Capítulo 07

Sakura sentiu o chão sumir debaixo de seus pés. Xiaolang não estava lhe pedindo em casamento, estava? Com toda certeza, ela estava delirando...

"O-o q-quê?", ela conseguiu pronunciar, odiando-se por gaguejar justo naquele momento.

"Case comigo, Sakura", disse ele, sério.

"Oh, Deus!", as palavras escapuliram dos lábios de Sakura antes que ela pudesse se controlar. "Vo-você quer mesmo se casar comigo?".

"Sei que não sou o melhor pretendente que existe...", disse Xiaolang, acariciando o rosto dela. "Sei também que fui muito rude e desagradável com você e que, em minhas atuais condições, não serei um bom marido, mas prometo fazer tudo que estiver ao meu alcance para fazê-la feliz, Sakura".

Respirando fundo, Sakura tentou controlar as batidas do próprio coração. Ali estava ela, abraçada ao homem com o qual sonhara durante semanas e ele estava lhe dizendo que não seria um bom marido. Ela não queria outro marido. Ela o queria. E a mais ninguém.

"Tenho certeza que você será um marido maravilhoso, Xiaolang", ela sussurrou, aconchegando-se a ele e apoiando a cabeça no peito dele, de modo que podia ouvir o coração dele pulsar tão descontrolado quanto o seu.

Não souberam por quanto tempo ficaram abraçados, saboreando as sensações maravilhosas de estarem nos braços um do outro. Separaram-se apenas quando Lau Ma apareceu para chamá-los para o almoço. E enquanto saiam da sala de treinamentos de mãos dadas, Xiaolang pensava como o destino era engraçado. Talvez se não tivesse ficado cego, nunca teria conhecido Sakura e nem descoberto como era bom se apaixonar.

* * *

Masaki Amamiya olhava para o pôr-do-sol da janela de seu quarto, na pousada em Hong Kong. Atrás dele, o inspetor de polícia, Kim Yumei, acabava de relatar o resultado das buscas. Nenhum sinal de sua neta. Tomoyo Daidouji havia sumido há uma semana. Desde então, o velho Amamiya fazia de tudo para tentar encontrá-la. Mas tudo era em vão. Parecia que a jovem Tomoyo desaparecera num passe de mágica.

"As buscas de hoje já foram encerradas, senhor. Amanhã, continuaremos a procurá-la em algumas fazendas nas redondezas", disse o inspetor.

"Eu gostaria de ser informado caso tenha alguma notícia, Sr. Kim", falou Masaki, ainda olhando a paisagem a sua frente.

"Como quiser, senhor", respondeu Yumei. "E Sr. Amamiya?".

"Sim?".

"Er... Eu sinto muito pelo desaparecimento de sua neta, senhor". Como não obteve resposta, o policial resolveu se retirar. "E não se preocupe", disse antes de sair, "Nós a encontraremos".

Masaki permaneceu no mesmo lugar, observando os últimos raios de sol daquele dia pintarem a cidade de Hong Kong de laranja, dourado e vermelho. Era uma bela visão. Em outros tempos se sentiria tocado e compelido a pintá-la, mas desta vez não tinha humor nem disposição para tanto. Seu coração doía demais.

'Oh, minha querida Maiyumi...', pensou angustiado, enquanto uma lágrima solitária escorria-lhe pela bochecha. 'O que aconteceu com nossa família?'.

Masaki fora abençoado ao encontrar a felicidade no casamento. Suas bodas, assim como todas em sua época, fora arranjado por seu pai. O que Masaki jamais esperava era se apaixonar por sua noiva. Maiyumi Tanaka era uma jovem muito bonita, de cabelos escuros e olhos violeta, filha de um nobre de Quioto. As núpcias, arranjadas para trazer mais influência para a família Amamiya, acabara se transformando numa relação longa e feliz. O casal teve duas filhas: Sonomi e Nadeshiko.

As duas garotas eram completamente diferentes, no gênio e na aparência. Sonomi, a mais velha, herdara os olhos violeta da mãe e os cabelos castanhos do pai, tendo também o jeito determinado e introvertido de Masaki. Nadeshiko, por outro lado, possuía a mesma serenidade de Maiyumi. Com cabelos escuros e olhos incrivelmente verdes, a filha caçula era uma garota doce, sonhadora e um tanto distraída. Talvez por isso, Masaki se assustara quando, aos dezesseis anos, Nadeshiko anunciara que queria se casar com um professor recém formado da Universidade de Tóquio.

Toda a família Amamiya foi contra a união. Masaki foi um dos que se opôs ferozmente. Não queria sua doce filhinha casada com um homem qualquer. Determinado a afastá-la dele, proibiu Nadeshiko de encontrá-lo novamente. Este foi seu erro. Na manhã seguinte, descobriu que Nadeshiko havia fugido. Meses depois, recebeu uma carta dela, dizendo que havia se casado com o professor, que estava muito feliz e já estava a espera do primeiro filho. Desejava também rever o pai, a mãe e a irmã. Apesar das súplicas de Maiyumi, Masaki não foi ao encontro do genro e da filha. Nunca mais tivera notícias dela.

Anos depois, foi a vez de Sonomi se casar. Muito mais realista que a irmã mais nova, Sonomi sabia que era a única que podia trazer a honra de volta ao lar dos Amamiya. Por isso não se opôs ao arranjo nupcial feito por seu pai. Assim, a filha mais velha de Masaki e Maiyumi desposou um jovem e influente nobre de Osaka, Kenji Daidouji. No início, Kenji parecia ser um homem bom e honesto, mas logo ele mostrou sua verdadeira face, proibindo Sonomi de ter qualquer tipo de contato com a família.

O tempo foi passando e, numa triste manhã de inverno, Maiyumi faleceu. Masaki tinha certeza que a esposa morrera de tristeza por estar longe de suas duas amadas filhas. Arrependido de ter se afastado de suas próprias filhas, a única ligação com seu grande amor, Amamiya vendeu tudo que tinha de valor e passou a percorrer o Japão atrás de Sonomi e Nadeshiko.

Primeiro, Masaki descobrira que Nadeshiko havia falecido e que seu marido, Fujitaka Kinomoto já não residia mais em Tóquio. Ele e seus dois filhos, Touya e Sakura, viviam viajando, realizando pesquisas e expedições em lugares distantes, como Grécia, Egito, Roma, retornando ao Japão em poucas ocasiões. Depois, descobriu que Kenji e Sonomi também haviam morrido e que a filha deles, Tomoyo, estava perdida. Contratando um detetive particular, passou a procurar a pequena.

A vida de Masaki tomou um novo rumo quando encontrou Tomoyo. A menina, de oito anos, trouxera nova luz a seu mundo triste. A semelhança entre Tomoyo e Maiyumi era imensa. Os mesmos olhos violeta, os mesmos cabelos negros. Masaki passou a dedicar todo seu ser à pequena, empenhando-se para fazê-la feliz, sem se esquecer, porém de seus outros netos.

Quando Tomoyo completou vinte anos, Masaki recebeu uma notícia que o abalou muito. A Universidade de Tóquio lhe mandara uma carta, informando do desaparecimento da família Kinomoto. Ninguém sabia se os três, Fujitaka, Touya e Sakura, estavam vivos. Desesperado, o velho Amamiya partiu para China, local onde o historiador estava fazendo suas pesquisas. Tomoyo o acompanhou, solidária ao sofrimento do avô. Os dois desembarcaram em Shanghai há dois meses e seguiram todas as pistas possíveis dos Kinomoto, chegando até Hong Kong, onde a família foi vista pela última vez.

Um momento sequer, Tomoyo não reclamou da viagem ou das condições simples das pousadas e hotéis que ficavam hospedados e Masaki agradecia aos deuses por isso. A neta era o suporte que precisava para continuar vivendo. Tinha medo de descobrir o pior... Que seus netos e genro estavam mortos sem que ele pudesse ao menos conhecê-los. Sofria muito e, todas as noites, pedia a seus antepassados que o perdoassem por ter sido tão mau e negligente com as filhas.

Suspirando, Masaki enxugou as lágrimas. Estava tão envolto nas próprias lembranças que nem percebeu que a noite havia já havia caído. Sem se preocupar em fechar a janela, pôs sua roupa de dormir e deitou-se na cama, apesar de saber que seria mais uma noite insone.

"Oh, Tomoyo...", murmurou ele, olhando para o teto. "Onde está você?".

* * *

Desde que Li lhe contara tudo o que acontecera naquela fatídica batalha, Eriol passava as noites em claro, pesquisando, lendo, tentando descobrir que tipo de substância poderia causar cegueira numa pessoa. Já lera quase todos os livros da biblioteca de Xiaolang e mandara alguns homens de confiança buscarem seus livros na Inglaterra. Ia demorar muito, mas teria mais material para pesquisa.

Estava lendo um grosso tomo sobre plantas da região quando ouviu um barulho do lado de fora. Levantando-se, foi até a janela, apurou os ouvidos e ficou à espera. Mas como não ouviu mais nada pensou que se tratava de algum animalzinho. Fechando o livro, resolveu dar a noite por encerrada. Precisava estar bem descansado para continuar as leituras.

O dia seguinte encontrou Eriol, Sakura e Lau Ma na biblioteca, entretidos numa conversa sobre plantas, ungüentos e cataplasmas. Xiaolang reclamara que a última pasta que Eriol colocara nos seus olhos coçava e tinha um cheiro muito forte. Os três estavam analisando um modo de adicionar novos ingredientes à pasta que diminuíssem o odor, mas que também não alterassem seu efeito.

Um grito de um dos homens que fazia a segurança da mansão e uma pequena comoção do lado de fora chamou a atenção dos três. Seguiram até o pátio de entrada, onde viram Mu Bai conversando com dois dos 'soldados' de Li.

"O que houve, irmão?", perguntou Lau Ma se aproximando.

"Encontraram um corpo dentro dos muros da mansão", respondeu o guerreiro, com cenho franzido.

"Um corpo?", espantou-se Eriol. "Mas como?".

"Não sei, mestre Hiiragisawa. Deve ter sido durante a noite".

"E a pessoa ainda está viva?", foi a vez de Sakura perguntar, apreensiva.

"Sim, Srta. Sakura. A moça ainda está viva. Os homens estão a trazendo para cá".

'Uma mulher?!', pensou Eriol, ainda mais atônito. Por que teriam jogado uma mulher dentro da mansão? Seria algum plano de Ken? Milhares de questões pululavam em sua mente, mas morreram num instante quando os homens de Li chegaram com a desconhecida. Sua garganta apertou-se diante da visão da pobre moça.

"Oh, Deus!", ele exclamou, sentindo o coração contrair.

O estado dela era deplorável. Ela estava vestida com uma roupa preta, que estava rasgada em várias partes, revelando inúmeras contusões, hematomas e escoriações. O rosto estava quase desfigurado. O olho direito estava completamente inchado e havia um corte na testa, um pouco acima da sobrancelha. O sangue seco cobria boa parte das feições da moça. Os cabelos estavam sujos e embaraçados.

Sakura cobriu a boca com as mãos e deixou escapar um gemido de dor e pena, os olhos cheios de lágrimas. Lau Ma teve também uma reação bem parecida. Eriol, controlando suas próprias emoções, resolveu agir, para o bem da moça machucada.

"Levem-na para meu laboratório, rápido. Sakura, Lau Ma, providenciem panos limpos, esponja, água quente. Mu Bai, avise Xiaolang. Ele precisa saber o que está acontecendo", ordenou o médico a todos a sua volta. Ninguém se mexeu. Estavam espantados demais com o estado da jovem.

"Rápido, pessoal!", exclamou Eriol, batendo as mãos, tirando todos do estupor que se encontravam. As mulheres correram para dentro, seguidas por Mu Bai e os outros homens, que levaram a moça para o 'laboratório' do doutor Hiiragisawa.

* * *

N/A: Oi, pessoal! Esse foi o capítulo sete. Ele ficou curtinho, mas espero que tenham gostado.

Gostaria de esclarecer algumas coisinhas. Talvez você esteja se perguntando: 'Ué? Masaki não é bisavô da Sakura e da Tomoyo?'. Sim, ele é. Mas dei mudei um pouco o personagem para caber melhor na trama. Então, Masaki e Mayumi Amamyia são os pais de Sonomi e Nadeshiko Amamyia, certo?

Outro ponto, como Tomoyo se tornou ladra? E porque justamente fiz esta personagem assim? Bem, eu estava pensando num modo de encaixar Tomoyo de forma coerente na história e, graças a uma idéia iluminada do meu amigo Fantomas, apareceu esta oportunidade. E a finalidade deste capítulo, aliás, era esclarecer um pouco sobre a vida dela, bem como a de Sakura. Quero agradecer o Fantomas de coração. Obrigado, camarada!

Também tem outra coisa que eu não posso deixar de falar (sei que esta nota está ficando imensa...):

MUITO OBRIGADA A TODOS OS REVIEWS, COMENTÁRIOS E E-MAILS!!!

Quero agradecer a: Angel Lani, Cat Angel Wing, Jubasmile, Demoniac Angel, Anna22, Mel, Saki_Kinomoto, Gandalf, *Sakurinh@*, Juliana, Mina Tatsume, Regina, Ana Nunes, Daphne Pessanha, KayJuli, Isinha, Dany-chan, Rafaella, Nanninha Li, Joyce, Fab Kinomoto, Stella, Morgana *Malookinha*, Lilith_Trm, Shaiene-chan, Mildred, Marjaire, Pritty, Rosana, Fabi, Bruninha-chan, *Kaoru*, Nelly e todo mundo que me escreveu alguma coisa e que não citei o nome aqui.

Muito obrigada de coração! Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.

Andréa Meiouh