-Cho, querida, acorde.- falou uma mulher baixinha oriental, com uma voz muito doce. - Você vai se atrasar.
-O quê? - ela disse sonolenta. Olhou para a mãe, e entendeu. - Ah sim, claro, é hoje, não é?
-Sim, querida. Vá se trocar, depois desça pra tomar café. - e ia saindo do quarto, quando Cho a chamou.
-Mãe? - a mulher se virou. - Eu não quero voltar lá.
-Querida, seja forte, você ainda tem muita vida pela frente, precisa vivê-la.
-Mas eu não vou conseguir, aquele castelo me traz tantas lembranças.
-Cho, nós não vivemos de lembranças do passado, mas do presente, procure vivê-lo.
-Então eu tenho que esquecer? - ela perguntou, enchendo os olhos de lágrimas.
-Não, esquecer não, guarde essas lembranças, assim, estará para sempre guardando Cedrico em seu coração. Agora vá se arrumar, não queremos perder o trem, não é mesmo? - a mulher sorriu, e saiu do quarto.

Cho se levantou.
Aquele foi o ano mais horrendo que ela já tinha vivido em seus dezesseis anos. Porquê? Porque tinha que ser com ela? Porquê justo com seu amor? Ela o amava com todas as suas forças, e ele fazia parte de seu coração, era seu ar. Agora ela apenas sobrevivia em um mundo sem esperanças, emoções. Em um mundo onde só existia medo, medo de amar novamente, raiva e rancor. De quê adiantava ser super-popular, inteligente, apanhadora de sua casa, se o que realmente importava, ela não tinha? Não a deixaram ter. Voldemort. Ele, aquele monstro das trevas, quando ele iria parar? Quantas vidas inocentes mais ele iria destruir? Ela tinha raiva, muita raiva, tanta quanto ela nunca pensou ter.
Naquelas férias, ela não havia saído de casa, até seu material escolar seu pai é que tinha ido comprar, sozinho. Só chorava. Chorou tanto que acreditava não ter mais forças para isso.
Mas a vida é cheia de perdas e ganhos, e se a vida quis que essa fosse sua perda, que assim seja. Mas uma coisa ela havia jurado para si mesma: iria acabar com Voldemort, a qualquer custo. Ou, pelo menos, ajudar a acabar com aquela carnificina.
Durante as férias inteiras, Cho desejou que nunca chegasse o 1º de setembro. Mas como ela não pode parar o tempo, esse dia chegou. Hoje ela teria que enfrentar tudo de novo. Pessoas a paparicando, a consolando, paquerando... Mas ela estava de "saco cheio" disso. Não suportava mais. Não se suportava mais, sempre fora muito certinha, muito inteligente. Iria mudar, mas conseguiria?

-Bom dia, papai. - ela disse ao pai, sentado na mesa. Ela se sentou e pegou um pão.
-Bom dia, filha.

Ela tomou seu café, e depois os três saíram de casa, foram de carro mesmo.
Ao chegarem na King's Cross, se despediram e ela ficou muito feliz em não ter encontrado ainda nenhuma de suas amigas, por mais que gostasse delas, queria ficar sossegada um pouco. Afinal, amiga de verdade, só tinha uma, Larissa Lareg. As outras só a procuravam em busca de popularidade nas suas costas... E ela sabia disso. Ela entrou no trem e tratou de achar logo um vagão vazio e se trancar por lá. Até a metade da viagem, ela conseguiu paz, mas depois disso, Larissa entrou no vagão e deu um forte abraço na amiga. Ela tinha os cabelos tão escuros quanto os de Cho, olhos azuis, muito azuis. Era alta e esbelta. Tão popular quanto Cho, mas menos cobiçada pelos garotos. Seu apelido era Lary.

-Lary! - elas ficaram abraçadas durante um bom tempo, para matar as saudades.
-Cho, estava com tantas saudades! Você nem deu sinal de vida nas férias...- ela disse, parecendo triste.
-Desculpe, eu não fiz nada nas férias, fiquei dois meses trancada no meu quarto. Não deixei minha mãe me dar nenhuma carta... Desculpe, Lary...
-Esqueça isso, eu entendo sua tristeza.
-Mas como você está? Como foram suas férias?
-Ah, foram boas, eu viajei muito, fiz um tour pelo Brasil! Viu? Estou moreninha, né? - ela falou, entusiasmada. Cho abafou um riso.
-Desculpe, mas você tá mais pra vermelha!
-Pelo menos não estou mais tão branquela como estava!
-Isso é.

As duas foram o resto todo da viagem conversando e rindo. Essa era uma das coisas que ela mais gostava em Larissa, a fazia rir sempre, mesmo nos momentos difíceis.

Quando chegaram à Hogwarts, as lembranças vieram à tona, mas ela se lembrou das palavras de sua mãe "guarde essas lembranças, assim, estará para sempre guardando Cedrico em seu coração" e, ao invés de chorar, ela sorriu, ao se lembrar de como eram felizes. Mas mesmo assim, doeu.
Ao chegarem ao Salão, mais lembranças, mas ela as esqueceu por um instante quando reviu todos os seus colegas e paparicos... Seus professores... Tudo, mas faltava alguém, sempre iria faltar... Mas tentou prender sua atenção na cerimônia de seleção. Reparou em olhares de alguns garotos... como Harry. Apenas sorriu. Ela o achava um bom menino.
Ao terminar da seleção e do jantar, ela resolveu ir logo dormir. Naquela noite, por incrível que pareça, ela não teve sonhos. Dormiu profundamente.