ROUND 3 # GINA
Sentada na grama do campo de quadribol, ela sentia o sol bater em seu rosto enquanto buscava por um pouco de paz. E, naquele momento, ela estava em paz. Mesmo com os gêmeos apostando corrida em suas vassouras, fazendo uma algazarra terrível, ela estava em paz. Mesmo com Lino Jordan tentando equilibrar-se em pé sob sua vassoura e a chamando de minuto em minuto para ver suas façanhas, ela estava em paz. Estava em paz porque estava longe deles. Daquelas duas criaturas bizarras que estavam tentando deixá-la louca. Gina Weasley se revoltava só de pensar nos dois e nos problemas que eles lhe causavam.
Quem eles pensavam que eram para prensá-la contra a parede e exigir que tomasse uma decisão? Que escolhesse um deles? Ambos a convidaram para ir ao Baile da Primavera juntos. E se agarraram pelos cabelos quando fizeram a pergunta ao mesmo tempo, um alegando ao outro que ela iria com ele. O que os dois idiotas pensavam da vida? Que era assim? Que, como dois homens da cavernas, eles chegariam, lutariam e quem vencesse iria levá-la embora, e facilitando arrastada pelos cabelos como faziam os homens na pré-história? Que era só chegar e mandá-la escolher entre as belas caras dos dois e ela cairia de amores por um deles? Em que mundo eles viviam?
Há um tempo atrás isso era tudo que ela desejaria. Dois garotos a disputando. E ela era apaixonada por Harry, também. Só que ele não lhe dava bola. Também não podia negar que gostava de olhar para Draco. Ele era mau, mas tão lindo. Algo nele a atraia, fazendo-a lembrar de Tom. Tom Riddle. Tá certo que Tom era só uma lembrança num diário. Uma lembrança que quando crescesse iria se tornar Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Mas Tom era tão bonitinho e tão mau. Como Draco, um tempo atrás.
Ela sentia saudade desse tempo, quando admirava Draco de longe e era apaixonada por Harry sem ser correspondida. Era tão bom. Mas os dois imbecis tinham que estragar tudo, não tinham?
Sucker love is heaven sent.
You pucker up, our passion's spent.
My hearts a tart, your body's rent.
My body's broken, yours is spent.
Carve your name into my arm.
Instead of stressed, I lie here charmed.
Cuz there's nothing else to do,
Every me and every you.
No começo ela pensou que aquilo era obra dos gêmeos. Era bem a cara de Fred e Jorge trocarem seu xampu ou sua poção aromática por uma poção do amor só para lhe infernizarem a vida.
Quando ela os inquiriu, eles negaram até a morte e juraram de pés juntos. Mas como eles faziam isso sempre ela não acreditou e resolveu tirar a limpo. Gastou todo o xampu lavando o cabelo e tomou um banho de poção aromática. Então esbarrou, propositalmente, em Neville.
- Gina! – ele lhe dissera, um tanto compreensivo. – Sabe, você deveria disfarçar quando fumar ervas. O cheiro está impregnado em você. No teu lugar eu iria tomar um banho antes que mais alguém desconfie! - E lhe piscou o olho, em sinal de camaradagem.
Era só o que lhe faltava! Agora Neville estava tirando-a para parceira. Como se não bastassem os problemas que já tinha com Draco e Harry, agora, provavelmente teria também Neville em seu pé. Só que sem juras de amor (o que era uma benção), mas convidando-a para suas excursões ao lago. Era realmente tudo o que precisava!
Porém o bom senso mandou-a seguir o conselho do garoto antes que Snape a encontrasse e ela entrasse para sua lista de bruxos doidões de Hogwarts. Não iria arriscar. Não queira cumprir detenção com Harry e Draco. Tudo menos isso. Principalmente agora que descobrira que a coisa não era uma travessura dos gêmeos. Teve vontade chorar.
Quantas vezes sonhara com isso? E agora, que tudo acontecia, parecia tão desanimadoramente fácil, que perdera a graça.
Fácil demais. Nenhum obstáculo, nenhum desafio. E, além de tudo, ela fora obrigada a prometer que escolheria entre um deles para que não se matassem. Duas crias! Era isso que eles eram. Duas crias (um ano mais velhas do que ela mas, ainda assim, crias.), definitivamente. Se pelo menos eles fossem mais velhos, talvez isso não fosse tão chato. "Imagina só: dois caras mais velhos brigando por minha causa?"
Sucker love, a box I choose.
No other box I choose to use.
Another love I would abuse,
No circumstances could excuse.
In the shape of things to come.
Too much poison come undone.
Cuz there's nothing else to do,
Every me and every you.
Every me and every you,
Every Me...he
Ainda sentada ao sol, ela viu Lino quase despencar da vassoura em que tentava, de qualquer maneira, voar em pé. Era engraçado. Talvez quando ele finalmente se esborrachasse no chão ela não acharia graça. O que Lino pensava que estava fazendo? Para que voar em pé?
Mas ela foi cruelmente tirada de seus devaneios quando ouviu duas vozes diferentes, uma de cada lado do campo, berrando seu nome. "Ops! Problemas!", ela pensou.
De um lado vinha Draco, com sua guitarra de bruxo. Do outro Harry, com a Firebolt.
- Gina! – gritou Draco. – Eu fiz uma música para você!
- Gina! – gritou Harry. – Vamos dar uma volta na minha vassoura?
- Lino! – chamou Gina. – Me empresta essa vassoura, agora!
- O que você quer fazer? – disse Lino. Gina olhou para ele, desesperada.
- Quero me refugiar em meu dormitório antes que eles me alcancem.
Lino aterrizou ao seu lado e mandou-a subir com a cabeça.
- Vem comigo. Eu te salvo!
E os dois saíram voando, deixando Draco e Harry indignados no solo, chamando Lino por todos os nomes feios que sabiam. Então os dois se olharam. Draco bateu em Harry com a guitarra:
- Idiota! A culpa é sua!- esbravejou. Harry deu uma vassourada em Draco:
- É sua culpa, imbecil!
E os dois rolaram no campo de quadribol, esquecendo a vassoura e a guitarra, enquanto os gêmeos Weasley, com um feitiço sonorus anunciavam em altos brados para toda a Hogwarts:
- No ringue Potter X Malfoy! Já começou. Venham todos. Façam suas apostas!
Da garupa de Lino, Gina pode vislumbrar as pessoas se aproximando para ver a luta.
O amigo dos gêmeos deixou-a na janela do dormitório e voltou voando para o campo de quadribol. Não queria perder a luta.
- Dessa vez eu vou apostar no Malfoy! –ele disse, antes de voltar. – Você quer fazer alguma aposta?
- Empate! – ela suspirou. – Eles sempre empatam!
- É. Você tem razão. Sempre chega um professor para empatar a luta e a nossa diversão. Então vou apostar que dessa vez a professora MacGonnagall pega eles.
- E eu, sinceramente, desejo que seja o Snape!
Porém, nem Lino, nem Gina ganharam a aposta. Quem empatou a briga foi Hagrid, que apareceu do nada e juntou os dois garotos embaixo de seus enormes braços como se fossem sacos de batata e os levou para o escritório do diretor. Entretanto MacGonnagall pegou os gêmeos, e lhes aplicou a já conhecida detenção na enfermaria, por estarem incentivando a jogatina e a briga. Eles, claro, cumpriram a detenção, mas começaram a pensar, seriamente, em abrir um cassino clandestino em Hogwarts, que daria um bom dinheiro para a loja de lougros e brincadeiras.
Naquele dia Gina pode curtir mais um pouco sua paz. Só que isso não durou muito tempo.
Sucker love is known to swing.
Prone to cling and waste these things.
Pucker up for heavens sake.
There's never been so much at stake.
I serve my head up on a plate.
It's only comfort, calling late.
Cuz there's nothing else to do,
Every me and every you.
Every me and every you,
Every Me...he
Every me and every you,
Every Me...he
Alguns dias mais tarde, e ainda cheios de hematomas, os dois, de comum acordo, a atacaram no corredor.
- Você está nos fazendo de bobos! – disse Harry.
- É!- falou Draco. – Você precisa decidir.
- Escutem aqui vocês dois! – ela falou, irritada. – Eu disse que vou decidir e é isso que vou fazer. Mas me deixem em paz até lá, certo?
- Mas nós não podemos esperar para sempre! – falou Draco.
- Você tem que decidir logo! – falou Harry.
- Ok! – ela suspirou. – No dia do baile eu digo quem eu escolhi!
Isso os conformou, mas deixou-a em pânico: faltava uma semana para o baile e ela não tinha a menor idéia de qual dos dois escolheria, pois não queria nenhum.
Eles até cumpriram, embora parcialmente, sua promessa: não mais a perseguiram, mas todo dia ela tinha vontade se esconder embaixo da mesa durante o café da manhã. Ou eram dezenas de corujas trazendo flores, ou cartões cantantes, ou anões com arpas declamando poesias, ou qualquer coisa absurda e altamente constrangedora que seus dois adoráveis pretendentes lhe enviavam. Faziam-na querer morrer e ela só pensava como poderia escolher entre aquelas duas zebras, cujas tentativas de agradá-la só a faziam ficar enojada?
Dava para acreditar? Draco tivera a ousadia de subornar, sabe-se lá Merlin como, Pirraça para que este aparecesse numa dessas manhãs vestido de cupido e cantando a estúpida canção que ele havia feito para ela. Só para desbancar o anão de Harry. E pensar que ela odiara o anão. Que dizer de Pirraça?
Assim ficava impossível escolher um deles. Qual seria seu critério? Quem faz mais merda? Ou quem faz menos merda?
Tudo que ela podia pensar era que preferia ir ao baile com Neville doidão a ir com um deles. Até o Colin, com câmera e tudo, seria melhor companhia. Que fazer? Talvez devesse fazer companhia a Neville no lago, antes do baile para, quem sabe, assim conseguir tomar uma decisão.
Like the naked leads the blind.
I know I'm selfish, I'm unkind.
Sucker love I always find,
Someone to bruise and leave behind.
All alone in space and time.
There's nothing here but what here's here's mine.
Something borrowed, something blue.
Every me and every you.
Every me and every you,
Every Me...he
Véspera do maldito baile e ainda não conseguira tomar uma decisão. Sua cabeça estava zonza de tanto tentar optar por um dos dois. Graças a isso, sequer lembrara de escolher o vestido que usaria na ocasião.
Caminhava pelos corredores do castelo, com vontade bater a cabeça na parede até entrar em coma. E, provavelmente, era isso que iria fazer se não conseguisse decidir até a noite.
Porcaria! Porque eu não mandei os dois irem caçar gnomos? Porque eu fiz aquela maldita promessa? Eu devia ter corrido com eles! Mandado Fred e Jorge colocarem-nos em seus devidos lugares, porque Rony nem pensar. Ele até colocaria o Malfoy no lugar dele, mas o Harry...
Eu devia ter dito que não iria escolher nenhum deles. Mas devido as circunstancias era bem capaz que me propusessem ficar com os dois. Segundas, quartas e sextas um, terças, quintas e sábados o outro. Poderia estudar no domingo. Acho que os mataria se fizessem isso. Mas eles teriam feito. Eu sei que teriam.
Sentia-se perdida. Não queria escolher nenhum deles. Queria se ver livre dos dois. Mas tinha que ter prometido, não tinha? Ela e sua grande boca. Fazer o que? Agora teria que escolher!
- Ei, Gina! –ela escutou a voz de Lino Jordan às suas costas. – Olhe isso!
Ela viu o que parecia uma tábua de passar roupa em miniatura passar voando ao seu lado e, logo em seguida, Lino atirar-se em pé sobre ela. A tábua voava com ele em cima.
Lino fez umas manobras estranhas e desceu da tábua.
- Viu só o que eu inventei? É uma prancha voadora. Transfigurei minha vassoura nela e funcionou.
- Hermione me falou que os trouxas tem uma coisa parecida com isso, só que com rodinhas. Chama-se Skate!
- Aos trouxas o que é dos trouxas. Eu acabei de criar a prancha voadora. Dá pra fazer umas coisas legais. O que você achou?
- Legal, mas meio perigoso, não?
- É menos perigoso que uma vassoura porque não levanta mais que um metro do chão. E dá pra fazer umas coisas que com a vassoura fica difícil.
- Tipo o que?
- Tipo isso!
Lino atirou-se com a "prancha" no corrimão de uma escada próxima e desceu. Teria sido uma bela manobra se ele não tivesse aterrizado em cima do professor Snape. Gina engoliu em seco. Provavelmente a Grifinória teria menos 100 pontos agora.
Snape levantou-se, zangado, pronto para começar esbravejar e tirar pontos. Mas pareceu que, por um momento, ele parou e pensou melhor.
- Menos dez pontos para a Grifinória por andar praticando esportes nos corredores, senhor Jordan. Eu deveria tirar 100, mas acho que é uma boa idéia incentivar meninos a praticarem esportes antes que se metam onde não devem. Então suma da minha frente antes que eu mude de idéia!
Mais que depressa, Lino levantou-se e saiu em disparada com a prancha embaixo do braço.
Gina escondeu-se antes que Snape a pudesse ver, chorando de rir de Lino.
Havia acabado de tomar sua decisão. Não tinha mais nada que pudesse ser feito, não era mesmo? Então ela tinha resolvido. Iria se preocupar com o vestido enquanto ainda tinha tempo.
Every me and every you,
Every Me...he
Every Me...he
Every Me...he
Every Me...he
Nota: A música citada nessa fic é Every you and every me, do Placebo, cuja tradução, me corrijam se estiver errada, é mais ou menos esta:
Amor otário caiu do céu
Você muda seu ânimo, nossa paixão se desgasta
Meu coração é uma prostituta, seu corpo é aluguel
Meu corpo está quebrado, o seu está usado
Esculpo teu nome em meu braço
Ao invés de estressado, deito-me seduzido
Pois não há mais nada para fazer
Por mim e por você
Amor otário, uma escolha que fiz
Mais nada escolheria
Outro amor eu insultaria
E nenhum motivo teria para me desculpar
Na forma das coisas que estão por vir
Muito veneno já vem sem efeito
Pois não há mais nada para fazer
Por mim e por você
Por mim e por você
Por mim...ele
Amor otário está aprendendo a balançar
Inclinado a apegar-se e desperdiçar estas coisas
Pelo amor de Deus, mude o seu ânimo
Nunca houve tanto em jogo
Eu sirvo minha cabeça em um prato
É um único consolo, chegando tarde
Pois não ha mais nada para fazer
Por mim e por você
Por mim e por você
Por mim ...ele
Por mim e por você
Por mim...ele
Assim como o instinto guia o cego
Eu sei que sou egoísta e cruel
Sempre encontro um amor otário
Alguém para machucar e deixar para trás
Completamente sozinho no espaço e tempo
Não há nada aqui, mas o que existe é meu
Algo emprestado, algo triste
Por mim e por você
Por mim e por você,
Por mim...ele
Por mim e por você
Por mim...ele
Por mim...ele
Por mim...ele
Por mim...ele
