CAPITULO 5- VAMOS PASSEAR NO BOSQUE...
Hermione ouviu um barulho e se virou para ver que Gina e Draco estavam sem a capa, olhando chocados.
-Vc, não pode Ter acreditado nele, ele esta obviamente nos enganando!
-É Granger, nem vc é ingênua o bastante para acreditar numa palavra que esse rato disse, o Potter já deve estar morto a dias.
Hermione não se abalou com a frase de Draco. Se ela sabia de uma coisa sobre Rabicho era que ele era movido a medo. Ele iria sempre se aliar ao lado vencedor, e por enquanto o lado vencedor era o de Harry. Ela duvidava que ele tivesse mesmo entregado Harry para os comensais, ele certamente seria pego, certamente seria punido, talvez ate com o beijo.
Ela também acreditava que Rabicho conhecia o bastante sobre o seu caráter pra saber que ela nunca ajudaria Voldemort se reerguer.
Mas a única coisa que fez Hermione se decidir, decidir que iria acreditar nele, era que Rabicho devia a vida a Harry e agora ele finalmente tinha a oportunidade de se livrar desse fardo.
Hermione sabia que dever a vida não era apenas uma coisa de honra. No mundo magico se criava um laço entre a pessoa salva e o salvador, e a pessoa salva iria sofrer muito se não retribuísse de alguma maneira. Era o que Rabicho estava fazendo, ele tinha medo de sofrer, Hermione tinha certeza. Por isso ela respondeu friamente:
-Acredito nele sim.
Os olhos dos outros dois estavam extremamente arregalados.
-Como vc pode acreditar nele? Ele é o Rabicho, ele traiu os pais de Harry!
Gina, a partir do momento que começou a andar mais com o trio, sabia de algumas das suas aventuras, algumas.
-Eu tenho meus motivos pra acreditar, Malfoy, agora vc pode ir, eu acho que a gente pode chegar aonde o Harry esta antes de vc voltar pra Hogwarts.
-Eu não vou!
Hermione devia Ter entendido errado. Draco Malfoy, que tinha reclamado do momento em que ele tinha acordado ate agora, querendo voltar pro castelo estava dizendo que não ia embora.
-Desculpe, eu acho que eu ouvi errado...
-Não Grager, vc ouviu muito bem, eu estou ansioso pra ver a sua cara quando ver que o Harryzinho querido, já esta no céu, por que afinal, ele fez tantas coisas boas que agora já deve ser um anjo, tocando harpa.
Mas algo no riso nervoso que Draco deu, fez Hermione acreditar que ele tinha alguma intenção escondida. Ela deu de ombros e começou a examinar o mapa.
A floresta não era muito longe de Londres, o que era bastante surpreendente para uma pessoa que foi criada entre trouxas, mas Hermione desconfiou que como Hogwarts, a floresta não era mapeável, apenas bruxos conseguiam vê-la.
Isso não era exatamente reconfortante, se a floresta era escondida tinha um bom motivo pra isso, como por exemplo seres mágicos poderosos, e perigosos, como dragões, aranhas gigantes, lobisomens, quimeras...
Hermione afastou esses pensamentos balançando a cabeça. Não ia fazer nenhum bem ficar pensando no pior. Ela tinha que salvar Harry, a qualquer custo e não era um dragãozinho qualquer que iria impedi-la.
Ela na verdade estava mais preocupada com Malfoy. Certo, ele não estava sendo aquele Malfoy que ela conhecia, Gina inclusive parecia estar gostando bastante da companhia dele, mas mesmo assim, ele podia estar fingindo, tentando armar algo.
Ela suspirou e tentou esquecer. A floresta era bastante escura e a qualquer momento um perigo podia surgir.
Apesar disso, Gina e Draco não pareciam estar conscientes disso. Eles brincavam o tempo todo e conversavam sem parar, ate que Hermione se encheu e com uma sobrancelha erguida se virou pros dois:
-Vcs por acaso querem atrair todos os monstros da floresta pra cima da gente? Por que se for esse o objetivo de vcs, vai ser alcançado, com todo esse estardalhaço que vcs estão fazendo!
Gina e Draco pararam instantaneamente. Gina parecia um pouco chocada, enquanto Draco tinha aquele sorriso cínico na cara.
-Ora Granger, se acalme. Eu sei que vc esta se mordendo pra alcançar o seu querido Potter logo, mas não é descontando na gente que isso vai acontecer mais depressa. Ainda mais, não é como se um dos "bichinhos de estimação" do Hagrid fosse aparecer a cada...
Mas parou abruptamente. Seus olhos ficaram duas vezes maiores que o normal e ele engoliu em seco. Gina que estava levemente mais calma disse tremula:
-Hermione, não olhe.
É claro que a primeira coisa que Hermione fez foi se virar. Ela não podia dizer que aquilo tinha sido a coisa mais sabia em sua vida.
O que ela viu foram imensos olhos amarelados olhando maldosamente pra ela. Era o bicho mais estranho que ela já tinha visto, uma mistura de Leão com cavalo, mas o mais impressionante era que o bicho tinha asas.
Ele era com certeza imponente e belo, um desses animais fascinantes que Hermione gostaria de ficar olhando, estudando, para sempre. Isso fez Hermione vacilar, ficar parada um instante. Mas então ele rugiu, e a visão daqueles dentes, letais, impulsionou ela a fazer a única coisa sensata naquela hora:
-Corram!- ela disse a plenos pulmões, enquanto corria o mais rápido que podia, seguida por Draco e Gina.
Ela ficava impressionada o quão rápido eles estavam correndo. Quer dizer, Draco e Gina nem tanto, afinal eles eram atletas, ambos jogavam quadribol, deviam estar acostumados com o esforço físico, mas ela. Ela que o maior esforço que fazia era carregar a tonelada usual de livros nas costas, ou correr atras de Harry para a próxima aventura. Ela estava correndo como se tivesse fogo nas pernas. Ela estava correndo mais rápido que eles.
Ainda impressionada com seu desempenho atlético, Hermione finalmente caiu em si. Correr por si só não ia adiantar, aquele animal, qualquer que fosse, podia correr muito mais que eles, pior, podia voar.
Hermione parou e tirando a varinha do bolso, falou um feitiço que seria eficaz:
-Impedimenta!
O leão-cavalo-alado, parou, mas Hermione sabia que seria apenas temporariamente, por isso voltou a correr.
Eles correram ate encontrar uma árvore oca, longe do perigo, onde podiam ficar escondidos enquanto recuperavam o fôlego.
Draco foi o primeiro a falar, ainda respirando aos arquejos:
-Granger, arf, arf, como voce corre, hein? Eu pensei, arf, arf, que a característica principal, arf, arf, da Grinfinoria, fosse a coragem. Pois me pareceu que vc estava correndo, arf, arf, como um covarde.
Hermione se virou irritada pra ele, já tinha se recuperado da dor lateral:
-Não confunda coragem com burrice. E pra seu governo, eu acabei de salvar a nossa vida com aquele feitiço. Ou talvez vc não tenha notado, parecia muito ocupado pedindo ajuda pra sua mamãezinha, vir te salvar.
Draco ia responder alguma coisa, mas pareceu mudar de idéia e riu, aparentemente achando graça.
-Certo Granger, embora não me agrade, eu te devo essa.
-Como se valesse alguma coisa- Hermione murmurou por debaixo os seus cabelos. Ela estava decidida a ignorar Malfoy, mas algo que ele disse chamou sua atenção:
-Gina, o que foi? Algum problema?
A ruivinha estava sentada na raiz da arvore, de olhos arregalados e queixo caído, bastante muda.
Hermione se acercou da garota e perguntou se estava tudo bem, depois de alguns momentos ela respondeu:
-É só que, bem, eu pensei que eu ia morrer. Que ninguém iria me salvar.
Hermione ficou um pouco assustada com essa declaração no inicio, mas logo percebeu que fazia sentido. Gina não tinha experimentado tantas experiências quase mortais como ela propia. O mais próximo que tinha acontecido foi quando Tom Riddle tinha levado ela para a câmara secreta, e ela não estava exatamente consciente quando isso aconteceu.
Hermione observou o mapa e viu que eles tinha avançado muito, melhor, tinham avançado para a direção certa. Pelos seus cálculos, na manha do dia seguinte chegariam ao local em que Harry estava preso.
Hermione só esperava que nenhum incidente como esse acontecesse de novo, embora, pensou ela, isso fosse pouco provável.
Eles avançaram o resto do dia, fazendo poucas paradas e andando muito. Depois de Hermione relaxar ela pôde aproveitar a viagem e seus companheiros.
Gina tinha razão, Malfoy continuava estranho e um tanto mesquinho, mas ele não podia ser chato o tempo todo, ele realmente era engraçado, de uma forma sombria, um humor negro que ela não conhecia de Rony ou dos gêmeos.
E ele tinha parado de chamar ela de sangue-ruim! Isso era impressionante embora não a afetasse, ela era superior a isso, à muito tinha deixado de se importar com os insultos de Malfoy. Ela era melhor bruxa que ele e tinha consciência disso e a única razão pelo qual ele importunava ela era porque ele sabia que conseguiria aborrecer Harry atingindo seus amigos.
Mas ele não atingia mais ela, ela era considerada uma das mais poderosas bruxas menor de idade do mundo, a mais brilhante aluna de Hogwarts. Mais brilhante que Dumbledore, mais brilhante que Tiago Potter, mais brilhante que Voldemort.
E embora ela não admitisse, isso fazia se sentir feliz consigo mesma, no futuro ela poderia escolher qualquer emprego que quisesse, ela seria bem paga e teria muitos benefícios. Quer dizer, quase qualquer emprego. Havia um grande tabu, um que ela nunca foi e nunca seria boa, Quadribol.
Ela só assistia os jogos pra ver Harry jogar, ou para torcer com Harry, ou, eventualmente salvar a vida dele no meio de uma partida.
Ela se cansava de ouvir falar sobre o esporte, talvez fosse a única coisa que a cansava sobre Harry. Por que, ora essa, era apenas um bando de vassouras e algumas bolinhas, nada tão espetacular, porque fascinava tanto as pessoas?
E como ela estava cansada de ouvir falar sobre isso ela se afastou de Draco e Gina, que só sabiam falar sobre as novas vassouras ou o melhor time do campeonato.
Afinal os dois tinham muito sobre o que falar, desde que Gina tinha entrado pro time da Grinfinoria. A Quarta Weasley a conseguir esse feito. Tinha sido um escândalo quando ela teve melhores resultados que Rony e por isso tinha ficado com a vaga no ano anterior.
Rony como sempre, fechou a cara e parou de falar com ela por um mês, mas como a propia Gina tinha dito, ele estava apenas sendo Rony. Teimoso, emburrado e achando que todo mundo estava conspirando contra ele.
Eventualmente ele viu que tinha sido melhor assim e tinha ate esquecido um pouco da antiga fixação pelo esporte.
De repente algo ocorreu a Hermione, antes de Harry desaparecer ele estava indo pro treino de quadribol e, pelo menos virtualmente , Gina deveria estar com ele, mas ela não estava, ela estava lendo um livro, isso não fazia sentido porque ela nunca perdia um treino, porque ela era extremamente insegura e achava que tudo de errado que fosse no jogo seria culpa dela, porque ela tinha perdido aquele treino e...
Hum, ela estava fazendo aquilo de novo, pensando sem parar, juntando informação e tentando fazer com que tudo tivesse sentido, ao mesmo tempo. Era normalmente muito útil mas despendia um esforço enorme, quase inconsciente por parte dela.
Normalmente ela continuaria pensando ate achar a resposta certa, mas agora não era necessário e ela não tinha tempo. Portanto se virou pra perguntar o motivo pra Gina.
Ela encontrou Draco e Gina parados se encarando de forma estranha, parecendo esquecidos do resto do mundo. Hermione ficou calada um instante ate que estridentemente gritou em choque:
-Gina!
Os dois foram chamados pra terra no mesmo instante e cada um olhou pra um lado diferente muito vermelhos.
Hermione sabia que não ia adiantar nada perguntar o que tinha sido aquilo pros dois, portanto resolveu perguntar o que estava martelando na sua mente sobre o treino de quadribol.
-Ah, é que -Gina respondeu- Colin me pediu ajuda com um dever dele e como eu sabia que aquele treino não seria muito importante eu resolvi ajuda-lo.
Hermione achou que não era isso a historia toda, mas se deu por satisfeita ate que se virou e disse com desanimo:
-Oh não!
Um pântano, um pântano largo e profundo na frente deles. "o que eu vou fazer?"
-Ah vamos Granger, é apenas um laguinho!
-Não é apenas um laguinho, é um pântano largo, escuro e profundo e pelo que eu sei ele pode ser muito bem perigoso.
-Se vc esta com tanto medo assim, eu vou na frente, e se diz corajosa.
-Não se importe Malfoy, eu vou na frente, pra provar de uma vez por todas que eu não estou com medo, estou apenas sendo cuidadosa.
-Típico Granger. Sempre cuidando de todos, é uma verdadeira Madre Teresa de Calcutá. Agora com licença que eu tenho que atravessar esse laguinho.
Hermione se virou pra Gina que estava com um sorrisinho e uma cara de "eu não te disse?".
-Viu Hermione, ele não é tão mau assim, tem muita pose envolvida.
-Certo Gina, o que vc disser.
-Mione, eu estava pensando, vc lembra do Lockhart?
-Lembro, porque?
-Bem, eu estava pensando, como vc pôde ficar atraída por ele?
-E porque vc esta me perguntando isso justo agora?
-Eu não sei. É só que, bom, eu tenho essa teoria e eu queria ver se é verdade.
-Gina, eu não sei porque eu fiquei atraída por ele. Primeiro, eu era muito nova, não sabia o que estava fazendo. Segundo, ele era bonito. E terceiro, bom, eu tinha lido todos os livros dele e eles contavam todas as coisas heróicas e corajosas que ele tinha feito, é claro que eu acreditava. Eu nunca antes pensava que um livro pudesse mentir. Devo admitir que foi uma decepção.
"E que decepção!" pensava Hermione, ela tinha se sentido tão traída. Ele com aquele sorriso ofuscante e os cabelos de ouro. Ele escrevia tão bem. Como Hermione desejava que tudo fosse verdade. Mas ela descobriu que não e aquela tinha sido sua primeira lição de que nem tudo é preto-no-branco. Hermione era tão ingênua naquele tempo e a ingenuidade foi simplesmente arrancada dela como um band-aid.
Hermione nunca se arrependeu tanto de não dar ouvidos á Rony. Quem diria, dessa vez ele estava certo.
Gina estava com um sorriso satisfeito e falou, alegre:
-Vc acaba de comprovar minha teoria.
-E que teoria seria essa senhorita Weasley?
Gina deu um sorriso maroto e com uma cara que lembrava muito os gêmeos anunciou num sussurro.
-Vc, Hermione, tem uma queda por heróis!
Hermione estava para responder algo, completamente abismada, quando ouviu a voz de Draco do outro lado do pantano, ou 'laguinho' como ele gostava de chamar.
-Hey, as damas não vão resolver não? Ou será que vcs resolveram tomar um chazinho aí do outro lado? Vamos, eu já atravessei, não deve ser tão difícil pra vcs, maravilhosos grinfinorios que conseguem fazer tudo sem pensar nas conseqüências.
Hermione suspirou. Como ele conseguia ser tão prepotente?
-Mais metido do que o Rony.
Hermione falou baixo, tanto que nem Gina conseguiu ouvi-la. E começou a atravessar o 'laguinho' com um feitiço de levitação moderado.
O feitiço permitia que ela andasse sobre a água como se fosse no chão. Não deixava de ser perigoso, pois se qualquer coisa que estivesse embaixo resolvesse agarra-la estaria perdida.
Chegando ao outro lado Draco não podia deixar de sorrir.
-Não foi tão difícil, não é Granger?
-Claro, claro. Mas cadê a Gina?
O sorriso de Draco se transformou subitamente em uma expressão de surpresa.
-Ela não estava atras de vc?
-Sim , mas ela começou a correr na minha frente, e com essa neblina não dá pra ver muito bem. Eu pensei que ela já tivesse chegado. Vc tem certeza que ela não passou por aqui?
-É claro que eu tenho certeza, eu teria visto se uma cabeça flamejante estivesse passeando por aqui.
Hermione pareceu refletir um instante, dando de ombros afinal.
-Bom, ela deve Ter pego um atalho e deve estar bem a frente de nós. A gente vai Ter que andar rápido se quiser alcança-la.
Draco parecia estar perdendo o controle. Ele olhava pra Hermione como se ela estivesse demente.
-Do que vc esta falando? Ela pode estar muito bem afogada nesse pantano largo, profundo e perigoso na minha opinião.
-Eu pensei que vc achava que era só um laguinho.
Aparentemente desistindo de tentar extrair qualquer senso da menina em sua frente, Draco apenas a afastou e olhou para o pantano.
-Lumus!
E o que ele viu fez ele tremer do dedão ao ultimo fio de cabelo. A sombra de um bicho esguio, alto, com inúmeros chifres e dentes imensos e cortantes. Coisa que ele só tinha visto em seus pesadelos.
-Aaaaaahhhhhhhhhh! Hermione, aquele bicho deve Ter comido a Gina e esta atras da gente agora. Hermione?
Mas Hermione não estava apavorada. Ela parecia estar passando mal, com as mãos sobre a barriga, inclinada, como se fosse vomitar e soltando um ruído estranho. Um ruído que parecia... Gargalhadas?
Foi quando o monstro se aproximou. E o monstro também estava rindo. E Draco não estava entendendo mais nada.
Foi quando Hermione conseguiu falar novamente:
-Vc tinha que Ter visto a sua cara!
E voltou a gargalhar. E de repente, o monstro tinha sumido e Gina estava atras dele, gargalhando. E o curioso é que a gargalhada dela parecia muito com a do monstro. De repente tudo começou a fazer sentido e Draco estava se sentindo um completo idiota.
-Eu não acredito que vcs fizeram isso!
Ele gritou irritado.
-Ora vamos, Draco, não foi nada tão horrível assim, apenas uma brincadeirinha entre companheiros de viagem. Não é, Gina? Gina?
Mas Gina não respondeu. Ela estava olhando para algum lugar acima das árvores, muda.
Assim que Hermione se virou ela entendeu. Logo acima havia uma construção em estilo gótico, cinza, grande, imponente.
Hermione checou seus mapas.
-É aqui.
Os três respiraram fundo e começaram a entrar no castelo, embora alguma coisa parecesse que queria os manter longe. Bom, sempre existem os riscos e os riscos existem para serem tomados.
Hermione ouviu um barulho e se virou para ver que Gina e Draco estavam sem a capa, olhando chocados.
-Vc, não pode Ter acreditado nele, ele esta obviamente nos enganando!
-É Granger, nem vc é ingênua o bastante para acreditar numa palavra que esse rato disse, o Potter já deve estar morto a dias.
Hermione não se abalou com a frase de Draco. Se ela sabia de uma coisa sobre Rabicho era que ele era movido a medo. Ele iria sempre se aliar ao lado vencedor, e por enquanto o lado vencedor era o de Harry. Ela duvidava que ele tivesse mesmo entregado Harry para os comensais, ele certamente seria pego, certamente seria punido, talvez ate com o beijo.
Ela também acreditava que Rabicho conhecia o bastante sobre o seu caráter pra saber que ela nunca ajudaria Voldemort se reerguer.
Mas a única coisa que fez Hermione se decidir, decidir que iria acreditar nele, era que Rabicho devia a vida a Harry e agora ele finalmente tinha a oportunidade de se livrar desse fardo.
Hermione sabia que dever a vida não era apenas uma coisa de honra. No mundo magico se criava um laço entre a pessoa salva e o salvador, e a pessoa salva iria sofrer muito se não retribuísse de alguma maneira. Era o que Rabicho estava fazendo, ele tinha medo de sofrer, Hermione tinha certeza. Por isso ela respondeu friamente:
-Acredito nele sim.
Os olhos dos outros dois estavam extremamente arregalados.
-Como vc pode acreditar nele? Ele é o Rabicho, ele traiu os pais de Harry!
Gina, a partir do momento que começou a andar mais com o trio, sabia de algumas das suas aventuras, algumas.
-Eu tenho meus motivos pra acreditar, Malfoy, agora vc pode ir, eu acho que a gente pode chegar aonde o Harry esta antes de vc voltar pra Hogwarts.
-Eu não vou!
Hermione devia Ter entendido errado. Draco Malfoy, que tinha reclamado do momento em que ele tinha acordado ate agora, querendo voltar pro castelo estava dizendo que não ia embora.
-Desculpe, eu acho que eu ouvi errado...
-Não Grager, vc ouviu muito bem, eu estou ansioso pra ver a sua cara quando ver que o Harryzinho querido, já esta no céu, por que afinal, ele fez tantas coisas boas que agora já deve ser um anjo, tocando harpa.
Mas algo no riso nervoso que Draco deu, fez Hermione acreditar que ele tinha alguma intenção escondida. Ela deu de ombros e começou a examinar o mapa.
A floresta não era muito longe de Londres, o que era bastante surpreendente para uma pessoa que foi criada entre trouxas, mas Hermione desconfiou que como Hogwarts, a floresta não era mapeável, apenas bruxos conseguiam vê-la.
Isso não era exatamente reconfortante, se a floresta era escondida tinha um bom motivo pra isso, como por exemplo seres mágicos poderosos, e perigosos, como dragões, aranhas gigantes, lobisomens, quimeras...
Hermione afastou esses pensamentos balançando a cabeça. Não ia fazer nenhum bem ficar pensando no pior. Ela tinha que salvar Harry, a qualquer custo e não era um dragãozinho qualquer que iria impedi-la.
Ela na verdade estava mais preocupada com Malfoy. Certo, ele não estava sendo aquele Malfoy que ela conhecia, Gina inclusive parecia estar gostando bastante da companhia dele, mas mesmo assim, ele podia estar fingindo, tentando armar algo.
Ela suspirou e tentou esquecer. A floresta era bastante escura e a qualquer momento um perigo podia surgir.
Apesar disso, Gina e Draco não pareciam estar conscientes disso. Eles brincavam o tempo todo e conversavam sem parar, ate que Hermione se encheu e com uma sobrancelha erguida se virou pros dois:
-Vcs por acaso querem atrair todos os monstros da floresta pra cima da gente? Por que se for esse o objetivo de vcs, vai ser alcançado, com todo esse estardalhaço que vcs estão fazendo!
Gina e Draco pararam instantaneamente. Gina parecia um pouco chocada, enquanto Draco tinha aquele sorriso cínico na cara.
-Ora Granger, se acalme. Eu sei que vc esta se mordendo pra alcançar o seu querido Potter logo, mas não é descontando na gente que isso vai acontecer mais depressa. Ainda mais, não é como se um dos "bichinhos de estimação" do Hagrid fosse aparecer a cada...
Mas parou abruptamente. Seus olhos ficaram duas vezes maiores que o normal e ele engoliu em seco. Gina que estava levemente mais calma disse tremula:
-Hermione, não olhe.
É claro que a primeira coisa que Hermione fez foi se virar. Ela não podia dizer que aquilo tinha sido a coisa mais sabia em sua vida.
O que ela viu foram imensos olhos amarelados olhando maldosamente pra ela. Era o bicho mais estranho que ela já tinha visto, uma mistura de Leão com cavalo, mas o mais impressionante era que o bicho tinha asas.
Ele era com certeza imponente e belo, um desses animais fascinantes que Hermione gostaria de ficar olhando, estudando, para sempre. Isso fez Hermione vacilar, ficar parada um instante. Mas então ele rugiu, e a visão daqueles dentes, letais, impulsionou ela a fazer a única coisa sensata naquela hora:
-Corram!- ela disse a plenos pulmões, enquanto corria o mais rápido que podia, seguida por Draco e Gina.
Ela ficava impressionada o quão rápido eles estavam correndo. Quer dizer, Draco e Gina nem tanto, afinal eles eram atletas, ambos jogavam quadribol, deviam estar acostumados com o esforço físico, mas ela. Ela que o maior esforço que fazia era carregar a tonelada usual de livros nas costas, ou correr atras de Harry para a próxima aventura. Ela estava correndo como se tivesse fogo nas pernas. Ela estava correndo mais rápido que eles.
Ainda impressionada com seu desempenho atlético, Hermione finalmente caiu em si. Correr por si só não ia adiantar, aquele animal, qualquer que fosse, podia correr muito mais que eles, pior, podia voar.
Hermione parou e tirando a varinha do bolso, falou um feitiço que seria eficaz:
-Impedimenta!
O leão-cavalo-alado, parou, mas Hermione sabia que seria apenas temporariamente, por isso voltou a correr.
Eles correram ate encontrar uma árvore oca, longe do perigo, onde podiam ficar escondidos enquanto recuperavam o fôlego.
Draco foi o primeiro a falar, ainda respirando aos arquejos:
-Granger, arf, arf, como voce corre, hein? Eu pensei, arf, arf, que a característica principal, arf, arf, da Grinfinoria, fosse a coragem. Pois me pareceu que vc estava correndo, arf, arf, como um covarde.
Hermione se virou irritada pra ele, já tinha se recuperado da dor lateral:
-Não confunda coragem com burrice. E pra seu governo, eu acabei de salvar a nossa vida com aquele feitiço. Ou talvez vc não tenha notado, parecia muito ocupado pedindo ajuda pra sua mamãezinha, vir te salvar.
Draco ia responder alguma coisa, mas pareceu mudar de idéia e riu, aparentemente achando graça.
-Certo Granger, embora não me agrade, eu te devo essa.
-Como se valesse alguma coisa- Hermione murmurou por debaixo os seus cabelos. Ela estava decidida a ignorar Malfoy, mas algo que ele disse chamou sua atenção:
-Gina, o que foi? Algum problema?
A ruivinha estava sentada na raiz da arvore, de olhos arregalados e queixo caído, bastante muda.
Hermione se acercou da garota e perguntou se estava tudo bem, depois de alguns momentos ela respondeu:
-É só que, bem, eu pensei que eu ia morrer. Que ninguém iria me salvar.
Hermione ficou um pouco assustada com essa declaração no inicio, mas logo percebeu que fazia sentido. Gina não tinha experimentado tantas experiências quase mortais como ela propia. O mais próximo que tinha acontecido foi quando Tom Riddle tinha levado ela para a câmara secreta, e ela não estava exatamente consciente quando isso aconteceu.
Hermione observou o mapa e viu que eles tinha avançado muito, melhor, tinham avançado para a direção certa. Pelos seus cálculos, na manha do dia seguinte chegariam ao local em que Harry estava preso.
Hermione só esperava que nenhum incidente como esse acontecesse de novo, embora, pensou ela, isso fosse pouco provável.
Eles avançaram o resto do dia, fazendo poucas paradas e andando muito. Depois de Hermione relaxar ela pôde aproveitar a viagem e seus companheiros.
Gina tinha razão, Malfoy continuava estranho e um tanto mesquinho, mas ele não podia ser chato o tempo todo, ele realmente era engraçado, de uma forma sombria, um humor negro que ela não conhecia de Rony ou dos gêmeos.
E ele tinha parado de chamar ela de sangue-ruim! Isso era impressionante embora não a afetasse, ela era superior a isso, à muito tinha deixado de se importar com os insultos de Malfoy. Ela era melhor bruxa que ele e tinha consciência disso e a única razão pelo qual ele importunava ela era porque ele sabia que conseguiria aborrecer Harry atingindo seus amigos.
Mas ele não atingia mais ela, ela era considerada uma das mais poderosas bruxas menor de idade do mundo, a mais brilhante aluna de Hogwarts. Mais brilhante que Dumbledore, mais brilhante que Tiago Potter, mais brilhante que Voldemort.
E embora ela não admitisse, isso fazia se sentir feliz consigo mesma, no futuro ela poderia escolher qualquer emprego que quisesse, ela seria bem paga e teria muitos benefícios. Quer dizer, quase qualquer emprego. Havia um grande tabu, um que ela nunca foi e nunca seria boa, Quadribol.
Ela só assistia os jogos pra ver Harry jogar, ou para torcer com Harry, ou, eventualmente salvar a vida dele no meio de uma partida.
Ela se cansava de ouvir falar sobre o esporte, talvez fosse a única coisa que a cansava sobre Harry. Por que, ora essa, era apenas um bando de vassouras e algumas bolinhas, nada tão espetacular, porque fascinava tanto as pessoas?
E como ela estava cansada de ouvir falar sobre isso ela se afastou de Draco e Gina, que só sabiam falar sobre as novas vassouras ou o melhor time do campeonato.
Afinal os dois tinham muito sobre o que falar, desde que Gina tinha entrado pro time da Grinfinoria. A Quarta Weasley a conseguir esse feito. Tinha sido um escândalo quando ela teve melhores resultados que Rony e por isso tinha ficado com a vaga no ano anterior.
Rony como sempre, fechou a cara e parou de falar com ela por um mês, mas como a propia Gina tinha dito, ele estava apenas sendo Rony. Teimoso, emburrado e achando que todo mundo estava conspirando contra ele.
Eventualmente ele viu que tinha sido melhor assim e tinha ate esquecido um pouco da antiga fixação pelo esporte.
De repente algo ocorreu a Hermione, antes de Harry desaparecer ele estava indo pro treino de quadribol e, pelo menos virtualmente , Gina deveria estar com ele, mas ela não estava, ela estava lendo um livro, isso não fazia sentido porque ela nunca perdia um treino, porque ela era extremamente insegura e achava que tudo de errado que fosse no jogo seria culpa dela, porque ela tinha perdido aquele treino e...
Hum, ela estava fazendo aquilo de novo, pensando sem parar, juntando informação e tentando fazer com que tudo tivesse sentido, ao mesmo tempo. Era normalmente muito útil mas despendia um esforço enorme, quase inconsciente por parte dela.
Normalmente ela continuaria pensando ate achar a resposta certa, mas agora não era necessário e ela não tinha tempo. Portanto se virou pra perguntar o motivo pra Gina.
Ela encontrou Draco e Gina parados se encarando de forma estranha, parecendo esquecidos do resto do mundo. Hermione ficou calada um instante ate que estridentemente gritou em choque:
-Gina!
Os dois foram chamados pra terra no mesmo instante e cada um olhou pra um lado diferente muito vermelhos.
Hermione sabia que não ia adiantar nada perguntar o que tinha sido aquilo pros dois, portanto resolveu perguntar o que estava martelando na sua mente sobre o treino de quadribol.
-Ah, é que -Gina respondeu- Colin me pediu ajuda com um dever dele e como eu sabia que aquele treino não seria muito importante eu resolvi ajuda-lo.
Hermione achou que não era isso a historia toda, mas se deu por satisfeita ate que se virou e disse com desanimo:
-Oh não!
Um pântano, um pântano largo e profundo na frente deles. "o que eu vou fazer?"
-Ah vamos Granger, é apenas um laguinho!
-Não é apenas um laguinho, é um pântano largo, escuro e profundo e pelo que eu sei ele pode ser muito bem perigoso.
-Se vc esta com tanto medo assim, eu vou na frente, e se diz corajosa.
-Não se importe Malfoy, eu vou na frente, pra provar de uma vez por todas que eu não estou com medo, estou apenas sendo cuidadosa.
-Típico Granger. Sempre cuidando de todos, é uma verdadeira Madre Teresa de Calcutá. Agora com licença que eu tenho que atravessar esse laguinho.
Hermione se virou pra Gina que estava com um sorrisinho e uma cara de "eu não te disse?".
-Viu Hermione, ele não é tão mau assim, tem muita pose envolvida.
-Certo Gina, o que vc disser.
-Mione, eu estava pensando, vc lembra do Lockhart?
-Lembro, porque?
-Bem, eu estava pensando, como vc pôde ficar atraída por ele?
-E porque vc esta me perguntando isso justo agora?
-Eu não sei. É só que, bom, eu tenho essa teoria e eu queria ver se é verdade.
-Gina, eu não sei porque eu fiquei atraída por ele. Primeiro, eu era muito nova, não sabia o que estava fazendo. Segundo, ele era bonito. E terceiro, bom, eu tinha lido todos os livros dele e eles contavam todas as coisas heróicas e corajosas que ele tinha feito, é claro que eu acreditava. Eu nunca antes pensava que um livro pudesse mentir. Devo admitir que foi uma decepção.
"E que decepção!" pensava Hermione, ela tinha se sentido tão traída. Ele com aquele sorriso ofuscante e os cabelos de ouro. Ele escrevia tão bem. Como Hermione desejava que tudo fosse verdade. Mas ela descobriu que não e aquela tinha sido sua primeira lição de que nem tudo é preto-no-branco. Hermione era tão ingênua naquele tempo e a ingenuidade foi simplesmente arrancada dela como um band-aid.
Hermione nunca se arrependeu tanto de não dar ouvidos á Rony. Quem diria, dessa vez ele estava certo.
Gina estava com um sorriso satisfeito e falou, alegre:
-Vc acaba de comprovar minha teoria.
-E que teoria seria essa senhorita Weasley?
Gina deu um sorriso maroto e com uma cara que lembrava muito os gêmeos anunciou num sussurro.
-Vc, Hermione, tem uma queda por heróis!
Hermione estava para responder algo, completamente abismada, quando ouviu a voz de Draco do outro lado do pantano, ou 'laguinho' como ele gostava de chamar.
-Hey, as damas não vão resolver não? Ou será que vcs resolveram tomar um chazinho aí do outro lado? Vamos, eu já atravessei, não deve ser tão difícil pra vcs, maravilhosos grinfinorios que conseguem fazer tudo sem pensar nas conseqüências.
Hermione suspirou. Como ele conseguia ser tão prepotente?
-Mais metido do que o Rony.
Hermione falou baixo, tanto que nem Gina conseguiu ouvi-la. E começou a atravessar o 'laguinho' com um feitiço de levitação moderado.
O feitiço permitia que ela andasse sobre a água como se fosse no chão. Não deixava de ser perigoso, pois se qualquer coisa que estivesse embaixo resolvesse agarra-la estaria perdida.
Chegando ao outro lado Draco não podia deixar de sorrir.
-Não foi tão difícil, não é Granger?
-Claro, claro. Mas cadê a Gina?
O sorriso de Draco se transformou subitamente em uma expressão de surpresa.
-Ela não estava atras de vc?
-Sim , mas ela começou a correr na minha frente, e com essa neblina não dá pra ver muito bem. Eu pensei que ela já tivesse chegado. Vc tem certeza que ela não passou por aqui?
-É claro que eu tenho certeza, eu teria visto se uma cabeça flamejante estivesse passeando por aqui.
Hermione pareceu refletir um instante, dando de ombros afinal.
-Bom, ela deve Ter pego um atalho e deve estar bem a frente de nós. A gente vai Ter que andar rápido se quiser alcança-la.
Draco parecia estar perdendo o controle. Ele olhava pra Hermione como se ela estivesse demente.
-Do que vc esta falando? Ela pode estar muito bem afogada nesse pantano largo, profundo e perigoso na minha opinião.
-Eu pensei que vc achava que era só um laguinho.
Aparentemente desistindo de tentar extrair qualquer senso da menina em sua frente, Draco apenas a afastou e olhou para o pantano.
-Lumus!
E o que ele viu fez ele tremer do dedão ao ultimo fio de cabelo. A sombra de um bicho esguio, alto, com inúmeros chifres e dentes imensos e cortantes. Coisa que ele só tinha visto em seus pesadelos.
-Aaaaaahhhhhhhhhh! Hermione, aquele bicho deve Ter comido a Gina e esta atras da gente agora. Hermione?
Mas Hermione não estava apavorada. Ela parecia estar passando mal, com as mãos sobre a barriga, inclinada, como se fosse vomitar e soltando um ruído estranho. Um ruído que parecia... Gargalhadas?
Foi quando o monstro se aproximou. E o monstro também estava rindo. E Draco não estava entendendo mais nada.
Foi quando Hermione conseguiu falar novamente:
-Vc tinha que Ter visto a sua cara!
E voltou a gargalhar. E de repente, o monstro tinha sumido e Gina estava atras dele, gargalhando. E o curioso é que a gargalhada dela parecia muito com a do monstro. De repente tudo começou a fazer sentido e Draco estava se sentindo um completo idiota.
-Eu não acredito que vcs fizeram isso!
Ele gritou irritado.
-Ora vamos, Draco, não foi nada tão horrível assim, apenas uma brincadeirinha entre companheiros de viagem. Não é, Gina? Gina?
Mas Gina não respondeu. Ela estava olhando para algum lugar acima das árvores, muda.
Assim que Hermione se virou ela entendeu. Logo acima havia uma construção em estilo gótico, cinza, grande, imponente.
Hermione checou seus mapas.
-É aqui.
Os três respiraram fundo e começaram a entrar no castelo, embora alguma coisa parecesse que queria os manter longe. Bom, sempre existem os riscos e os riscos existem para serem tomados.
