22. OUTRA VEZ



Sirius havia terminado com Anne há algumas semanas, mas ele ainda pensava nela. Ele não esperava que a garota fosse dizer o que estava escondendo, mas ele não podia evitar querer abraçá-la e dizer que tudo estava bem sempre que a via nos corredores de Hogwarts.

Sirius ainda se lembrava dos planos que ele e Anne haviam feito, e a proximidade do fim do semestre só fazia com que o rapaz se sentisse mais culpado ainda. Se tudo tivesse dado certo, ele iria voltar para casa com Anne, mas agora ele voltava para casa sozinho, e ainda por cima, se sentindo culpado por ter quebrado a promessa que havia feito a si mesmo de que sempre protegeria Anne.

Em casa, ele não sabia o que fazer. Ficou sem rumo por um tempo, até que foi marcada uma reunião da Ordem da Fênix. Voldemort continuava conseguindo mais poder, mas graças aos esforços da Ordem da Fênix, o número de planos do bruxo das trevas que falhava era cada vez maior. E era para impedir o sucesso de mais um plano de Voldemort que aquela reunião havia sido marcada.

As reuniões da Ordem aconteciam na sala de Dumbledore em Hogwarts, em uma sala escondida. Na sala havia uma mesa redonda, e antes de Dumbledore começar a reunião, os bruxos da Ordem conversavam entre si.

- Porque a Lily não veio, Pontas?

- Foi a irmã dela... Proibiu que ela recebesse corujas... Faz dias que eu não vejo a Lily... Desde que o pai dela morreu, ela está morando com a irmã em Surrey, e ela achou melhor eu não aparecer lá por enquanto.

Sirius ficou pensativo por alguns instantes. Adoraria que entre ele e Anne só houvesse uma irmã intolerante, mas as coisas não eram tão simples assim.

- Pontas, você não devia aceitar ficar longe da Lílian tão tranqüilamente.

- O que você está querendo dizer, Almofadinhas?

Sirius podia não estar com Anne, mas ele não deixaria que o amigo ficasse longe da garota que ele amava também. Ele sabia como era doloroso, e não queria que Tiago sentisse essa dor quando poderia ficar com Lílian no momento que quisesse.

- Porque você não foge com ela?

Tiago riu.

- Acho que você não está muito bem, Almofadinhas. Devia arrumar uma garota.

Sirius balançou a cabeça, ignorando as palavras de Tiago. Ele não queria uma garota, nenhuma delas poderia fazê-lo sentir que nada mais importava além do amor dos dois. Ele queria a garota, a única que o faria sentir isso outra vez. Ele queria Anne.

- Eu estou falando sério, Pontas! Você está sofrendo por não estar com a Lily, eu sei que está, por mais que você diga que está bem, então porque vocês dois não fogem? Vocês não podem deixar que uma irmã cabeça-dura mantenha vocês dois separados!

- Você perdeu o juízo... - Tiago disse com um sorriso no rosto, mas ele mesmo já havia pensado nisso. Só precisava organizar algumas coisas para que Lílian pudesse ir morar com ele, e as palavras de Sirius só o incentivaram mais ainda.

Sirius abriu a boca para responder, mas quando ele começou a falar, Dumbledore pediu a palavra, e começou a reunião.

Enquanto o diretor de Hogwarts falava, Sirius pensava, com admiração, como o gentil diretor poderia ser o homem implacável e determinado quando estava em uma reunião da Ordem. A única coisa em Dumbledore que lembrava o diretor que ele era, era o amor em seus olhos. Como diretor, ele demonstrava amor pelos alunos e pela escola, mas enquanto Presidente de Honra da Ordem da Fênix, todo o amor pelo mundo bruxo estava nos olhos, gestos e tom de voz de Dumbledore. Ele poderia estar falando de como Voldemort avançava ou de como a Ordem da Fênix havia impedido um ataque, mas sempre havia amor em seu olhar. Por isso ele era admirado.

- Infelizmente, os avanços de Voldemort estão começando a nos afetar mais do que havíamos imaginado. Nunca pensamos que ele iria conquistar tantos aliados, e nem que tantos dos seus planos iriam funcionar. Por isso, eu fiz uma proposta ao Ministro da Magia, e Anthony concordou com ela. Todos vocês conhecem os Aurores. Eles lutam contra Voldemort em nome do Ministério, mas justamente por isso, eles são facilmente identificados. Eu sugeri a Anthony que alguns membros da Ordem recebessem o mesmo treinamento dos Aurores, mas ao contrário dos mesmos, não fossem ligados ao Ministério. Eles seriam uma espécie de... Aurores ocultos. O Ministério não teria nenhum arquivo sobre eles, mas esses Aurores ocultos teriam a vantagem de não serem conhecidos. - Dumbledore fez uma pausa - Não vai ser um trabalho fácil. O treinamento será intensivo, e será necessário se afastar de suas famílias por tempo não determinado. Mas uma coisa eu garanto. Não será um sacrifício em vão. A criação dos Ocultos talvez seja imprescindível para conseguirmos derrotar Voldemort. Só gostaria que vocês pensassem muito bem antes de ouvir as respostas, pois certamente esse será um trabalho arriscado.

O diretor se sentou, e logo em seguida, surgiu um burburinho de vozes na sala. Alguns bruxos acharam que Dumbledore havia enlouquecido, mas a maioria concordou com o diretor de Hogwarts, entre eles, Tiago e Sirius, que conversavam enquanto outros bruxos tiravam dúvidas sobre os Ocultos com Dumbledore.

- Eu vou entrar para os Ocultos, Sirius - Tiago disse, decidido.

- Você enlouqueceu, Tiago? E a Lílian? - Sirius perguntou, preocupado.

- Garanto que se ela estivesse aqui, ela seria a primeira a concordar com Dumbledore.

- Eu não duvido. - Sirius disse com um sorriso. Lílian era assim mesmo, se entregava completamente por uma causa - Mas você mesmo disse que ela está sozinha com a irmã dela, Tiago. Ela precisa de você por perto, não que você desapareça por meses. Além disso, eu tenho uma idéia melhor. Posso falar?

- E eu tenho outra escolha? - Tiago perguntou com um sorriso franco.

- Não. - o outro rapaz respondeu sério - Você fica com Lílian. Eu vou me tornar um Oculto.

Tiago deu uma gargalhada.

- Você só pode estar brincando! Sirius, você nunca foi responsável um dia sequer na sua vida, e agora quer ser um Oculto!? Você faz idéia do quanto sua vida vai mudar?

- Sim, eu sei, Tiago. Por isso eu quero me tornar um Oculto. Estou cansado de fazer nada o dia inteiro. Talvez tornar um Oculto seja exatamente o que eu esteja precisando.

- Se você acha que é isso que você deve fazer, Sirius, eu não posso fazer nada.

- Pode sim. Seja feliz com a Lílian.

Tiago sorriu agradecido para o amigo, enquanto Sirius olhava sério para Dumbledore, esperando a oportunidade para poder falar que queria ser um dos Ocultos. Ele estava decidido. Não se importava por ficar longe de sua família, de seus amigos, pois era aquilo que ele realmente queria. Não ver nenhum rosto conhecido, ocupar a mente com outras coisas, e não ter tempo para pensar em Anne ou na culpa que sentia por ter abandonado a garota quando ela mais precisava. Sirius não conseguiria continuar se permanecesse com os pensamentos voltados para a antiga namorada. Se tornar um Oculto e ter que se preocupar com outros problemas era a solução perfeita para esquecer Anne de uma vez por todas.

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Tiago só precisava que alguém o apoiasse para fugir com Lílian, e depois que Sirius disse o que pensava, ele não adiou mais o plano, e tirou Lílian da casa de Petúnia. Enquanto isso, Sirius era aceito como Oculto. O treinamento começaria em algumas semanas, e não tinha data para terminar, por isso, Tiago e Lílian apressaram o casamento, que aconteceu em uma noite no fim de agosto. Os dois faziam questão que Sirius fosse o padrinho.

A festa do casamento de Lílian e Tiago acabou se tornando uma festa de despedida para Sirius, pois no dia seguinte, o treinamento começaria. Sabendo disso, o rapaz fez questão de se divertir.

- Cuidado, Almofadinhas! - Tiago brincou com ele - Se você continuar bebendo desse jeito, vai ficar difícil ser um Oculto com o hálito de quentão!

- Pontas, hoje eu não quero saber de sermão. - ele disse alegremente - Sabe-se lá quanto tempo eu vou ficar sem beber?!

Lílian, que estava conversando com Julie e Remo, se aproximou dos dois.

- Então é melhor eu aproveitar que você ainda consegue ficar de pé e bater uma foto. - ela se voltou para Julie - Você pode tirar a foto?

- Claro! - Julie respondeu, e Lílian entregou a máquina para a garota. - Mais junto... - Tiago abraçou Lílian, que estava entre ele e Sirius - Isso! Agora, sorriam!

Eles sorriram, pensando em todas as coisas boas que iriam acontecer de agora em diante, e uma luz os iluminou.

- Pronto! - Julie disse.

- Eu vou querer uma cópia! - Sirius disse piscando para Lílian.

- Pode deixar! - ela sorriu - Você pode tirar uma comigo, o Tiago, a Julie e o Remo?

Sirius concordou, e depois que tirou a foto, os três Marotos se juntaram a Pedro em uma mesa e começaram a conversar.

- É isso aí, nosso amigo está amarrado! - Pedro disse, fazendo Tiago corar - Quem será o próximo? Algo me diz que a Susan McKinton está interessada em mim... Quem sabe ela não é a próxima mulher da minha vida?

- Deixe de ser bobo, Rabicho! - Sirius disse em tom divertido - Se o Remo não se cuidar, eu aposto que a Julie agarra ele!

Remo abaixou a cabeça, parecendo magoado.

- Eu não gosto de fazer especulações sobre o futuro...

Tiago olhou intrigado para o amigo. Desde que a festa começou, Remo estava um pouco distante das conversas, como se o corpo estivesse na sala, mas os pensamentos, muito longe dali. Tiago ia falar com o amigo, mas Pedro se adiantou.

- E então, Almofadinhas, preparado para o treinamento? Eu não sei se conseguiria suportar isso...

- Você não ia conseguir de jeito nenhum, Rabicho! - Sirius disse sorrindo - Você não consegue ficar um dia sequer sem Delícias Gasosas, e esse treinamento vai ser sério.

Tiago se lembrou, então, que precisava falar com Sirius, e olhou com seriedade para ele.

- Sirius, eu queria falar sobre os Ocultos... Eu e a Lily conversamos, e ela concordou. Depois da lua-de-mel, eu vou me tornar um Oculto também.

- Tiago, você não pode fazer isso! - ele disse em tom repreensivo - E a Lílian?! Quem vai cuidar dela?

- Ehr... - ele disse encabulado, lembrando de como Lílian ficou irritada quando ele falou que havia ficado por causa dela - Ela disse que não é nenhum bebê, e que pode cuidar de si mesma muito bem. Além disso, eu vou me tornar um Oculto justamente por causa da Lily e do nosso futuro. Eu quero dar a ela um mundo melhor, e quero que nossos filhos cresçam num mundo em que eles possam ser livres.

- Você não precisa ser um Oculto para isso. Deixa que eu vou cuidar para que seus filhos tenham esse futuro.

- Sirius, eu confio no seu trabalho, mas quantos mais Ocultos existirem, mais rápido Voldemort será derrotado.

Sirius concordou com a cabeça. Não achava que Tiago deveria ir, mas apoiaria o amigo em qualquer decisão, como o apoiou quando ele fugiu com Lílian.

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O treinamento de Sirius durou quase dez meses. Ele e mais quatro membros da Ordem foram os primeiros a serem recrutados pelo Ministério, e como Dumbledore havia dito, o grupo teve que se afastar da família para ficarem em um alojamento onde eram treinados como os Aurores. A única diferença foi que ao invés de passarem um ano estudando, como todo candidato a Auror fazia, eles foram preparados por dez meses com aulas que duravam praticamente o dia inteiro. Realmente, Sirius não tinha muito tempo para pensar em qualquer outra coisa senão os treinos.

Poucas semanas depois dos treinamentos de Sirius terem começado, Tiago e mais três bruxos se uniram a eles, mas eram raros os encontros dos dois. Cada um estava envolvido em seu treinamento, o pouco tempo livre de Tiago era gasto com visitas a Lílian, e depois que o treinamento de Sirius terminou, eles não se viram por um longo tempo.

Assim que Sirius se tornou um Auror Oculto, ele foi mandado para uma missão. Ele estava um pouco inseguro, mas superou o temor e realizou a missão com sucesso, descobrindo alguns espiões de Voldemort, e alguns nomes de Comensais importantes, entre eles, o bruxo que era o segundo em comando: Andrew Snape.

Quando soube disso, Sirius não conseguiu evitar pensar em Anne, e mais uma vez, sentiu-se culpado por ter deixado a garota para trás. Depois de saber que o segundo em comando era o pai de Anne, ele teve certeza que o segredo que Anne escondeu dele era algo relacionado com o fato do pai dela ser o Comensal em que Voldemort mais confiava. Sirius se arrependia de não ter protegido a garota quando podia ter feito, mas agora era tarde demais.

Sirius pensava sobre isso em seu quarto. Fazia três dias que havia voltado da missão, e desde então, só havia saído do quarto para comer. Durante a missão, ele realmente viu o que os Comensais faziam com os trouxas e muitos bruxos. Era doloroso sair, olhar os rostos das pessoas e imaginar qual seria a próxima família que os Comensais atacariam, por isso ele preferia ficar no quarto. Sirius não sabia que ainda veria muitas famílias serem destruídas por Voldemort, inclusive a própria. Perdido em pensamentos, ele só percebeu que a irmã havia entrado no quarto quando sentiu a mão dela em seu ombro.

- Sirius?

Ele se levantou, um pouco assustado, e cumprimentou a irmã.

- Oi, Julie.

- Sabe, Sirius... - ela disse enquanto se sentava na beira da cama. Estava preocupada com o irmão, ele não saia do quarto há dias - Você está passando tempo demais trancado nesse quarto. Porque você não sai comigo hoje? Eu e uns colegas do hospital vamos para o Três Vassouras, acho que eles não se importariam se você fosse...

Sirius balançou a cabeça negativamente.

- Não, Julie, acho melhor eu não ir. Talvez eu tenha que ir para uma missão, ou qualquer outra coisa...

Julie ergueu o dedo indicador, decidida.

- Sirius Black, não aceito nenhuma desculpa. Você passou dez meses treinando, depois foi para uma missão, acho que até mesmo um Oculto merece se divertir um pouco!

Sirius olhou com admiração para a irmã. Enquanto ele esteve treinando para ser um Oculto, Remo Lupin havia desaparecido depois de deixar uma carta de despedida para Julie, mas apesar dos dois serem muito unidos, ela não se abalou. Passou o último ano de Hogwarts se dedicando aos estudos, e quando se formou, conseguiu um emprego de enfermeira no Hospital St. Mungus. Sirius preferia ver a irmã assim, feliz, e sem querer preocupá-la, resolveu aceitar o convite, por mais que não quisesse sair.

- Está bem. - ele sorriu, e continuou - Eu saio com você. Quando é?

- Agora mesmo, bobão! - ela deu uma gargalhada - É melhor você se arrumar, eu não quero chegar atrasada! - ela se levantou, e foi até a porta - Em meia hora nós saímos, está certo?

- Tudo bem - ele concordou, e com um suspiro cansado, ele foi tomar banho.

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O Três Vassouras estava lotado. Era fim de julho, a maioria dos bruxos estava de férias, e muitos resolviam passar o tempo livre no bar. Sirius caminhava com dificuldade, e se não fosse por Julie estar segurando sua mão com firmeza, teria se perdido.

- Olha, eles estão naquela mesa - Julie disse para Sirius, apontando em uma direção, mas ele só viu os amigos da irmã quando chegaram na mesa.

- Oi, pessoal! - a garota cumprimentou os cinco na mesa jovialmente - Esse é meu irmão, Sirius, tudo bem ele ter vindo, não?

- Claro. Senta aí - um homem em torno dos trinta anos, com cabelos crespos e castanho-claros disse, apontando para uma cadeira.

- Sirius Black? - uma voz feminina perguntou, chamando a atenção de Sirius.

- Sou eu mesmo - ele sorriu.

- Não pode ser! - ela disse com surpresa.

- Nós nos conhecemos? - ele perguntou observando melhor o rosto da garota, achando os cabelos castanhos e ondulados bastante familiar.

- É claro, você não se lembra de mim... Conversando com tantas garotas como você fazia em Hogwarts, duvido que fosse se lembrar. Torre de Astronomia, festa das Bruxas... Lembrou?

No rosto dela havia um sorriso maroto, seus olhos brilhavam, e Sirius lembrou quem ela era.

- Melanie Grant! - ele sorriu alegre.

Ela era da Corvinal, do mesmo ano que Sirius, e os dois haviam ficado juntos na festa das Bruxas do quarto ano. Eles continuaram juntos por algumas semanas, até que, como fez com outras namoradas, ele terminou tudo.

- Você costumava me chamar de Mel. - ela disse com um sorriso maroto.

- Desculpe, Mel. E então, o que você está fazendo desde que terminou Hogwarts?

- Eu trabalho no St. Mungus. Sou a chefe das enfermeiras. E você?

- Bem, eu faço uma coisa ou outra - ele disse com um ar misterioso que fez Melanie sorrir.

- Você não mudou nada, Sirius! Continua se fazendo de importante!

- Eu nunca me fiz de importante! - ele disse com sarcasmo.

- Ah, não, de jeito nenhum! Pensei que estava conversando com Sirius Black, mas eu devo ter me enganado... - ela sorriu e virou-se para a pessoa que estava ao seu lado.

Sirius encarou a garota por alguns instantes. Desde que a viu, sentiu-se atraído por ela, e quando se lembrou que ela era Melanie Grant, esse sentimento aumentou. Ele se lembrava que Mel sempre o divertia, e era criativa o bastante para fazer com que cada dia fosse diferente do outro. Ele quase se apaixonou por ela no quarto ano, e foi justamente por não querer se comprometer com ninguém foi que terminou com ela. Bem, Sirius não tinha mais catorze anos. Estava com vinte, e não fugia mais de compromissos, ou de qualquer coisa que o fizesse assumir um pouco de responsabilidade.

- Mel, volta aqui. - ele chamou a mulher, que se virou - Você tem razão. Eu me acho um pouco mais importante do que eu realmente sou.

- Um pouco? - ela perguntou erguendo as sobrancelhas.

- Bem... - ele disse encabulado.

- Você não precisa se desculpar por ser assim. - ela o interrompeu - E além do mais, poderia ser pior. Você poderia se achar importante demais sem ser tudo isso.

Melanie piscou, e Sirius olhou surpreso para ela enquanto a mulher continuava a conversa que Sirius interrompeu.

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Depois daquele encontro com Melanie Grant, Sirius convidou ela para dançar. Esse convite foi seguido por outros, até que eles começaram a namorar.

Assim que o compromisso com Melanie ficou sério e ele percebeu que podia confiar nela, Sirius contou tudo sobre a Ordem da Fênix. Melanie, que era contra Voldemort, entendeu o trabalho de Sirius, e se uniu à Ordem da Fênix. Ela não era um Oculto, mas fazia trabalhos para a Ordem, e de vez em quando, os membros da Ordem trabalhavam com os Ocultos em conjunto, como aconteceram várias vezes antes, mas daquela vez foi diferente.

Fazia mais de um ano que Sirius era um Oculto, e quase nove meses que namorava Melanie. Nesse tempo, ele e a mulher se tornaram bastante unidos, a ponto dele ser convidado como padrinho do casamento da irmã de Melanie, Margareth. Mas Sirius e Melanie foram convocados para uma missão, e eles partiram um dia antes do casamento.

- Sua irmã ficou chateada? - ele perguntou para Melanie enquanto iam na moto até o ponto de encontro da Ordem.

- Um pouco, mas ela entendeu. Meg sabe como é difícil descobrir quando Voldemort vai atacar, e de qualquer forma, a colega de trabalho dela, uma tal de Adrianne, aceitou ser madrinha.

- Adrianne?! - Sirius perguntou, diminuindo a velocidade de uma vez.

- É, porque? - Melanie perguntou, intrigada.

- Não, é que... - ele gaguejou, tentando pensar numa desculpa - A irmã de Severo Snape chama-se Adrianne... Será que é ela?

- Deve ser. - Melanie disse com descaso - Adrianne não é um nome comum. Mas se ela for mesmo a irmã de Severo Snape, deve ser uma espiã de Voldemort. Vou falar para a Meg ficar de olho nela.

- Ehr... Está bem...

Sirius tentou se tranqüilizar, mas não conseguiu. Desde que havia conhecido Melanie, nunca mais havia pensado em Anne, e havia conseguido esquecer, ou melhor, ignorar, a culpa que sentia por não ter cumprido a sua promessa de protegê-la. Tudo estava indo muito bem, até que ouviu falar de Anne, e toda a culpa que tentou ignorar apareceu outra vez.

- Sirius, você ficou calado o tempo todo... Está preocupado com o quê? - Melanie perguntou depois que desceu da moto. Ela sentia que algo estava errado.

Desde que havia começado a sair com Sirius, percebeu que ele ficava alguns minutos calado, pensativo. Melanie achou que com o tempo, Sirius acabaria contando o que o preocupava, mas ele nunca falou nada. Por mais que ela tentasse se aproximar do rapaz, sempre havia esse segredo entre eles. Melanie começava a perceber que nunca conheceria Sirius totalmente, e se fosse assim, talvez não valesse a pena continuar esse relacionamento.

- Não é nada, Mel - ele disse com impaciência, começando a caminhar.

- Sirius! - ela chamou o rapaz, mas ele a ignorou - Sirius, volte aqui!

Mas Sirius não voltou, e percebendo que ele não viria, Melanie o alcançou.

- Sirius, eu acho que estamos juntos a bastante tempo para eu saber quando você está preocupado. Porque você não me diz o que está acontecendo?

Sirius fechou os olhos. Ele havia sido sincero com Melanie em tudo, menos sobre Anne. O relacionamento entre ele e a sonserina havia sido profundo demais para que ele conseguisse falar naturalmente sobre ele sem sentir as marcas que haviam ficado em seu coração.

- Não tem nada acontecendo, entendeu, Melanie?! Vamos logo, eu não quero atrasar a reunião.

Sirius recomeçou a caminhar, mas Melanie segurou o pulso dele.

- Tudo bem, Sirius. Eu entendi muito bem. Você não quer me contar o que está acontecendo, na verdade, nunca quis! - ela disse com mágoa - Eu pensei que algum dia você me diria, mas parece que vai ter sempre alguma coisa entre eu e você, alguma coisa não deixando eu te conhecer completamente... Eu juro, Sirius, eu tentei ignorar isso, mas eu não consigo. Se você prefere esconder isso de mim, acho que não devemos mais continuar juntos.

Subitamente, Sirius percebeu o que Anne deveria ter sentido quando ele pediu para que ela contasse o segredo que escondia. Era o que ele estava sentindo naquele momento, e assim como a garota fez, ele não falaria sobre Anne com Melanie.

- Faça como quiser.

Sirius se afastou, mas Melanie o seguiu.

- Ainda temos uma missão, não é? - ela respondeu ao olhar interrogativo do rapaz, e foi para a sala de reunião da Ordem.

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Sirius e Melanie deixaram de namorar, mas se tornaram grandes amigos. Ele sabia que a mulher ainda estava apaixonada por ele, porém, isso não era o suficiente. Enquanto Sirius não esquecesse Anne, poderia ter quantos relacionamentos quisesse ter, mas não seria um relacionamento verdadeiro porque sempre estaria pensando em Anne. Ele se amaldiçoava por continuar pensando nela mesmo com todas as coisas que estavam acontecendo com Tiago e Lílian.

Meses depois de Tiago ter se tornado um Oculto, Lílian engravidou, mas assim que a criança nasceu, um dos espiões de Dumbledore descobriu que Voldemort queria matar os descendentes da família Potter.

- Então por isso ele matou seu pai? - Sirius perguntou. Assim que soube da descoberta, ele foi falar com o amigo.

- Uhum. - Tiago concordou com a cabeça - E também por isso ele atacou Hogsmeade e Hogwarts quando estudávamos lá. Ele quer matar qualquer Potter.

- E qual é o interesse dele nisso? Por que Voldemort quer matar todos os Potter?

Tiago deu as costas para o amigo, e suspirou. Não queria contar para o amigo o motivo pelo qual Voldemort o queria morto, mas ele nunca mentiu para o amigo, e não mentiria agora.

-... entendeu por que eu e Lílian devemos nos esconder? - Tiago disse quando terminou de falar - Eu não tenho que preocupar só com a minha segurança, mas com a de Harry também. Se fosse somente por minha causa, eu ficaria e lutaria, mas eu tenho que pensar no meu filho. Eu posso contar com a sua ajuda, Sirius?

- Você sabe que pode, Tiago - Sirius respondeu, sério. Depois de ter ouvido Tiago falar, ele não tinha mais nenhuma dúvida. Voldemort era um lunático.

- Existem espiões na Ordem, então ninguém além de nós pode ficar sabendo disso. Um dos espiões de Dumbledore disse que no próximo sábado, Voldemort tentará me matar em casa, mas eu não estarei lá. Eu estarei na casa do meu melhor amigo fazendo uma visita.

- Mas não vai ser uma visita. - Sirius completou, percebendo o que Tiago queria dizer - Você vai fugir com Lílian e Harry, acertei?

- Acertou - Tiago respondeu, tentando parecer calmo.

- E os Comensais que irão atacar a casa? O que vai acontecer com eles?

- Eles simplesmente vão encontrar a casa vazia... - Tiago disse sem se importar.

Durante esses anos que trabalhou como Oculto, Sirius começou a entender que os Comensais não tinham piedade de suas vítimas. Ele havia visto muitas famílias sofrerem para deixar que os Comensais escapassem impunemente.

- De jeito nenhum! - Sirius disse com fúria - Eles não podem escapar sem serem punidos! Eu vou falar com Dumbledore, ele vai concordar que devemos atacar também, até mesmo para que Voldemort pense que estamos protegendo você, e não que você está fugindo.

Tiago caminhou pela sala, pensativo, e por fim, encarou Sirius.

- Pode dar certo. Se confundirmos Voldemort, ele não vai saber o que realmente estaremos fazendo.

- Eu vou imediatamente falar com Dumbledore - Sirius disse, sério, e aparatou.

Sirius montou na moto, e a estacionou próximo ao castelo. Com passos decididos, ele entrou na escola e foi até a sala de Dumbledore.

- Olá, Sirius - o diretor cumprimentou o rapaz quando ele entrou em sua sala.

- Eu acabei de falar com Tiago, Dumbledore - ele disse, sério.

- Eu imaginei. - Dumbledore disse sorrindo gentilmente - Sente-se.

- Tiago me falou sobre o ataque e o plano de fuga. - Dumbledore acenou com a cabeça - Mas eu acho que se os Comensais chegarem na casa de Tiago e a encontrar desprotegida, eles irão perceber que alguma coisa está errada.

- Entendo... - o diretor disse colocando as mãos sobre a mesa - Você está sugerindo que seja formado um grupo que fingirá estar protegendo Tiago, Lílian e Harry...

- Eu estou sugerindo mais do que isso. - Sirius disse, decidido - Estou sugerindo que esse grupo ataque os Comensais. Vai ser a oportunidade perfeita, Dumbledore.

Dumbledore encostou-se à cadeira.

- Não sei se isso é necessário agora, Sirius... - o diretor disse, precavido.

- Se atacarmos, será uma dupla derrota para Voldemort. Ele tanto irá perder a oportunidade de concluir seu plano, quanto irá perder valiosos Comensais. Não podemos deixar essa oportunidade escapar - Sirius disse com firmeza.

Dumbledore encarou Sirius por alguns instantes.

- Talvez você esteja certo, Sirius... Eu organizarei uma equipe para atacar os Comensais. Acho que Arabella Figg poderá liderar o grupo.

- Está bem - Sirius concordou, um pouco decepcionado, afinal, ele havia tido a idéia, mas ele confiava em Arabella Figg. Ele se despediu, e foi embora.

Até o dia do ataque, Sirius continuou a visitar o diretor de Hogwarts para que a missão não falhasse. Voldemort deveria pensar que os Potter estariam em casa na noite do ataque até que visse que não havia ninguém em casa. Mas daquela vez, ele não estava indo para acertar os detalhes. Ele estava indo para Hogwarts para se encontrar com os outros membros da Ordem e em seguida, irem à casa dos Potter.

Sirius estacionou a moto em Hogsmeade. Se alguém perguntasse, só estava visitando o povoado. Ele caminhou em direção ao castelo de Hogwarts, e enquanto observava a movimentação do povoado, viu um rosto familiar.

- Aluado, meu amigo! - e com um sorriso por causa da aparição inesperada do amigo, ele foi abraçar Remo.

- Almofadinhas! - Remo disse enquanto abria os braços - Eu não esperava ver você aqui.

- Estou indo ver Dumbledore. - ele disse observando melhor o amigo. Fazia mais de dois anos que ele não via Lupin, e achou que ele parecia incrivelmente cansado - Por onde você esteve esse tempo todo?

- Eu viajei muito - ele não respondeu a pergunta de Sirius, mas antes que o amigo insistisse, ele perguntou. - Vai para uma reunião, é?

- Uhum. - Sirius concordou - Porque você não vem comigo, Aluado? Afinal, você também faz parte da Ordem, e Dumbledore concordaria que você fosse.

Subitamente, Remo pareceu preocupado.

- Não, Almofadinhas, eu realmente não posso...

- Eu não aceito um não como resposta. Nós temos muito que conversar... Você soube de Tiago e Lílian? Eles tiveram um filho, chama-se Harry.

- Eu soube, mas, Sirius eu tenho um compromisso urgente, não posso simplesmente mudar de idéia...

Sirius olhou seriamente para Remo.

- Remo, você tem que ir comigo. Você não sabe o que está em jogo. Hoje à noite, Voldemort irá atacar a casa de Tiago.

- Isso não... - ele disse, aturdido - Como assim?

- Venha comigo, eu contarei tudo.

Os dois amigos, então, foram juntos até o castelo de Hogwarts, e enquanto caminhavam, Sirius disse a Remo todas as descobertas que a Ordem havia feito, exceto sobre o motivo pelo qual Voldemort queria matar Tiago. Quando os dois chegaram na sala de reunião da Ordem da Fênix, Remo estava convencido a ir com o grupo que atacaria os Comensais.

- Dumbledore - Sirius cumprimentou o diretor com um aceno da cabeça.

- Olá, Sirius. - então ele viu Remo - Remo! Seja bem-vindo à Inglaterra novamente.

Sirius se adiantou.

- Remo se ofereceu a ir conosco. Algum problema?

- De forma nenhuma. - Dumbledore sorriu encorajando Remo - Remo, você é parte da Ordem, e nada me deixaria mais orgulhoso do que ver você lutando ao nosso lado novamente.

Remo olhou para Dumbledore agradecido pela confiança que o diretor depositava nele, e juntamente com Sirius entrou na sala da Ordem onde Arabella Figg passaria as últimas instruções antes do ataque.

-x-x-x-

Fazia horas que o grupo estava esperando por algum sinal dos Comensais. Tudo estava estranhamente quieto e silencioso. As nuvens cinza-escuras se juntavam, deixando claro que a qualquer momento iria chover, e o lugar parecia estar deserto. Nem mesmo Remo, com seu faro lupino, conseguia detectar a presença de outras pessoas ao redor da casa dos Potter. O cansaço começava a dominar os bruxos, mas eles continuavam atentos a qualquer mudança no ambiente, e por isso, eles viram uma fumaça sair de um terreno baldio próximo à casa dos Potter.

- Olhem! - um membro da Ordem disse, apontando para a fumaça - Eles estão ali!

- Certo, vamos atacá-los. - Sirius sussurrou por entre os dentes, mas Arabella Figg se adiantou.

- Espere, Sirius. Vamos observar o que eles estão fazendo, primeiro, assim atacaremos na hora exata - enquanto Arabella falava, a fumaça desapareceu no ar.

- Ótimo, perdemos o rastro deles - uma bruxa em torno de quarenta anos disse, desanimada.

- Não comemore ainda. - Sirius disse com um sorriso astuto - Remo, você pode nos levar até lá, não pode?

Remo pareceu relutante, mas concordou.

- Está bem.

Nesse instante, eles ouviram um trovão, e a chuva, que antes era só uma ameaça, agora molhava todos, mas eles continuaram seguindo Remo até o terreno. Agora que eles estavam dentro do terreno, puderam ver os Comensais, e antes de observar o que estava acontecendo, Arabella fez um feitiço para que eles não fossem descobertos até o momento do ataque.

Com o feitiço concluído, a equipe da Ordem passou a observar o que os Comensais faziam, e eles se surpreenderam ao ver que estavam discutindo entre si. Sirius olhou intrigado, sem perceber que Remo estava preocupado com alguma coisa, e olhava dos Comensais que discutiam para o amigo.

- O que está acontecendo? - Sirius gritou para Remo, mas mesmo gritando, a voz saiu abafada por causa dos trovões - Você consegue ouvir?

- Ehr... - ele hesitou - Eu...

Mas antes que Remo pudesse responder, eles ouviram um dos Comensais que estava discutindo gritar mais alto.

- Quem foi?!

Sirius imediatamente voltou o rosto para os Comensais que estavam discutindo. Ele sabia perfeitamente quem havia gritado. Era ela. Outra vez em sua vida. Anne.

Os Comensais cercavam Anne. Era óbvio que ela era a líder, mas também estava claro que os outros Comensais estavam insatisfeitos. Sirius deu um passo na direção dos Comensais, num gesto instintivo de proteger a mulher, mas antes que conseguisse se aproximar, Anne apontou a varinha na direção de um dos Comensais e disse algo.

- É agora! - Arabella Figg disse com firmeza.

Um dos bruxos da Ordem lançou um feitiço Impedimenta contra um Comensal, enquanto Sirius perdia Anne de vista depois que Arabella a desarmou. Sirius praguejou, e enquanto procurava Anne com o olhar, se desviava dos ataques de Comensais.

O reencontro com Anne fez com que ele percebesse o que deveria fazer. Não importava se Anne tinha escolhido o seu destino. Ele havia prometido que sempre a protegeria, e não faria a menor diferença se ele tivesse que protegê-la dela mesma. Ele não poderia mais carregar essa culpa.

Ao lado de Sirius, Remo o protegia, assim o amigo poderia procurar Anne sem ser atingida, mas parecia que ela havia sido engolida pela terra.

Então ele a viu. Antes que Anne pudesse saber que Sirius a observava, ele viu quando ela foi arremessada por causa de um feitiço, e se aproximou lentamente, o coração batendo acelerado. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda sentia o mesmo que sentia quando a via em Hogwarts.

Naquele instante, ele só pensou em levá-la embora, protegê-la de tudo, e sem se importar com a opinião de Anne, ele caminhou decidido na direção dela, segurando a varinha com firmeza. Ele pensou que ela havia sido atingida pelo feitiço, mas Anne olhou com arrogância para ele.

- Acabe logo com isso. - ela disse com orgulho e altivez - Eu sei o que você vai fazer, não precisa ter piedade de mim só por causa do passado.

Sirius não se importou com as palavras de Anne. Já imaginava que ela fosse falar algo parecido com o que havia dito, mas ele estava decidido a tirá-la de toda aquela confusão. A única coisa que o magoava é que seria contra a vontade dela. Sirius apontou a varinha para Anne, se desculpando com o olhar pelo que iria fazer, e sussurrou.

- Me desculpa, Anne...

Ele fechou os olhos, tentando criar coragem para o que iria fazer. Detestava ver Anne sofrer, mas esse era o único jeito de mantê-la segura. Sem perceber, uma lágrima saiu de seus olhos, e ele disse o feitiço. Dumbledore não gostava que os membros da Ordem da Fênix usassem esses feitiços, mas ele não os proibia. Até aquele dia, Sirius nunca precisou usar uma das Maldições Imperdoáveis.

- Crucio.

Sirius fechou os olhos, e não viu Anne se contorcer por causa da dor. Quando abriu os olhos, ela estava desmaiada. Ignorando a batalha que acontecia ao seu redor, Sirius segurou Anne nos braços, em direção à sua moto. Ele estava quase alcançando a moto quando ouviu Remo gritar.

- Sirius!

Ainda segurando Anne, Sirius voltou-se para o amigo, e viu que Remo também carregava alguém nos braços. Quando ele se aproximou, Sirius viu que era Arabella Figg, e não deixou de notar o machucado profundo na cabeça da mulher.

- O que aconteceu?

- Ela foi atingida por um feitiço e caiu. Temos que levá-la para o hospital.

- Remo, eu... - ele ensaiou falar. Não estava em seus planos ir para o hospital. Só queria ir para longe. Mas ao mesmo tempo, ele não conseguia deixar a companheira ali. Sirius passou os dedos entre os cabelos - Está bem, vamos para o St. Mungus. A Julie pode nos ajudar. - ele encarou Remo. Não sabia se o amigo estava pronto para ver a antiga namorada - Algum problema?

- Nenhum problema - ele respondeu, levemente melancólico, segurando Arabella nos braço.

Depois que acomodou Anne, Sirius deu a partida, e a moto decolou. Enquanto iam para o hospital, ele pensava com raiva em todas as coisas que não havia feito. Se arrependia terrivelmente de não ter protegido Anne. Se tivesse feito isso, ela não seria agora um Comensal. Ele quase não conseguia acreditar que a Marca de Voldemort estava no braço dela, não esperava que Anne se tornasse partidária do Lord das Trevas. Sempre que eles conversavam sobre Voldemort, ela demonstrava desprezar o bruxo e sua ganância pelo poder. Sirius não conseguia imaginar o que teria feito Anne mudar de idéia.

Sirius só percebeu que haviam chegado no hospital quando Remo desceu da moto. Rapidamente, ele se levantou, com Anne nos braços, e entrou no hospital.

- Onde está Julie? Julie Black? - ele perguntou para uma das recepcionistas.

- Ela está no quarto 16, mas logo ela...

Antes que a bruxa terminasse de falar, Sirius viu a irmã passar na sua frente, e a chamou.

- Julie!

Ela se virou para o irmão, e então viu Remo ao lado dele. Por uns instantes, ela não demonstrou nenhuma reação, até que Sirius foi em sua direção.

- Vocês ainda vão ter muito tempo para conversar, mas agora eu preciso de sua ajuda.

Sirius abaixou os olhos na direção de Anne, e Julie olhou com surpresa.

- O que ela está fazendo aqui? - ela perguntou com desprezo - Eu não sabia que ela fazia parte da Ordem!

- E não faz - Remo disse.

Julie nem precisou olhar para o pulso de Anne para saber a verdade. Ela deu um passo para trás, e olhou horrorizada para Sirius.

- Sirius... Você não trouxe... Uma Comensal... para um hospital?! Sirius, o lugar de gente como ela é Azkaban! Quantas pessoas ela não deve ter matado?! Você enlouqueceu?

- Julie, você é uma enfermeira, desde quando enfermeiras escolhem quem elas devem ajudar? - ele perguntou com impaciência - Anne precisa de cuidados. Ela e Arabella Figg.

Ao ver a antiga professora de Defesa Contra as Artes das Trevas carregada por Remo, Julie desistiu de discutir com o irmão.

- Eu sei que eu vou me arrepender disso, mas... - ela se virou para uma enfermeira que estava passando, e disse com a urgência de uma enfermeira - Helen! Chame o Michael, elas precisam de um medi-bruxo urgentemente!

A enfermeira saiu, e logo voltou com o medi-bruxo.

- Traga duas macas, Helen! - ele disse, imperativo.

Quando as macas chegaram, Sirius e Remo colocaram Anne e Arabella nelas. Sirius virou-se para a irmã, e perguntou.

- Eu posso ir junto? - em seu olhar, estava toda a preocupação que sentia, mas Julie não se importou com isso.

- De jeito nenhum, Sirius. Ela precisa de repouso - e antes que Sirius insistisse, ela empurrou a maca com Anne para uma sala.

Sirius só desviou os olhos de Anne quando ela entrou na sala, e a porta se fechou. Então ele suspirou, demonstrando o quanto estava cansado. Remo olhou para Sirius com compreensão, e colocou a mão no ombro dele.

- Quer ir para a minha casa? Você precisa descansar...

- Obrigado, Remo, mas eu vou ficar. Alguma coisa pode dar errado, e eu estou preocupado com a Arabella. Se você quiser ir, não precisa ficar comigo.

- Claro que eu não vou! - Remo disse, decidido - Como você disse, alguma coisa pode dar errado, e eu quero te ajudar.

Pela primeira vez, Sirius sorriu, agradecido pela amizade de Remo.

- Obrigado, amigo.

Os dois se abraçaram, e foram para a sala de espera. Sirius ficou dando voltas na sala durante horas, e olhava a todo instante para a porta esperando que a irmã entrasse, mas quando a porta abriu, não foi Julie quem entrou, mas sim, um dos Aurores que havia ido para a missão.

- A Comensal já acordou?

- Que Comensal? - Sirius perguntou, com ar desentendido. Se o Ministério soubesse que Anne estava no hospital, com certeza ela seria julgada e acabaria em Azkaban.

- A Snape. Adrianne Snape. Sabemos que ela está aqui, com Arabella Figg. - ele olhou astutamente para Sirius e Remo - Não foram vocês que a trouxeram para cá, foram?

- Não. - Remo apressou-se a responder - Nem sabíamos que ela estava aqui. Nós estamos aqui por causa de Arabella. - ele deu de ombros - Ela deve ter vindo sozinha.

- Provavelmente... - o Auror se sentou com um suspiro - Nossa, que noite... Vários Comensais foram presos, sabiam? Crouch deve estar soltando foguetinhos pela varinha. Espero que essa aí não escape... - ele disse com uma estranha calma - O lugar de todos esses monstros é Azkaban. Morrer seria bom demais para ela.

Ao lado de Remo, Sirius se controlava para não responder às ofensas que o Auror fazia com um soco. O tempo todo, ele se lembrava que Anne precisava dele, e ele não iria ajudar muito se o Auror o prendesse por desacato. Antes que perdesse o controle, ele decidiu sair da sala de espera.

- Eu estou com um pouco de fome, vou comer alguma coisa. - ele olhou para Remo - Você vem comigo?

- Uhum - Remo concordou, e os dois saíram.

- Temos que tirar a Anne daqui. Se ela acordar, o Ackerman vai levar ela para o Ministério, mas eu não vou deixar isso acontecer. Você consegue encontrar a Julie?

Remo concordou com a cabeça, e fechou os olhos.

- Ela está em alguma sala da direita - ele disse, apontando, e em seguida, começou a caminhar.

A cada passo, ele sentia Julie mais perto. Sirius o seguia, bastante preocupado com Anne, até que Remo parou em frente à porta pela qual Anne e Arabella passaram.

- Ela está aqui dentro.

- Ótimo - Sirius disse, mas antes que ele entrasse, Julie saiu.

Ela levantou o rosto quando viu que Sirius e Remo estavam do lado de fora, mostrando os olhos brilhantes, como se tivesse acabado de chorar.

- Arabella Figg... - ela engoliu em seco - ela está morta.

- Não pode ser! - antes que Julie o impedisse, Remo entrou no quarto.

Deitada em uma maca, Arabella repousava. Não fosse pela palidez excessiva de seu rosto, qualquer um diria que ela estava dormindo. Sirius e Julie entraram no quarto. A garota se aproximou de Remo, tentando consolá-lo, enquanto que Sirius ficou parado à porta, sem saber o que dizer. Era mais uma vida destruída por culpa de Voldemort. Então ele viu que na maca ao lado da de Arabella estava Anne.

Sirius se aproximou da maca de Anne, e tomando as mãos dela, ele chorou. Um choro seco, com soluços de raiva, mas também de culpa, pois não pôde fazer nada para evitar que a vida de Anne também fosse destruída. Por sua culpa ela agora tinha a Marca Negra no braço esquerdo, e acabaria em Azkaban. Se ao menos ele pudesse protegê-la e escondê-la em um lugar que ninguém nunca imaginaria que Anne estaria...

Sirius levantou a cabeça de uma vez. Sabia como Anne poderia se esconder sem que ninguém suspeitasse de nada. Ele se voltou para a irmã, e perguntou em tom urgente.

- Tem poção Polissuco aqui no hospital?

- Claro que tem, Sirius, mas o que você pretende fazer com uma poção Polissuco?

- Eu explico depois, traz a poção imediatamente, em dois copos - ele disse, decidido.

Com um aceno de cabeça, Julie saiu do quarto.

- O que você vai fazer, Sirius? - Remo perguntou.

- Eu vou esconder Anne onde ninguém nunca irá encontrá-la - ele disse olhando para o corpo de Arabella Figg, e pelo olhar do amigo, Remo percebeu o que ele iria fazer.

- Você enlouqueceu, Sirius?! Pelo amor de Merlin, ela está morta! MORTA! Você não pode ao menos respeitar isso?

- Remo, se eu não fizer nada, Anne irá para Azkaban, você ouviu o que o Ackerman disse.

- Se ela for para Azkaban, será por conta do que ela fez! Você não pode brincar assim com as pessoas, Sirius!

- Remo, você vai me ajudar ou não? - ele perguntou, ríspido - Porque se não for, eu prefiro que você vá embora.

Nesse momento, Julie voltou com a poção.

- Eu só não entendo o que você vai fazer com isso... - ela disse passando os dois vidros para Sirius.

- Eu vou salvar Anne.

Julie olhou sem entender nada, até que Sirius retirou um cabelo de Arabella, e outro de Anne.

- Sirius Black, eu não posso permitir que você faça isso! Ela não merece! Ela é uma Comensal! - ela disse com fúria, tentando impedir que Sirius colocasse os cabelos nas poções, mas ele foi mais forte que a irmã - Sirius! Isso é demais até mesmo para você! - ela disse quase gritando - Eu vou avisar o Michael.

Sirius voltou-se para Julie com os olhos brilhando.

- Julie, eu vou fazer, com ou sem você. A diferença é que com você me ajudando, eu terei mais chances de retirar a Anne do hospital sem que ninguém suspeite de nada.

Julie olhou furiosa para o irmão.

- Está bem. - ela disse abrindo os braços - Eu estou cansada de suas loucuras! Se você quer colocar a corda no pescoço, tudo bem, mas não conte comigo!

Ela saiu do quarto, batendo a porta, e Sirius se aproximou de Arabella segurando a poção que continha o fio de cabelo de Anne. Sem acreditar que o amigo poderia ser tão irresponsável, Remo tentou fazer com que ele mudasse de idéia em uma última tentativa.

- Se alguém descobrir, você vai para Azkaban, a Anne, com certeza, e talvez até a Julie! Eu não posso deixar que você coloque a vida da sua irmã em perigo!

- Eu não estou colocando a vida da Julie em perigo! - ele disse enfatizando cada palavra da frase, rispidamente.

- Sirius, será que você não vê nada além do agora? Alguém pode descobrir isso! - Remo falou num sussurro raivoso.

- Ninguém vai descobrir, a não ser que você ou a Julie contem. - ele encarou Remo, cobrando a cumplicidade dele através do olhar - E é só por um tempo, daqui a alguns meses, ela pode aparecer como minha esposa, e quem vai contestar a esposa de Sirius Black?

- Você não está esquecendo de alguma coisa? - ele perguntou, impaciente - E se a Anne não concordar?

- Isso eu resolvo depois - ele disse enquanto fazia Anne beber a poção Polissuco e se transformar em Arabella Figg logo depois.

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- Quem você pensa que é para fazer com que eu mude de corpo sem que eu deixe? - Anne, no corpo de Arabella Figg, praticamente berrou, com raiva, e rapidamente Sirius colocou a mão sobre a boca dela.

- Fala baixo! - ele sussurrou rispidamente, sentindo-se aliviado por não ter contado para ela que esperava que os dois se casassem. - Você quer que descubram tudo? Aí nós dois iríamos para Azkaban!

- Pouco me importa que eu vá para Azkaban! Você não deveria ter feito isso! Você com certeza enlouqueceu! - ela disse com desprezo.

- Não fui eu quem me tornou um Comensal! - ele sussurrou com raiva - Além disso, eu só estava tentando te proteger! Se não fosse por mim, você iria para Azkaban! Eu salvei a sua vida!

Se Sirius queria irritar Anne, ele havia conseguido. Detestava estar devendo alguma coisa a Sirius, principalmente a sua vida. Ela virou o rosto e respondeu rudemente.

- Eu nunca pedi para que você me salvasse. Seria melhor ter ido para Azkaban!

Ele se levantou, magoado.

- Ainda está em tempo. Se você quiser ir para Azkaban, eu posso desfazer a troca.

Anne não respondeu. Continuou com o rosto voltado para o outro lado, e não viu quando Sirius saiu do quarto.