.: Nota da Autora :. Pra começo de conversa: IIIII'M SOOOOO SORRY. AH-AH-AH-AH-AH-AH I'M SO SO-O-O-O-O-ORRY. (Why do you come here/ When you know it makes things hard for me?/ When you know/ Oh, why do you-- a-herm, foi mal. Acho que me empolguei...). Desculpem pelo loooongo período de sumiço. Como já tinha dito na minha bio, meu computador - o EVA 01- ficou dodói, tadinho... Levou umas seis semanas pra ele ficar bom de novo. Também peço desculpas pelos muitos erros -idiotas- no capítulo anterior. Acho que eu tava meio possuída quando escrevi... (brincadeirinha) Também tenho algo pelo que me desculpar adiantado: daqui pra frente, as atualizações podem demorar um pouco mais (espero que não mais do que três semanas), pois estou em ano de -ui- vestibular, e vou ter de estudar feito louca. Então, por favor, não sejam cruéis comigo, siiiiiiim? T_T'
Mwahaha! Agora é que a fic COMEÇA pra valer! A coisa vai esquentar que nem fogo! Agora, ao terceiro capítulo!

Spring of '69
versão em português

III-

"Hmmmm! Cheirinho de pão..."

Sob os primeiros raios de sol que desciam certeiros por entre as folhas, bem nos seus olhos verde-oceano, Misao sentou-se rapidamente, acordando de seu sonho. Inspirando aguçadamente, percebeu que o aroma não era só um sonho -era de verdade. Percebendo a direção de que ele vinha, sacudiu Yahiko violentamente, que estava esparramado no chão feito uma água-viva . "Yahiko! Yahiko, acorda! Sinto cheiro!"

Yahiko não abriu os olhos. Ele apenas apertou a grama sob suas palmas e resmungou, trincando os dentes. "Heim'?"

"Comiiiiiiiiida!" Os olhos da doninha reviram, brilhantes, ao som da palavra que ela mesma proferia, faminta. Sua voz lembrava um sussurro áspero, quase que digno de Gollum.

Yahiko sentou, confusamente sonolento, esfregando os olhos sem qualquer ânimo. "Uh?"

"O cheiro! É comida! E perto!" A garota disse, levantando e agarrando suas coisas. Deu uma corridinha, mas parou de súbito quando viu que o garoto não a seguira. "'Bora, bicho! Eu senti o cheiro!" Sua longa trança chicoteou o ar.

"Por Geddy, Misao..." Yahiko levantou-se instável, ajeitando a mochila nas costas. "Farejando comida que nem cachorro..."

"Ei, tô na estrada há mais de dois anos! Tinha que ganhar algumas habilidades animais, uh?" A garota piscou e arrastou o companheiro pela gola.

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"Shinomori-sama?" A secretária pôs-se no caminho de Aoshi para sua sala assim que ele chegou ao escritório. "O prefeito telefonou assim que o senhor saiu ontem."

"Diga-lhe que morri." Aoshi correu a porta e entrou em sua sala sem sequer olhar para a secretária.

"Ele diz que é importante, senhor!"

O advogado suspirou, uma pulsante dor de cabeça ameaçando sua integridade. "Se ele ligar de novo, dê-lhe meu número. Falarei com ele eu mesmo." Ele virou as costas e, como se houvesse lembrado de algo, olhou de volta para a secretária. "E, por favor, arrume-me um café." Com isto, fechou a porta da sala no nariz da secretária, sem dar-lhe chance de perguntar mais alguma coisa a ele.

Aoshi sinceramente gostava de seu trabalho. Gostava de toda aquela fria burocracia, combinava com ele. Mas naqueles últimos dias, estava ficando enfadado de seus clientes mais recentes, como que sufocado com seu próprio prazer. Sua cabeça doía. E latejava, de um modo muito próprio, quando seu cliente era o prefeito. O "velho porco depravado", como o próprio advogado considerava o político, sempre o deixava atolado de trabalho quando lhe trazia seus casos confusos e absurdos. Aoshi odiava-os. "Vejamos qual será a bomba desta vez..." Aoshi suspirou só.

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Depois de andar por alguns minutos por entre as árvores, Yahiko e Misao chegaram a uma clareira, de onde vinha o aroma. Um grupo de tendas de pano estavam armadas e, junto de uma delas, havia um grande forno de pedra. A garota cutucou o companheiro. "Ali! Comida! Vamos!"

Sorrateiramente, os dois amigos se esquivaram para dentro de uma tenda, onde não parecia havia ninguém. Misao correu os olhos à volta, tentando achar algo que pudesse comer. Sobre uma mesa, havia uma cesta cheia de legumes e frutas, brilhantes e saudáveis, que fizeram seus olhos saltarem como os de um pedinte.

"Este servo pode ajudá-los?" Um homem ruivo entrou na tenda, o longo cabelo amarrado e outro cesto nos braços, exatamente quando Misao se preparava para surrupiar algo da mesa. A garota sobressaltou-se e ficou muda: fora pega de surpresa, muito rápido para arrumar uma desculpa adequada. "Uh... erm... Eu... Quer dizer, nós..."

"Viemos pela comida." Yahiko balançou a cabeça sucintamente. "Queremos saber se você se importa em nos ajudar."

O homem sorriu. "Oh, então é isso. Este servo ficará feliz em ajudar, se vocês não se incomodarem em ajudar nossa comunidade de volta. No que quer que vocês saibam fazer. Somos muitos aqui, ajuda é sempre bem-vinda, bem como pessoas novas."

"Fechado." Yahiko apertou a mão do homem, sacramentando sua aliança.

"Uau, a sinceridade dele às vezes me espanta..." Misao fez um lembrete mental, erguendo as sobrancelhas.

"Deixe que este servo se apresente. Este servo se chama Kenshin Himura." O hippie curvou-se. "E vocês são...?"

"Eu sou Yahiko, e essa é a minha irmã, Misao." O garoto sorriu e se ajeitou em suas roupas, parecendo bastante entretido pelo homem.

"Irmã, uh? Está bem então..." Kenshin acatou pensativo. "Então, podem dar uma mãozinha a este servo enquanto ele prepara algo para vocês comerem? Um de vocês poderia descascar esses legumes para este servo?" O homem pediu, pondo na mesa a cesta que ele trazia.

"Ei, Misao. Isso é trabalho de mulher." Yahiko riu-se, estendendo-lhe uma faca e atirando-se preguiçosamente no chão.

Misao pegou a faca e deu um coque no garoto logo em seguida. "Moleque imprestável."

Antes que Yahiko pudesse reagir, uma mulher entrou firme e displicente, falando manso e mal olhando à sua volta, de dentro de sua aura mandona. "Bom dia, Ken-san. O café da manhã está pronto? Estou com tanta fom--" A mulher parou de repente, quando finalmente percebeu a presença dos dois amigos. Ela olhou de soslaio, um pouco suspeita. "Olá... Quem são vocês?"

"Gente nova, Megumi-dono. Vieram pedir comida, e concordaram em ajudar como agradecimento." Kenshin disse, dirigindo-se para o grande forno de pedra e voltando para dentro da tenda com um grande e recém assado pão em um apoio de madeira.

"Ow, ow, ow... Isso não está me cheirando bem..." Megumi sacudiu a cabeça preocupada. "E por que afinal vocês crianças não comem em casa?"

Misao coçou a cabeça. "Uh... bem... mamãe saiu para trabalhar cedo e esqueceu de deixar nosso café pronto e--"

"Ei mana, corta essa!" Yahiko interrompeu a desculpa da garota. "Não acho que precisemos mentir pra eles."

"Moleque desastrado, feche essa sua matraca..." Misao fuzilou o garoto com os olhos e resmungou baixinho, seu rosto embranquecendo aos poucos.

"Acorda! Eles são hippies, vão nos entender!" Yahiko virou-se para o casal de hippies. "A verdade é que nós--"

"NÃO OUSE!" Misao pulou sobre o garoto, tampando sua boca com a mão e derrubando-o para frente. Com isto, uma batalha travou-se entre os amigos, Kenshin e Megumi apenas observando o furacão conjurado pela peleja.

"Ahrm... Se não se importam que este servo interrompa..." Kenshin tentou interferir, com cara de "oro", enquanto Misao e Yahiko continuaram brigando. "Este servo acha que tem uma idéia do porquê de sua vinda aqui... Seria porque não são da cidade?"

Sem mais porquê, a implicância cessou. Yahiko e Misao permaneceram nas mesmas posições, olhando atoleimados para Kenshin; a garota por sobre o garoto, segurando-o pela gola, punho apontando para seu rosto, silenciosos por um tempo. "Uh... É... como você sabe?" A doninha finalmente balbuciou.

Kenshin deu uma risadinha. "Este servo imaginou. Além disso, este servo é um rurouni, este servo se lembra de tê-los visto em algum lugar do país."

"No duro?" Misao levantou-se, impressionada. "E onde foi?"

"Hmmmmm... Este servo não se lembra..." Kenshin coçou a nuca. "Este servo apenas lembra que vocês estavam correndo da polícia..."

"Euh... foi em Tóquio?" Misao ergueu os ombros.

"Este servo não vai a Tóquio há dez anos..."

"Foi em Osaka?" Yahiko arriscou, enquanto Kenshin dava-lhe uma fatia de pão.

"Não, não..."

"Yokohama!" A garota tentou.

"Este servo acha que não..."

"Kobe?"

"Nnnn...não."

"Erm... Nagoya?"

"Não, não. Vocês estavam correndo da polícia."

"Ô, não lembro de todos os lugares onde corremos da polícia!" A doninha concluiu, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Megumi arregalou os olhos, surpresa. "Hmmm... Foi em Kioto?"

"Sim!" Kenshin comemorou. "Kioto! Foi em Kioto!"

"Mas em Kioto nós não fugimos da polícia!" Misao franziu a testa, fazendo Kenshin cair para trás, as pernas para cima.

"Fugimos sim." Yahiko intrometeu-se de boca cheia, comendo pão. "Roubamos a carteira daquele policial."

"Ah, é mesmo..."

"Ken-san!" Megumi deu um grito agudo. "São trombadinhas!"

"Não, somos não!" O garoto esbravejou. "Só fizemos isso uma vez!"

"Só por medida de segurança, enterre o dinheiro, Ken-san."

Kenshin riu e colocou, em frente a cada um dos três, uma fatia de pão e um copo de chá. Por um instante os três comeram em silêncio, enquanto o sol subia no céu sem muito ânimo, e uma leve brisa balançou a tenda, afastando algo que bloqueava a entrada da luz. Um raio de sol posicionou-se justamente sobre Megumi e destacou sua expressão para Misao, que gritou de surpresa ao reconhecer o rosto familiar. "Ei! Você é a mulher que pensamos que fosse ser molestada anteontem!"

Megumi olhou a garota e apertou os olhos, percebendo que também a conhecia. "E... Você é a garota pelada do rio!" Com isto, as duas explodiram numa gargalhada, Yahiko e Kenshin totalmente ignorantes aos estranhos epítetos. Alguns minutos de riso depois e Megumi pôde falar de novo. "Ei, você é realmente louca. Mas... Que negócio é esse de 'ser molestada'? Não me lembro de ter sido ameaçada por nenhum atrevido..."

"Ah, e de fato, acho que você não foi. Yahiko e eu entendemos mal. Vimos você discutir com um homem alto anteontem, tarde da noite. Pensamos que ele fosse te atacar, então lhe demos uma coça bem quando você foi embora..."

De uma expressão intrigada, Megumi ficou pensativa, logo divertida, finalmente explodindo em gargalhadas de novo. "MWAAAAAHAHAHAHAHA!!!!! Que dizer que vocês atacaram aquele idiota?"

"Atacamos." Misao riu. "Mas foi um engano, ele não era um criminoso. Na verdade, ele é um cara legal."

"CARA LEGAL? Oh, está claro que vocês são muito jovens para reconhecer um vagabundo quando vêem um." Megumi tomou um gole do chá. "Aquele homem é um espécime de alguma espécie estranha, estúpida e grosseira. Um imbecil, é isto que ele é."

"Ei, sua raposa raposilda..." Uma voz grave adentrou a tenda por detrás de Megumi, fazendo-a cuspir longe o chá que bebia, uma veia saltando em sua testa. "'Cê num cansa de me elogiar, né?"

Vermelha e fumegando, a mulher apertou o punho e virou-se para o homem que entrara -o mesmo de quem estava falando. "Bem feito pra você."

Sanosuke deu uma risadinha curta, finalmente notando a presença de Misao e Yahiko. "Ei! Meus dois amigos-problema! Que 'tão fazendo aqui? Vieram filar a comida do Kenshin, uh?" O motociclista deu um coque no garoto, bagunçando seu cabelo.

"Eh... hehehe, qual é? Por acaso eu pareço uma ladra de comida?" Misao cruzou os braços e inclinou a cabeça, enquanto Kenshin abafou um risinho, cortando pão para os outros habitantes da comunidade.

"Eles vão nos ajudar em retribuição." Megumi fez sua voz sobressair-se. "Eles não são inúteis e preguiçosos, como um certo crista-de-galo que eu conheço."

"Inda bem que você num tá falando de mim." Sanosuke debochou, olhando fixamente para a mulher que lhe fuzilava com o olhar. "Porque eu posso fazer um monte de coisas."

"VOCÊ?" Megumi riu-se. "Aposto meu pescoço que não."

"Ah, aposta? Então acho que alguém aqui vai perder a cabeça."

"Erm..." Misao ficou com uma enorme gota de suor no canto do rosto, sentindo o ar ficar pesado. "Sa-Sano, por que você não vai cortar um pouco de lenha pro Himura? Ele está precisando muito de lenha, não é mesmo, Himura?"

"Sim, Misao-dono. Muitíssimo! Este servo precisa de muita lenha!" Kenshin puxou Sanosuke pela faixa vigorosamente, enquanto este último continuava a lançar um olhar de deboche para Megumi. "Você se importa de pegar um pouco para este servo, Sano?"

"Que é isso, Kenshin." Sanosuke finalmente desviou o olhar da raposa, virando-se para o ruivo. "'Xá comigo." Com isto, o motoqueiro virou-se e foi saindo da tenda.

"Ótimo!" Kenshin sorriu. "Ali junto do forno de pedra está o machado."

"Po' deixar. Não vou precisar disso."

"Pois é, ele não vai precisar disso." Megumi provocou. "Ele vai cortar a madeira com essa cabeça dura de galo que ele tem."

Sanosuke pretendia responder, mas Kenshin arrastou-o para fora da tenda, evitando mais discussões. Novamente o silêncio se instalou por breves minutos. Repentinamente, os quatro que ficaram na tenda sentiram o chão tremer sob seus pés e ouviram um ruído alto e apavorante, que os fez saltar de susto.

BUMmmm! -crack, crack, craaaaaack... KABOOOOF.

"K-K-Ken-san! Que foi isso?" Megumi se encolheu. "Será que é outro terremoto?"

"Este servo duvida, Megumi-dono." Kenshin olhou em volta com os olhos arregalados, apurando os ouvidos. "Vê? O som silenciou."

Alguns segundos de silêncio depois, Sanosuke voltou, uma porção de lenha nos braços, um sorriso largo e provocante em seus lábios. "Lenha."

Três pares de olhos surpresos -os de Misao, Yahiko e Kenshin- inflavam o orgulho do motoqueiro, enquanto Megumi ria desdenhosa. "Está aí a fonte do barulho. Ele deve ter cortado a lenha com esse cabelo dele, duro de brilhantina."

"Meça as palavras, senhorita raposa." Uma veia saltou de uma testa, desta vez da de Sanosuke. "Isso num é brilhantina. É a armação natural do meu cabelo."

"Oh, eu imagino. Deve haver vigas sustentando-o, vindo de dentro da sua cabeça. É por isso que você é um tamanho asno: as vigas ocupam o espaço do cérebro."

Megumi riu matreiramente. Com isto, Sanosuke apenas deixou a lenha no chão, proferindo bem alto. "Vou te informar, sua raposa, que a cortei com minha própria mão." Ele ergueu o punho direito orgulhosamente, ataduras rotas envolvendo-o, sangue e farpas por todo o lado. Megumi arregalou os olhos e correu para ele.

"Seu louco! O que foi que você fez?"

"Se chama 'Futae-no-kiwami', é uma técnica que--"

"Que arruína sua mão se você for um idiota, é isso!" A mulher perdeu a paciência e arrastou o motoqueiro para fora pelo braço, gritando para dentro. "Ken-san, ferva um pouco d'água pra mim, por favor."

"Ei raposa, tá se preocupando comigo agora, é?"

"Cala a boca, Só estou fazendo o que tenho de fazer."

"Ei, corta essa. Já tô acostumado, vou ver um médico depois e--"

"EU sou a médica aqui e estou dizendo pra você calar a droga da boca!" Megumi empurrou Sanosuke para outra tenda, fazendo-o sentar em uma tosca cadeira de madeira.

"Médica?" O homem repetiu surpreso. A mulher ignorou seu olhar surpreso e, ainda do lado de fora, chamou um homem que passava e pediu-lhe para trazer-lhe água fresca. Assim, ela correu para um balcão feito rusticamente que havia dentro da tenda. Sanosuke apenas observava, correndo os olhos pelo lugar.

De todas as tendas que vira na comunidade, aquela parecia a mais organizada. Havia duas cadeiras toscas -ele estava sentado em uma delas- e uma mesa entre elas. De frente para a cadeira onde ele estava sentado, um balcão. Megumi remexia algo ali, de costas para o homem. À direita, largas prateleieras-de-pé. Havia coisas estranhas sobre elas, que Sanosuke imaginou serem o material de trabalho de Megumi: uma pilha de pedaços de pano branco, pacotes com folhas, vidros cheios de líquidos claros, alguns outros etiquetados, com remédios de laboratório esporadicamente. Num canto, um grupo de instrumentos metálicos, como tesouras -e outras coisas das quais Sanosuke não sabia o nome- brilhavam, sem mostrar irregularidades ou ferrugem. O ar tinha um leve aroma de sândalo.

Megumi já tinha consigo a água fresca quando Kenshin chegou com um balde, cheio de água fervente. Com esta, a mulher encheu uma grande tigela, jogou algumas ervas e pôs a tigela sobre a mesa, bem em frente a Sanosuke. Tirando uma pinça, ela sentou-se à frente do homem e puxou sua mão ferida, pondo-a acima do vapor que espiralava tigela acima.

"Que diabos 'cê tá fazendo?" Sanosuke resmungou, enquanto a médica tirava suas ataduras rasgadas.

"Sh! Estou fazendo uma infusão com umas folhas. Enquanto apronta, Estou aproveitando o calor." Megumi rugiu.

"Pra quê?"

"Para que seja mais fácil tirar todas essas farpas. Agora fique quieto e me deixe trabalhar!" Megumi escrutava a mão de Sanosuke, suspirando para si mesma. "Como é que eu vou fazer pra tirar todas essas farpas?"

Sanosuke ficou em silêncio, abaixou a cabeça e olhou pelo canto do olho. Apenas prestou atenção à dedicação de Megumi a seu trabalho, sua concentração em quanto puxava suavemente os pedaços de madeira enterrados. Os olhos de canela pareciam muito mais apurados e os lábios, apertados por causa da atenção, brilhando muito mais vermelhos do que quando discutiram. Observar seu trabalho fez Sanosuke perceber duas coisas. Que a médica era muito mais bela do que ele a considerara antes. E que o aroma de sândalo emanava do cabelo de Megumi.

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O dia estava claro e quente, apesar de o sol não parecer muito convicto a ficar acordado até o poer. Sua motivação para fazer luza não era nada grande, e mesmo assim, Aoshi sentia-se perturbado.

De fora de sua sala vinha o som monótono da secretária que martelava a máquina de escrever. Ninguém aparecera no escritório a manhã toda, senão o sol, pois sabia que Aoshi detestava-o. O advogado fechou as persianas e atirou-se na cadeira, a cabeça latejando como se estivesse a ponto de explodir. Repentinamente, a digitação silenciou. "Oh, não. Não venha até aqui...", ele enterrou o rosto nas mãos em concha.

"Shinomori-sama?" A secretária entreabriu a porta. "O prefeito está esperando do lado de fora. Faço-o entrar?"

"Por favor." Aoshi disse, enquanto sua mente pretendia responder. "Tenho escolha?"

Logo, o prefeito Nenji Kashiwazaki, mais conhecido no mundo político como Okina, adentrou o escritório de Aoshi, pasta na mão, um lacinho verde na barba, combinando com a gravata. "Oi Aoshi-chan, meu garoto!" O velho piscou, curvando-se para o advogado.

"Como vai, Okina-sama?" Aoshi curvou-se formalmente, logo sentando-se em sua cadeira.

"Ahm, bem, bem." O prefeito sentou-se, sem esperar que o advogado terminasse sua menção de fazê-lo sentar-se. Aoshi emendou outro movimento, coçando o alto da cabeça. "Umas chatices por aí, problemas com a minha neta, mas no geral, nenhuma novidade. Sabe, eu peguei uma gripe que--"

"A-rhem" Aoshi ergueu as sobrancelhas e pigarreou alto, cortando a conversa. "Qual o problema que o traz ao meu escritório?"

"Oh, sim. Tenho um pouquinho de trabalho pra você."

"Devo dizer-lhe que tenho trabalho o suficiente, talvez não possa ajudá-lo, senhor. Como já deve saber, me casarei em dois meses."

"Oh, sei. O casamento está chegando, heim? Mas infelizmente tem MESMO de ser você, Aoshi-chan."

"Bem, tenho certeza de que posso indicar-lhe alguns bons advogados, de máxima confiança, que me podem substituir facilmente e--"

"Nenhum deles é de minha confiança, pois nenhum deles cresceu numa tradicional família onmitsu."

Aoshi tirou seu cubo mágico de uma gaveta, pois sabia exatamente que conversa esperar. Além do mais, simplesmente odiava quando Okina persuadia-o a aceitar seus casos absurdos lembrando-o de seu sangue ninja e da relação estreita e antiga entre sua família e a do prefeito.

"Vou precisar de, não só um advogado competente e honesto, mas também um ninja talentoso e bem treinado, alguém discreto, que possa se esgueirar por aí sem ser notado. E esse é você."

"Sou um advogado, não um gatuno, Okina-sama." Aoshi formou uma linha verde e girou-a para a esquerda. "Trabalho em absoluta transparência, rigorosamente dentro dos limites da lei."

"Como um bom advogado, você deve saber que alguns criminosos devem ser apanhados por fora das oportunidades que a lei lhe oferece."

Aoshi parou de mexer no cubo mágico, pôs as mãos abertas na mesa e, apoiando-se nelas, inclinou-se para frente, o olhar frio. "Jamais tente me ensinar como fazer meu trabalho."

"Não estou fazendo isso." Okina ergueu as mãos espalmadas. "Se eu pudesse fazê-lo, não estaria requisitando seus serviços." Aoshi endireitou a coluna de volta em sua cadeira e cruzou os braços, Como um sinal de que estava prestando atenção. Okina sorriu e tirou um envelope pardo de sua pasta, logo entregando-o para o advogado. Aoshi abriu-o e começou a examinar seu conteúdo. "Diga-me, o que achou?"

O jovem advogado ergueu uma sobrancelha. "Okina-sama, devo lembra-lo de que estou às vésperas de me casar. E o conteúdo deste envelope é algo que minha noiva certamente não apreciaria." O prefeito olhou para o envelope que entregara para Aoshi. Seus olhos arregalaram-se diante da inscrição em vermelho na parte da frente: "Peitos por todo o lado".

"Erm, envelope errado." Okina sorriu amarelo, arrancando o envelope -bem como seu conteúdo- das mãos de Aoshi e repondo-os desordenadamente em sua pasta, de onde tirou outro envelope pardo. "Este aqui é o certo." Disse, entregando-o para Aoshi.

O advogado pegou o envelope e examinou seu conteúdo: um contrato por assinar e alguns recortes de jornal. "'Racionamento de energia pode afetar dezessete cidades do norte'" Aoshi leu em voz alta uma das manchetes, logo continuando a ler o resto da reportagem. "'Presidente da Roda Elétrica S.A., Mittsuu Denkou, diz que os sistemas de geração de energia das usinas estão sobrecarregados". Remexendo as notícias, o advogado sacou de outra. "'Queimadas preocupam Alfaces - Ativistas pelo meio-ambiente exigem ação severa contra devastação ilegal de áreas verdes e florestas antigas'". Ainda escrutando os papéis que o prefeito lhe entregara, Aoshi procurou o contrato não-assinado entre os recortes. "Como posso ver, é um contrato de concessão de terreno à companhia de energia, a Roda Elétrica S.A.." O advogado franziu a testa.

"Na mosca." Okina apontou. "A Roda Elétrica S.A. afirma que os sistemas vão entrar em pane por sobrecarga. Outra companhia entraria como concorrente e dividiria a tarefa de distribuição de energia."

"Deixe-me adivinhar. Dividindo a distribuição, a Roda Elétrica S.A. dividirá também a arrecadação, e eles não aceitaram a solução, estou certo?"

"Está, Aoshi-chan."

"Bem, e por que o governo cede às exigências da Roda Elétrica S.A.?"

"Não é uma questão de ceder a eles. A concorrente é uma companhia nova e pequena, eles não dariam conta de todo o serviço se a Roda Elétrica saísse do páreo."

"Entendo. E, a julgar pelo contrato, imagino que a Roda Elétrica S.A. não têm dinheiro para construir outra usina geradora."

"Oh, eles têm. Mas não têm espaço. Queriam comprar uma grande área verde e destruí-la, mas a prefeitura não aceitou o projeto. Não queremos nos indispor com os Alfaces."

"Perfeitamente. Então, o governo da nossa cidade vai subsidiar-lhes um terreno, certo? Qual é o problema então?"

"O problema é: eles precisam de muito espaço, e são obrigados a não poluir áreas verdes nas cercanias ou fontes de água. Essas eram as condições para a assinatura do contrato. Mas ambas necessidades são impossíveis de serem conciliadas." Okina desembrulhou um chiclete e abocanhou-o. "Porém, o contrato não diz nada sobre áreas já poluídas ou devastadas."

"Então você suspeita que a devastação das florestas ao norte da cidade está sendo provocada propositalmente pela Roda Elétrica S.A.?" Aoshi esfregou seu rosto recém-barbeado.

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"Pai? Papai? Otousan você tá aí?"

Quando chegou do colégio, Kaoru não viu sinais de alguém em casa que não ela mesma. Deixando suas coisas num canto, a jovem correu para a cozinha, onde um post-it havia sido colado à porta da geladeira. Reconhecendo a caligrafia do pai, Kaoru destacou-o e leu. "Kaoru-chan, a cozinheira não veio e papai está no dojo. Preparei algo para você almoçar, mas não espere por mim para jantar. Cuide-se, Otousan." Kaoru soltou um risinho, uma idéia maliciosa em sua mente. Subiu para tomar um banho, de bom humor, pois o fato de seu pai estar no dojo significava que eles finalmente tinham um novo aluno. Kaoru sabia que ensinar era algo de que seu pai sentia falta havia muito.

Kaoru era uma espécie de fã do pai. Kamiya-sensei ensinara o Kamiya Kasshin por toda a sua vida. Era um espadachim talentoso e um homem honrado, e seu espírito nobre propiciava-lhe sucesso em seu estilo, cuja filosofia era "a espada pela vida". Desde que conseguia se lembrar, Kaoru se identificara muito mais com o pai do que com a mãe. Não podia definir o que era a causa e o que era a conseqüência, mas o fato é que, ao contrário das outras meninas, ela não observava sua mãe cozinhando; em vez disto, tinha aulas de kendo com o pai. Tal era sua identificação, que às vezes tinha a convicção de que era uma versão feminina de seu pai. O único ponto divergente entre suas personalidades -e o único ponto em que Kaoru acreditava não compreender o pai- era seu comportamento anacrônico no que dizia respeito às aspirações de Kaoru. Enquanto todas as famílias sonhavam em ver suas filhas formadas e independentes, ainda que femininas, Kamiya-sensei insistia em casar a filha, como se ainda vivessem no século dezenove.

A jovem vestiu suas roupas de treino, prendeu seu bokken no nó de seu hakama's e voltou à cozinha. Suspeita, checou o que o pai deixara para ela nas panelas. A comida tinha uma aparência estranha, nenhum cheiro e o gosto era terrivelmente ruim. Kaoru bebeu um copo cheio d'água e saiu, rindo por dentro. Ela sabia que cozinhar era algo em que seu pai não era muito bom. Para ser sincero, ninguém na família era, inclusive ela mesma. Assim, ela tomou seu caminho para a comunidade hippie.

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Aoshi vestiu seu sobretudo, saiu de sua sala e fechou a porta. Dirigia-se para a porta do escritório, quando a secretária chamou-o de volta. "Shinomori-sama? O senhor já está indo?"

"Sim. Se algum cliente vier, diga-lhe para não me esperar antes de amanha, por volta das dez da manhã." O advogado disse ao sair. Em sua mente, um resumo tosco dos lugares onde ele guardava cada uma de suas coisas em casa. Sua mente focalizou um lugar específico, onde ele guardava suas armas favoritas. "Hora de acordar."

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Quando Kaoru chegou à comunidade, teve de ser apresentada aos novatos, Yahiko e Misao. Também ela reconheceu esta última por sua aparição repentina no rio, nua e furiosa, no dia anterior. Depois de surrupiar um pouco do almoço, sumiu entre as árvores para praticar suas habilidades. Porém, sentia-se incomodada, já que fazia mais de seis meses que não enfrentava um oponente real. Nunca machucou ninguém, nem jamais o intentou, mas gostava de lidar com pessoas, não apenas com bonecos-alvo.

Parou não distante da clareira, respirou fundo e levantou guarda, sua visão e audição aguçadas pela atenção. Seus movimentos graciosos começaram lentos e contidos, evoluindo até que finalmente pulasse e se virasse com uma velocidade impressionante, precisa e livremente, sempre atingindo seus oponentes irreais e rasgando apenas o ar.

Um som repentino tirou Kaoru de sua concentração.

A jovem olhou rapidamente para a esquerda, de onde vinha o som, um farfalhar discreto como o de folhas secas. Kaoru olhou a toda à volta, temendo ser alguém que a pudesse ver ali, mas finalmente concluiu que fora provavelmente algum fruto ou semente caindo no chão, já que foi um som isolado, não uma seqüência deles como passos. Ainda assim, novamente olhando para a esquerda, teve a nítida impressão de ter visto uma sombra correndo, ainda que desajeitada, um pinto rubro brilhando logo em seguida. Apreensiva, voltou correndo para a clareira, para contar a Kenshin e Megumi sobre o que vira ali. Mas, ao chegar à clareira, uma cena especial chamou-lhe a atenção.

Yahiko, o irmão da doninha, treinava com uma shinai. Sua postura era masculina, adulta e determinada. Parecia estar treinando meros movimentos iniciais, uma prática que não revelava estilo algum. Kenshin, passando ao seu lado, sussurrou gentil. "Ei, se este servo fosse você, seguraria o tsuka assim." O rurouni reconfigurou a posição das mãos do garoto. "Isso, assim mesmo."

"Ei, Kenshin." O garoto disse sério, experimentando os efeitos da nova posição. "Você luta?"

"Este servo costumava lutar quando era mais jovem. Mas hoje, este servo apenas pratica kendo."

Kaoru assistiu quieta enquanto o garoto balançava a espada de bambu. Kenshin percebeu sua presença e olhou fixamente para ela. Ela não abaixou a cabeça, como teria feito se a situação tivesse se dado no dia anterior. Sustentou o olhar nos olhos violeta do rurouni e, sem mais porquê, um estranho estímulo esquentou seu corpo, da planta de seus pés até a garganta. Talvez fosse sua oportunidade de ensinar. Como se lesse os pensamentos de Kaoru, sem tirar seus olhos dos dela, Kenshin pôs sua mão sobre o ombro de Yahiko. "Por que não pede a Kaoru-dono para ensina-lo? Você sabia que ela é mestra em seu estilo?"

A garota sorriu, como se agradecesse Kenshin por dar-lhe crédito. À medida Yahiko afirmou com a cabeça e foi ao encontro de Kaoru, alguns metros dali, o toque distante do olhar da jovem se foi, mas o largo e agradecido sorriso fincou pé. Para o rurouni, aquele sorriso era mais do que suficiente para um "obrigada".

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O dia se foi lento e inútil, aos poucos até que a noite dominasse. Entre as árvores, uma sombra solitária corria pelo escuro sem fazer o menor barulho. Seus olhos vermelho-sangue brilhavam toda a vez que olhavam para a luz quente exalada pelos carvalhos que queimavam, fumaça negra que espiralava para o alto como nuvens demoníacas chovendo fogo. Não demorou muito, os primeiros gritos desesperados e alertas foram ouvidos. A sombra misturou-se à copa de uma árvore e sumiu.

O desespero incrustado nos gritos de seus companheiros acordou Kenshin. O rurouni tinha o velho costume de não se deitar para dormir, ficando sentado em vez disso, a espada apoiada no ombro. Este hábito permitia-lhe estar em guarda toda as vezes em que era acordado de repente como daquela vez. Seus acurados olhos violeta olhando freneticamente para cada canto, Kenshin não hesitou em amarrar a bainha da espada ao hakama e correr para fora da tenda em que dormia. Não precisou andar muito para ver a fumaça ameaçadora que subia para o céu vinda de um ponto rubro entre as árvores. Toda a comunidade estava num desordenado vaivém, pessoas carregando baldes d'água do rio. "Ken-san!" O rurouni pôde ouvir a voz de Megumi chamando-o, e então ver a médica que vinha correndo, o olhar desolado. "Ken-san, a floresta está queimando!"

"Como? Como assim?" Kenshin balançou a cabeça, os instáveis olhos violeta sem saber para onde olhar.

"Eu não sei, o que isso importa agora? Temos de parar!" A mulher arrastou Kenshin para ajudar.

Não muito longe dali, enquanto as árvores eram engolidas pelo fogo que os hippies tentavam apagar, uma figura negra parou de sua corrida em direção às chamas. Aoshi, o advogado, repôs suas duas kodachi na bainha e afastou suas longas mechas negro-azuladas do rosto suado. "Tarde demais. Cheguei tarde demais..."

Evitando ser visto sem necessidade, o ninja escapuliu. Também tarde demais, já que um par de olhos verde-oceano já lhe havia registrado a presença ali. "Aquele advogado frio..." Misao coçou o queixo, suspeita. "O que ele está fazendo aqui, bem na hora em que um incêndio está destruindo as árvores?"

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.:Eu De Novo:. Agora é que o mote vem de verdade. E Então, essa fic tá muito ruim? Ou então, estão gostando? Espero que sim, mas são vocês que têm de dizer isso! Obrigada pelos reviews (é, sei que eu não sou exatamente uma boa escritora, mas tô tentando mesmo, acreditem!) e também para quem leu e não deixou review. Próximo Capítulo: um incidente inesperado reúne todos os interessados em descobrir quem está remexendo com os assuntos da floresta!