6. COMPETIÇÃO
Até o fim da detenção, Sirius e Anne estudaram animagia toda noite, mas como eles limparam os livros um dia antes do fim do prazo, as aulas passaram a ser na sala secreta de Anne. Os dois iam para a sala em capas de invisibilidade depois que seus colegas de quarto dormiam, a garota, com a do irmão, Black, com a de Potter.
Quanto aos estudos, Anne estava aprendendo rapidamente a teoria de animagia, graças aos livros de animagia que ela já havia lido. Mesmo sem deixar claro, Sirius estava bastante impressionado. Ele próprio, que era bom em Transfiguração, demorou um pouco para entender as teorias complicadas. Tudo estava bem, até que chegou a lua-cheia.
Como nas últimas semanas, Anne foi para a sala na capa de invisibilidade do Severo, e esperou Sirius. Esperou, esperou, e esperou, até a meia-noite, uma hora, duas horas, e nem sinal dele. Ela começara a ficar irritada. Era a primeira vez que Sirius não aparecia. E realmente não iria aparecer, pois quando um relógio tocou três vezes, ela desistiu de esperar e voltou para as masmorras, caminhando com passos duros, rangendo os dentes, e murmurando que Black teria que dar uma boa desculpa por não ter aparecido.
Eles só conversaram outra vez na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Sirius praticamente arrastou Anne até uma das últimas cadeiras da sala, e a garota teve um certo trabalho para que o irmão não percebesse. Enquanto o professor explicava a matéria, os dois conversavam em voz baixa.
- É bom você ter uma boa desculpa para você não ter aparecido ontem!
- Estava doente. - ele respondeu dando de ombros.
- Madame Pomfrey sabe perfeitamente como cuidar de qualquer doença, porque você não foi para a enfermaria? Ela daria uma poção qualquer, você teria que ficar descansando por um tempo, e depois iria para a sala!
- Você acha que eu não fiz isso? Mas ela não tinha poção nenhuma.
Anne olhou desconfiada para Sirius. Quando ele falava, parecia que só estava repetindo um texto decorado. Com certeza ele estava mentindo, mas por enquanto Anne deixou ele pensar que ela não tinha percebido nada, assim seria mais fácil descobrir o que realmente havia acontecido.
Sirius ficou mais tranqüilo quando Anne parou de fazer cobranças, achando que ela tinha acreditado, e pensando que era uma ironia enganar alguém com a mesma frase que foi usada antes para enganá-lo.
- Está bem. Hoje você vai aparecer?
- Vou, mas tem que ser mais cedo, eu tenho que treinar para o jogo contra a Sonserina.
- É, vocês da Grifinória tem que treinar mesmo se quiserem chegar perto do nível do time da Sonserina - Anne disse com orgulho do time da casa.
- Só se nós formos treinar para sermos perdedores! Esqueceu quem foi que ganhou o campeonato do ano passado? Eu fiz quinze gols, e a captura do pomo pelo Pontas foi perfeita!
Anne riu com sarcasmo.
- Você fez quinze, mas eu me lembro que o Hopkins fez vinte, e quando o Potter pegou o pomo, o jogo estava duzentos e setenta a cento e oitenta para a Sonserina. Falando na captura do pomo, seu amiguinho só conseguiu porque o pomo estava praticamente no nariz dele e o Jewkes estava do outro lado do campo. O único trabalho que seu amigo teve foi o de voar para a esquerda e esticar a mão. Aquilo não teve nada de perfeito, foi pura sorte.
- Co-como você sabe isso? - Sirius perguntou, surpreso - Garotas não entendem de quadribol!
- Talvez aquelas manequins com quem você sai não entendam, mas as normais sim, e muitas vezes jogam melhor do que garotos. O time da Lufa-lufa é quase que totalmente formado por mulheres, menos os dois batedores, e o da Corvinal tem duas artilheiras e uma batedora, e até a Grifinória tem uma goleira, e todas elas são ótimas jogadoras. Quer dizer, menos a goleira da Grifinória. Ela só consegue defender o gol porque tem medo que a goles estrague o rosto dela.
- A Allison é assim mesmo... - Sirius disse encabulado, mas com um sorriso maroto no rosto - Ela só tentou ficar com a vaga de goleiro por minha causa, sabia?
- Não, e poderia ter ficado sem essa!
Com raiva, Anne voltou a atenção para o professor, mas dessa vez, além da costumaz raiva que sentia por causa de Sirius e suas brincadeiras, a garota sentiu algo que nunca havia sentido antes, e não falou mais nada.
Quando a aula terminou, Anne arrumou o material sem olhar para Sirius, e saiu apressada da sala. Enquanto ia para as masmorras, ela escutou dois garotos conversando:
- Quer dizer que o Lestrange não vai poder jogar?
- É, o Hopkins está uma pilha, o jogo é daqui a quinze dias, não vai ter tempo para escolher um novo artilheiro e treinar ele para o jogo, mas de qualquer forma ele marcou os testes para amanhã.
Anne foi para o dormitório, mas não estudou. Uma idéia começava a surgir em sua cabeça, e com essa idéia, ela provaria para Black que garotas entendiam sim de quadribol. Ela só se distraiu quando Narcisa e as outras duas colegas entraram no quarto.
- O que foi, Snape? Pensando na morte do hipogrifo? Ou está com saudade de ter cabelo no nariz? Se você quiser, eu posso te arrumar um num girar de varinha.
Anne ignorou Narcisa, se levantou da cama e saiu apressada do dormitório, enquanto Narcisa e suas amigas riam dela.
-x-x-x-
- Olha, se você não for levar o treinamento a sério, me avisa, está bem?
Era a aula de Poções, e aproveitando que faziam dupla juntos, Sirius perguntava a Anne, zangado, o motivo por ela ter faltado à aula do dia anterior.
- Digamos que estamos empatados agora.
- Então isso foi uma vingança... - ele olhou como se tivesse percebido o real motivo da falta da garota à aula anterior - Será que é só nisso que você pensa?
- Não - ela disse com franqueza.
- De qualquer forma, você ainda não me disse porque você não foi para a aula.
- Tive que ir para a enfermaria, e sabe o que Madame Pomfrey disse para mim? Que não tinha nenhuma poção faltando! Ela disse que faz questão de manter o estoque sempre cheio.
Sirius engasgou e tossiu.
- Er... Você deve ter tido seus motivos... para não ter ido... - ele olhou para o professor, e desviou a atenção dela antes que Anne perguntasse o verdadeiro motivo por ele não ter aparecido no outro dia - Olha, o professor vai explicar o que vamos fazer hoje, e lembre-se, isso pode cair nos NOM's.
Anne virou o rosto, tentado impedir que Sirius visse que ela sorria, se achando esperta demais por ter enganado o rapaz e ter descoberto que ele havia mentido na outra vez, sem ter posto um pé na enfermaria, mas Sirius não precisava saber disso.
Eles só conversaram de novo enquanto colocavam os ingredientes da nova poção no caldeirão.
- Então, Snape, soube que o artilheiro da Sonserina se machucou... Eles já arrumaram outro?
Anne deu de ombros e disse com desinteresse.
- Não faço a mínima idéia. O teste vai ser hoje, depois da aula.
- Você não vai tentar? - Sirius perguntou com um sorriso cínico no rosto, e duvidando que mesmo se ela tentasse ela conseguiria uma vaga no time.
- Oh, eu não preciso disso - a garota respondeu, sem desviar a atenção da poção.
Os dois se calaram, pois o professor se aproximava para ver se eles estavam fazendo a poção direito. Depois dos dois acidentes envolvendo Anne e Sirius, ele havia ficado muito mais desconfiado, e isso era o mínimo que ele poderia fazer para prevenir que no futuro não acontecessem novos acidentes. Depois que todos terminaram a poção, ele encerrou a aula e os alunos começaram a arrumar suas coisas. Enquanto Anne arrumava os livros e guardava o caldeirão, Severo foi falar com a irmã.
- Anne, tem alguma coisa acontecendo? - ele perguntou, preocupado com a irmã. Ela não estava mais tão próxima a ele como costumava ser, e ele sentia falta disso.
- Como assim, Severo?
- Bem, é que você tem estado mais... - Severo estava embaraçado demais, e realmente não queria ter essa conversa, mas ao mesmo tempo precisava esclarecer as coisas com a irmã - Você sabe, você sempre foi quieta, e de repente você está procurando conversar com os outros alunos...
- O que falaram para você, Severo? - ela perguntou, apreensiva.
- Eu vi você falando com o Hopkins e o Gubber.
- Ah, isso! - ela disse aliviada por ele não ter visto ela conversando com Black. - Eu fui perguntar como o Lestrange estava.
- Você nunca foi amiga dele, não que eu saiba. - o rapaz disse, intrigado.
Anne corou por Severo ter descoberto a mentira, mas ele interpretou de outro modo.
- Não me diga que... - ele sorriu, orgulhoso - Anne, você está apaixonada por ele?!
Severo quase não acreditava. O que ele mais queria era que a irmã encontrasse amigos, mas amigos à altura dela, que fossem sonserinos respeitosos, e melhor ainda seria se ela namorasse um. O rapaz estava tão contente que achou que quando a irmã virou o rosto era porque ela estava envergonhada, mas na verdade, Anne escondeu o rosto para que Severo não percebesse que ela mentia. Quando ela virou o rosto, Anne viu que Sirius estava saindo da sala. Com certeza havia escutado tudo, mas assim que percebeu que havia sido descoberto, Sirius desapareceu.
- Não precisa ter vergonha disso, Anne...
- Ahn? - ela disse, se lembrando que Severo estava na sala, e para que o irmão não desconfiasse de nada, ela continuou a farsa - Você não vai dizer nada para ninguém, não é, Severo?
- Claro que não. - ele sorriu para ela - Se você quiser, eu posso fazer com que ele vá ao baile com você.
- Você pode?! - Anne fingiu estar animada. Era melhor que Severo pensasse que ela estava apaixonada por Lestrange do que outra coisa - Não, não vai dar certo... Ele não vai querer ir comigo, ele vai me achar uma boba...
- Não se preocupe com isso. Eu vou fazer com que tudo dê certo.
- Obrigada, Severo! - ela disse antes de abraçar o irmão, sentindo mais um alívio por ele não ter percebido nada do que qualquer outra coisa.
- O que eu não faço para ver você feliz... - ele afastou a irmã e perguntou com o sorriso ainda no rosto. - Você vai para o dormitório?
- Não, eu tenho que falar com um professor. - a garota disse, sem se importar por estar mentindo. Queria terminar aquela conversa antes que se tornasse mais embaraçosa do que já estava sendo.
- Está bem. Cuide-se.
Depois de dar um rápido beijo na testa de Anne, Severo saiu da sala. Anne terminou de arrumar os seus livros e saiu desanimada na sala. Era mais uma vergonha que ela passava por causa de Sirius.
-x-x-x-
Quando Anne chegou na sala, Sirius estava dando voltas, e parecendo cansado de esperar. Ele olhou para ela com algo mais do que raiva no olhar.
- Foi por isso então que você não apareceu ontem? Foi visitar o seu namoradinho?!
- Isso não te interessa - ela respondeu sem emoção.
- Interessa sim! Eu não aceitei ensinar animagia para você ficar faltando por causa de namorados!
Aquela insistência em ficar com raiva de Anne por ela não ter ido uma vez para a aula quando ele também havia deixado de ir uma vez deixou a garota irritada. Ela não devia explicação nenhuma sobre o que fazia ou deixava de fazer para ele.
- Ah, então é isso! Você está com raiva porque eu tenho um namorado?! - a garota disse não resistindo à tentação de irritar Black.
- Claro que não! E eu sei muito bem que ele não é seu namorado, só mesmo o seu irmão para acreditar que você pode estar apaixonada por um idiota como o Lestrange, mas de qualquer forma você não pode me fazer de palhaço enquanto fica na enfermaria por causa de um palerma como o Lestrange! - Sirius disse espantado com ele mesmo, sem entender direito porque estava sentindo tanta raiva somente por causa da possibilidade da garota ter algum envolvimento com Lestrange.
- Você está zangado porque eu não estou interessada em você! Você não suporta a idéia de que uma garota em todo esse maldito castelo pode resistir a esse seu olhar patético e à sua conversa tão profunda quanto um pires! - o que havia começado como uma brincadeira, agora era uma briga séria para Anne.
- Pouco me importa se você está interessada em mim ou não! Eu só não quero que desperdicem meu tempo! Se você quer levar isso a sério, então não deixe de vir por besteiras!
- Eu levo isso a sério sim, tanto que estou aqui, te escutando, enquanto você fica inventando discussões quando eu poderia muito bem sair! Agora me diga, quem está levando isso a sério?
Anne falou com o dedo indicador apontado para Sirius que, ofendido, segurou o pulso da garota com força. Os dois se encararam sérios, sem desviar o olhar um do outro, ambos furiosos. Eles ficaram assim por um longo tempo até que Sirius largou o braço da garota com força.
- Abra o livro no capítulo catorze - ele disse sem encará-la.
Ainda zangada, a garota abriu o livro. Mas um sorriso logo surgiu no rosto dela. Ela adorou ver Sirius irritado.
-x-x-x-
Durante as duas semanas seguintes, Anne sempre se atrasou para as aulas de animagia. No começo, Sirius brigava com ela, mas assim que começaram os boatos de que o time de quadribol da Sonserina tinha cancelado a seleção do novo artilheiro e que o artilheiro que eles haviam escolhido era uma espécie de arma secreta para o jogo contra a Grifinória, Sirius passou a se atrasar tanto quanto Anne, pois o time da Grifinória não queria ser pego de surpresa.
Tudo continuou até que finalmente chegou o dia do jogo da Sonserina contra Grifinória.
-x-x-x-
- Acorda, Almofadinhas!
Sirius ignorou o chamado de Tiago, e colocou o travesseiro em cima da cabeça.
- Vamos lá, Almofadinhas, não me diga que esqueceu que dia é hoje?!
Tiago escutou um murmúrio vindo debaixo do travesseiro.
- Pontas, se você é meu amigo, me deixa dormir!
- Almofadinhas, justamente por eu ser seu amigo eu não posso deixar você dormir! Se você não ficasse acordado até tarde namorando escondido, você não estaria com sono.
- Cala a boca, Pontas! Eu não estou namorando ninguém! Já disse que estou procurando passagens secretas! Agora, você vai me deixar dormir ou não?
- Claro que não! Esqueceu que hoje é o grande jogo, Almofadinhas?
Sirius se levantou numa rapidez quase inumana.
- O QUÊ?
- Se você for tão rápido para comer como é para se levantar, talvez você ainda possa jogar! - Tiago disse, brincando.
- Engraçadinho - ele disse enquanto se vestia. - Então, descobriram quem é o novo artilheiro da Sonserina?
- Ainda não. Pelo visto, só vamos saber quem é no jogo. Eu gostaria de saber como eles conseguiram treinar esse artilheiro escondido de todo mundo!
- Quer saber qual é a minha teoria, Pontas?
- E eu tenho outra alternativa?
- Não! - os dois riram, e Sirius continuou. - Na minha opinião, eles não treinaram o novo artilheiro e fizeram todo esse mistério para desestabilizar o nosso time, foi só isso. O novo artilheiro deve ser uma porcaria como todo o resto do time.
- É uma boa teoria... Mas chega de perder tempo, você já está pronto?
- Quase, mas você pode ir na frente.
- Certo, eu vou te esperar no salão principal, tudo bem?
- Tudo bem. - Tiago saiu.
Depois que se vestiu, Sirius foi para o salão principal.
- O time já foi para o vestiário, Almofadinhas.
- Ok, vamos lá - Sirius disse, pegando uma maçã.
No vestiário, o capitão do time, um rapaz do sétimo ano de sorriso contagiante, começou a falar depois de todos os jogadores estarem vestidos com os uniformes da Grifinória.
- Certo, pessoal, nós treinamos muito e posso garantir que nunca estivemos tão bem preparados para um jogo como hoje. Não importa se eles têm um novo artilheiro, pois eu confio totalmente nos nossos artilheiros.
Sirius e mais dois garotos agradeceram com um aceno, e uma garota loira olhou com um ar bobo para Sirius. O capitão continuou.
- E confio em todos vocês também. Agora nós só temos que montar em nossas vassouras e mostrar quem somos para a Sonserina.
Os jogadores da Grifinória aplaudiram, e saíram do vestiário. O sol brilhava fraco, e várias nuvens cinzas estavam no céu, mas nem a probabilidade de chuva preocupou os jogadores. Até que Sirius viu o time da Sonserina sair do vestiário e viu entre os jogadores do time adversário Adrianne Snape.
Os jogadores da Grifinória estavam surpresos ao ver que Adrianne Snape era a nova artilheira da Sonserina, mas Sirius estava estupefato. Ele só conseguiu parar de olhar para Anne quando Tiago o cutucou com o cotovelo.
- Vocês fazem dupla na aula de Poções, não é?
Sirius concordou com a cabeça.
- E você nunca suspeitou de nada?
- Nada. Ela conseguiu disfarçar direitinho - ele deu uma risada. - Isso vai ser mais fácil do que eu pensava, Pontas!
-x-x-x-
O coração de Anne batia fortemente quando ela saiu do vestiário da Sonserina. Ela tentava se lembrar de tudo o que Hopkins havia dito nos treinamentos, até que ela escutou o som da risada de Sirius. Ela olhou com raiva para ele, e murmurou.
- Ele vai ver como garotas podem entender de quadribol!
Em seguida, ela montou na vassoura e subiu, ficando com os outros jogadores da Sonserina. Depois do apito, o jogo começou.
A goles foi diretamente para as mãos de Adrianne, e depois de uns instantes em que ela não soube exatamente o que fazer e só olhou surpresa para a bola, ela partiu para o gol da Grifinória. Anne desviou de dois balaços e estava se aproximando do gol quando Sirius surgiu na frente dela, ameaçador. Ela deixou que ele se aproximasse até que no ultimo momento, ela desviou dele com uma pirueta e passou a goles para Gubber, que marcou o primeiro gol da partida.
Agora a posse da goles estava com a Grifinória. Sirius estava fazendo uma jogada que Anne já havia observado antes. Um dos artilheiros jogava a goles por cima do ombro para o outro. Era uma jogada muito difícil de se fazer, mas graças ao sincronismo dos artilheiros da Grifinória, quase sempre dava bom resultado. Anne só teve que fazer um sinal para que Hopkins jogasse os balaços em cima dos artilheiros da Grifinória e ficar no lugar onde eles deveriam estar. Quando Sirius percebeu o que havia acontecido, era tarde demais. Anne estava com a goles, voando em direção ao gol o mais rápido possível, e depois de desviar de um balaço e de um artilheiro, ela marcava o seu primeiro gol com o uniforme do time de quadribol da Sonserina.
Durante o restante da partida, a disputa entre Anne e Sirius foi crescendo cada vez mais, mas no fim do jogo, a vitória ficou com a garota, nos dois sentidos. Tanto a Sonserina havia ganho o jogo quanto ela havia marcado mais gols do que Sirius e qualquer um dos outros cinco artilheiros.
A torcida da Sonserina vibrava contente com o fim do jogo e a vitória do time. Em sua vassoura, Anne assistia à comemoração da torcida mais feliz até do que os sonserinos. Aquela era a primeira vitória da Sonserina contra a Grifinória em três anos, e ela se sentia orgulhosa por ter participado da partida.
Quando o time entrou nas masmorras, os alunos já estavam festejando, e a comemoração aumentou mais ainda quando os sete jogadores chegaram. Joah Jewkes, o apanhador, e Anne foram erguidos, pois estavam sendo considerados os responsáveis pela vitória do time. De cima, Anne sorriu com prazer, mas foi quando ela viu o olhar de orgulho de Severo que se sentiu satisfeita por ter entrado no time. Assim que ela conseguiu, foi falar com o irmão.
- Você não está zangado por eu não ter te contado que eu era a nova artilheira, está?
- Bem, um pouco, mas estou orgulhoso por você ter jogado tão bem. Você fez um ótimo trabalho, Anne. Foi ótimo ver aqueles grifinórios perderem.
Anne sorriu, orgulhosa por Severo estar feliz por sua causa, e o abraçou.
-x-x-x-
Naquela noite, Anne e Sirius não tiveram treinamento porque as comemorações pela vitória só terminaram às três da manhã, mas na noite seguinte, quando Anne entrou na sala, Sirius estava lá, e não parecia nada satisfeito.
- Por que você não me disse que era a nova artilheira da Sonserina?
- Desde quando eu te devo explicações? - ela disse com desinteresse - Você não é nada meu!
Ela conseguiu que ele ficasse calado, mas não por muito tempo.
- Isso não importa! Qualquer pessoa decente teria contado!
- Eu não contei porque você não perguntou!
- Ah, tá certo, agora eu acredito em Papai Noel e em Coelho da Páscoa. Duvido que você teria me contado se eu tivesse perguntado, Snape, porque você é um deles, você é uma sonserina, só pensa em você mesma e em conseguir o que quer, mesmo que tenha que passar por cima dos outros.
Anne se ofendeu com o que ele disse e o tom de desprezo que o rapaz usou, e sem pensar duas vezes, ela ergueu a mão e acertou a face de Sirius.
- Nunca, nunca fale assim comigo! Você não tem o direito de me ofender assim! - o rosto de Anne estava vermelho, e ela ofegava.
- Eu também não sou obrigado a escutar essas coisas, eu não sou nenhum empregado seu! Se você quiser, pode continuar sozinha, mas eu não vou mais ficar perto de você nem por um minuto!
A garota fechou a mão com fúria. O que ela mais queria era ficar livre de Sirius para sempre, mas Anne tinha medo de continuar aprendendo animagia sem que alguém supervisionasse e alguma coisa desse errado. Dessa vez, ela teve que engolir o orgulho.
- Espere! - ela disse tentando parecer arrependida - Por favor, se você for, não sei como eu vou conseguir fazer isso sozinha! Por favor, fique! Eu prometo que nunca mais vou fazer isso. Eu juro!
Sirius ficou pensando por alguns instantes.
- É a última chance que eu estou te dando. - ele disse com seriedade - Se você fizer só mais uma besteira, eu não vou nem ligar se você vai dizer que eu sou um animago ou não, mas eu caio fora, entendeu?
Ele nunca havia visto Adrianne Snape se humilhar daquele jeito, e de certa forma, ele gostou de ver o olhar apreensivo da garota e de saber que ela dependia dele, mas não era por isso que ele iria continuar as aulas. Quando Anne pediu desculpas, Sirius percebeu que talvez ele pudesse fazer com que a garota deixasse de ser orgulhosa. Ele sabia que seria um desafio, mas Sirius nunca havia fugido de um desafio antes, e não seria agora que ele iria fazê-lo.
- Entendi. - ela acenou positivamente com a cabeça - Eu acho que é melhor nós irmos dormir, não estou concentrada o bastante para estudar.
- Está bem, mas antes eu queria falar com você... Eu também exagerei um pouco, eu não devia ter te provocado... - ele desviou o olhar da garota, encabulado, e Anne olhou um pouco mais calma para ele, surpresa também. Nunca imaginou que Sirius pediria desculpas a ela por uma atitude errada que ele havia tido.
- Não, a culpa toda foi minha. Eu não devia ter te dado um tapa. - pela primeira vez desde que haviam começado a conversar ela estava sendo totalmente sincera. E isso a assustava.
- Olha, é melhor nós pararmos, senão vamos brigar novamente para decidir de quem é a culpa! - ele sorriu, e Anne sorriu de volta - Vamos dizer que nós dois tivemos culpa, mas como um desculpou o outro, vamos deixar as coisas assim.
- Certo.
Os dois se calaram por alguns instantes até que Sirius disse abruptamente.
- Você jogou muito bem hoje. Ninguém nunca tinha roubado a goles naquela jogada, como você fez isso?
- Eu já tinha observado você fazer aquela jogada antes, e já tinha percebido que não dá para ver se o jogador que está lá é mesmo o do nosso time, só quando ele já está com a goles.
- Como você conseguiu entrar no time da Sonserina sem fazer o teste?
- Foi simples. Eu desafiei Hopkins e Gubber a uma partida de quadribol, e eu consegui sair melhor do que eles. - ela fez uma pequena pausa antes de acrescentar. - Bem melhor.
- Mas onde você treinou escondida durante todo esse tempo? Alguém deve ter visto vocês treinarem...
- Nós treinamos do outro lado do lago. Não conta para ninguém, o Gubber sabe onde ficam os barcos do Hagrid, nós íamos escondidos.
A conversa continuou mais um pouco, e quando eles decidiram ir dormir, saíram da sala juntos, sorrindo. Anne e Sirius foram juntos até as escadas, onde os dois se separariam depois de se despedirem e seguiriam por caminhos diferentes: Sirius, para as torres da Grifinória, e Anne, para as masmorras da Sonserina.
Anne já estava descendo as escadas quando escutou Sirius a chamar de volta.
- Eu queria dizer só mais uma coisa...
- Pode falar.
Sirius corava, e parecia atrapalhado com o que iria falar. Era difícil para ele admitir que estava enganado com a opinião que tinha sobre Anne. O silêncio foi longo antes que Sirius decidir que falaria, e de supetão, ele falou.
- Você entende mesmo de quadribol.
Antes mesmo de terminar de falar a frase, ele subiu correndo as escadas. Anne ficou parada, olhando Sirius subir as escadas até que ele desapareceu, e enquanto ia para as masmorras, ela também pensava que talvez tivesse feito um julgamento errado de Black.
Até o fim da detenção, Sirius e Anne estudaram animagia toda noite, mas como eles limparam os livros um dia antes do fim do prazo, as aulas passaram a ser na sala secreta de Anne. Os dois iam para a sala em capas de invisibilidade depois que seus colegas de quarto dormiam, a garota, com a do irmão, Black, com a de Potter.
Quanto aos estudos, Anne estava aprendendo rapidamente a teoria de animagia, graças aos livros de animagia que ela já havia lido. Mesmo sem deixar claro, Sirius estava bastante impressionado. Ele próprio, que era bom em Transfiguração, demorou um pouco para entender as teorias complicadas. Tudo estava bem, até que chegou a lua-cheia.
Como nas últimas semanas, Anne foi para a sala na capa de invisibilidade do Severo, e esperou Sirius. Esperou, esperou, e esperou, até a meia-noite, uma hora, duas horas, e nem sinal dele. Ela começara a ficar irritada. Era a primeira vez que Sirius não aparecia. E realmente não iria aparecer, pois quando um relógio tocou três vezes, ela desistiu de esperar e voltou para as masmorras, caminhando com passos duros, rangendo os dentes, e murmurando que Black teria que dar uma boa desculpa por não ter aparecido.
Eles só conversaram outra vez na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Sirius praticamente arrastou Anne até uma das últimas cadeiras da sala, e a garota teve um certo trabalho para que o irmão não percebesse. Enquanto o professor explicava a matéria, os dois conversavam em voz baixa.
- É bom você ter uma boa desculpa para você não ter aparecido ontem!
- Estava doente. - ele respondeu dando de ombros.
- Madame Pomfrey sabe perfeitamente como cuidar de qualquer doença, porque você não foi para a enfermaria? Ela daria uma poção qualquer, você teria que ficar descansando por um tempo, e depois iria para a sala!
- Você acha que eu não fiz isso? Mas ela não tinha poção nenhuma.
Anne olhou desconfiada para Sirius. Quando ele falava, parecia que só estava repetindo um texto decorado. Com certeza ele estava mentindo, mas por enquanto Anne deixou ele pensar que ela não tinha percebido nada, assim seria mais fácil descobrir o que realmente havia acontecido.
Sirius ficou mais tranqüilo quando Anne parou de fazer cobranças, achando que ela tinha acreditado, e pensando que era uma ironia enganar alguém com a mesma frase que foi usada antes para enganá-lo.
- Está bem. Hoje você vai aparecer?
- Vou, mas tem que ser mais cedo, eu tenho que treinar para o jogo contra a Sonserina.
- É, vocês da Grifinória tem que treinar mesmo se quiserem chegar perto do nível do time da Sonserina - Anne disse com orgulho do time da casa.
- Só se nós formos treinar para sermos perdedores! Esqueceu quem foi que ganhou o campeonato do ano passado? Eu fiz quinze gols, e a captura do pomo pelo Pontas foi perfeita!
Anne riu com sarcasmo.
- Você fez quinze, mas eu me lembro que o Hopkins fez vinte, e quando o Potter pegou o pomo, o jogo estava duzentos e setenta a cento e oitenta para a Sonserina. Falando na captura do pomo, seu amiguinho só conseguiu porque o pomo estava praticamente no nariz dele e o Jewkes estava do outro lado do campo. O único trabalho que seu amigo teve foi o de voar para a esquerda e esticar a mão. Aquilo não teve nada de perfeito, foi pura sorte.
- Co-como você sabe isso? - Sirius perguntou, surpreso - Garotas não entendem de quadribol!
- Talvez aquelas manequins com quem você sai não entendam, mas as normais sim, e muitas vezes jogam melhor do que garotos. O time da Lufa-lufa é quase que totalmente formado por mulheres, menos os dois batedores, e o da Corvinal tem duas artilheiras e uma batedora, e até a Grifinória tem uma goleira, e todas elas são ótimas jogadoras. Quer dizer, menos a goleira da Grifinória. Ela só consegue defender o gol porque tem medo que a goles estrague o rosto dela.
- A Allison é assim mesmo... - Sirius disse encabulado, mas com um sorriso maroto no rosto - Ela só tentou ficar com a vaga de goleiro por minha causa, sabia?
- Não, e poderia ter ficado sem essa!
Com raiva, Anne voltou a atenção para o professor, mas dessa vez, além da costumaz raiva que sentia por causa de Sirius e suas brincadeiras, a garota sentiu algo que nunca havia sentido antes, e não falou mais nada.
Quando a aula terminou, Anne arrumou o material sem olhar para Sirius, e saiu apressada da sala. Enquanto ia para as masmorras, ela escutou dois garotos conversando:
- Quer dizer que o Lestrange não vai poder jogar?
- É, o Hopkins está uma pilha, o jogo é daqui a quinze dias, não vai ter tempo para escolher um novo artilheiro e treinar ele para o jogo, mas de qualquer forma ele marcou os testes para amanhã.
Anne foi para o dormitório, mas não estudou. Uma idéia começava a surgir em sua cabeça, e com essa idéia, ela provaria para Black que garotas entendiam sim de quadribol. Ela só se distraiu quando Narcisa e as outras duas colegas entraram no quarto.
- O que foi, Snape? Pensando na morte do hipogrifo? Ou está com saudade de ter cabelo no nariz? Se você quiser, eu posso te arrumar um num girar de varinha.
Anne ignorou Narcisa, se levantou da cama e saiu apressada do dormitório, enquanto Narcisa e suas amigas riam dela.
-x-x-x-
- Olha, se você não for levar o treinamento a sério, me avisa, está bem?
Era a aula de Poções, e aproveitando que faziam dupla juntos, Sirius perguntava a Anne, zangado, o motivo por ela ter faltado à aula do dia anterior.
- Digamos que estamos empatados agora.
- Então isso foi uma vingança... - ele olhou como se tivesse percebido o real motivo da falta da garota à aula anterior - Será que é só nisso que você pensa?
- Não - ela disse com franqueza.
- De qualquer forma, você ainda não me disse porque você não foi para a aula.
- Tive que ir para a enfermaria, e sabe o que Madame Pomfrey disse para mim? Que não tinha nenhuma poção faltando! Ela disse que faz questão de manter o estoque sempre cheio.
Sirius engasgou e tossiu.
- Er... Você deve ter tido seus motivos... para não ter ido... - ele olhou para o professor, e desviou a atenção dela antes que Anne perguntasse o verdadeiro motivo por ele não ter aparecido no outro dia - Olha, o professor vai explicar o que vamos fazer hoje, e lembre-se, isso pode cair nos NOM's.
Anne virou o rosto, tentado impedir que Sirius visse que ela sorria, se achando esperta demais por ter enganado o rapaz e ter descoberto que ele havia mentido na outra vez, sem ter posto um pé na enfermaria, mas Sirius não precisava saber disso.
Eles só conversaram de novo enquanto colocavam os ingredientes da nova poção no caldeirão.
- Então, Snape, soube que o artilheiro da Sonserina se machucou... Eles já arrumaram outro?
Anne deu de ombros e disse com desinteresse.
- Não faço a mínima idéia. O teste vai ser hoje, depois da aula.
- Você não vai tentar? - Sirius perguntou com um sorriso cínico no rosto, e duvidando que mesmo se ela tentasse ela conseguiria uma vaga no time.
- Oh, eu não preciso disso - a garota respondeu, sem desviar a atenção da poção.
Os dois se calaram, pois o professor se aproximava para ver se eles estavam fazendo a poção direito. Depois dos dois acidentes envolvendo Anne e Sirius, ele havia ficado muito mais desconfiado, e isso era o mínimo que ele poderia fazer para prevenir que no futuro não acontecessem novos acidentes. Depois que todos terminaram a poção, ele encerrou a aula e os alunos começaram a arrumar suas coisas. Enquanto Anne arrumava os livros e guardava o caldeirão, Severo foi falar com a irmã.
- Anne, tem alguma coisa acontecendo? - ele perguntou, preocupado com a irmã. Ela não estava mais tão próxima a ele como costumava ser, e ele sentia falta disso.
- Como assim, Severo?
- Bem, é que você tem estado mais... - Severo estava embaraçado demais, e realmente não queria ter essa conversa, mas ao mesmo tempo precisava esclarecer as coisas com a irmã - Você sabe, você sempre foi quieta, e de repente você está procurando conversar com os outros alunos...
- O que falaram para você, Severo? - ela perguntou, apreensiva.
- Eu vi você falando com o Hopkins e o Gubber.
- Ah, isso! - ela disse aliviada por ele não ter visto ela conversando com Black. - Eu fui perguntar como o Lestrange estava.
- Você nunca foi amiga dele, não que eu saiba. - o rapaz disse, intrigado.
Anne corou por Severo ter descoberto a mentira, mas ele interpretou de outro modo.
- Não me diga que... - ele sorriu, orgulhoso - Anne, você está apaixonada por ele?!
Severo quase não acreditava. O que ele mais queria era que a irmã encontrasse amigos, mas amigos à altura dela, que fossem sonserinos respeitosos, e melhor ainda seria se ela namorasse um. O rapaz estava tão contente que achou que quando a irmã virou o rosto era porque ela estava envergonhada, mas na verdade, Anne escondeu o rosto para que Severo não percebesse que ela mentia. Quando ela virou o rosto, Anne viu que Sirius estava saindo da sala. Com certeza havia escutado tudo, mas assim que percebeu que havia sido descoberto, Sirius desapareceu.
- Não precisa ter vergonha disso, Anne...
- Ahn? - ela disse, se lembrando que Severo estava na sala, e para que o irmão não desconfiasse de nada, ela continuou a farsa - Você não vai dizer nada para ninguém, não é, Severo?
- Claro que não. - ele sorriu para ela - Se você quiser, eu posso fazer com que ele vá ao baile com você.
- Você pode?! - Anne fingiu estar animada. Era melhor que Severo pensasse que ela estava apaixonada por Lestrange do que outra coisa - Não, não vai dar certo... Ele não vai querer ir comigo, ele vai me achar uma boba...
- Não se preocupe com isso. Eu vou fazer com que tudo dê certo.
- Obrigada, Severo! - ela disse antes de abraçar o irmão, sentindo mais um alívio por ele não ter percebido nada do que qualquer outra coisa.
- O que eu não faço para ver você feliz... - ele afastou a irmã e perguntou com o sorriso ainda no rosto. - Você vai para o dormitório?
- Não, eu tenho que falar com um professor. - a garota disse, sem se importar por estar mentindo. Queria terminar aquela conversa antes que se tornasse mais embaraçosa do que já estava sendo.
- Está bem. Cuide-se.
Depois de dar um rápido beijo na testa de Anne, Severo saiu da sala. Anne terminou de arrumar os seus livros e saiu desanimada na sala. Era mais uma vergonha que ela passava por causa de Sirius.
-x-x-x-
Quando Anne chegou na sala, Sirius estava dando voltas, e parecendo cansado de esperar. Ele olhou para ela com algo mais do que raiva no olhar.
- Foi por isso então que você não apareceu ontem? Foi visitar o seu namoradinho?!
- Isso não te interessa - ela respondeu sem emoção.
- Interessa sim! Eu não aceitei ensinar animagia para você ficar faltando por causa de namorados!
Aquela insistência em ficar com raiva de Anne por ela não ter ido uma vez para a aula quando ele também havia deixado de ir uma vez deixou a garota irritada. Ela não devia explicação nenhuma sobre o que fazia ou deixava de fazer para ele.
- Ah, então é isso! Você está com raiva porque eu tenho um namorado?! - a garota disse não resistindo à tentação de irritar Black.
- Claro que não! E eu sei muito bem que ele não é seu namorado, só mesmo o seu irmão para acreditar que você pode estar apaixonada por um idiota como o Lestrange, mas de qualquer forma você não pode me fazer de palhaço enquanto fica na enfermaria por causa de um palerma como o Lestrange! - Sirius disse espantado com ele mesmo, sem entender direito porque estava sentindo tanta raiva somente por causa da possibilidade da garota ter algum envolvimento com Lestrange.
- Você está zangado porque eu não estou interessada em você! Você não suporta a idéia de que uma garota em todo esse maldito castelo pode resistir a esse seu olhar patético e à sua conversa tão profunda quanto um pires! - o que havia começado como uma brincadeira, agora era uma briga séria para Anne.
- Pouco me importa se você está interessada em mim ou não! Eu só não quero que desperdicem meu tempo! Se você quer levar isso a sério, então não deixe de vir por besteiras!
- Eu levo isso a sério sim, tanto que estou aqui, te escutando, enquanto você fica inventando discussões quando eu poderia muito bem sair! Agora me diga, quem está levando isso a sério?
Anne falou com o dedo indicador apontado para Sirius que, ofendido, segurou o pulso da garota com força. Os dois se encararam sérios, sem desviar o olhar um do outro, ambos furiosos. Eles ficaram assim por um longo tempo até que Sirius largou o braço da garota com força.
- Abra o livro no capítulo catorze - ele disse sem encará-la.
Ainda zangada, a garota abriu o livro. Mas um sorriso logo surgiu no rosto dela. Ela adorou ver Sirius irritado.
-x-x-x-
Durante as duas semanas seguintes, Anne sempre se atrasou para as aulas de animagia. No começo, Sirius brigava com ela, mas assim que começaram os boatos de que o time de quadribol da Sonserina tinha cancelado a seleção do novo artilheiro e que o artilheiro que eles haviam escolhido era uma espécie de arma secreta para o jogo contra a Grifinória, Sirius passou a se atrasar tanto quanto Anne, pois o time da Grifinória não queria ser pego de surpresa.
Tudo continuou até que finalmente chegou o dia do jogo da Sonserina contra Grifinória.
-x-x-x-
- Acorda, Almofadinhas!
Sirius ignorou o chamado de Tiago, e colocou o travesseiro em cima da cabeça.
- Vamos lá, Almofadinhas, não me diga que esqueceu que dia é hoje?!
Tiago escutou um murmúrio vindo debaixo do travesseiro.
- Pontas, se você é meu amigo, me deixa dormir!
- Almofadinhas, justamente por eu ser seu amigo eu não posso deixar você dormir! Se você não ficasse acordado até tarde namorando escondido, você não estaria com sono.
- Cala a boca, Pontas! Eu não estou namorando ninguém! Já disse que estou procurando passagens secretas! Agora, você vai me deixar dormir ou não?
- Claro que não! Esqueceu que hoje é o grande jogo, Almofadinhas?
Sirius se levantou numa rapidez quase inumana.
- O QUÊ?
- Se você for tão rápido para comer como é para se levantar, talvez você ainda possa jogar! - Tiago disse, brincando.
- Engraçadinho - ele disse enquanto se vestia. - Então, descobriram quem é o novo artilheiro da Sonserina?
- Ainda não. Pelo visto, só vamos saber quem é no jogo. Eu gostaria de saber como eles conseguiram treinar esse artilheiro escondido de todo mundo!
- Quer saber qual é a minha teoria, Pontas?
- E eu tenho outra alternativa?
- Não! - os dois riram, e Sirius continuou. - Na minha opinião, eles não treinaram o novo artilheiro e fizeram todo esse mistério para desestabilizar o nosso time, foi só isso. O novo artilheiro deve ser uma porcaria como todo o resto do time.
- É uma boa teoria... Mas chega de perder tempo, você já está pronto?
- Quase, mas você pode ir na frente.
- Certo, eu vou te esperar no salão principal, tudo bem?
- Tudo bem. - Tiago saiu.
Depois que se vestiu, Sirius foi para o salão principal.
- O time já foi para o vestiário, Almofadinhas.
- Ok, vamos lá - Sirius disse, pegando uma maçã.
No vestiário, o capitão do time, um rapaz do sétimo ano de sorriso contagiante, começou a falar depois de todos os jogadores estarem vestidos com os uniformes da Grifinória.
- Certo, pessoal, nós treinamos muito e posso garantir que nunca estivemos tão bem preparados para um jogo como hoje. Não importa se eles têm um novo artilheiro, pois eu confio totalmente nos nossos artilheiros.
Sirius e mais dois garotos agradeceram com um aceno, e uma garota loira olhou com um ar bobo para Sirius. O capitão continuou.
- E confio em todos vocês também. Agora nós só temos que montar em nossas vassouras e mostrar quem somos para a Sonserina.
Os jogadores da Grifinória aplaudiram, e saíram do vestiário. O sol brilhava fraco, e várias nuvens cinzas estavam no céu, mas nem a probabilidade de chuva preocupou os jogadores. Até que Sirius viu o time da Sonserina sair do vestiário e viu entre os jogadores do time adversário Adrianne Snape.
Os jogadores da Grifinória estavam surpresos ao ver que Adrianne Snape era a nova artilheira da Sonserina, mas Sirius estava estupefato. Ele só conseguiu parar de olhar para Anne quando Tiago o cutucou com o cotovelo.
- Vocês fazem dupla na aula de Poções, não é?
Sirius concordou com a cabeça.
- E você nunca suspeitou de nada?
- Nada. Ela conseguiu disfarçar direitinho - ele deu uma risada. - Isso vai ser mais fácil do que eu pensava, Pontas!
-x-x-x-
O coração de Anne batia fortemente quando ela saiu do vestiário da Sonserina. Ela tentava se lembrar de tudo o que Hopkins havia dito nos treinamentos, até que ela escutou o som da risada de Sirius. Ela olhou com raiva para ele, e murmurou.
- Ele vai ver como garotas podem entender de quadribol!
Em seguida, ela montou na vassoura e subiu, ficando com os outros jogadores da Sonserina. Depois do apito, o jogo começou.
A goles foi diretamente para as mãos de Adrianne, e depois de uns instantes em que ela não soube exatamente o que fazer e só olhou surpresa para a bola, ela partiu para o gol da Grifinória. Anne desviou de dois balaços e estava se aproximando do gol quando Sirius surgiu na frente dela, ameaçador. Ela deixou que ele se aproximasse até que no ultimo momento, ela desviou dele com uma pirueta e passou a goles para Gubber, que marcou o primeiro gol da partida.
Agora a posse da goles estava com a Grifinória. Sirius estava fazendo uma jogada que Anne já havia observado antes. Um dos artilheiros jogava a goles por cima do ombro para o outro. Era uma jogada muito difícil de se fazer, mas graças ao sincronismo dos artilheiros da Grifinória, quase sempre dava bom resultado. Anne só teve que fazer um sinal para que Hopkins jogasse os balaços em cima dos artilheiros da Grifinória e ficar no lugar onde eles deveriam estar. Quando Sirius percebeu o que havia acontecido, era tarde demais. Anne estava com a goles, voando em direção ao gol o mais rápido possível, e depois de desviar de um balaço e de um artilheiro, ela marcava o seu primeiro gol com o uniforme do time de quadribol da Sonserina.
Durante o restante da partida, a disputa entre Anne e Sirius foi crescendo cada vez mais, mas no fim do jogo, a vitória ficou com a garota, nos dois sentidos. Tanto a Sonserina havia ganho o jogo quanto ela havia marcado mais gols do que Sirius e qualquer um dos outros cinco artilheiros.
A torcida da Sonserina vibrava contente com o fim do jogo e a vitória do time. Em sua vassoura, Anne assistia à comemoração da torcida mais feliz até do que os sonserinos. Aquela era a primeira vitória da Sonserina contra a Grifinória em três anos, e ela se sentia orgulhosa por ter participado da partida.
Quando o time entrou nas masmorras, os alunos já estavam festejando, e a comemoração aumentou mais ainda quando os sete jogadores chegaram. Joah Jewkes, o apanhador, e Anne foram erguidos, pois estavam sendo considerados os responsáveis pela vitória do time. De cima, Anne sorriu com prazer, mas foi quando ela viu o olhar de orgulho de Severo que se sentiu satisfeita por ter entrado no time. Assim que ela conseguiu, foi falar com o irmão.
- Você não está zangado por eu não ter te contado que eu era a nova artilheira, está?
- Bem, um pouco, mas estou orgulhoso por você ter jogado tão bem. Você fez um ótimo trabalho, Anne. Foi ótimo ver aqueles grifinórios perderem.
Anne sorriu, orgulhosa por Severo estar feliz por sua causa, e o abraçou.
-x-x-x-
Naquela noite, Anne e Sirius não tiveram treinamento porque as comemorações pela vitória só terminaram às três da manhã, mas na noite seguinte, quando Anne entrou na sala, Sirius estava lá, e não parecia nada satisfeito.
- Por que você não me disse que era a nova artilheira da Sonserina?
- Desde quando eu te devo explicações? - ela disse com desinteresse - Você não é nada meu!
Ela conseguiu que ele ficasse calado, mas não por muito tempo.
- Isso não importa! Qualquer pessoa decente teria contado!
- Eu não contei porque você não perguntou!
- Ah, tá certo, agora eu acredito em Papai Noel e em Coelho da Páscoa. Duvido que você teria me contado se eu tivesse perguntado, Snape, porque você é um deles, você é uma sonserina, só pensa em você mesma e em conseguir o que quer, mesmo que tenha que passar por cima dos outros.
Anne se ofendeu com o que ele disse e o tom de desprezo que o rapaz usou, e sem pensar duas vezes, ela ergueu a mão e acertou a face de Sirius.
- Nunca, nunca fale assim comigo! Você não tem o direito de me ofender assim! - o rosto de Anne estava vermelho, e ela ofegava.
- Eu também não sou obrigado a escutar essas coisas, eu não sou nenhum empregado seu! Se você quiser, pode continuar sozinha, mas eu não vou mais ficar perto de você nem por um minuto!
A garota fechou a mão com fúria. O que ela mais queria era ficar livre de Sirius para sempre, mas Anne tinha medo de continuar aprendendo animagia sem que alguém supervisionasse e alguma coisa desse errado. Dessa vez, ela teve que engolir o orgulho.
- Espere! - ela disse tentando parecer arrependida - Por favor, se você for, não sei como eu vou conseguir fazer isso sozinha! Por favor, fique! Eu prometo que nunca mais vou fazer isso. Eu juro!
Sirius ficou pensando por alguns instantes.
- É a última chance que eu estou te dando. - ele disse com seriedade - Se você fizer só mais uma besteira, eu não vou nem ligar se você vai dizer que eu sou um animago ou não, mas eu caio fora, entendeu?
Ele nunca havia visto Adrianne Snape se humilhar daquele jeito, e de certa forma, ele gostou de ver o olhar apreensivo da garota e de saber que ela dependia dele, mas não era por isso que ele iria continuar as aulas. Quando Anne pediu desculpas, Sirius percebeu que talvez ele pudesse fazer com que a garota deixasse de ser orgulhosa. Ele sabia que seria um desafio, mas Sirius nunca havia fugido de um desafio antes, e não seria agora que ele iria fazê-lo.
- Entendi. - ela acenou positivamente com a cabeça - Eu acho que é melhor nós irmos dormir, não estou concentrada o bastante para estudar.
- Está bem, mas antes eu queria falar com você... Eu também exagerei um pouco, eu não devia ter te provocado... - ele desviou o olhar da garota, encabulado, e Anne olhou um pouco mais calma para ele, surpresa também. Nunca imaginou que Sirius pediria desculpas a ela por uma atitude errada que ele havia tido.
- Não, a culpa toda foi minha. Eu não devia ter te dado um tapa. - pela primeira vez desde que haviam começado a conversar ela estava sendo totalmente sincera. E isso a assustava.
- Olha, é melhor nós pararmos, senão vamos brigar novamente para decidir de quem é a culpa! - ele sorriu, e Anne sorriu de volta - Vamos dizer que nós dois tivemos culpa, mas como um desculpou o outro, vamos deixar as coisas assim.
- Certo.
Os dois se calaram por alguns instantes até que Sirius disse abruptamente.
- Você jogou muito bem hoje. Ninguém nunca tinha roubado a goles naquela jogada, como você fez isso?
- Eu já tinha observado você fazer aquela jogada antes, e já tinha percebido que não dá para ver se o jogador que está lá é mesmo o do nosso time, só quando ele já está com a goles.
- Como você conseguiu entrar no time da Sonserina sem fazer o teste?
- Foi simples. Eu desafiei Hopkins e Gubber a uma partida de quadribol, e eu consegui sair melhor do que eles. - ela fez uma pequena pausa antes de acrescentar. - Bem melhor.
- Mas onde você treinou escondida durante todo esse tempo? Alguém deve ter visto vocês treinarem...
- Nós treinamos do outro lado do lago. Não conta para ninguém, o Gubber sabe onde ficam os barcos do Hagrid, nós íamos escondidos.
A conversa continuou mais um pouco, e quando eles decidiram ir dormir, saíram da sala juntos, sorrindo. Anne e Sirius foram juntos até as escadas, onde os dois se separariam depois de se despedirem e seguiriam por caminhos diferentes: Sirius, para as torres da Grifinória, e Anne, para as masmorras da Sonserina.
Anne já estava descendo as escadas quando escutou Sirius a chamar de volta.
- Eu queria dizer só mais uma coisa...
- Pode falar.
Sirius corava, e parecia atrapalhado com o que iria falar. Era difícil para ele admitir que estava enganado com a opinião que tinha sobre Anne. O silêncio foi longo antes que Sirius decidir que falaria, e de supetão, ele falou.
- Você entende mesmo de quadribol.
Antes mesmo de terminar de falar a frase, ele subiu correndo as escadas. Anne ficou parada, olhando Sirius subir as escadas até que ele desapareceu, e enquanto ia para as masmorras, ela também pensava que talvez tivesse feito um julgamento errado de Black.
