O AGENTE HUMANO - Parte 5

PORTAS

Morfeus pousou o helicóptero no meio da avenida que ficava paralela ao prédio do Oráculo. É claro que antes ele havia liberado a pista com alguns mísseis Hellfire jogados estrategicamente nos dois lados da avenida, formando muros de carros queimados e bloqueando o acesso ao local. Tank havia conseguido liberar a linha do orelhão que ficava em frente a uma loja de sapatos. Morfeus e Trinity teriam apenas três minutos para saírem da Matrix, até que o próprio sistema detectasse a conexão pirata de Tank.

Morfeus e Trinity saíram correndo do helicóptero e foram ao orelhão. Morfeus atendeu o telefone e imediatamente foi levado de volta para a Nabucodonossor. Trinity pegou o telefone e...arrancou-o do orelhão!

__Desculpe Morpheus, mas eu também tenho a minha fé...__murmurou para si mesma, enquanto corria de volta para o helicóptero.

Defrag olhava para o corpo de Neo. O pescoço quebrado colocava a cabeça do Escolhido em uma posição estranha, tombada de lado com parte, a cartilagem da tireóide aparecendo junto com pedaços do osso hióide. Um pouco de sangue saía da fratura exposta. "Fora da Matrix um ferimento deve sangrar muito mais...Parece que as máquinas não apreciam o sangue humano. Aqui o sangue sempre foi muito escasso...", pensava Defrag enquanto se comunicava com os Agentes.

__Foi muito fácil Neo, esperava mais do Escolhido.__exclamou.

As coisas estavam indo bem. Sem Neo, a tal rebelião fracassaria completamente e a Matrix o usaria para se recarregar e reiniciar um novo ciclo com códigos mais aperfeiçoados. Defrag sentia isso no fundo de seu ser e sabia que, nessa nova Matrix, ele seria nada menos do que um Deus. E um salvador da humanidade, pois a estava libertando de um purgatório, de uma vida no interior da Terra, sobrevivendo com uma papa protéica e lutando contra Máquinas com capacidade de destruição infinitamente superior. Apesar dos rebeldes se imaginarem livres, Defrag havia visto os extensivos arquivos presentes nos banco de dados da Matrix, arquivos detalhados sobre Zion, ou melhor, sobre todas as versões de Zion que já existiram. E aquela Zion seria completamente destruída, como todas as anteriores.

É claro que já existiram outros com a sua capacidade, mas Defrag não queria para si o destino de um exilado, como acontecera com Merovíngio. Ele admirava a consciência artificial que controlava e planejava a Matrix, e tudo que queria era sentar ao lado dela. E ser um com o Pai.

A chegada dos Agentes tirou Defrag de suas divagações. Lá estavam o Agente Brown e o Agente Morris, acompanhados de outros seis agentes. As notícias se espalham mais rápidas que o próprio código dentro da Matrix. O Agente Brown olhou para o corpo de Neo no chão e virando-se para Defrag, disse:

__Muito bem, Sr. Defrag. Nós vamos levar o Escolhido conosco.

__Hei, espere. Vocês quase me mataram lá dentro!__disse Defrag, colocando um pequeno toque de raiva em sua fala.

__ Foi necessário para a eliminação da Anomalia. As equações estavam corretas, como o seu pleno funcionamento atual pode confirmar. Sr. Defrag, mesmo com as suas habilidades, a harmonia do sistema tem que ser preservada a qualquer custo. Mas isso eu penso que o senhor já sabe.

__O que vocês vão fazer com o ele?

__Seu corpo será levado de volta a Fonte e será reabsorvido pelo sistema, como foi previsto pelas nossas equações. O código da Anomalia servirá para aperfeiçoarmos o nosso próprio código e nos prepararmos para outras Anomalias futuras.

Os Agentes carregaram o corpo de Neo para um enorme caminhão blindado da Swat, onde o colocaram em uma maca. Quatro Agentes entraram junto com o corpo, enquanto o Agente Brown e o Agente Morris se sentaram no banco da frente. Defrag, ainda de fora do blindado, disse:

__Eu vou ficar um pouco por aqui. Ainda tem algo que preciso resolver.

__Fique a vontade, Sr. Defrag. Se precisarmos de seus serviços, nós comunicaremos. Não existe nenhum lugar dentro da Matrix que nós não possamos encontrá-lo.

"É aí que você se engana, Agente Brown", pensou Defrag, enquanto via o caminhão blindado partir rapidamente. Voltando-se para o prédio do Oráculo, que de maneira impressionante ficou intacto depois de sua batalha com Neo, Defrag entrou no prédio. Subindo pelas escadas, o albino foi observando as estranhas distorções que apareciam no código do prédio, à medida que ia se aproximando do andar do Oráculo. E o mais estranho foi o que viu na porta do local de onde os Agentes capturaram todas as crianças que tinham potenciais de serem o Escolhido.

Se vista dentro dos limites dos sentidos, a porta da casa do Oráculo era como uma porta qualquer, agora um pouco destroçada pelo arrombamento feito pelos Agentes. Porém, vendo em seu código-fonte, a porta se apresentava como um espelho, refletindo o código do corpo de Defrag de volta para ele. "Isso é uma Backdoor extremamente bem feita, essa porta leva a outros lugares ...Tudo o que eu preciso é de uma chave ou de uma senha..."

A mente de Defrag o levou de volta aos tempos onde era simplesmente um obeso hacker saciando sua obsessão de quebra de segredos em madrugadas e mais madrugadas regadas a Coca-cola e energéticos. Porém ele não tinha as habilidades de manipular o código como agora. Ele não tinha uma chave e Merovíngio iria cobrar caro para que o seu Chaveiro providenciasse uma a tempo. Não que dinheiro fosse problema, mas Merovíngio cobrava em informações. E informações era algo que Defrag não gostava de compartilhar, desde os seus tempos de hacker.

Além disso, aquele francês nojento iria ficar enrolando com seus jogos mentais e algo lhe dizia que tempo era um luxo que ele não dispunha, mesmo com Neo morto...Morto? O Escolhido poderia morrer dentro da Matrix? Uma coisa era certa, se fosse impossível matar o Neo, ele também usufruiria da mesma dádiva. Ele e Neo eram iguais. Iguais.

Como uma supernova, uma idéia explodiu na mente de Defrag.

"É claro, é tão simples..."

Com um comando mental, Defrag alterou sua forma para a do Escolhido. Era Neo agora de frente à porta-espelho, que refletia sua nova imagem com os mínimos detalhes. E com um passo suave, Defrag entrou dentro do espelho.

__Você tem que me colocar de volta Tank!

Tank olhava assustado para Morpheus. Era a primeira vez que o operador via seu capitão tão nervoso. Morpheus sempre manteve uma calma impressionante frente a situações desesperadoras. Porém, perder Neo e ter Trinity agindo independente dentro da Matrix tinham minado as defesas do capitão.

__Não posso Morpheus. Com os estragos que a gente fez na área, vai demorar um bom tempo para eu poder encontrar um bom local para a transmissão. Sem contar com a possível possibilidade da localização da nossa nave já estar sendo comunicada aos Sentinelas que patrulham essa área.

Os sinais de Trinity estavam normais, e pela visão que Tank obtinha da Matrix, ela parecia estar roubando uma moto estacionada em frente a uma lanchonete de fast food. Os sinais de Neo eram os que mais preocupavam. Os sinais indicavam que ele estava em coma, porém a atividade cerebral continuava intensa. Morpheus passou a mão na testa para enxugar um suor que insistia em cair nos seus olhos.

Sua mente estava a mil por hora. Muitas coisas haviam acontecido nos últimos momentos que colocavam a Profecia em perigo. "Porém se aconteceram dessa forma, é porque estamos cumprindo o nosso destino. Não existe acaso, não pode haver...", refletia Morpheus. Depois de alguns minutos, ele sentou-se na cadeira do piloto e ordenou:

__Tank, qual é a nave mais próxima de nós?

__É a Gnosis, Morpheus. Eu já estou entrando em contato com ela. É a nave de Binary...

__Binary? O que aconteceu com Mephit?

__Pelo que eu sei, ele morreu em uma missão.

__Binary é uma cética, segue a risca as ordens do Comandante Lock...Não sei se nos ajudará...Porém, deve haver uma razão para que ela esteja aqui...Entre em contato com a Gnosis e diga para que se dirijam para as seguintes coordenadas: 32.4.564.346.754 SW.

Tank digitou rapidamente no computador de bordo da Nabucodonossor e exclamou surpreso:

__Mas isso leva direto para as Usinas De Força! Ou melhor, direto para milhares de Sentinelas completamente armados!

__Isso mesmo, Tank. Nós vamos para as Usinas de Força...libertar os Potenciais.

__Mas como você tem a localização dos casulos deles?

Morpheus olhou para Tank e colocando sua mão em seu ombro, disse:

__Uma velha amiga me contou, Tank. Tenha fé, meu caro...Tenha fé...

E a Nabucodonossor se virou para as gigantescas Usinas, enquanto Morpheus olhava para Neo e Trinity. "Isso não vai acabar assim...", pensou o capitão.

Muito distante dali, em um lugar que é um não lugar, Defrag se viu em uma pequena praça. Pombas voavam por entre os prédios da pequena praça. Em pé, em frente a uma porta, Defrag pode ver o oriental com quem lutara no treinamento com os Agentes. O oriental o observava, mas não faziam nenhum movimento hostil. Na sua frente, Defrag viu uma senhora sentada em um banco. Virando-se, a velha olhou para Defrag e disse:

__Estava esperando por você. Quer uma bala? Desculpe, acho que você não se lembra de mim, bem não nessa forma que estou agora. Eu sou o Oráculo, e você...Bem, você é o Outro.

(continua)

Escrito por Nitro (Newton Jr., 3-06-03)

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