Atração Fatal- III

Por Hime

-Luta de Gigantes-

O rinoceronte caolho cambaleou mas não caiu. Todos sabiam que a luta já havia começado.

Li quis acabar logo com o caolho. Como ele se atreveu a pôr um elogio para sua bela namorada naquela boca imunda? Enquanto o troglodita girava igual a uma barata tonta, Li se pôs atrás dele, e com a mão aberta acertou a coluna do sujeito com força. O bicho caiu de vez.

- É... até que o meu kempô não está fora de forma...

Syaoran pensava que a luta iria ser fácil, mas somente até o momento em que sentiu que puxavam as suas pernas e as soltavam em seguida. Não soube como, mas antes de chegar ao chão amorteceu a queda com as duas mãos e dando impulso conseguiu uma cambalhota, se equilibrando logo à frente e encarando o seu agressor. Olhou com firmeza para o sujeito que tinha derrubado pela manhã, o de olhos verdes meio esbranquiçados.

Takashi fazia o que podia para fugir dos golpes com a faca que um sujeito carregava. Fugia das investidas do oponente com um pouco de facilidade, mas isso não podia continuar assim. Mirou bem a afiada faca. Pensou em chutar. Arriscou e conseguiu. Com um belo chute de direita, bateu com força na mão do adversário, fazendo-o deslocar o pulso e derrubar a faca no chão. O monstro não urrou como Yamazaki pensou que fosse fazer, ele simplesmente avançou, batendo com a cabeça no peito de Yamazaki, o jogando contra a parede.

Eriol ainda estava parado, em posição de defesa. Enquanto os dois adversários olhavam para ele, ele olhava para um ponto entre os dois, assim poderia captar qualquer movimento que os gigantes fizessem. Estava traçando um plano, enquanto os dois grandões, um com a arma e um outro dentuço, simplesmente pareciam babar.

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Yanagisawa entrou na sala de sua chefe.

- Senhora Daidouji, eu trouxe aqueles papéis e...ah!!- Derrubou o monte de papéis no chão, levando a mão à boca para conter o grito, quando viu inúmeras folhas de documentos e contratos importantes espalhados pela sala, ao passo que Sonomi cochilava encostada na mesa. Bom, pelo menos foi isso que a secretária pensou, mas somente até o momento em que tentou acordar Sonomi mas não conseguiu.

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Yamazaki se levantou antes que a besta humana desse uma nova cabeçada em seu tórax. Doía bastante. Nunca havia sido acertado dessa maneira. Ele sentiu uma ira enorme se apossar do seu corpo e mente quando viu que o idiota à sua frente o estava desprezando, com o ato de coçar os olhos e bocejar, abrindo aquela gigantesca boca fedorenta. Takashi se sentiu num dos treinos de antigamente e com uma seqüência de potentes socos na barriga cheia de músculos e banha, o adversário grunhiu. Takashi sorriu satisfeito. Chutou com a perna esquerda as costelas do oponente, e aproveitando o seu descuido deu mais um chute, agora com a perna direita, no queixo, fazendo o sujeito voar.

Eriol tinha feito uma estratégia e já ia atacar, quando o dentuço à sua frente recebeu um de seus companheiros de presente nas suas costas e acabou por tombar com o gigantesco peso dos dois. Eriol olhou de soslaio para Yamazaki, que fazia um sinal de positivo com uma mão, enquanto a outra segurava onde tinha sido acertado.

Restavam agora um contra Syaoran e um armado contra Eriol. Takashi não pensou muito e foi logo ao auxílio de Hiiragizawa, mas falhou num momento: foi visto pelo sujeito armado que apontava insistentemente para Eriol e agora não mais poderia pegá-lo de surpresa.

Syaoran lutava com o ruivo de maneira rápida e violenta. Socos e chutes potentes eram suas armas, contra a insensibilidade e a gordura amortecedora do outro, além de seus básicos conceitos de defesa. Li estava se cansando daquilo. Com uma velocidade superior à normal, saiu do campo de visão do adversário e golpeou a nuca do outro homem armado que encarava Eriol e Takashi, logo mais adiante.

O homem não caiu de vez, mas foi o suficiente para que Eriol aproveitasse e desse uma bruta cotovelada no estômago do desafiante, o empurrando com força em seguida, o fazendo cair em cima da mesa de Yamazaki, que acabou partindo-se ao meio.

Syaoran voltou para seu combate e viu o ruivo na mesma posição em que estava antes. Sorriu. Iria dizer algo como: "Desculpe, não pretendia ser tão rápido", mas mal abriu a boca quando viu o homem fazendo uma investida contra ele com a faca na mão. Droga! Ele tinha se aproveitado da saída de Li para pegar uma arma! Syaoran não esperava por isso. A única coisa que pôde fazer foi dar um salto para trás, mas não conseguiu muito, já que bateu as costas na parede. Por um momento Syaoran viu tudo em câmera lenta... O homem rasgando o seu peito... O sangue quente escorrendo... O golpe de Takashi e Eriol contra a besta humana... a faca suja de sangue cravando na parede.

Um barulho forte foi ouvido. Agora cerca de dez homens com a farda da polícia entravam pela porta. Só puderam ver o monstro caindo no chão e Li escorregando contra a parede, segurando seu peito. Logo atrás dos policiais subiram duas mocinhas, uma com uma comprida trança castanha, que levou a mão à boca, e outra de bonitos olhos verdes. Esta última cambaleou ao ver seu amor naquelas condições, mas foi amparada pela amiga.

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- Mas eu vi! Eu juro que eu vi!!!

- Tudo bem senhora, nós acreditamos.- O médico tentava convencer sua paciente.

- Mentira! Vocês não estão acreditando em mim!

- Senhora, por favor, se acalme.- O médico, com um gesto de mão, chamou duas enfermeiras que sedaram a paciente.- É...- Ele passou a mão pela testa suada.- Não é fácil ficar pensando que viu o espectro do falecido marido....

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Syaoran estava sentado na cama da enfermaria do hospital, sem a camisa que ficou rasgada e suja e com o peito enfaixado. Estava de mãos dadas com a namorada.

- Já disse que está tudo bem, Sakura... O corte foi só superficial...

- Mas isso graças aos seus amigos, não é?- Ela o interrompeu.- Syaoran... – Uma lágrima queria brotar de seus olhos.- Não faça mais isso comigo. Mais uma dessas e eu tenho um ataque do coração só em pensar que...

- Ei! Calma...- Puxou a cabeça dela para junto do seu peito, do lado que não estava machucado, é claro. A mocinha corou levemente.- Eu prometo que vou tomar mais cuidado da próxima vez está bem?

Próxima vez? Não era bem isso que Sakura queria ouvir, mas enfim...

- Sakura...- Remexia nos cabelos castanho claros.

- Sim...

- Como você soube?

- Eu estava passando lá com a Chiharu e senti uma sensação estranha, um aperto no coração, além de termos ouvido uns barulhos estranhos. Chamamos a polícia e esperamos ela chegar.

- Que bom... Ao menos aquele bando de gorilas vermelhos já estão em seus devidos lugares...

- Sim... Na cadeia....- Se aconchegou ao musculoso braço dele, querendo nunca mais sentir o que sentiu.

Do outro lado da enfermaria só se ouviam os sermões da mocinha de trança e os gemidos do rapaz.

- Takashi! Você tem noção de que quase quebrou as costelas?!- A noiva do moço ralhava.

- Mas Chiharu, eu só...Aiiiii!- E ele levou mais um beliscão no braço.

- Não quero ouvir suas desculpas! Você tem que entender que...- Chiharu foi interrompida por um beijo do rapaz, que foi a única solução que encontrou neste momento.

Eriol tinha acabado de chegar, ele tinha ido buscar algumas coisas para Syaoran, quando se deparou com aquelas cenas. Neste momento seu coração sentiu muito a falta de Kaho, muito...

Aproximou-se de Syaoran:

- Li.- Syaoran respondeu com o olhar.- Aqui estão sua camisa, suas coisas...

- Obrigado Hiiragizawa.- Respondeu colocando a camisa com a ajuda de Sakura.- Ei, este é o meu casaco que estava no escritório. Você foi lá?

- Fui sim... – Eriol coçou a nuca e sorriu meio embaraçado.- E acho que eu não tenho boas notícias....

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Takashi e Syaoran subiram as escadas rapidamente. Yamazaki ficou de boca aberta enquanto Syaoran estava imóvel. As mocinhas subiram logo atrás.

- Hiiragizawa, eu não..

- Eu sei, Yamazaki. Eu também não imaginei que o escritório estivesse tão estragado assim.

Papéis a perder de conta eram vistos por todo o local, juntamente com as mesas destruídas e tudo fora do lugar.

- Nossa!- Chiharu entrelaçou seu delicado braço com o forte braço de Yamazaki.- No calor do momento não enxerguei nada direito, mas agora... Esse escritório está um caos!

Sakura também passou os olhos pelo enorme salão e acabou encontrando a faca cravada na parede, mas nada disse. Eriol notou algo de estranho no olhar dela, foi até a fonte disso e com um pouco de força tirou a faca da parede.

- Pois é... Teremos que suspender por um tempo os nossos serviços, pessoal.- Jogou a faca num canto perto da mesa estraçalhada de Yamazaki, fora dos seus campos de visão.

- Reforma?- Syaoran, que até agora estava calado, indagou para Eriol.

- Pouquíssima... mas o mais trabalhoso vai ser organizar esses papéis todos de novo.

Não precisou de muito esforço para que eles se lembrassem de quando Yamazaki recentemente esqueceu a janela aberta e uma forte ventania bagunçou o salão inteiro.

- Er....- Takashi coçava a nuca com seu sorriso costumeiro.- Então amanhã a gente vem aqui para arrumar tudo.

- Fazer o que, né?- Syaoran disse meio que sorrindo do seu atrapalhado amigo.

- Eu ajudo!- Sakura se prontificou.

- Eu também venho!- Chiharu também se comprometeu.

Sakura olhou no grande relógio que havia na parede, talvez a única coisa inteira por ali.

- Nossa! Preciso ir para casa. Meu pai deve estar me esperando.

- Vamos.- Syaoran passou seu braço direito pelos ombros da jovem.- Eu te levo. Até amanhã.- Se despediu sem nem ao menos olhar para trás, mas virou o rosto para dizer uma frase apenas.- De manhã.

Yamazaki fez uma careta. Odiava acordar cedo.

- Também preciso ir Takashi.- Chiharu reivindicou.

- Ok. Até amanhã então Eriol.

- Até.

E mais um casal descia as escadas. Assim que ouviu a porta sendo fechada, Eriol sentou no topo da escada, guardou os óculos, abaixou a cabeça e passou as mãos pelos cabelos escuríssimos. Sentia um enorme vazio no coração.

- Kaho...

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Na manhã seguinte Eriol se sentia mais disposto. Havia dormido muito bem, e apesar de um pouco atrasado, chegou ao escritório com o pressentimento de que logo aconteceriam coisas boas em sua vida pessoal.

- Bom dia!- Eriol cumprimentou a todos, e quis dar risada quando viu Yamazaki com sua costumeira cara de sono.

- Que bom que chegou, Hiiragizawa. Está na hora de trabalhar também.- Dizendo isso, Yamazaki colocou nas mãos do amigo uma pá e uma vassoura.

- Mas...

- Não, não.. se você pensou que ia arrumar os papéis se enganou. As garotas já fizeram isso. Deixe de ser machista e varra pelo menos o corredor e as salas.

Eriol não pôde deixar de sorrir. Ele? Machista? Olha só quem estava falando! Mas não iria comentar nada. Pegou a vassoura e a pá de bom grado e foi varrer, a começar pela sala de Syaoran.

Abriu a porta com a chave que o amigo lhe emprestara, varreu rapidamente porém com cuidado. Notou uma caixinha retangular amarela na estante que tinha um brilho esquisito. Nunca a tinha visto antes. Parecia ter sido colocada a pouco ali. Não dispensou muita atenção para isso e foi logo varrer a sala de Yamazaki, que também havia lhe emprestado a chave.

Quis rir quando entrou no escritório de Yamazaki. Todas as suas bugigangas estavam em cima da sua mesa. Iam desde chaveiros até réplicas de dinossauros. Talvez fosse por isso que ele estava sempre de bom humor para enfrentar as coisas. Eriol se perguntava como ele conseguia gostar de tanta quinquilharia.

Conjugado à sala de Yamazaki, estava o laboratório onde Takashi revelava as fotos. Resolveu não mexer. Finalmente só faltava sua sala.

Assim que entrou em sua sala, Eriol olhou para o telefone e teve uma súbita vontade de ligar para Daidouji Sonomi. Sentou em sua poltrona e tirou o fone do gancho, mas o colocou de volta ao perceber que não havia motivo para ligar. Ele nem mesmo estava empenhado em investigar a fundo o caso. Mas ele precisava ligar... Tirou novamente o fone do gancho e com o número anotado no bloquinho, discou. Depois inventaria uma desculpa qualquer. Não demoraram muito para atendê-lo.

- Fábrica Daidouji, bom dia.

- Bom dia. Eu gostaria de falar com a senhora Daidouji, por favor.

- Hmm... Desculpe, mas ela não está.

- A que horas eu poderia encontrá-la?

- Sinto muito senhor, mas a senhora Daidouji não tem previsão de quando volta às atividades.

- Como?

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Sem varrer a sua sala, saiu dela e a fechou. Ao encontrar Syaoran, deixou em suas mãos as chaves das salas, a pá e a vassoura.

- O que significa isso Hiiragizawa?- Eriol, que caminhava rápido, continuou caminhando, agora de costas.

- Significa que vocês irão terminar de varrer tudo. Eu preciso fazer uma visita. Se der, mais tarde eu volto.- Virou-se novamente para descer as escadas. Iria fazer uma visita à Sonomi.

À tarde...

- Espere um momento, senhor. Poderia aguardar naquela sala?- A moça apontou para uma sala confortável, de estofados brancos.

- Claro.

Eriol sentou-se numa das confortáveis poltronas. Suspirou. Ainda pensava no que diria à Sonomi quando sentiu uma sensação estranha, como se fosse uma presença, como se alguém o estivesse observando. Sentiu essa pessoa se aproximar. Levantou-se e virou-se, para dizer:

- Senhora Daidou...- Interrompeu-se ao se deparar não com Sonomi, mas com uma jovem de cabelos longos, de cor semelhante à dos seus olhos violetas.

- Desculpe, senhor Hiiragizawa, mas minha mãe infelizmente não pode atendê-lo. Meu nome é Daidouji Tomoyo. Muito prazer em conhecê-lo.- E a moça fez uma elegante reverência.

Tomoyo sorriu de uma forma tão meiga que Eriol jurou nunca mais esquecer aquele sorriso.

Continua no próximo capítulo...

N/A: Olá de novo! E então? O que acharam? Deixe sua opinião, ok? Me desculpem fazer uma luta um pouco irreal(pelo menos ao meu ver), mas achei legal. É difícil até mesmo para mim ver o Yamazaki lutando, por isso algumas vezes eu até troquei o nome para Takashi, que eu acho mais sério. Sei que o Li está convencido demaais, mas com o tempo ele muda(ou não?), pode deixar. Finalmente temos a Tomoyo entrando na história, e no próximo capítulo teremos mais uma pessoa interessante aparecendo por aqui. Aliás, interessantíssima!

B-jos para todos vocês, Hime.