Bom, eu não sou consultora de moda, mas só quero dizer uma coisinha: quando falamos em "terno", como o próprio nome diz, se trata de uma roupa composta por três partes: a calça, o colete e o paletó. Os homens antigamente usavam as três peças, mas o "homem moderno" abandonou o "colete" e usa somente a calça e o paletó. Portanto, entendam que para esta época do fic, um homem usar um terno faltando o colete seria uma demonstração de algo mais informal, pra falar a verdade seria algo anormal, mas só para não deixar os personagens constrangidos irei usar a palavra informal, ok? Boa Leitura.

Atração Fatal - XI

Por Hime

-Os primeiros passos-

- Senhorita Tomoyo, a visita já chegou.- A criada dirigiu-se para a belíssima mulher sentada no sofá, que folheava uma revista.

- Obrigada Mayumi.- Sorriu e ajeitou seus trajes.

- Com licença.- E a criada retirou-se.

Logo Eriol entrava pela porta principal. Tomoyo fez menção de perder o ar. Eriol entrou com um semblante totalmente diferente. A anfitriã não pôde deixar de observá-lo da cabeça aos pés. O detetive trajava uma camisa azul, lisa, sem gravata. Calças, paletó, sapatos e sobretudo negro compunham o visual. Seu cabelo estava em pequeno desalinho; as mechas negro-azuladas estavam jogadas para trás. Tomoyo sorriu e foi retribuída da mesma forma, mas algo chamou a atenção dela. Talvez fosse a falta dos óculos, mas... Afundou-se nos seus olhos. Não, era algo mais profundo que isso, era uma energia diferente que ele agora emanava, era uma energia mais viva, mais vibrante. O ser à sua frente perdera a melancolia de antes e agora irradiava algo muito melhor, ela julgara. Talvez tivesse se libertado agora... Quem sabe?

- Sente-se, por favor.- Tomoyo apontou um sofá bem à sua frente e sentou-se, seguida pelo homem.

- Obrigado. Senh... Tomoyo, como vai sua mãe?

- Ah, melhorou muito!- Sorriu alegremente. O ânimo era perceptível em sua voz.

- Que bom!- Encostou-se no sofá.

- Por isso aceitei sua visita hoje. Minha mãe tem um espírito e uma força impressionantes, tanto que hoje pela manhã ela recebeu a permissão para continuar o tratamento em casa. Com os devidos cuidados, é claro.

- Fico feliz por tudo.

- Sim, obrigada.

Um silêncio incômodo instalou-se no local. Tomoyo não sabia para onde olhar ou o que fazer. Iria perguntar se ele aceitava algum suco ou algo parecido quando Eriol, ajeitando o paletó aberto, falou:

- Tomoyo, eu vim aqui somente por um motivo.- A moça abriu mais os olhos, numa forma de indagação.- Eu terminei o meu serviço contratado para com sua mãe. A procura por Nagamine Touya acabou.

Tomoyo sentiu que estava caindo num profundo abismo negro, sem fim. Apertou com força o braço do sofá, quase cravando as unhas. Agora teria que se casar com Touya? Com certeza empalidecera, porque Eriol quase se levantou do sofá para acudir a moça.

- Tudo bem, Tomoyo? Algum problema?- Estava quase se levantando quando a mesma estendeu um braço para frente e afirmou que não. Esperou alguns segundos e continuou a falar, prestando atenção nas reações dela.- Finalizei essa minha procura ontem e gostaria de comunicar à sua mãe, que, mesmo de forma inesperada, acabei por achar Nagamine.

- Eu... Eu acho que minha mãe irá ficar satisfeita.- Tomoyo se levantou subitamente. Estava perceptivelmente nervosa; apertava as mãos e seu tom de voz ia abaixando, ficando cada vez mais trêmulo.- Irei verificar se ela está pronta para recebê-lo. Com licença.

Tomoyo andava depressa. Com ânsia de sair do local, acabou por bater a perna num dos cantos do sofá macio, mas sem olhar para trás correu a subir as escadas. Eriol olhava preocupado. Por que todo aquele atordoamento repentino? Só esperava que não fosse por sua causa.

Tomoyo abriu com violência a porta do quarto de sua mãe. Sonomi, que estava em sua confortável cama apreciando um livro, virou-se assustada para a filha.

- Tomoyo? O que aconteceu?- Abandonou o livro sobre um criado-mudo e fixou o olhar em Tomoyo, que se sentava agora ao seu lado.

- Mamãe, Eriol já chegou.- Disse séria.

- Isso é bom. Sabe sobre o que se trata o assunto?

- Sim. Ele achou Touya.- Sonomi estranhou o excesso de seriedade na filha.

- Hã... Isso é bom. Ótimo. Realmente é um detetive competente.- Ponderou.- Mas querida...- Pegou as mãos da filha entre as suas.- O que tanto te afiige?

Tomoyo ajeitou-se melhor na cama. Finalmente chegara o momento em que colocaria suas vontades diante de seus atos. Não mais seguiria cegamente as ordens alheias.

- Mamãe, quero que entenda que eu não irei me casar com Touya.- Sonomi arregalou os olhos.

- Mas Tomoyo, esse era o combinado! Procurei por este rapaz à toa então? Por que essa decisão agora minha filha?

- Desculpe. Não o amo.- Abaixou a cabeça. Sabia que deveria ter dito isso antes.

Sonomi sentiu-se orgulhosa por sua filha. Ela crescera! E finalmente resolveu impor suas vontades. Isso era muito bom!

- Quem deve pedir desculpas sou eu, querida.- Sonomi a olhou carinhosamente e Tomoyo voltou a encarar a mãe.- Eu que por toda minha vida fiz você realizar meus caprichos. Perdão Tomoyo.- Lágrimas brotavam em seus olhos.- Perdão querida.

Tomoyo não pôde conter as lágrimas quando viu a mãe chorando. Aquela quem considerava sua fortaleza estava chorando! A mulher forte e corajosa que sempre foi Daidouji Sonomi estava chorando! Nunca a tinha visto desse jeito. Abraçou a mãe fortemente. Precisava disto.

- Somente quero que seja feliz. Sempre agi pensando no melhor para você, mas acho que acabei excedendo os limites. Quero que seja feliz por conta própria. À sua maneira, à sua vontade, ao seu jeito.- Afastou-se de Tomoyo e apertou suas mãos. Encararam-se ainda com lágrimas nos olhos.- Trilhe seu caminho com seus próprios passos, querida.

- Sim mamãe... Eu vou.

Abraçaram-se mais uma vez, mas Tomoyo afrouxou o abraço ao se lembrar que sua mãe ainda não estava em perfeitas condições. A jovem lembrou-se de Eriol que estava esperando no andar de baixo e rapidamente enxugou suas lágrimas.

- Esqueci que Eriol me espera!

- Oh sim!- Sonomi também disfarçou a emoção que há poucos segundos a acometera.- Diga para subir até aqui. Gostaria de saber sobre alguns detalhes.

- Claro. Já volto.- Disse num sorriso.

Tomoyo saiu do quarto, e enquanto dirigia-se para a sala pensava em como estava aliviada agora. Não diretamente, mas era óbvio que sua mãe havia lhe dito que ela estav livre do compromisso com Touya. Mal sabia ela que nem mesmo que ela quisesse teria jeito de se casar com Touya. O destino sempre prega suas peças...

- Eriol?- Tomoyo apareceu na ponta da escada.

- Sim?- O elegante homem levantou-se.

- Minha mãe o aguarda. Pode subir.- Sorriu. Sorriu aquele sorriso maravilhoso, igual ao que Eriol viu quando a encontrou pela primeira vez. A harmonia que esse sorriso tinha com a figura angelical de Tomoyo era impressionante. Observava tão atentamente esse sorriso que o fazia derreter-se por dentro que...

- Vamos?- A doce voz tirou Eriol de seus devaneios.

- Claro.

Passou a mão pelos cabelos. Se continuasse desse jeito Tomoyo iria pensar que era um retardado que não podia ver um sorriso bonito, mas... Mas aquele sorriso o enfeitiçava completamente! Mal ela sabia como, mal sabia... Olhou para a figura que caminhava à sua frente. Pôde contemplar a jovem mulher que caminhava com leveza e elegância. Os cabelos estavam soltos e balançavam junto com o andar de Tomoyo. Corria uma leve brisa pelo corredor, proveniente de algumas das enormes janelas da mansão. Isso estava provocando sérios danos naquele pobre homem. A brisa trazia para si o inigualável perfume da mulher à sua frente. Podia sentir o perfume de seus cabelos, de seu corpo, de... Eriol precisou dar um beliscão em si mesmo. Era melhor parar de pensar nisto antes que fizesse coisas que não devia. Tomoyo parou e abriu uma porta, indicando para ele entrar. Eriol entrou e pensou que realmente fora salvo a tempo. Sorriu. Não sabia bem quem é que fora salvo.

- Boa tarde, detetive.- Sonomi disse e apontou uma mesma cadeira para ele. A mesma que ele se sentara numa outra ocasião.

- Boa tarde. Acho que Tomoyo já lhe deu notícia, não?

- Oh sim. Mas gostaria de ouvir com um pouco mais de detalhes, poderia ser?

- Claro.- Eriol pensou que seria bom se não tivesse que entrar em assuntos particulares.

Tomoyo afastou-se e sentou-se do outro lado da cama, ao lado da mãe. Causava-lhe arrepios o simples pensamento de estar perto de Eriol.

- Quando terminou sua procura?- Faria perguntas simples. Não queria se demorar nesta conversa. Sentia-se um pouco cansada.

- Ontem mesmo. Resolvi avisar o mais rápido possível.

"O mais rápido possível?" Tomoyo pensou bem. O mais adequado seria avisá-las no dia anterior então. Será que ele havia tido problemas?

- Entendo. Como o achou?

- Acho que a senhora conhece Kinomoto Sakura.

- Oh sim, amiga de Tomoyo.

- Sim.- Tomoyo confirmou com um sorriso meigo.

- Ela é noiva de Li, como devem saber.

- Sim. Sakura me ligou ainda hoje pela manhã.- Tomoyo confirmou mais uma vez.- Ela está muito feliz. Ele a pediu em casamento ontem.- Resolveu omitir a parte que envolvia o desg... Ahan... Que envolvia Kuramochi.

- Ele me contou sobre seus planos também.- Deram um cúmplice sorriso que fez a mulher corar lindamente. Sonomi não pôde evitar o sorriso.- Pois então, ela uma vez tinha visto Nagamine próximo a um escritório de advocacia, mas não o reconheceu de imediato. Depois resolvemos procurar por ele em cartórios ou escritórios de advocacia. Ele poderia estar realizando algum contrato ou algo parecido.

- E onde o encontraram?

- Em um cartório. Eu mesmo o achei.

- Que interessante! Ele realmente estava fazendo negócios?- Sonomi parecia mais interessada. Aquele homem sumia assim da sua vista e agora fazia negócios às suas costas? Esperava que ele não estivesse envolvendo seu nome em "sujeira".

- Bem...- Eriol olhou para suas mãos e logo voltou a encarar Sonomi.- Ele estava se casando.

Sonomi arregalou os bonitos olhos castanhos e Tomoyo levou a mão esquerda à boca.

- Se casando? Aquele trapaceiro estava se casando?- Era bem perceptível a raiva nas palavras de Sonomi.- E quem era a noiva? Devia ser muito tonta! Sim, porque para se casar com um homem fraco como aquele, ela...

Calou-se, pois se lembrara de que Tomoyo também já fora noiva de Nagamine. Não importava os motivos, mas fora. Tomoyo mantinha o semblante sério. Eriol deu um sorriso sem graça e falou simplesmente:

- Era Mizuki Kaho. Minha ex-noiva.

Tomoyo levou uma mão aos olhos, tapando-os. Sua mãe tinha cometido uma falta enorme. Sentiu a face queimar de vergonha pela mãe. Sonomi abria e fechava a boca sem emitir som algum.

- Eu... Ai... Eu... Desculpe-me, eu... Perdão Eriol.- A senhora Daidouji disse com um vermelho acentuado nas bochechas.- Sinto muito.

- Não se aflija tanto.- A calma do rapaz se mantinha.- Juro que não pensei coisas muito diferentes.

As duas continuavam imóveis e sem graça. Tomoyo percebeu a situação e resolveu amenizar as coisas.

- Bom, então foi isso?

- Sim. Gostaria de saber se desejam fazer algo em relação a isso.

- Oh não, por favor.- Sonomi retrucou.- Já estaremos bem ocupadas com o processo contra Inabata.

- Entendo.- O homem percebeu que Sonomi estava se cansando.

- Detetive, bom trabalho. Logo mandarei entregarem o combinado.

- Não se importe com isso, por favor. Não tenho pressa.- Olhou no relógio.- Bom, acho que preciso ir.

Claro que era uma mentira, porque ele iria sair da mansão e iria direto para sua casa, mas resolveu assim fazer, pois não queria ficar importunando a mulher que estava se restabelecendo.

- Eu o acompanho.- Tomoyo prontificou-se e se levantou, abrindo a porta.

- Até mais Eriol.

- Até mais ver.- Fez um gesto cortês e saiu.

Já estavam na sala novamente quando Eriol perguntou como se desinteressado:

- Não se importou mesmo com o casamento de Nagamine?

Tomoyo parou. Virou-se para Eriol.

- Não. Eu não sentia nada por ele.

- Encarando as coisas por este lado isso é um ponto positivo.

- Somente por esse lado?- Sorriu matreira.- Sim, é um ponto positivo.- Sorriu aliviada, fechando os olhos.- Que bom que tudo isso acabou! Acho que depois de todo esse tempo preciso espairecer um pouco.

Eriol sentiu um estalo em sua mente. Era essa a oportunidade que esperava, não poderia mais perder tempo.

- Não gostaria de sair para jantar?- Jogou no ar. Bateu-se mentalmente, tinha sido direto demais. Preparou-se para ouvir uma gargalhada aberta, contínua, mas admirou-se. Tomoyo somente o encarava com as bochechas um pouco rosadas.

- Hoje?

- Quando puder.

Ótimo! Deveria ter calado sua boca. Cada vez que abria saía uma besteira! Agora ela deveria estar pensando que ele estava totalmente maluco para sair com ela, implorando uma horinha na sua agenda "superlotada".

- Você se incomodaria se fosse hoje?- Tomoyo disse vermelhinha.- Amanhã tenho um compromisso.- Emendou. Se ele pudesse ler seus pensamentos saberia que tudo isso não passava de uma grande mentira.

- Não, imagine!- Tentou parecer calmo.- Às oito está bom?

- S-sim.- Droga, estava gaguejando!

Eriol percebeu o nervosismo da moça. Mesmo contra a sua vontade teria que fazer isso.

- Se quiser pode chamar Sakura se quiser. Sei que vocês são ótimas amigas.

- É uma boa idéia.- Tomoyo sentiu-se aliviada.- Logo ligarei para ela.

- Tudo bem, até mais então.- Pegou a delicada mão nas suas e deu um suave beijo.

- Até mais.

E como se tivesse sido combinado, no exato momento apareceu uma criada para levá-lo até o portão. Tomoyo subiu as escadas o mais devagar que pôde, tentando disfarçar sua euforia. Estava tão exultante que se não fosse tão discreta subiria as escadas correndo e gritando. Entrou no seu quarto e jogou-se na sua cama. Que noite maravilhosa seria! Precisava ligar para Sakura. Provavelmente ela chamaria Li e... Sentou-se na cama repentinamente.

- Um encontro de casais???

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Eriol esperava Tomoyo na sala. Usava um elegante traje, completamente negro. Somente esperava que Li não estivesse vestido da mesma forma. Já estava esperando Tomoyo por quinze minutos. Perguntava-se internamente a razão das mulheres demorarem tanto para simplesmente colocar uma roupa. Isso realmente incomodava.

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Tomoyo apressou-se o máximo possível. Esse era o começo de sua nova vida, que decidiria por si mesma o que fazer. Trajava um vestido negro um opuco além dos joelhos, simples, decote reto, com alças. Uma pequena fenda atrás permitia maiores movimentos. Pegou uma pequena bolsa preta para acompanhar e um grande lenço negro, de um tecido que dava a impressão de brilhar dependendo da luz. Deixou os cabelos soltos, partidos de lado. Maquiagem leve, batom sóbrio. Olhou-se no espelho e gostou do resultado, mas faltava algo. Correu até uma caixa de jóias e apanhou um pequeno par de brincos de brilhantes, acompanhado de uma gargantilha do mesmo material. Nada exuberante demais, porém aquele conjunto tinha um brilho especial, reluzia demais! Pronta, suspirou. Aquela seria sua imagem de agora em diante. Uma mulher forte, decidida. Não mais aquela mocinha ingênua a quem todos faziam de fantoche. Pegou o casaco e saiu decidida do quarto. Não mais.

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Eriol estava sentado confortavelmente no sofá, batendo o pé no chão, como se estivesse marcando o compasso de uma música. Tinha desistido de ficar olhando para a escada esperando o momento em que sua princesa apareceria. Mantinha os olhos fixos num exótico cinzeiro quando ouviu a voz. Aquela voz tão suave como uma leve brisa. Aquela que tanto lhe encantava. Virou a cabeça para seu lado esquerdo e pôde ver Tomoyo no antipenúltimo degrau da escada o admirando.

- Vamos?- Disse jovialmente a moça. Eriol mais que depressa se levantou e ofereceu a mão para Tomoyo, que aceitou.

- Está muito bonita.- Disse sem disfarçar interesse pela beleza da moça.

- Você também está muito elegante.- E delicadamente terminou de descer os pouquíssimos degraus que faltavam.

Num simples movimento de Tomoyo, Eriol pôde observar como aquelas jóias reluziam. Reluziam assim como dois preciosos olhos violetas que agora passava a fitar.

E, mais uma vez, a criada que parecia ter um sexto sentido quando pessoas se aproximavam da porta apareceu para abri-la. Saíram da suntuosa mansão e Tomoyo deu uma rápida olhada para o céu, completamente estrelado. Finalmente sentia-se bem. Parecia que um bolo, incômodo, havia lhe saído do peito. Sentia-se livre, dona de si, quase completa...

Continua no próximo capítulo...

N/A: Aaah... Perdão! Perdão! Perdão!!! Lógico que não foi minha intenção demorar tanto, mas é que aconteceram tantas coisas!!! Inclusive uma tremenda falta de criatividade, mas eu JURO que no próximo compensarei. Está acabando!!! Eu nem acredito!!! Só mais um pouquinho, ainda bem. Eu me esforcei ao máximo para não fazer uma nota final, mas quem disse que resisti? Até a próxima.

Hime