Capítulo 2
Mu Bai estava na cozinha quando viu sua irmã mais velha se aproximar acompanhada por uma bela jovem. As duas conversavam animadamente. O rapaz deduziu que deveria ser a garota que ele salvara. Ela era realmente muito bonita, apesar das escoriações e dos hematomas.
"Bom dia", ele saudou as duas.
"Bom dia, Mu Bai", Lau Ma o cumprimentou. "Esta é a senhorita Sakura Kinomoto, irmão. Senhorita Sakura, este é meu irmão mais novo, Mu Bai", ela os apresentou.
Ele sorriu sem tirar os olhos da visitante. "Vejo que está se recuperando bem, senhorita".
Sakura curvou-se graciosamente. "Gostaria muito de agradecer-lhe por ter me salvado. Serei eternamente grata".
O jovem reparou no modo educado dela falar e nas maneiras refinadas. Devia ser uma moça de família rica e importante. Mas agora, estava sozinha no mundo. "Não precisa me agradecer... Fiz apenas o que qualquer pessoa na minha posição faria. Ajudei uma pessoa em perigo. Agora, comam enquanto a comida está quente".
Os três comiam tranqüilamente. Sakura sentia-se cada vez mais segura. Ninguém fizera comentários sobre seu aspecto. Lau Ma havia feito um ótimo trabalho, ajudando-a a se vestir e prender os cabelos. Era realmente uma pessoa muito gentil. De repente, lembrou-se de algo. "Sr. Mu Bai, gostaria muito de falar com seu mestre... Acha que ele pode receber-me?"
Mu Bai engasgou ao ouvir àquelas palavras. Mestre Li fora claro em suas ordens. Não queria que a moça o visse. Olhou-a com pesar, sentindo-se mal por ter que mentir. "Ele não se encontra, senhorita. Teve que viajar urgentemente. Não sei quando ele volta...".
"Ah... Que pena... queria agradecê-lo também... Ele foi muito generoso comigo, permitindo que eu ficasse aqui até me recuperar...", falou Sakura, um pouco desapontada por não poder falar com seu salvador.
Os dois irmãos se entreolharam. "Tenho certeza que mestre Li ficaria lisonjeado com seus agradecimentos, senhorita", disse Lau Ma. "Mas com certeza iria mandá-la descansar bastante, até ficar completamente boa".
* * *
A noite estava linda, apesar do frio. Sakura olhava o céu estrelado pela janela do seu quarto. Uma brisa suave acariciava seu rosto e seu cabelo e ela estava se sentindo bem melhor. Passara o dia com Lau Ma, conhecendo a grande mansão do seu benfeitor, Li Xiaolang. Os cômodos eram enormes e tinham móveis e peças muito bonitas. Mas havia algo naquele lugar que a incomodava. Apesar dos empregados serem muito educados e de todo luxo na qual estava cercada, Sakura pôde perceber que eles escondiam algo dela. Tudo bem, ela era uma forasteira. Uma hóspede temporária... Não devia sentir-se aborrecida com nada... Pelo contrário, devia mostrar sua gratidão com tamanha gentileza... Suspirou pesadamente. Foi quando ouviu barulhos estranhos. Aquilo instigou imediatamente sua curiosidade. Pegou um robe e saiu de fininho do quarto, tentando encontrar a fonte daqueles ruídos.
Todos já estavam dormindo e as velas tinham sido apagadas. Notou que o som vinha da parte oeste da casa, a parte que Lau Ma dissera que era reservada para seu patrão. Ficou ainda mais curiosa. Se o mestre Li não estava em casa, quem estaria fazendo barulho nos seus aposentos?
Estava difícil se localizar naquela imensa mansão no escuro. De repente, tropeçou num móvel, caindo e derrubando-o sem querer. Se queria passar desapercebida, falhou completamente. Logo ouviu passos vindo em sua direção.
"Quem está aí?", uma voz grave soou no corredor.
Sakura tremeu, amedrontada. Iria levar uma bronca daquele desconhecido, tinha absoluta certeza. "So-sou eu, Sakura Kinomoto... D-desculpe por incomodar...", ela gaguejou, ainda caída no chão.
"O que faz aqui? Você devia estar no seu quarto!", vociferou o homem.
Fez-se um silêncio carregado. Sakura abriu a boca para falar algo, mas não conseguiu... Então ouviu a voz de Lau Ma.
"Senhorita Sakura!? O que faz aqui?".
A chinesa se aproximou, trazendo uma vela. Sakura agradeceu interiormente por aquela interrupção e pela luz que Lau Ma trazia. Queria ver seu zangado interlocutor. Voltou-se para a direção em que achava onde ele se encontrava, mas não viu ninguém. Franziu as sobrancelhas.
"Senhorita Sakura? Está tudo bem?", Lau Ma perguntou de novo.
"Lau Ma... Quem era aquele homem que estava aqui?", quis saber a jovem de olhos verdes.
"Não há ninguém aqui, senhorita...", a outra respondeu.
Sakura levantou-se. "Mas havia alguém. Eu vi! Quero dizer... Eu o ouvi... Ele até gritou comigo...".
"Deve ter sido sua imaginação... Venha, eu a acompanho até o seu quarto".
'Não foi imaginação minha... Tenho certeza...', pensou Sakura intrigada. Aquele homem era bem real, assim como o medo que sentira dele.
* * *
Xiaolang trancou-se no quarto. Não devia ter gritado com a moça. Pode sentir todo medo que ela emanara. Mas afinal, o que ela estava fazendo ali? Deixara claro que não queria a presença dela na sua ala particular. Ela podia circular por toda a mansão... Menos lá. Aquele era seu território e não precisava da pena de uma desconhecida.
Encaminhou-se até a cama e deitou. A voz dela era bonita. Suave e bem feminina. Apesar de todo medo que ela sentira. 'Será que ela é tão bonita quanto sua voz?', pensou curioso.
* * *
Passaram-se alguns dias depois daquele pequeno incidente. Sakura estava sarando rapidamente, graças aos cuidados de Lau Ma. A amizade entre as duas crescia com o passar dos tempos. Contara para a nova amiga como era sua vida em Tomoeda. Falara também sobre antigos amigos e sobre sua família.
Lau Ma também se abrira com ela, falando como ela e o irmão foram ajudados pelo Sr. Li, pai do jovem e atual patrão. A chinesa contara que a família Li era muito respeitada naquela região da China e que seu mestre era considerado como o melhor guerreiro do clã, mas resolvera parar de lutar.
Saber tudo aquilo aumentava ainda mais a vontade de Sakura conhecer Li Xiaolang. Sempre que perguntava sobre o retorno dele, Mu Bai desconversava e mudava de assunto. Contudo ela não iria desistir... Iria falar com Li, nem que fosse a última coisa que fizesse. Aquela aura de mistério que o envolvia, tornava a jovem mais determinada em encontrá-lo.
Revirou-se na cama. Novamente estava sem sono. Pegou o cântaro de barro que ficava com água em cima de uma mesinha, serviu-se e bebeu o líquido refrescante devagar. Em seguida, foi até a janela e admirou o céu. A lua estava no quarto crescente e brilhava belíssima no firmamento. E, como na outra noite, Sakura ouviu barulhos. Só que desta vez eram do lado de fora.
Vestiu o robe e saiu, apesar do frio que fazia. Sabia que devia voltar. E se encontrasse aquele homem de novo? Mas não conseguia se conter. Caminhando lentamente, de fininho para não chamar a atenção, foi até o jardim. Parou e concentrou-se nos sons. Alguém estava lutando ali perto. Deu uma volta na mansão até chegar no pátio de treinamento. Escondida, viu dois homens batalhando. Um deles ela reconheceu imediatamente: Mu Bai. O outro ela não conhecia. E foi ele que atraiu completamente a atenção da jovem.
Alto, forte, cabelos fartos e úmidos de suor, o desconhecido estava exercendo um estranho poder em Sakura. Ela sentiu o coração acelerar. Quem seria aquele homem? De onde se localizava, não dava para ver o rosto dele, pois estava de costas para ela e se tentasse sair de seu esconderijo, com certeza seria descoberta. Respirou fundo e fitou as costas musculosas do homem. Ele se movia com graça, cada golpe era desferido com precisão e força. Mu Bai não resistiria por muito tempo.
Sakura estava certa. O irmão de sua melhor amiga logo tombou diante da superioridade de seu oponente. Aquele homem era realmente um exímio guerreiro, um lutador nato. Sentiu o rosto esquentar. Quem diria que ela, Sakura Kinomoto, educada para ser uma dama, estava ali, espionando os outros? Decidiu voltar ao quarto antes que alguém a encontrasse.
Deitou-se na cama assim que retornou ao aposento, no entanto não conseguiu dormir. Só pensava naquela luta, na forma como o corpo daquele homem movia-se durante o embate. Subitamente, as palavras de Lau Ma surgiram na sua mente: "Mestre Li é considerado o melhor guerreiro desta região". Será que...? Não... Aquele homem não podia ser Li Xiaolang. Ele estava viajando, não estava?
* * *
Na manhã seguinte, Sakura acordou abatida. Por que eles haviam mentido para ela? Por que não disseram que seu patrão havia retornado? Tinha a leve desconfiança que o homem nem havia viajado. Devia haver uma explicação...
Quando Lau Ma entrou no quarto para ajudá-la a fazer a toalete, não teve forças para sorrir e cumprimentar a amiga, que logo percebeu seu estado de espírito.
"Senhorita Sakura... Algum problema? Não dormiu direito?", questionou Lau Ma.
Sakura suspirou. "Por que vocês não me disseram a verdade, Lau Ma? Por que me falaram que seu mestre havia viajado, se ele nem saiu daqui?".
Lau Ma ficou calada por uns instantes, surpreendida. "Como foi que descobriu, senhorita?".
"Ouviu som de combate, ontem de madrugada. Levantei e fui ver o que era. Vi seu irmão, lutando com alguém forte e bem treinado. Não foi difícil deduzir que era seu patrão", respondeu Sakura, olhando triste para a amiga chinesa. "Também acho que foi ele quem eu encontrei naquela noite no corredor, não é?".
A mulher não sabia como responder. Como poderia dizer que recebera ordens expressas para não deixar a hóspede se aproximar do patrão. Abriu a boca, mas nada saiu. Respirou fundo e tentou novamente. "Sinto muito, senhorita Sakura. Não posso falar nada".
"Ele não quer me encontrar, não é?", Sakura concluiu subitamente. Ficou desapontada quando viu a amiga concordar com a cabeça. "Bem, se é assim... Diga a seu mestre que irei embora amanhã de manhã".
"Mas, senhorita, para onde vai? Não tem dinheiro... Não conhece ninguém daqui", Lau Ma protestou.
"Não sei, Lau Ma... Só sei que não posso continuar num lugar onde não sou desejada", foi a resposta de Sakura.
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