17. ÚLTIMAS AULAS



Sirius visitou Anne mais duas vezes antes de Andrew Snape voltar com Severo, alguns dias antes do início das aulas em Hogwarts. Logo na primeira visita, Sirius fez uma pergunta que havia esquecido. Ele ficou muito perturbado para lembrar de perguntar porque Andrew havia feito isso. E enquanto os dois levavam os cachorros de tia Tulipa para passear, ele iniciou a conversa.

- Annie, por que seu pai fez isso com você?

A garota mordeu o lábio, apreensiva. Ela estava aliviada porque Sirius não havia feito essa pergunta. A garota não queria enganar Sirius mais do que já o enganava, mas não havia outra saída.

- Ele fez comigo o que havia feito no ano passado, mas dessa vez eu não ia aceitar sem fazer nada, então eu procurei uma passagem no meu quarto.

- E você achou, não foi? - o rapaz teria sorrido da insistência de Anne em outra ocasião, mas naquele caso, ele só sentia raiva de Andrew.

- Sim, eu achei. E ele descobriu que eu encontrei a passagem, foi por isso que ele me castigou - Sirius segurou a mão da garota, reconfortando-a.

- Depois disso, ele foi embora... Covarde - o rapaz disse com fúria. - Por que ele odeia tanto você?

- Eu não sei, Sirius. Existem várias coisas nele que eu não entendo.

Depois disso, Sirius evitou falar sobre o que havia acontecido. Agora ele só queria proteger Anne, e mais uma vez ele falou sobre o plano. Tudo já estava planejado, e apesar do receio que sentia, a garota finalmente concordou com o plano. Quando Sirius falava, a garota pensava que era impossível que algo desse errado. Esse otimismo foi o bastante para que ela se comportasse como o pai queria que ela fizesse depois que ele voltou.

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Severo e Anne empurravam seus malões pela estação de King's Cross com um ar concentrado, ignorando as outras pessoas. Os dois não trocavam nenhum olhar, tentando ignorar até mesmo que um estava ao lado do outro. O motivo para os dois agirem assim era a presença de Andrew Snape, que observava os filhos, atento a qualquer sinal de comunicação entre os dois, e disposto a punir quem tentasse iniciar uma conversa. Ele estava tomando todos os cuidados para não deixar os irmãos sozinhos, nem mesmo em Hogwarts. Para isso, ele tinha seus contatos, e todo o plano já estava pronto. Ele só precisava dar o primeiro passo.

- Adrianne, vá para o trem - Andrew disse depois que os três atravessaram a barreira para a estação bruxa. - Severo, você tem que falar comigo.

- Sim, senhor... - a garota respondeu obedientemente, e entrou no trem, mas ao contrário do que o pai esperava, ela esperou, dentro do trem, que o pai fosse embora e o irmão entrasse no expresso.

- Sev! Espera! - Anne chamou o irmão quando ele passou por ela, apressado.

- Anne, ele não quer que nós...

- Pouco me importa o que ele quer! E além do mais, ele já deve ter ido embora mesmo!

- E o Black? - Severo perguntou olhando com raiva para Anne - Por que você não vai atrás dele?

- Ele não é importante. - ela disse sabendo que o irmão gostaria de ouvir isso - Vamos deixar os malões aqui. Os elfos que cuidem deles.

Em seguida, a garota puxou o irmão pelo trem até chegar a um vagão pouco usado por estar bastante velho. Severo olhou surpreso para a irmã. Ele não fazia a menor idéia de como ela conseguia descobrir essas coisas.

- Como você descobriu esse vagão?

- Nott disse uma vez que nunca entraria numa dessas cabines. Então eu decidi que aqui era onde eu deveria ficar. Ninguém nunca me incomodou. - ela parou na frente de uma cabine e abriu a porta - Ótimo, essa sempre está vazia.

Severo balançou a cabeça. Essa era uma atitude típica da irmã, fazer o que ela não deveria fazer. O rapaz conhecia uma pessoa que também agia assim, mas provavelmente Anne ficaria zangada se fosse comparada ao pai.

Severo entrou na cabine, e não disfarçou a repulsa que sentiu. O estofado que cobria os bancos estava envelhecido, rasgado e sujo, a tintura estava gasta, quase desaparecendo, e ele podia jurar que havia um buraco no teto. Definitivamente aquele não era um lugar para um Snape ficar.

- Se você quiser, podemos ir para outra cabine.

- Não foi eu quem quis conversar - ele respondeu rudemente.

- Para onde ele levou você depois que ele descobriu sobre a passagem? - ignorando o desprezo do irmão, Anne perguntou.

- Eu não sei. Era uma floresta.

- A Floresta Proibida?!

Severo mal segurou um sorriso em seu rosto. A irmã havia errado, mas observando por outro ângulo, ela não estava muito longe de descobrir o que havia acontecido.

- Não.

- Você viu... - Anne perguntou olhando com incerteza para o irmão. Ainda tinha medo de dizer Voldemort, mas não queria chamá-lo de outra forma.

- Não - a segunda negativa de Severo foi dita com mais firmeza.

- Ele obrigou você a fazer alguma coisa?

- Não.

- Ele machucou você?

- Não.

Anne não conseguiu mais suportar as respostas evasivas de Severo, e levantou-se do banco de uma vez.

- Afinal, quando você vai me dizer o que aconteceu nessa viagem? Ou você não pretende falar nada além de não?

Severo olhou com raiva para a irmã. Ele pensava que para ela, tudo deveria ser somente uma brincadeira, mas ele, que havia vivenciado coisas terríveis, sabia que não era brincadeira. E se Anne achava que o que estava acontecendo com ele não era sério, ela iria saber a verdade agora.

- Você quer saber o que aconteceu? Quer saber mesmo?

- Diga-me.

- Eles me treinaram para a possibilidade de um ataque. E depois, aconteceu o ataque.

- Você não machucou ninguém, machucou? - ela perguntou, assustada.

- Não houve feridos.

Anne suspirou, e Severo fez uma pausa antes de continuar.

- Todos foram mortos. - os olhos da garota saltaram do rosto - Agora você está entendendo que isso não é brincadeira! Eu torturei pessoas, eu matei pessoas, e sabe qual é a pior parte? Eu fui parabenizado por tudo o que eu fiz!

Anne olhava fixamente para o irmão, sem conseguir acreditar em tudo o que ele havia dito, e disse com fúria.

- Ele obrigou você a fazer isso, não foi?

- Não, Anne, ele não me obrigou a fazer nada! - o rapaz disse enfatizando o pronome com sarcasmo - Droga, Anne, não somos mais crianças! Eu posso me responsabilizar pelo que eu faço! Por que você não vai atrás do Black ao invés de ficar aqui me importunando?

E sem esperar que a irmã respondesse, ele saiu da cabine, com raiva de Anne, e a garota ficou sozinha até que no meio da viagem, Sirius apareceu.

- Você é a garota mais difícil de encontrar, sabia? - ele sorriu, e beijou levemente os lábios da garota, antes de observá-la melhor e perceber que ela parecia preocupada - O que aconteceu? Você está preocupada por causa do ataque?

Anne ergueu as sobrancelhas, observando que Sirius também estava diferente, não tão alegre quanto ele era.

- Ataque? Que ataque? Você não me disse nada sobre isso quando me visitou.

- Você não soube do ataque?

Sirius olhou surpreso para Anne. Ele imaginava que ela deveria saber, afinal, até onde ele sabia, o ataque havia sido planejado por Andrew Snape. Mas ele ficou aliviado por Anne não saber de nada. Isso significava que ela não estava envolvida.

- Não, eu não soube de nenhum ataque. O que fizeram?

- Gigantes atacaram uma cidade próxima à minha casa. Os trouxas foram mortos, a maioria deles foram meus amigos quando éramos crianças... - ao lembrar-se dos antigos amigos, o rosto do rapaz assumiu uma expressão triste.

- Aconteceu alguma coisa com você? - a garota perguntou com preocupação.

- Nós não estávamos em casa... O ataque aconteceu um dia depois da última visita, por isso eu não falei nada.

- Eu pensei que você ia para a Irlanda naquele dia!

- Minha mãe mudou de idéia, ela quis visitar uns velhos amigos... Se não fosse isso, talvez alguns trouxas poderiam ter sido salvos. - esse pensamento só fez a raiva de Sirius aumentar.

- Sirius, eles eram gigantes, ninguém teriam chance nenhuma contra eles... A não ser... - a garota ficou pensativa por alguns segundos, percebendo o motivo da viagem do pai.

- O que foi, Anne?

- Havia algum Comensal com os gigantes?

- Sim, como você sabia? - o rapaz perguntou com curiosidade, começando a suspeitar de que talvez Anne soubesse de alguma coisa.

- Eu só deduzi, eles sempre estão envolvidos nisso, não é? Os gigantes foram o que me surpreendeu. Eles são violentos e tudo mais, mas eu pensei que eles preferiam viver escondidos dos trouxas... Talvez eles só atacaram por que os Comensais tiveram que convencê-los... - isso explicava o motivo da demora de Andrew e Severo, a garota pensou.

- Eu pensei a mesma coisa. Talvez... - Sirius interrompeu a frase pouco antes de dizer que talvez Dumbledore pensasse da mesma forma. Anne não deveria saber sobre a Ordem da Fênix, por mais que ele quisesse contar tudo para ela - Talvez os Aurores pensem da mesma forma... - ele disse para evitar que a garota suspeitasse de algo.

- É... - a garota concordou com a cabeça - Talvez... - ela disse com preocupação. Se os Aurores investigassem mais, poderiam até descobrir que Severo era um Comensal.

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O salão principal estava belamente decorado, como todos os anos, para recepcionar os novos alunos e os veteranos que voltavam para mais um ano em Hogwarts. Nas mesas de suas respectivas casas, os alunos do segundo ao sétimo ano aguardavam a seleção dos novos alunos.

Quando todos estavam sentados, a professora McGonagall entrou no salão com os novos alunos. Vários rostos ansiosos olharam para o teto, e dele para o chapéu que a professora de Transfiguração segurava. Ela chamou o primeiro aluno, e a seleção começou.

Nas mesas, os alunos esboçavam as mais variadas reações. Anne bocejava, impaciente. Desde que havia sido selecionada para a Sonserina, a cerimônia de seleção passou a ser entediante. Na mesa da Grifinória, Ethan e Bartolomeu apostavam entre si para qual casa iriam os novos alunos. Na mesa da Lufa-lufa, um grupo de meninas observava se os novos alunos eram bonitos, enquanto que na mesa da Corvinal, os monitores conversavam sobre o mais recente ataque, até que a seleção terminou, e Dumbledore levantou-se.

- Apesar dos últimos acontecimentos, ou exatamente por causa deles, desejo a todos um ótimo ano. Sejam bem-vindos, alunos. Espero que esses meses não tenham sido suficientes para que vocês tenham esquecido tudo o que já aprenderam, e estejam prontos para mais um ano de aprendizado. - os alunos aplaudiram, e o diretor esperou que todos parassem antes de continuar - Antes do tão esperado banquete, eu gostaria de apresentar a vocês nossa nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Arabella Figg.

Quando o diretor anunciou o nome da professora, uma bruxa já velha, mas elegante entrou no salão. Ela usava um chapéu azul-escuro, óculos que não escondiam os olhos azul-turquesa, e com um sorriso simpático, ela cumprimentou os alunos, que aplaudiam com entusiasmo, exceto alguns alunos da Sonserina, e Anne notou que quase todos eram amigos de Severo.

Poucos eram os que não haviam ouvido falar de Arabella Figg, irmã de um dos primeiros Aurores que havia sido morto por Voldemort, e que desde então, começou uma batalha contra o bruxo. Já havia sido vítima de inúmeros ataques, mas sempre conseguiu escapar, e agora, ela ensinaria Defesa Contra as Artes das Trevas. Não era por nada que todos estavam animados.

- Seja bem-vinda, Arabella. - o diretor disse sorrindo para a nova professora quando os aplausos terminaram - Acho que não estou sendo otimista quando digo que todos vão gostar das aulas de Arabella. Mas além de uma nova professora, os alunos da Sonserina terão um novo diretor. Devido aos acontecimentos do último ano escolar, o professor Carwell é agora o novo diretor da Sonserina.

Dessa vez, todos os alunos da Sonserina ficaram zangados, inclusive Anne. O professor de Poções era um velho que nunca havia demonstrado interesse por nada além de suas poções, ao contrário do professor Wright, que defendia a Sonserina acima de qualquer coisa. Além disso, Anne ainda se lembrava que a culpa dela ter ido em detenção no quinto ano havia sido dele. Os protestos, no entanto, foram em vão. Dumbledore não parecia disposto a mudar o diretor da Sonserina, então os alunos tiveram que se conformar.

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As aulas já haviam começado há dois dias, e aquela seria a primeira aula-conjunto entre Sonserina e Grifinória. Na noite anterior, Sirius e Anne combinaram que iriam sentar-se juntos, portanto, Anne só entrou na sala depois que o professor Carwell entrou.A garota passou os olhos pela sala, fingindo procurar um lugar para sentar, e fingindo não ter encontrado nenhum outro lugar além na mesma mesa que Sirius, ela fez uma careta e olhou com falsa raiva para o grifinório.

- Eu não vou ficar aí com você! - ela disse com desprezo.

- Bem, você tem duas escolhas. - Sirius sorria - Sair e não assistir a aula, o que vai fazer com que você perca a explicação e não entenda nada depois, ou então...

- Ou então sentar na minha mesa, no lugar que eu guardei para ela. - Anne e Sirius trocaram olhares assustados antes de voltarem o rosto para Severo - Vá cuidar da sua vida, Black, e deixe a minha irmã em paz.

Sem outra alternativa, Anne não reclamou quando sentiu que a mão de Severo a empurrava até uma das mesas da frente, enquanto Sirius olhava mal-humorado para Severo.

No restante do dia, Severo não deixou Anne ficar sozinha em momento algum, e quando os dois conversavam, ele fazia questão de ressaltar os defeitos de Sirius e dos outros Marotos. Só depois da última aula foi que a garota conseguiu escapar da vigilância do irmão, aproveitando o momento em que Rosier chamou Severo para os dois conversarem.

Rapidamente, a garota guardou seus livros no dormitório e foi para o banheiro feminino, pensando, com raiva no que Severo estava tentando fazer. Ele estava tentando fazer com que a irmã e Sirius tivessem o mínimo de contato possível, e que se falando mal do grifinório ele fizesse a irmã perceber quem Black realmente era, ela desistiria desse relacionamento.

Anne bateu com raiva no boxe do banheiro. Se Severo continuasse assim, ela só poderia se encontrar com Sirius na sala secreta. A sala secreta... Ela sorriu ao lembrar-se que poderia encontrar Sirius na sala, e imediatamente foi para a sala secreta, mas quando estava passando em frente ao salão principal...

- Anne!

- Severo... - o tom de pânico na voz da garota denunciava que ela não estava satisfeita por encontrar o irmão.

- Onde você estava? Procurei você por toda parte!

- Eu... er... eu estava... - ela gaguejava, tentando pensar numa desculpa, mas sem ter nenhuma idéia - Por aí...

- Você deve estar com fome, vamos para o salão principal, logo o jantar vai ser servido.

- Não, Sev, eu estou cansada, acho que vou dormir... - a garota fingiu um bocejo.

- De jeito nenhum! - o rapaz protestou, sem estar disposto a deixar a irmã sozinha - Eu não vou deixar minha irmã passar fome! Vamos para o salão principal, agora mesmo.

O tom imperativo de Severo deixava claro que ele não iria aceitar um não de Anne, e ela estava indecisa. Não queria ir para o salão, mas se não fizesse o que o irmão ordenava, os dois acabariam brigando, e, a garota reconhecia, preferia que Severo a protegesse a ignorasse, portanto, ela foi para o salão com o irmão.

Severo e Anne ficaram no salão principal conversando até que, falando alto e chamando a atenção de todos, Sirius entrou no salão com os outros marotos. O sonserino percebeu a troca de olhares entre a irmã e o grifinório, e antes que Anne inventasse alguma desculpa para escapar, ele decidiu intervir.

- Vamos para a sala comunal.

- Mas, Sev, seu prato está pela metade... - a garota disse, tentando fazer com que o irmão ficasse no salão. Sirius estava tentando sinalizar para ela.

- Eu já comi demais, Anne, e ainda por cima, temos que fazer a tarefa de Transfigurações, elas vão ser importantes para nosso exame de aparatação, e você não pode nem sonhar em ser reprovada no exame. - o sonserino disse, bebendo em seguida um último gole do suco de abóbora, fazendo questão de esquecer que ele já sabia aparatar a alguns meses, e ignorando o olhar furioso da irmã. Mas de qualquer forma, ela foi atrás dele.

- Nós vamos para a biblioteca? - a garota perguntou em voz alta quando passou em frente à mesa da Grifinória.

- Pode ser... - o irmão respondeu um pouco distante.

Quando chegaram às masmorras, Anne pegou os livros de Transfiguração, mas quando foi para a sala comunal, encontrou o irmão sentado em uma das cadeiras, longe da fogueira e dos outros alunos, e parecendo pouco disposto a ir para a biblioteca.

- Nós não íamos para a biblioteca? - ela perguntou, contrariada.

- Mudei de idéia. - o rapaz respondeu sem tirar os olhos do livro - Sente-se.

Anne suspirou cansada, e sentou-se sem falar nada contra o irmão ter mudado de idéia. Ela sabia o motivo por ele ter feito isso, e se arrependeu por não ter percebido antes, mas agora ela teria que ficar a noite toda com o irmão, ou pelo menos até ele ficar com sono. A garota suspirou outra vez, duvidando de que naquela noite ela iria para a sala secreta.

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As verdes e já fracas chamas da lareira sumiram no instante que Severo fechou o livro e levou a irmã até o dormitório do sétimo ano, com o que Anne podia jurar ser um sorriso de dever cumprido.

A garota ainda bocejou sem nenhum fingimento depois que disse boa noite ao irmão, e entrou no quarto em seguida. Ao ver-se só, Anne não pensou se uma das três colegas de quarto estavam acordadas, e imediatamente pegou o mapa que Sirius havia dado. Ela procurou o ponto indicando S. Snape com os olhos, e ficou aliviada quando viu que ele estava tranqüilamente em seu dormitório, e mais ainda quando viu que o ponto indicando S. Black estava na sala secreta. Rapidamente, Anne pegou o livro de animagia e saiu das masmorras para a sala.

Quando a garota entrou na sala, como se estivesse fugindo de um trasgo, o rosto corado, e parecendo bastante irritado, Sirius cruzou os braços, e olhou com falsa raiva para Anne enquanto falava friamente.

- Senhorita Snape, o seu intolerável atraso de mais de uma hora só me deixa uma escolha. De-ten-ção. Eu pensei em tirar pontos, mas visto que você é minha única aluna, então acho que terei que acalmar os meus instintos de tirano e contentar-me somente com sua detenção.

A garota apertou a mão com nervosismo, sem ânimo para rir da brincadeira de Sirius.

- Meu irmão não deu um minuto de sossego.

Sirius fez um gesto tranqüilizante com a mão.

- Eu já esperava por isso, mas eu não pensei que você fosse demorar tanto. Já é quase meia-noite!

- Se não fosse o mapa, eu teria demorado mais. - ela disse enquanto apontava a varinha para o mapa - Malfeito-feito.

- Bem, vamos começar logo, hoje temos pouco tempo... - o rapaz disse enquanto procurava o capítulo da aula.

Anne olhou com ansiedade para as folhas que passaram. A cada dia que passava, Sirius passava por mais folhas antes de chegar ao capítulo, e naquela noite, a garota percebeu que o rapaz havia passado por quase todo o livro antes de chegar ao capítulo daquela aula. O livro estava quase no fim, e as aulas também. Só faltavam poucos capítulos sobre como manter a mente humana no corpo de animal, e as poções que ajudariam Anne a tornar-se um animago já estavam sendo preparadas. A ansiedade que ela sentia crescia cada vez mais.

- Isso! Eu mal posso esperar para que as aulas acabem!

- E também para ficar livre do seu professor, não é? - Sirius perguntou, fingindo estar magoado.

- De jeito nenhum. - a garota respondeu com um olhar determinado e um sorriso confortante, fazendo o rapaz se aproximar dela, como se tivesse sendo atraído pela garota - Certo, agora, que tal se...

- Se a gente esquecesse a aula... - o rapaz disse enquanto acariciava o rosto da garota - e fôssemos fazer algo mais interessante...?

Anne não falou nada. Ela afastou-se de Sirius e foi até a mesa, onde pegou o livro e o mostrou para o grifinório, que olhou desanimado para ela.

- Está bem, entendi o recado...

A garota aproximou-se do rapaz, e depois de um beijo no rosto, disse num sussurro.

- Depois podemos fazer outras coisas...

Sirius ficou ereto, qualquer traço de sono havia desaparecido.

- Capítulo duzentos e oitenta e um, não é? Bem, ele não parece complicado, acho que você aprende logo...

A garota não conseguiu segurar um riso divertido.

- Interesseiro!

- E você não consegue ficar longe de mim - ele disse com um sorriso cínico.

- Sirius... - a garota disse num tom de aviso.

- Eu já entendi, eu já entendi!

- Nós temos que estudar esse capítulo logo. Do jeito que Severo está, não sei nem se amanhã conseguirei chegar aqui antes de você ir embora! Então vamos logo terminar esse capítulo.

- Ei, eu pensei que EU era o professor! Se você continuar insubordinada assim, eu... - o rapaz interrompeu a frase quando percebeu o olhar recriminador de Anne - Desculpa, eu prometo não dizer mais uma só palavra, está bem? - ele voltou a atenção para o livro de animagia - Vejamos... "Como manter a mente humana enquanto animal"

Sirius começou a ler, sem ver o sorriso maroto no rosto de Anne, que pensava, com alegria, que ele nunca mudaria.

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Por mais que Anne teria ficado contente se Severo tivesse deixado de vigiá-la, o rapaz continuou vigiando a irmã. Por causa disso, durante o dia, Sirius e Anne demonstravam a mais profunda indiferença, e para manter a farsa, os dois sentaram-se distantes na primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, aula conjunta com os alunos da Sonserina e da Grifinória.

A maioria dos alunos havia chegado na sala muito antes da aula começar, o que era raro na última aula do dia, mas todos estavam curiosos em como a famosa bruxa administraria as aulas. Os alunos pensavam no quanto Arabella Figg conhecia das artes das trevas, e agora ela estava em Hogwarts, a poucos minutos de começar a dar aula para os alunos do sétimo ano.

- Boa tarde. - a professora cumprimentou os alunos com voz firme, prendendo a atenção deles assim que pisou na sala - Como o professor Dumbledore disse, eu serei professora de vocês durante um ano. Apesar do curto tempo, espero que seja um ano proveitoso para todos. - ela começou a caminhar pela sala, passos miúdos, mas que em nenhum momento conseguiram esconder a força de vontade da mulher - Eu também fui informada do que o professor Wright ensinou a vocês, e confesso que fiquei impressionada com o pouco que vocês sabiam. Alguma coisa sobre criaturas mágicas, bruxos das trevas, objetos mágicos, mas tudo muito superficial. Ainda bem. - ela fez uma pausa, e quase todos os alunos trocaram algumas palavras - Essas coisas não são tão necessárias quando se está frente a frente com um bruxo das trevas, em uma situação de grande perigo. É preciso saber um bom feitiço, ter uma boa poção em mãos, conhecimento de duelo, mas, exceto pelo Clube de Duelos, acho que o professor Wright fez o possível para que vocês não aprendessem essa matéria como deveriam ter aprendido. Bem, era de interesse dele que vocês não aprendessem isso. - a professora disse dando de ombros, ignorando os olhares furiosos de quase todos os alunos da Sonserina - Portanto, teremos que começar praticamente do zero, mas ao fim do ano, vocês estarão preparados para enfrentar o mundo.

Em seguida, a professora Figg fez a chamada, e enquanto chamava os nomes, ela olhava para cada um dos alunos, e todos puderam sentir a coragem que o olhar dela transmitia, juntamente com uma enorme compaixão pelo mundo em que ela vivia, e quando a aula terminou, somente alguns sonserinos ainda tinham algo contra a nova professora, inclusive Severo. O rapaz comentou a opinião que a professora deixou nele com a irmã até eles chegarem na parede que dava entrada à sala comunal da Sonserina. Severo disse a senha, mas quando ele virou-se para continuar a conversa com Anne, ele não a viu, somente escutou, ao longe, os passos apressados da garota, enquanto praguejou interiormente.

A idéia de correr enquanto Severo entrava surgiu na mente de Anne antes que ela pudesse pensar que era arriscado. Quando ela pensou nisso, o impulso já havia sido mais forte, e ela correu para a sala. Por sorte, ela estava com o mapa de Sirius nas suas coisas, e assim que entrou na sala, ela abriu o mapa.

Primeiro, várias linhas surgiram, e em seguida, elas começaram a crescer para várias direções. Ao mesmo tempo, inúmeros pontos surgiram, quase todos em movimento, mas como se lesse a mente de Anne, os pontos inúteis desapareciam quase ao mesmo tempo em que surgiam, até que ela conseguiu localizar Sirius indo para o salão principal, e ela saiu da sala antes que ele entrasse no salão. Naquela noite não haveria aula porque era lua-cheia, mas ela queria aproveitar qualquer momento que pudesse ter a sós com Sirius, por isso havia fugido de Severo.

Não demorou muito para que Anne encontrasse Sirius conversando com Tiago e Pedro, e sem se importar com os outros dois, ela foi falar com Sirius.

- Temos que ir conversar agora.

O rapaz virou-se para a garota com surpresa, não esperava que fosse falar com ela naquele dia.

- Espera um pouco que eu estou indo para a sala.

Anne concordou com a cabeça, e voltou para a sala. Ela ainda estava com o mapa aberto em suas mãos, e ficou observando o caminho do ponto indicando S. Black até a sala, mas quando Sirius estava se aproximando, ela olhou intrigada para um outro ponto que saía do salão principal para fora do castelo até o Salgueiro Lutador, indicando J. Black.

- O que você quer falar comigo?

A voz de Sirius assustou Anne, e fez com que ela derrubasse o mapa. O rapaz abaixou-se para pegar o mapa, mas um grito da garota o reteve.

- Não!

Sirius pegou o mapa, mas devolveu para a garota sem olhá-lo.

- O que foi?

- É que eu... Eu esqueci de apagar o mapa... - ela disse corando por causa da mentira, enquanto Sirius entregava o mapa para ela - Malfeito-feito.

Anne virou-se para guardar o mapa, e Sirius olhou desconfiado para ela. Ele suspeitou que tinha algo no mapa que ela não queria que ele visse, e ficou chateado. Era mais um segredo que Anne escondia dele, e ele suspeitava que tinha algo a ver com o irmão dela. Desde as visitas que Sirius havia feito ao castelo Snape durante as férias ele pensava nisso.

- E então, o que você quer falar comigo?

Quando Anne voltou-se para Sirius, não havia o menor sinal de desconfiança no rosto do rapaz, mas ela não queria mais conversar com Sirius, com medo de que ele descobrisse o que a irmã estava fazendo e ficasse com raiva.

- Acho melhor conversarmos depois, meu irmão pode estar me procurando, sabe, e hoje é lua-cheia... Tchau

E dando um rápido beijo nos lábios do rapaz, Anne saiu da sala, deixando Sirius mais desconfiado ainda de que ela estava escondendo alguma coisa.

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Anne acordou mais cedo do que o habitual, e com o corpo dolorido. Por alguns instantes, ela pensou o que estava fazendo dormindo no chão, mas ao ver Severo dormindo no chão da sala comunal, ela lembrou com um olhar zangado do que havia acontecido na noite anterior.

Depois de ter escapado daquela forma da vigilância do irmão, Severo não desgrudou mais de Anne, e a vigilância já durava dois dias. O rapaz seguia a irmã para onde quer que ela fosse, a ponto até de esperá-la do lado de fora quando ela precisava ir ao banheiro. Muitos dos sonserinos começaram a fazer brincadeiras com Severo, chamando-o de guarda-costas, mas o rapaz não se importava. Ele precisava proteger a irmã da pior coisa que poderia acontecer com ela, e para isso, ele não se importou em praticamente obrigar Anne a passar a noite com ele na sala comunal revisando a matéria de Poções, nem quando os olhos da garota ficaram pesados, ou quando ele começou a bocejar com mais freqüência, ou quando a irmã começou a estudar deitada de lado, ou quando ele não conseguia mais impedir que a sua cabeça pendesse para o lado. Não demorou muito para que os irmãos Snape estivessem dormindo.

E agora Anne estava acordada, mas ela não ficou muito tempo com raiva. Logo ela percebeu que Severo estava dormindo, e se ela quisesse fugir da superproteção dele, aquele era o momento perfeito.

Antes de sair das masmorras, ela pegou o mapa de Sirius, assim poderia saber quando Severo saísse da sala comunal, ou quando Sirius saísse da torre. E se tivesse sorte, talvez conseguisse falar com Julie Black. Desde que havia visto a irmã de Sirius indo para o Salgueiro Lutador, Anne decidiu que deveria conversar com a garota, mas todas as vezes que Anne tentou falar com Julie, a garota conseguia escapar, e isso frustrava Anne. Não que ela quisesse falar com Julie. A garota faria qualquer coisa para não falar com a irmã de Sirius, mas se ela não alertasse Julie e Sirius descobrisse que a irmã ia para o Salgueiro Lutador fiar com Lupin, ele ficaria bastante chateado.

O salão principal estava vazio, e consultando o mapa, Anne descobriu que poucos eram os alunos que estavam acordados, e estes estavam quase todos em seus dormitórios. Todos na Sonserina ainda estavam dormindo.

Com um suspiro de cansaço, já imaginando que aquela seria uma longa espera, a garota sentou-se na mesa da Sonserina, e imediatamente, um prato com comida surgiu em sua frente.

- Pelo menos os elfos estão acordados...

Enquanto Anne comia, os alunos iam acordando, e o movimento no salão principal aumentava. Logo um grupo de alunos do terceiro ano da Lufa-lufa entrou, sendo seguidos por alguns alunos da Grifinória, dois sonserinos, e uma corvinal, até que o salão ficou cheio o bastante para que alguém pudesse se preocupar de que casa era o aluno que entrava. Anne já havia terminado o café há alguns minutos quando, observando pelo mapa, viu que Julie Black estava saindo da torre da Grifinória.

Anne levantou-se da mesa da Sonserina e saiu apressada do salão. Se Severo a encontrasse, ela não conseguiria outra oportunidade para falar com Julie tão cedo.

Saindo do salão, Anne viu Julie Black descendo as escadas, e antes que a irmã de Sirius pudesse protestar, ela foi empurrada para dentro da sala secreta de Anne.

Julie olhou com raiva para Anne. Nos últimos dois dias, tinha percebido que a garota queria falar com ela, e tinha evitado isso o máximo possível, pois ela preferia evitar uma briga a começar uma. Ela olhou com ousadia para Anne.

- Eu quero sair daqui.

Anne se segurou para não abrir a porta e expulsar Julie Black da sala, mas pensou em Sirius, e se acalmou.

- Eu preciso conversar com você.

- Nós não temos nada para conversar, Snape. Agora, deixa eu sair daqui.

- Você não vai sair até ouvir o que eu tenho para falar.

Anne falou num tom determinado e autoritário que deixou Julie irritada num primeiro momento, mas ela sempre foi sensata, e não seria agora que iria deixar de sê-lo. Ela sabia que as duas de odiavam, e se Anne teve que deixar seu ódio de lado, deveria ser um assunto sério. Julie fechou os olhos, e quando os abriu novamente, não havia nenhum sinal de mal-humor.

- O que você quer falar comigo?

- É sobre duas noites atrás. Eu vi pelo mapa que você estava seguindo Lupin até o Salgueiro Lutador.

Por um segundo, um traço de raiva surgiu nos olhos de Julie. Com que direito aquela garota ficava bisbilhotando a vida dela no Mapa dos Marotos? E porque ela estava com o mapa?

Sem perceber a mudança em Julie, Anne continuou.

- Olha, pouco me importa o que você e o Lupin fazem, mas me importa o que Sirius vai sentir quando descobrir isso, e ele vai descobrir de qualquer forma. Se não fosse eu que tivesse visto você indo para a árvore, poderia ter sido ele, e teria sido um desastre, você conhece o seu irmão tão bem quanto eu.

Julie cruzou os braços. Era difícil admitir que Anne estava certa, mas ela poderia ficar menos zangada porque já estava pensando em contar para o irmão o que ela estava fazendo. E também por descobrir, por mais que achasse o contrário, que Anne realmente se importava com Sirius.

- Se era só isso, você perdeu o seu tempo. Eu já tinha pensado nisso.

Anne deu de ombros.

- Ótimo.

Pensando que a conversa tinha terminado, Julie foi até a porta, mas quando pôs a mão na maçaneta, Anne continuou.

- E já tinha pensado em contar também?

Julie voltou-se para a garota com fúria antes de responder.

- Cuide da sua vida, Snape.

- É o que eu estou fazendo... - Anne acrescentou depois que Julie Black saiu, e em seguida, ela mesma saiu da sala, a tempo de voltar para o salão principal minutos antes de Severo entrar.

Durante os quatro dias seguintes, Anne e Sirius não se encontraram. Por causa da lua-cheia, a garota não teve que ir para as aulas noturnas, e de certa forma, isso a ajudou. Sem precisar ficar ansiosa para fugir do irmão, Anne pareceu mais relaxada, então Severo deduziu que ela havia desistido de encontrar-se com Black por causa de sua vigilância, por isso, quando Anne disse que iria estudar na biblioteca, ele deixou a irmã sair sem fazer nenhuma pergunta.

Anne caminhou até a sala contente por Severo ter deixado ela sair sem criar nenhuma confusão. Nada poderia dar errado naquela noite, porque, na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, Anne recebeu um bilhete de Sirius que dizia que as poções estavam prontas. Naquela noite, ela iria se tornar um animago.

Mas quando ela entrou na sala e viu Sirius sentado, pensativo, ela pensou, com desagrado, que algo havia acontecido, ela sabia exatamente o que havia sido.

- Você descobriu sobre sua irmã, não é?

Sirius levantou-se da cadeira furioso.

- Então até você sabia? Você sabia e não disse nada para mim?!

- Olha, Sirius, se a sua irmã não te contou nada, é porque ela não quis te preocupar... - a garota disse colocando a mão no ombro do rapaz sem saber porque estava tentando justificar Julie Black.

- A Julie disse para mim o que ela estava fazendo - ele disse entre dentes.

-Se ela disse, por que você está assim? - ela disse sem entender o ressentimento de Sirius.

- Eu pensei que ela confiava em mim, droga! - ele bateu na mesa com força - Eu sou o irmão dela, se ela quisesse fazer alguma coisa, não precisava esconder de mim!

Anne ficou sem reação por uns momentos, finalmente entendendo o motivo por estar defendendo a irmã de Sirius. Assim como Julie Black, Anne estava escondendo algo do irmão. A diferença entre as duas é que Julie Black tinha coragem para enfrentar o irmão e fazer o que achava certo, enquanto ela fazia o possível para esconder de Severo os encontros noturnos que tinha com Sirius, pois sabia que ele teria a mesma reação de Sirius.

- Talvez ela soubesse que você iria agir assim... - ela disse num sussurro, quase sem perceber que estava falando - Ela só queria ficar com Lupin num momento que ela sabia que era difícil para ele.

- Ela não precisava ter feito isso! Além disso, eu sou o irmão dela, eu sei o que é o melhor para a Julie.

- Você já pensou que meu irmão deve sentir o mesmo em relação a mim?

Anne havia dito a coisa certa para fazer Sirius se calar, pelo menos por tempo suficiente para ele ver como estava agindo, mas não para aceitar que ele poderia ser como o irmão da garota.

- O que acontece entre você e o seu irmão é totalmente diferente do que acontece entre mim e Julie. Ela estava correndo perigo de ser atacada pelo Remo.

- E eu? Eu também não estou correndo perigo? Se algo der errado, eu posso virar um animal para sempre!

Sirius olhou com determinação antes de falar.

- Nada vai dar errado comigo por perto.

- Aposto que foi isso que sua irmã ou o Lupin disseram.

Sirius apertou a mão com força e desviou o rosto, sabendo o que a garota queria que ele fizesse quando disse aquilo, e irritado com Anne por ela conhecê-lo tão bem. Quando ele voltou o olhar para ela, a garota sabia o que ele iria fazer.

- É melhor nós encerrarmos essa aula por hoje. Eu tenho que ir falar com a Julie.

Anne concordou com a cabeça, e deixou Sirius sair sem fazer nada, invejando o que o rapaz iria fazer pela irmã.

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Como naquela noite Anne voltou cedo para as masmorras, Severo não suspeitou de nada, e na noite seguinte, a garota foi para a sala secreta novamente sem nenhum problema.

Dessa vez, Sirius estava mais calmo, sentado em uma das cadeiras e folheando o livro de animagia.

- Oi - a garota o cumprimentou, fazendo Sirius olhar para ela com um sorriso.

- Oi, Annie. - ele levantou-se e beijou a garota levemente nos lábios antes de dizer num sussurro - Eu adoro você.

Anne sorriu de volta para ele, com orgulho.

- Eu sei.

Os dois trocaram mais um beijo antes que Sirius falasse em tom brincalhão.

- Se você quiser, hoje nós podemos descobrir que animago você é, mas se você não quiser, podemos revisar o capítulo de como controlar a mente...

Anne olhou irritada para o rapaz.

- Nem brinque com isso! A poção já está pronta, então o que estamos esperando?

- Bem, foi você que fez, então você é quem sabe o que estamos esperando. Onde está a poção?

- Aqui - a garota respondeu tirando um vidro das vestes.

- Você sabe o que fazer agora - Sirius disse com solenidade, e Anne concordou séria, acenando com a cabeça.

A garota tomou a poção e logo depois sentiu a sensação confortante de que em seu corpo não havia ossos, órgãos, ou qualquer coisa que pudesse fazê-la sentir dor. Com um pouco de dificuldade por não estar sentindo os ossos do braço direito, ela segurou a varinha, mas por não sentir nada, a mente de Anne conseguiu concentrar-se somente no feitiço que ela tinha que fazer.

- Animagus!

Em seguida, o corpo de Anne começou a se transformar. Primeiro, a coluna não conseguiu mais manter o corpo da garota de pé, então ela abaixou-se. Os membros se contraíram, e as unhas se transformaram em garras afiadas, ao mesmo tempo em que a pele era substituída por uma pelagem de cor negra. Finalmente, o rosto encolheu, e os dentes se transformaram em presas. A única parte do corpo de Anne que permaneceu da mesma forma foram os olhos, que ainda eram os mesmos olhos verde-escuros com manchas amarelas.

Mas a garota não sentiu nenhuma transformação. Só percebeu que havia se tornado um animal quando qualquer traço de raciocínio desapareceu. Agora ao invés da mente racional de um ser humano, a mente de Anne era a mente irracional de uma pantera negra.

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Quando Anne tomou a poção, Sirius deu alguns passos para trás, mas atento a qualquer erro que pudesse acontecer enquanto viu o corpo da garota se transformar. O rapaz viu a garota se transformar sentindo um pouco de receio, mas quando Anne se transformou em uma pantera sem que nada tivesse dado errado, o rapaz suspirou aliviado.

- Foi ótimo, Annie!! - ele disse com um sorriso - Você é uma pantera, mas por um segundo eu pensei que você ia ser um cachorro como eu!

Sirius andou em direção à pantera, mas o olhar ameaçador do animal fez ele parar.

- O que foi, Annie? - ele disse se esforçando para esconder a insegurança - Não gostou de ser uma pantera?

O rapaz brincou, tentando acalmar o animal, mas ele recebeu um rugido como resposta. Em seguida, o animal começou a dar pequenos passos na direção de Sirius, preparando o ataque. O rapaz engoliu em seco, percebendo que algo havia dado errado, já que Anne parecia não estar controlando os instintos do animal.

Tanto por achar que Anne conseguiria recuperar o controle como para ganhar tempo, Sirius começou a dar passos para trás. Ele caminhou até que quase encostou-se no quadro da floresta, e sem ter mais para onde ir, ele olhou assustado para a pantera, que saltou.

Sirius fechou os olhos quando a pantera pulou, mas ao invés de ser atacado pela fera, o quadro da floresta se afastou da parede assim como fazia o quadro da Mulher Gorda.

Quando Sirius abriu os olhos, viu que uma Anne desorientada estava sobre ele.

- O que aconteceu? Como viemos parar aqui?

Sirius estava pálido, mas sorria, apesar do nervosismo, e disse tentando parecer tranqüilo.

- Você só tentou me atacar, mas o quadro conseguiu evitar que você perdesse o seu professor com um pequeno truque. - ele olhou ao redor antes de continuar - Então esse quadro escondia uma passagem o tempo todo...

- Sirius! - Anne exclamou, impaciente, enquanto saía da passagem - Em que animal eu me transformei?

- Só poderia ter sido em um animal desconfiado e sensível para ter tentado me atacar. Você é uma pantera negra. - em seguida, ele saiu da passagem, e de volta para a sala, continuou - A propósito, Annie, da próxima vez, coma mais, eu não quero ser o jantar de nenhum animal.

Anne girou os olhos, irritada e impaciente com a brincadeira.

- Certo, mas depois nós resolvemos esse detalhe. - ela olhou para o buraco na parede onde antes estava o quadro - Então atrás do quadro havia uma passagem? Onde será que ele vai dar?

- É o que eu quero descobrir... Você vem? - Sirius perguntou estendendo a mão para a garota.

- Claro que sim! Mas temos que voltar logo, eu ainda quero dormir.

- Vamos ver... - o rapaz disse sem querer se comprometer, e em seguida, os dois entraram na passagem.

Sirius e Anne tinham que andar abaixados porque a altura do túnel não era grande, e logo os dois ficaram cansados, mas a garota foi a primeira a reclamar.

- Se nós nos transformássemos em animagos, iríamos bem mais rápido!

- Annie, só vou deixar você se transformar outra vez quando você tiver revisado os exercícios de como manter a mente humana. Até lá, nada de transformações para você. - ele disse severo antes de acrescentar em tom de brincadeira - A não ser que você queira atacar alguns sonserinos...

- Se você estiver falando do meu irmão... - Anne disse em tom de zanga.

- Eu não disse nada, Annie! - Sirius disse fingindo-se de inocente, e gostando de provocar a garota - Foi você quem disse! Talvez você até tivesse pensando em fazer isso...

- Eu não estou pensando coisa nenhuma! - ela disse com autoritarismo, sem perceber que Sirius sorria.

Os dois continuaram discutindo até que Sirius, que ia à frente, sentiu o ar ficar mais frio.

- Psiu, Annie! - ele disse quando parou de andar - Acho que estamos chegando perto do fim da passagem...

- Ainda bem, minhas pernas já estão doendo!

Não demorou muito tempo para que eles vissem uma luz, e logo os dois estavam saindo de uma árvore. Fora da passagem, Anne e Sirius perceberam que só havia árvores ao redor deles. Ao longe, eles ouviram um uivo.

- Isso aqui não é a...? - Anne perguntou com a voz hesitante, visivelmente assustada.

- Exatamente. - Sirius concordou com a cabeça - A Floresta Proibida.

Anne tremeu assustada, e para se sentir mais segura, segurou sua varinha, mas a mão de Sirius impediu que ela fizesse alguma coisa.

- Fique quieta, Annie! Se você fizer um feitiço, você não sabe que tipo de criatura estará atraindo até nós!

Apesar do alerta, Sirius sentiu que algo estranho estava acontecendo, e quando se transformou em cão e farejou o ar, suas suspeitas se confirmaram. Ele ouviu vários passos indo na direção em que ele e Anne estavam.

- Temos que voltar. - ele disse com seriedade para Anne.

- Por quê? O que você ouviu?

-Confie em mim, você não vai querer saber.

- O que é, Sirius!? - a garota disse irritada porque o rapaz não dizia o que estava acontecendo.

- Quando nós voltarmos para a sala eu digo, mas entra logo na passagem!

Sirius não esperou que Anne respondesse e a empurrou na direção da passagem, por isso, não percebeu quando uma pequena aranha surgiu, nem quando surgiram mais dez. Somente quando a garota olhou fixamente para algo atrás de Sirius foi que o rapaz deixou toda a preocupação que sentia transparecer. Ele virou-se para trás, e viu que inúmeras aranhas estavam ao redor dos dois num semicírculo.

- Não desvie o olhar delas, Annie. - o rapaz disse com frieza - Entre devagar na passagem, e depois corra o mais rápido que você puder.

A garota concordou com a cabeça num movimento lento, e apesar de estar tremendo, Anne entrou na passagem. Segundos depois, Sirius fez o mesmo, porém, parecendo mais apreensivo do que a garota.

- Corre, corre, corre! - ele gritou, enquanto a passagem era invadida pelas aranhas.

Sirius e Anne corriam o mais rápido que podiam, mas as aranhas se aproximavam cada vez mais. O rapaz sabia que se eles continuassem assim, não iriam durar muito tempo.

- Annie, lembra daquilo que eu falei sobre exercícios?

- O quê que tem?

- Eu acho que essa é uma boa hora para saber se você já consegue controlar a sua mente.

Antes que Sirius mudasse de idéia, Anne transformou-se em animago, enquanto o rapaz fazia o mesmo. A pantera e o cão corriam bem mais rápido que Anne e Sirius, e os dois conseguiram aumentar a distância das aranhas.

Parecia que havia passado uma eternidade até que a pantera empurrou o quadro, e antes que alguma aranha pudesse entrar no castelo, o cão fechou a passagem com o quadro. Agora que estavam seguros, Sirius e Anne voltaram a forma humana, enquanto recuperavam o fôlego sentados no chão, apoiados na parede.

- Annie... - o rapaz disse voltando o rosto para a garota - Acho que você merece um diploma. Você passou na prova final.

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Nota da autora: Como o próximo capítulo é um capítulo crucial para a história, eu pedi pra Harue fazer uma propaganda, o endereço está na review, já que eu não consegui colocar aqui no capítulo...