ROUND 4 # A ESCOLHA
O baile começara há mais de uma hora.
Draco e Harry aguardavam, ansiosos, na entrada do salão, esperando por Gina. A expectativa de quem seria o escolhido os fazia suar frio. Harry roía as unhas, enquanto Draco batia o pé. Olhavam um para o outro, de vez em quando, apenas para torcerem os narizes, com caras de nojo, e olharem para o outro lado. As coisas não estavam começando nada bem.
As pessoas ao seu redor estavam se divertindo, mas se alguém se aproximasse das rodinhas perceberia que o assunto não era outro senão os dois bobos parados na porta e qual deles seria o escolhido. Não se falava em outra coisa.
Os gêmeos estavam desde manhã recolhendo apostas. As mais absurdas possíveis. Quarenta por cento da escola apostava em Harry, quarenta por cento em Draco e os outros dez nas mais loucas teorias. Alguns garotos da Lufa-lufa apostaram que Gina bateria a cabeça na parede até entrar em coma e não viria ao baile. Duas meninas da Corvinal apostaram que ela ficaria com os dois. Houve quem apostasse que ela fugiria, antes do baile, para não dar uma resposta. E houve quem apostasse que ela abriria a câmara secreta, novamente, e mandaria o basilisco em cima dos dois. O próprio Neville Longbottom, ao entrar pelo salão e vê-los parados na porta, foi direto procurar os gêmeos para fazer uma fezinha. Apostou que Gina encheria a cara no baile e vomitaria em cima dos dois.
- Como ela vai se embriagar, Neville, se não estão servindo bebidas alcoólicas?- Jorge perguntou, preocupado com a quantidade de ervas mágicas que o menino estava enviando para o cérebro.
- Ela vai se embriagar com ponche de frutas e cerveja amanteigada? – disse Fred.
Mas Neville fez cara de pouco caso e manteve sua aposta, sumindo da frente dos dois, logo em seguida, numa atitude muito suspeita. Fred olhou para Jorge, que olhou para Fred e ambos disseram, ao mesmo tempo:
- Dez galeões como ele vai aprontar alguma!
Dito e feito. Embora ninguém tenha visto Neville fazer qualquer coisa, uma hora e meia mais tarde o ponche estava sensivelmente mais forte. Foi Rony quem descobriu isso quando, depois do terceiro copo, sentiu uma vontade inexplicável de afrouxar o colarinho e arrastar Hermione, ainda que sob protestos, para a pista de dança. Não importava se a garota o olhava como um tigre faminto, ou se ela pisava em seu pé de minuto em minuto. Ele só queria dançar. Todos estavam dançando, não estavam?
Todos menos Harry e Draco, que ainda esperavam por Gina na entrada.
- Ehr! – Draco pigarreou. – Ela está quase três horas atrasada!
- Será que ela não vem?- Harry perguntou, nervoso. Já não tinha mais unhas para roer. Estava apelando para as pontas dos dedos.
- Ela é da tua casa! Por que você não vai até lá e a chama?
- Para que? Para ela se irritar comigo e escolher você? Tá achando que sou idiota?
- Tentativas são válidas! – Suspirou Draco. – E pare de meter na boca essas mãos sujas! Isso é nojento!
- Nojento é você, sua serpente albina!
- Serpente albina é a tua avó, seu MacBoom peludo* de quatro olhos!
Eles teriam se atracado, novamente, ali mesmo, se os gêmeos Weasley não tivessem chegado naquele mesmíssimo instante.
- Façam o que quiserem, mas não se agarrem aqui! – disseram, ao mesmo tempo, quase desesperados.
- Vocês estão bem? – Harry falou, estranhando a atitude de seus futuros cunhados.
- Se vocês não brigarem, nós estaremos!
- Porque isso, agora? – resmungou Draco, com maus modos.
- Ora! – disse Fred, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Hermione Granger foi a única pessoa na escola que apostou que Gina não escolheria nenhum de vocês porque brigariam no baile.
- E nós não queremos – completou Jorge. – perder todo o dinheiro que já reunimos para nossa loja, até agora, porque, apenas mais uma vez, Hermione foi brilhante.
- Então tomem isso! – disse Fred, entregando um copo de ponche para cada um.– Para adoçar a vida de vocês!
- O que é isso?- disse Harry, enquanto Draco virava seu ponche goela abaixo.
- Ponche! – os dois responderam em uníssono. Harry tomou um gole.
- Isso está forte demais para um ponche!- reclamou. Os dois sorriram, malvadamente.
- É que é um ponche à moda Longbottom!
- E que diabos vem a ser um ponche à moda Longbottom? – inquiriu Harry.
- Um ponche batizado!
- Vocês estão loucos? Tem crianças aqui!
- Ih!- debochou Draco, lambendo os beiços. – A bruxa dondoca ficou tonta com o ponche. Gra-ci-nha! Judiaria, os gêmeos maus querem embriagar a bruxa dondoca!
- Cala a boca, Malfoy, que eu vou te partir a cara.
- Por mim tudo bem, mas antes eu quero mais ponche!
Nesse exato instante ouviu-se uma algazarra no meio do salão e os quatro se voltaram para ver o que estava acontecendo. Draco estourou em gargalhadas. Harry meteu as duas mãos na boca, novamente, muito nervoso. E os gêmeos, pela primeira vez na vida, estavam sem reação. Estáticos.
Eis que em cima de uma mesa, próxima à pista de dança, encontrava-se um Ronald Weasley, alucinado, dançando sensualmente, enquanto tirava peça por peça de sua roupa, tendo como platéia mais da metade das alunas de Hogwarts, gritando histericamente. Hermione tentava, desesperadamente, puxá-lo de cima da mesa, mas tudo que conseguia era ajudá-lo a livrar-se de suas roupas. A garota parecia estar num estado de ânimo entre a fúria, as lágrimas e o desespero absoluto. As meninas ao redor gritavam elogios a Rony, incentivando para que tirasse mais uma peça.
Só lhe faltavam as calças quando, repentinamente, o garoto cambaleou um pouco, trançando as pernas sobre a mesa. Ele fez uma cara estranha e, então, vomitou. Em cima de Hermione.
Silêncio absoluto. Hermione estava petrificada. Em choque.
Mas, rapidamente, ela se recuperou e começou a gritar e rugir como um tigre selvagem, furioso, derrubando Rony, que já se encontrava em estado de semiconsciência, de cima da mesa e começando a chutá-lo e esmurrá-lo.
Draco e Harry acompanharam, com os olhos, alguns professores se aproximarem. Mas nunca chegaram a ver o que aconteceu depois, porque, naquele exato instante, avistaram, no meio da confusão, em um diáfano vestido amarelo, Gina Weasley, em pessoa. E nos braços de Lino Jordan.
Eles esfregaram os olhos, se olharam e olharam para a cena novamente. Não fora uma alucinação. Ela não apenas tivera a audácia de vir com Lino Jordan, como chegara escondida.
Mais que depressa os dois se adiantaram em direção ao casal como cães raivosos. Gina, vendo que não tinha mais escapatória, pediu licença a Lino e foi ao encontro dos dois.
Encontraram-se, os três, no meio do caminho.
- Bem?- falou ela, um tanto nervosa, um tanto debochada. – Aqui estamos nós!
- Bem! – eles responderam, inquisidoramente. – Você nos deve uma explicação!
- Eu fiz minha escolha. Eu escolhi o Lino!
- Mas porque? – gritaram os dois.
Ela sorriu:
Well he was just seventeen
You know what I mean
And the way he looked
Was way beyond compare
So how could I dance with another,
Oh, when I saw his standing there
Well he looked at me
and I, I could see
I'd fall in love with him
He wouldn't dance with another
Oh, when I saw his standing there
Well my heart went boom
When I crossed that room
And I held his hand in mine
Oh we danced through the night
And we held each other tight
And before too long
I fell in love with him
Now I'll never dance with another
Oh, when I saw his standing there
Oh, when I saw his standing there
Oh, since I saw his standing there
Yeah, well since I saw his standing there.**
Eles ficaram parados, vendo ela partir. Voltando para os braços de Lino. Garota má. Garota cruel. Quebrara seus pobres jovens corações.
- Falsa! – esbravejou Draco. – Ela não tinha dito que escolheria um de nós dois?
- Eu acho que sim! – bufou Harry.
- Mas nenhum de nós é o Lino Jordan! Ela nos enganou!
- Como ela pôde?
- Como ela pôde?
- A única coisa que me faz sentir melhor é saber que ela vai fazer a mesma coisa com ele!
- Usá-lo, abusá-lo e jogá-lo fora como um pedaço de pergaminho roto?
- Isso ai!
- E o que a gente faz agora?
- Que tal uma trégua por essa noite?
- E dar cabo do ponche que o Longbottom batizou?
- Sim! Quem sabe tirar a roupa, como o Rony, e ver a mulherada ficar louca?
- Mas só se a gente fizer um pacto!
- Que pacto?
- Um não pode vomitar no outro.
Eles apertaram as mãos e foram, abraçados, até o ponche, como velhos amigos. Tomaram todas. Dançaram juntos. E terminaram a noite fazendo companhia à Neville no lago.
No outro dia sofreram a pior dor de cabeça de suas vidas. Apenas tiveram vagas idéias do que haviam feito na noite anterior, por comentários que escutavam dos amigos, pois a carraspana fora tão grande que eles, simplesmente, não lembravam de nada depois do momento em que fizeram o pacto.
Não lembravam que Draco, num estado completamente ébrio, tentara beijar a professora MacGonnagall, nem que Harry, em pior estado que Draco, desfilara nu pelos jardins do castelo, ou que Draco vomitara em cima de Canino, ou que Harry mandara Snape lavar os cabelos a altos brados.
Não lembravam que entraram em coma alcoólico no meio do canteiro de abóboras de Hagrid e que este, quando os encontrara, tivera que levá-los, às pressas, para a enfermaria.
A única coisa que sabiam era que, agora sim, estavam com problemas.
Mas não estavam sós. Hermione, Rony e os gêmeos também estavam muito encrencados. Os dois primeiros por motivos óbvios, os dois últimos porque alguns alunos, insatisfeitos com o fato da banca ter ficado com todo o dinheiro - já que ninguém ganhara a aposta- foram reclamar para a professora MacGonnagall, que não ficou nem um pouco satisfeita com o fato dos gêmeos continuarem incentivando a jogatina.
Ficariam na detenção até o final do ano letivo.
Apenas Neville se safou, pois a culpa sobre o batismo do ponche, só para variar, recaiu sobre Draco e Harry, os bruxos doidões de Hogwarts.
FIM
Notas:
*MacBoom peludo, para quem não sabe, é uma criatura descrita no livro "Animais Fantásticos & onde habitam".
**A música citada nessa fic é uma adaptação de I saw her standing there, dos Beatles. Eu apenas troquei os pronomes femininos por masculinos, para poder representar a fala de Gina. A tradução da adaptação é mais ou menos a seguinte:
Bem, ele só tinha dezessete
E você sabe o que eu quero dizer
E o jeito como ele olhava
Era incomparável
Então como eu poderia dançar com outro
Oh, quando eu o vi lá
Bem, ele olhou pra mim
E eu, eu pude ver
Que em pouco tempo
Eu me apaixonaria por ele
Ele não poderia dançar com outra
Oh, quando eu o vi lá
Bem, meu coração disparou
Quando eu cruzei aquele salão
E eu segurei sua mão
Oh nós dançamos a noite inteira
E nos abraçamos um ao outro bem juntinhos
E em pouco tempo
Eu me apaixonei por ele
Agora eu nunca mais dançarei com outro
Oh, quando eu o vi lá.
Oh, quando que o vi lá.
Oh, desde que o vi lá.
Yeah, desde que o vi lá.
