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Capítulo 1

"Uau, Usagi-chan! Você realmente fez ele levar a pior!", exclamou Minako, excitada, com uma voz borbulhante. "Estou tão orgulhosa de você!".

"Você agiu como uma completa idiota...", resmungou Rei. "A loja inteira estava nos olhando... Bem, pelo menos os poucos que ficaram em volta para ver o espetáculo".

"Acho que ela se defendeu como uma profissional", proclamou a alta Makoto. "É importante para ela se defender, vocês sabe...".

"Sim, é...", concordou Ami, com voz fraca. "Só que chocolates voadores e dedos fortuitos não são exatamente um modo maduro de resolver uma situação tão delicada".

"Não sei... Ver a cara do Mamoru quando Usagi mostrou-lhe o grandão não tem preço... Preciso passar a andar com uma máquina fotográfica", disse Minako. Makoto foi rápida em concordar.

"E então... Está todas contentes com a chegada do Baile do Dia dos Namorados?", perguntou Ami, tentando estrategicamente mudar de assunto, com um tópico que nenhuma adolescente poderia resistir. E não se desapontou, ao ver o falatório explodir como uma bomba.

"Você vai, Usagi-chan?".

Usagi, que tinha ficado estranhamente quieta e sombria desde a saída do grupo da loja, disse apenas uma palavra: "Bah!".

"Feriado errado, amor", informou Minako à amiga, com um sorriso. "Se anime, Usagi! Eu, Minako, a própria senhorita Cupido, decidi arrumá-la para o Baile dos Namorados amanhã à noite!".

"Fuja enquanto pode, Usagi", sugeriu Rei. "Lembra do último encontro 'às escuras' que Minako arrumou?".

Todas as cinco meninas riram, até mesmo a deprimida Serena. Frustrada, Minako ergueu as mãos e se lamentou: "Ei! Como eu poderia saber que o sujeito era casado?".

"Sinto muito, pessoal...", disse Usagi, baixinho. "Creio que não estou muito animada para ir ao baile...".

"Oh, vamos!", insistiu Ami. "Todo mundo estará lá. Sentiremos sua falta!".

Um sorriso triste surgiu no rosto de Usagi. "Vou pensar no assunto".

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"Mãe! Cheguei!", chamou Usagi, sem interesse, quando fechou a pesada porta de carvalho atrás de si. Silêncio foi tudo que a saudou e a jovem suspirou. Marchando para a cozinha, encontrou uma nota dizendo:

Usagi,

Seu Pai e eu vamos a um encontro esta noite. Prepare seu jantar e limpe a conzinha quando terminar. E por caridade, fique longe de problemas.

Amor, Mamãe.

"Ótimo", a loirinha murmurou, largando pasta, jaqueta, lancheira no chão, desanimada. Invadiu a geladeira com furor e só saiu de lá quando estava com as dias mãos cheias de guloseimas, que poderiam possivelmente alimentar um pequeno exército. "Nunca tem nada de bom para comer aqui", reclamou, sentando-se à mesa para devorar sei banquete.

Engolindo seu 'saudável' jantar, que consistiu de sushi e rosquinhas de chocolate, Usagi refletiu sobre os eventos do dia. Não se sentia exatamente arrependida de suas ações para com Mamoru. Muito pelo contrário. O calhorda teve o que mereceu. Se fosse por outra coisa, ela o teria desculpado fácil. Chiba Mamoru poderia atentar à paciência de Jó.

Ainda assim, havia uma coisa que ela se lamentava – o fato de que ela e Mamoru brigarem em qualquer lugar. Que capricho cruel do destino havia decretado que eles seriam inimigos eternos? Por que ele sempre arreliava e tirava sarro dela? E por que ele riu dela quando sabia claramente que ela estava ofendida e triste pelas observações feitas por ele, anteriormente? Será que ela odiava tanto assim?

Usagi deixou a última rosquinha cair no prato, seu apetite sumindo de repente. Suspirou e esfregou os olhos, numa cansada frustração. Há quanto tempo desejava que as coisas entre ela e Mamoru pudessem ser diferentes? Há quanto tempo desejava ter a amizade dele e, talvez, algo mais? No entanto, parecia que seus desejos certamente foram esquecidos por quem atende aquele tipo de prece. Ou talvez, simplesmente não era para acontecer nada.

"Oh, Mamoru-chan...", Usagi choramingou baixinho. "Eu sinto muito... Não pretendia ficar tão zangada... As coisas nem sempre saem direito...".

Suas lágrimas não lhe trouxeram nenhum conforto. Só a faziam recordar do que não tinha: Mamoru, sua amizade, seu afeto. De coração partido, aceitou este simples fato, como já fizera muitas vezes antes, com um fungado e um suspiro. Com isso, usagi levantou-se da mesa da cozinha e enxugou os olhos na manga da camisa, apagando do rosto o sinal de seu verdadeiro estado emocional. Afinal de contas, não havia nenhum motivo para chorar. O que estava feito, estava feito. Ela e Mamoru seriam sempre inimigos e nada mais. Ansiar por mais era tolice e insensatez.

Se o Dia dos Namorados não estivesse tão próximo, talvez então ela não se sentisse tão deprimida. Pela primeira vez em sua vida, Usagi não pôde esperar até que o feriado miserável terminasse por completo. Não queria pensar em corações e beijos, quando há poucos momentos, ela tinha mostrado aquele 'dedo' para o único sujeito para o qual ela teve olhos.

Depois de esquecer 'convenientemente' de limpar a cozinha, Usagi subir para o quarto devagar. Ouviu os ruídos emudecidos de um videogame no quarto de Shingo e decidiu não perturbar o irmão. De qualquer maneira, seria uma tentativa infrutífera conversar enquanto ele estivesse com toda a atenção voltada para o jogo. Quando Shingo ganhava um jogo novo, os únicos momentos que ele emergia da toca sem fim, que se tornava seu quarto, era quando estava com muita fome ou quando sua mãe o arrastava, esperneando e gritando, para o banheiro.

Os olhos de Serena se voltaram para a porta de seu quarto e a menina fez uma careta ao ver que seu pôster de coelhinho estava fora de lugar. Ótimo, alguém entrara em seu quarto. Isso realmente era algo que ela detestava. Seu quarto era seu lugar secreto – o lugar que ela relaxava – o lugar que ela sonhava – e, o mais importante, o lugar que ela sonhava com 'ele' – e ninguém podia entrar neste santuário sem sua permissão expressa.

Assim, uma Usagi zangada arremessou-se porta adentro, ansiosa por ver os danos causados em seu quarto. Seria o diário desta vez? Shingo já o tinha lido umas cinco vezes mês passado. Não... O diário estava na gaveta, onde o havia deixado. Teria sido sua mãe, à procura do esconderijo dos chocolates? Não... Eles estavam intactos, na parte de trás da gaveta de meias. Sem opções, Usagi seu uma olhada cuidadosa no ambiente à procura de qualquer coisa fora do lugar.

Então ela viu aquilo.

Lágrimas saltaram de seus olhos pela Segunda vez naquela noite. Só que desta vez, eram lágrimas de absoluto contentamento. Sob seu travesseiro estavam duas dúzias de rosas amarelas, embrulhadas num belo papel decorativo. Elas eram do mais suave e pálido tom de amarelo. As pontas dos dedos de Usagi as tocaram como se fossem as coisas mais delicadas do mundo.

Quem? Quem poderia ter lhe dado um presente tão encantador? Com certeza, não fora sua família. Eles ainda estavam aborrecidos por causa de sua última nota num teste. Poderia ser de um de seus amigos? Um professor? Um parente? Sua mente estava entusiasmada e, freneticamente, ela procurou por um cartão no belo buquê. Não se desapontou. Suas mãos trêmulas rasgaram o pequeno envelope com pressa e com os olhos rasos d'água, leu as seguintes palavras:

Doce Usako,

A rosa amarela simboliza o prazer e a alegria. Nunca duvide que eu me encanto por cada sorriso seu. Nunca deixe este sorriso se apagar de sua doce face, pois sua felicidade é minha.

Um amigo.

Por um momento, os olhos da menina se ergueram do pequeno cartão e ela piscou algumas vezes, sem compreender. Confusa, leu novamente e mais uma vez para reforçar. O que capturou sua atenção, foi a parte do 'Usako'. Usako? Era um apelido carinhoso que a fez corar profundamente, mas exatamente de quem ela deveria ser a doce Usako?

Depois de uma quarta leitura no misterioso cartão, ela deitou-se na cama e começou a ponderar sobre quem lhe enviara tão adorável presente anônimo. Acariciou as flores docemente perfumadas que jaziam perto do rosto dela no travesseiro e suspirou. Era tudo tão terrivelmente romântico – receber tão prsente – mas ela sentia uma pontada de dúvida no estômago. E se o presente fosse de alguém que ela não queria receber flores, como Umino? Que pensamento terrível!

Usagi livrou-se da imagem de um Umino, nervoso e sorridente, estendendo-lhe flores e tentou imaginar Mamoru no lugar dele. Agora isso era uma bela visão. Usagi suspirou e deu uma risada curta. "Para mim?", murmurou comum sorriso no rosto. "Oh, Mamo-chan, você não devia!".

Mamo-chan? Usagi riu. Que apelido perfeitamente encantador! E como soava bem! Decidiu que, a partir de então só se referiria a Mamoru como Mamo-chan. Teria apenas qie ser cuidadosa para não fazer isto perto dele ou de suas amigas. Ela não seria deixada em paz se uma das garotas descobrissem seus sentimentos em relação à seu arquinimigo. Toda a escola saberia em menos de um dia e não demoraria para alcançar os ouvidos de um belo universitário. Se isso acontecesse, ela nunca mais seria capaz de encará-lo outra vez. Nunca. Ela simplesmente se encolheria como uma bola no fundo do seu armário e morreria.

Dando outra risadinha boba, Usagi beijou uma das rosas, antes de se aconchegar ao buquê e fechar os olhos. Não demorou muito para que o sono a conquistasse.

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Continua...