Os alunos estavam apavorados. A maioria deles estava na sala comunal de sua casa e se perguntava como a Floresta Proibida poderia ter pego fogo; como Dumbledore pôde ter deixado isso acontecer?
Claro que se Dumbledore soubesse o que estava acontecendo, ele faria algo, mas naquele momento era impossível poder saber de algo ou até fazer algo. Assim como todo o corpo docente da escola.
Horas antes do ataque dos dragões a Floresta Negra, Dumbledore havia convocado uma reunião com todos os professores para ser determinado no que eles ajudariam na guerra, assim que acabassem as aulas. Todos estavam dispostos a ajudar, inclusive o Prof. Binns, que por ser um fantasma, nada poderia fazer. Passaram horas conversando decidindo onde cada um atuaria e quando já estavam quase terminando, a Profa. Minerva McGonagall murmurou:
-Vocês não estão sentindo algo estranho?
Todos olharam para a professora como que pedindo explicações sobre o que era estranho. Mas quando ela já ia abrir a boca para dizer o que era, todos começaram a sentir um terrível cheiro vindo de algum lugar. Ficaram procurando por cima e debaixo da mesa, tentando achar o causador daquele mal-estar. Então, Snape torcendo o nariz, falou:
-Isso é uma planta rara... Usada para...
POF's!
Todos os professores, inclusive o Prof. fantasma, caíram desmaiados no chão.
Logo depois de alguns minutos andando pelo chão inspecionando se todos estavam mesmo caídos, o pequeno rato que havia espalhado o veneno pela sala, saiu pela porta em direção a sua antiga sala comunal: a torre da Grifinória.
Chegando lá se transformou em humano, em Pedro Pettigrew. Estava usando vestes negras de Hogwarts que ele pegara do Monitor da Corvinal quando roubou as senhas das salas comunais. Entrou rapidamente, pois ouviu no corredor, que logo vários alunos começariam a chegar aos montes e ele teria que se transformar em rato. Mas pelo menos com aquele movimento ele soube que os dragões já estavam queimando a Floresta, pois a cara dos alunos era de desespero.
Quando entrou novamente na sua antiga sala e se transformou, veio ao pequeno rato uma vontade enorme de se transformar novamente e voltar a ser humano para poder correr até seu antigo dormitório. Mas havia muitos alunos por ali, então ele se sustentou com a idéia de ficar andando pela sala comunal inteira enquanto espalhava novamente o veneno. Logo depois que todos já estavam desmaiados, Pettigrew transformou-se de novo e foi para as outras salas comunais, fazendo o mesmo. Ele não precisou chamar os alunos que eram aliados de Voldemort já que estes haviam se reunido há muito numa sala onde sempre faziam reuniões.
Depois de tirar as vestes negras de Hogwarts, Pedro seguiu para o saguão para esperar seu mestre.
Logo depois de descer do dragão negro, Voldemort se virou para a Floresta para admirar a paisagem de devastação que fizera. Isso deu tempo para que os outros dragões, que continuaram a lançar labaredas, descessem para que os Comensais que estavam em cima deles pudessem acompanhar seu mestre na entrada do castelo.
Quando Voldemort se voltou novamente para o castelo, dois Comensais já haviam ido à frente e aberto os grandes portões de carvalho de Hogwarts. Tratavam-no como se fosse um rei, o mais cruel dos reis. Ele foi andando em passos lentos, admirando Hogwarts, sua nova morada. Não fora fácil desfazer secretamente todos os feitiços, proteções e encantamentos que protegiam a escola, por isso agora ele sentia um imenso prazer em poder tomar partido dele.
No momento em que Voldemort entrou no castelo pareceu que - por todas as maldições que ele já havia feito, que ele já recebera, por todo o seu envolvimento com as artes das trevas – com sua presença maligna, todo o castelo se encheu de uma onda negra, não o deixando com aquele ar aconchegante e amistoso de antes, mas sim com um jeito frio e assustador.
-Bem-vindo, Mestre. Como planejado...to... Todos estão desacordados. – falou Rabicho que apesar de tanto tempo de convivência não conseguia deixar de tremer toda vez que falava como Lord.
-Muito bem. – a voz de Voldemort não era mais do que um sibilo medonho – Onde está minha sala?
-Subindo por aqui, Mestre.
Rabicho e os outros conduziram Voldemort até uma sala ampla que já estava decorada com tapetes, cortinas, poltronas, tudo ao modo do Lord: negro.
-Já mandaram os fedelhos embora?
-Es... Estamos providenciando, Mestre, estamos providenciando.
-Pois então ande logo... Tenho pressa.
Então, os Comensais encarregados, os que tinham estado na Floresta matando os animais fugitivos, começaram a levar os alunos e professores desmaiados para fora da escola. Demoraram muito tempo nessa tarefa, mas por fim, todos já estavam lá, deixados no chão de terra nos portões de Hogwarts. Alguns Aurors começavam a chegar, pois moradores de Hogsmeade puderam ver os dragões, mas nada podiam fazer pra deter os Comensais; os dragões estavam na porta, protegendo o castelo de qualquer um.
Depois que todos foram deixados pra fora, Rabicho voltou para junto de Voldemort trazendo alguns prisioneiros. Voldemort parecia estar animado pra o que viria a seguir. Seu plano funcionara perfeitamente, ele havia destruído a Floresta Proibida, dominado o castelo sem problemas e agora vinha a parte final: se vingar de alguns inimigos.
-Muito bem, – disse o Lord encarando os três bruxos que se encontravam na sua frente – vocês duvidaram que eu chegaria aqui, não? Subestimaram-me – ele se voltou pra Sirius e Dumbledore – e traíram-me. – disse pra Snape – Agora chegou a hora da vingança.
Voldemort se levantou de sua poltrona e foi bem em frente de Severo Snape, que estava com os braços amarrados por trás e parecia meio zonzo ainda pelo veneno, assim como os outros. Voldemort o encarou com fúria:
-Snape, Snape... Ninguém faz isso com o Lord e sai impune. Acho que você deveria ter pensado nisso antes de me trair.
Snape abriu a boca para dizer algo, mas antes que pudesse proferir qualquer palavra, Voldemort gritou na sua frente:
-Imperius!
Snape automaticamente fechou os olhos, pronto pra receber o feitiço e tentar resistir, mas nada lhe aconteceu. Então ele os abriu e viu que quem tinha sido vítima da maldição: Black, que agora jazia inerte ao seu lado, os olhos vidrados.
-Volde... – tentou dizer Dumbledore enquanto parecia fazer algo pra deter Voldemort de usar Sirius.
-Avada Kedavra!
No instante seguinte, um corpo caiu duro no chão, o corpo de Severo Snape.
-Sempre me perguntei porque esses bruxos insistem em querer lhe proteger. Olhe ele – disse apontando para o corpo de Snape – acabou de se matar por você. O que eles ganham lhe ajudando Dumbledore? Nada.
-Ganham vida. Você tem centenas de seguidores, mas a maioria só está ao seu lado por medo, não porque acreditam em algo, não porque confiam em você, não porque prezam a vida.
-Eles ganham poder.
-Poder não é tudo, trevas só levam a morte.
-Fracos como você, Dumbledore, não merecem viver. – ele se virou pra Rabicho – Dê a varinha ao Black.
Rabicho foi se aproximando de Sirius, tremendo, com medo de que o bruxo pudesse sair do transe e se transformasse em cão lhe dando uma mordida. Ele entregou a varinha a Sirius e saiu o mais rápido possível de perto.
E Voldemort, controlando Sirius com o Imperius, ordenou:
-Lance um Avada em Dumbledore!
Sirius, com as mãos já soltas, virou-se em direção a Dumbledore e se aproximou. Tinha os movimentos duros e seus olhos não tinham brilho algum, estava mesmo sob o comando de Voldemort.
E no momento em que ele estava bem próximo a Dumbledore e com a varinha já apontada, foi que Voldemort percebeu que Dumbledore murmurava algo baixinho. Sirius, de repente, conseguiu se mover novamente, e entendendo o que estava acontecendo não demorou muito pra se unir com Dumbledore e sair dali.
A fúria do Lord era tão grande que o castelo parecia tremer enquanto ele voltava, a passadas pesadas, a se sentar em sua poltrona.
-Não ficara por isso... Ah, não... E tirem esse traidor daqui! – disse se referindo ao corpo de Snape.
=*=
Bem perto dali, numa certa estufa três, dois jovens se encontravam desmaiados há algum tempo. Até que o louro, com olhos cinzas, acordou.
Draco olhou a sua volta, ainda se sentindo tonto pelo grito estridente da mandrágora, e demorou um pouco a lembrar onde estava, até que viu Gina.
Ela estava caída na terra, como ele, seus cabelos estava meio sujos e isto o fez lembrar o dia em que ele espalhou tinta nos dois. Ele sabia que naquela época nunca imaginaria que iria gostar tanto daquela garota que não parava de chorar e rir. Mas agora, ele sabia que seria impossível viver sem ela. Só que Gina já não queria mais uma união, então ele se contentaria em saber que ela estava bem. "Mas por que tem que ficar lutando contra mim?"
-Será que você não percebe que eu preciso de você? – murmurou baixinho, enquanto passava a mão no rosto dela.
Se Draco, uma vez, tivesse dito a Gina que precisava dela, que ela era tudo, se ele estivesse disposto a largar tudo, ela também o faria. Mas ele era orgulhoso demais pra isso e agora já era tarde.
Draco se sentia demasiado cansado pra levantar-se dali, poderia ficar mais horas e horas observando Gina, estando ao lado dela, coisa que não poderia se saísse daquela estufa, se voltasse pra realidade. Mas ele sabia que não podia fazer isso, então se forçou a levantar.
A primeira coisa a fazer era procurar um tapador de ouvido, pois não queria ouvir novamente outro choro, poderia ser fatal. Achando os tapadores, Draco colocou um em si e outro em Gina. Então ele foi verificar se todas as mandrágoras estavam cobertas. Vendo que algumas estavam com a cabeça de fora, Draco teve que cobri-las, não demorando mais do que cinco minutos pra isso. Terminando, se agachou ao lado de Gina e tirou os tapadores dos dois.
Novamente, Draco não resistiu a tentação de ficar olhando-a, que naquele momento parecia tão frágil e carente. "Por que ela tem que ser tão teimosa? Auror... Auror...". Então, num impulso, se viu passando a mão nos vermelhos cabelos de Gina, coisa que ele estava ansiando há tempos pra fazer.
Mas foi aí que se lembrou porque estava no castelo, para a missão com Voldemort. "Será que já dominaram o castelo? Ah, amor estúpido, amor estúpido... não era para eu estar aqui!", ele pensou. Mas mesmo reclamando por ter ficado ali tanto tempo ao invés de estar com Voldemort, Draco sabia que não havia, pra ele, nada melhor do que estar com Gina, nada.
-Gina... – Draco a cutucou – Gina, acorde, você precisa sair daqui...
Gina, depois de alguma insistência de Draco, conseguiu abrir os olhos lentamente. Ela se espreguiçou devagar, não notando que estava no chão. Parecia ter acordado de um sono profundo. Então, já meio acordada, ela olhou para o lado.
-Draco? O que... – então tudo lhe voltou a mente, a briga, a mandrágora – A mandrágora! Você a tampou?
-Tampei sim, Weasley. – Draco reforçou bem o Weasley pra Gina se dar conta de que ela o havia chamado de Draco. Ele não se importava, mas ainda lembrava muito bem de que ela havia dito que não queria intimidades com um Comensal.
E Gina percebeu o que ele fez e notou que o chamou pelo nome. Ela abaixou os olhos, vendo que cada vez mais os dois se distanciavam com essa coisa tola de sobrenomes. "Mas não era isso que você queria, Gina Weasley?" ela se perguntou. Sim, era isso, mas é muito difícil se separar de alguém que se ama, de alguém que se precisa.
Draco viu que ela parecia triste enquanto tentava tirar a terra de suas vestes e cabelos. Mas ele não fez nem disse nada pra tentar melhorar a situação. "É culpa dela, estaríamos juntos, mas ela quer assim, ela que sofra..." pensou, mas teve que admitir depois pra si mesmo que ele também sofria.
-Malfoy... – Gina tentou dizer algo, mas no instante seguinte, desabou em lágrimas e sentou-se novamente no chão, fazendo com que seu trabalho em limpar suas vestes fosse em vão.
Draco ficou sem ação Ele sempre ficava sem ação quando Gina começava a chorar, ainda mais quando ele não sabia o motivo. "Chorar... ela só sabe chorar? Eu não lhe disse nada demais...ou disse? Ah, porque tem que ser tão sensível?".
-Precisamos ir, Weasley...
-Você... Mas eu... Não dá – ela soltava soluços baixos, não conseguindo falar. – amor estúpido... - Seus olhos estavam baixos, escondidos como quando sempre chorava: debaixo de seus cabelos. Se estivessem a mostra, se Gina estivesse encarando Draco, com certeza ele não agüentaria em ficar ali parado, pois seus olhos tinham uma enorme tristeza: a tristeza que Gina sentia em não ter Draco.
-Weasley eu não estou entendendo nada. – Draco tenta se controlar ao máximo pra parecer frio. Só que suas pernas já estavam quase dobrando pra chegar mais perto de Gina e então, ele se viu agachado ao lado dela. – Weasley...
-Você nunca entende... mesmo, você é um tolo... – Gina já estava conseguindo se manter, já estava parando de chorar.
-Talvez se você me olhasse e explicasse – ele disse enquanto colocava a mão por baixo do queixo de Gina e levantava seu rosto, obrigando-a a encará-lo.
Os olhos dela ainda estavam úmidos e o rosto estava mais pálido do que nunca. Ela mordia o lábio inferior pra tentar conter os soluços insistentes. Seus olhos estavam vidrados nos de Draco e mais do que nunca ela quis sentir os lábios dele pressionando os seus. E como que adivinhando seus pensamentos, ele começou a se aproximar; então Gina viu que ele também queria isso. Mas...
-Não, Malfoy. – Gina tirou a mão de Draco e desviou seus olhos pra baixo, se levantando. Ela sabia que se Draco tivesse sido mais rápido ela não o pararia e eles teriam se beijado, assim como sabia que se eles tivessem se beijado ela não conseguiria mais deixá-lo e era necessário deixá-lo, então parou.
Ela olhou para ele, que também se levantou, e não viu sentimento nenhum em seus olhos, nem mágoa, nem raiva, nada. "Melhor assim...", pensou.
-Você sabe aparatar, Weasley?
"Que pergunta é essa?", Gina fico confusa.
-Sei.
-Então aparate pra Hogsmeade, você ficará bem lá.
-Não. Vou voltar para o castelo, amanhã é o último dia. Além do mais, não se pode aparatar nas propriedades de Hogwarts.
-Se tudo deu certo, agora se pode.
-Tudo o quê? – ela perguntou.
-Você saberá, Weasley. Agora vá pra Hogsmeade. Não me obrigue a transportá-la.
-Se você me explicar porque eu devo ir, talvez eu vá.
Draco já estava ficando irritado com a teimosia de Gina e ela estava também por Draco achar que mandava nela. Então ele a levou pra fora da estufa. Foram caminhando sem dizer nada, Gina atrás de Draco, então ele parou.
-Quero que você saia daqui por isso! – ele disse apontando pra Floresta toda destruída e com alguns pequenos incêndios em algumas partes.
Gina levou as mãos à boca, não acreditando no que estava vendo.
-Mas... Mas o que aconteceu?
-Voldemort.
-Mas... e as criaturas, oh, Hagrid ficará tão triste...
-Todas as criaturas devem estar mortas, era pra ser assim. Agora você vai embora?
-Não! Eu preciso ir pro castelo, preciso ver o que o Profº Dumbledore vai fazer...
-Há essas horas Dumbledore já deve estar morto.
-O quê? – Gina não podia acreditar no que Draco dizia – É impossível, eu vou lá.
Gina deu um passo em direção ao castelo, mas Draco a segurou pelo braço.
-Não. O castelo já deve estar cheio de Comensais e provavelmente com Voldemort também. Você quer se matar?
-Talvez fosse melhor...
Gina se sentiu vazia por dentro. A sua escola, que a acolheu, onde ela viveu muitos momentos felizes, como tristes também, estava tomada pelas trevas. Ela queria alguém pra abraçá-la e dizer que ia ficar tudo bem, precisava ser amparada e só havia Draco. "Acho melhor eu ir mesmo... Antes que me traia...".
-Entende porque você deve ir?
-Está bem. Eu vou embora. Adeus, Malfoy.
-Adeus. –disse enquanto a observava se afastar e com um movimento sumir. E enquanto ia andando ele ficava repetindo incessantemente: - Maldito amor, maldito... Estúpido...
Logo que Gina chegou a Hogsmeade, deu um jeito de chamar seu pai para lhe buscar. Estava abalada demais pra aparatar de novo e ainda era nova nisso. Horas mais tarde, em sua casa, ela pode saber em detalhes pelo pai e os irmãos, como havia sido tudo, sobre os dragões, a emboscada com as criaturas, e também soube que Snape havia sido morto, mas que Dumbledore e Sirius haviam escapado. E o mais triste foi saber que Hagrid estava desaparecido; ela gostava demais do gigante.
Mas logo os dias passaram e Gina teve que superar isso, pois o dia da sua ida a Academia de Auror chegara e ela já estava partindo, apesar dos protestos de sua mãe e de Percy. Seu pai e o restante dos irmãos também estavam preocupados, mas deixaram-na seguir o que quisesse.
E agora ela se via dando adeus pra sua família enquanto o trem começava a ganhar velocidade. Estava deixando pra trás a vida que tinha levado até agora, estava começando outra fase.
