15- Reconciliação

                O domingo amanheceu com um lindo céu azul, mas tão frio quanto os dias anteriores.  O pálido sol parecia incapaz de transmitir calor. Entretanto, apenas a presença do astro luminoso brilhando no firmamento, ao em vez das nuvens cinzentas que escureciam o dia e a chuva presente por toda a semana anterior, parecia agradar a todos e a manhã começava mais leve e animada. As turmas que visitariam Hogsmeade foram as mais contentadas com o clima.

                - O que vamos fazer hoje? - Malfoy perguntou.

                - Ir ao povoado - foi à resposta desanimada de Cathy.

                - Pelo visto seu humor não está muito bom hoje.

                - Olha se o que quer saber é se vou lhe fazer companhia, a resposta é sim. - ela disse irritada.

                - Se deseja aproveitar o dia com eles por mim tudo bem. Não vou sentir nenhum falta. - ele retrucou.

                - Já que é assim, podes ficar tranqüilo não vou te incomodar com a minha presença.

                Mais tarde Catherine se felicitou por ter encontrado uma desculpa para não acompanhar Draco em Hogsmeade.  Uma coruja muito branca viera até ela e entregara-lhe uma mensagem. Haveria treino de animagia naquele dia.

                Eles se encontraram na hora de ir para o povoado. Não houve conversa, apenas cumprimentos. A tensão entre as duas meninas persistia, embora elas agissem como se aquela situação fosse normal.

                - Olá para vocês! - O padrinho de Harry saudou-os. Já estavam na Casa dos Gritos. Desta vez conseguiram entrar no Salgueiro Lutador sem problemas. - Vocês sabem que como treinaram DCAT ontem agora estudarão algo mais light.

                - Sirius, eu andei lendo sobre o assunto e já aprendemos a maioria dos feitiços básicos, porém não dominamos muito de transfiguração humana. – Harry nunca deixaria de admirar o empenho de Hermione.

                -Você tem razão, Mione. Também verifiquei em que ponto vocês estavam na matéria. Hoje vocês farão transformações básicas, como trocar a cor e o tipo de cabelo. Enfim apenas algumas experiências para se habituarem. Falem "transformeo capilae" e se concentrem nas mudanças que desejam.

                Não demorou muito para todos obterem sucesso. Entretanto, as tentativas frustradas foram muito engraçadas. Rony na primeira vez pronunciou as palavras de forma errada e deixou seu rosto marrom. Ninguém conseguiu conter o riso. Um garoto ruivo, branco de olhos azuis e face marrom era estranho demais até para eles.

                - Como fiquei? - ele perguntou incomodado com a reação dos outros. 

                - O que você pretendia fazer?- perguntou Mione ainda rindo.

                - Clarear o meu cabelo um pouco. - ele respondeu irritado - Agora tente você!

                Hermione pronunciou o feitiço, mas sem a devida concentração. Ela estava pensando que gostaria de modificar a cor de seus olhos. O resultado foi que ela se tornou punk, pois metade do cabelo ficou azul e a outra metade preta. Assim explodiu uma nova sessão de gargalhadas. Hermione Granger, a monitora certinha e responsável, com o cabelo multicolorido era a visão mais hilária do dia.

                - O que houve?

                - Você parece uma trouxa revoltada! - Harry exclamou.

                Depois foi a vez dele. A falta de atenção e o fato de ainda estar rindo o atrapalharam. As palavras não saíram com a devida claridade e novamente ninguém conseguiu manter a seriedade.

                - O que aconteceu? Estou sentindo como se de repente tivesse uma barba.

                -E tem e um bigode também, mas você não sabe do pior... – Cathy não conseguiu terminar era engraçado demais.

- O que tem eles? – Harry insistiu.

-Estão brancos. – Sirius conseguiu dizer. Ao ouvir isso o menino não se conteve e se juntou aos outros. – Agora só falta você, Cathy!

-Ah está bem! Lá vai! Transformeo capilae!- ela pronunciou pensando que gostaria de ser mais ruiva e de cabelos mais longos. O rosto dela logo ficou vermelho, porque seus pêlos não paravam de crescer e pareciam ter adquirido essa cor e o mesmo acontecia com seu cabelo que já estava chegando ao seu pé. No início foi engraçado, mas à medida que os pêlos continuavam a crescer e ela estava parecendo uma Rapunzel com os cabelos já no chão e não davam sinal de que iriam estagnar eles foram ficando preocupados.

-Finite Incantaten! – Sirius resolveu terminar com aquilo. Rapidamente Cathy voltou ao normal.

-Ufa! Que susto! - ela exclamou.

                Ainda houve mais algumas tentativas males sucedidas, mas não muitas. Em uma Rony ficou careca e Cathy conseguiu ficar parecendo uma versão feminina do incrível Huck ao tornar sua pele verde. Para Hermione a segunda vez foi suficiente e Harry foi o mais zoado, principalmente por Sirius e Rony, os cabelos do menino que sobreviveu ficaram totalmente rosa choque.

-Não tinha uma cor mais masculina, não? - caçoou Sirius.

-Por hoje é só! - todos já tinham acertado. - Vocês podem aproveitar um pouco o povoado. Só esperem um minuto para eu conversar com a Mione. Vou pedir também para que prestem bastante atenção nos traços de seus rostos. Decorem-nos. Vai ser importante.

-O que foi? - Cathy, Ron e Harry esperavam a amiga do lado de fora da casa e ela estava intrigada com o que Sirius precisava dizer a ela.

-Vocês duas precisam se reconciliar!

-Eu sei! - aquela resposta o surpreendeu.

-E então?

-Não vou me humilhar. Sei que também tenho meus defeitos. Entretanto, ela foi extremamente fria, quase desumana.

-Foi a forma dela de lidar com a situação. Ela queria fugir, distrair-se, fazer qualquer coisa menos pensar no que tinha acabado de acontecer. Tente compreender!

-Eu vou pensar. Obrigada por tentar ajudar. - ela fez o Feitiço e abriu a porta. Lá fora encontrou os outros e foram andando por Hogsmeade.

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-Dói muito estar novamente tendo que transmiti-los notícias tristes. A paz tensa em que estávamos mergulhados há algumas semanas chegou ao fim. Os comensais atacaram a escola de Aurores. Um gesto simbólico, pois foi assim que a guerra começou há 25 anos. Nesse tempo tivemos um longo intervalo de paz, no entanto, desde junho do ano passado o caos tem retornado aos poucos até chegarmos no ponto em que estamos hoje. O meu pesar por tudo que ocorreu na época do terror estar se repetindo é inexprimível.-era hora do jantar naquele mesmo dia. Novamente estavam todos no salão principal ouvindo o discurso de Dumbledore. - Ainda não se têm dados sobre sobreviventes, feridos e mortos. Assim que soubermos informaremos aqueles cujos familiares estavam lá. Como prometi o corpo docente se reuniu hoje para planejar um evento que os compensasse pelo menos um pouco os divertimentos perdidos. Ficou resolvido que haverá um baile de natal aberto para todos os anos. Não é necessário roupa de gala, mas os que tiverem podem e devem usá-las. Se possível venham em pares e comprem presentes. A meia noite haverá troca, não só entre os casais, presenteiem seus amigos também.- o diretor finalizou.

O anúncio do baile suavizou um pouco o clima tenebroso deixado pela notícia do ataque. Muitos ainda estavam por demais abalados com o fim daquele curto período de calmaria para se animarem com a perspectiva de uma festa de Natal. Outros ficaram tão empolgados que esqueceram do acontecimento nefasto.

Harry voltava para o salão comunal sozinho, pois Rony fora acompanhar Mione até as masmorras. Eles tinham concordado que um deveria ficar para sair a procura dos outros caso demorassem. Entretanto, ele não esperava ser ele e só não reclamara por suspeitar que o amigo aproveitaria aqueles poucos instantes a sós para convidar Mione. Estava passando por um corredor qualquer, quando avistou uma pessoa encolhida e encostada na parede. Os longos cabelos lisos e negros denunciavam ser uma garota. Ele sentou-se ao seu lado.

-O que aconteceu? - perguntou gentilmente. A menina ergueu o rosto que antes estivera encoberto pelo cabelo e pelos joelhos e foi então, que ele reconheceu Cho e viu as lágrimas que escapavam dos olhos dela. Chang tentou responder, porém o choro tornou-se compulsivo e os soluços não permitiram. Harry a abraçou e permitiu que chorasse dando-lhe um tempo para se acalmar. O garoto tímido agia assim por impulso, sem pensar que estava finalmente abraçando a menina que povoava seus sonhos, o único intuito era demonstrar apoio.

-Meu irmão estava lá! - Cho principiou e foi interrompida novamente pelas lágrimas. - Ele pode estar morto! - exclamou aterrorizada.

-Não pense nessa possibilidade. Tenha esperanças! - ele tentou animá-la.

-Você provavelmente desconhece que meu irmão estava estudando para se tornar Auror. Era o sonho dele! - exclamou aflita. - Lembra do baile de Inverno? - perguntou mudando de assunto. - Essa festa que terá na véspera de natal, me lembra tanto Cedrico. Ele era tão novo e... – uma nova onda de soluços a interrompeu. – E morreu!Foi assassinado por Vocês sabem quem! Por que isso está acontecendo? Odeio esta guerra! Maldito Aquele que não deve ser nomeado! - Harry não sabia o que dizer para consolá-la. Sua timidez voltara com toda força. Isso não atrapalhou já que ele nem teve oportunidade de responder nada. Naquele momento, outra pessoa entrou no corredor e os surpreendeu. Ele conservava seus braços frouxos em torno em um semi-abraço e estava muito próximo, quem os visse sem enxergar o rosto lacrimoso da menina por ela estar de costas poderia interpretar de outra maneira o que olhava.

Catherine desejava um pouco de privacidade e lembrou-se do banheiro da Murta que Geme. Só esperava que a fantasma não estivesse lá e muito menos pretendia encontrar Gina. Entretanto, quase chegando lá se deparou com aquela cena.

-Não sabia que você estava namorando! Desculpe atrapalhar! A propósito achei que você tivesse um gosto melhor. Ficar com uma...uma...

-Uma o que? - Harry perguntou irritado.

-Nada, só pergunte a si mesmo se ela estaria com você se Diggory estivesse vivo ou caso você não fosse o menino que sobreviveu e o campeão do torneio Tribruxo! - dizendo isso ela saiu correndo feito louca sem prestar atenção por onde andava, permitindo que seu subconsciente a guiasse. Esquecera completamente de seu projeto inicial mesmo querendo mais do que nunca um lugar onde pudesse ficar sozinha.

-Ciumenta essa sua amiguinha, não? Acho que ela gosta de você! - Cho exclamou e Harry ficou vermelho.

-Desculpe pelas besteiras que ela disse.

-Tudo bem. Estou acostumada. Sabe, ser bonita tem suas desvantagens. As pessoas, principalmente as outras garotas, sentem inveja e você vira alvo de intrigas, porque todas elas tem medo de serem trocadas por mim ou querem roubar meu namorado. - ela disse petulante.

-Acho melhor eu ir. Você está bem?

-Estou sim. Obrigada! Também tenho que ir para o meu dormitório.

Cathy sem saber bem o porquê tomou o caminho das masmorras. Passou pela entrada da sala de poções intempestivamente sem se precaver do risco de ser pega por Snape. Na verdade, se tivesse parado para pensar no assunto teria tomado mais cuidado. Por algum motivo incompreensível ao seu cérebro,como geralmente são os motivos do inconsciente, suas pernas levaram-na para o corredor onde surpreendera Dani chorando após o desaparecimento de Helen. Entrou naquele lugar escuro e sentou-se exatamente no local e na posição onde a encontrara.

Não estava chorando e sabia que não derramaria uma lágrima sequer. Sua mente estava confusa envolta por um turbilhão de sentimentos conflitantes. Continuava em dúvida, embora nos últimos dias estivesse mais inclinada por Draco chagando a pensar que se decidira. O ciúme dilacerante que sentira, por mais que detestasse admitir, ao ver Harry com Chang a convencera do contrário.

Ouviu passos e ergueu os olhos. Só naquele momento se deu conta de que havia mais alguém ali. Ao olhar viu Hermione a sua frente. Levantou-se e ia deixar o local ignorando a presença da outra, quando foi interrompida.

-O que está fazendo aqui? - perguntou encarando a amiga. Mione chegou a abrir a boca para responder, porém não proferiu nenhum som. Ficou parada, parecendo congelada em uma expressão de completo pavor. Catherine percebeu que não podia ver o que ela observava por estar virada para o outro lado. Olhou para trás e compreendeu o pânico de Hermione. Já não estavam a sós. Quatro pessoas todas cobertas por uma roupa negra se aproximavam rapidamente com a varinha em punho. Para as duas pareceu-lhes a imagem de espectros da morte. Uma visão da lenda trouxa. Um aviso do destino que em breve as subjugaria.