Atração Fatal- II

Por Hime

-Confusões-

Eriol abriu a porta de supetão e encontrou Li em sua tradicional posição de luta, com um brutamontes de cabelos avermelhados inconsciente no chão. Provavelmente o homem havia levado uns dos pequenos porém poderosos golpes de Li. Ao ver que Syaoran estava bem, Eriol sentiu todos os seus músculos relaxarem, se bem que nem sentiu quando eles se contraíram.

- O que aconteceu aqui?- Eriol perguntou analisando o rosto vermelho e a marca na nuca do sujeito.

- Ah!- Syaoran desdobrava as mangas da camisa.- Ele queria entrar na sua sala e eu não deixei. Sujeito arrogante!

- Estava nervoso?

- Bastante. Acho que ele está desconfiando da mulher dele.- Li praticamente se jogou na sua cadeira.- Ele não falou muita coisa agradável, mas acho que ele já veio aqui antes.

- Entendo...Vamos, me ajude a erguê-lo.

Li fez uma careta de quem definitivamente não gostou.

- Onde vai colocá-lo?- Eriol olhou em volta. Só havia um lugar disponível.

- Sentado ali, na poltrona do Yamazaki.

- Você sabe que ele não gosta...- Li replicou.

- Não, tudo bem. Vamos colocá-lo então na sua sala, já que foi você quem o deixou inconsciente.- Eriol sorriu e apontou para uma sala trancada ao lado da sua. Sabia que havia vencido.

Carregaram com um pouco de esforço o grandalhão para a poltrona de Yamazaki, que parecia que iria ao chão com tanto peso.

Eriol e Syaoran se sentaram à mesa desocupada.

- Conseguiu alguma coisa?

- Se você se refere ao telefonema para a Daidouji, não.

- E então? O que pretende fazer?

- Não sei, talvez uma visita. Ela me deu as informações iniciais, mas preciso de mais, só com isso não conseguirei fazer algo útil. Pretendo fazer uma visita à fábrica.

- E por que não liga?

- Não... Prefiro ir até lá, assim não corro o risco de me dizerem que ela não está, como sempre fazem nas grandes empresas.

- Tomara que você consiga essas informações rápido.- Syaoran comentou distraidamente.

- Por que?- Por uma fração de segundo os pensamentos de Eriol se tornaram sombrios.

- Não sei.- Li também ficou sério.- Talvez intuição.

A tensão do local aumentaria se Yamazaki não chegasse com mais uma mentira sua:

- Vocês sabiam que a intuição é um presente das fadas para quem...- E ele continuaria com sua mentira se não ficasse tão espantando por sua cadeirinha querida ter, naquele momento, um conteúdo tão feio.

- O que foi, Yamazaki? Fecha a boca!- Li zombou.

- Como aquele sujeitinho foi parar ali?- Apontou para o seu lugar.

- Bem...- Eriol sorriu.- Foi mais um nervosinho que Li fez o favor de acalmar.

Nesta hora o monstro humano acordou e Eriol e Takashi tiveram que resolver a situação, já que Syaoran estava ficando nervoso, com o troglodita insultando sua mãe, irmãs, família e esposa, ou melhor, namorada.

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Eriol tinha acabado de falar com a secretária de Sonomi, que pediu para que ele aguardasse um pouco. Ele se sentou num dos confortáveis sofás que haviam na sala de espera. Estava um pouco cansado. Há tempos um cliente não lhe dava tanto trabalho como aquele ruivo enorme. Tudo bem que eles haviam feito diversos cursos de defesa pessoal, mas Syaoran não precisava provocar aquele rinoceronte daquela maneira. Agora pensava se seria bom terminar algum curso e se especializar em alguma coisa como fizeram Takashi e Syaoran. Naquela época as armas de fogo exerciam um domínio surpreendente sobre ele, e juntando a paixão que ele sentia por elas, Eriol largou as artes marciais e virou atirador de elite da polícia pela sua boa mira, apesar de ter sido por pouquíssimo tempo.

Eriol saiu de suas recordações ao chamado da gentil secretária de Sonomi:

- Senhor Hiiragizawa, a senhora já pode atendê-lo. Siga-me, por favor.

- Oh, claro. Obrigado.- A mocinha retribuiu um sorriso gentil.

Seguiram em frente e pararam na primeira porta atrás da mesa da secretária.

- Pode entrar, senhor.- a moça abriu a porta e Eriol sentiu uma brisa passar por seu rosto.

- Obrigada senhorita.- Eriol entrou e sentiu a corrente de ar da porta sendo fechada atrás de si. Eriol tinha certeza de que se ele se concentrasse, encontraria ali a energia de um espírito à espreita. Olhou para frente e viu uma mesa magnífica, cujo ocupante era Sonomi.

- Bom dia detetive. Sente-se por favor. Posso lhe ajudar em mais alguma coisa?- Sorria, apesar de sua exaustão.

- Oh, sim. Bom dia, obrigado.- Acomodou-se.- Vim até aqui para saber de mais algumas coisas, para que nossas investigações surtam mais efeito e corram mais rapidamente.

- Sim, claro. Ontem só lhe informei o que basicamente seria... hum... O seu trabalho.- Sorriu.- Mas hoje eu responderei a todas as suas perguntas.- Encostou-se no espaldar da cadeira.- Pode começar quando quiser.

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Um jovem casal de namorados estava sentado num banquinho de praça a olhar o movimento e a conversar, quando os olhos verdes da mocinha se desviaram para um vulto.

- Sakura, o que aconteceu?- Ela parecia confusa e Syaoran notou isso.

- Hã? Nada...- Respondeu olhando ainda o prédio que ficava de frente com a praça.

- Você parece confusa.

- Não, é que parece que eu vi alguém conhecido entrar ali, naquele prédio.- Sakura mostrou o local com o seu dedinho indicador.

- Um prédio de advocacia? Creio que não deva ser nada de importante.- Disse, passando o braço esquerdo pelos ombros dela.

- Tem razão.- Deu-lhe um beijinho.

- E então? Saiu mais cedo do escritório hoje?- disse enquanto se abraçava a ele.

- Não exatamente. Saí mais cedo mas terei que voltar.- Sakura olhou curiosa para ele.- Aconteceu um incidente e resolvi sair para refrescar um pouco a cabeça.

- Fico tranqüila só em você me dizer que não precisou bater em alguém...

Visto o silêncio do namorado, Sakura o soltou e o olhou com uma cara de brava. Syaoran foi logo se desculpando:

- Ei! Espere um pouco! Eu nunca faço isso sem um motivo. Eu não ia poder pegar um pote de calmantes e fazer o sujeito engolir!- Ele dispensou comentar os insultos proferidos por aquele monstro.

- Sabe que não é bom sair batendo nas pessoas por qualquer coisa.- Olhou ele sério.

- Eu sei. Por isso não faço isso.

Sakura suspirou. Sabia que Syaoran não fazia por mal, fazia por sua profissão. Novamente abraçou-se a ele e perguntou:

- Alguma novidade?

- Não.- Aspirou o perfume dos seus cabelos e olhou no relógio.- Sakura, meu anjo, preciso ir agora.

- Eu também tenho que ir. Marquei um encontro com uma amiga .- Levantaram-se.

- Quer que eu te leve?

- Não precisa, é aqui pertinho.- Ajeitou seu chapéu e vestido azul-claros e colocou as luvas.- Foi um prazer almoçar com você.

Sakura subiu na pontinha do pé, pegou o rosto do namorado com as duas mãos e lhe deu um brevíssimo beijo, saindo logo depois com um sorriso carinhoso nos lábios. Tudo fazia cada vez Syaoran ansiar ainda mais por ela...

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Eriol, fechando seu bloquinho de anotações, perguntou pela última vez, somente para confirmar:

- Nagamine Touya, trinta anos, empresário, desaparecido a três meses. É isso, não é?- Sonomi confirmou com a cabeça.

- Pode encontrar o melhor amigo dele, no endereço dessa empresa que te passei.

- Acha que ele sabe de algo e não quer lhe contar?- Sonomi mais uma vez balançou a cabeça afirmativamente.

Eriol olhou no relógio e se levantou. Sonomi fez o mesmo.

- Obrigado, senhora Daidouji, essas informações serão de grande utilidade.

- Eu que devo agradecer. Muito obrigada meu rapaz.

- Disponha. Até mais- E como da primeira vez, beijou a mão de Sonomi.- Foi um prazer revê-la.

- Igualmente.

Sonomi acompanhou Eriol até a porta da sala e voltou a se sentar na sua cadeira, enquanto do outro lado, Eriol pensava em fazer uma visita para a senhorita Daidouji. Poderia ser que quem escondesse algo fosse Sonomi. Talvez deixasse Tsukishiro, amigo de Nagamine, por conta de Syaoran. Li sabia bater, mas também sabia persuadir. Olhou uma última vez para a porta de onde acabara de sair. Deu-se um estalo em sua mente e decidiu que voltaria agora para o escritório. Deixaria a visita à filha de Sonomi para depois.

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Syaoran andava calmamente pelas ruas que o levariam até o escritório, mas numa esquina não muito movimentada ele sentiu uma energia não muito boa. Olhou para trás instintivamente e nada viu, além de duas mocinhas e um rapaz conversando na sacada de uma confeitaria. Logo reconheceu sua burrada: é lógico que se estivesse sendo perseguido, com o movimento de olhar para trás, quem quer que o estivesse seguindo perceberia que ele estava desconfiado.

Syaoran andou um pouco mais rápido que o de costume e entrou no primeiro mercado lotado de gente que viu pela frente. Circulou o mercado inteiro passando por bancas de verduras, jornais e flores, saindo de lá assim que sentiu ter despistado a má energia.

Chegou rápido ao escritório, mas subiu ainda mais rápido quando ouviu vozes alteradas lá em cima. Reconheceu uma delas como sendo a de Yamazaki.

Li deu um meio sorriso esquisito quando viu o homem que ele havia nocauteado pela manhã agitado, gritando com seus amigos e sacudindo e rasgando papéis.

- Como vocês ousam difamar minha mulher assim?! Isso é uma calúnia, vocês estão ouvindo? É uma calúnia!!! Aposto que você inventou isso!!!- O homem gigante apontou para Yamazaki e rasgou mais algumas fotos.

- Olhe aqui, isso é o meu trabalho, e não tenho interesse em culpar sua mulher ou não!! Isso que você viu é a mais pura realidade! Agora pare de fazer escândalo feito uma mocinha e saia já daqui!

- Minha mulher jamais me traiu! Já disse que isso é mentira!! Vamos ver quem é a mocinha aqui!!- O gigante bateu o pé no chão, o barulho que se sucedeu era semelhante ao de uma manada de elefantes.

- Então por que pediu que investigássemos as saídas da sua esposa?- Eriol, que tinha chegado um pouco antes de Li, interferiu antes que Takashi literalmente voasse no pescoço do sujeito.

O homem não respondeu, mas estreitou os olhos verdes esbranquiçados e seu rosto ficou mais vermelho do que já estava.

Li, que até agora só estava observando a discussão, resolveu entrar no meio. Seu sangue estava quase fervendo.

- Oh! Mas que surpresa! Por isso que eu achei que já tinha te visto antes.- Disse ironicamente, enquanto jogava o seu chapéu longe e ia tirando o casaco, que teve o mesmo destino do chapéu.

Li sentiu novamente aquela presença estranha, mas agora elas se multiplicavam. De súbito Eriol fechou a cara e Takashi arregaçou as mangas. Li olhou para trás. Haviam mais quatro homens ruivos e gigantescos, sendo que um deles possuía uma arma e o outro uma afiada faca.

- Hehe. Ei detetivezinhos, que caras são essas?- Deu uma gargalhada fedorenta.- Eu lhes apresento meus dois irmãos e meus primos.- Os quatro brutamontes ruivos sorriram com seus dentes horríveis e tortos à mostra.- Ei? O que foi? Tudo isso é medo?

- Nojo...- Yamazaki falou baixinho, não chegando ao alcance dos pares de ouvidos imundos.

Um dos grandalhões que não estava armado, mostrou seus dentes podres:

- Ei, você aí.- Apontou para Syaoran que franziu a testa.- Até que você nos enganou bem...

- Enganei, foi?- A ironia voltou- Mil desculpas, de longe essa não era a minha intenção.- O idiota gigante ainda continuou.

- Até que você foi espertinho por entrar naquele mar de gente.

- Fui esperto ou vocês que foram suficientemente idiotas?- O bicho deu um enorme grunhido.

Eriol dobrou os punhos da camisa, assim como Yamazaki, apesar de não ser muito bom em lutas. Apesar de ser um exímio atirador, não usaria dessa vantagem nesse combate. Seria quase que desleal. Seu revólver estava muito bem guardado na sua sala.

Syaoran estralou os dedos e também dobrou os punhos da camisa. Todos aqueles insultos respondidos pela metade faziam seu sangue borbulhar nas correntes sangüíneas. Precisava descarregar um pouco da tensão que circulava por seu corpo.

Li chutou sua mesa para dar mais espaço ao saguão, que bateu na parede esmagando a cadeira com força, derrubando quase tudo o que havia em cima dela.

- Parece que vamos desenferrujar os ossos esmagando algumas cenouras.- Yamazaki disse e sorriu, se pondo em posição de luta enquanto Eriol fazia o mesmo.

- Bom pra vocês.- Li sorriu perversamente. - Eu nunca estive realmente enferrujado.

O espírito guerreiro de Syaoran se sobrepunha sobre todas as coisas quando ele lutava. Talvez por isso Sakura não gostasse que ele entrasse realmente numa luta, apesar de ser um especialista em artes marciais.

Um rinoceronte que era meio caolho atiçou ainda mais:

- Vem, vem aqui e vamos ver se você é bom mesmo.- Li colocou-se em posição de luta.- Vem, e quando eu te matar, eu vou pessoalmente contar a notícia pra sua namoradinha, que aliás, é uma gracinha...

O rinoceronte caolho nem viu o que o atingiu no meio dos olhos.

Continua no próximo capítulo...

N/A: Bem... esse foi o segundo capítulo. Prometo que não vou enrolar essa história, já que eu mesma quero desvendar e desmascarar todo mundo de uma vez! Opa... Acho que falei demais... Mas enfim... no próximo capítulo teremos uma luta perigosa nos esperando e mais algumas novidades. Espero uma resposta positiva de vocês! Muuuuuah para todos.