Lembrança da Flor - Rurouni Kenshin Fanfiction

por Tomoe Ayanami (rei_tomoe_himura@hotmail.com)

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            Todos os personagens, direitos, etc de Rurouni Kenshin pertencem a Nobuhiro Watsuki, Shuiesha, Sony Music Entertainment, etc (Todas aquelas empresas e associações que, com certeza, tem MUITO mais dinheiro que eu)... Direitos reservados., blá, blá, blá... Os personagens foram usados neste fic sem a permissão do autor, sem intenção de ganhar dinheiro tb... ¬¬ =P.

************* Descrição ******************

"Falando"

'Pensando'

*_ Flashback _*

[Eventuais intromissões minhas]

 

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No capítulo 3, os dois amigos encontram uma jovem desconhecida, mas que parece conhecer, e muito bem, Kenshin, seu passado, seu presente e seus sentimentos. O que ela pode querer com ele?

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A Lembrança da Flor

[Capítulo 4 – O Jardim das Almas]

It`s New Year's Day:

Looking up to the sky We all await for the fireworks to fly

And I hold you

And I stand by you now…

Over the bay darkness breaks to a glow

But still the sands keep

On runing too slow

And I love you

And I care for you now…

Green comes after white

Night turns to day into the fire

Look at our dreams flying away

Climbing up higher

Along the shore timeless faces reflect

The innocence of childhood never left

And I miss you

And I cry for you now…

And the ones who we trust

And the moments of joy

Mirrored in a glow

That will dazzle our eyes

Here in my heart, in my soul

Sharing the miracle of Hope

In my heart, in my mind, in my soul…

Stay hand in hand, stay with me

Love is the key to believe

In our hearts, in our minds, in our souls

…But now no matter what I say,

just look at the fireworks…

(Angra – Fireworks)

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"A verdadeira Tomoe... ela era a pessoa mais gentil que eu já conheci."

Himura Kenshin, no manga.

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Sem aviso, a boca do homem começou a tremer levemente, o coração batia mais forte  pela simples visão dos lábios femininos da garota misteriosa e pela idéia de que eram tão parecidos com os de Tomoe.

"Demo..." Ele sussurrou, o súbito desejo crescendo cada vez mais enquanto ele mantinha o olhar na boca rosada. Umedeceu seus próprios lábios partidos com a língua, os olhos tremendo com nervosismo e expectativa.

Sem conseguir controlar, ele lentamente inclinou a cabeça em direção à dela, os rostos se aproximando mais e mais. Ele sentia a suave e quente respiração dela contra sua pele, fazendo sua mente racional ser amortecida pouco a pouco, no ritmo em que os olhos violetas iam se estreitando e se fechando. Pendendo o rosto para o lado, o homem ruivo respirou fundo, um calor que ele não sentia há muito tempo ressurgindo dentro dele.

'Tomoe...'

Lábio a lábio. Tão perto... Queria beijá-la incontrolavelmente. Beijar sua amada Tomoe. Sentia seu perfume, intoxicante. A vontade, o instinto... e o mais importante... a saudade. Agora a jovem que estava inconsciente em seus braços não era mais uma adversária desconhecida. Ela era Tomoe. Em toda a sua beleza plácida, sua ternura... Ela havia voltado para ele. Seu maior desejo havia se realizado: ele a havia encontrado de novo, e desta vez nada iria separá-los.

`Eu... só...`

            Naquele momento, a um insignificante segundo antes da perfeição do beijo... Um par de olhos se abriu, arregalando-se de imediato. Uma voz despertou a realidade no espadachim ruivo.

"Kenshin!!"

            Sanosuke gritou, espantado com a cena se desenrolava diante de seus olhos. Levantou-se ainda um pouco zonzo do golpe que a jovem lhe aplicara anteriormente. Com passos incertos avançou como pôde em direção aos dois. 'Devo estar vendo coisas... Essa mina me pegou de jeito... Ai, minha cabeça...'

            Assim que a voz do amigo atingiu-lhe a consciência, Kenshin abriu os olhos, focalizando o que havia em sua frente. `Eu...`

            Para sua surpresa, logo a sua frente estava um par de olhos escuros, arregalados e expectantes. Tão próximo ele estava da garota que não sabia dizer como seus lábios ainda não estavam se tocando. Prendeu a respiração e corou, constrangido.

`Eu não deveria estar fazendo isso... não mesmo.'

            Antes que pudesse pensar outra coisa, sentiu a mão de Sano puxando-o pelo ombro. Ele não sabia se estava grato ou descontente por isso.

"Agora acho que eu preciso de uma explicação... Eu to vendo coisas ou vocês dois estavam bem entretidos aí?"

            Kenshin corou mais enquanto dava seu sorriso sem jeito. Esta reação por si já acalmou um pouco Sanosuke, que estivera muito preocupado devido ao comportamento violento do espadachim. Este, por sua vez, ia abrindo a boca para tentar dizer alguma coisa quando a voz suave da garota soou.

"Eu... desmaiei?"

"Kenshin... Eu sei que você quer ajudar as pessoas, mas ela quer te _matar_!" O homem mais alto virou-se para seu amigo, que sorriu.

"É, sessha sabe disso." O ruivo tornou a atenção para a garota. "Acho que você deve estar bem cansada. Lutou com muita gente hoje..." Kenshin perdeu a expressão do `rurouni' ao lembrar-se do que esta garota havia feito antes dele chegar.

"Você quer dizer, matou muita gente hoje... Pode parecer inofensiva, mas ela é um monstro!" Sanosuke retrucou, um olhar de ódio dirigido diretamente para a garota.

            Como resposta, ao seu lado Kenshin adquiriu uma expressão pesada. A jovem levantou o olhar e fixou-o no lutador por um longo tempo, não indicando arrependimento quanto aos fatos. Essa reação foi interpretada como impertinente por ele, que a passos largos e pisadas fortes foi na direção dela, que ainda estava sentada no chão.

"Não sente culpa, é?" Rosnou Sano. "Mas vai sentir!"

            Ela começou a se levantar lentamente, decerto disposta a aceitar o desafio de Sanosuke Sagara. No rosto claro não havia nem sequer uma emoção perceptível, a jovem tinha um semblante totalmente passivo.

            Ao ponto em que ela já estava completamente de pé, Sano já caminhava com fúria em sua direção. Não chegou, porém, a encostá-la.

"Me solta, Kenshin!"

"Iie." O homem ruivo respondeu friamente. Ele havia parado o amigo com o braço direito e sua expressão voltara a ser séria. "Você não vai lutar com ela."

            Isso espantou tanto a jovem quanto o próprio Sano. A primeira, em vez de unir-se à discussão, simplesmente baixou a guarda, deu as costas e começou a andar na direção oposta aos dois. O outro homem porém não desistiu facilmente.

"O quê? Por que eu não iria lutar com ela??" Desafiou Sano, olhando Kenshin nos olhos.

"Por que _eu_ vou fazer isso."

            Sanosuke não pode contestar a força e certeza nas palavras de Kenshin. Foi com uma mínima relutância que ele concordou. 'E o sessha foi passear...'

"Hai." O lutador recuou alguns passos quando ouviu a garota dirigir-lhe a palavra.

"Você poderia nos dar licença?" Os olhos castanhos escuros tremiam com incerteza enquanto uma enxurrada de indagações tomava lugar em sua mente. Emoções que ela desconhecia começavam a brotar em sua alma. Ela não conseguia explicar o calor que sentiu bem no fundo do peito quando acordou e se encontrou nos braços daquele homem... Era uma sensação tão distante mas mesmo assim tão verdadeira.

"Nan da?" Sano levantou uma sobrancelha.

"Eu disse..." Ela sacudiu a cabeça por um instante, sentindo-se um pouco tonta, como se sua mente estivesse esparsa. "Deixe-nos a sós." Completou ela finalmente.

            Estranhando o pedido ele lançou um olhar questionador para Kenshin, que parecia um pouco surpreso também – ele mesmo sem saber porque. Ao perceber que Sano realmente esperava alguma resposta, Kenshin assentiu com a cabeça e completou casualmente.

"Só por alguns instantes..."

"Shikashi..."

"Volte por onde viemos... Agora mais alguém já deve ter descoberto que aconteceu alguma coisa aqui. Vá até lá e veja o que pode fazer para mantê-los afastados." Himura acrescentou, sem olhar diretamente para Sanosuke.

"Eu..." Sano então sacudiu a cabeça, vendo que não tinha escolha. 'Realmente daqui a pouco a polícia ou algum curioso aparece por aqui...' "Eu não vou demorar." Avisou ele, antes de se embrenhar pelas árvores e logo desaparecer de vista das duas pessoas que permaneceram na clareira.

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            Kaoru estava sentada numa posição formal, na pequena mesa à sua frente o chá silenciosamente liberava vapor, que ia subindo suave e dissipando pelo ar. Enquanto Misao se preocupava com Aoshi e Yahiko se ocupava treinando sozinho, ela ficou com tempo para pensar.

'Eu não sei nada... Será mesmo? Mas o Kenshin está aqui há tanto tempo... Seria impossível ele ainda guardar muitos segredos... Ou sim... Ah! Desisto!!'

            A jovem sacudiu a cabeça, e tornou sua atenção para o chá ainda quente. Com um suspiro ela levou o líquido até a boca e, descuidada,  tomou um grande gole.

"Ahh! Quente! Droga!" Ela largou o copo com força sobre a mesa e pôs a língua pra fora.

"Nani ka?" O shoji abriu-se de repente para revelar Yahiko, que passava por ali quando ouviu Kaoru gritar.

"Nhan dhe moh nahi... shó gueimei minah lenghua khom essha dhrrogah dhe xáh." Reclamou ela.

            Ela levantou-se e desamassou o hakama e virou-se para Yahiko segurava o riso.

"Queh hé??" Vociferou ela, levantando o punho para o ar.

"Hahahah... Você tá mais ridícula que o normal falando desse jeito!" E em um instante ele estava correndo pelo dojo com uma Kaoru esbravejando de raiva em seu encalço.

"Fanha! Fanha!" Gritava e ria Yahiko, ganhando distância de Kaoru.

"Heu he queh vfou teh dheixzar ffanho!"

            E assim, mais uma dia comum no Dojo Kamiya se seguia...

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"Então..." Kenshin limpou a garganta, quebrando o silêncio desconfortável que dominava o lugar. "De onde você vem?" Falou a primeira coisa que lhe veio à mente.

            A garota levantou uma sobrancelha. "Hã?" 'Isso é coisa que se pergunte pra alguém que quer te matar??' "Você não vai conseguir me distrair."

            O homem sorriu, levando a mão atrás da cabeça e coçando-a meio sem jeito. "Bem... Parece que a senhorita ainda deseja lutar com este servo, não é?"

"Mas isso é óbvio. É pra isso..." Ela desviou o olhar por uma fração de segundo. "...que estou viva."

            Mesmo surpreso com isso, Kenshin decidiu continuar a conversa ignorando o comentário dela e adiando ainda mais um conflito que inevitavelmente aconteceria se as coisas continuassem assim.

"Mas a sua família deve estar preocupada..." Ele disse, sem pensar exatamente nas palavras.

"Se eu tivesse uma família, uma casa pra onde voltar... eu não estaria aqui desafiando você."

*_

-Se eu tivesse uma família, uma casa para onde voltar... eu não estaria bebendo sozinha à noite.-

_*

            Piscando, confuso, o espadachim guardou a memória consigo novamente, reprimindo ainda mais sua alma partida. Concentrou-se com algum esforço em descobrir mais sobre a garota – tanto para acalmar-se quanto para, assim, convencê-la a não lutar. Mesmo que sentisse seu sangue fervendo, seu corpo ansiando por um confronto que colocasse sua vida em risco.

"Então... Você está sozinha." Concluiu o homem com a voz contendo certa compaixão.

"O que está insinuando?" Contestou ela, levemente exasperada.

"Oro?" Kenshin ergueu uma das sobrancelhas.

"Se eu tivesse alguma outra razão para viver, não estaria desafiando o ex-Hitokiri Battousai. Não estou aqui por estar sozinha." Afirmou, com um brilho determinado nos olhos negros.

"Doushite, então?" Indagou Kenshin antes que pudesse evitar.

"Atashi wa..." A jovem baixou o olhar para o chão, emanando uma tristeza que pesava no ar.

            Os olhos do homem ruivo suavizaram, e ele fez menção de ir até ela, estendendo a mão na sua direção, quando a voz feminina recomeçou a soar fraca.

"A minha vida existe para que eu escolha o que fazer com ela. E eu só queria..." Uma breve pausa. "Eu estive sempre sozinha. Mas isso não me causava dor... Eu só não entendia o porquê... até que..." Ela parou de falar, sem saber ao certo como continuar.

"Me encontrou?" Tentou Kenshin.

            Normalmente, era isso o que acontecia. Alguém, cuja família ou amigos vieram a perecer pela sua espada, sentia-se sozinho e perdido. Ao encontrá-lo, no entanto, encontravam também algo que os movesse: o desejo de vingança.

"Iie." Disse ela, sacudindo a cabeça e fazendo os longos e negros cabelos balançarem. Algumas mechas escorregaram e encobriram parcialmente seu rosto. "Eu já te conhecia."

"Oro?"

"Eu..." Inconscientemente, Kenshin fazia a garota cada fez mais confusa. "...sempre soube sobre você. Sobre ela. Vocês." 'Nós.' Ela pestanejou, surpresa com o reflexo de pensamento.

"..." Himura não sabia o que dizer, sendo assim, seguiu com o que mais parecia um interrogatório. "Como?"

"Wakaranai. Mas eu sei de tudo, desde sempre. Mas, além disso, não entendo mais nada." 'Nada além do meu objetivo...' "Por isso... por isso—" Ela já hesitava nas próprias palavras. 'Eu preciso... matar... morrer?' A incerteza do que fazer começava a causar-lhe desespero.

            Precipitando-se, Kenshin estava agora de joelhos na frente da garota encolhida. Sua mão direita estava apioada fracamente no ombro dela, que  escondia os olhos. Ele buscou abaixar-se mais para ver seu rosto, mas ela fazia com que essas tentativas fossem inúteis. O espadachim podia sentir a jovem tremer sob o seu toque, via-a esquivar-se dos olhares enquanto parecia lutar contra a própria mente.

"Daijoubu ka?" Perguntou Kenshin, preocupado. 'Ela não está em condições de lutar.'

"Não seja..." Ela hesitou, um soluço escapou-lhe da garganta. "...gentil." 'Se não... talvez eu acabe... como ela...'

"Oro?" Kenshin recuou, removendo sua mão e pondo-se de pé. Surpreendeu-se que sua preocupação, no momento anterior, fora capaz de fazê-lo chegar tão perto daquela jovem mulher. 'Talvez... porque ela me lembra tanto... você.'

"Compaixão... é algo que você não deve ter com seu inimigo." Sussurrou ela. 'Pelo menos... não comigo.'

"Sabe..." O homem não entendia por que – talvez fosse a semelhança, novamente – mas resolveu falar o que lhe veio na mente. "Foi ela quem me ensinou o significado dessa palavra. E de muitas outras."

            Ao ouvir o que ele lhe dizia, a garota ergueu o rosto para fitá-lo. Ele prosseguiu.

"E você..." Ele procurou as palavras certas. "Que é tão parecida com ela... Os seus olhos, seu rosto, o perfume..." Kenshin deixou o pensamento vagar por alguns instantes, um sorriso brigava por seu lugar nos lábios dele. "Você sabe tanto sobre ela e sobre mim que eu chego a ficar um pouco assustado.." 'E... esperançoso, quem sabe...?'

"Já lhe disse que esta é a minha vida." Murmurou ela, abaixando novamente a cabeça.

"..." 'Minha vida... Tomoe foi minha vida. E são as memórias que tenho dela que me mantém vivo até hoje...'  Pensou, mostrando um sorriso triste.

"Se ao menos... eu pudesse explicar..." 'Te mostrar o que eu sou, ou o que sinto... Se ela pudesse...' A expressão da garota tornava-se cada vez mais vaga e ela parecia perder-se. '...voltar...'

"Demo... Acho que mesmo se você tentasse, eu não conseguiria entender..." A voz macia de Kenshin despertou a jovem mais uma vez. "Mas isso não importa. Eu já cansei de pensar..." 'Se eu puder viver com as minhas memórias... carregar o amor que ela me ensinou... lembrar do calor...eu posso... quem sabe... continuar...' Ele pousou a mão suavemente sobre a cicatriz em forma de cruz. Seus olhos estavam estreitos, carregados de melancolia. "Eu vou continuar... se puder me lembrar... para sempre..."

"Iie..."

            Kenshin olhou a jovem, curioso. Ainda carregava o sorriso triste e plácido e a mão ainda descansava sobre a face esquerda.

"Está errado... Você não pode... Não deve..." Ela sacudiu a cabeça. "Tudo aquilo. Não podia estar certo...era dor demais. Ainda é..."

"..."

"Quando eu percebi isso, descobri que existe algo que se possa fazer..." 'Para arrumar os erros do passado...' "Mas até agora eu não sabia o que era."

"Talvez você tenha razão. Talvez seja dor demais." Kenshin percebeu uma lágrima correr pelo rosto da garota. "Talvez tenha sido um erro do destino..." 'Ou um erro... meu...' "Mas... se eu continuar acreditando que no fim ela vai estar lá... me esperando..." 'Ainda que nos meus sonhos eu deseje que pudesse tê-la de volta...'

"Demo... há... milagres... mudanças."

"Não para mim." Falou Kenshin, um pouco decepcionado.

"Você merece uma segunda chance." Insistiu ela. A cada frase, sua convicção ficava mais clara.

"Eu já joguei fora todas as minhas chances..."

"Tomoe-san... Ela morreu por você. Ela deu sua segunda chance para você." 'E eu... eu vou dar minha segunda chance...para ela...'

"Ela..." 'Não deveria ter sido ela. Eu era o assassino... eu era quem devia ter morrido...' O semblante do espadachim obscureceu-se perante à idéia.

"Eu sei. Não deveria ter sido ela. No entanto, também não deveria ter sido você." 'O erro foi meu. Por isso eu estou disposta... a desistir do que tenho.' "Eu... vou trocar... se você me prometer..."

"..." 'Do que ela está falando...? Trocar... o quê?'

"Prometer..." Os olhos escuros da jovem pareceram perder as pupilas, deixando-a com uma expressão que não parecia humana.

"!!" 'O-o que foi isso?!' _Agora_ Kenshin estava assustado – seus olhos brilharam âmbar por um segundo. "Dare?!" Gritou, num impulso, dando um passo para frente sem antes pensar direito.

            Subitamente, a garota recuou – olhos de volta ao normal – e uma expressão amedrontada. Ela arregalou levemente os olhos, focalizando-os nos de Kenshin e cerrou os dentes, não emitindo nenhum som. Para o homem, mais uma vez, era hora de suas memórias ressurgirem, dolorosamente semelhantes.

*_

            Um jovem espadachim permanecia recostado na parede ao lado da janela aberta. Olhando-o com mais atenção, percebia-se sua respiração lenta e profunda, sincronizada com o subir e descer do peito. Tinha os olhos fechados e sua katana apoiada sobre o ombro, acessível em caso de perigo. Enquanto dormia, seu semblante era totalmente neutro. Quase pacífico.

            Ela passou pela frente do quarto, que tinha o shoji aberto, carregando uma pilha e roupas quando o viu. Estava frio... e a janela... ele estava tão perto. Não foi muito tempo depois que ela retornou ao quarto para onde fora trazida a primeira vez, naquela noite chuvosa. O xale lilás que trazia agora tinha um só objetivo – aquecer o jovem que dormia ao lado da janela. Ela podia não entender porque tivera esse impulso, de aquecê-lo, protegê-lo, mas há muito tempo, ela desistira de tentar explicar o que sentia por ele.

            Com a leveza de sempre, ela caminhou até ele, topando sem querer, num pequeno brinquedo no chão. Um peão. Reprimiu uma vontade de sorrir. Graciosamente, então,  ela ajoelhou-se ao lado do jovem homem e, com cuidado, envolveu-o com seu xale. Fitou-o com certa compaixão por alguns instantes, sua alva mão dirigindo-se lentamente para o rosto dele.

            Aqueles profundos e negros olhos iam enchendo-se com compreensão. Porém, quando os delicados dedos femininos estavam prestes a tocar a face esquerda, duas órbitas de âmbar brilhante abriram-se bruscamente.

            Num segundo, a lâmina prateada da katana voou para o pescoço desprotegido da jovem. Ela tinha seus olhos arregalados e surpresos, expressão assustada. Mas não emitiu nenhum som por dentre seus dentes cerrados – a respiração presa na garganta. Estava paralisada e muda.

            Ele, no último instante, pareceu dar-se conta do que acontecia, de quem era sua vítima. Antes que o metal afiado de sua espada atravessasse sem piedade a carne da garota,  ele conseguiu deter a velocidade do ataque com a própria mão – protegida, como sempre, pelas munhequeiras. Empurrando-a violentamente ao chão, salvou-a da morte certa. Só depois que viu-a - caída no chão, porém ainda viva – é que lembrou-se de respirar. A expressão feroz que tinha, segundos atrás, agora era substituída por uma assustada e nervosa. Suas mãos tremiam, Kenshin suava frio. Ele não conseguia entender o medo – o pavor – que sentiu ao descobrir que Tomoe era o alvo de sua espada.

            Quanto a ela, permanecia imóvel no chão, do mesmo jeito que caíra. Tentava respirar e controlar seu coração, depois de ter garantido que estava inteira. Hesitante, ela virou o rosto na direção do homem que acabara de atacá-la, mas não atreveu-se a olhá-lo nos olhos. A expressão de ódio e fúria que vira, deformando o rosto dele, ainda palpitava em sua mente.

"O que..." Começou ele, entre a respiração entrecortada, ignorando o coração disparado, quando notou algo sobre seus braços.

            O xale lilás pendia de seu antebraço e, quando a voz suave de Tomoe começou a soar tímida no ar, ele entendeu.

"Está esfriando e você... dormia perto da janela, então eu..."

"Gomen nasai." Interrompeu o espadachim, fechando os olhos. Sentia-se irremediavelmente envergonhado e, acima de tudo, culpado por ter posto uma vida inocente em risco. Ele segurou o xale com força entre os dedos. 'Gomen nasai, Tomoe.'

_*

"Gomen nasai." Repetiu Kenshin, sem saber ao certo se dizia isso para Tomoe ou para aquela garota.

"Eu não consigo mais pensar..." Sussurrou a jovem, levando a mão à cabeça. Haviam lágrimas presas em seus olhos.

"Então, não pense." O homem ofereceu a mão para que ela pudesse levantar. "Nem chore mais." Ele não podia evitar, sentia uma afinidade natural com aquela jovem.

            Em resposta, o olhar negro captou o agora violeta de Kenshin e assim permaneceu por alguns instantes.

"Ela..." Murmurou fracamente a desconhecida. "...morreu..." Kenshin enrijeceu o corpo, mas ela continuou a falar. "...sorrindo."

"..." Isso ele não esperava ouvir. 'Demo... como...?' A voz da garota interrompeu novamente seus pensamentos. 'Como ela pode saber??'

"Porque... você iria viver." Completou ela, pendendo a cabeça para o lado ao encarar o espadachim.

            Himura permanecia parado no lugar, entendo – mas não compreendendo – cada palavra.

"Agora... Eu entendo." 'Não era eu quem devia matá-lo...' O rosto dela parecia clarear, os olhos ganhavam um novo brilho. 'Todo esse tempo, não era isso que ela queria.'

            Kenshin desistiu de perguntar, ele sentia que logo iria achar uma resposta. Ao invés disso, inclinou-se e estendeu mais a mão e esboçou um leve sorriso. Ele sentiu a mão macia – e assustadoramente fria -  deslizar sobre a sua calejada. Este contato produziu um arrepio que correu-lhe pela espinha. O sorriso que ele mantinha se alargou.

            Quando já estavam ambos de pé frente a frente, um silêncio estranhamente reconfortante. Este só foi quebrado pelo som de um passo leve sobre as folhas no chão. A jovem dera um passo na direção de Kenshin e, tirando os olhos dos dele, dirigiu-os para a direita.

            O espadachim ruivo sentiu o peso do olhar dela recair sobre sua famosa cicatriz. O sorriso que ele mantinha se desfez. As perguntas recomeçaram a aturdi-lo.

"Ima..." Começou ela, claramente. "Vamos lutar."

"Nani?" Pego de surpresa, Kenshin recuou.

"Não existe outra opção." 'Para que algum de nós morra hoje, aqui, é preciso um confronto.' Ela sorriu tristemente.

            Preparando-se para contestar, Kenshin foi silenciado. A jovem tirara a sua mão da dele, e pressionara o dedo indicador sobre seus lábios, impedindo-o de falar e prosseguiu.

"Lembre-se. Eu posso lembrar-lhe dela, mas não sou pura como ela. Quantas pessoas eu matei para chegar aqui?" Ela percebeu Kenshin gelar. "Você _tem_ que lutar comigo. Quanto a isso, não há escolha. Mesmo que meus objetivos tenham mudado um pouco, a resposta ainda vai estar nessa luta."

            Kenshin adquiria uma expressão cada vez mais fria. Aquela jovem matara muitas pessoas – e ele quase se esquecera disso só por que ela tinha uma incrível semelhança com sua esposa. 'Ela não é alguém comum. Tem algo muito estranho... sobre os olhos dela...'

"Vamos?" Disse ela, sorrindo.

"Eu não posso morrer." Murmurou ele, pressentindo que, daquela luta, algum deles não voltaria. 'A minha vida não é mais minha. Ela tem o peso da vida daqueles que matei... daqueles que morreram por mim... e dela.'

"Então, não morra." Ela ainda sorria.

"Demo... Eu também não posso matar você." Kenshin forçou-se a dizer, um pouco a contragosto. 'Não sei se agüentaria... ver... tudo de novo.'

"Hai. Eu sei." A garota assentiu com a cabeça. " Eu sei o que você prometeu. E não estou pedindo que quebre esta promessa." 'Pelo contrário... enquanto você acreditar nisso, tudo vai acabar bem.' "Por isso, eu quero que você me prometa..." Os olhos dela tornaram-se inumanos por alguns instantes. "Prometa que não vai se sentir culpado."

"..." 'Culpado...? Por que eu me sentiria _mais_ culpado...?' Kenshin percebeu que ela falava sobre a morte. A dele, ou a dela. Ele relutou. "Shikashi..."

"Agora, _esta_ é a sua promessa." Concluiu ela. Ele não falou mais nada.

            Sem mais palavras, a jovem pegou sua espada e descartou a bainha. Ela não deixou de perceber quando Kenshin, ao pegar sua sakabatou, deslizou os dedos carinhosamente pela bainha, antes de pousar a mão sobre o cabo dela. Diante disso ela sorriu novamente.

"Hajimemashou." Ordenou ela, tomando posição. Não pode evitar de olhar para o céu.

            Na clareira, o sol estava em seu ápice e agora seus raios penetravam facilmente por entre as folhas das árvores, produzindo um jogo de luz e sombra no chão de terra. Acompanhando o movimento das copas verdejantes na brisa, os ébanos olhos da garota finalmente encontraram um pedacinho de azul do céu entre as nuvens.

            Hiten Mitsurugi Ryuu.

            Ela nunca chegou a sair do lugar – nem ao menos deixou seu sorriso vacilar. Somente seus olhos, que antes vislumbravam o céu, agora caíam num infinito semelhante – os olhos de Himura Kenshin.

'Por que chora...?' Pensou ela ao perceber lágrimas ainda contidas nos olhos de seu assassino.

            Kenshin sentia os olhos molhados, via as lágrimas começarem a escorrer e misturar-se com o sangue que pingava de sua cicatriz. Ele fechava os olhos, mas algo os mantinha abertos para ver a sua sakabatou – a qual ele virara a lâmina – atravessando a pele e a carne da garota. O espadachim podia sentir o sangue quente e vermelho dela, fluindo, cobrindo suas mãos e trazendo-lhe arrepios. Culpa. Dor. Prazer.

            Em meio ao turbilhão de sensações, os olhos dos dois se encontraram. Kenshin viu que os dela estavam daquele jeito... inumano, sem pupilas, somente uma íris negra rajada de castanho. Vazia.

            A jovem caiu, primeiramente, sobre os joelhos, pendendo para o lado e, por fim, tombando no chão que, pouco a pouco, empapava-se com seu sangue. Kenshin ajoelhou-se ao lado dela, enquanto sua mão tremia incontrolavelmente no cabo da espada, ainda enterrada no corpo da jovem. Olhando aquela cena, procurou instintivamente pela bainha de sua espada, sem sucesso.

'Tomoe... Tomoe...'

"A...na...ta..." Sussurrou ela, com esforço. "Você... prometeu..."

'Eu sei.' Pensou ele, mas naquele momento, quando ele perdeu Tomoe e a bainha de sua espada, parecia que o sonho de tê-la novamente havia sido apenas uma ilusão.

"Uma... vida... pela outra..." Tentou confortá-lo, a jovem, sabendo o que ele pensava. Ergueu a mão e pousou-a com a leveza de uma pétala sobre a cicatriz do homem. "...é assim... que termina."

'E começa...' Kenshin disse a si mesmo, ao perceber que o perfume no ar estava ficando mais forte do que o cheiro do sangue. "Namae wa...?" Perguntou ele, meio incerto.

            Ela não esperava essa pergunta – não esperava querer ser lembrada – e sorriu, entreabrindo os lábios, deixando escapar um suspiro e, com ele, a chance de responder. Dentro da mente de Kenshin, ele pôde ouvir claramente a resposta - 'Hana...' – e, indiscutivelmente, a voz que lhe falava era muito familiar.

"Tomoe." Murmurou ele, sentindo a esperança voltar ao seu coração.

            A mão gélida da garota caiu ao chão antes que, pela última vez, ela captasse o olhar de Kenshin e, finalmente, admirasse aquele pequeno pedaço azul de céu, que parecia se abrir para ela.

'Kore wa... ongaku desu ka...?' Foi o último pensamento a ocorrer à jovem. Ela, também morreu sorrindo – sabia que voltaria para casa.

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            'Tadaima.'

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            O sol ofuscou os olhos de Himura Kenshin por breves segundos.

"Okaerinasai..." Levantando-se, ele – enfim – sorriu. "...Tomoe."

*  O w a r i  *

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"The scenery is evergreen

I need you far too much, I long to feel your touch

This scenery is evergreen

You've always been so dear to me"

Evergreen – Hyde

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Traduções:

Tadaima: Diz-se ao chegar em casa, algo como 'Estou de volta.' (O.o)

Okaerinasai: Diz-se àquela pessoa que chegou em casa... O.o Algo como 'Seja bem vindo de volta.'

Kore wa ongaku desu ka: Tipo: 'Isto é uma canção?'

Namae wa: Tipo: 'Qual é o seu nome?'

Hana: Flor, em japonês.

Hajimemashou: Tipo: 'Vamos começar.'

Shikashi: Mas

Demo: Mas

Sakabatou: A espada de lâmina invertida que Kenshin usa.

Nani: 'Quê' , 'O quê'

Ima: Agora.

Gomen nasai: Me desculpe.

Katana: Espada japonesa.

Shoji: Aquelas divisórias, tipo portas de correr, que tem nas casas japonesas.

Dare: Quem

Dare ka: Quem é? Quem?

Iie: Não.

Hai: Sim.

Aa: Sim (mais informal).

Daijoubu: Tudo bem

Daijoubu ka: Tudo bem?

Nan da?: O que é?

Sessha: Algo como 'este servo', que é a forma como o Kenshin se trata, sem usar o pronome 'eu'.

Wakaranai: Não sei/ Não entendo.

Doushite: Por que

Atashi wa: Eu... (O.o)

Nan de mo nai  (Nahn dhe moh nahi, no caso da Kaoru u.u"): Nada.

Hakama: Aquelas calças com cinco pregas que o Kenshin usa. (*-* Whoah...)

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            Ahn... Acabou... e você deve estar pensando... "Meu Deus eu li ISSO?? Pra quê??" É... mas é que... tudo vai ser esclarecido... vai sim... Por que esse fic vai ter uma continuação. Tipo, se vc quiser parar de ler por aí mesmo, também pode... Mas enfim, né? ^-^ Pode ser que esteja meio confuso... eu mesma fiquei meio perdida quando tava escrevendo... Mas eu vou tentar ajeitar tudo... Assim que vcs me mandarem rewiews, né! ^-^ Huahuah sem brincadeira, agora...

            A música lá em cima é uma linda linda linda do Angra... Que fechou direitinho com o Kenshin e a Tomoe... porque ela morreu na véspera do ano novo... ;_; Isso é muito triste... Bom! Quanto à música do final... eu não tenho comentários a fazer... Ela é simplesmente PERFEITA!! (Tá que eu tenho uma quedinha pelo L'Arc e tal, mas é sério) A letra é linda, a melodia é linda... e, novamente, fecha direitinho com o Kenshin e a Tomoe... (se bem que eu conheço umas cem músicas que fecham com os dois... ¬¬")

            A seqüência deste fic já está com uns 2 capítulos prontos, mas a idéia dela pode não agradar à todos, por isso eu separei a história num fic diferente... Mas as respostas pra muitas coisas que ficaram 'no ar' neste fic vão estar lá. E garanto que vai ter mais pancadaria, tááá? Bom, quem reler a história pode perceber algumas mudanças... Eu revisei todos os capítulos, mudei algumas coisinhas... mas se ainda houverem erros eu peço que me avisem... Tá? Então, tá... ^-^ Eu acho que, por enquanto é isso...

Lembrem-se: qualquer sugestão, reclamação, ameaças, declarações de amor, pedidos de casamento e similares continuam sendo bem vindas! =^-^°=
 
Para entrar em contato comigo é só me mandar um email (rei_tomoe_himura@hotmail.com), ou me procurar no ICQ (256531776)
 
 
 
            Dou-mo  a-ri-ga-tou,
 
                        Tomoe Ayanami.