12- A Briga

                Quando um grupo de alunos entrou rindo na sala comunal sonserina, Catherine estava estudando História da Magia com Draco. Um dos alunos que entrara veio falar com ele e ela ouviu a conversa:

                -Sabe o que estão dizendo, Malfoy? - o aluno que devia ser do sexto ano e Cathy não conhecia, perguntou.

                -Não, o que foi? - Draco perguntou olhando-a de maneira nervosa como se a presença dela estivesse atrapalhando, mas ela o ignorou.

                -O boato é que mais uma sangue ruim nojenta desapareceu. - o garoto respondeu rindo.

                Ao ouvir aquilo Cathy saiu correndo da sala comunal sonserina. Ela ficara horrorizada pela frieza do garoto e no fundo ela sabia de Draco também. Como eles podiam se divertir com aquilo? Ao mesmo tempo ela se perguntava se se preocuparia tanto assim se fosse sangue puro. No entanto, o principal motivo daquela corrida desesperada pelo castelo era sua preocupação com Hermione. Ela atravessou os corredores das masmorras perdida e confusa sem prestar muita atenção ao caminho. O primeiro lugar em que foi procurar naturalmente foi a biblioteca, mas quando chegou lá viu Rony e Harry saindo sozinhos e com a aparência desolada o que fez seu coração congelar.

                -Rony, Harry, por favor, me digam que sabem onde ela está! - Catherine exclamou desesperada.

                -Sinto muito, mas não sabemos, tínhamos esperanças de que ela estivesse com você. Você tem alguma idéia de onde ela poderia estar.

                -Não, mas temos que procurar. Não podemos desistir tão facilmente. - ela falou tentando parecer mais determinada do que na verdade estava. Ela sempre tentava passar a imagem de uma pessoa inabalável, mas não a era.

                -Acho melhor nos dividirmos. - Harry opinou.

                -Concordo. - disseram Cathy e Rony simultaneamente. Eles combinaram a parte do castelo em que cada um dos três iria procurar e se separaram se sentindo angustiados.

                Catherine estava quase acabando sua parte e perdendo as esperanças, quando viu alguém com aparência desnorteada sair da sala de Dumbledore. Ela olhou mais atentamente para a pessoa e viu que era uma menina mais do que isso era Hermione. Cathy saiu correndo para abraçar a amiga que estava chorando e que pareceu ainda mais angustiada ao vê-la e perceber a felicidade dela. Felicidade esta provocada logicamente pelo alívio de ver a amiga.

                -Mione, o que houve?- Cathy perguntou, mas logo se lembrou da outra única pessoa além dela mesma e Hermione que podia ter sido raptada. - Dani! - ao ouvir este nome o choro de Mione aumentou consideravelmente.

                Catherine conduziu a amiga a uma sala vazia naquele corredor. A sala era simples e parecia mais uma sala abandonada como tantas outras que havia em Hogwarts. As duas se sentaram apoiando-se na parede lado a lado. Elas ficaram em silêncio por algum tempo. O único som que se ouvia na sala era o dos soluços de Mione. No entanto, chegou o momento em que Cathy não agüentou mais. Ela era muito reservada e jamais permitia que a vissem chorar. Naquele momento ela invejou a amiga pela capacidade de extravasar seus sentimentos sem vergonha.

                  -Mione, cadê a garota forte que eu conheço? - ela perguntou de forma áspera.

                -Cathy não é questão de ser forte. Eu estou preocupada.Você já parou pra pensar no risco que essas meninas estão correndo? Elas podem estar mortas! Dani pode estar morta! - Mione exclamou. Aquelas palavras a irritaram ainda mais. Catherine não queria pensar no que poderia estar acontecendo a Dani naquele momento. Ela queria se ocupar para não pensar no destino da amiga e nem na falta que sentiria dela. 

                -Mione não vai adiantar nada ficarmos chorando e sofrendo. Temos que fazer algo!

                -Concordo! Mas eu preciso de tempo para me acalmar e ajustar meus sentimentos. Você não está sentindo nada? Eu confesso que sempre concordei com o Rony em achar que a Sonserina não combinava muito com você. Nunca pensei que você fosse tão sangue frio! - Mione retrucou.

-Eu não sou fria! Você é que é uma manteiga derretida! - naquele momento a inveja que sentia da capacidade de enfrentar os sentimentos que a amiga tinha veio à tona. Ela disse aquilo gritando e saiu correndo.

Catherine passou um tempo andando a esmo pelo castelo. Ela não tinha a menor idéia de para onde queria ir. Só sabia que queria ficar sozinha o que eliminava o seu dormitório, pois lá poderia ser surpreendida pelas outras garotas e não queria correr este risco. Quando viu estava no primeiro andar em frente ao banheiro da Murta que Geme. Mione a avisara para manter distancia de lá, pois era habitado por uma fantasma temperamental. No entanto, naquele momento Cathy queria ter certeza de que não seria surpreendida por ninguém e como ninguém ia àquele lugar ela resolveu entrar.

Ela ficou feliz ao ver que teria privacidade total, pois a Murta não estava em seu banheiro. Catherine simplesmente sentou-se no chão dentro de um dos boxes e começou a chorar. Ela começou a se perguntar a quanto tempo não chorava até que se lembrou. No início de Beauxbatons ela estava muito infeliz não só por causa da decepção que sofrera ao não receber a carta de Hogwarts. Na verdade, o pior problema para ela foi à solidão.

-Você não consegue nem mesmo fazer uma poção simples como a da aula de hoje? - Catherine ainda podia ouvir a voz carregada de desdém. - A única matéria na qual você consegue fazer alguma coisa é DCAT, mas provavelmente é porque sua madrinha te dá aulas particulares. Afinal, com que cara ela ia ficar se a trouxa inglesa que ela conseguiu que fosse aceita nessa escola não fosse nem mesmo boa na matéria dela? - a menina continuava rindo. Catherine que desde cedo detestava demonstrar o que sentia, fingia não se abalar, mas fazia exatamente o que estava fazendo naquele momento. Procurava um lugar onde pudesse ficar sozinha e chorar sem que ninguém soubesse.

                Catherine ainda se lembrava vivamente do dia em que prometera não permitir que as palavras dos que a humilhavam a fizessem derramar lágrimas. Ela estava em uma sala deserta chorando, porque a mesma garota de sempre a magoara, quando uma aluna mais velha, que era monitora entrou na sala com o namorado e a surpreendeu lá. A menina ficou irritada por ter sido vista namorando pela afilhada de uma professora e descontou nela:

-Não pensei que você fosse tão fraca! Quer dizer que aquela máscara de frieza é só fingimento, pois depois você se esconde pra chorar como um bebê. Pelo menos você não vai procurar o colo da madrinha como muita gente acha que você faz!-Cathy odiou ter sido vista chorando tanto quanto a garota odiou ter seu namoro atrapalhado. A partir daquele dia acontecesse o que acontecesse por mais que a ferissem ela não derramou lágrimas. Isso a tornou uma garota ainda mais fria e fechada do que era naturalmente.

                Perdida naquelas lembranças ela constatou que na cabeça dela todos em Beauxbatons eram impiedosos e preconceituosos, no entanto, na verdade não era assim. Como em Hogwarts havia pessoas boas e ruins. Muitas de suas colegas tentaram se aproximar, mas ela nunca chegara a confiar o suficiente nelas para conversar sobre como se sentia. Embora, as considerasse suas amigas e andassem sempre juntas, Cathy jamais lhes permitiu conhecê-la realmente.  Mesmo agora que estava onde sempre sonhara estudar continuava a mesma pessoa fechada e solitária. Andava com pessoas que compartilhavam seus segredos com ela e não se sentia capaz de retribuir a confiança fazendo a mesma coisa.

                Naquele momento, a mente de Cathy se voltou para os pesadelos. Tudo que desejava era não sonhar com a morte de Dani durante a noite e ouvir de manhã Harry narrando-lhe a mesma horrível visão. Ela se perguntava o porquê não contava a ninguém que tinha os mesmos pesadelos e até outros ainda mais misteriosos. No fundo ela sabia o motivo de não confiar aquele segredo nem ao menos a madrinha. O que afligia Catherine era ser incapaz de compreender a causa dos sonhos.

                Os pensamentos da menina foram interrompidos pelo som de passos.

                -Quem está aí? - ela se apressou em perguntar.

                -Sou Gina Weasley. - Cathy se assustou ao ouvir a voz da irmã de Rony e torceu para que ela fosse embora e não tivesse reconhecido sua voz. - Linton é você? - Gina questionou abrindo a porta do boxe e encontrando-a toda encolhida com o rosto manchado pelas lágrimas escondido pela sua posição e pelos longos cabelos.

                -Sou eu, sim. - Cathy respondeu após algum tempo, pois percebera que a outra não iria embora enquanto ela não admitisse.         

                -O que faz aqui? - Gina perguntou fingindo inocência

                -O mesmo que você veio fazer, Weasley. - ela respondeu depois de levantar o rosto e perceber que a outra também chorava silenciosamente.

                -Eu só queria saber o porquê de você ter procurado um lugar isolado como esse banheiro tendo os amigos que tem.

                -Você também não é nenhuma solitária. Sempre que esbarro com você nos corredores você está acompanhada e conversando animadamente.

                -São apenas colegas. - Gina explicou e Cathy reconheceu um pouco de si mesma na pequena Weasley.

                -Por que não confia nelas? Se me disser eu te falo o motivo de estar aqui.

                -Não sei se alguém te contou o que aconteceu no meu primeiro ano... - Gina começou.

                -Sim me contaram. - Cathy respondeu lembrando-se da câmera secreta e do papel da pobre Gina nos acontecimentos.

                -Depois daquela lamentável experiência eu fiquei com dificuldade de me abrir para as pessoas. Eu nunca fui exatamente tímida, na verdade eu tinha dificuldade de me aproximar das pessoas, mas depois que o fazia passava a ser bem extrovertida. Continuo sendo assim, só que me tornei reservada. Passei a desconfiar das pessoas e acho que me tornei incapaz de contar sempre com alguém. Agora é sua vez. O que aconteceu? - então Catherine contou-lhe que Dani sumira e que ela brigara com Mione. Depois ficou em dúvida se devia questionar Gina pelo motivo de ter estado chorando e acabou resolvendo que já se intrometera o suficiente na vida da garota.

                -Você quer saber o que me fez vir aqui hoje?

                -Se você quiser me contar. - Cathy respondeu surpresa com a pergunta.

                -Não sei bem o motivo, mas acho que posso confiar em você. Eu gosto do Harry. Sempre gostei desde que o vi e depois dele ter me salvado passei a amá-lo mais ainda. Ele é mesmo um herói! Eu sei que ele não gosta de mim. Mesmo assim hoje quando o vi abraçando a Mione e a consolando eu senti um ciúme terrível. Eu queria estar no lugar dela e queria que ele se preocupasse comigo daquele jeito. Eu sei que você está pensando, que isso é bobagem minha, porque eles são apenas amigos. Eu concordo, mas eu não sou nem isso dele e sinto inveja dela. Uma parte de mim faria qualquer coisa para que ele me notasse e outra deseja apenas a felicidade dele. - Cathy não soube o que dizer depois daquela confissão e não entendia o que levara a menina que confessara estar ali, porque não queria falar disso com as amigas e contar-lhe tudo. - Sabe eu acho mais fácil conversar sobre isso com um estranho do que com minhas "amigas", pois se minhas amigas não me compreenderem vou me chatear com elas, mas o que me importa o que o estranho pensa. Eu sei você não é exatamente uma estranha é amiga do meu irmão. No entanto, essa é a primeira vez que nos falamos de verdade e pouco vai importar se não voltarmos a conversar. – Gina concluiu se levantou e foi embora. Catherine achou melhor fazer o mesmo antes que a Murta aparecesse, mas ainda se sentia confusa por tudo que ouvira da pequena Weasley.