14. QUANDO TUDO DÁ ERRADO



Depois da noite romântica, Sirius e Anne se tornaram mais íntimos ainda, e as noites além de serem somente dedicadas aos estudos, eram também os momentos em que eles mais aproveitavam essa intimidade.

Sem estar preocupado com a irmã, Severo continuou a investigar o segredo que Remo escondia. Ele logo percebeu que tentar conseguir descobrir algo conversando com os amigos de Remo não adiantaria muita coisa, pois assim como Sirius, Tiago e Pedro se esquivaram de suas perguntas, mas isso não faria o sonserino desistir. Ele já tinha um novo plano e se preparava para colocá-lo em prática em um sábado em que o time de quadribol da Grifinória estava treinando.

Severo foi para o salão principal, onde Pedro Pettigrew estava sentado sozinho, na mesa da Grifinória, e, com as mãos nas costas, escondendo algo do rapaz, ele foi até onde o grifinório estava.

- Olá, Pettigrew - ele disse tentando parecer simpático.

- Oi, Snape - Pedro respondeu secamente.

- Você não foi ver o treino dos seus amigos?

- Não.

- Não? E o Lupin? Foi ver o jogo? - Severo perguntou num tom despreocupado.

- Não, ele ainda está no quarto. - o rapaz terminou de beber um suco - Dormindo.

Severo fingiu estar horrorizado quando Pedro terminou de falar. Ele já havia percebido que às vezes Pedro era deixado de lado nas brincadeiras dos outros três marotos, a não ser quando eles precisavam de uma desculpa para escapar de uma punição mais séria. Pedro era ótimo para isso.

- Eles fizeram isso? Se eles fossem seus amigos mesmo, eles não fariam isso...

- Er... - por uns instantes, Pedro concordou com Severo, e quase se animou para conversar com ele. Era a primeira vez que alguém percebia que nem sempre ele se sentia satisfeito com seus amigos, mas quando se lembrou que esse alguém era Severo Snape, sentiu que ele poderia estar querendo algo mais do que uma simples conversa. - Boa tentativa, Snape, mas eu não vou acreditar que você está interessado nos meus problemas. Vá embora - ele disse, sem tanta firmeza.

- Está bem, está bem... - Severo pareceu concordar. - Mas, antes de eu ir, eu queria dar um presente como forma de agradecimento pela sua boa-vontade em conversar comigo. Os seus outros amigos não foram tão gentis quanto você. Sinceramente, acho que você está perdendo tempo andando com eles... - o sonserino ficou pensativo por alguns instantes, até que se lembrou de Pedro - Oh, seu presente, ia esquecendo... - ele colocou um copo com um líquido alaranjado na frente de Pedro. - Suco de abóbora, espero que você goste.

- Gostar?! - Pedro disse, animado - Eu adoro suco de abóbora, é meu preferido! - de uma vez, Pedro virou o copo e bebeu seu conteúdo. Por alguns instantes, ele sentiu cócegas na língua, mas quando terminou de beber o suco, essa sensação passou.

-O suco estava bom? - Severo perguntou quando Pedro terminou de beber.

- Nem tanto. Estava um pouco amargo, e quente. Eu já bebi sucos melhores quando fui na cozinha. Os elfos parecem que estão ansiosos para nos servir, você devia ir lá, ontem de madrugada eu fui escondido, e eles quase não me deixaram sair depois... Mas valeu a pena, o suco de abóbora estava ótimo... Por que o seu não estava bom?

- Ah, porque não é exatamente suco de abóbora... Quer dizer, tem suco de abóbora, mas eu usei um ingrediente especial. Poção Veritaserum. - Severo disse com um ar superior, enquanto Pedro olhou para ele com os olhos arregalados, assustado.

- Você o que?! Não, você não fez isso... - o rapaz disse com incredulidade.

- Ah, você duvida? Então eu vou provar a você. Pettigrew, qual é a sua verdadeira opinião sobre mim?

Antes que Pedro pudesse pensar, as palavras saltaram de sua boca.

- Bem, eu acho que você é um metido arrogante e que deveria cuidar da sua própria vida ao invés de ficar atrás do Remo só porque ele...

- Pedro! - uma voz feminina interrompeu o rapaz antes que ele falasse. - O que está acontecendo aqui?

Atrás de Pedro e Severo, Julie Black se aproximava da mesa da Grifinória, e pelo visto, havia escutado o que o grifinório havia dito.

- Ele fez com que eu tomasse Poção Veritaserum! - Pedro disse, apontando para Severo. - Ele quer que eu diga que o Remo...

- Cale-se, Pedro! Cale-se! - ela disse furiosa para o rapaz, e em seguida pôs um par de olhos furiosos em Severo. - Vá. Embora. Agora. Mesmo!

Sem esperar que Severo respondesse, Julie começou a afastar o rapaz, com um pouco de dificuldade, já que o sonserino não estava disposto a desperdiçar a oportunidade de descobrir o segredo de Remo, mas Julie não parecia disposta a deixar o sonserino continuar a conversa com Pedro, então, antes que alguém visse a cena ridícula, Severo saiu do salão principal.

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- Ele o que?! - a voz surpresa em tom elevado de Sirius atraiu a atenção de todos os que estavam na sala comunal da Grifinória, mas o rapaz pareceu não se importar - Eu não acredito que ele teve coragem de fazer isso! Mas essa foi a última que eu agüentei. Ele fez uma brincadeira idiota, o trato está quebrado. E o Snape vai receber o troco.

Tiago e Pedro olharam se entender nada para Sirius. Fazia pouco mais de um ano que eles não faziam nada contra Severo, o próprio Sirius havia proibido que eles tentassem algo, e agora era Sirius quem queria se vingar do sonserino.

- O que você vai fazer, Almofadinhas? - Tiago perguntou, preocupado.

- Amanhã é noite de lua-cheia, não é, Pontas? - Sirius perguntou ignorando a pergunta do amigo.

- Sim, por quê? O que você vai fazer, Almofadinhas?

- Você vai ver, Pontas. O Snape vai se arrepender de ter se metido em assuntos que não interessavam a ele...

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Severo estava estudando em uma das mesas da biblioteca quando Sirius se sentou na cadeira em frente à qual ele estava sentado.

- O que você quer, Black? - ele perguntou com desprezo, sem desviar a atenção do livro que estava lendo.

- Você ainda está interessado em saber o que o Remo faz nas noites de lua-cheia, Snape?

Rapidamente, Severo fechou o livro e olhou com atenção para Sirius.

- O que você tem a dizer? - Severo perguntou, sem suspeitar das verdadeiras intenções de Sirius.

- Eu vou dizer como você pode descobrir a verdade sobre o Remo. Sabia que o Salgueiro Lutador esconde uma passagem secreta?

- E daí? Qualquer um que se aproximar daquela estúpida árvore é atacado, e se não se machucar, com certeza é punido severamente.

- Sim, a não ser que você saiba como controlar a árvore e conseguir fazer isso sem chamar a atenção dos professores ou de qualquer aluno.

Subitamente, Severo pareceu muito interessado no que Sirius tinha a dizer.

- Duvido que você saiba como controlar o salgueiro, Black, mas não duvido que você não consiga enganar um dos professores. É o que você vem fazendo desde o primeiro ano aqui em Hogwarts - ele disse sem se importar em ofender Sirius.

- Eu sei como controlar o Salgueiro Lutador, e se você não for tão teimoso, eu vou dizer como você deve fazer - Sirius disse, ignorando a ofensa do sonserino. - No salgueiro existe um nó que se você encostar nele com um graveto, você consegue fazer a árvore parar de se mexer, e também vai abrir a passagem, que está escondida debaixo das raízes. Você entra na passagem e segue o túnel até um buraco na parede, então você vai descobrir o que tanto quer saber.

Sem esperar uma resposta de Severo, Sirius se levantou da cadeira e saiu da biblioteca, deixando um Severo intrigado, pensando qual era o interesse que Sirius tinha em que ele descobrisse o segredo de Lupin, mas sem pensar, em nenhum momento, em não ir averiguar a pista de Sirius.

Enquanto Sirius se afastava, duas garotas saíram de trás de duas prateleiras e olhavam intrigadas para ele. Uma delas era Anne, que fazia a mesma pergunta que Severo fazia. A outra era Julie Black.

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Já fazia bastante tempo que Severo andava no túnel úmido, e ele começava a reclamar do momento em que decidiu seguir a pista de Sirius quando começou a escutar gemidos distantes. Imediatamente, ele começou a andar mais rápido, e à medida que andava, os gemidos se tornavam maiores e mais fortes, até que finalmente Severo chegou ao buraco que Sirius havia dito.

Antes de atravessar o buraco, Severo se escondeu na sua capa de invisibilidade, e então ele observou o que havia além do buraco. O rapaz não conseguiu segurar uma exclamação ao ver que Remo Lupin estava se transformando em um lobisomem, e a exclamação atraiu o agora lobisomem.

Severo estava surpreso demais para esboçar uma reação, e antes que conseguisse sair do lugar, o lobisomem farejou e atacou Severo, derrubando-o no chão.

Apesar de estar protegido com a capa, a pata do lobisomem feriu o tórax dele através da capa, causando um ferimento profundo que começou a sangrar.

O lobisomem se aproximou de Severo com ferocidade. Assustado e sem saber exatamente como se defender, o rapaz se sentou e se afastou para trás, mas ele sabia que não adiantaria muita coisa. O lobisomem estava enfurecido, e enquanto ele se aproximava, Severo entendeu porque Sirius havia dito que ele deveria entrar no Salgueiro Lutador. Com certeza ele estava cansado de ver Severo tentar descobrir que Remo era um lobisomem, e decidiu se livrar das perguntas curiosas do sonserino do jeito mais prático: matando-o. Severo fechou os olhos, sem querer encarar o que iria acontecer. No instante seguinte, ele desmaiou.

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Quando Anne se levantou da cama, ela pensou que aquele seria mais um dia comum. Assistiria as aulas do dia, iria estudar um pouco na biblioteca ou na sala comunal da Sonserina, jantaria, esperaria as outras três colegas irem dormir e quando isso acontecesse, iria cuidadosamente para a sua sala secreta, já que agora não podia mais usar a capa de Severo, encontraria Sirius, e depois de algumas horas de estudo, iria namorar um pouco. Ela não sabia o quanto estava enganada.

Anne estranhou quando não viu Narcisa e suas outras colegas dormindo. As três costumavam acordar tarde, e eram uma das últimas a chegar na sala da primeira aula, mas Anne não se preocupou muito com isso. Para ela, pouco importava o que as três garotas fizessem. Anne saiu do quarto despreocupada. Por pouco tempo.

Enquanto ela caminhava pela sala comunal até a saída das masmorras, todos os sonserinos olhavam para ela e comentavam entre si algo em voz baixa. Anne olhou nervosa para eles. A primeira coisa que passou em sua mente foi Sirius e que alguém tinha descoberto sobre eles. Talvez Berta Jorkins, a fofoqueira de plantão da Grifinória, tivesse visto ela entrando na sala, e, curiosa, deveria ter espiado e visto ela com Sirius. Mas quando Anne lembrou que a noite anterior havia sido noite de lua-cheia, ela sacudiu a cabeça e esqueceu essa alternativa. Não poderiam estar falando sobre ela e Sirius.

- Talvez seja só meu penteado. Talvez eu esteja irresistivelmente sedutora. Talvez seja por causa da minha jogada no último jogo de quadribol...

Anne tentava se convencer de que não havia nada de errado acontecendo enquanto saía das masmorras, mas sem conseguir o efeito desejado. A cada momento que passava, a sensação de que algo de errado havia acontecido aumentava. Tentando esquecer isso, ela foi para a mesa da Sonserina no salão comunal. Anne mal tinha se sentado quando o professor Wright foi falar com ela.

- Snape? Eu gostaria de falar com você a sós, você pode vir à minha sala?

- O que aconteceu? - Anne perguntou enquanto se levantava, um pouco nervosa. Se o diretor da Sonserina queria falar com ela em particular, era porque algo muito mais sério que um namoro escondido estava acontecendo.

- Venha comigo, eu acho que você não vai querer conversar o assunto que eu tenho para tratar com você em pleno salão principal.

- Sim, professor Wright.

Depois que Anne respondeu, o professor andou até a sua sala, sendo seguido pela garota, que a cada passo que dava ficava mais nervosa, até que depois de alguns instantes que pareceram eternidade para Anne, os dois entram na sala do diretor da Sonserina.

- Sente-se, senhorita Snape - ele disse indicando com a mão uma cadeira.

- O que aconteceu, professor? Foi algo com meu irmão? Foi, não é? Eu não o vi em lugar nenhum, e ele sempre está na sala comunal de manhã, ou então no sal...

O professor interrompeu a aluna.

- Acalme-se, garotinha! - o professor disse com impaciência, mas Anne estava mais preocupada com o irmão do que como era tratada pelo professor - Aconteceu um acidente com o seu irmão no Salgueiro Lutador na noite passada. Ele está na enfermaria, mas você não deve ir lá agora!

O professor mal teve tempo para gritar as últimas palavras, pois Anne já corria, preocupada. Enquanto ia para a enfermaria, qualquer raiva que ela sentia por causa do modo como Severo a tratava havia sido esquecida agora que ele estava machucado na enfermaria. Ela tentava não chorar, mas toda a preocupação de Anne era perceptível em seu rosto pálido e assustado.

A porta da enfermaria abriu de supetão, e antes que madame Pomfrey pudesse entender o que estava acontecendo, Anne invadia a enfermaria e procurava Severo com o olhar.

Em pouco tempo, Anne reconheceu o irmão em um dos leitos em reservado, apesar da aparência cansada envelhecer bastante o rosto de Severo, e se sentou na cadeira ao lado da cama, já sem conseguir segurar as lágrimas, que escorriam pelo seu rosto.

- Ah, Severo, porque você fez isso...? - ela disse com a voz levemente chorosa enquanto acariciava o rosto pálido do rapaz - Você não deveria ter tentado...

Anne não terminou a frase. Madame Pomfrey estava do lado da garota e tentava a todo custo tirá-la de perto de Severo.

- Me solta, sua inútil! Nunca vi meu irmão com uma aparência tão doente! Se você fosse uma enfermeira de verdade, meu irmão estaria bem, e não deitado aqui!

- Sim, querida, sim, mas era justamente disso que eu ia tratar. Você pode dar licença?

- Eu não saio de perto do meu irmão de jeito nenhum!

- Minha querida, você tem aulas para assistir... Vá para sua aula, quando acabar você pode voltar...

- Eu não saio daqui! - Anne disse se virando com ferocidade para a enfermeira.

Sentindo-se insultada, madame Pomfrey mordeu o lábio e pôs as mãos na cintura.

- Mocinha, você não entende que eu tenho que cuidar dos meus pacientes?

- Pois então cuide deles, que eu cuido do meu irmão! Se você me dá licença... - ela colocou a mão na testa de Severo - Minha nossa, ele está ardendo em febre! Pode me dar um chá de alho? Eu li que isso é bom para abaixar febres.

- Ah, essa foi a última! - madame Pomfrey murmurou entre dentes, e em seguida, saiu da enfermaria com passos duros. Quando a enfermeira voltou, ela vinha junto com o diretor Dumbledore. Anne continuava ao lado de Severo - Aí está ela, Dumbledore. Ela insiste em ficar com o garotinho.

- Sim, Papoula. Você pode deixar eu falar com Anne por alguns instantes?

- Uhm... - ela ficou pensativa antes de responder - Sim, mas seja rápido. Eu tenho que cuidar dos outros alunos.

- Ah, não se preocupe, seus pacientes ainda estarão aqui quando você voltar.

- Er... - ela ficou pensativa por alguns instantes, um pouco incerta, mas finalmente se decidiu - Oh, está bem!

Apesar de concordar, a enfermeira saiu da sala contrariada. Dumbledore, então, se aproximou de Anne e se sentou na cama que ficava do outro lado do banco. Anne não se importou com isso, estava preocupada em cuidar do irmão. Só olhou para o diretor quando ele falou.

- Olá, Anne - o diretor disse olhando para a garota com um olhar e um sorriso gentil no rosto.

- Oi - a garota respondeu sem desviar o rosto do irmão.

- Você não vai assistir suas aulas?

- Aulas?! - Anne exclamou como se o diretor tivesse sugerido que ela se tornasse amiga de Narcisa.

- Então você não vai - o diretor perguntou entendendo que a resposta de Anne havia sido não.

- Claro que não! Meu irmão está precisando de mim, e eu vou cuidar dele.

- Eu entendo... - o diretor disse calmamente - Mas você não se importa com as aulas que estará perdendo?

- Oh, eu posso recuperar depois. - ela disse com descaso - Os professores vão me ajudar.

Quando Anne falou sobre os professores, um sorriso terno surgiu no rosto de Dumbledore.

- Falando em professores, você não acha que alguns vão sentir sua falta?

Por alguns instantes, Anne desviou o olhar de Severo. Ela pensou em Sirius e nas aulas de animagia à noite. Se ela fosse cuidar do irmão, ela teria que deixar de ir às aulas.

- Se eles realmente gostarem de mim, eles vão entender que eu não posso abandonar meu irmão numa hora dessas - ela disse voltando a olhar para Severo.

- E as outras pessoas que você estará abandonando?

Anne engoliu em seco. Se ela deixasse de ir às aulas, Sirius iria sentir sua falta e iria sofrer com a distância.

- Eu... eu não estou abandonando ninguém. - depois de quase não conseguir falar, Anne disse a frase lentamente, como se ela a ferisse.

- Mas e você, Anne? Eu acho essa sua preocupação pelo seu irmão uma atitude louvável e que merece ser admirada, mas você não pode se esquecer do seu futuro. E além disso, e os seus amigos? Eles podem precisar de você.

Anne ficou rígida na cadeira.

- Eu não tenho amigos. Todos me odeiam.

- Talvez você esteja certa em um ponto, Anne, mas nem todos os que a cercam odeiam você. Você não faz idéia do amor que há ao seu redor.

- Do que você está falando?

- Da sua família.

- Meu pai me odeia. A única pessoa que eu tenho é Severo. Se eu perder ele, eu vou ficar sozinha.

Dumbledore deu um pequeno sorriso.

- Minha cara, você não está tão sozinha quanto pensa... Ah, não...

Anne olhou com fúria para o diretor. Ela não estava gostando do caminho que a conversa seguia, e ela sentia que Dumbledore sabia mais do que estava falando, já que às vezes ela sentia que ele sabia sobre ela e Sirius, outras, ela sentia que o velho diretor queria que ela confessasse algo.

- De onde você tirou essa idéia? Eu acho que o senhor está vendo coisas. Talvez seja excesso de trabalho, mas uma semana de folga resolveria o problema.

- É o que eu acho, Anne, mas por mais que eu queira descansar, essa escola precisa de mim...

- Do mesmo modo como Severo precisa de mim. Pelo visto, você está começando a me entender! - ela disse com satisfação.

- Eu sempre entendi o motivo de você estar aqui, Anne, mas como você disse, eu preciso descansar, e você em breve também vai precisar.

- Não me importa se eu irei me cansar. Eu só vou sair daqui quando Severo estiver bem, e se alguém tentar me tirar daqui à força, eu juro que farei um escândalo e essa escola estará fechada em menos de três dias!

- Eu duvido... Não que você tenha coragem para isso, mas esse castelo é especial demais para você para que você deixe que o fechem. Já que não precisaremos ir tão longe, eu proponho um acordo. Você poderá cuidar de Severo em qualquer outro horário exceto os das aulas, afinal, Hogwarts ainda é uma escola.

Dumbledore deu um sorriso gentil, e por pouco Anne correspondeu ao sorriso. Os inocentes olhos azuis do diretor começavam a convencê-la a aceitar o acordo. Anne percebeu que não perderia nada com o acordo. Poderia cuidar do irmão e estudar. Ela estendeu a mão para o diretor, que a aceitou.

- Está bem, eu aceito. Mas e se Severo acordar quando eu estiver assistindo alguma aula?

- Não se preocupe, eu direi à madame Pomfrey que qualquer coisa que aconteça com Severo você seja a primeira a saber. - o diretor se levantou - Bem, acho que agora você deve ir à sua aula. O toque tocou há alguns minutos.

Anne olhou sem muita segurança para Dumbledore, mas ele piscou vivamente os olhos azuis, e a garota se levantou.

- Eu vou poder voltar quando a aula acabar, não é?

- Claro que sim, Anne! - o diretor disse com um sorriso jovial no rosto - Eu vou falar com Papoula e enquanto isso, vá assistir sua aula. Quando ela terminar, você poderá vir cuidar do Severo.

Anne sorriu para o diretor, e depois de dar uma última olhada no irmão, saiu da enfermaria e foi para a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ela agradeceu pelo professor Wright ser diretor da Sonserina, assim ele não tiraria pontos dela.

- Com licença, professor - Anne disse parada na porta, esperando o professor deixar ela entrar.

- Entre, senhorita, Snape. - o professor se aproximou da garota. - Como está o seu irmão? Eu sinto muito pelo que aconteceu com ele. Eu sempre fui contra plantarem essa árvore esquisita. - o professor disse olhando com desagrado para Remo - Mas o que posso fazer, eu não sou o diretor... De qualquer forma, espero que seu irmão se recupere logo.

Anne deu um sorriso sem graça e se sentou numa das últimas cadeiras da sala, longe de qualquer um dos alunos da Sonserina ou da Grifinória. Ela abriu o livro na matéria que o professor estava explicando, mas quando ela levantou a cabeça na direção do professor, ela viu Sirius chamando a atenção dela com um gesto discreto da mão. Quando o rapaz viu que Anne olhava para ele, Sirius segurou sua varinha e a apontou para um papel no chão.

- Vingardium Leviosa!

Suavemente, o pergaminho planou a poucos centímetros do chão até chegar aos pés de Anne e então cair. A garota esperou o professor ficar de costas para os alunos e então pegou o pergaminho e o leu em seguida.

"Sala secreta depois da aula. Assunto urgente. S.E.B"

Anne refletiu por alguns instantes, até que finalmente fez um gesto afirmativo para Sirius. Ela não sabia qual era o assunto urgente que Sirius queria falar com ela, mas ela também tinha que explicar algumas coisas para ele.

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Sirius olhava para a porta a cada passo que ouvia vindo do outro lado. Ele estava na sala a menos de três minutos, mas estava ansioso para falar com Anne antes que ela soubesse por outras pessoas o que ele havia feito. Sirius já estava arrependido de ter feito Severo ir atrás de Remo quando ele estava se transformando em lobisomem, ainda mais depois da conversa que ele e Remo tiveram, e se a conversa com Remo já havia sido difícil, explicar tudo o que ele havia feito para Anne seria muito mais difícil para o grifinório. Ele a conhecia bem demais para ter certeza de que ela ficaria zangada com ele, mas Sirius tinha esperanças de que quando ele explicasse quais as razões que o levaram a fazer isso, talvez Anne entendesse. Até que a agonia da espera desapareceu quando Anne entrou na sala apressadamente.

- Desculpa eu ter demorado, é que eu não queria que ninguém me visse entrar aqui... Olha, eu não posso demorar muito, eu tenho que ir cuidar do Severo...

- É sobre isso que eu quero falar, Anne, escuta, não foi minha culpa, quer dizer, foi minha culpa, mas eu...

Anne balançou a cabeça e levantou a mão pedindo que Sirius se calasse.

- Eu não posso ficar muito tempo aqui, eu só quero dizer que enquanto o Severo estiver na enfermaria, eu vou cuidar dele. Você sabe, ele se machucou no Salgueiro Lutador, eu preciso cuidar dele, então enquanto ele se recuperar, não teremos mais aulas à noite, está bem?

- Claro, Anne, mas espera, eu... - antes que o rapaz pudesse terminar a frase, Anne deu um beijo rápido nele e saiu da sala.

Sirius olhou frustrado para a porta por onde a namorada havia saído, mas um pensamento o deixou assustado. E se Anne descobrisse o que ele havia feito? No instante seguinte, ele também saiu apressado da sala.

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Anne chegou na enfermaria sem fôlego. Havia andado o mais depressa possível para chegar logo na enfermaria, pois pensava que havia ficado tempo demais longe de Severo.

Quando Anne entrou na enfermaria, madame Pomfrey olhou irritada para ela, mas se Dumbledore havia dito que a garotinha poderia ficar cuidando do irmão, ela não podia fazer nada, já que a autoridade máxima ali era o diretor.

- Como está meu irmão? - Anne perguntou ignorando o olhar zangado da enfermeira.

- Ele não acordou.

Anne não disse mais nada. Em seguida, ela se sentou no banco que havia ao lado da cama de Severo. Ela pegou a mão esquerda do irmão e a colocou entre as suas, fazendo força para não chorar.

- Você vai ficar bem, Severo. Você vai ficar bem e tudo entre nós vai voltar a ser como era antes. Eu te desculpo por ter sido rude comigo e por você ter me ignorado desde o começo do ano, mas por favor, acorda! Eu posso até tentar ser mais amiga da Nott, Severo, mas não faz isso comigo, levante-se e converse comigo... Eu estou tão arrependida de não ter sido mais compreensiva com você, e agora eu estou com tanto medo de que você nunca mais acorde... Você tem que acordar!

Anne olhou com aflição para Severo, mas o rapaz não se moveu. A garota, frustrada, então, virou o rosto para o outro lado e deixou algumas lágrimas caírem, mas uma voz fez com que ela se virasse surpresa para o irmão.

- Anne... O que aconteceu?

Quando Anne voltou o olhar para Severo, este estava com os olhos semi-abertos e fitava a irmã com curiosidade.

- Ah, Severo! Você acordou! - um sorriso de alívio surgiu no rosto de Anne - Eu estava com tanto medo, tanto medo... - ela abraçou o irmão, que não correspondeu.

- Eu estou bem, Anne, e estaria melhor se você saísse de mim! Você está me machucando!

Anne soltou o irmão e olhou encabulada para ele.

- Você não vai me dizer o que aconteceu?

- Você não se lembra? Você se machucou no Salgueiro Lutador, e depois...

- Salgueiro Lutador?! - o sonserino disse com indignação - Eu não me machuquei naquela árvore idiota! Você pensa que eu sou o que, um grifinório qualquer? Dumbledore só pode estar protegendo aqueles quatro estúpidos mais uma vez!

- Do que você está falando, Severo? - Anne perguntou preocupada com o irmão, com medo de que ele estivesse com algum efeito do ferimento.

- Eu estou falando daqueles quatro imbecis da Grifinória, o Potter, o Black, o Lupin e o Pettigrew! Eles tentaram me matar!

- O que? - Anne se levantou do banco assustada. - Como assim?

- O Black disse que o Salgueiro Lutador era uma passagem secreta. Eu fui verificar se era verdade, e era mesmo, mas no fim da passagem, eu encontrei Remo Lupin se transformando em um lobisomem. - Anne olhou espantada para Severo - É isso mesmo, Remo Lupin é um lobisomem, e ele me atacou. Então eu percebi que aquilo foi um plano de Black e dos amigos dele para se livrarem de mim. Eu só queria saber como eles não terminaram o plano... Talvez eles se acovardaram na última hora... - enquanto Severo falava, Anne se levantou da cadeira pálida, e se afastou da cama do irmão, sem se importar com o que ele pensaria - Anne? Anne, para onde você vai? Anne, volta aqui!

Mas os gritos de Severo não fizeram Anne voltar. A garota estava aturdida demais para poder continuar a conversa com o irmão. Ela não conseguia acreditar que Sirius havia tentado matar Severo, mas se tudo havia acontecido como seu irmão havia dito, Sirius era um monstro. Anne saiu da enfermaria sem saber ao certo para onde estava indo até que encontrou com Sirius, que estava indo para a enfermaria. O rapaz foi até a garota e pelo olhar perdido dela, percebeu que ela sabia o que havia acontecido.

- Sirius, por favor, diz que o que o Severo disse não aconteceu. Por favor!

Sirius suspirou, tentando se acalmar, colocou as mãos no ombro de Anne, e olhou fixamente nos olhos dela.

- Annie, eu não posso mentir para você... O que eu fiz foi uma estupidez, mas eu só quero que você me perdoe...

Anne retirou as mãos de Sirius dos seus ombros com violência e olhou indignada para ele.

- Você tenta matar o meu irmão e pede que eu te perdoe?! Que tipo de pessoa você pensa que eu sou? - Anne recomeçou a andar, tentando se afastar de Sirius, mas o rapaz a seguia de perto.

- Eu não tentei matar ele, eu só quis dar uma lição, ele estava...

Abruptamente, Anne parou de andar e olhou com desprezo para Sirius.

- Não tente se justificar, Sirius! Eu... eu não sei como eu pude acreditar em você por todo esse tempo! Você é um mostro, Black! Eu tenho muito mais medo de você do que do Lupin!

Anne se afastou de Sirius decepcionada com o rapaz. Ela não estava com raiva dele, mas estava bastante magoada com o que ele havia feito. Sirius, por sua vez, seguiu Anne. Ele gostava demais da garota para deixar que as coisas entre eles terminassem desse modo.

- Annie, espera, deixa pelo menos eu explicar o que aconteceu!

Anne parou de andar e novamente voltou-se para Sirius com um olhar selvagem, apontando o dedo indicador para Sirius. Quando ela falou, sua voz saiu num tom histérico.

- Fique longe de mim, Black! Fique longe de mim!

Sirius olhou impressionado para Anne, mas não fez um movimento, apesar de saber que ela estava indo para a sala secreta, e deixou ela ir embora, a observando enquanto ela se afastava. Então ele percebeu o que aconteceu. Ele havia perdido Anne.