7-Suspeitas

                O pânico tomou conta de todos os alunos. Todos se voltaram na direção do grito e viram algo que ninguém imaginava ver em Hogwarts. Pairando na orla da Floresta Proibida estava a Marca Negra.

                No mesmo instante em que se ouviu o grito, Harry fechou seus dedos envoltos da minúscula bolinha de metal frio. No entanto, ele não teve tempo para comemorar a vitória da Grifinória. A famosa cicatriz em forma de raio doía alucinadamente e o menino ia perdendo a consciência até que desmaiou. Para sorte de Harry nem todos haviam se virado e Eliza que estava olhando para ele rapidamente reduziu a velocidade da queda e cuidou para que ele caísse em uma maca. Rony que viu a Firebolt do menino voar sem destino apressou-se em voar atrás dela para resgata-la.

                 Mais tarde, Harry acordou na enfermaria. A dor na cicatriz já cessara. Ele aos poucos foi se lembrando das circunstâncias de seu desmaio.

                -O que aconteceu?-ele perguntou aos amigos que estavam lá o esperando acordar.

                -Outro ataque. Mais uma menina.-Mione respondeu parecendo preocupada.

                -Quem foi dessa vez?-Harry perguntou.

                -Ainda não sabemos.-Cathy entrou na conversa.- O que houve com você?

                -Não sei direito. Minha cicatriz começou arder e eu perdi a consciência. Acho que caí da vassoura...-Harry respondeu.

                -Você está bem?-a professora Wyse perguntou.

                -Estou pelo menos eu acho. A cicatriz já está doendo bem menos.

                -Que bom!

                -Quem me salvou?

                -Fui eu.-Eliza respondeu

                -E antes de você perguntar a sua vassoura está aqui-Rony disse mostrando a Firebolt.- Eu fui buscá-la.-nesse momento Madame Pomfrey, a enfermeira, expulsou o grupo da enfermaria.    

                -Estava me perguntando o que fez a cicatriz de Harry doer.-especulou Catherine-Quer dizer normalmente ela só arde quando Voldemort...

                -Não fale esse nome!-interrompeu Rony.

                -Eu acho que entendi onde você quer chegar, Cathy. Você acha que Você sabe quem participou deste ataque pessoalmente.-Hermione indagou

                -Exatamente.-confirmou a menina.

                -Mas isso é impossível! Eu não sei se você sabe, mas não dá para aparatar em Hogwarts.

                -Eu sei Mione. Eu também li Hogwarts Uma História, esqueceu? Só que a aparatação não é a única forma de entrar na escola.-replicou Cathy.-Nós não sabemos como os comensais entram na escola e muito menos como eles tiram as meninas daqui.

                -Você está pensando nas passagens secretas? Mas as que vão para fora do castelo vão para Hogsmeade e para usá-las Você-Sabe-Quem teria que atacar o povoado e nós saberíamos se isso tivesse acontecido.-intrometeu-se Rony.

                -Não se Voldemort for um animago. Hermione, qual edição de Hogwarts Uma História você leu?

                -A mais nova, dizem que é a mais correta. Por quê Cathy?

                -Você já leu a original?-perguntou Catherine

                -Não, ela é muito rara. Foi escrita pela própria Ravenclaw. Mas dizem que a ultima edição resgata muita coisa da original.-respondeu Mione.

                -Não há nenhuma original em Hogwarts?

                -Só na biblioteca particular do diretor. É uma edição muito rara mesmo!-respondeu Mione-Mas aonde você quer chegar?

                -Nossa! Eu não sabia que era tão rara assim!

                -Vocês querem parar de discutir sobre a raridade de um livro! Olhe uma Sabe-tudo, rata de biblioteca, eu agüento, mas duas não!-interveio Rony. As duas olharam-no como se ele fosse um idiota e continuaram a conversa, ignorando-o.

                -Eu tenho uma edição original no dormitório. Você sabe, a família Wyse é uma família antiga e tradicional tal como os Malfoy. Lá existe algo sobre as maneiras de entrar no castelo. Inclusive sobre aparatação. Não sei se está na edição mais nova, mas existe uma maneira de se aparatar em Hogwarts.

                -Viu, Mione! Você não deveria confiar tanto nos livros.-zoou Rony.

                -Eu vou buscar o livro no meu dormitório. Nos encontramos na biblioteca.-finalizou Cathy.

                Ela tomou o caminho da sala comunal sonserina. À medida que ia se aproximando os corredores iam ficando mais frios e com aparência mal cuidada. Apareciam diversos quadros e esculturas, assim como entalhes na parede de cobras e basiliscos. As paredes eram de pedra e a aparência dos corredores gélidas. Ela não conseguia deixar de pensar que aquela aparência descuidada não combinava nada com a sala comunal sonserina, que era um cômodo impessoal, mas luxuoso. Ela gostava da atmosfera de lá, embora não fosse aconchegante como a da Grifinória.

                Ela estava voltando para a biblioteca com o valioso livro, andando pelos corredores das masmorras que estava aprendendo a conhecer bem. Ela já não admirava a beleza dos entalhes e ignorava a aparência mal cuidada. O costume faz com que as pessoas se acomodem. Foi então que ela ouviu um choro vindo de um dos corredores e estranhou, pois os implacáveis sonserinos raramente choram. Ela resolveu entrar e ver quem era. Surpreendeu-se ao ver Daniela Crackenthorpe, uma colega sua da Corvinal. Daniela tinha olhos negros e o cabelo negro bem liso e escorrido. Ela era bem alta para uma garota, mas não era muito magra. As duas tinham aulas de Runas Antigas e Aritmancia juntas. A garota estava sentada encostada na fria parede de pedra escondendo seu rosto nos joelhos.

                -Dani, o que houve?- Embora as duas não fossem íntimas, Cathy julgou que aquela não era situação para se chamarem por sobrenomes. Daniela levantou os olhos para ver quem era.

                -Nada!-ela disse ainda soluçando. Catherine sentou ao lado dela.

               -Olhe eu não vou te pressionar, porque nós não nos conhecemos direito. Mas você não parece nada bem! Eu só queria saber se posso te ajudar de alguma forma. Quer que eu chame a Helen?-Cathy tentou ajudá-la, mas a menção do nome da melhor amiga os soluços pioraram e o choro recomeçou.

                -Você não vai encontrá-la. Foi ela...-Daniela não teve coragem para continuar, mas Catherine entendeu o que ela queria dizer e não soube o que falar para consolá-la.-Eu estou com medo! Estou com tanto medo!-Cathy se aproximou e fez com que a menina chorasse em seu ombro. Depois de um tempo Daniela pareceu se acalmar e os soluços diminuíram.- Você acha que eles escolhem as vítimas?

                -Por que você está achando isso?- Cathy já estava pensando assim, por causa do pesadelo e agora só via a confirmação de suas teoria no fato de a nova vítima ser outra menina do quinto ano.

-As meninas, que foram atacadas têm muito em comum. Elas são do mesmo ano e as duas nasceram trouxas. Você não acha muita coincidência? Além disso, as duas estavam completamente sozinhas. Eu acho que eles as atraíram para o local dos ataques. Quer dizer andar pela Floresta Proibida sozinha durante um jogo de quadribol não faz o estilo da Helen. Ainda mais agora, que ela sabia que era perigoso e seria desrespeitar regras. O mais estranho foi ela não ter comentado nada comigo sobre o assunto.-Daniela falava muito nervosa.

-Entendo e compreendo o seu medo, afinal você satisfaz as duas condições. Nós duas satisfazemos. Afinal somos do mesmo ano e nascemos trouxas.-Cathy falou tentando soar compreensiva.

-Somos três nessa situação. Ainda tem a Granger. Vocês são amigas, não? Talvez Aquele-que-não-deve-ser-nomeado pretenda pegar uma de cada casa e por isso escolheu o quinto ano. Não sei se você sabe, mas você é a única nascida trouxa na sonserina.-comentou Dani.

-Eu sei!-Embora Cathy tenha pensado que o fato de a Lufa-Lufa só ter tido uma aluna atacada não significava que Voldemort pretendia atacar apenas uma de cada casa, afinal naquela casa só havia mesmo uma que satisfizesse as condições, ela resolveu não comentar nada para não apavorar ainda mais a colega.-Olhe eu não estou tentando substituir a Helen, pois ninguém pode substituir ninguém, mas nós podíamos nos tornar amigas, não?-Daniela fez que sim com a cabeça.-Para te animar podíamos fazer algo que você goste bastante. Tem algo que você gostaria de fazer?-Cathy perguntou.

-Podíamos ouvir música!-Daniela respondeu após pensar um pouco. Ela não parecia muito animada, mas mesmo assim concordou em experimentar o tratamento de Cathy.

As duas foram até o dormitório de Dani na Corvinal. A sala comunal da Corvinal como a da Grifinória era em uma das torres e era decorada com as cores desta casa. A atmosfera era aconchegante sem ser luxuosa e parecia-se mais com a sala da Grifinória do que com a da Sonserina, mas era ao mesmo tempo diferente. Para entrar era necessário retirar um livro de uma estante e escrever nele a senha. A sala estava cheia, mas ninguém parecia estar estudando ou se divertindo e o clima era meio tenso. As duas foram diretamente ao dormitório feminino do quinto ano. Ao entrarem Daniela começou a chorar novamente.

-Eu acho que nunca vou me acostumar a ver essa cama vazia. A acordar e não ter que acorda-la ou ser acordada por ela. Sabe aquele lugar onde você me encontrou? Foi lá que nos tornamos amigas...-Dani não continuou porque o choro piorou.

-Hei! Tudo bem! Não precisamos fazer nada que você não queira, mas você não deve falar dela como se nunca mais fosse vê-la. Ela está desaparecida e não morta. Ela pode estar viva!-Cathy falou na tentativa de animá-la.

-Nas mãos daquele que não deve ser nomeado! Você acha que ela tem alguma chance?

-Não sei! Tudo depende do objetivo de Voldemort ao capturá-la. Só acho que se você ficar pensando só no que aconteceu com ela e não se distrair, você vai enlouquecer.

-Você tem razão! Vou tentar, mas preferia só ouvir música. E então que tipo de música você quer?-Ao dizer isso Daniela pegou uma espécie de rádio bruxo, que se parecia muito com uma vitrola.

-Não sei as esquisitonas ou talvez Ninfmani. Qual você prefere?-perguntou Catherine.

-Ninfmani sem a menor dúvida. Sabe eu sempre amei música e dançar, e a Helen nem tanto.-ao dizer isso uma lágrima escorreu no rosto de Dani, que estava bem pálido.-Ninfmani audius!-ela apontou com a varinha para o "rádio" e este começou a tocar uma música pop bruxa. O "rádio" bruxo que na verdade se chamava madius funcionava assim: A pessoa fazia o mesmo feitiço que Daniela fizera e aparecia uma espécie de disco e uma miniatura do cantor ou do grupo, o qual começava a cantar e dançar como o original. Só que a voz saía magicamente ampliada de acordo com o ajuste de som.-Quem me apresentou a música bruxa foi uma outra colega da Corvinal e eu mostrei a ela a música trouxa. Eu fiquei muito feliz, porque eu sempre amei ouvir música e dançar, mas um rádio trouxa não pegaria nunca em Hogwarts.

-Tive uma idéia! Vou dançar imitando Perséfone, que tal?- Daniela limitou-se a acenar um sim em resposta e Catherine começou a dançar meio desajeitada. Depois de um tempo ao fazer um passo de forma particularmente ridícula ela conseguiu o que queria: fazer Daniela sorrir. Foi um sorriso pálido, mas as duas sabiam que aquilo era o máximo que Dani conseguiria naquele dia.

-Você não pode ser tão desajeitada! Você está dançando assim só pra me fazer rir!

-Exatamente, mas consegui o que queria, não consegui?-Catherine replicou sorrindo.-Além do que, eu não danço mesmo muito bem. Quem sabe outro dia quando você estiver mais disposta você me ensina a dançar direito?

-É quem sabe...-Dani respondeu com uma expressão que demonstrava que ela não sabia se algum dia se sentiria melhor.

-Meu Deus! Olhe a hora! Já está na hora do jantar!-Cathy exclamou lembrando-se de que deveria ter ido encontrar Rony e Mione na biblioteca.

                Ao chegar no salão principal ela encontrou os dois furiosos:

                -Cathy, por que você não foi nos encontrar na biblioteca? Ficamos preocupados!

                -Porque ela é esperta Hermione e soube encontrar uma desculpa pra fugir de sua obsessão por livros. Isso aí Catherine você começou a entender, mas da próxima vez vê se me leva junto. Ela me obrigou a ficar pesquisando na biblioteca até agora.-brincou Rony.

                -Desculpe Mione é que aconteceu uma coisa.-então Cathy contou-lhes como encontrara Daniela e descobrira quem havia desaparecido e depois tentara consolá-la.

                -Tudo bem! Eu consegui um exemplar original.

                -Ela encheu tanto a paciência de Madame Pince, que ela pediu-o emprestado a Dumbledore.-Rony interrompeu.

                -No livro eu encontrei uma menção a um pacto de sangue que não está em nenhuma das outras edições. No entanto no que se refere a aparatação há apenas uma rápida referência a uma falha no feitiço de proteção. Nenhuma outra edição se refere a ela, porque apesar dos diversos testes ela nunca foi comprovada.-Hermione o ignorou e explicou suas descobertas.

                -Eu me lembro desse pacto de sangue, mas ele é importante?-Catherine perguntou

                -Oi gente! Você vai jantar conosco hoje, Cathy?-Mione não teve tempo de responder porque nesse momento Harry chegou e interrompeu a conversa.

                -Não eu só estava conversando um pouco com a Mione e com o Rony, mas já estou indo para a minha mesa.-ela respondeu após alguns instantes de dúvida. Antes de responder ela olhou para a mesa da Sonserina e viu Draco encarando-a com ar de censura. Em um primeiro momento isso quase fez com que ela ficasse para desafia-lo, mas depois ela pensou melhor e estava feliz demais por terem feito as pazes para provocar outra briga.

                -Mione, Cathy e Malfoy voltaram a ser amigos?-Harry perguntou.

                -Voltaram.-ela respondeu após perceber porque ele perguntara. Na mesa da Sonserina Catherine e Draco estavam sentados juntos conversando.

                -Agora eu entendi porque ela não quis ficar. Ele estava olhando pra cá com aquele olhar arrogante de desaprovação e ela foi correndo como um cachorrinho obedecê-lo.-Harry comentou.

                -Não acho que esse tipo de atitude seja característico de Cathy.-Hermione retrucou.

                -Claro que não é Mione! O Harry está só com ciúmes!-Rony alfinetou. Harry lançou um olhar de irritação para os dois e passou o resto do jantar calado.        

                No fim do jantar Dumbledore se levantou:

                -Acho que todos vocês sabem que hoje durante o jogo de quadribol ocorreu um novo ataque e, por isso, os jogos estão cancelados.-murmúrios de indignação irromperam por todo o salão.-Infelizmente essa medida se fez necessária. No entanto, vocês talvez não saibam que esse ataque não teria ocorrido se a aluna tivesse obedecido às regras. Eu peço que vocês respeitem essas medidas, pois elas são importantes para a proteção de vocês. A aluna desaparecida foi Helen Brontë do quinto ano da Corvinal.-todos no salão ouviam com respeito e temor exceto um grupo da Sonserina e Harry não gostou de perceber que Malfoy fazia parte deste grupo.