20. CORAÇÃO E ALMA



- Aqui estão suas chaves.

O trouxa baixo, gordo e careca entregou um chaveiro com duas chaves para Anne, que as segurou com as mãos tremendo, e abriu a porta do apartamento 14C.

- Lar, doce lar! - ela disse jogando as malas para dentro da sala, e depois observou melhor o apartamento.

Era um apartamento pequeno. Ficava no terceiro e último andar de um velho prédio próximo ao centro de Londres, com dois quartos, um único banheiro, uma cozinha pequena, sem quarto de empregada, e uma sala. O apartamento caberia facilmente na grande sala de jantar do castelo Snape, mas aquele pequeno apartamento era dela, alugado com o dinheiro dela, e nada substituiria aquela sensação de euforia.

Em menos de cinco minutos, Anne havia passado por todos os cômodos do lugar, parando na cozinha. Ela estava com sede, mas não sabia onde beber água. Anne olhou em pânico, mas naquele instante, alguém bateu na porta.

- Oi, Adrianne! - parada à porta, estava Meg - Eu vim dar as boas-vindas. - observando Anne, ela percebeu que algo estava errado - O que foi? Algum vazamento?

Anne sorriu, tentando demonstrar que estava bem. Não queria admitir para a outra bruxa que não podia beber água porque não sabia onde estava a água.

- Não, é que eu ia beber água, mas acho que eu estou sem água...

Meg escondeu o sorriso. Sabia que Anne teria essas dificuldades, e por isso havia ido visitar a colega.

- Será que a geladeira pifou? Esses aparelhos trouxas são ridículos, às vezes... - ela disse enquanto ia para a geladeira.

Anne a seguiu, e observou a facilidade com que ela pegou dois copos e retirou água de uma garrafa.

- Está tudo bem com a sua geladeira, Anne, mas você vai ter que encher as garrafas, e comprar comida também. - ela disse abrindo um dos armários - Eu posso ajudar você, podemos ir juntas comprar algumas coisas no Beco Diagonal, ou em Hogsmeade...

Anne sorriu aliviada, e apressou-se em concordar.

- Claro, com certeza! - Meg bebeu a água, e Anne a imitou - Vamos conversar, você pode dizer o que eu vou precisar...

As duas foram para a sala, e começaram a conversar. Durante a conversa, Meg explicava os costumes trouxas para Anne, sem parecer que estava dando uma lição. A conversa estava animada, e continuaria a noite toda se uma coruja não tivesse batido em uma das janelas.

- Carta do seu irmão? - Meg perguntou, atrás de Anne, que lia o pergaminho.

- Não... - ela disse, intrigada - É um convite para uma festa da Sra. Malfoy... Eu não sabia que Lúcio Malfoy tinha se casado...

- Ah, mas ele se casou, com Narcisa Nott. - Meg parecia bastante impressionada - As festas dela são bem seletivas, não é qualquer um que recebe um convite...

Anne olhou mais intrigada ainda para o convite. Ela nunca havia sido amiga de Narcisa, as duas nunca mais haviam se visto depois de Hogwarts, e de repente, aparecia esse convite. Narcisa só poderia estar querendo alguma coisa. Em todos os anos que estudaram juntas, a loira nunca se aproximou de Anne sem uma segunda intenção. O que estaria por trás daquele convite?

- Quando vai ser?

Anne leu o pergaminho mais uma vez.

- Hmmm... No sábado da próxima semana.

- Você vai?

Anne ouviu a voz de Meg, e deu um sorriso astuto.

- Por que não? Eu sei cuidar de mim mesma... - ela acrescentou mais para si do que para a colega.

Se Narcisa queria alguma coisa dela, ela não iria conseguir, mas isso não queria dizer que Anne não poderia se divertir um pouco.

-x-x-x-

Anne deu uma última olhada no espelho. Sua veste era de um tom roxo-escuro discreto, mas revelava o belo corpo da mulher que ela havia se tornado. O seu rosto não era bonito, mas alguém dificilmente esqueceria a intensidade daquele olhar. Ela sorriu confiante para o espelho, e aparatou.

Anne desaparatou em frente à enorme porta de entrada do castelo Malfoy, e no mesmo instante, a porta abriu. Parecia não ter sido aberta por ninguém, porém, uma pessoa mais observadora teria percebido o elfo atrás da porta.

Anne ficou observando o salão com um ar de superioridade antes de procurar alguém com quem conversar. O salão era grande, mas parecia pequeno com a quantidade de pessoas que estavam lá, e era exatamente isso que a ela esperava. Em Hogwarts, Narcisa sempre fez questão de ostentar todo o seu luxo e as qualidades que julgava ter, então porque seria diferente agora que ela estava casada com Lúcio Malfoy, um bruxo de uma das famílias mais prestigiosas?

- Adrianne, querida!

Vinda do meio da multidão, Anne ouviu a voz de Narcisa, e em segundos, viu a mulher. O sorriso soberbo ainda era o mesmo, mas ela estava diferente. A barriga estava enorme, e a veste vermelho vivo só acentuava isso.

- Quanto tempo, Adrianne! - Narcisa segurava uma taça de champanhe, e sorria com cinismo - Você desapareceu e não deu nenhuma notícia! Pensei que estava ignorando as velhas amigas!

Anne se segurou para não rir. Era ridículo o modo como Narcisa tentava parecer sua amiga de infância.

- Eu estive ocupada nesses dois anos. Você parece estar muito bem... - ela respondeu olhando para a barriga da outra, sem disfarçar o sorriso astuto.

- Eu não estou tão bem assim, essa barriga enorme está atrapalhando minha vida mais do que eu imaginava que faria, mas Lúcio queria um herdeiro, e o que eu não faço pelo meu querido marido. - Narcisa sorriu - Mas eu não quero prender você com minha conversa entediante sobre bebês. Você deve estar querendo se divertir, ao invés de conversar com uma simples mãe. Sinta-se em casa!

E do mesmo modo como havia surgido, Narcisa desapareceu no meio dos convidados. Anne deu de ombros, e caminhou por entre as pessoas. Seu rosto estava tranqüilo, mas por dentro, ela desprezava todos os que estavam no salão. Ela não sabia que grande parte dos homens, e até mesmo algumas mulheres, eram Comensais, mas aquela era uma festa de Narcisa, e nas festas da esposa de Lúcio Malfoy, não ficava bem ostentar a Marca no braço esquerdo. Para isso, havia as festas de Lúcio, muito mais seletivas que as de Narcisa, e com outro tipo de diversão que levaria muitos convidados para Azkaban, mas Malfoy era cuidadoso demais.

Um elfo com uma bandeja de bebidas passava por Anne, e enquanto ela pegava uma das taças, ouviu a última voz que esperava ouvir naquela noite.

- Ora, ora, ora... Se não é Adrianne Snape...

Anne fechou os olhos com raiva antes de se virar, e responder com o sorriso mais falso que já havia dado antes.

- Liam Lestrange, como vai!?

O rapaz segurou a mão de Anne e a levou aos seus lábios antes de responder

- Eu estou bem. Ainda estou com Rosemary, sabia? - ele disse tentando impressionar Anne.

- Sorte sua - ela disse dando meia-volta, e bebendo o conteúdo da taça de uma vez só, mas Lestrange a puxou.

- Vamos, Anne, você não precisa ir agora... Rosemary está viajando, visitando o pai... Se você quiser se lembrar dos velhos tempos...

O sorriso malicioso no rosto do rapaz deixou suas intenções bem claras para Anne, mas ela não iria se prestar ao papel de passatempo de Lestrange, uma vez já havia sido o suficiente para o resto de sua vida.

- Você já foi melhor do que isso, Lestrange - ela olhou com nojo para o bruxo, e se afastou.

Anne caminhou com raiva, e entrou no primeiro corredor que viu. Começava a se arrepender de ter ido para aquela festa. Ela abriu a porta mais próxima, mas a fechou imediatamente, tentando esquecer a imagem de Crabbe se divertindo com uma bruxa que ela não conhecia.

- Merlin, o que mais falta acontecer?! - ela disse num suspiro, e foi para uma sacada.

Era uma bela noite de primavera. Não havia lua, somente poucas nuvens, e as estrelas brilhavam fortemente. Anne olhou ao redor, aliviada por estar sozinha. Já tinha visto pessoas o suficiente para o resto do ano, mas o alívio dela durou pouco. Mal havia chegado na sacada quando ouviu passos atrás de si. Anne girou, e sem olhar para o rosto da pessoa que entrou, ela começou a caminhar de volta para o salão.

- Se eu não conhecesse você, poderia achar que você está fugindo de mim.

Imediatamente, Anne estancou e olhou para a pessoa que havia falado, e lá estava ele. O mesmo rapaz loiro que ela quase beijou, com o mesmo sorriso divertido nos lábios.

Durante alguns dias, Anne não havia pensado em outra coisa além daquele quase beijo. Sabia que veria aquele rapaz outra vez, e estava preparada para aquele encontro. Faria o possível para que aquele beijo não acontecesse. Enquanto ficasse longe do toque daquele desconhecido, estaria segura.

- E você não me conhece mesmo! - ela disse com despeito.

- Ah, mas eu sei muitas coisas sobre você, Adrianne... Você jogou no time da Sonserina quando estudava em Hogwarts... Você trabalha no Ministério... E não tem tanta sorte assim no amor - ele disse olhando com o canto dos olhos para Lestrange, que tentava seduzir mais uma mulher, mas logo depois, olhou para Anne com um sorriso travesso. - Pelo menos até agora.

- Pensei que você tinha dito que não me conhecia - ela disse com desdém.

- Eu sempre observei você em Hogwarts, mas você não deve se lembrar de mim - ele disse sem se importar por sua mentira ter sido descoberta.

Anne olhou curiosa para o rapaz, pela primeira vez, olhando com atenção, procurando reconhecer aquele rosto, mas sem conseguir.

- Eu realmente não lembro... - então ela percebeu que não sabia o nome dele - De que casa você era? Qual é o seu nome?

Sem perceber, Anne deixava que a conversa a prendesse, exatamente o que o rapaz pretendia.

- Eu era da Grifinória, um ano mais novo que você, e meu nome é Bartô, Bartolomeu Crouch.

Anne arregalou os olhos. Conhecia o velho Bartolomeu Crouch, já havia cruzado com ele no Ministério, e ele sempre a olhava com ódio. E aquele rapaz era o filho dele, havia viajado com Severo, e estava numa festa em que a maioria dos convidados havia sido da Sonserina, e amigos de Severo também. Ele era mais perigoso do que Anne havia imaginado.

- Eu tenho que ir - ela disse ao mesmo tempo em que dava meia volta e saía, mas o rapaz a segurou.

- Espera, Adrianne! Porque você está indo? Ainda não são nem onze horas!

- Amanhã vou ter que trabalhar - ela disse secamente, e recomeçou a andar.

- Você está agindo como uma máquina! - ele disse num tom divertido - Você é um humano, não tem que ser assim! Pense com - ele pensou por alguns segundos no que falar, e depois disse em tom persuasivo -... pense com o coração, seja impulsiva!

Anne parou de andar subitamente. A última pessoa que havia dito algo parecido com o que Crouch disse para ela havia sido Sirius, e quando ela olhou para Crouch novamente, achou estranho ver o rapaz ao invés de Sirius.

- Eu não tenho tempo para pensar com o coração, com a alma, o que seja. - Anne disse, balançando a cabeça enquanto falava - Eu tenho outras coisas para me preocupar!

- Se você não tivesse tempo, você não estaria aqui!

Mas Anne não ouviu a resposta de Crouch. Já tinha aparatado. O rapaz olhou para o lugar onde ela estava antes, e sorriu com malícia. Se ela pensava que ele iria desistir, Anne estava muito enganada.

-x-x-x-

Consciente do perigo que Crouch representava, Anne tentou ao máximo não pensar nele, mas ela não conseguia. Quanto mais tentava, sempre aparecia em sua mente o rosto delicado e infantil do rapaz. Ela estava sentindo as mesmas coisas que Sirius havia sentido quando se apaixonou por ela.

Até no trabalho ela estava tendo dificuldades. Não se concentrava da mesma forma que antes, e ela percebia que Meg evitava censurá-la, mas a própria Anne sabia que não estava concentrada o bastante. E tudo ficou pior ainda depois que voltou de um chamado urgente.

- Adrianne, você precisa ver isso - Meg disse quase eufórica, e Anne olhou intrigada para ela.

- O que foi?

Mas Meg não precisou responder. Anne olhou para a mesa, e em cima dela, estava um buquê de rosas vermelhas, e ao lado, havia um cartão, que Anne segurou.

"Adrianne,

Seja coração e alma pelo menos uma vez, e saia comigo hoje à noite.

Bartô."

Mal terminou de ler o cartão, Anne rasgou-o e jogou na lata de lixo juntamente com as flores, enquanto Meg olhava de queixo caído.

- O que foi? As flores eram da cor errada?

- Não. - ela respondeu enquanto se sentava - Eram da pessoa errada.

Anne começou a ditar o relatório sobre o último chamado enquanto a pena riscava as palavras no pergaminho, e estava quase terminando quando um bruxo, secretário de um dos ministros júnior, a chamou.

- Adrianne Snape? - Anne olhou para o homem, que continuou - Tem uma pessoa querendo falar com você na sala de espera.

- Está bem - ela respondeu sem parecer agradecida, e depois de guardar a pena, foi para a sala.

Na sala de espera, de costas para a porta e observando a paisagem de uma das janelas, estava Bartolomeu Crouch, que voltou-se para a porta quase no mesmo instante em que Anne entrou. Ele se aproximou dela com um sorriso animado.

- E então, está pronta, Adrianne?

- Pronta para o que? - ela perguntou, cruzando os braços.

- Para ser coração e alma! - ele disse passando os braços na cintura de Anne - Eu fiz reserva em um restaurante, e depois podemos ver algum filme, mas se você quiser, eu posso cancelar tudo e fazer o que você preferir.

Anne ergueu as sobrancelhas, enquanto retirava as mãos de Crouch.

- Ainda bem que você está disposto a cancelar tudo, Crouch, porque eu não vou sair com você nem hoje, nem nunca! - ela apontou para a porta - Saia, eu acho que seu pai não gostaria de ver você conversando comigo.

A menção do pai fez surgir um brilho de ódio nos olhos de Bartolomeu, mas ele logo se recuperou.

- O velho não iria dizer nada! Ele só consegue se lembrar do meu nome porque minha mãe insistiu em me batizar com o mesmo nome dele!

- De qualquer forma, eu não quero que me vejam com você! Meus colegas poderiam achar que eu estou usando você para conseguir uma promoção, e eu não quero que ninguém pense que eu preciso de você para melhorar meu salário - ela disse autoritária.

- Tudo bem, eu posso esperar você em casa, Adrianne - ele disse com um sorriso travesso no rosto.

Anne balançou a cabeça, e sem querer se dar ao trabalho de responder, voltou para o escritório.

-x-x-x-

Algumas horas depois, Anne aparatava perto do apartamento. Depois que Crouch havia ido embora, ela terminou o relatório, e teve mais um chamado, mas assim que voltou para o Ministério, o turno terminou, e as duas foram substituídas. Anne voltou para casa sozinha. Meg iria encontrar-se com o noivo.

Anne não se importou, estava acostumada à vida solitária. Desde que começou a trabalhar, havia conseguido manter qualquer um que se interessasse por ela à distância, exceto por Crouch. Só se entristecia por causa da ausência de notícias do irmão. Fazia quase um mês que havia deixado o castelo Snape, e não havia recebido nenhuma notícia de Severo.

Anne subiu as escadas procurando pela chave do apartamento, mas quando a encontrou, não abriu a porta, porque Bartolomeu Crouch estava sentado, encostado à porta, segurando um buquê de flores.

- O que você está fazendo aqui?

O rapaz se levantou imediatamente, e respondeu com falsa ingenuidade.

- Bem, eu disse que esperaria você aqui, e como você não disse nada, pensei que você tinha concordado. - ele olhou para as flores, e as entregou para Anne - Eu trouxe para você.

Anne olhou com impaciência e ignorou as flores, achando que Crouch já estava passando dos limites.

- Mas eu não concordei com coisa nenhuma! - ela disse enquanto abria a porta, e entrava no apartamento.

Crouch voltou a cabeça para o chão, parecendo envergonhado.

- Desculpe se eu vi algo que não existia... - ele fez uma pausa, e quando recomeçou, o ar travesso voltou - Mas já que eu estou aqui, eu poderia entrar, nós poderíamos... - ele levantou a mão esquerda, mostrando a garrafa de vinho -...beber um pouco, poderíamos...

Mas ele não terminou a frase.

- Boa noite, Crouch - Anne disse impaciente, e fechou a porta com força antes de trancá-la.

Soltando um suspiro impaciente, ela despiu o casaco, e jogou em cima do braço do sofá antes de se sentar.

- Merlin, que garotinho insistente... - ela fechou os olhos, aproveitando a solidão para relaxar, mas quando os abriu, Bartolomeu Crouch estava parado, perto da porta - Isso é invasão de propriedade! - ela se levantou, e encarou o rapaz com fúria.

- Nós não podemos simplesmente conversar? Eu só quero isso, conversar com você, e depois eu vou embora. Prometo.

O olhar do rapaz era persuasivo, e Anne não conseguiu resistir.

- Está bem. - Anne disse afastando os braços, cansada de lutar, e ao mesmo tempo, querendo deixar o rapaz ficar - Mas só vamos conversar. Nada de bebidas! - ela disse enfática.

Meia hora minutos depois, os dois estavam sentados no sofá, a garrafa de vinho estava aberta, cada um segurava uma taça, e Anne ria de mais uma história que Bartolomeu contava.

- E eu ganhei a aposta, o Doug ficou furioso!

Anne deu uma gargalhada.

- Eu não entendo como você conseguiu fazer ele entrar no banheiro da Murta sem que ninguém visse!

- Bem, eu consegui convencer você a deixar eu ficar...

- É... - Anne disse num sussurro.

Começava a pensar se deveria ter deixado o rapaz entrar. Ele era perigoso, ela sentia isso, mas era justamente isso que o tornava tão atraente. Crouch percebeu o que Anne deveria estar pensando, e antes que ela o expulsasse, ele falou.

- Adrianne... - ele disse com um ar ingênuo - Eu queria saber o que tem de tão assustador em mim para você estar sempre fugindo de mim... - ele hesitou - Sabe, eu cheguei a pensar que você tinha medo de mim...

Anne olhou com pena para o rapaz. Ele parecia tão sozinho, tão desprotegido, que ela se arrependeu de tê-lo tratado com tanta crueldade. Talvez ele não fosse tão perigoso assim.

- Desculpe, eu não estava querendo que você pensasse isso... É só que... - ela hesitou - Eu não confio nas pessoas...

- Por quê? O que aconteceu com você para você ser assim, Adrianne? - Bartolomeu disse num tom compreensivo.

- Foram tantas coisas...

Bartolomeu se afastou, e colocou a mão nas pernas.

- Eu quero saber de tudo.

Anne colocou a cabeça nas pernas do rapaz, se acomodou melhor no pequeno sofá, e quase sem perceber, contou para Bartolomeu toda a história de sua vida. Falou sobre Andrew, o ódio que ele sentia pela própria filha, as coisas que ele havia feito, o alívio que sentiu quando ele morreu... Falou sobre Severo, como os dois eram unidos antes dele ficar amigo de Rosier, como ele a protegia, o que fez ela pensar que o irmão não queria dividi-la com ninguém, a felicidade que sentiu quando começou a trabalhar, quando alugou o próprio apartamento... Anne só deixou de falar sobre Sirius. Era mais fácil esquecer os distantes momentos alegres que viveu com ele se fingisse que não havia acontecido.

Enquanto Anne falava, Bartolomeu acariciava os cabelos dela gentilmente, fazendo ela se sentir amparada. Ela não sabia o quanto sentia falta da sensação de ter um amigo até aquele momento.

-... você entende, agora, porque eu prefiro não confiar nas pessoas?

Bartolomeu acenou com a cabeça, concordando com Anne. Ele a levantou com gentileza, e colocando as mãos nos ombros dela, a olhou profundamente.

- Sim, Adrianne, eu entendo, e não tiro sua razão. Por isso é que eu vou fazer uma pergunta, e quero que você responda com toda a sinceridade. - ele fez uma pausa, engolindo em seco antes de continuar - Você quer que eu vá embora?

Anne piscou, observando o Crouch. O rosto dele nunca pareceu tão inocente quanto naquele momento, e ela se perguntou se aquele rapaz poderia ser perigoso para ela, mas a resposta não faria diferença. Quando ela olhou para Crouch, só viu o que ele aparentava ser. Um rapaz jovem, ingênuo e inocente.

- Não. - ela sussurrou - Eu não quero que você vá embora.

Com as duas mãos, Bartolomeu segurou o rosto de Anne, o aproximando do próprio rosto, as mãos dela enlaçando o rapaz. As peles se tocaram numa carícia suave antes que os lábios encostassem-se a um beijo delicado e puro.

Os braços de Bartolomeu pareciam esconder Anne do resto do mundo, e quando ela olhou nos olhos do rapaz, percebeu que o tempo que tentou ficar longe dele, só estava adiando o inevitável. Desde que havia terminado com Sirius, ela havia ficado longe de qualquer espécie de relacionamento amoroso, mas ela queria sentir aquela sensação outra vez, e quando conheceu Bartolomeu, sabia que queria que fosse com ele. E agora que estava beijando o rapaz, Anne percebeu que estava tão atraída por ele quanto ele por ela.

-x-x-x-

O quarto estava silencioso. Várias roupas espalhadas pelo chão e a aparência calma dos dois que estavam na cama mostravam que a noite havia sido muito boa.

Eles acordaram quase no mesmo instante, mas não falaram um com o outro. Anne estava aninhada no peito de Bartolomeu, que acariciava os cabelos dela, mas ela estava satisfeita, e não se arrependia de nada do que havia feito.

- Hmmm... - Bartolomeu murmurou, e beijou os cabelos de Anne - Bom dia, Adrianne...

Anne virou-se para o rapaz, e sorriu.

- Porque você não me chama de Anne? Todos os meus amigos me chamam assim.

- Eu acho que sou mais do que um amigo, não? - ele piscou - E eu prefiro Adrianne. Para mim, ele diz exatamente o que você é.

Eles se beijaram, mas Anne interrompeu o beijo se sentando na cama.

- Eu tenho que ir trabalhar, já deve ser tarde. - ela começou a se vestir, mas Bartolomeu a puxou de volta, fazendo ela soltar um pequeno grito - Doido! Eu tenho que ir trabalhar!

Anne tentava se soltar, mas ela sorria, e deixou o rapaz vencer a competição. Ela só saiu de casa duas horas depois, e quando chegou no Ministério, Meg estava escrevendo um relatório, mas parou de escrever quando viu a colega.

- Adrianne, o que aconteceu para você chegar tarde!? - ela perguntou espantada, pois a outra nunca havia se atrasado antes - Ainda bem que só teve um chamado até agora!

- Tive uns problemas no apartamento, mas já está tudo bem - ela respondeu enquanto se sentava à sua mesa.

- Ainda bem. - Meg se levantou da mesa, e foi até a de Anne - Escuta, Adrianne... - ela parecia bastante insegura. -... aconteceu um problema, e a Mel não vai mais poder ser madrinha do meu casamento... - ela fez uma pausa antes de continuar. -...será que você... você poderia ser minha madrinha?

- Claro que eu posso! - Anne disse, surpresa, sem esperar que a colega sentisse tanta afeição por ela - Mas o que aconteceu com a sua irmã?

- Ela e o namorado novo vão viajar, você deve ter conhecido ele em Hogwarts, é o Black, Sirius Black.

A mão de Anne ficou parada no ar, e por alguns instantes, ela não se importou com nada do que acontecia ao seu redor, até que Meg a sacudiu levemente.

- Adrianne?

- Desculpe, eu me distraí com os papéis... - ela disse depois que piscou, e guardou os papéis que estava em cima da mesa.

Anne não pensava que saber que Sirius estava namorando mexeria com ela tão intensamente, mas ela deveria ter esperado por isso. Cedo ou tarde Sirius a esqueceria e continuaria a viver. Não era isso que ela mesma estava fazendo?

- Ehr... Quando é o casamento, Meg?

- Na sexta. Amanhã vai ter a prova do vestido, nós podemos ir quando o turno acabar, tudo bem pra você?

- Claro, tudo ótimo - ela apressou-se a concordar antes que Meg percebesse alguma coisa, e voltou a trabalhar.

Anne agradeceu quando o expediente terminou. Tudo o que ela queria era tomar um banho, relaxar, e esquecer de Sirius. Ela aparatou dentro do apartamento, e foi tomar banho. Anne estava se vestindo quando ouviu alguém bater na porta, e enquanto se cobria com um roupão, ela foi abrir a porta. Parado à porta, estava Bartolomeu Crouch, com um olhar ingênuo.

- Espero que você esteja precisando de alguém para dividir as despesas...

O olhar interrogativo de Anne foi do rapaz para a mala que estava ao lado dele antes que ela perguntasse.

- O que aconteceu?

- Briguei com o meu pai. - Bartolomeu entrou no apartamento, sem esperar pela resposta de Anne - Não estava dando certo, eu não ia suportar ficar no mesmo lugar que ele, então eu saí de casa. Posso ficar aqui?

Anne abriu e fechou a boca, aturdida. Definitivamente não esperava que o rapaz fizesse aquela pergunta.

- Você não está sendo muito precipitado?

- Eu esperei demais para sair daquele lugar! - ele disse com raiva - Se não fosse pela minha mãe, eu teria ido embora antes, mas eu não sou obrigado a agüentar as cobranças do meu pai todo dia. - ele parou e continuou num tom calmo - E então? Eu posso ficar aqui?

- Eu não sei... - ela disse com incerteza.

E sem querer, Anne pensou no que Sirius diria se soubesse como ela estava vivendo, mas no instante seguinte, pensou, com raiva de si mesma, que o que fazia com a sua vida não importava a ninguém, exceto ela. Se ficasse pensando no que Sirius diria, nunca faria as coisas que queria. E agora, queria que Bartolomeu ficasse.

- Vamos, Adrianne... Vai ser só por alguns dias, eu prometo.

- Pode ficar. - Bartolomeu sorriu, e se aproximou dela - Mas só por alguns dias!

Anne enfatizou a última frase, mas Bartolomeu a ignorou, e seu rosto se aproximou cada vez mais do dela, até que ele a beijou.

-x-x-x-

A primeira noite de Bartolomeu morando com Anne se tornou dias, e os dias se tornaram semanas, até que fazia um mês que ele estava morando com ela.

Aquelas foram as melhores semanas de Anne desde que havia deixado o castelo. Às vezes Bartolomeu agia como uma criança mimada e reclamava do jeito sério dela, mas isso não a chateava, porque na maioria das vezes, ele estava certo. Anne havia aprendido a esconder seus sentimentos, e nem sempre conseguia simplesmente esquecer disso e se divertir, mas ela admitia que era ótimo chegar em casa e ter alguém esperando por ela.

- Bartô?! - Anne chamou depois que entrou no apartamento - Onde você está?

- Estou na cozinha!

- Fazendo o jantar? - ela perguntou, surpresa, ao entrar na cozinha.

Ele olhou encabulado para ela.

- Era para ser uma surpresa, mas você chegou mais cedo hoje.

- Miranda disse que terminaria o relatório, e eu vim para casa. Mas, afinal, qual é o motivo dessa surpresa?

Depois que Margareth Grant se casou, ela tirou férias, e Miranda Wyatt a estava substituindo.

- Por nada. Só para você saber que eu estou feliz por estar aqui com você.

- Eu também... - ela se aproximou - Quer ajuda?

- De jeito nenhum! - o rapaz disse, enfático - A surpresa é para você comer, e não para você fazer.

Anne, então, sentou-se na mesa, e ficou observando Bartolomeu terminar de fazer o jantar, que não demorou muito a ficar pronto. Os dois comeram, e conversavam tranqüilamente até que Bartolomeu ficou sério.

- Adrianne, eu vou ter que viajar amanhã.

Anne soltou o garfo, e olhou séria para o rapaz, visivelmente mal-humorada.

- Você pode fazer o que quiser.

Ela levantou-se da mesa, mas Bartolomeu segurou a mão dela.

- Adrianne... Eu tenho que ir... - ele disse tentando se desculpar.

- E você pode ir - ela disse friamente, sem olhar para o rapaz.

- Eu até posso ir, mas eu quero entender porque você está tão chateada.

- Não é nada.

Anne soltou-se, e começou a ir para o quarto, mas Bartolomeu levantou-se e a segurou pelos braços com as duas mãos. O olhar autoritário do rapaz fez com que qualquer traço de ingenuidade no rosto dele desaparecesse.

- Se não fosse nada, você não estaria me evitando assim! Eu só quero saber o que está acontecendo com você, droga!

O rapaz gritava, e Anne encolheu-se. Bartolomeu nunca havia gritado com ela antes, e ele parecia bastante ameaçador.

- Eu queria entender porque você tem que ir! - ela disse se soltando, e Bartolomeu a encarou por alguns instantes antes de perguntar subitamente.

- Porque você não vem comigo?

Anne arregalou os olhos.

- Do que você está falando, Bartô?

- Se você for comigo, talvez você entenda porque eu nunca desistiria.

Anne hesitou, e Bartolomeu, percebendo isso, continuou.

- Adrianne, você não tem que tomar nenhuma decisão. Só precisa ir comigo.

Era daquilo tudo que Severo sempre a protegeu, dos Comensais e era desse mundo que Andrew Snape a manteve longe, como se ela não fosse boa o suficiente para fazer parte dele. Ela iria provar para os dois que eles estavam errados. Anne encarou Bartolomeu decididamente, e respondeu.

- Está bem. Eu vou com você.

-x-x-x-

Bartolomeu e Anne aparataram numa floresta, próxima a um castelo familiar para ambos. O castelo Malfoy.

- O que vai acontecer, Bartô?

- Uma reunião, só que não vai ser como as de Narcisa - o sorriso dele era simpático, mas escondia o que realmente iria acontecer.

Já era noite há muitas horas, e os dois não eram os únicos a aparatar na floresta. Dois homens aparataram, e como Bartolomeu e Anne, os dois usavam vestes escuras.

- Olá, Crouch.

- Mcnair, Seaton... - Bartolomeu os cumprimentou, secamente.

- Quem é essa? - Mcnair perguntou.

- É uma iniciante.

- Muito bom, Crouch. - Seaton disse - Milorde deve estar muito satisfeito com você, esse é o quinto iniciante que você trás à Ordem das Trevas. - o homem observou Anne, e afirmou - Ela passará na inicialização.

- Claro que vai - Bartolomeu disse.

Anne ouvia o diálogo, mas não entendia a maior parte do que eles falavam. Que Ordem seria essa? Não poderia ser a Ordem de Sirius, ela não conseguia imaginar Sirius e Malfoy trabalhando lado a lado.

O grupo foi até o castelo, e Seaton bateu. Minutos depois, um bruxo um pouco mais velho que Bartolomeu abriu a porta.

- Pois não?

Seaton mostrou o braço para o bruxo, e sussurrou uma frase em tom solene que Anne não ouviu. Em seguida, o jovem bruxo deu passagem, e os quatro entraram no castelo.

A mão de Bartolomeu procurou a de Anne, e ao senti-la gelada, percebeu o quanto ela estava nervosa.

- Fique calma, querida. Eu estou aqui.

Anne abaixou o olhar, tentando se acalmar, e o casal seguiu os outros bruxos até uma porta de madeira mais gasta do que as outras portas do castelo, e entraram na sala.

Lúcio Malfoy conversava com outros seis bruxos, mas se calou quando os quatro entraram.

- Pense que vocês não viriam mais para a minha reunião. - ele disse secamente, e olhou para Bartolomeu - Mais um iniciante, Crouch?

- Sim, Malfoy. - ele olhou para Anne - Essa é Adrianne Snape.

Malfoy, que não havia olhado com atenção para Anne, agora a examinava cuidadosamente, até que um sorriso astuto surgiu em seu rosto.

- Com ela, são três iniciantes por hoje. - o bruxo disse com satisfação - Milorde deve estar orgulhoso de nós, a cada dia conseguimos mais aliados à nossa causa. - ele sorriu, mas logo ficou sério, e falou num tom mais alto - Boa noite a todos. Há três dias eu visitei Lord Voldemort, e ele disse estar muito satisfeito com as nossas conquistas. O último ataque foi bastante proveitoso. Conseguimos descobrir vários planos da Ordem da Fênix, e conseguimos alguns reféns que podem nos dar algumas informações. Só precisam de um... - ele sorriu astutamente -...pequeno incentivo... É isso que faremos hoje, além da cerimônia de inicialização dos nossos três convidados. - ele encarou os três bruxos, inclusive Anne - Brevemente vocês serão Comensais de grande valor a milorde.

Anne arregalou os olhos, surpresa, começando a entender o significado da conversa de Bartolomeu e os dois bruxos. Ela estava prestes a se tornar uma Comensal.

- Bartô, eu nunca disse que queria me tornar um Comensal! - ela disse rispidamente.

- Você não vai se tornar um Comensal se não quiser. Só Lord Voldemort pode fazer isso, e antes que isso aconteça, você deve provar que é confiável. A cerimônia de inicialização é só uma etapa, se você não quiser ir em frente, pode desistir.

Bartolomeu olhava para Anne encorajando-a, mas ela não estava certa de que queria continuar.

- Crouch?

Bartolomeu voltou-se para Malfoy.

- Só um minuto! - ele voltou-se para Anne - E então?

Anne fechou os olhos, pensando por um instante no que estaria fazendo se tivesse dito a verdade para Sirius, mas aquela vida não existia, da mesma forma como não existia a possibilidade de voltar atrás.

- Vamos logo. - ela o encarou - Eles estão nos esperando.

Bartolomeu sorriu, e os dois seguiram Malfoy e os outros bruxos até um quadro de Salazar Slyntherin. Lúcio disse a senha, e o quadro deu passagem.

Um a um, os bruxos entraram num corredor de pedras iluminado por poucos archotes, e desceram uma escada. À medida que desciam, ouviam mais claramente os ecos de gemidos e sussurros, e o ar ficava mais insuportável.

- Os nossos pássaros ouviram que chegamos... - Seaton disse com um sorriso malicioso - Vai ser divertido.

O grupo andou por vários corredores, até pararem em frente a uma das inúmeras celas da imensa masmorra.

- Aqui está nosso informante. - Malfoy apontou a varinha, e dizendo o feitiço, a porta abriu - Daniel Bones.

Encolhido a um canto da cela, estava o homem semidespido, magro, os olhos fundos indicavam que ele não dormia há dias, mas ele não estava assustado. Parecia infinitamente cansado.

- Olá, Bones. - Malfoy disse friamente - Você deveria agradecer. Eu poderia ter tentado isso mais cedo, mas preferi esperar meus colegas, não achei que seria justo para com os que me ajudaram a capturar você.

- Onde está Clear? - o homem perguntou num sussurro ansioso, arrancando uma risada cruel de Malfoy.

- Sua esposa só está esperando a vez dela - Seaton disse, cruelmente.

- Vocês não vão saber de nada sobre a Ordem, não por mim! - ele gritou.

Bartolomeu se adiantou, no rosto estava uma expressão de maldade que Anne nunca esperou ver no rosto dele.

- Diga-me, Daniel, você tem uma menininha, não é? Quantos anos ela tem? Acho que ela nem tem um mês de vida, não é? Você gostaria de vê-la? Porque nós podemos trazer ela para visitar o papai...

O homem se levantou, e sem se importar com as varinhas que estavam apontadas na direção dele, se jogou em cima de Bartolomeu Crouch, mas antes que ele encostasse um dedo no rapaz, dois bruxos gritaram ao mesmo tempo.

- Crucio!

O homem se contorceu, e se encolheu como se tivesse tentando fugir da dor que se espalhava por todo o corpo, enquanto Bartolomeu ria.

- Ora, o que tem de mais na menininha vir ver o pai?

- Você nunca vai tocar um dedo na minha filha! - ele sussurrou com bravura - Nunca!

- Vamos ver... - ele sorriu, sarcástico - O que você acha, Malfoy? Podemos trazer a pequena Bones para fazer companhia ao pai?

- Devemos ir imediatamente, mas talvez a Sra. Bones queira mandar um recado para a menina... - Lúcio sorriu, percebendo o plano de Bartolomeu, e fechou a porta da cela - Ele está quase desistindo.

- Está durando mais que a mulher. Não gosto disso - Seaton resmungou, contrariado.

- Acalme-se, Seaton. - Malfoy disse - Logo ele falará tudo. - ele se voltou para os outros bruxos encarando os iniciantes - É isso o que fazemos. Não temos piedade. Um bom Comensal não deve ter pena.

Anne tentava manter a pose de indiferença, mas ficava mais difícil parecer não se preocupar com as pessoas que estavam nas celas. Ela respirou fundo, e seguiu os outros até o fim do corredor, onde havia uma escada que eles desceram, até chegarem a outro corredor.

Não havia tantas celas nesse corredor quanto o outro, mas o ambiente era o mesmo. A diferença era os gritos insanos.

- Onde eu estou? Me tirem daqui!

Mcnair fez uma careta, e disse com desprezo.

- Hunf... Trouxas... Queria acabar com todos eles!

- Não hoje, Mcnair. Hoje o privilégio será dos nossos iniciantes, afinal, eles devem provar que estão dispostos a tudo por Lord Voldemort. Até mesmo a matar. - Malfoy abriu a porta, e depois olhou para um dos dois bruxos que se iniciariam à Ordem naquela noite - Niles...

O homem se adiantou. Não parecia ter mais que trinta anos, mas o olhar cruel e o sorriso satisfeito mostravam que ele estava disposto a fazer qualquer coisa para juntar-se a Voldemort. Ignorando o olhar de desespero do velho trouxa, ele apontou a varinha, e disse com prazer.

- Avada Kedrava.

Um dos Comensais que chegaram antes de Anne abraçou Niles, parabenizando-o, enquanto Lúcio Malfoy abria uma outra cela, e chamava o próximo.

- Ludwig...

Ludwig era mais velho que Niles, e Anne o conhecia. Trabalhava no Ministério, era um dos chefes de departamento, e como se tivesse fazendo algo no trabalho, ele apontou a varinha na direção de uma mulher trouxa. A mulher gritou, mas foi em vão. Logo depois do bruxo dizer o feitiço, ela caiu no chão, sem vida. Em seguida, Ludwig se afastou, sob o olhar de aprovação dos outros. Malfoy abriu a terceira cela, e sorriu para Anne.

- Snape...

O homem, que estava encostado na parede, ergueu o rosto quando a porta foi aberta. Ele parecia estar na cela há mais dias que os outros, então fazia uma idéia do que iria acontecer.

- Por favor, me deixem ir, eu prometo que não falo nada, mas deixem eu ir embora, eu tenho uma família para sustentar, eu.... - ele disse com desespero.

- Ora, cale-se, seu idiota! - Lúcio Malfoy gritou autoritário, assustando o homem, que se escondeu num dos cantos da pequena cela.

Anne deu um passo para trás sem perceber, e Bartô colocou a mão esquerda no ombro de Anne, enquanto levantou a varinha dela com a outra mão.

- Aqui está, querida. Eu sei que você pode fazer isso. Eu sinto isso.

Anne olhou insegura para Bartô. Ela não se sentia preparada para fazer aquilo, nem sabia se algum dia estaria. Ela evitava olhar para o homem, mas mesmo assim podia escutar sua respiração e sentia o olhar desesperado dele cravado nela, implorando por ajuda, mas Anne não poderia fazer nada para ajudá-lo. Isso fazia com que ela sentisse raiva do homem, pois ele só fez a incerteza que Anne sentia aumentar. Anne abaixou a varinha.

- Não, Bartô, eu não posso, eu...

Bartolomeu olhou severo para Anne.

- Você pode fazer isso. Eu sei - ele disse com firmeza, e novamente, segurando a mão de Anne, levantou a varinha.

Seu olhar era cruel, selvagem, pouco lembrava o rapaz simpático que ele costumava ser. Bartolomeu se aproximou de Anne e sussurrou com desprezo no ouvido dela.

- É isso o que você tem que fazer, você só tem que pensar e se concentrar no seu pensamento. Escute a minha voz. - ele disse autoritário - Pense na pessoa que sempre desprezou você... Pense na pessoa que sempre desprezou você... Pense na pessoa que sempre maltratou você... Pense na pessoa que sempre enganou você... Pense na pessoa que você sempre odiou... Pense... no seu pai.

A varinha na mão de Anne começou a tremer, e uma onda de ódio atravessou o seu corpo. Ela fechou os olhos com força, e em seguida, um grito raivoso ecoou na masmorra, que em seguida, se inundou em uma luz verde.

Quando terminou de gritar, Anne ofegava, cansada, pois o feitiço exigiu muito dela. Ela permaneceu com os olhos fechados, sem coragem de abri-los, até que sentiu as mãos de Bartô a prendendo pela cintura, e os lábios do rapaz tocarem o seu rosto.

- Parabéns, querida. Eu sabia que você conseguiria.

Anne deixou a mão cair, apesar de estar se sentindo menos fraca, e aliviada. O olhar estava fixo no homem. Ele estava caído no chão, os olhos arregalados não passavam nenhuma emoção. Estavam sem vida. O homem estava morto.
da fic (se bem que ela já pode estar lá, então é melhor conferir...)