Cap. 10 - Um Estranho Casal

Três dias depois, Harry entrou na cozinha e viu Tia Petúnia com o pescoço esticado xeretando a vida de algum vizinho. Quando Tio Valter entrou, ela disse:

- Parece que a Sra. Figg tem visita. Um táxi parou na porta dela e tem um casal saindo. Que estranho! Trazem malas. Será que é alguém da família, a Sra. Figg nunca disse que tinha família, não é mesmo, Valter?

- Hum hum. - resmungou Tio Valter, sem o mínimo interesse.

- Acho que vou lá... para pedir um pouco de... de... de fermento para o bolo que estou fazendo. Já volto já, querido. - Tia Petúnia saiu toda empertigada, louca por uma fofoca. Harry não entendeu direito porque esse casal, que ele sabia perfeitamente quem era, estava hospedado na casa da Sra. Figg. Quase meia hora depois Tia Petúnia voltou cheia de novidades.

- Valter, querido, você precisa conhecer o Sr. e a Sra. Snape.

- Sra. Snape? - pensou Harry segurando-se para não rir.

- O Sr. Snape é sobrinho distante da Sra. Figg. E veio visitá-la porque ela não pôde ir ao casamento dele. - continuou Tia Petúnia.

- E o que ele faz? - quis saber Tio Valter.

- É professor. E ela também, a esposa.

- Professor? E quanto ele ganha?

- Ainda não sei. Mas os convidei para jantar aqui hoje. - disse olhando para Harry. - e quero que tudo saia perfeito.

- Isso significa que você não deve aparecer. Entendeu? - disse Tio Valter.

- E como eu vou me esconder a noite toda, na véspera de Natal! Vocês se esqueceram que o meu quarto está sendo "reformado"? - falou Harry.

- Você pode ficar no seu antigo quarto.

À noite, enquanto os Dursley se arrumavam para se mostrarem como uma família normal e direita. Harry dirigiu-se ao seu antigo armário. Não estava nada feliz, mas também não queria ver o professor Snape, principalmente porque até agora não havia conseguido descobrir onde os Dursley guardavam os objetos de valor, e o talismã. No dia seguinte a sua chegada de Hogwarts, Harry se oferecera para limpar o quarto dos tios. Acontece que Tia Petúnia ficou vigiando com medo que ele quebrasse um de seus bibelôs. Quando ouviu a campainha tocar, Tia Petúnia mandou que ele entrasse no armário. De lá de dentro, Harry ouviu a voz de Duda dizendo:

- Queiram entrar, Sr. e Sra. Snape; Sra. Figg. Seus casacos, por favor. - Mary o olhou atentamente.

Snape, Mary e a Sra. Figg entraram e foram conduzidos à sala. Tia Petúnia e Tio Valter os aguardavam ali.

- Valter, meu marido e Duda, meu filho; estes são o Sr. e a Sra. Snape. - apresentou Petúnia. Mary estranhou o fato de Harry não estar por ali.

- Que linda família. - começou Mary, sem saber mais como elogiá-los. Snape ficou calado. - é este o menino que a senhora tanto elogia, tia Figg?

- Oh, não. Eu me referia a Harry.

- Nós cuidamos de meu sobrinho. - disse Petúnia completamente contrariada.

- Eu adoraria conhecê-lo. Desde hoje cedo, a tia Figg não pára de falar nele. Ele está aqui?

- Sim! - falou Petúnia.

- Não! - falou Valter ao mesmo tempo.

- Quer dizer, ele está, mas, coitadinho, está muito doente. E acho que prefere ficar deitado lá no quarto dele. - consertou Petúnia. - Vocês sabem como ficam as crianças quando estão indispostas, não?

- É claro. - disse Mary. - Querido, você pode ver como o menino está, quem sabe você não consegue preparar algo para ele? Sabem, Severo é simplesmente o melhor no preparo de remédios caseiros.

- Ah, o senhor é químico? - perguntou Valter. Snape ficou olhando para o homem, não tinha a menor idéia do que era um químico.

- Sim, pode-se dizer que sim. - arriscou-se Snape.

- Na verdade, acho que Harry já deve estar bem melhor. - disse Petúnia aflita com a possibilidade de seus convidados perceberem que ela mentiu. - Duda, meu amor, peça para Harry vir para a sala.

Duda saiu da sala e logo voltou com um rapaz magricela que usava roupas velhas e largas demais para ele. Tinha os cabelos negros naturalmente despenteados e usava óculos por cima de olhos muito verdes, mas o mais impressionante nele era uma cicatriz em forma de raio que tinha na testa. Olhou para todos e disse:

- Boa noite.

- Harry, querido, você está se sentindo melhor? - perguntou Tia Petúnia num tom falsamente preocupado.

- Hum, sim, tia Petúnia.

- Este é meu sobrinho, Harry Potter. E estes são os nossos convidados, Sr. e Sra. Snape. E é claro, a senhora Figg que você já conhece.

- Muito prazer. - disse Harry para os professores. Mary olhava para Harry com total espanto. Snape olhou para Harry, mas o menino não soube definir o que passava pela cabeça do professor.

Durante o jantar, Snape e Mary ouviram os Dursley contar sobre suas vidas e como se julgavam realmente importantes. Snape estava com cara de enjôo e se pudesse faria com que eles tomassem uma poção envenenada. Mary balbuciava algumas exclamações que pareciam ser de êxtase, se ela estivesse prestando atenção ao que eles falavam. Mas, ao invés disso, conversava telepaticamente com Harry.

- Como você está, Harry?

- Bem.

- Você já descobriu alguma coisa? - Harry "contou" tudo desde que chegou a casa dos Dursley e assim passaram o jantar todo.

Na hora da sobremesa, os Dursley conduziram seus convidados de volta a sala de estar. Tia Petúnia havia preparado um mousse de chocolate com torta de limão. Parecia realmente gostoso se não fosse a companhia. Enquanto pegava um pedaço de torta, Petúnia começou a contar seu ato de caridade ao aceitar cuidar de Harry.

- Minha irmã era uma irresponsável. Mas era a queridinha de meus pais. Sempre fez tudo o que quis, sem se preocupar com as conseqüências. Só eu sabia perfeitamente o que ela era. Depois ela se casou com aquele..., o pai de Harry. Era tão esquisito como ela. - Mary se empertigou e olhou para Harry. Snape parecia estar se divertindo.

- Esquisito? - perguntou Mary.

- Eles faziam parte de um bando de... desordeiros. Usavam umas roupas estranhas. Um bando de loucos. - falava Tio Valter sem pensar direito no que dizia. O sorriso de Snape desapareceu de seus lábios.

- E depois eles morreram e nós ficamos com Harry. Tentamos criá-lo como uma criança normal, mas ele é... como os pais. - disse Tia Petúnia falando num tom baixo fingindo evitar que Harry a escutasse.

- Mas eles deixaram algo, uma herança ou qualquer coisa do tipo, para ajudá-los a cuidar do menino, não? - perguntou Mary. Snape se mexeu no sofá.

- Na verdade, nós não quisemos nada deles. Aceitamos Harry, e acredito que eles não tinham nada de valor e mesmo que tivessem não colocaria a mão em nada. Ah, não! Não iria querer nada deles. - falou Tia Petúnia com veemência. Mary não conseguia acreditar no que ouvia.

- Mas que cara-de-pau! Você viu? Eu não colocaria a mão em nada deles! - dizia Mary depois que saíram da casa dos Dursley.

- Você não devia ter perguntado aquilo, Mary. O que você achou, que eles iam confessar que pegaram um objeto valioso do cofre do Potter? Não sei porque você não disse logo quem nós somos e porque estamos aqui?

- Só porque Dumbledore quer assim. Bando de desordeiros! Eu devia transformá-los em... lesmas. - continuou Mary irritada.

- Você precisa manter a calma, Mary. Não ia adiantar nada se vocês contassem o que querem para os Dursley, vocês viram como eles são. Provavelmente iriam negar que estão com o talismã e nunca iríamos ter outra oportunidade de chegar perto deles. - falou a Sra. Figg.

- Eu não entendo porque Dumbledore entregou Harry para essas pessoas. - disse Mary.

- Porque eles são a única família que ele tem. - disse a Sra. Figg.

- Mas eles não entendem o que somos! A senhora viu como se referiram a Tiago? - começou Mary.

- É claro! - protestou Snape. - Eles ofenderam a honra do adorado Potter. - Mary olhou para Snape com total indignação.

- Sim. Fiquei ofendida porque eles falaram absurdos de um grande amigo meu. - falou Mary furiosa. - e se você, Severo, nunca suportou Tiago é por pura inveja do bruxo que ele era. - Snape ficou vermelho.

- Eu? Com inveja do... Potter? - disse Snape irritado.

- É inveja sim, porque ele era muito melhor que você!

- Acontece que o SEU adorado Potter nunca foi melhor do que eu em magia. - disse Snape nervoso.

- Só se for em magia negra. Tiago jamais se envolveria com... - Mary parou de falar abruptamente. Sabia que tinha ido longe demais. Snape estava branco. - desculpe, Severo. Eu não queria...

- É claro que o perfeito Potter jamais se envolveria com as trevas. Ele jamais faria algo errado, não é? - disse Snape com amargura na voz

- Que droga, Severo! Porque tanta implicância com Tiago? - perguntou Mary. Snape entrou na casa da Sra. Figg sem responder e visivelmente alterado.

- Às vezes, a mente de um homem apaixonado fica obscurecida pelo ciúme, minha querida. - falou a Sra. Figg. Mary de repente se deu conta que a velha professora estava ao seu lado. A jovem ficou pensando no que ela quis dizer com isso. Foi até o quarto de Snape. Encontrou o professor ainda bastante irritado.

- O que você quer? - falou Snape asperamente.

- Eu queria me desculpar, Severo. Eu estava nervosa com aqueles Dursley e acabei descontando em você. Não queria falar aquelas coisas...mas você também não ajuda. Ficar do lado daqueles trouxas, ao invés de ficar do lado de um dos nossos!

- E quem disse que nós somos iguais! - disse Snape no seu habitual tom arrogante e frio.

- Oh, é claro que não. Desculpe excelentíssimo senhor. Me esqueci que estava tratando com um legítimo puro sangue. - disse Mary irônica, fez menção de sair do quarto. Snape a segurou pelo braço. Ela olhou para o professor e, então, eles se deixaram levar.

Snape sem pensar no que fazia, estreitou Mary em seus braços e a beijou. Mary tentou resistir, a principio, mas logo se sentiu envolvida demais pelo clima. Sim, ela também desejava ser beijada e assim correspondeu ao beijo. Snape a segurava com toda a força de seu desejo a anos reprimido. Mary passou seus braços em torno do ombro forte de Snape e o professor a puxou para mais perto de si. Dos beijos passaram às carícias que foram se tornando ousadas, até que Snape, sem acreditar e completamente feliz, dormiu com Mary aninhada em seu peito.

Na manhã seguinte, Snape acordou e não viu Mary, pensou se tudo o que vivera aquela noite não teria sido um sonho. Desceu as escadas e encontrou a Sra. Figg conversando com Mary na sala de jantar, elas tomavam o café da manhã. Ao vê-lo, Mary sorriu e corou levemente.

- Ah! Bom dia, Severo. - falou a Sra. Figg.

- Bom dia.

- Eu estava contando a Mary sobre a idéia que tive esta noite. - disse a senhora Figg. Snape sentou-se ao lado da senhora e de frente para Mary. E ouviu o plano: - Estava pensando que Mary poderia usar o poder da telepatia nos Dursley.

- Mas, assim eles não iriam suspeitar de algo? - perguntou Snape.

- Não se eles estiverem dormindo. Aí eles pensariam que se trata de um sonho. - disse Mary.

- E para isso? - continuou Snape.

- Você prepara a poção Completum Adormecidus, Harry dá a poção para eles misturada num suco ou qualquer outra coisa e Mary entra na mente deles e descobre onde eles guardam o talismã. - completou a senhora Figg, como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo.

- Mas, a telepatia não pode ler a mente de alguém! - disse Snape.

- Não, mas posso induzi-los a me responder o que quero. - disse Mary.

- Você pode fazer isso? - perguntou Snape

- Com eles sim; eles são trouxas, não têm poderes para bloquear a minha magia. Eu acho que é um bom plano. - disse Mary.

- E como vamos avisar Harry? - perguntou a Sra. Figg.

- Avisar não é o problema, Mary usa a telepatia, mas como vamos entregar a poção para Potter? - perguntou Snape.

- Acho que tenho uma idéia! - disse Mary.