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Capítulo 4

O próprio Senhor Calma e Tranqüilidade estava nervoso pela primeira vez em sua vida. Mamoru lutava para manter as mãos paradas, encarando a entrada com expectativa. Onde ela estava? O baile já tinha começado há mais de uma hora, contudo nem sinal da 'Odango' em lugar algum! O rapaz alto andava de um lado para outro, nos fundos do grande armazém onde se realizava o Baile Anual do Dia dos Namorados. Olhava sem interesse às pessoas na pista de dança, que estavam tontas de excitação. Normalmente, odiava estes tipos de eventos - os detestava mesmo. Mas sabia que Usagi adoraria e nem sequer pensaria em perder o baile, então ele decidira encarar e agüentar a dor... tudo pela chance de vê-la.

Suspirou, sentando-se numa mesa afastada e colocou a cabeça entre as mãos, miseravelmente. "Não posso acreditar que estou fazendo isso", murmurou.

"Eu também não", veio uma voz familiar. Mamoru ergueu o olhar para ver Motoki parado diante dele.

"O que está fazendo aqui? Pensei que não viria...".

O outro zombou. "Está brincando? Acha honestamente que eu perderia a chance de ver você bajular Usagi? Até trouxe minha câmera".

"Bem, você veio aqui por nada, então... Ela não está aqui", comentou Mamoru severamente. "E mesmo que ela estivesse, não estou certo se eu teria coragem de realmente continuar com...", as palavras do rapaz foram morrendo e seu rosto empalideceu subitamente. Seu olhar parecia estar fixo em algum lugar distante.

"Ei, Mamoru! O que há de errado?", Motoki perguntou, balançando uma mão na frente dos olhos do amigo. "Alôôôô?".

Seguiu o olhar de Mamoru para ver o que tinha deixado-o mudo e quando seus olhos cairam sobre uma beleza dourada que acabava de passar pela porta, tudo fez sentido de repente. Lá estava Usagi, junto de suas animadas amigas; ela estava absolutamente incrível! O vestido branco que ela usava dava-lhe um ar de inocência e graça e ela parecia flutuar ao invés de andar. Os cabelos loiros foram tirados de seu estilo usual e presos numa elaborada trança, com pequenos cachos aqui e ali. O efeito que aquela visão teve em Mamoru foi bem notado por Motoki. "Pare de babar. É constrangedor! Mas, tenho que admitir que você tem bom gosto em mulheres".

Mas seu amigo ficou ainda mais pálido. "E-eu não posso fazer isso", disse gravemente.

"O quê? Ora, vamos! Você fez tantos planos para esta noite...", Motoki argumentou enquanto olhava o outro, incrédulo.

"Vá falar com ela", suplicou Mamoru, respirando com dificuldade subitamente. "Pergunte-a quem ela pensa que é e venha me dizer o que ela disse".

"Mamoru, você está agindo como uma criança! Levante-se e vá falar com ela antes que eu o arraste até lá!".

"Por favor, Motoki... Não posso continuar com isso... Não vou suportar se ela me rejeitar...".

"Bem, você deveria ter pensado nisso antes. Acho que Usagi nunca saber o que você sente pode ser bem pior do que ser rejeitado", disse Motoki, quase com raiva. Balançando a cabeça tristemente, começou a andar em direção ao anjo dourado do outro lado do salão. "As coisas que faço por ele...".

Se a impaciência de Mamoru estava ruim, a de Usagi estava pior. Depois de um momento ou dois olhando ao redor repleta de expectativa, a luz de seu rosto apagou um pouco, desapontada. Tristemente, ela achou uma mesa e sentou-se sozinha, meditando em silêncio. Melancolicamente, assistia suas amigas tentando dançar. Convidaram-na para juntar-se à elas, mas estava por demais nervosa. Muitas questões bombardeavam-lhe a mente. Onde ele estava? Ele iria se revelar aquela noite? Certamente ele tinha a visto entrar! Por que ele não viera falar com ela? Ele não queria?

"Olá, garota!".

Usagi foi tirada de seus devaneios pela voz familiar de Motoki.

"Oi!", exclamou, gesticulando para ele sentar-se. "Feliz Dia dos Namorados!".

O rapaz sorriu diante a mudança de humor rápida dela. Enquanto caminhava para a mesa, ela parecera um tanto deprimida e sozinha e ele xingou Mamoru por fazê-la se sentir daquela forma. "Pra você também", disse Motoki, sentando-se ao lado dela. "Então... Por que você está sentada aqui no canto sozinha? Não quer dançar com suas amigas?".

Ela suspirou. "Estava esperando que alguém viesse me encontrar hoje, mas acho que me enganei...".

Motoki sentiu uma pontada de culpa e olhou carrancudo para Mamoru, do outro lado do salão. "Acho que está falando de seu admirador secreto, certo?".

Surpresa, Usagi encarou o rapaz. "Como você sabia disso?". Enquanto perguntava, um pensamento estourou-lhe na mente: era Motoki? Certamente que não! Ele tinha uma namorada, pelo amor de Deus. Verdade, ela tivera uma paixão por Motoki, mas agora ele era mais um irmão mais velho para ela, do que outra coisa.

"Uma fonte fidedigna me informou. E sei o que está pensando, então permita-me ser o primeiro a assegurá-la que não sou eu", explicou Motoki, soltando uma risada quando Usagi deixou escapar um suspiro aliviado. "Então, quem você acha que é?".

"Eu não tenho muita certeza...", ela respondeu pensativa.

"Ninguém que você espere que seja?".

Os olhos dela caíram em Mamoru, que estava sentado do outro lado do salão, meditando para si mesmo, como ela. "Bem... Há alguém que eu gosto, mas não acho que ele pense muito de mim". Motoki seguiu o olhar dela para deparar-se com seu melhor amigo. 'Ah há!' , ele deu um grito de vitória interiormente.

"Motoki? Posso te contar um segredo?".

E ela ainda tinha que perguntar? "Claro, Usagi".

"Bem, eu gostaria que fosse Mamoru...", ela disse, hesitante após um momento. "Acha que existe mesmo uma remota possibilidade dele gostar de mim?".

Motoki sorriu sabiamente. "Siga seu coração, Usagi. Ele a levará ao caminho certo. Eu prometo".

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"O que ela disse?", Mamoru perguntou rapidamente quando seu amigo retornou.

"Vá falar com ela", Motoki ordenou. "Agora".

"Mas...".

"Ande, Chiba!".

"Certo, certo! Estou indo!".

Um Mamoru muito nervoso de repente achou a si mesmo andando entre mesas e casais em direção a uma bela jovem num canto afastado. "Você pode fazer isto...", repetia a si mesmo. Estremeceu interiormente ao ver o quão perturbada ela parecia. Bom Deus, o que Motoki dissera a ela?!

Usagi, enquanto isso, avaliava suas opções. Motoki não havia lhe respondido diretamente quando perguntara se o admirador secreto poderia ser Mamoru. Este era o jeito dele de dizer-lhe que definitivamente não era ele? Ele estava dizendo que ela estava olhando no lugar errado? A simples idéia de alguém sem ser Mamoru lhe dar rosas e presentes era tão desagradável que ela subitamente desejou estar vestindo outra roupa. De repente, o vestido que ganhara não era tão bonito... Ela o puxou com força, tristemente.

"Por que tão triste, Odango?".

Usagi sorriu quando avistou o belo Mamoru sentar-se ao lado dela. Falando do diabo... "Estou bem", mentiu, olhando melancolicamente para o rapaz que provavelmente não a suportava. Mas, espere... Por que ele estava ali se não gostava dela? O olhar de Usagi disparou para o lugar onde Mamoru estivera momentos antes e avistou Motoki sentado lá, sorrindo, cheio de satisfação, para eles dois. Os olhos dela se arregalaram na súbita realização de que Motoki devia ter enviado Mamoru para falar com ela... E se este era o caso, então...

"Tem certeza que está bem?", ele perguntou de novo.

Ela enrubesceu e tentou esconder a excitação crescente de seu coração. "Sim, estou me sentindo muito melhor do que antes". Decerto ela estava, agora que havia a esperança de Mamoru ser o admirador.

"Fico feliz", comentou Mamoru, soando aliviado. Fora torturante ver Usagi quase às lágrimas, sentada sozinha. Ele se repreendeu por não ter tido coragem de falar com ela antes. Não era tão ruim...

"Estou esperando alguém, sabe...", Usagi falou com voz trêmula, esperando que ele pegasse a deixa. "Estou certa que Motoki te contou isso...".

"Às vezes, o que procura está diante de você", Mamoru disse quietamente, olhando-a com uma timidez incomum. Ela titubeou sob o olhar dele e corou levemente. Uma música suave começou a tocar - uma rara ocasião num baile dançante, e Mamoru aproveitou a oportunidade. "Posso ter a honra desta dança?", perguntou, estendendo a mão para a garota diante dele. Os olhos de Usagi se arregalaram surpresos ante este novo acontecimento. Ela tinha ouvido direito? Mamoru queria dançar com ela? Alguém tinha 'batizado' o ponche?

Qualquer que fosse o caso, Usagi estendeu uma mão trêmula e permitiu que Mamoru a guiasse para a pista de dança. As mãos dele envolveram sua cintura e ela, timidamente, colocou os braços em volta do pescoço dele. Nenhuma palavra foi dita entre eles enquanto balançavam suavemente nos belos acordes da canção, mas não era necessário. Usagi descansou a bochecha no peito dele, notando com um sorriso que Mamoru a abraçou mais apertado enquanto ela fazia isso.

Um doce aroma chegou aos sentidos de Usagi enquanto ela e Mamoru dançavam. Um aroma familar. O aroma de rosas. O mesmo cheiro que a despertava aquela mesma manhã. Os olhos dela abriram-se devagar e ela realizou engolindo nervosamente que era ele o que ela estava cheirando.

Era verdade? Mamoru era seu admirador secreto? Não poderia ser uma coincidência, poderia? Haviam tantas coisas que apontavam diretamente para ele, ainda assim, havia dúvidas na mente dela. Não podia evitar de lembrar as vezes que ela e Mamoru brigavam implacável e sordidamente. Mas ela não podia negar as vezes que ele fora gentil - como na loja, quando ele se desculpara por seu comportamento, e agora enquanto dançavam. Embora estivesse certa de que eles eram, no mínimo, amigos, ela se perguntava se ele poderia possivelmente retribuir o que ela sentia por ele todos esses meses. Resumindo, ele poderia amá-la?

"Você está bem, Usagi?", ele perguntou, gentilmente. "Está tremendo...".

"Estou bem", ela murmurou de volta. Decerto, se Mamoru fosse realmente seu admirador, ela estaria muito mais que bem. Havia um único jeito de descobrir e, enquanto as notas finais da música soavam, Usagi puxou três pequenos objetos do bolso de seu vestido. Mamoru a girou e a abraçou, enquanto a platéia aplaudia a banda.

Usagi respirou fundo e estendeu sua mão ao rapaz diante dela, tentando oferecer algo. "O que é isto?", Mamoru perguntou, enquanto ela depositava alguns objetos, leves e delicados, na palma de sua mão.

Mudo e surpreso, ele os fitou. Em sua mão estavam três pétalas de rosas. Uma amarela, uma rosa e uma vermelha. Mamoru engoliu nervosamente. Ela sabia! A esperta coelhinha descobrira! Mas como? Ele a viu encará-lo com expectativa, esperando silenciosamente que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa... mas ele não parecia encontrar a própria voz.

Usagi franziu as sobrancelhas. Ele não dizia nada e não havia sinal de reconhecimento no belo rosto. Ele parecia confuso. Terrivelmente desapontada, ela deu um passo para trás e deu um fraco sorriso ao rapaz diante dela. "Feliz Dia dos Namorados, Mamoru. Boa noite".

Com isso, ela virou-se e saiu.

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Continua...