelo, onde achavam que estariam protegidos.

E na floresta, quando unicórnios, lobos, vampiros, aranhas, centauros, e os mais variados tipos de animais mágicos, tentavam escapar saindo debaixo das árvores em chama, logo eram pegos por ataques de comensais, que estavam estrategicamente posicionados para que não sobrasse nenhum bicho sequer vivo. Voldemort planejara isso nos mínimos detalhes, então, não havia como dar nada errado. E ele podia observar tudo, vendo de cima de um enorme dragão negro, que vinha por último, apenas trazendo Voldemort e alguns Comensais.

Do lado da floresta que dava pra Hogwarts, não havia Comensais, então, algumas criatura conseguiram escapar por lá. Uma enorme aranha, seguida de outras também não muito pequenas, iam em direção a cabana do guarda-caças pedir socorro.

Hagrid se encontrava dormindo, pois passara uma longa manhã plantando legumes em sua horta e agora estava descansando. Mas logo quando ouviu Canino latindo e rangendo para a porta, ele despertou e viu que estranhos barulhos vinham de fora. Abriu a porta rapidamente, e se encheu de felicidade ao ver o seu "bichinho de estimação" da infância ali, com alguns de seus familiares. Mas logo sua alegria sumiu dando lugar ao desespero por ver mais além das aranhas: a Floresta Proibida em chamas.

Ele, rapidamente, mandou Aragogue pra detrás de sua casa, onde ela ficaria protegida das chamas. Hagrid olhou desesperado as criaturas que tentavam escapar com vida do fogo, ele sabia que precisava ajudar. E foi o que fez.  Enquanto se preparava pra sair ele chamava insistentemente Canino, mas o cão não parecia. Sem paciência pra continuar a chamá-lo, Hagrid começou a procurar pelo cão e não foi difícil encontrá-lo. Ele estava escondido, tremendo debaixo da cama, provavelmente vira Aragogue e devia estar com medo. Hagrid até tentou puxá-lo para fora, mas parecia impossível tirar o cão dali, mesmo com sua enorme força.

Desistindo de levar Canino junto, ele saiu de sua cabana. A primeira coisa que fez foi olhar em direção ao castelo. Foi aliviado, que Hagrid viu que não havia muitos alunos por ali, e o que ainda restavam corriam para dentro do castelo. Então ele foi para dentro da Floresta. Sabia que deveria falar com Dumbledore, mas é claro, que o sábio bruxo já devia estar sabendo do incêndio, já que era impossível de não se ver. Ele continuou indo adentro, pois seus amigos da Floresta precisavam dele, agora mais do que nunca.

Ele não precisou andar muito pra encontrar um unicórnio com a pata queimada e em carne viva. Hagrid rapidamente o pegou nos braços e com o sangue prateado escorrendo entre suas mãos, já que criatura também estava cheia de cortes, ele correu até sua cabana e o deixou perto de onde estavam as aranhas.

E Hagrid foi indo assim, cada vez mais entrando Floresta adentro, onde o fogo estava pior e onde havia mais criaturas machucadas. E no momento em que Hagrid voltou-se para a Floresta, dando as costas para um pequeno diabrete que ele havia trazido, vários Comensais começaram a aparecer, vindos pelos lados da Floresta. Mas Hagrid nem os notara, pois já estava Floresta adentro de novo e mal olhava pros lados, compenetrado em tirar o maior número de criaturas vivas dali.

Os Comensais, não tendo ninguém pra impedi-los, começaram a matar, não só os bichos que escapavam correndo das chamas, mas também os que Hagrid havia salvado há pouco. Eles agiam rápido, não dando tempo de defesa a criatura, usando magia negra muito forte, pois sabiam que se hesitassem ou se usassem feitiços simples, as criaturas mágicas poderiam revidar ou simplesmente não morrer, já que eram muito resistentes. Mas infelizmente, todos estavam sendo abatidos.

Quanto a Hagrid, não se viu mais. Talvez tenha sido envolto pelas chamas, ou senão algum galho em fogo lhe caiu, fazendo-o perder os sentidos. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, só se sabe que ele nunca mais voltou depois que deixou o pequeno diabrete, e que ele arriscou a vida pelas criaturas que ele tanto amava. Talvez tenha sido melhor assim, pois ele não viu que os animais que ele havia salvado estavam agora mortos pelas mãos dos Comensais.

=*=

Gina desviou sua atenção das plantas e voltou a encarar Draco. "Ele está preocupado comigo pela morte de meu irmão...ele deve estar se sentindo culpado...não! Foi ele então...".

-Dra...Malfoy, – Draco quase sorriu ao ver que Gina quase o tratou com intimidade – foi você?

-O quê? Se fui eu que matei seu irmão? – Se Gina achou que ele tinha algum remorso, só que ela descartou por completo essa idéia, já que ele falava tão espontâneo, despreocupado, mas sem perder o tom formal que agora um usava com o outro.

-Sim, você o matou ou não?

-Eu posso dizer que dei uma ajuda. – as pernas de Gina fraquejaram e ela se apoiou novamente na mesa ao seu lado – O idio, quer dizer, o seu irmão foi morto por tentar me atacar. Aquele nojento do Pilcher não pode deixar de resistir em lançar umas maldições, mesmo o Lord ordenando que ninguém fosse morto.

-Não foi você então? – Draco balançou a cabeça.

Gina sentiu um enorme alívio ao saber disso e conseguiu ficar em pé novamente, sem precisar se apoiar em nada. Mas então Draco veio com outra pergunta que a deixou novamente consternada:

-Por que uma Auror?

-O quê? – ela estava meio distraída, ainda absolvendo a idéia de que Draco não era culpado de nada.

-Por que você quer ser uma Auror? – ele perguntou novamente.

-Porque... – Foi aí que Gina se deu conta. Ela não sabia o porquê. Havia falado aquilo no dia do julgamento de Cho Chang sem pensar e sem saber acabou mantendo a idéia em sua cabeça. – Por quê?

-É, Gina Weasley, por que você quer arriscar sua vida por uma causa perdida? Por que você não desiste dessa idéia de querer enfrentar coisas que você nem imagina como são aterradoras, por que você quer estar do lado oposto ao meu?

-Porque...-Gina não sabia o que responder, mas então ela olhou para Draco. Os olhos estavam frios... Frios como quando ela os conheceu. Sabia que ele nunca mais seria o mesmo. Ele perdera um pouco do que era quando estava com ela, pois ninguém que se envolve com Voldemort pode voltar a ser como era novamente.

-Ah, entendi. Você estava mentindo aquele dia, não quer ser uma Auror, falou isso pra eu desistir de ser Comensal, pra eu pedir pra você voltar comigo...foi isso, não?!

-Não. Serei Auror porque – agora Gina nem pensou nas palavras, elas simplesmente saiam – algo me diz que já que você está fazendo o mal, eu tenho que fazer algo pra deter isso e fazer o bem. Não sei, mas tenho que redimir o que você faz fazendo o contrário, tentando te mostrar que não vale a pena...lutando pelo que eu acredito.

-Você acredita em amor? – Draco a pegou desprevenida com aquela pergunta.

-Sim, mas...

-Nós nos amávamos naquele dia, acho que ainda nos....- ele não conseguiu terminar a frase – Pois então, se você acredita em amor, por que não lutou por ele naquele dia?

Gina ficou indignada.

-Claro que eu lutei. Não deixei você ir embora com as mãos cruzadas, eu insisti pra que você ficasse comigo, eu lhe julguei, briguei pra lhe mostrar que você estava errado, mas você escolheu o outro lado, você!

-Esses sentimentos compartilhados não se misturam com de que lado a gente está, Weasley, não importa pelo que a gente luta.

-Claro que importa. Como você quer que eu continue junto de você sabendo que você pode matar minha família a qualquer momento; sabendo que você pode matar qualquer um; sabendo que aquele bruxo maldito só vai querer causar transtornos e você vai ajudá-lo nisso; sabendo que você está lançando maldições que lhe marcarão mais do que a quem recebeu? Como podemos continuar juntos se lutamos por coisas totalmente diferentes e que são inimigas? Não, eu não posso.

 -Se você se juntasse a mim...

-Não, eu nunca vou me juntar as trevas. Este aqui é o lado certo e você sabe, você me falou isto. Mas não, por essa sua idéia tola de que é culpado pela morte de seu pai, de que precisa fazer o que ele queria...então continue aí, destruindo sua vida e destruindo a minha também.

-Eu não estou pedindo pra você ser Auror, pra lutar contra mim.

-Não é isso, ou será que você não percebeu que a idéia de você estar correndo perigo a toda hora me deixa terrivelmente apreensiva? Você não sabe como isso é horrível.

Gina mantinha as lágrimas que queriam sair, nos olhos. Não ela não iria mais chorar.

Draco queria abraçá-la e dizer que lhe amava, mais do que nunca, mas não podia. Não podia por saber que se ele fizesse isso romperia a barreira de formalidade que os dois estavam mantendo e que mesmo depois de rompê-la, ainda continuariam a brigar, pois nenhum abriria mão de que seu lado estava certo. Então, só restou aos dois ficarem quietos. O silêncio às vezes é o melhor diálogo.

E ficaram algum tempo assim, até os dois colocarem a cabeça em ordem pra não dizer mais nenhuma besteira, então Draco quebrou o silêncio.

-Você...- Draco se calou. Ele hesitou se falava o que queria ou não. "Ela que me abandonou... oras, eu não devo mostrar que sinto sua falta...", ele se decidiu. Não ia dizer nada a Gina, mas quando viu as palavras já estavam sendo pronunciadas – Você está muito bonita.

Ela se enterneceu com aquele comentário e quis dizer a ele que para ela, ele nunca parecera tão belo como estava agora. Parecia que a distância e a separação faziam com que eles dessem mais valor um ao outro. E ela quase ergueu sua mão para lhe tocar o rosto, mas então se lembrou o motivo por que estavam separados e se manteve firme.

-Você não deve me achar tão bonita quanto ao seu Lord, já que me trocou por ele.

Gina deu um sorriso que fez com que Draco perde-se toda a sua calma.

-Ora, Gina, você sabe que...

-Não me chame de Gina, Malfoy. Eu não tenho intimidades com Comensais.

Draco deixou seus olhos frios e mais brilhantes do que nunca, só que de raiva. "Agora ela me priva de chamá-la pelo nome, oras...".

-Você se esquece do que eu fiz pra te salvar, Virginia Weasley? Se não fosse por mim você estaria morta junto com sua maldita família e com Potter.

-Minha família não é maldita como a sua. Você nem tinha amor por seu pai, o deixou morrer. Eu nunca hesitaria em salvar o meu pai se estivéssemos em semelhante situação.

Gina se arrependeu no instante seguinte de dizer aquelas palavras, palavras que ela sabia não serem verdadeiras. Ela tinha plena consciência de que daria sua vida pela de Draco, sem hesitar. Mas o estrago já fora feito e ela pode ver como Draco ficou magoado com aquilo, mas rapidamente tirou isso de seu rosto e disse:

-Weasley, a família perfeita. Usam vestes de segunda-mão, mas têm o amor como lema. Não podem contar com um galeão no cofre de Gringotes, mas podem contar com o apoio da família em situações difíceis. Oh, eu preciso dizer a minha mãe que a amo e que recuso a mansão, as roupas novas, os presentes caros, tudo pra que ela saiba que nada importa só o amor dela. – ele tinha falado tudo isso com a voz totalmente irônica, o que foi deixando Gina também irritada, mas mudou, de repente, pra um tom de acusação – Acorde, Weasley, eu nunca...

Draco subitamente se calou. Ele, assim como Gina, ouviu um forte e estridente grito vindo detrás de sua cabeça, uma mandrágora. Por sorte, ela era muito novinha, então os dois simplesmente perderam os sentidos e caíram no chão da estufa. Por sorte também, Draco não pode terminar o que dizia, pois se terminasse nada no mundo faria com que Gina voltasse a amá-lo.

E enquanto Draco e Gina jaziam desmaiados na estufa de número três, um enorme dragão negro pousava em frente ao castelo e dele Voldemort descia, e se possível com aqueles lábios de cobra, ele sorria.