Capítulo 15
Conforme as horas passavam, a tensão crescia dentro da mansão Li. Todos se preparavam para a chegada de Ken. Suprimentos de comidas e armas eram estocados e carroças eram preparadas para levar mulheres e crianças para a vila. No meio do pátio, Mu Bai gritava ordens em todas as direções, seguindo as orientações de Li. E da varanda, Sakura e Lau Ma acompanhavam toda a movimentação.
"A primeira carroça para a vila está pronta...", comentou a empregada. "A senhorita não vai?".
Sakura negou com a cabeça.
"Mas mestre Li nos ordenou que preparássemos um lugar para a senhorita...".
"Me diga uma coisa, Lau Ma...", Sakura se voltou para a jovem, a interrompendo. "Você partiria se estivesse no meu lugar? Deixaria seu noivo para trás, preocupando-se apenas consigo mesma?".
Lau Ma respondeu sem hesitar. "Não, senhorita. Eu ficaria e lutaria".
A noiva de Li sorriu. "Então você já sabe o que vou fazer". E dizendo isso, ela se afastou, entrando na casa.
A residência estava completamente diferente do habitual. Móveis, quadros e todos os objetos de valor foram retirados e enviados para a vila, junto com as mulheres. Xiaolang não deixaria Ken ficar com nada que era seu. Esse material seria mandado para a casa de sua mãe e irmãs, em Pequim.
Sakura passou pela sala vazia, desprovida de seus enfeites, sentindo o coração apertar, tanto de tristeza como de medo. Desejava ardentemente que nada daquilo estivesse acontecendo, mas sabia que não tinha outro modo de parar Ken. Ele havia cegado Xiaolang, espancado Tomoyo, abusado de Dae e feito tantas outras coisas más... Inclusive mandar matar Fujitaka e Touya... Ken precisava ser detido, de qualquer maneira.
A moça chegou até a ala oeste e seguiu direto para o salão de treinamento. Lá estava Li, sentando de pernas cruzadas, olhos fechados, meditando. Ele usava sua armadura de guerra e sua espada, afiada e reluzente, estava posicionada à frente dele, no chão. Apesar da aparência exterior calma, Sakura sabia que o noivo estava tão agitado quanto ela, pois aquela seria a batalha da vida deles. Era matar ou morrer.
"O que faz aqui?", ele perguntou, surpreendendo a noiva. "Por que não partiu na carroça?".
"Xiaolang... Não quero discutir isso agora...", ela suspirou. "Pensei que já tivéssemos nos entendido sobre esse assunto. Vou ficar aqui, não vou para a vila".
"Você é mesmo teimosa!", ele grunhiu. "Uma tola teimosa. Acha mesmo que vai ajudar ficando aqui? Sua burra, você só vai atrapalhar!".
Assustada com as palavras rudes do noivo, Sakura recuou alguns passos. "Xiaolang...".
"Entre logo naquela maldita carroça e vá embora!", ele ordenou. "Talvez haja uma chance de vencer se você não estiver aqui".
"O que quer dizer com isso?", ela inquiriu, vacilante.
"Desde que chegou, as coisas têm dado errado... Você só tem trazido problemas! Eu vivia muito bem, sozinho no meu mundo escuro... Então você surgiu e estragou tudo!", Li exclamou, se erguendo. "Vá embora, Sakura! Vá embora e talvez eu tenha sorte".
Sakura sentiu o chão sumir debaixo de seus pés. As palavras de Xiaolang feriam sua alma. Não podia acreditar que, mesmo depois de tudo que houvera entre eles, Xiaolang poderia tratá-la de modo tão duro.
"Por que está fazendo isso, Xiaolang?", ela choramingou, as mãos no peito, numa tentativa vã de amenizar a dor que sentia. "Por que essa grosseria? Eu pensei... Eu pensei que você... Você...".
"A amasse?", ele completou com ironia. "Sua tola! Acha mesmo que alguém como eu pode amar?".
"Você mentiu? Você mentiu pra mim?", o rosto de Sakura expressava total descrédito. "Por que?".
"Não consegue imaginar?", o sarcasmo dele era palpável. E os lábios de Sakura se abriram num 'O' silencioso. "Mas devo confessar...", Li continuou. "Seu comportamento na cama superou minhas expectativas".
Aquilo foi a gota d'água. Soluçando, Sakura saiu correndo, atormentada pelas palavras brutas de Xiaolang. Este se sentou novamente, mas não conseguia mais voltar à sua meditação. Dizer aquelas barbaridades, aquelas mentiras, doera tanto nele quanto doera em Sakura escutá-las. Mas não havia outro modo... Era o único jeito de protegê-la. Ela tinha que ir embora.
"Me perdoe, Sakura... Me perdoe...".
* * *
Tomoyo fitava a adolescente diante dela com compaixão. Afinal, quem não sentiria piedade daquela garota tão frágil e machucada? Dera banho em Dae, entretanto a água e o sabão não haviam removido as marcas da violência que a pobre menina sofrera. Dae tinha hematomas e escoriações por todo o corpo, marcas de cortes e queimaduras, além de alguns dentes faltando, costelas quebradas e profundas olheiras. Sem falar que ela estava completamente desnutrida. Ficara dias e dias sem ingerir um único alimento, presa dentro do quarto dos pais. E agora, diante de uma tigela fumegante de sopa, não dava o menor indício de que ia ou queria se alimentar, preocupando Tomoyo profundamente.
"Dae... Você tem que comer alguma coisa... Está muito fraca, precisa se alimentar".
"Obrigada, Srta. Tomoyo", a menina afastou a tigela para frente. "Não sinto fome".
A ladra suspirou e resolveu mudar de assunto. "Consegui arrumar para você um lugar na carroça que vai para a vila, junto com meu avô e as filhas de Min Soo. Eles vão cuidar muito bem de você...".
"A senhorita não vai?", perguntou a jovem, de olhos arregalados.
"Não. Tenho contas a acertar com Ken", respondeu Tomoyo. "Vou ficar e ver no que posso ajudar".
"Também tenho contas com aquele monstro", murmurou Dae, cabisbaixa.
"Todos nós, nesta casa, temos uma dívida com Ken... Aquele crápula destruiu nossas vidas... Por isso, tentaremos detê-lo".
"Posso ficar?", questionou a garota, esperançosa.
"Você está muito fraca, Dae... Precisa repousar e se fortalecer. De jeito que está agora, não poderia nos ajudar... Melhor partir para a vila e depois seguir com os outros para a residência da mãe do senhor Li".
Dae ficou em silêncio e, quando voltou a falar, foi com voz trêmula, devido às lágrimas. "Mata ele, Srta. Tomoyo", ela pediu. "Eu suplico por tudo o que considera de mais sagrado... Mata aquele homem e vingue minha família...".
"Dae...".
"Ele é mau, senhorita, muito mau... A morte é pouco para ele...", a adolescente tinha os olhos brilhantes e o rosto febril, estava completamente exaltada. "Ele tem que ser destruído e arder nas chamas do inferno!". Numa agilidade surpreendente, Dae se ergueu e agarrou Tomoyo. "Me prometa, Srta. Tomoyo! Prometa que vai matar aquele monstro!".
"Dae! Acalme-se!".
"Prometa! Por Kami, prometa!", a menina gritou. "Só vou para a vila se me prometer!".
"Dae!".
"PROMETA!".
"Eu prometo!", replicou Tomoyo, assustada com o surto da garota. No entanto, assim que as palavras saíram de sua boca, se arrependeu. Não podia prometer algo que não sabia se poderia cumprir. Mas continuou assim mesmo. "Eu prometo, Dae...".
A adolescente caiu num pranto histérico e convulsivo, ainda agarrada a Tomoyo, cuja impotência aumentava a cada instante. Sabia que não podia fazer nada para amenizar a dor daquela garota.
* * *
Masaki já terminara de arrumar suas coisas e se encaminhava para o pátio quando encontrou Sakura chorando, sentada num canto da sala, abraçada aos próprios joelhos e balançando-se como se embalasse um bebê.
"Sakura? O que houve?", ele se aproximou, perguntando muito preocupado.
A moça enxugou as lágrimas e ergueu a cabeça. A tristeza que os belos olhos verdes refletiam era de partir até mesmo o coração mais duro.
"Senhor Amamiya... Vovô... O senhor ainda quer que eu vá ao Japão?".
"Como...?", ele arregalou os olhos, estranhando. "Mas eu achei...".
"Quer?", ela o interrompeu, um tanto aflita.
"Mas Sakura... E o casamento?".
"Creio que não haverá mais casamento...", disse ela, cabisbaixa.
"O que aconteceu, minha cara? Por que não vai mais se casar com o Sr. Li? Vocês brigaram?".
"Isso não vem ao caso agora...", ela desconversou. "O que importa é que estou disposta a viajar com o senhor... O que acha?".
"Bom... Já que você quer ir... Eu acho ótimo".
Sakura deu um triste sorriso. "Obrigada, vovô".
"Vá arrumar suas coisas. A última carroça está para partir".
Olhando para a roupa que usava, Sakura suspirou. A túnica azul, na realidade, pertencia à uma das irmãs de Xiaolang. "Não tem nada que me pertença neste lugar", disse ela, por fim.
Masaki viu a neta se levantar. "Tem certeza que é isso mesmo que quer, Sakura?".
"Tenho sim", ela concordou com a cabeça.
"Então vamos".
Eles seguiram para o pátio, onde Zhang Huike e sua esposa, Min Soo, ajeitavam as filhas na carroça e se despediam. Yuelin e Pei Pei não queriam deixar os pais e choravam de tristeza. Ao lado delas, Tomoyo acomodava Dae. A ladra estranhou a presença da prima ali, mas nada comentou. Masaki sentou-se ao lado do cocheiro e Sakura entre as três garotas.
Dando uma última olhada na mansão, a qual fora seu lar nas últimas semanas, Sakura sentiu os olhos arderem e a garganta apertar. Avistou Li chegando na varanda, acompanhado por Eriol e Mu Bai, todos armados e em trajes de luta. Seu coração doeu novamente. Sentia-se rejeitada e humilhada. Havia caído na conversa de Xiaolang... Ele dissera que a amava... Somente para levá-la para a cama! Fechou os olhos e lágrimas teimosas voltaram a escorrer.
Instigando os animais, o cocheiro, também armado com sua espada, pôs o veículo em movimento, levando Sakura para longe de Xiaolang, para fora da vida daquele guerreiro cego e insensível.
"Ela está lá?", Li perguntou à Eriol.
"Sim", o médico respondeu, de cara fechada. "E ela está arrasada... Sinceramente, Li, o que você fez foi uma grosseria".
"Foi o único jeito. Ela está partindo e ficará segura. É isso o que importa pa--", Xiaolang parou de falar subitamente, acometido por um flash de luz e uma pontada na cabeça. Perdeu o equilíbrio por uns momentos e teve que ser amparado por Mu Bai.
"O senhor está bem, mestre?", perguntou o assistente.
"Acho que aquele soro finalmente está fazendo efeito...", Li disse entre os dentes. "Meus olhos estão ardendo".
"Não vai poder lutar assim!", preocupou-se Eriol.
"Não importa! Não temos mais tempo!", disparou o dono da casa. "Vamos fazer como combinado e acabar logo com isso".
Foi quando a terra começou a tremer e um enorme ruído foi ouvido por todos. Era o som de cascos de cavalos. Na guarita, um sentinela alertou.
"BANDIDOS SE APROXIMANDO! BANDIDOS SE APRO-AAAAAAHHH!!", uma flecha atravessou o peito do rapaz.
"FECHEM OS PORTÕES!", gritou Li, descendo para o pátio com ajuda dos amigos.
Os cavalos assustados empinaram e o cocheiro perdeu o controle das rédeas e da carroça. Soltos, os animais dispararam na direção dos portões.
"Oh, Kami!", gritou Masaki.
"MAMÃE!", guinchava Yuelin, agarrada à irmã mais velha que, por sua vez, estava abraçada a Sakura. Assustada, a governanta não sabia o que fazer. A carroça se chocou com o portão, partindo-o em pedaços. Com o forte impacto, Masaki e o cocheiro foram lançados para longe, enquanto Sakura e as meninas ficaram presas debaixo do coche. E no sentido contrário, vinha o exército de Ken, armado até os dentes.
"Oh, não!", exclamou Eriol. "Sakura!".
"Sakura! Vovô!", Tomoyo gritou.
Flechas flamejantes cruzaram o céu e atingiram o telhado da mansão e de algumas construções adjacentes. O estábulo rapidamente começou a pegar fogo. Pegos de surpresa, alguns homens de Li rapidamente pereceram diante da fúria dos capangas de Ken.
Lau Ma e Tomoyo se puseram em posição de ataque, uma cobrindo a retaguarda da outra. A empregada estava armada com um bastão e a ladra com sais, afiadíssimas adagas, prontas para acertarem qualquer bandido que cruzasse o caminho delas. Não muito distante delas, estavam Huike e Min Soo, preocupados com as filhas, mas preparados para qualquer coisa.
"Não toquem em Li!", gritou uma voz, no meio da confusão e da poeira. "Ele é meu!".
'Ken', pensou Xiaolang, desembainhando a espada.
* * *
"AAAHH!", gritavam as garotas, em total desespero. Estavam presas debaixo da carroça, que havia virado com o impacto no portão. Sakura também estava em pânico total. Tentava se mexer, mas estava difícil. Depois da queda, ficara de costas, numa posição incômoda, imprensada entre parte de mobília e Pei Pei. Esta chorava desesperada, juntamente com Dae.
"Socorro! Nos tirem daqui!", berrava a filha mais velha de Huike. Mas os gritos de Pei Pei eram abafados pelo som da luta que estava havendo no pátio.
Pensando no noivo, ou ex-noivo, Sakura sentiu o desespero aumentar. Naquele exato momento, Xiaolang estaria lutando com seu pior inimigo. E ela estava ali presa sem ter como sair. Juntou-se ao coro das meninas, clamando por ajuda.
"SOCORRO!".
* * *
Mu Bai puxou a espada rapidamente e cortou o primeiro bandido que passou à sua frente. A lâmina atingiu a garganta, matando na hora e esguichando sangue. O treinamento intenso que tivera com Mestre Li seria posto em prova agora e ele sentia um estranho prazer de estar lutando. Seu espírito de guerreiro falava mais forte.
Desviou de um golpe e acertou um soco num baixinho fedorento. Trocaram alguns golpes de espada, mas a superioridade do assistente e amigo de Li era evidente. Rapidamente, Mu Bai eliminou mais um adversário, para se ver cercado por mais dois. Usando sua agilidade, deu um chute certeiro no pescoço de um deles e, em seguida, voltou-se para o outro. Este até que não lutava mal, mas a raiva tirava toda a eficiência de seus movimentos. Novamente, Mu Bai se livrou de mais um.
Durante um giro para defender-se de uma espada, ele avistou a irmã. Desde pequena, Lau Ma desejara aprender como manejar armas e Mu Bai, a pedido do pai ambos ensinara. A jovem sabia como usar espadas, adagas, punhais e bastão, sendo este último, sua arma preferida. Ela era extremamente hábil com um bastão. Com pancadas certeiras, Lau Ma era capaz de quebrar ossos ou até matar alguém, dependendo do local da batida.
Um cavalo se aproximou disparado. Mu Bai arredou e, com espada, acertou o cavaleiro, derrubando-o do animal. Furioso, o homem partir para cima dele. Num rápido movimento de pernas, o guerreiro deu uma voadora que lançou o oponente longe. Outro capanga apareceu, tentando acertar uma facada. Mu Bai esquivou-se, mas não foi rápido o suficiente para escapar de uma clave, que um segundo homem segurava, que lhe acertou em cheio as costelas. Com falta de ar, oscilou e caiu no chão, para receber alguns chutes.
Rolou para o lado quando avistou uma katana vindo em sua direção. Recuperando a espada, ergueu-se com um pulo e abaixou-se veloz, dando uma bela rasteira no homem que o derrubara, e enviou-lhe a espada no peito. Grunhindo, atacou o que estava com a clave. Também o eliminou. Retirava sua espada do corpo inerte do adversário quando avistou Sato, lutando com dois homens de Li. Sentiu seu peito arder em raiva.
"Sato!", exclamou encarando o outro guerreiro com olhos em brasa. "Lute comigo, maldito!".
Sato livrou-se dos dois rapazes que tentavam detê-lo com facilidade. Mu Bai reparou que ele não matara nenhum dos dois. "Temos uma dívida", disse o irmão de Lau Ma, apontando a espada para o peito do outro. "Vou limpar a reputação da minha irmã e vingar a honra dela, mandando você para o inferno!".
A resposta foi um sorriso de deboche. "Vamos ver se você consegue".
"Verme! Prepare-se para morrer!". E bradando seus gritos de guerra, ambos avançaram ao mesmo tempo.
* * *
Li ouvia gritos e espadas de chocando. Não enxergava, mas podia sentir tudo à sua volta: o calor do fogo que queimava o estábulo e o barulho das flechas cortando o ar. Mas o pior som era o de Eriol gritando o nome de Sakura e o choro das garotas que ainda deviam estar presas dentro da carroça virada.
"Como eu sonhei com este momento...".
A voz vil de Ken fez com que Li voltasse a sua realidade, e esta era aquela luta adiada há anos. Apertou a espada entre as mãos e a levantou devagar, esperando pelo ataque do inimigo, que não tardou. Ouviu o barulho dos passos rápidos de Ken, vindos na sua direção. Sorriu de lado, constatando que o antigo companheiro de combate e traidor estava um pouco mais lento do que se lembrava. Ken, numa fúria incontrolável, cortou o ar com sua espada, atingindo com força a de Xiaolang.
"Oras... até que não está tão mal", gracejou Li, com sarcasmo.
"Não mudou nada, Li. Continua o mesmo arrogante".
"E você, o mesmo covarde", rebateu o guerreiro, já o atacando.
As espadas se chocavam com fúria, soltando faíscas. Ken olhava desesperado para Xiaolang. Aquela maldita confiança ainda existia nele, mesmo depois de cego.
"Tirem as mulheres! A carroça está pegando fogo!", gritou um dos empregados de Li.
'Sakura!', Li pensou desesperado, desconcentrando-se, o que lhe rendeu um corte no braço direito. Ken olhou com gosto o sangue de Li em sua espada. O guerreiro levou uma das mãos no corte e pensou que não poderia se desconcentrar novamente ou morreria.
"Vou matar você, Li!", Ken avançou sobre ele tentando o golpeá-lo, "Vou matar você dolorosamente".
Li se esquivava dos ataques do inimigo, sabendo que precisava ser mais rápido. Fora ensinado que a melhor defesa era o ataque, principalmente quando este era surpresa. Numa manobra ágil, esquivou da lâmina de Ken e se abaixou para, numa rasteira, fazer o bandido cair de costas no chão. Sem pensar, o chutou com força no rosto, fazendo ele rolar alguns metros no chão.
Ken bufou de raiva. Levantou-se e passou a mão na boca, que sangrava bastante. Fitou Li com olhos em chamas. Apertou a espada e correu ao encontro do guerreiro, gritando. Li não se mexeu um centímetro até que o outro estivesse perto, perto o suficiente para que pudesse dar apenas um passo para o lado. Então, cego pela raiva, Ken passou por ele, não conseguindo parar. Xiaolang o atingiu com força nas costas, abrindo-lhe um grande corte.
Novamente, Ken soltou um grito de dor, devido ao grave ferimento. Suas pernas cambalearam devido a ardência das costas. Mesmo assim, virou-se para Li, para encontrá-lo imponente, como ele sempre esteve à frente de seu exército. Alguns bandidos atacaram Li para defender o chefe, porém Xiaolang atingiu-os de forma rápida e mortal, fazendo deles apenas fantoches.
"A luta não era apenas entre eu e você, Ken?", perguntou com sarcasmo.
Ken não respondeu. Empunhou a espada e, desta vez mais calmo, avançou para cima de Li. Xiaolang, ouvindo a aproximação dele, apertou a espada e se posicionou para a luta, porém uma dor fina e cortante lhe atingiu a cabeça, fazendo-o largar a arma e cair de joelhos no chão.
"Droga!", gritou, sentindo os olhos pegarem fogo.
Ken arregalou os olhos com a maravilhosa surpresa. Ali estava Li, à sua frente, com uma das mãos na cabeça, enquanto apertava os olhos com força, num sinal claro de sofrimento. Estendeu a lâmina até o pescoço do guerreiro. Li sentiu algo cortante e frio encostando à sua pele.
"Morra!", o bandido gritou, afastando um pouco a espada, para pegar impulso e, num só golpe, decapitar Xiaolang. Mas este, agilmente, se jogou para trás e, com uma tesoura nas pernas de Ken, o fez cair ao chão mais uma vez. Em um movimento rápido, Li levantou uma das pernas e, com o calcanhar, atingiu com força o peito do inimigo, que gemeu de dor pelo golpe. Tateando o chão, Li tentava encontrar sua espada, em vão. Sabia que ela estava por ali, pelos seus cálculos, deveria estar perto dela ainda.
"Procurando sua espadinha, senhor Li?", guinchou uma voz fina e nojenta, próximo dele.
"Ele é meu, Shun... Meu!", Ken exclamou com dificuldade, levantando-se, tentando se recuperar do golpe de Xiaolang. Só ele podia matar Li. Só ele.
Pondo-se de pé, Li constatou que não tinha mais como recuperar sua espada. E perdendo um pouco de sua concentração, outra vez acabou prestando atenção na agitação que havia à sua volta. Ele pode ouvir um grito que reconheceu como sendo de Sakura e se desesperou. Se pelo menos ele tivesse a maldita visão, poderia proteger a mulher que amava e sua casa.
* * *
Assim que vira a carroça de Sakura virar, Eriol correu para ajudar a noiva do amigo. Mas, os homens de Ken impediram sua passagem, atrasando-o. Sabia que não era tão bom de combate quanto Li e Mu Bai, mas iria lutar com toda sua garra. Desferindo golpes mortais, foi abrindo espaço até chegar em Tomoyo e Lau Ma.
As duas mulheres estavam posicionadas de maneira estratégica, uma protegendo as costas da outra. Tomoyo girava suas sais com habilidade, atacando e defendendo. Usava também a agilidade adquirida nos anos de roubo para desviar dos golpes das espadas que pareciam vir por todos os lados. Atrás dela, Lau Ma usava seu bastão como se fosse uma extensão de seus braços. Golpeava os capangas de Ken, com uma raiva incontida. Eriol livrou-se de um mercenário que cheirava a bebida e se aproximou delas.
"Vocês estão bem?", perguntou preocupado.
"Sim!", respondeu Tomoyo. Ela deu uma cotovelada num marginal que se achegara dela, fazendo-o dobrar-se ao meio. Aproveitando a chance, ela acertou a nuca dele com o cabo de sua sai. Ligeira como um felino, ela tirou uma kunai da bota e arremessou, atingindo um outro capanga no peito.
"Precisamos tirar Sakura e as meninas dali!", Lau Ma exclamou apontando para a carroça. Mas ela voltou-se logo quando um grandalhão se aproximou dela. Prontamente ergueu seu bastão para defender-se. Porém, a arma de seu oponente era um machado e com este, ele partiu o bastão de Lau Ma no meio. Perdendo o equilíbrio, a moça caiu no chão e fitou, desesperada, seu agressor se aproximar.
Entretanto o homem parou a alguns passos de distância, quando uma flecha certeira cravou-se no seu pescoço. A metros dali, Min Soo acenava levemente com a cabeça, enquanto apanhava outra flecha. Ao lado dela estava Huike, manejando suas foices com destreza e eliminando os homens de Ken.
"Ajudem as garotas!", exclamou o cozinheiro. "Rápido!".
Eriol concordou e correu para a carroça. Mas parou no lugar quando viu uma flecha flamejante atingir o veículo. "Sakura!", gritou, entrando em pânico, vendo as chamas comerem lentamente a madeira do coche.
"Fogo!", bradou um empregado de Li.
"Tirem as mulheres! A carroça está pegando fogo!", gritou outro empregado.
O grito chamou a atenção de Tomoyo, que acabou levando um golpe no braço. Recuou um pouco e, num lance ágil, arremessou uma terceira sai que estava presa em sua cintura. Livre de seu adversário, correu para junto de Eriol. Foi quando avistou Masaki caído no chão, a alguns passos de distância da carroça.
"Vovô!".
Ao chegar perto do velho homem, porém, levou um choque. Seu avô estava estirado numa posição estranha e seu pescoço estava num ângulo anormal. Os olhos deles estavam abertos e vidrados, e um filete de sangue escorria por sua boca. O Senhor Amamiya estava morto.
"VOVÔ!", ela chorou, abraçando o corpo inerte de Masaki.
* * *
Sakura sentia a garganta arder de tanto gritar. Lágrimas escorriam por seus olhos, queria sair dali e correr para os braços de Xiaolang, mas a luta lá fora servia para lembrá-la da terrível situação que se encontravam. Ao seu lado, as meninas continuavam a gritar e chorar. Apesar de seus esforços, não conseguiam mexer o coche.
De repente, Sakura sentiu o espaço ficar mais quente e abafado. Seu sangue gelou quando ouviu alguém gritar que a carroça estava queimando. Tentou virar a cabeça para ver as meninas, mas não conseguia virar o pescoço. E como estava de bruços, suas costas começaram a esquentar.
"Sakura!", a voz de Eriol soou ali perto. "Sakura! Vocês estão bem!".
Todas começaram a gritar ao mesmo tempo, em pânico. Sabiam que estavam presas numa perigosa e mortal armadilha. A fumaça que se formava, começava a fazer-lhes mal, provocando tosses e ardência nos olhos.
"Eriol!", ela exclamou. "Tira a gente daqui!".
"Espere!", respondeu o médico. "Já vou tirar!".
Eriol segurou no lado da carroça, mas não conseguiu erguer muito. Subitamente, sentiu o veículo ficar mais leve e se mexer. Olhou para o lado e deparou-se com Huike. Atrás deles, Min Soo oferecia proteção, mantendo longe quem quisesse se aproximar.
"Juntos no três!", disse o cozinheiro. "Um... Dois... TRÊS!". Soltando um forte grito, os dois homens viraram a carroça, libertando Sakura e as três meninas.
"Corram para um lugar seguro!", ordenou Min Soo para as filhas. "Andem!". Não havia tempo para comemorarem. Capangas de Ken se aproximavam e ela tentaria mantê-los afastados de suas meninas o máximo que pudesse. Ergueu o arco e disparou outra flecha certeira.
"Obrigada!", entre lágrimas, Sakura abraçou Eriol apertado.
"Você está bem?", o médico inquiriu, ainda preocupado.
"Sim", ela enxugou o rosto com as mãos sujas de terra. "Onde está o vovô?".
Eriol apontou para onde estavam Tomoyo e Masaki. Sakura sentiu as lágrimas voltarem aos seus olhos quando percebeu o que tinha acontecido. Seu avô, aquele homem que surgira de repente e que aos poucos fora a cativando, estava morto.
"Não...", ela soluçou.
"Se esconda com as meninas, Sakura", pediu Eriol, pegando a amiga pelo braço. "Está muito perigoso aqui...".
Sakura acenou com a cabeça, concordando. Mas antes de ir, precisava saber de Xiaolang. Virou-se para o amigo para perguntar, quando seus olhos avistaram outra cena chocante. No meio do pátio, Li estava de pé, parecendo perdido, quando Ken se aproximou, desferindo vários golpes. Ela viu o amado cair e em seguida Ken lhe traspassar o abdômen com a espada.
"XIAOLANG!".
* * *
Empenhados, Mu Bai e Sato duelavam enquanto o resto da confusão os rodeava. E logo perceberam que o resultado daquela peleja talvez fosse um empate. Tinham estilos agressivos e não paravam de investir um contra o outro. Com isso, ficaram exaustos e com alguns ferimentos médios.
Com um giro nas mãos, o guerreiro japonês fez um movimento rápido, travando a espada de Mu Bai com a sua e arremessando-a para longe. O assistente de Li ficou desarmado. Sato apontou a ponta da espada para o oponente, quase encostando-a em seu pescoço. Os dois se fitaram, ofegantes, sentindo a raiva diminuindo lentamente e sendo substituída por algo que nenhum dos dois esperava: admiração.
"Você luta bem", admitiu Sato, com uma pontinha de respeito.
"E você também", disse Mu Bai. "É bom ter um adversário de mesmo nível para variar".
O outro concordou com a cabeça, ainda fitando o irmão de Lau Ma nos olhos. "Não quero matar você".
"Mas eu queria... Pelo que fez com minha irmã".
"Eu entendo... Se estivesse na sua posição, faria o mesmo...".
Mu Bai abriu a boca para falar mais alguma coisa quando uma dor lancinante atravessou-lhe o ventre, fazendo-o cair de joelhos. Abaixou os olhos e viu uma flecha traspassada em seu abdômen. Ergueu a cabeça e deparou-se com a expressão chocada de Sato. O choque logo se transformou em indignação e ódio.
"Verme maldito!", ouviu o braço direito de Ken gritar e correr com espada em punho.
Sato avançou sobre o homem que havia disparado a flecha e o decapitou sem pensar duas vezes. Sentia uma fúria fora do normal. Quando treinara com o tio, aprendera a nunca atacar um inimigo desarmado por trás. Era um ato de covardia. Aproximou-se de Mu Bai, que cuspia sangue, ajoelhado no chão.
"Tire... Tire a flecha", este gemeu, puxando Sato pela armadura.
"Idiota! Vai sangrar até morrer!".
"Tire!".
Concordando, Sato quebrou a ponta da flecha e, segurando-a por trás, deu um forte puxão. Mu Bai gritou de dor e caiu por terra. Sato o virou de barriga para cima, pressionando o ferimento com as mãos, mas de nada adiantou. A flecha havia atingido órgãos vitais.
Mu Bai tossiu e cuspiu mais sangue. "Lau Ma...", murmurou com dificuldade. "Cuide dela... Por favor...".
Sato olhou para o homem que morria em seus braços. Se as coisas fossem diferentes, provavelmente eles teriam sido bons amigos.
"Lau Ma...", Mu Bai tornou a gemer. "Cuide...".
"Sim... Eu cuidarei".
E com um último gemido, Mu Bai fechou os olhos e morreu.
* * *
Sakura sentiu seu sangue ferver ao ver seu amado ser ferido. Esquecendo todas as palavras rudes que ele lhe dissera, desvencilhou-se de Eriol e correu para onde Xiaolang estava. Entretanto, foi interceptada por um dos capangas de Ken que a agarrou pelo braço. Gemendo de dor, Sakura caiu de joelhos.
"Ei, boneca... Onde vai com tanta pressa?", o hálito fétido e a aparência imunda do troglodita fizeram o estômago de Sakura revirar-se.
"Me solta!", ela exclamou se debatendo.
"Hum... Uma garota tinhosa...", ele gargalhou ante as tentativas inúteis da moça em se soltar. "Vou gostar de você, princesa...". Mas isso foi a última coisa que ele disse antes de cair no chão, devido a forte pancada que Lau Ma aplicara com seu meio-bastão. Para infelicidade de Sakura, o imbecil apagou em cima dela.
"Senhorita Sakura!", Lau Ma chamou, ajudando-a a sair debaixo daquele monte de pele fedorenta. "Tudo bem?".
"Sim...", respondeu a moça, pondo-se de pé e respirando fundo.
"Não pode ficar desarmada... Será um alvo fácil...", aconselhou Lau Ma. "Tome!". E estendeu uma das metades de seu bastão. "Bata com toda força, em qualquer um bandido que quiser se aproximar... Atinja áreas como cabeça, pescoço, costelas e joelhos...". A empregada dava as instruções, falando rapidamente, enquanto via mais um homem se aproximar delas.
Entendendo, Sakura acenou com a cabeça. Segurando o bastão bem forte com as duas mãos, ficou numa posição de defesa que o irmão havia lhe ensinado anos atrás. Touya havia insistido para que a pequena Sakura aprendesse a se proteger e lhe ensinara noções básicas de defesa pessoal. Postando-se ao lado de Lau Ma, viu o outro capanga se achegar e tentar agarrá-las. Com firmeza, Sakura atingiu a barriga do homem, fazendo-o dobrar-se ao meio. Lau Ma, mais que depressa, golpeou-lhe a nuca, apagando-o de uma vez.
As duas se olharam e trocaram acenos de cabeça e um leve sorriso. Sakura virou a cabeça e avistou Li. Ele sangrava bastante, mas ainda lutava. Munida de seu bastão, Sakura foi abrindo passagem, seguindo na direção do noivo.
* * *
Tomoyo não conseguia pensar em mais nada, apenas no avô morto em seus braços. A luta ao seu redor foi lentamente saindo do seu consciente e lembranças da vida com Masaki pululavam em sua mente. Não conseguia conter as lágrimas.
"Me desculpe, vovô...", ela falou, entre soluços. "Eu nunca quis magoá-lo... Sinto muito por tudo de errado que fiz... Vovôzinho...".
Totalmente esquecida da batalha, Tomoyo tornou-se um alvo fácil. E isso foi notado por Shun. Ele se lembrava muito bem do dia em que Sato levara a cadela ladra para o acampamento. Os cabelos negros lustrosos, o corpo perfeito, a pele clara e os olhos violeta fizeram muitos homens arder de desejo por ela. Porém, Ken não permitira a ninguém tocar na garota. Ele tinha planos maiores para ela. Mas a vadia os enganara e provavelmente matara Zhung. Aproximando-se dela, agarrou-a pelos cabelos. Ia se divertir com ela e depois vingar a morte do companheiro.
Pega de surpresa, Tomoyo largou o corpo de avô e gritou, chamando a atenção de Eriol, que lutava ali perto. Mais rápido que pode, o médico correu até ela, com sua espada em punho.
"LARGA ELA!", gritou, golpeando Shun nas costas e abrindo um talho profundo. Urrando de dor, Shun soltou Tomoyo de pronto, fazendo-a tombar sobre o morto.
"Maldito infeliz!", xingou o rastreador, com dificuldade, sentindo a ferida arder e o sangue escorrer. "Vou matar você!", exclamou investindo contra Eriol.
Porém, lento demais por causa do corte, não ofereceu dificuldades nenhuma ao amigo de Xiaolang. Depois de bloquear a espada de Shun, Eriol girou e abaixou-se num dos joelhos. Segurando a espada do lado direito, gravou-a no ventre de Shun, que se aproximava por trás. De olhos esbugalhados, o rastreador recuou dois passos e depois de cuspir sangue, caiu morto no chão.
"Tomoyo!", Eriol se adiantou para a moça, que o fitou com olhos cheios de lágrimas. A morte do avô havia sido um terrível baque para ela. Abraçou-a contra o peito, sem se importar com o sangue que cobria parcialmente sua armadura.
* * *
Os pensamentos de Xiaolang foram interrompidos quando ele sentiu a lâmina de Ken lhe ferindo a pele. Seu cruel inimigo se valia de um momento de distração para tentar derrotá-lo. Deu uns passos para trás, tentando se esquivar dos golpes incessantes que Ken desferia sobre ele, no que parecia ser uma tentativa desesperada de ganhar.
Novamente, um flash passou por seus olhos, fazendo-o perder o equilíbrio. Não ouviu mais nada. Por breves segundos, tudo ficou em silêncio na sua mente. Apenas sentiu a espada de Ken entrando no lado direito de seu abdômen, de forma rápida. Trincou os dentes, ouvindo unicamente o som da gargalhada de Ken e do grito desesperado de Sakura, chamando o seu nome.
Logo sentiu o impacto da terra em seus joelhos. Levando uma das mãos no machucado, o comprimiu para que parasse de sangrar. Ele não morreria agora. Não morreria antes de dizer a Sakura o quanto a amava. Não morreria antes de voltar a enxergar. Não morreria pelas mãos de um ser nojento como Ken.
Com esforço, levantou-se e ergueu os punhos cheios de sangue na direção de Ken. Apertou bem os olhos, tentando desviar os pensamentos da maldita ardência neles e na dor fina que sentia no abdômen.
"Ainda acha que pode lutar contra mim?", falou Ken com sarcasmo.
"Vem", Li respondeu, fazendo um gesto com uma das mãos.
Correndo de encontro a Li com a espada em punho, Ken grunhiu e novamente Xiaolang esperou que ele chegasse perto. Então, se abaixou e evitou o golpe da espada. Com um chute, atingiu as mãos de Ken, forçando-o a soltar a arma. Começou a golpeá-lo de forma feroz e até certo ponto raivosa.
Ken até que foi bem sucedido na sua tentativa de se proteger do primeiro golpe, mas foi surpreendido pelo segundo na altura do rosto. O terceiro o atingiu na boca do estômago, fazendo suas entranhas se contorcerem. Recuou um passo e, pelos olhos semicerrados, observou Li relaxar os ombros e se posicionar para o combate corpo a corpo.
Xiaolang respirava fundo, relaxando os membros e acalmando as batidas de seu coração. Todos seus sentidos estavam em alerta. Podia sentir a raiva de Ken através da pele e ouvia seus bufos e gemidos de dor, frustração e fúria. Percebeu que o ex-colega se aproximava mais uma vez.
"Maldito!", foi o que Ken gritou, avançando sobre seu desafeto. Tentava acertá-lo de todas as maneiras, porém nenhum golpe atingiu Li de uma forma mais perigosa ou mortal. Tinha pensado que depois de tanto tempo cego, Li estaria lento e fora de forma, mas o que acontecia era justamente o contrário. Li estava mais hábil e forte do que antes. Era como se Li pudesse ver... Como se o maldito filho da mãe pudesse ver e prever todos os seus movimentos.
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Correndo os olhos pelo pátio, Lau Ma procurava e por Sato e pelo irmão. A última vez que os vira, os dois estavam lutando com tanto furor que sentiu um medo terrível. Sabia que Mu Bai estava com ódio de Hiroshi e temia pelos dois, pois também sabia que ambos seriam capazes de matar-se.
Preocupou-se quando não os avistou no lugar onde estavam anteriormente. Desviou de um golpe que vinha pela direita, mas distraída e com apenas um lado do bastão, estava mais vulnerável. O homem logo conseguiu rendê-la, derrubando-a no chão. Subindo sobre ela, ele começou a passar as mãos em seus corpo. Com toda força, Lau Ma tentava se libertar, gritando, debatendo-se e esperneando.
No instante seguinte, o bandido foi puxado com toda força e emitiu um grunhido de dor, antes cair morto. Surpresa, Lau Ma deparou-se um Sato furioso. A face dele estava lívida e isso salientava a cicatriz. Assim como os outros lutadores que ainda restavam vivos e de pé, ele estava cansado, ofegante, com cortes em alguns lugares do corpo e as mãos e roupa cobertas de sangue.
"Hiroshi...", ela segurou na mão que ele estendia e levantou-se. "Onde está Mu Bai?".
Se possível, a expressão de Sato ficou mais fechada. Ele indicou com a cabeça um corpo não muito longe de onde estavam. E Lau Ma reconheceu o irmão.
"Oh, não...", ela vacilou, fazendo com que Hiroshi a amparasse. "Não...".
Com Lau Ma entre os braços, Sato renovou a promessa feita. Ia cuidar daquela mulher pequenina que aquecia e abrandava seu coração. Mas antes, tinha que cumprir com uma outra promessa. A que fizera no túmulo dos pais. Erguendo a cabeça, procurou o chefe. Encontrou Ken, lutando de modo quase insano com Xiaolang. Soltou Lau Ma e se aproximou dos dois guerreiros.
* * *
Ambos lutavam de forma rápida. Socos, chutes, cotoveladas e voadoras eram desferidos sobre seus corpos fortes e resistentes. Em volta deles, a batalha ia lentamente diminuindo, e os poucos que restaram começaram a acompanhar o verdadeiro duelo de titãs entre os dois homens. Para eles, nada importava a não ser torturar e atingir mais dolorosamente um ao outro.
"Eu vou matar você com meus próprios punhos, Li", Ken falava enquanto tentava socar o guerreiro à sua frente. "E depois vou pegar sua garota e me divertir com ela. Ela vai finalmente saber o que um homem completo pode fazer".
'Um homem completo...', as malditas palavras de Ken ressonaram na cabeça dolorida de Li, que recebeu um soco forte no rosto pela distração.
Foi ao chão mais uma vez, com um corte nos lábios. Escutou os passos rápidos do facínora vindo em sua direção. Rolou para a direita impedindo de ser atingido. Ao se sentir seguro, apoiou-se em uma das mãos e rapidamente se ergueu, tentando se preparar para ouvir a aproximação de Ken, que veio por trás. Flexionou os joelhos, para conseguir impulso, e num salto, girou 180 graus, atingindo o rosto de Ken em cheio, que guinchou de raiva. Entretanto, antes de tocar o chão, a maldita dor voltou a atacá-lo, fazendo Li perder o equilíbrio e cair no chão, desajeitado, depois de Ken.
Ofegantes, os dois se levantaram, tontos, cambaleando de um lado para outro. Estavam cansados e machucados, mas o ódio que tinham um do outro fazia com que cada fibra do corpo explodisse de fúria.
"Vou matar você, Li...", Ken falou com a voz arrastada, "Nem que seja a última coisa que eu faça na vida".
"Digo o mesmo", Li respondeu ríspido, "Causou sofrimentos demais a quem não merecia, Ken. Está na hora de parar".
E novamente, os dois homens se posicionaram para a luta, apesar de nenhum estar se agüentando muito. Li levou uma das mãos ao abdômen, que ainda não parara de sangrar. Imaginou que sua aparência não deveria ser uma das melhores. Seu pensamento foi até Sakura, se ela estaria bem, se estaria segura...
Ouviu o bandido se aproximando dele e esperou. Ken tentou lhe atingir o abdômen, na altura do ferimento, e este foi seu erro. Xiaolang sabia que Ken era vil e covarde. Seu ferimento aberto era uma isca perfeita para a maldade dele. E assim que o bandido estendeu o braço para atingi-lo, Li o segurou com uma de suas mãos e, com a outra, deu um golpe tão forte que fez o braço de Ken estalar e ficar num ângulo estranho. O bandido deu um passo para trás, urrando de dor pelo membro quebrado.
"AAH! MALDITO!".
O barulho da guarda se aproximando pode ser escutado por todos. A polícia do vila já estava chegando para ajudar na batalha, que praticamente havia acabado. Finalmente, Li respirou aliviado. Tudo terminaria bem. No entanto o chamado desesperado de sua flor ecoou na sua cabeça. Perdeu toda noção do que se passava à sua volta. Por isso, não percebeu Ken se mover.
"Xiaolang!", Sakura gritou.
"Sakura!", ele deu um passo com as mãos a frente numa tentativa aflita de achar a noiva.
"Sua noivinha vai comigo, Xiaolang..."
* ~ * ~ *
Continua...
N/A: Nossa... Esse capítulo foi extenuante. Queimei pestanas, me esforcei bastante para escrevê-lo e gostei bastante do resultado final. A grande batalha entre as forças boas de Xiaolang contra a gangue perversa de Ken... Espero que tenham gostado.
Mas uma vez, quero expressar muita extrema gratidão à Kath Klein. Este capítulo foi feito com quatro mãos. Ela deu seu toque aqui e me ajudou muito nas cenas de luta. O crédito do duelo entre Li e Ken é todo dela. Obrigada, Kath! Obrigadão mesmo.
Bom, quero agradecer a todos que estão acompanhando e tendo paciência com minhas demoras em atualizar. Estou me dedicando inteiramente à este fic agora, então acho que até o final do mês, ele já estará terminado, mesmo por que falta apenas um capítulo e o epílogo...
Vou ficando por aqui, porque esta nota final já está imensa e quem quiser participar do Grupo AtualizaFanfics, para receber as notificações de atualização de fics (não apenas dos meus) e outras notícias legais, é só me mandar um e-mail!
Ah! E vocês já sabem, né? Por favor, comentem este capítulo! Deixem um review, mandem um e-mail, um telegrama, até mesmo sinal de fumaça... Quero muito saber a opinião de vocês!
Um grande abraço e até o próximo capítulo!
Andréa Meiouh
Em: 20/03/2003.
