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Trecho da música em negrito: Stigmatized – The Calling
De repente, uma claridade invadiu os olhos de Draco e ele os abriu. Há um minuto estava na escuridão de um castelo desmoronando e agora estava sob o brilho intenso de um sol escaldante, mas como? Ele olhou para o corpo que estava agarrado: Gina. Ela parecia estar desmaiada. Então deitou levemente na areia quente e se levantou com um pouco de dificuldade, devido à dor. Seu corpo inteiro doía, mas nada que o impedisse de poder olhar ao redor.
Estava num deserto. Ele mal podia ver, pois o sol quase cegava seus olhos. Enquanto estava no castelo, sentira frio e agora estava sentindo um enorme calor, já que gotas de suor começavam a escorrer pelo seu rosto. Enquanto limpava sua testa do suor com a manga da capa, viu uma casa. Não era bem uma casa, parecia mais com uma cabana grande.
Draco olhou mais atentamente e notou que havia uma pequena senhora sentada na sombra da varanda. Parecia que ela ainda não havia visto que eles estavam ali, tão entretida estava num emaranhado de linhas que segurava.
Ele tomou forças e com a garganta seca gritou:
-Ola!
Mesmo longe, a mulher pode ouvir a voz de Draco. Ao invés da cara de espanto que ele esperou que ela fizesse, a senhora deu um grande sorriso e fez um gesto pra que ele viesse até a casa, enquanto ela entrava. "Como você quer que eu carregue Gina se mal consigo me manter em pé?". Ele quis gritar para mulher, mas logo ela saiu novamente e viu com alívio que ela vinha na direção dele.
-Meu jovem! – disse a senhora quando se aproximou - Você está tão machucado, venha vou lhe ajudar a ir até... – então ela viu Gina deitada na areia – Oh! O que aconteceu com essa pobre moça?
Antes que Draco pudesse pronunciar qualquer palavra, a senhora tirou uma varinha do meio dos seios e conjurou uma maca para Gina, que ainda sangrava muito, devido ao corte que ia do umbigo até as costas, além das pernas quebradas. Ele respirou com alívio novamente por saber que ela era uma bruxa, e não uma trouxa com recursos estranhos.
Foram até a casa e lá Gina foi colocada, ainda inconsciente, em uma cama; enquanto a senhora conjurava ataduras, pegava poções de dentro de um armário e sempre sorria para Draco. Ele a achou muito parecida com Madame Pomfrey pelo jeito como manejava as poções, mas permaneceu quieto. A mulher deu-lhe vários copos de água e um de estranho líquido azul, para sua perna quebrada, que Draco bebeu sem reclamar. Sabia que ela não queria lhe fazer nenhum mal.
A dor já estava menos intensa e Draco sabia que era por ter bebido aquela poção. Ele estava cansado, e queria ficar ali na cadeira onde estava e até tirar um cochilo, mas sua preocupação com Gina era maior. Então, se levantou, como pode, e foi até onde ela estava deitada. Ficou observando a mulher lhe passando poções, lhe colocando algum tipo de faixa. Uma hora ela olhou para cima e encontrou o olhar preocupado de Draco em direção a Gina, então murmurou:
-Ela vai ficar bem.
Parecia que Draco precisava desta confirmação, pois no momento seguinte relaxou por completo e se jogou novamente na cadeira onde estava. Seus olhos estavam quase fechando, mas ele se forçou a não dormir, então começou a observar os móveis e objetos ao seu redor. Notou que havia alguns objetos desconhecidos, então, supôs que a senhora também tinha alguns costumes trouxas. E quando já tinha se entediado com tudo aquilo foi que achou algo interessante: uma lareira.
Draco se levantou e foi até lá e ficou feliz ao ver que havia pó de Flú em um pequeno vasinho ao pé da lareira. Eles poderiam ir embora dali. Já estava imaginando pra onde iriam quando a mulher falou:
-Você me fez lembrar que eu tenho que comunicar sua chegada ao Ministério.
-O quê? – ele perguntou.
-Qualquer pessoa que chegar aqui deve ser levada ao Ministério, você sabe, a chave do portal os traz aqui. Mas, sabe querido, vocês são os primeiros a virem.
Draco não estava entendendo nada. Chave do portal? Ministério? Isso só poderia ser coisa de Gina, pois ele com certeza não tinha nenhuma ligação com o Ministério e muito menos possuía uma chave do portal.
-Então chegamos aqui por uma chave do portal? Mas qual? – Draco nem notou que aquela pergunta denunciava que ele não tinha nada a ver com o Ministério.
-Você deve ter batido a cabeça em algo, não?! Esta chave. – disse ela segurando um botão preso no pouco que restava da capa de Gina. – Se você não é um Auror, ela provavelmente é.
Não havia nenhum tipo de censura nas palavras dela, parecia ser compreensível demais. Mas então Draco se lembrou: Gina havia desmaiado ainda no castelo, ele a sacudiu pela gola da capa pra que ela acordasse, "Então fui eu que encostei na chave...".
-Ela é. – ele conseguiu dizer.
Draco percebeu que ela não sabia que ele se tratava de um Comensal e se perguntou se ela sabia o que era um Comensal.
-Então foi por ela que vocês dois estão aqui, meu bem. Agora descanse. Vai demorar um pouco para o pessoal do Ministério chegar, até porque eu ainda tenho que chamá-los e também levarão um baita susto, já que nunca ninguém precisou vir aqui.
Ele estava entendendo agora. Aquele era um tipo de refúgio para os Aurors quando estivessem precisando, mas pelo que a senhora dizia, nunca ninguém o havia usado. "De qualquer modo eu não posso ser visto pelo Ministério. Eles me mandariam direto pra Azkaban". Draco olhou novamente pra Gina, deitada e parecendo sem vida. O que ele mais queria era continuar ali, ao lado dela até que ficasse bem, até que ela pudesse abrir os olhos e ele pudesse sentir o calor dela, mas não havia alternativa.
Então, quando a mulher disse que pegaria mais água lá fora, Draco achou a oportunidade perfeita pra fugir. Foi até Gina e deu-lhe um beijo leve. Queria levá-la consigo também, mas isto arriscaria a vida dela, já que estava tão frágil.
-Eu volto. – ele murmurou, como se ela pudesse ouvir. Foi até a lareira, pegou um punhado do pó e quando as chamas ergueram, ele gritou – Mansão Malfoy!
=*=
Gina abriu seus olhos lentamente. Sua cabeça doía um pouco, mas se forçou a observar mais atentamente o lugar onde estava: tudo branco. Paredes, janelas, as macas ao seu lado, os lençóis, a camisola que vestia, era tudo branco. Ela não sabia onde estava, nem por que estava ali. Não conseguia se lembrar, mas algo dentro de si a fez sentir que era por algo muito triste, pois sentia que perdia algo. Então não agüentou e começou a chorar.
Seu choro logo atraiu a atenção de uma jovem enfermeira que descansava sentada em uma cadeira longe de Gina.
-Acalme-se. – ela disse carinhosamente enquanto oferecia a Gina um lenço.
Gina o aceitou, e logo que estava se recompondo e ia perguntar a enfermeira o porquê dela estar ali, quando três pessoas entram na enfermaria.
-Harry, Rony, Mione!
Rony correu até Gina, feliz por ela estar acordada e bem. Ele a abraçou forte e logo os outros dois também o estavam fazendo.
-Que bom que você está bem, Gina! – falou Rony.
Ela o olhou, confusa.
-O que aconteceu, eu não me lembro... Por que estou aqui?
Os três se olharam.
-Nós esperávamos que você explicasse o que aconteceu, Gina. – falou Mione. – Você estava no refúgio Auror, muito machucada e agora está na enfermaria do Ministério.
-Refúgio Auror? Não sei como... Eu...
A enfermeira, que havia ficado um pouco de lado falou:
-A srta. sofreu uma grande pancada na cabeça, creio que não deve se lembrar de algumas coisas. Mas eu lhe darei uma poção e dentro de alguns dias tudo ficará bem.
-Você se lembra onde foi depois que derrotou Pilcher? – perguntou Harry.
-Pilcher? – ela estranhou.
-Sim, você o derrotou, como disse o Comensal a Voldemort.
-Eu não me lembro disso... Eu nunca cheguei perto de um Comensal...
-Gina, – tentou Rony – você é uma Auror!
Sua cabeça estava zonza.
-Impossível! Eu ainda nem acabei o quinto ano e... – foi então que Gina percebeu. Se ela estava dizendo que estava no quinto ano, o trio a sua frente deveria ter dezesseis e eles com certeza tinham muito mais do que vinte. – Eu não estou entendendo nada!
-Você se esqueceu de muitas coisas. – disse a enfermeira voltando – Tome isso que logo você melhorará.
Gina tomou o líquido que lhe era oferecido, e logo suas pálpebras ficaram pesadas. Ela não conseguiu mais manter sua visão concentrada nos três e caiu no sono.
-Eu posso vê-la, então?
-Sim, mas seja rápido, ela está dormindo.
Fossem outros tempos, Draco não conseguiria entrar tão fácil dentro do Ministério, ainda mais ir na enfermaria assim, livremente. Ninguém o reconheceria, não enquanto ele mantivesse rosto transfigurado.
Fazia dois dias que ele tinha deixado Gina naquela cabana no deserto e agora, como ele dissera, voltara.
Logo que se aproximou dela, tirou a transfiguração de seu rosto e voltou a ser o velho Malfoy. Ele a olhou com carinho, querendo abraçá-la, ter certeza de que estava bem. Sentou devagar ao lado dela, enquanto observava que estava pálida, algo não muito comum. E já ia tocar-lhe os cabelos, quando Gina abriu os olhos.
Ele imediatamente mostrou um de seus raros sorrisos quentes e a encarou.
-Saudades? – perguntou.
Mas a reação da garota foi totalmente diferente do que ele pensava.
-Malfoy?
Por sorte Draco previu o que ela faria e tapou-lhe a boca antes que começasse a gritar.
-Gina! O que foi? – ele disse depois de murmurar um feitiço pra que ela não gritasse. – Parece estar com medo de mim.
A garota o olhou estranhamente. "Por que Malfoy está me tratando tão intimamente? E por que meu coração está acelerado como se eu gostasse de vê-lo?", ela se perguntou.
-O que você quer, Malfoy? – sua voz saia num sussurro, devido ao feitiço.
-Gina, não acredito que depois de tudo aquilo você ainda vai continuar agindo assim. Acabou, Voldemort não existe mais, você não precisa ser mais Auror, eu não preciso ser mais Comensal... Chega de Malfoy e Weasley, está bem?
-Você enlouqueceu, Malfoy?
-Não, mas você sim!
Ele achou que ela o acolheria de braços abertos, com o sorriso que lhe deixava mais quente por dentro, e agora ela vinha com repulsa pra cima dele. "Talvez isso resolva!". Draco se inclinou sobre Gina e levemente encostou seus lábios nos da garota, que ficou sem ação com aquele gesto. E ele já a estava envolvendo com seus braços, quando ela o empurrou.
-O que você acha que está fazendo? Patético, isso Malfoy. Não sei o que você quer, mas suma daqui.
-Gina, você está bem? – ele disse ainda com ironia.
-Estou ótima. Não entendo o porquê disso, mas eu sei de uma coisa: vindo de você não é nada bom, pelo contrário, só pode ser sujo. Saia daqui, Malfoy, ou será que eu vou ter que te dizer que eu sempre te odiei desde o momento que você enfrentou Harry; desde os dias que você insulta minha família? Não entendo onde você quer chegar com isso, mas não vai me enganar querendo bancar o Malfoy bonzinho agora.
Draco viu que não parecia em nada aquela Gina que ele havia visto na Floresta numa noite chuvosa, nem de perto. Ela parecia aquela garotinha de quinze anos com quem ele trombara em um dia num corredor, pois a cada três palavras que Gina dizia, apesar de serem firmes, tinham leves tremores por trás, ela parecia mesmo estar com medo dele.
-Você precisa de tempo. Adeus. – ele disse, desfazendo o feitiço e saindo.
Gina não sabia por que, mas sentia um leve aperto no peito enquanto Draco saia.
=*=
"Gina...
Eu ainda não consigo compreender a sua reação a minha presença ontem. Confesso que eu não esperava beijos e abraços, mas nunca desprezo. Não depois de termos passado tudo que passamos, durante todos esses anos, depois de quase termos morridos juntos.
Esta é minha última tentativa. Já conseguimos viver cinco anos separados, não?! Talvez uma vida inteira não seja tão ruim. Mas a quem eu quero enganar? Acho que você entende, eu espero que você entenda.
Desta vez vou deixar por sua escolha, não vou mais insistir, mas não vou desistir. Eu preciso de você. Demorei pra entender isso, pra admitir pra mim mesmo e agora pra você.
Nós sofremos muito, mas basta te beijar pra saber que vale a pena sofrer, basta eu te abraçar pra saber que vale a pena errar, bastar eu te ter pra saber que vale a pena amar você.
Por mais que você fuja ou tente esquecer, eu vou sempre estar aí, como eu sei que você sempre vai estar aqui, dentro de mim. É uma coisa estranha, coisa que eu demorei pra entender.
Suas palavras na enfermaria pareciam sinceras, mas eu não vou levá-las em consideração, não posso.
Lembre-se, eu nunca vou desistir. Me chame.
Draco Malfoy"
Well I write you all a letter
To say my last goodbye
I just think it's time for me to go away
The sun it seems to sink now
Like my love into the grave
This life is not yet over
It doesn't need to be saved
The chambers of my heart
They echo all the same
The solitary man
Drives himself insane
But I'll come back
To smile once again
To try and try
Until I die
To make you understand
My love
Make you understand
'Cause we're stigmatized...
Gina estava confusa com aquelas palavras. Será que alguma coisa que ela havia esquecido estava ligada com Draco Malfoy? Ela achava incrível, mas sabia que conseguia entender todo esse sentimento que Draco estava lhe falando, só que não conseguia senti-lo, parecia até querer, mas não conseguia. Sua mente ainda permanecia na época de seus quinze anos, quando amava Harry e parecia estranho que algum dia esse amor tivesse sido passado para o Malfoy.
"Depois de quase termos morridos juntos? O que ele quer dizer com isso? Por que parece que tudo que ele escreveu é verdade, por quê? Será que eu já tive algo com Malfoy? E ele diz que precisa de mim...".
-Harry? – ela olhou espantada pra ele, rapidamente colocando a carta debaixo do travesseiro.
-Gina, eu... – ele hesitou.
-O que foi?
-Você não se lembra de nada, eu sei. Mas depois de tudo o que a gente estava passando, a Aurland, todos aqueles momentos difíceis, eu...
Gina via que Harry estava nervoso, e ela estava começando a ficar nervosa também. Parecia que o que sempre desejara estava pra acontecer e ela estava achando estranho não sentir a alegria que sempre esperou sentir quando isso acontecesse.
-Fale, Harry.
Ele respirou fundo.
-Estou apaixonado por você... Há tempos.
"Há tempos... Pra ele isso significa alguma coisa, pra mim nada, já que não me lembro de antes...". Mas mesmo assim, enquanto ele aproximou seu rosto do dela, ela correspondeu, querendo também aquele beijo.
E enquanto se envolvia no beijo quente de Harry, Gina já nem mais se lembrava da pequena carta de Draco. Parecia não importar mais.
