15. FUGAS



Se Severo já detestava os quatro marotos, depois da brincadeira de Sirius, ele passou a odiá-los, ainda mais quando Dumbledore foi conversar com ele logo depois que Anne saiu.

- Dumbledore, eu tenho certeza do que eu vi. Remo Lupin é um lobisomem - assim que o diretor se sentou, Severo começou a falar sobre o que havia acontecido, mas foi interrompido pela voz tranqüila do diretor.

- Eu sei.

Severo olhou incrédulo para o diretor, sem conseguir entender como ele conseguia aceitar que um lobisomem estudasse no colégio.

- O quê? Um lobisomem, estudando em Hogwarts, e você não faz nada contra?

- Remo é tão bruxo quanto você é, Severo. Os pais dele somente não conseguiram matricular Remo em nenhuma das escolas de magia da Europa, nem mesmo Hogwarts, até que eu me tornei o diretor da escola e revisei o pedido de matrícula de Remo e o aceitei. Eu sempre achei que para a magia só bastava ter talento, sem importar com o que ela era, por isso eu aceitei crianças com pais trouxas, como Lílian Evans, e se eu aceitei essas crianças, porque não poderia aceitar Remo Lupin?

- Acho que ele ser lobisomem é uma razão suficiente até para que os pais dele o quisessem ter matado - Severo disse com descaso.

- Muitos no Ministério pensaram desse mesmo modo quando Remo se tornou um lobisomem, mas eu e outros bruxos conseguimos que Remo vivesse. São raros os lobisomens que passam dos dez anos, então o Ministério decidiu que Remo iria continuar vivo, mas incrivelmente Remo passou pelos dez anos sem nenhum problema, e depois disso, seria crueldade demais para ele se Remo não estudasse em uma escola de magia assim como todos os bruxos fazem. Você não se lembra de quando viu Remo pela primeira vez? O quanto ele estava ansioso e ao mesmo tempo nervoso? Você acha que seria certo retirar de alguém como Remo o maior sonho de sua vida?

Severo desviou o olhar do diretor, e se lembrou de quando viu Remo pela primeira vez, no Expresso de Hogwarts. Ele se lembrava perfeitamente do garotinho tímido e acanhado que Remo era, animado por ir para Hogwarts, mas ao mesmo tempo nervoso, com medo de que não o aceitassem.

- E daí? Nem sempre nós temos tudo o que queremos - Severo disse dando de ombros. - Se o Lupin não conseguiu, problema dele.

- Severo, Remo não tem culpa se você não conseguiu tudo o que você quis - Dumbledore olhou austero para o rapaz.

Severo baixou o olhar. Ele não estava disposto a colaborar com Dumbledore e esconder o segredo de Remo, ainda mais depois do que o diretor havia dito. Mas estava claro que o diretor apoiava Remo, e ante a isso, ele não poderia fazer nada. Se ele espalhasse que Remo era um lobisomem, Dumbledore desmentiria os boatos, e ele passaria por mentiroso.

- Está bem. Eu não vou dizer nada sobre o Lupin - Severo murmurou, deixando claro que não estava fazendo o que queria fazer.

Dumbledore olhou com desaprovação para Severo.

- Se você está fazendo por medo do que acontecerá se você contar a todos que Remo é um lobisomem, vá em frente e conte para todos. Eu não vou fazer nada para desmentir isso. Mas o que acontecer será somente responsabilidade sua, e você terá que assumir seus atos, Severo.

Severo se calou por alguns instantes. Se ele falasse a todos que Remo era um lobisomem, muitos pais iriam ameaçar Dumbledore, mas pela força que Severo via sair do olhar do diretor, ele tinha certeza de que Dumbledore não iria fazer nada contra ele. E se fosse assim, não adiantaria nada espalhar a todos que Remo era um lobisomem. Quando Andrew Snape soubesse disso, com certeza retiraria ele e Anne da escola, e ele queria proteger a irmã, e em Hogwarts ela certamente estava mais segura do que no castelo Snape.

- Está bem. Eu não falarei nada sobre o Lupin.

- Eu sabia que poderia confiar em você, Severo. Remo ficará muito feliz por saber que você guardará o segredo dele.

- Eu não estou fazendo isso por ele - Severo disse, frio. - Estou fazendo isso por mim. Se meu pai descobrir que Remo é um lobisomem, ele vai me transferir para outra escola, e eu não quero isso.

- Bem, de qualquer forma, é uma razão melhor do que por medo - o diretor sorriu gentilmente para Severo, e se levantou.

Severo não respondeu a Dumbledore. Ele cruzou os braços e olhou zangado para o outro lado.

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Apesar da brincadeira que Sirius havia feito com Severo tivesse sido de proporções bastante maiores do que as que o grifinório costumava fazer, ele não foi punido, mas não se sentiu aliviado por isso, pelo contrário, Sirius se sentia bastante castigado pelo que havia feito. Sirius conversou com Remo e Julie no dia seguinte ao acontecido, e nessa conversa, Sirius descobriu que o amigo e a irmã estavam se encontrando e que só ele não sabia. Sirius se sentiu enganado e traído, e brigou com Remo e com Julie, mas quando percebeu o quão egoísta estava sendo, era um pouco tarde. Remo agora era frio com ele, e Julie mal olhava para o irmão. Mas o pior de tudo era ser desprezado por Anne.

Sempre que via Anne, Sirius olhava arrependido para a garota, mas em vão, já que para ela, era como se Sirius não existisse. Quando isso acontecia, Sirius chegava a preferir que Anne olhasse com raiva para ele a ignorá-lo, pelo menos assim ele teria certeza de que ela sentia algo por ele, mas o desprezo que a garota demonstrava só fazia ele se sentir mais culpado do que já se sentia pelo que havia feito.

Se não fosse por Tiago, Lílian, Pedro e Emma, as coisas teriam ficado piores, mas os três conseguiram que Remo desculpasse o amigo, e os quatro marotos voltaram a ser o que sempre foram, a prova disso foi que Remo ajudou Sirius a fazer as pazes com a irmã. Para que Sirius ficasse melhor, eles agora só teriam que conseguir encontrar um jeito de fazer Anne desculpar Sirius. Depois de discutirem entre si, Tiago, Remo, Pedro, Julie, Lílian e Emma decidiram que Julie iria falar com Anne, apesar dos protestos dela.

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De certa forma, a tentativa de Sirius de matar Severo ajudou Anne a se reaproximar um pouco mais do irmão, já que Anne era a única com quem Severo podia falar tudo o que achava de Sirius, Tiago, Remo e Pedro. Ele havia contado à irmã sobre o fato de Remo ser um lobisomem, tanto por suspeitar que Anne já sabia quanto para ter alguém com quem conversar sobre isso, mas Severo tomava cuidado para não se aproximar muito de Anne. A ameaça que o pai havia feito ainda estava forte o bastante em sua mente.

Mas apesar da pequena proximidade entre os dois irmãos, a decepção que Anne sentia por Sirius não diminuiu. Ela nunca esperava que ele fosse traí-la dessa forma, Anne pensava que depois do trato que haviam feito no quinto ano e de tanto tempo sem tentar nada contra Severo, Sirius já havia desistido de fazer brincadeiras contra seu irmão. Porém, quando Sirius tentou matar Severo, ela percebeu o quanto havia se enganado, e isso era o que mais doía, pois ela havia confiado totalmente em Sirius acreditando que ele cumpriria o acordo, mas ele a traiu sem pensar no quanto a magoaria.

Durante as aulas e quando encontrava com Sirius pelos corredores do castelo ou no salão principal, Anne percebia os olhares arrependidos que o rapaz lhe lançava, mas ela os ignorava, e entre os intervalos de aula, para não cruzar com Sirius, Anne se escondia em sua sala secreta. Já havia errado uma vez em confiar nele e não cometeria o mesmo erro outra vez, por mais que ainda gostasse dele.

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A aula de Herbologia havia acabado a alguns minutos, e como sempre fazia quando uma aula terminava, Anne estava indo para a sala secreta, mas quando entrou na sala, havia uma pessoa lá dentro. Era Julie.

- O que você está fazendo aqui?! - Anne perguntou, surpresa ao ver mais alguém na sala, ainda por cima sendo esse alguém sendo a irmã de Sirius - Esta é a minha sala!

- Eu só estava descansando. Eu não posso ficar aqui?

- Foi eu que achei essa sala, então eu decido quem fica e quem sai, e eu decido que você saia daqui. Agora!

Anne disse apontando a porta para Julie, mas a garota não se deu por vencida.

- Eu não vou sair daqui, não antes de nós termos uma conversa.

- Nós não temos nada para conversar, Black! Vá embora!

- Olha, Snape, eu não me importo se você não quer falar, mas eu quero que você me escute. Desde que você e meu irmão brigaram, ele não é mais como antes. Eu até entendo que você esteja com raiva dele, mas você não pode continuar a tratar ele assim! Ele está sofrendo demais! Você não se importa com isso?

Anne olhou com fúria para Julie, indignada com o atrevimento da garota em ir falar com ela sobre os sentimentos de Sirius e como ele estava se sentindo, sendo que o rapaz não pensou por um instante em como Anne se sentiria antes de quase matar Severo.

- Ah, é fácil você dizer isso para mim, mas por acaso seu irmãozinho pensou por um segundo em como eu iria me sentir? Parece que não, pois mesmo sem meu irmão ter feito nada com ele ou os amigos dele, o seu irmãozinho tentou matar Severo!

Agora foi Julie que olhou com fúria para Anne, sem acreditar que a garota era tão ingênua a ponto de achar que Severo nunca havia feito alguma coisa contra Sirius e os outros marotos.

- Você acha mesmo que seu irmão nunca fez nada contra Sirius, Remo, Tiago e os outros?! Tem certeza de que você conhece o seu irmão? Desde o primeiro ano, Severo Snape persegue Sirius e os outros e os delata por qualquer coisa que eles façam!

- Ora, eles eram protegidos por Dumbledore, ainda são, alguém tinha que fazer com que eles fossem punidos como qualquer outro aluno!

- E que castigo você acharia que mereceria a pessoa que tentasse descobrir um segredo usando Veritaserum?

Anne olhou intrigada para Julie.

- Do que você está falando? - ela perguntou cruzando os braços.

- Seu irmão tentou descobrir a verdade sobre Remo colocando Veritaserum no suco do Pedro, por isso Sirius fez aquilo com seu irmão.

Anne olhou surpresa para Julie, sem querer acreditar, mas sabia que o que a garota estava dizendo era verdade. Ela sabia que para descobrir o segredo de Remo, Severo era capaz de tudo, inclusive colocar Veritaserum na poção de um dos amigos de Remo. Agora Anne percebia o quanto havia sido injusta com Sirius quando pensou que ele havia enganado quebrando o acordo que eles haviam feito, mas apesar disso, ela ainda não o perdoava pelo que ele havia feito com Severo.

- Você... você está mentindo!

- Eu não estou mentindo. Se quiser, pode pedir um pouco de Veritaserum para o seu irmão. Deve ter sobrado alguma coisa da poção que ele fez para o Pedrinho...

Anne olhou com impaciência para Julie.

- Se era só isso que você tinha para dizer, pode ir embora, Black, e diga a seu irmão que não me procure mais, e não mande ninguém para falar comigo em nome dele. Eu não tenho mais nada com ele, e tudo o que precisava ser dito entre nós já foi dito.

Julie abriu a boca com incredulidade. Ela nunca havia falado com alguém tão insensível quanto Anne.

- Escuta aqui, Snape, eu não gosto de você, e se eu tivesse outra escolha, eu não estaria aqui, mas eu vejo meu irmão todos os dias e vejo como ele está infeliz sem você, por mais loucura que isso pareça, já que ele deveria agradecer por ter se livrado de você, e eu não consigo suportar ver Sirius do jeito que ele está, por isso eu estou aqui. Se o que você e Sirius tiveram foi algo verdadeiro, você deveria ter a decência de pelo menos escutar as explicações de Sirius!

- Quem é você para falar do que aconteceu entre eu e Sir... seu irmãozinho?! - Anne disse ofendida para Julie. Cada vez mais ela se convencia de que havia sido dura demais com Sirius, mas o orgulho de dizer para o rapaz que havia se enganado e parecer estar se rebaixando era mais forte - Não existe nenhuma chance de que eu perdoe o seu irmão, e para poupar maiores transtornos, eu não falo e nem vou falar com ele. - Anne encarava Julie com firmeza, e nesse instante, o sinal para o segundo tempo tocou - Ótimo, agora que você fez eu perder meu intervalo, deixe-me ir embora, eu não quero perder a aula.

Sem esperar que Julie respondesse, Anne reuniu seus livros e saiu apressada da sala, sem ver o olhar decepcionado de Julie.

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A conversa que Julie teve com Anne não fez com que a garota mudasse de atitude com Sirius, mas por alguns dias ela pensou muito sobre tudo o que Julie falou. O que mais a marcou foi ela ter descoberto que Sirius não havia traído o acordo que eles tinham. Isso fez com que, por alguns instantes, Anne pensasse em ir falar com Sirius, mas os pensamentos sobre Sirius foram substituídos pelos treinos de quadribol.

Poucos dias depois da conversa de Julie e Anne, foi marcado o dia da próxima partida da Sonserina, que dessa vez seria contra Corvinal, e os treinamentos exaustivos fizeram com que Anne não tivesse muito tempo livre. O pouco tempo que restava à Anne era gasto com os estudos de animagia e as matérias de Hogwarts.

Enquanto Anne estava ocupada com o quadribol e os estudos, Sirius se adaptava à vida sem Anne. Por um tempo, ele pensou em voltar a ser o namorador que era antes de ficar com Anne, pois desde que ele havia terminado com Allison, várias garotas tentaram ocupar o lugar de Forster, mas por estar com Anne, Sirius ignorava todas. Agora que estava realmente sozinho, se quisesse namorar alguma garota, ele sabia que poderia conseguir facilmente, mas Sirius não se sentia à vontade com mais nenhuma garota como se sentia quando estava com Anne, e continuou sozinho, por mais que várias garotas tentassem se aproximar.

Se esquivar das garotas ficou mais fácil quando foi marcado o dia da partida da Grifinória contra a Lufa-lufa. Tiago, que era o capitão do time desde o começo do ano, treinava o time com seriedade, apesar do time da Lufa-lufa não ser um time que apresentasse surpresas durante a partida.

Além disso, com os ataques de Voldemort se tornando mais freqüentes, era raro o dia em que Sirius não tinha uma reunião da Ordem da Fênix. Cada vez mais o boato de que Voldemort tinha um espião em Hogwarts e que o plano do bruxo era usar esse espião para tentar derrotar o diretor da escola se tornavam mais fortes, e o medo de que um dos professores fosse esse espião era evidente. Os membros da Ordem, entre eles, alunos como Sirius, Tiago e Remo, alguns bruxos que trabalhavam em Hogwarts como Minerva McGonagall e Hagrid, alguns membros do Ministério como Alastor Moody, Arabella Figg e Mundungo Fletcher, e ainda alguns pais de alunos, como os pais de Sirius e a mãe de Tiago, estavam preocupados com a segurança do diretor de Hogwarts. Sirius, portanto, não tinha muito tempo para pensar em Anne.

As semanas passaram sem que nenhuma novidade sobre o espião fosse descoberta, o que deixou os membros da Ordem da Fênix mais apreensivos, mas os alunos de Hogwarts, alheios aos perigos que a escola corria, assistiram animados às duas partidas do campeonato de quadribol. Com um pouco de dificuldade, Sonserina venceu Corvinal, enquanto que a Grifinória derrotou a Lufa-lufa com uma certa facilidade. Com isso, a final do torneio de quadribol daquele ano seria, como no ano anterior, entre Sonserina e Grifinória.

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Ter que jogar contra Sirius não era uma coisa que Anne queria. Essa preocupação fez com que o rendimento da garota no jogo contra a Corvinal não fosse tão bom como o de sempre, criando uma dificuldade para que a Sonserina vencesse a Corvinal, dando a vitória ao time da Sonserina somente quando Joah Jewkes capturou o pomo, e colocando a Sonserina na final contra a Grifinória.

Depois que a final do torneio de quadribol foi realmente definida entre Grifinória e Sonserina, Anne tentou fingir para si mesma que isso não a afetava, que essa seria somente mais uma partida como as outras que já havia jogado, mas com a proximidade do dia da partida, ela se convenceu de que jogar contra Sirius a incomodava. Anne não queria jogar contra o rapaz pois tinha medo de descobrir que depois do que ela havia feito, não o ter desculpado apesar de saber que Sirius não havia desfeito o trato, o rapaz a desprezasse, enquanto que ela ainda o amava.

Sirius, ao contrário de Anne estava tranqüilo. Já havia se convencido de que a garota não gostava mais dele, já que Anne, apesar de estar com dúvidas, continuava ignorando Sirius da mesma forma desde que ele havia feito a brincadeira com Severo.

Depois de semanas de treino, então, o dia da final de quadribol chegou.

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O sol brilhava fortemente, e nem bem haviam se sentado, os alunos já sentiam calor. Poucos eram os que queriam estar no lugar dos jogadores dos times da Sonserina e da Grifinória. E mesmo alguns dos jogadores não queriam estar ali.

Anne era um deles. Enquanto o capitão da Sonserina fazia o discurso final, que continha palavras como "massacrar", "destruir", e "nada de piedade", ela pensava que em poucos minutos veria Sirius outra vez.

Não que ela não tivesse visto Sirius desde que haviam brigado, mas por sua própria decisão, Anne evitava olhar para o rapaz ou até mesmo ficar perto dele. Agora não havia como escapar.

- Vamos lá ensinar para aquelas criancinhas como é que se joga quadribol!

Hopkins disse, encerrando o discurso, e os sete alunos do time de quadribol da Sonserina, em seguida, saíram do vestiário.

O time da Grifinória já estava sobrevoando o campo, e quase sem perceber, imediatamente ela procurou Sirius com o olhar. Ela sentiu uma onda quente percorrer o corpo quando o olhar dele encontrou o seu, mas essa empolgação desapareceu para que um olhar de decepção surgisse quando, assim que viu que Anne olhava para ele, Sirius desviou o olhar do dela.

Por alguns segundos, Anne se sentiu frustrada por causa da certeza de que Sirius não a amava mais. Todas as expectativas que ela sentia desapareceram para dar lugar a uma frieza contra Sirius.

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Sirius percebeu que havia amanhecido quando Tiago acertou um travesseiro em seu rosto, como sempre costumava fazer desde que os dois entraram em Hogwarts, mas ao contrário das outras vezes, Sirius não devolveu o travesseiro no rosto do amigo. Ele na verdade não se moveu, e não queria fazer isso. Se desse um passo para fora da cama, ficaria mais perto da hora de ver Anne, e ele não sabia se conseguiria suportar o olhar de desprezo que a garota certamente estava reservando para ele. Mais uma vez Sirius foi acertado por um travesseiro, e dessa vez, Tiago não se calou.

- Vamos, Almofadinhas! O jogo, lembra? Balaços, goles, artilh... - Tiago não terminou a frase, pois percebeu naquele instante o motivo por Sirius estar ainda deitado. Geralmente ele era o primeiro a se levantar. - É por causa dela, não é?

Sirius se sentou, percebendo que não conseguiria mais ficar calado sobre o que sentia. Ele sabia que todos os seus amigos e suas duas irmãs perceberam que ele estava triste, mas ele nunca havia desabafado com ninguém sobre o que estava sentindo, mas agora era o momento.

- É a Anne sim - ele disse concordando com a cabeça. - Desde que nós brigamos, ela tem me evitado, e quando eu tentava falar com ela, ela me olhava com desprezo, até que eu mesmo cansei disso e passei a evitá-la, mas agora que eu vou rever Anne, eu não sei se eu...

Sirius olhou apreensivo para Tiago, sem ter coragem de dizer que estava um pouco amedrontado com o que poderia acontecer. Tiago percebeu, e sem querer forçar o amigo a falar o que não queria, ele concordou com a cabeça.

- Entendo... - Tiago disse enquanto se sentava na cama de Sirius.

Ele não concordava com as atitudes de Anne, e muito menos com as de Sirius, mas ele sabia que Sirius a amava, e quando ele percebia Anne olhando para Sirius, ele via que ela também o amava, mas havia algo que a impedia de seguir o que pensava. Ele ficou pensativo por alguns instantes, procurando as palavras certas para dizer que dessem esperança a Sirius, mas que não o deixasse desanimado.

- Pense que o que vai acontecer é só um jogo. - Tiago continuou - Você e Snape não irão conversar, e qualquer coisa que ela fizer, poderá passar despercebida como simples rivalidade. Não pense que o encontro que vocês terão é algo de vida ou morte. Vocês não irão discutir a relação de vocês, com certeza vocês farão isso depois. Hoje só haverá uma partida de quadribol. Você não precisa ter medo. Eu vou estar lá, e todos os outros vão estar torcendo por você, mas se você preferir não jogar, não se preocupe. Talvez Douglas Forster ou Bartolomeu Crouch possam jogar, mas eu acho realmente que você deveria jogar. Pensa bem.

Tiago saiu do dormitório, deixando Sirius sozinho e pensando se valia a pena se sentir derrotado por Anne. Ele pensou em como estava vivendo desde que havia brigado com a ex-namorada, e percebeu que, apesar de ter voltado a fazer as velhas brincadeiras e a agir da mesma forma, ele não fazia as coisas com naturalidade. Ele fazia aquilo para se convencer de que tudo estava bem, quando na verdade, não estava. Sirius decidiu que era hora de esquecer Anne. De uma vez por todas. Em poucos instantes, Sirius vestiu uma roupa leve e foi para o vestiário.

Quando viu Sirius entrar, Tiago sorriu para o amigo, sem saber que além de ter deixado a tristeza para trás, ele havia também começado a deixar o amor que sentia por Anne. Sem saber disso, Tiago foi falar com o amigo para encorajá-lo, achando que ele havia tomado uma decisão difícil e que precisava de apoio.

- Não se esqueça de que você vai sempre poder contar comigo.

- Você não precisa mais se preocupar. Eu vou estar bem.

Logo depois, os outros jogadores chegaram, e depois de vestirem o uniforme e do tradicional discurso do capitão antes da partida, eles saíram do vestiário.

O time da Sonserina ainda não havia saído do vestiário, mas eles não demoram muito para entrar no campo. Imediatamente, Sirius sentiu que Anne o procurava, e sentindo-se orgulhoso, ele olhou para ela com desprezo, mas quando viu o olhar magoado de Anne, Sirius duvidou que tivesse tomado a atitude certa, e quando a garota o olhou com frieza, ele teve certeza de que não deveria ter feito aquilo. Mas Sirius não teve muito tempo para se corrigir. Madame Hooch estava apitando, sinalando para que os times se organizassem. A partida ia começar.

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Assim que madame Hooch apitou, a rivalidade entre os sonserinos e grifinórios pôde mais uma vez ser extravasada, especialmente da parte dos alunos da Sonserina, que desde a derrota para a Grifinória na final do torneio do ano anterior, estavam querendo uma revanche. Agora que estavam na final, os sonserinos exigiam que o time conseguisse a vitória, afinal, na opinião deles, eles tinham o melhor dos quatro times. Ninguém duvidava que Hopkins era um ótimo capitão e artilheiro, e que o time tinha os melhores artilheiros, além disso, a defesa também estava bem armada. Ninguém duvidava que a vitória seria da Sonserina.

Mas ao contrário do que os sonserinos queriam, a Grifinória começou na frente, marcando o primeiro gol cinco minutos depois do início da partida. A vantagem da Grifinória, porem, durou pouco. Logo depois da Grifinória marcar o primeiro gol, Anne marcou o primeiro gol da Sonserina e empatou a partida. A garota não estava disposta a perder o jogo, que, para ela, já estava se tornando uma questão de disputa pessoal entre ela e Sirius, e não um simples jogo de quadribol.

Após os dois primeiros gols, a partida passou a ser muito disputada pelos dois times. Nenhum dos dois times conseguia uma grande vantagem, assim que um marcava um gol, o outro também marcava, e trinta minutos depois do início do jogo, o placar estava empatado em cinqüenta a cinqüenta.

Estava claro que o vencedor seria o time cujo apanhador pegasse o pomo, então os apanhadores dos times da Sonserina e da Grifinória eram constantemente marcados, mas essa marcação não impediu que, no momento em que a Sonserina marcava o gol de desempate, Joah Jewkes começasse a voar com velocidade para alguns metros acima do nível dos outros jogadores.

Imediatamente, os batedores da Grifinória procuraram os balaços para tentar impedir que Jewkes alcançasse o pomo antes de Tiago, apesar do apanhador estar bem mais na frente que o grifinório. Sem querer que o apanhador do seu time fosse distraído, os batedores sonserinos também procuraram pelos balaços, querendo jogá-los o mais longe possível dos batedores da Grifinória. Um dos batedores da Sonserina conseguiu alcançar um balaço antes dos batedores da Grifinória, e sem olhar com atenção para onde estava jogando o balaço, ele usou toda a força que tinha e arremessou o balaço em qualquer direção.

A atitude do batedor sonserino deu o resultado esperado. Retardou a ação dos batedores grifinórios e fez com que Joah pegasse o pomo, mas o batedor da Sonserina não havia jogado o balaço em qualquer direção. Quando Christian Carson percebeu o que havia feito, era tarde demais. O balaço estava indo na direção de Anne.

Anne só percebeu que o balaço estava indo em sua direção quando sentiu que ele acertava suas costas, e antes que pudesse pensar no que fazer, ela se desequilibrou e caiu da vassoura diretamente para o chão. Naquele momento, Anne não conseguiu pensar em nada mais além de que iria morrer, e, assustada, fechou os olhos com força e gritou.

- Anne!!! - no meio da torcida da Sonserina, Severo se levantou e gritou, nervoso, mas seu grito
foi abafado pelos gritos de alegria da torcida sonserina, que comemorava o título com empolgação.

Os outros jogadores da Sonserina foram à direção de Anne assim que Jewkes pegou o pomo, mas nenhum deles parecia que iria alcançar a garota. Na torcida, Severo apertou as mãos com força, com medo de pensar no que iria acontecer com a irmã. Ele estava certo de que ela cairia no chão. E isso teria acontecido se Anne não tivesse sido salva pela última pessoa que ela achava que faria algo por ela.

- Sirius... - ela disse com um sorriso e um olhar interrogativo no rosto, mas antes que ela pudesse falar qualquer coisa, desmaiou.

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Severo estava sentado ao lado da cama da irmã. Anne havia acordado há alguns minutos, e assim que soube disso, o rapaz foi à enfermaria.

- Olá, Severo - Anne disse sorrindo, mas o sorriso desapareceu quando viu o ar compenetrado do irmão, apesar do seu olhar demonstrar preocupação.

- Você está bem?

- Sim, estou... - ela ficou em silêncio, pensando se fazia ou não a pergunta que queria fazer ao irmão, mas sem querer deixar Severo irritado, ela fez outra pergunta, interrompendo o silêncio abruptamente - Nós ganhamos o campeonato, não?

-Foi. Nós ganhamos - o rapaz respondeu secamente. Depois que viu que Anne estava bem, ele ficou distante, mas a pergunta da irmã fez com que ele se lembrasse de quem havia salvo Anne.

Novamente os dois ficaram em silêncio, dessa vez um silêncio longo e constrangedor para ambos. Anne ainda pensava se perguntava logo o que queria saber, mas estava com medo da reação do irmão. Severo, por sua vez, desejava que a irmã não fizesse a pergunta que ela pensava em fazer, mas ele sabia que ela iria querer ter certeza de tudo o que havia acontecido no campo de quadribol.

- Foi... - depois de muito pensar, Anne decidiu fazer a pergunta, e começou a falar gaguejando um pouco, enquanto Severo desviava o olhar, irritado - Foi Sirius Black quem me salvou, não?

O rosto de Severo ficou carrancudo, e ele engoliu em seco antes de responder.

- Ele não salvou você. O que ele quis fazer foi me enfrentar, tentando se redimir salvando você, mas eu nunca vou esquecer o que ele fez para mim, e nem você vai agradecer pelo que ele fez.

Anne olhou com fúria para Severo, sem suportar ouvir ele dizer essas palavras, pois sabia que não era a verdade. Sirius não conseguiria fingir estar tão preocupado com Anne como estava quando a segurou antes da garota cair no chão. Ela se lembrava do olhar dele pouco antes de ter desmaiado.

- Ele não fez isso para afrontar você, Severo. - a garota disse, enfrentando o irmão com coragem. Não ia deixar Severo falar mal de Sirius quando ele havia sido corajoso - Ele me salvou porque se não fosse isso, talvez eu não estivesse aqui conversando com você.

Severo levantou horrorizado com o que a irmã havia dito.

- Desde quando você está do lado daquele... daquele... daquele... selvagem!?

Anne fechou os olhos e suspirou com impaciência.

- Eu não estou do lado de ninguém, Severo, só estou dizendo a verdade! Ele me salvou porque achou que era a coisa certa a fazer.

- Eu não acredito no que você está falando! Aquele ignorante só pode ter enfeitiçado você enquanto você caía! Você não pode estar no perfeito juízo!

- Eu não estou sob nenhum feitiço! - Anne disse com rispidez - Sirius Black não fez nada comigo além de me salvar!

- Se fosse para você ficar assim, eu preferia que você tivesse caído! - Severo disse sem pensar.

- Vá embora, Severo. - a garota deixou sair um murmúrio zangado por entre os dentes - Se você acha que o seu orgulho ferido vale mais do que minha vida, vá embora! - e como Severo não demonstrou nenhuma reação, Anne gritou - Vá embora agora!

Os gritos de Anne atraíram a atenção de madame Pomfrey.

- Garoto, vá embora, sua irmã está muito exaltada, ela não pode ficar assim! - apesar do pedido, Severo continuou parado - Vamos, rapaz, sua irmã precisa descansar! - e como Severo não se moveu, ela o empurrou - Você tem que sair, sua irmã precisa descansar, você pode voltar mais tarde. - Severo saiu da enfermaria, e madame Pomfrey voltou para a cama de Anne com um sorriso - Muito bem, querida, agora eu vou trazer um remédio que fará você se sentir melhor. Volto já.

- Eu não preciso de nenhum remédio! Eu já estou bem, eu quero sair!

- Sim, querida, você está bem, mas não custa nada você descansar um pouco.

- Você é burra ou o quê, eu não estou doente!

Anne gritou, mas madame Pomfrey já havia saído de perto da cama onde a garota estava, e logo voltava com uma poção.

- Tome, querida, só um pouquinho, e logo você vai estar boa.

- Eu não quero nenhuma droga de remédio, eu quero sair daqui!

- Só um pouquinho, não vai doer nada...

Aos poucos, a enfermeira aproximava a poção da boca de Anne, mas a garota, ao mesmo tempo, desviava o rosto. As duas continuaram a disputa até que escutaram um pigarro vindo de trás da enfermeira. A enfermeira se virou e Anne pela primeira vez notou que havia mais alguém na enfermaria. Era Sirius.

- Se você quer falar com a garota Snape, você pode vê-la mais tarde. Ela tem que descansar agora, ela... - madame Pomfrey falou enquanto ia na direção de Sirius e começava a levá-lo para fora da enfermaria quando escutou a voz de Anne.

- Ele não vai para lugar nenhum, e eu não vou descansar agora. Vá embora e deixe-nos sozinhos.

- Mas se você não descansar...

- Se você não sair, eu não vou descansar de forma nenhuma!

Não havia raiva na voz de Anne, mas sim um autoritarismo de quem estava acostumado a mandar e a ser obedecido que acrescentado ao olhar decidido intimidou madame Pomfrey. A enfermeira se afastou contrariada, mas Anne não se importou, já que agora estava sozinha com Sirius.

- Sente-se - ela disse indicando o lugar que antes havia sido ocupado por Severo.

- Obrigado - ele respondeu enquanto se sentava.

Os dois se encararam, trocaram olhares solenes e não disseram mais nenhuma palavra. Não parecia que os dois haviam compartilhado tanta coisa juntos, mas sim que estavam ali por causa de alguma reunião importante de negócios.

Enquanto observava Sirius, Anne pensava em como havia sido tola por não ter escutado as razões de Sirius, e se achou mais tola ainda quando se lembrou que Julie havia falado tudo o que havia acontecido, mas mesmo assim, ela não desculpou Sirius, pelo menos não até quando ele a salvou. Quando sentiu que estava segura nos braços dele, Anne sentiu que poderia confiar sempre nele, e finalmente percebeu por que ele não poderia ter quebrado o acordo de não fazer nenhuma brincadeira com Severo até que ele fizesse uma contra Sirius ou os seus amigos. Porque ele era leal às pessoas que amava. E ele a amava.

Anne pensava em como dizer o que estava sentindo, mas não conseguia. Naquele momento, Sirius parecia tão altruísta que ela achava que qualquer coisa que dissesse não seria suficiente para se desculpar.

Quando viu que Anne tinha caído da vassoura, qualquer plano de esquecer a garota havia desaparecido. Enquanto ela caía, Sirius só pensava que se não fizesse alguma coisa, ela talvez não sobrevivesse. Nem por um momento ele pensou que praticamente todos os alunos da Sonserina e da Grifinória estavam ali, e que muitos desses alunos iriam reprovar sua atitude, mas Sirius não poderia ficar de braços cruzados enquanto Anne caía. Ele a amava, e não queria que ela se machucasse. Sirius só ficou tranqüilo quando segurou Anne e viu que a garota sorria, um sorriso assustado, mas quando ela desmaiou, ele ficou preocupado novamente, e a levou para a enfermaria.

Enquanto levava a garota para a enfermaria, Sirius se arrependia de tudo o que havia planejado. O que ele mais queria era que Anne acordasse e mostrasse que estava bem, e enquanto levava a garota para a enfermaria, Sirius fazia mil promessas para que Anne acordasse, mas pela palidez no rosto dela, não parecia que era isso que iria acontecer, e quando madame Pomfrey viu a garota, ele percebeu pelo olhar da enfermeira que isso demoraria para acontecer.

Mas Anne ficou somente dois dias desacordada, e quando soube que ela estava bem, só esperou Severo sair da enfermaria para entrar e falar com ela, mas agora que estava com Anne, ele não sabia o que dizer. Enquanto Anne esteve desacordada, ele se arrependeu de ter feito a brincadeira com Severo mais uma vez, e também por ter tentado esquecê-la, o que ele não havia conseguido, e agora sabia que nunca ia conseguir. Amar Anne era uma das certezas que ele tinha, mas a incerteza do que ela sentia o intimidava.

Apesar de não falarem nada, o silêncio não os constrangia. Era como se, de certa forma, eles estivessem desabafando o que estavam sentindo enquanto estavam calados, e quando Sirius se levantou, parecia que já havia passado muito mais tempo do que os três minutos que ele havia ficado sentado.

- Eu já estou indo. Eu só queria ver se você estava bem.

Anne acenou com a cabeça, e sem esperar uma resposta da garota, Sirius deu meia-volta. Anne estremeceu. Se não fizesse alguma coisa, talvez nunca tivesse outra oportunidade para dizer a Sirius que ela o perdoava.

- Sirius! - o tom de urgência na voz da garota fez com que o rapaz se aproximasse outra vez da cama de Anne, dessa vez sem se sentar.

- Sim?

Ela fechou os olhos, criando coragem, e falou.

- Eu entendi o que aconteceu entre você e Severo.

Sirius olhou surpreso para Anne. Ela não havia dito as palavras exatas, e ele não esperava que ela as dissesse, mas Sirius percebeu que ela havia perdoado o que ele havia feito.

- Annie, eu fui tão estúpido, eu... - ele disse enquanto sentava, mas Anne tocou os lábios de Sirius com dois dedos fazendo ele se calar.

- Não diga nada. Só me beije.

Sirius se aproximou de Anne, e ela colocou as mãos no rosto do rapaz, aproximando-o do seu próprio rosto, até que os dois se beijaram, sem saber que alguém os observava.

-x-x-x-

Depois da discussão com Anne, Severo voltou furioso para as masmorras. Ele não entendia como a irmã apoiava Sirius e o contrariava, mas depois de passar algum tempo pensando na atitude de Anne, ele percebeu que ela não havia sido muito clara sobre porque ela achava que Sirius havia salvado ela porque ele quis, e decidiu voltar para a enfermaria.

Quando ele entrou na enfermaria, por alguns instantes ele pensou que estava sob o efeito de um feitiço. Sirius Black estava beijando sua irmã. A primeira coisa que passou na cabeça de Severo quando ele percebeu que não era um feitiço foi brigar com Sirius, pois achava que ele estava se aproveitando de Anne, mas ele logo percebeu que não era isso o que estava acontecendo, e antes que qualquer um dos dois percebesse a sua presença, ele saiu da enfermaria bastante magoado e irritado com a irmã, mas finalmente entendendo porque ela havia defendido Sirius.

-x-x-x-

As semanas passaram rapidamente, e logo só faltava um dia para que os alunos de Hogwarts voltassem para suas casas definitivamente. Os alunos estavam animados para voltar para suas casas, mas alguns, como Anne, não estavam tão animados assim.

Enquanto ia para a sala secreta, para a última aula de animagia até setembro, Anne pensava em como conseguiria conviver com o pai até o começo do sétimo ano. Então ela percebeu que depois do sétimo ano, não poderia mais fugir do pai. Assustada, ela abriu a porta da sala e entrou.

Sirius ainda não havia chegado, mas também não havia nenhuma fita vermelha na mesa, ele apareceria naquela noite, então Anne ficou esperando. Enquanto ele não aparecia, ela folheava o livro de animagia, um tanto quanto gasto, sem se assustar com as figuras aterrorizantes de bruxos que não haviam se transformado corretamente, pois ela tinha confiança em si mesma, e já havia aprendido feitiços e poções para que a transformação fosse menos dolorosa. Se as aulas continuassem no mesmo ritmo, antes do Natal já seria um animago, de acordo com seus cálculos.

Quase uma hora depois de ter chegado, Anne se levantou da cadeira impaciente. Quando ela saiu do dormitório, já era mais de onze horas, e sendo tão tarde, ela não pensou que esperaria Sirius por tanto tempo.

- E se o Filch tiver.. - ela murmurou, mas em seguida balançou a cabeça. - Não, ele sempre usa a capa do Potter... Mas se não foi isso, o que foi, então? - intrigada, ela se sentou, mas somente para se levantar de supetão - Ora, eu é que não vou ficar aqui parada sem fazer nada!

Decidida, Anne saiu da sala com o pensamento de ir para o dormitório masculino da Sonserina e pegar a capa de invisibilidade do irmão, assim poderia andar pelo castelo sem ser descoberta, e com o mapa, ela chegaria na torre da Grifinória sem dificuldade e descobriria o que tinha acontecido com Sirius para que ele não aparecesse.

Esse pelo menos era o plano inicial, mas quando estava se aproximando das masmorras, Anne escutou passos apressados, e em seguida, de dentro de uma das masmorras, uma voz sibilante. Curiosa, ela andou seguindo a voz.

- Milorde... Eles me descobriram... O que eu faço agora?

Quase sem conseguir conter uma exclamação de surpresa, Anne reconheceu o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e diretor da Sonserina como a pessoa que havia falado. Ele estava agachado em frente a uma lareira da qual saía chamas verdes, e além disso, o rosto pálido e intimidante de um homem que Anne reconheceu como ninguém mais que Voldemort.

- Estúpido, você não deveria ter me procurado!

- Mas, Milorde, eu não sei o que fazer! Dumbledore pode me encontrar a qualquer momento, eu não quero...

- Silencio! - o homem olhou com fúria - Tolo! Tem alguém escutando a nossa conversa!

Anne estremeceu, assustada, e ao mesmo tempo impressionada com o poder do bruxo das trevas, pois para saber que ela estava lá, ele deveria ser muito poderoso. Isso fez com que ela tivesse mais medo do que aconteceria se o professor Wright a encontrasse, mas ela também não poderia sair, pois se ela se movesse, com certeza ele a descobriria.

- Impossível, Milorde, não havia ninguém pelos corredores quando eu cheguei aqui...

- Eu sei que tem mais alguém aqui! Eu sinto... - a voz era num tom pensativo, mas logo o bruxo disse num tom de quem está acostumado a mandar e a ser obedecido sem ser questionado. -... é uma menina! Vá verificar antes que ela fuja!

- Sim, Milorde, sim...

Anne deu um passo para fugir, mas antes que ela o conseguisse, o professor Wright se virou imediatamente, e conseguiu segurá-la antes que ela saísse da masmorra. Ele ergueu a varinha e apontou na direção da garota.

- Avad...

Anne fechou os olhos com força, assustada, e pensando, com ironia, que aquela pelo menos seria a solução perfeita para ficar longe do pai.

- Estúpido! - antes que o professor terminasse o feitiço, a voz sibilante falou mais uma vez, salvando Anne, que suspirou aliviada - Ela pode ser útil para a sua fuga! Seja esperto! Use-a!

Compreendendo o que Voldemort havia dito, o professor Wright segurou Anne com força pelo braço, e a arrastou para fora das masmorras. Anne seguiu o professor, mas assim que teve oportunidade, empurrou o professor e correu.

- Sua idiota!

Depois do segundo de surpresa, o professor correu atrás da garota. Anne só pensava em correr e ficar o mais longe possível do bruxo. Para ter certeza de que já estava longe, a garota olhou por cima do ombro, mas nesse instante, ela distraiu, e antes que percebesse, tropeçou e caiu.

Por alguns instantes, Anne não sentiu o que estava acontecendo, até que a mão do professor Wright a levantou com pouca delicadeza.

- Mais uma tentativa de escapar ou de tentar alguma magia, e eu acabo com você antes que você consiga piscar!

O tom de voz do professor era ameaçador, totalmente diferente do tom calmo que ele usava nas aulas. Sem conseguir prever o que iria acontecer com ela, Anne somente concordou com a cabeça, mostrando medo no olhar.

- Ótimo.

O professor empurrou Anne mais uma vez, e os dois começaram a sair das masmorras em direção à saída do castelo. Durante o caminho, Anne tropeçou várias vezes, numa tentativa de retardar a fuga que passou despercebida ao professor, mas que não foi suficiente para impedir que os dois saíssem do castelo. Porém, assim que os dois estavam fora do castelo, eles escutaram uma voz que pareceu para Anne tão ameaçadora, ou mais, do que a do professor.

- Solte Anne imediatamente.

O professor e a garota se viraram e viram o diretor de Hogwarts apontando uma varinha na direção do homem. Anne estava surpresa. Nunca pensou que Dumbledore pudesse olhar com tanta firmeza como naquele momento, mas ao mesmo tempo, estranhamente, sentia que enquanto Dumbledore estivesse por perto, ela estaria salva.

- Eu não vou desistir assim tão fácil, Dumbledore! Você só vai ter de volta o corpo da garota!

Os dois homens se encararam, e Anne percebeu o quanto eles eram parecidos. Os dois normalmente eram pessoas calmas, mas quando estavam sob pressão, demonstravam uma grande força de vontade, como naquele momento.

- Se você deixar Anne, eu deixo você ir embora. - depois de poucos segundos que pareceram uma eternidade para Anne, Dumbledore finalmente falou.

Anne olhou surpresa para o diretor. Ninguém, além de Sirius, havia pensado na segurança dela como Dumbledore acabava de demonstrar.

- Você dá a sua palavra? - pela primeira vez, a voz do professor Wright pareceu hesitar. No final, o instinto de sobrevivência estava vencendo.

- Você tem a minha palavra.

Assim que Dumbledore terminou de falar, Anne sentiu que o professor a empurrara, e caiu no chão. Dumbledore a ajudou a levantar enquanto o professor escapava.

- Você está bem?

Assim que sentiu a mão do diretor segurando o braço e fazendo com que ela caminhasse de volta ao castelo, Anne percebeu o risco que havia corrido. Ela tremeu, e empalideceu, sem querer pensar que quase havia morrido. Mais uma vez.

- Você deixou ele fugir! - só quando entrou no castelo é que Anne se lembrou do professor, e falou quase sentindo raiva do diretor por ele ter deixado escapar o homem que tentou matá-la.

- Sim, eu deixei. - Dumbledore disse com pesar, mas um brilho estranho surgiu em seu olhar - Mas ele não vai conseguir escapar. Os aurores logo o encontrarão. Ele não irá fugir por muito tempo.

- Aurores? Têm aurores em Hogwarts? - ela perguntou piscando com curiosidade - Então porque você não deixou ele ir logo?

- Por sua causa, Anne. Se ele fugisse com você, ele poderia usar você como fez comigo, ou então algo pior poderia acontecer.

A maneira como o diretor olhou para a garota fez ela pensar que se não fosse pelo diretor, ela poderia não estar ali. Intimamente, ela agradeceu profundamente a Dumbledore. O diretor pareceu saber o que Anne sentia, pois sorriu para ela. Os dois, então, começaram a caminhar de volta ao castelo, em silêncio, até que Anne falou.

- O professor Wright é um Comensal, não é?

- Sim, Anne, ele é um Comensal. Mas agora ele vai ter que enfrentar as conseqüências de sua decisão.

- Ele vai para Azkaban?

- Talvez.

- E... - ela abaixou o olhar - O que vai acontecer comigo?

- Eu acho melhor que ninguém saiba que você teve algo a ver com os acontecimentos de hoje. Acho que algumas pessoas não vão gostar de saber sobre isso - Anne concordou sem imaginar que o diretor falava do pai dela.

- Eu não vou falar nada a ninguém - ela respondeu sem colocar Sirius nessa categoria.

Dumbledore sorriu para Anne, e depois de fazer com que a garota bebesse uma poção de madame Pomfrey e se acalmasse, ela voltou para o dormitório, mas só conseguiu dormir quando estava quase amanhecendo.

Quando Anne acordou, ela se levantou de uma vez, praguejando por ter dormido demais. Ela se vestiu torcendo para que não tivesse perdido a primeira aula. Depois de pegar os livros, a garota saiu apressada das masmorras, e sem estranhar o fato de que não havia ninguém na sala comunal, foi para a sala de Feitiços, mas não havia ninguém lá.

- Droga, eu perdi a primeira aula!

Ela deu meia volta, mas antes de começar a voltar para as masmorras, ela ouviu uma voz atrás de si.

- Geralmente não há aula no dia em que os alunos voltam para casa, garotinha.

Anne olhou surpresa na direção de onde vinha a voz, e viu que o quadro de um homem com ar distinto havia falado. Ela bateu na testa com a mão, e correu para o salão principal, onde Dumbledore estava falando com os alunos.

Anne tentou ser discreta, mas Narcisa não deixou que a chagada da garota passasse desapercebida, e falou num tom alto.

- Finalmente sua irmã chegou, Severo! Estava começando a achar que ela tinha se perdido no meio do caminho.

Todos os que estavam por perto se viraram para ver o que havia acontecido, e logo vários olhos curiosos fitavam Anne, que, envergonhada, sentou-se um pouco afastada dos outros sonserinos.

- Seja bem-vinda, Anne. - Dumbledore, que havia parado de falar depois que a atenção dos alunos foi desviada, voltou a falar - Como eu estava dizendo... O professor Wright conseguiu escapar. Os aurores não conseguiram pegá-lo, mas felizmente nenhum deles foram feridos. - ele fez uma pausa antes de continuar - O acontecimento de ontem demonstra que não estamos totalmente seguros, e que a ameaça de Voldemort deve ser encarada com seriedade. Não adianta eu tentar enganar vocês. Nenhum lugar é totalmente seguro. Nem mesmo Hogwarts. Mas isso não significa que devamos nos esconder, ao contrário, devemos nos unir e lutar pela liberdade. Espero contar com vocês.

Por alguns instantes, Anne não entendeu o que havia acontecido, e ficou sentada enquanto os outros alunos iam para seus dormitórios, nenhum deles em silêncio, todos comentando o que havia acontecido. O professor Wright havia escapado. Ela olhou com hesitação para Dumbledore, com medo do que iria acontecer com ela, se o professor Wright a perseguiria, mas quando o seu olhar encontrou o do diretor, ele transmitiu coragem para ela. Quase sem perceber, Anne concordou com a cabeça e foi para as masmorras.

-x-x-x-

Sirius já havia perdido a conta de quantas cabines já havia aberto na sua procura por Anne, mas em nenhuma delas ele encontrou a garota. Ele suspirou depois de fechar mais uma porta, sem conseguir o que queria, e foi até a outra cabine. Enquanto ele abria a porta, a porta de outra cabine foi aberta, e o rosto de Anne surgiu.

- Psiu, Sirius! - ela o chamou, e Sirius olhou para Anne um pouco atrapalhado. - Eu estou aqui!

- Er... Lindo dia, não é? Poucas nuvens... - Sirius disse para os lufa-lufas apontando para o céu, e enquanto eles olhavam para a direção que o rapaz apontou, ele aproveitou para sair e ir para a cabine de Anne.

- Poucas nuvens?! - a garota disse enquanto Sirius se sentava, com um sorriso divertido no rosto.

- Bem... Eu estou aqui, não estou?

- É - ela disse se aproximando de Sirius. - Ainda bem - os dois se beijaram, e quando se separaram, Anne olhou com irritação. - Por que você demorou?

- Eu estive procurando você por todo o trem! Só você mesmo para encontrar uma cabine tão escondida! O trem está praticamente lotado!

- Bem, eu tenho meus truques. - ela sorriu timidamente, sem querer dizer que na verdade, estava sozinha porque havia espantado todos os que tentaram ficar naquela cabine com um olhar de fúria.

O rapaz sentou-se ao lado da garota.

- Desculpe por eu não ter ido ontem à noite, mas eu tive que dar uma última aula para Pedrinho, e Tiago já havia guardado a capa nas coisas dele... Você não esperou por muito tempo, esperou?

Anne engoliu em seco. A idéia de não contar o que aconteceu na noite passada passou por sua mente pó um segundo, só para ser posta de lado.

- Eu queria falar sobre ontem à noite, Sirius... Aconteceu uma coisa...

- O que foi? Seu irmão percebeu alguma coisa?

- Não, não foi isso... - intimamente, Anne desejou que isso teria sido muito melhor do que o que havia acontecido - Quando eu vi que você não ia para a aula, eu pensei que alguma coisa tinha acontecido e fui te procurar.

- Por que você fez isso? Você pelo menos levou o mapa, não foi?

- Eu olhei o mapa antes de sair da sala, eu estava indo para as masmorras pegar a capa de Severo, mas eu não consegui.

- Como assim?

- Enquanto eu estava indo para as masmorras, eu escutei uma voz... - ela fez uma pausa. Novamente ficou em dúvida se contava ou não.

- Quem era?

Sirius disse com uma curiosidade que impediu que a garota inventasse alguma mentira.

- Era o professor Wright.

O rapaz levantou-se de uma vez e olhou com fúria para Anne.

- O quê?!

- Ele estava conversando com Você-Sabe-Quem.

- Voldemort! - a garota estremeceu - Nunca o chame por outra coisa que não seja o nome dele. Isso só faz aumentar o medo que você sente por ele. Continue. - Sirius olhava nervoso para Anne, e depois que ele cruzou os braços, a garota continuou.

- Voc... - ela quase não disse o nome do bruxo, mas o olhar severo do rapaz fez ela se corrigir - Voldemort percebeu que eu estava lá, e ele disse para o professor Wright para me usar durante a fuga.

Sirius controlou-se para não esmurrar a parede do vagão.

- Ele te machucou? Annie, se ele tiver machucado você, eu mesmo vou caçar ele!

- Não, Sirius ele não me machucou! - a garota levantou-se e tentou acalmar o rapaz segurando as mãos dele - Quando estávamos saindo do castelo, Dumbledore apareceu. Era como se os dois fossem animais selvagens... Dumbledore queria que o professor Wright me libertasse, o professor queria escapar, então Dumbledore deixou ele ir, contanto que ele me libertasse.

- Eu não acredito Dumbledore deixou aquele desgraçado ir embora! Como ele pôde fazer isso? Ele ia matar você, eu tenho certeza, Annie!

- Calma, Sirius! Dumbledore fez o que tinha que fazer! O castelo estava cercado por Aurores, ele pensou que o professor Wright não escaparia, mas ele fugiu! Poderia ter sido pior! Ele poderia ter fugido comigo, ou então os Aurores poderiam ter nos encontrado, e eu poderia me machucar!

- Isso tudo é besteira. Os Aurores nunca iriam ferir um inocente. Se você estivesse com Wright, eles iriam proteger você.

Anne voltou o rosto para a porta. Convencer Sirius de que ele estava errado era uma das coisas mais difíceis que ela já tinha feito na vida.

- Mas por acaso o professor Wright iria se preocupar comigo?

Sirius então admitiu que a garota estava certa. Dumbledore não conseguiu que o professor fosse pego, mas conseguiu que ninguém se ferisse. E trouxe Anne de volta para ele.

- Você tem razão, Annie. Se Dumbledore não tivesse feito a troca, talvez você não estivesse aqui... E eu não sei o que faria se isso acontecesse.

A garota encostou um dedo nos lábios de Sirius.

- Não pense nisso. Eu estou aqui, não estou?

Sirius não disse nada. Tudo o que ele sentia estava agora em seus olhos, e era alívio pela garota estar ali em sua frente. Como se quisesse mantê-la por perto para sempre, ele a segurou num abraço desesperado.

- Você está aqui e não vai para lugar nenhum, Annie.

Os dois ficaram abraçados por um longo tempo, até que a garota se soltou.

- Sirius... Eu queria dar uma coisa para você.

A mão de Anne procurou algo atrás do pescoço dela, e depois disso, ela colocou o colar que havia usado no baile nas mãos de Sirius.

- Eu quero que você fique com isso.

- Annie, isso é demais... Eu não posso...

- Aceitar? - a garota o interrompeu - Você deve aceitar. Eu quero que você tenha algo meu sempre por perto. - Anne segurou a mão de Sirius e tomou o colar para que em seguida o colocasse no pescoço do rapaz - Use-o sempre. Assim eu vou estar sempre com você.

Ela o encarou com firmeza, e Sirius, apoiando a cabeça dela em sua mão, a beijou. Enquanto a beijava, sentia que não existia outro lugar para ele senão com Anne. Era somente quando estava com ela que ele sentia aquela sensação de que nunca estaria sozinho, de que sempre que precisasse de alguém, Anne estaria por perto para escuta-lo e ajuda-lo da melhor forma possível.

As horas passaram rapidamente, e quando os dois menos esperavam, o trem foi reduzindo a velocidade.

- Não vai agora... - Anne pedia entre um beijo e outro de despedida.

- Eu nunca vou embora, Annie. Você ainda não percebeu? Eu estarei sempre com você - ele sorriu. - Até mesmo durante as férias.

- Do que você está falando? - a garota perguntou, intrigada.

- Você por acaso não vai pensar em mim durante as férias? - ele disse piscando, sem fazer com que Anne não ficasse curiosa - Agora eu tenho que ir mesmo... Eu tenho que procurar minhas irmãs...

- Eu sei... Severo pode aparecer aqui também...

Os dois se levantaram, e deram um último beijo antes do rapaz sair.

- Você não sabe o quanto eu vou sentir sua falta, Sirius... - Anne disse depois que o rapaz foi embora, passando o dedo no lábio, querendo guardar o sabor daquele beijo até setembro.

Poucos minutos depois que Sirius foi embora, a porta da cabine abriu, e Severo entrou.

- Vamos logo, ele está esperando.

- Ora, Skippy pode esperar! - a garota respondeu com indiferença.

- Não é Skippy quem está aqui. É o pai. - Severo disse quase sentindo prazer ao ver a expressão de pânico no rosto da irmã.

Anne estremeceu. Só esperava encontrar o pai no castelo, e agora que teria que vê-lo, não estava certa de que conseguiria ser forte o bastante. Com as mãos tremendo, ela pegou o malão e seguiu o irmão até a estação 9 3/4, onde, indiscutivelmente, Andrew Snape estava esperando os filhos, e pelo olhar de desprezo no rosto do homem, Anne sentiu que suas férias seriam piores do que havia imaginado.