10. ENCONTRO



Durante a viagem até Londres, Anne e Severo não trocaram palavras nem olhares por causa da presença de Andrew Snape, que havia deixado bem claro que se os dois sequer tentassem se comunicar, iriam ter que enfrentar as conseqüências depois.

Diferente dos outros anos, Andrew levava os filhos até a estação 93/4, e se despediu dos dois friamente ao atravessar a barreira para a estação bruxa.

- Adrianne, se eu escutar uma reclamação de você, eu não serei complacente como na outra vez - ele disse quase sem encarar a filha, e logo depois se virou para Severo. - Quanto a você, filho, cuidado com as coisas que você falar. Lembre-se do que pode acontecer quando não conseguimos guardar um segredo.

Severo concordou com o pai de cabeça baixa. Anne, ao contrário, olhava fixamente para o pai com raiva.

Depois de se despedir dos filhos, Andrew Snape aparatou, e os dois irmãos ficaram sozinhos. Aproveitando disso, Anne tentou falar com o irmão, mas Severo ia apressado para o Expresso de Hogwarts. Anne deixou o malão no chão e correu atrás do irmão, o alcançando pouco antes do rapaz entrar no trem.

- Severo! Severo, espera! - ela disse com veemência, mas Severo só parou quando ela se colocou na frente dele - Eu quero que você me diga agora o que aconteceu naquela viagem! Eu vi os machucados, o que aquilo significa? Ele não bateu em você, bateu? - "ele" era o pai. Há muito tempo que Anne deixou de chamá-lo de pai ou papai.

- Não, Adrianne, o papai não fez nada comigo.

Anne olhou com intrigada para o irmão. Ele nunca a chamava pelo nome, nem quando estava zangado. Definitivamente algo havia acontecido.

- Ele fez sim, Severo, eu vi! Ele te ameaçou, não foi? Foi isso que ele quis dizer quando ele disse para tomar cuidado com o que falava! Se você me falar, ele vai te machucar, não é? Severo, eu não vou deixar ele te machucar, eu não vou!

Severo empurrou a irmã com violência.

- Não é nada disso, Adrianne, ele não me ameaçou e não me machucou. Aquelas marcas que você viu foi um acidente, eu caí de uma janela em cima de uma planta-de-espinhos. Você devia tentar ser mais compreensiva com o papai, ele só não queria que você atrapalhasse enquanto eu ficava melhor. Ele se preocupa muito conosco.

Anne olhou com perplexidade para Severo, não acreditando no que ele havia dito. Ele nunca tinha tido essa opinião sobre o pai, e de repente, era como se Andrew Snape fosse um herói para ele.

- Severo, não precisa mentir para mim, eu sou sua irmã! Se você confiar em mim, tudo vai ficar bem!

- Tudo vai ficar bem se você deixar eu entrar no trem, e você devia fazer o mesmo. Falta um minuto para as onze e você não está nem com sua bagagem! - Severo disse olhando com desprezo para a irmã.

- Está bem. Está muito bem. Se é assim que você quer, com licença.

Anne se afastou, sentindo-se ofendida, enquanto Severo entrava no trem sem acreditar como havia conseguido mentir para a irmã. Ele não estava orgulhoso do que havia feito, mas era o que ele devia fazer para que Anne continuasse salva.

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Depois que entrou no trem, Anne não encontrou mais Severo. Ela foi para a cabine em que sempre costumava ficar. Assim que entrou, se lembrou do que havia acontecido na última vez que havia estado lá e pensou se Sirius não apareceria de surpresa como a três meses atrás. Anne sentiu muita falta dele, principalmente nas duas semanas em que ficou trancada no seu quarto.

Aqueles foram os piores dias da vida de Anne. Ela não chorou, e foi difícil não fazê-lo, pois ela se sentia sozinha e abandonada, até que se lembrou do livro de animagia e estudou um pouco, o que a animou, mas nem tanto quanto a animou se lembrar de Sirius e dos momentos que passaram juntos. Ela sentiu saudade até das brigas, mas principalmente sentiu saudade de estar com ele. Foi então que ela descobriu que amava Sirius.

Agora que estava voltando para Hogwarts, Anne não sabia se ficava contente ou preocupada. Sirius poderia estar com uma outra namorada, ou poderia ter desistido de ensinar animagia para ela, ou até mesmo as duas coisas, o que a assustava. Anne não se importava tanto se ele tivesse uma namorada, só queria ver ele, sentir que ele ainda era, pelo menos, seu amigo. Pela primeira vez ela não queria que uma coisa que ela desejava pertencesse a ela. Depois do que havia acontecido, Anne só queria que ele sorrisse para ela. Então ela saberia que tudo ficaria bem.

Mas ela só viu Sirius na cerimônia da seleção. Anne olhava para a mesa da Grifinória na esperança de que ele olhasse de volta para ela, mas ele parecia estar se divertindo muito com os amigos, pois eles não paravam de rir. Anne desviou o olhar da mesa da Grifinória se sentindo magoada. Ela achava que tudo o que ela temia que tivesse acontecido acabou acontecendo, e começava a achar que aquele seria o pior ano de todos. Severo não estava sendo gentil com ela, Sirius a ignorava, e ela estava de volta ao dormitório feminino da Sonserina.

Quando a cerimônia da seleção terminou, os alunos foram para suas respectivas casas, mas Anne não. Ela estava angustiada demais por causa dos últimos acontecimentos para ver Narcisa e até mesmo Severo. Ela só queria ficar sozinha e esquecer os últimos quinze dias de sua vida, então foi para o único lugar onde talvez ela conseguisse isso: a sala secreta.

Na sala, Anne chorou por todas as coisas que aconteceram com ela, desde o dia em que o pai a trancou em seu quarto até aquele dia, quando Sirius praticamente a ignorou. Ela chorou com raiva do pai, por ameaçar Severo, com raiva do irmão, por ele não confiar nela, com raiva de Sirius, por ignorá-la, e com raiva de si mesma por estar apaixonada por alguém que parecia não gostar dela do mesmo modo como ela gostava dele. Ela chorou até que adormeceu.

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No dia seguinte, Anne já estava mais calma, calma o bastante para manter a usual imagem de frieza, mas ainda estava aborrecida. Não falou com Severo por causa do jeito como ele a estava tratando, e porque ele também não a procurou. E não falou com Sirius por orgulho e porque estava decidida a destruir qualquer tipo de sentimento que poderia sentir por ele, até mesmo amizade. Depois de ter sido ignorada por Sirius na seleção das casas, qualquer esperança que Anne tinha de que ele se apaixonasse por ela, o que já era muito para ela, havia desaparecido.

Até que, três dias depois, os alunos do sexto ano da Sonserina tiveram uma aula-conjunta de Defesa Contra as Artes das Trevas com os alunos da Grifinória. Anne foi a última a chegar na sala, sem querer ver Sirius, mas o único lugar vazio na sala era justamente na mesa em frente à qual os marotos estavam.

Anne se sentou sem parecer se importar com o fato. Logo o professor começou a aula, que a garota assistiu atenta, até que ela sentiu algo cair em seu colo. Era um pedaço de pergaminho. Anne olhou para trás e percebeu que o pergaminho havia passado de mão em mão desde Sirius até Lílian Evans, que havia jogado o pergaminho em Anne.

Lílian olhou para Anne como se dissesse para ela ler o papel. Anne reconheceu a letra de Sirius antes de começar a ler.

"Anne,

Onde você estava? Esperei falar com você dois dias seguidos e você não apareceu na sala! De qualquer forma, precisamos conversar. Encontre-me na sala hoje, às onze horas.

S.E.B."

Anne guardou o pergaminho no livro antes que alguém o visse, e tentou se concentrar na aula, mas não conseguiu. Por mais que estivesse tentando se convencer do contrário, Anne estava ansiosa para se encontrar com Sirius.

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Pouco antes das onze, Anne foi para o dormitório masculino da Sonserina pegar a capa de invisibilidade do irmão, e em seguida, saiu das masmorras da Sonserina. Quando ela chegou na sala, Sirius já estava esperando por ela, observando o céu. Anne fez o mesmo, observando que não era noite de lua-cheia, portanto Sirius não teria que sair apressado. Depois de uns segundos tentando se acalmar, Anne falou com frieza.

- Oi, Sirius.

Sirius se assustou, estava observando a lua crescente distraído.

- Oh, oi, Anne! Como foram suas férias?

O que era uma simples pergunta de Sirius teve quase o mesmo significado de uma afronta, mas Anne foi perspicaz demais para não deixar transparecer tudo o que havia acontecido.

- Foram boas. Eu estudei um pouco de Animagia, uns dois ou três capítulos. E as suas?

- Foram divertidas, o Tiago e o Remo me visitaram. O Pedro não foi por causa da mãe, ela esteve doente. Na verdade, ela não estava mesmo doente, ela é hipoc...

- Tá certo, já entendi! - Anne o interrompeu, magoada por ele ter se divertido, sem nem se lembrar dela, enquanto que ela passou duas semanas trancada em um quarto só pensando em vê-lo outra vez - Sobre o que você queria falar comigo?

- As aulas de Animagia. Poder se que eu não apareça em alguns dias.

- Sim, eu sei, por causa do Lupin.

- Não é o Remo, é outra coisa.

- Que coisa? - ela perguntou, surpresa.

- Tiago e eu estamos ajudando o Pedro a melhorar as notas dele. Ele quase não passou nos NOM's.

- Acho que o Potter vai ter que fazer isso sozinho. - ela disse cruzando os braços, e tendo a certeza de que Sirius estava mentindo. Claro que Pettigrew era quase um aborto, mas isso deveria ser uma desculpa para que Sirius saísse escondido com alguma garota, e ela não ia deixar ele se divertir, não enquanto ela estivesse sofrendo.

- Não dá, Anne, eu já disse a Pedro que eu o ajudaria!

- Pois diga que mudou de idéia! Eu já acho que é muito não termos aula nas noites de lua-cheia, e você ainda quer mais isso?!

- Isso não é uma questão de você querer ou não querer, eu dei a minha palavra, e você mesma disse que quando um bruxo dá a sua palavra, ele não pode voltar atrás! Querendo você ou não, sempre que você ver uma fita vermelha em cima da mesa, é porque não vai ter aula. - enquanto Sirius falava, ele apontava para a mesa, indicando a fita vermelha.

- Hoje não...? - ela perguntou, desnorteada.

- É, e é melhor que você se acostume com isso.

Cobrindo-se com a capa de Tiago, Sirius saiu da sala. Anne não saiu imediatamente. Primeiro ela tentou se acalmar, mas sem conseguí-lo, voltou para o dormitório, furiosa.

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Tiago e Remo estavam em frente ao quadro da Mulher Gorda quando Sirius apareceu.

- Como foi, Almofadinhas?

- Pior do que eu pensava, Aluado. Anne não conseguiu entender, e tive que sair antes que as coisas piorassem.

- Você não disse que tinha que ajudar o Rabicho, Almofadinhas?

- Claro, Pontas, o que você queria que eu dissesse? Ah, Anne, algumas noites eu não vou poder dar aulas porque eu e meus amigos teremos que ir para reuniões secretas de um grupo chamado Ordem da Fênix que luta contra o avanço de Voldemort!

- Ela não acreditou - Tiago deduziu por causa da raiva de Sirius.

- Não, e ficou furiosa mesmo.

- Vai ser difícil esconder a verdade dela...

- Pode ser, mas ela não vai descobrir sobre a Ordem através de mim. Nem que eu tenha que desistir de vê-la, mas ela não vai saber sobre a Ordem. Estamos lutando pelo nosso futuro, e isso é mais importante do que qualquer coisa.

Tiago colocou a mão no ombro de Sirius, tentando animá-lo, e pensando que pelo menos ele não tinha esse problema com Lílian.

- Vamos, Almofadinhas. Dumbledore está nos esperando.

Os três, então, se esconderam na capa de Tiago, e desapareceram.