24. EU SÓ TENHO OLHOS PARA VOCÊ
Aos poucos, Anne adaptou-se à vida em Godric's Hollow. Sempre havia uma coisa para fazer, fosse cuidar de Harry, o filho de Lílian e Tiago, ou aprender a cozinhar sem usar magia (o que era muito complicado, na opinião de Anne), esperar a neve derreter para Lílian poder ensinar à Anne como cavalgar, nos cavalos que Sirius havia comprado a pedido de Tiago, ou até mesmo assistir a televisão trouxa (apesar de que Anne nunca admitiria que se divertia com algo criado por um trouxa).
Pela primeira vez, Anne tinha uma amiga. Os únicos problemas eram a gata de Lílian, Ginger, que seguia Anne sempre, como se quisesse ter certeza de que ela não faria mal nenhum, e Tiago. Ele confiava em Anne, mas isso não queria dizer que os dois se tornariam amigos. Os dois só se suportavam, e para evitar que ele a olhasse com raiva, Anne sempre ajudava Lílian. E era isso o que ela estava fazendo naquela manhã de dezembro.
Lílian começava a preparar o almoço, enquanto Anne limpava a louça do café da manhã. O rádio trouxa estava ligado, as duas cantavam uma música animadamente, mas, subitamente, Anne se calou, e o prato que ela enxugava se partiu em vários pedaços ao cair no chão.
- Anne? - Lílian perguntou e se aproximou dela, mas antes que pudesse tocar no ombro de Anne, ela gritou.
- Fica longe de mim!!
Lílian deu um passo para trás, assustada. O olhar de Anne tinha um estranho brilho desesperado.
- Anne, deixa eu te ajudar...
Foi como se Anne não tivesse escutado a ruiva. Ela caminhou para fora da cozinha quase sem perceber, dando pequenos passos. Lílian a seguiu, mas foi em vão. Assim que chegou à sala, Anne correu para o quarto, fechou a porta com força, e a trancou com a chave.
-x-x-x-
- Onde ela está?
Sirius perguntou apreensivo, sem cumprimentar Tiago ou Lílian, assim que entrou na casa. O casal Potter estava em pé, pois ouviram o som do motor da moto antes do bruxo entrar.
- Ela está no quarto, Sirius... - Lílian disse, preocupada - Ela ficou trancada o dia inteiro no quarto, e não respondeu quando eu chamei...
- Como ela está? Você sentiu?
- Não, ela não deixou que eu me aproximasse, mas eu vi que alguma coisa aconteceu... Ela estava com medo de alguma coisa, ou alguém, não sei direito...
Sirius não esperou que Lílian falasse mais, e foi para o quarto de Anne.
- Anne! - ele gritou enquanto batia à porta - Anne, abra essa porta! - ele disse em tom imperativo, mas ela não respondeu.
- Ela falou alguma coisa? - Tiago perguntou quando chegou ao corredor.
- Não. - Sirius olhou para o amigo - Pontas, Lily, é melhor vocês se afastarem...
Tiago se aproximou de Sirius, mas antes que ele pudesse impedir o amigo, Sirius chutou a porta com força, que cedeu depois do terceiro chute.
Sirius e Tiago entraram, e o olhar deles demonstrava toda a surpresa que sentiram. Encostada na parede, no lado oposto ao da porta, Anne estava sentada no chão, arranhando o braço esquerdo com fúria, e parecia não ter notado a entrada dos dois marotos.
Tiago foi atrás de Sirius, mas a mão de Lílian em seu ombro fez ele parar.
- Eles precisam ficar sozinhos.
- Lily, ela está enlouquecida!
- Nós estaremos aqui do lado. Se algo acontecer, nós entramos.
Tiago relutou por alguns instantes, mas concordou, e saiu do quarto enquanto Sirius ia até Anne.
Ela ainda continuava a arranhar o braço, que estava vermelho, mas não o bastante para esconder o brilho da Marca Negra.
Sirius estava assustado e preocupado, mas não demonstrou isso. Ele se abaixou, e decidido, tentou segurar as mãos de Anne, mas a mulher desviou os braços das mãos dele, e gritou com veemência, olhando para a Marca brilhante em seu braço.
- Isso nunca vai acabar! Nunca!
Sirius continuou a tentar impedir que Anne se machucasse, mas agora ela se defendia tentando acertar o rosto dele com as mãos, e os dois lutaram até que Sirius segurou os braços dela firmemente e disse com severidade.
- Olhe para mim. - ele disse, mas Anne se debatia, tentando se soltar, então Sirius disse com autoritarismo - Olhe para mim, Anne! - ela olhou, mas era um olhar feroz - Isso não é culpa sua. Entendeu? Você não faz mais parte disso! - ele disse olhando firmemente para Anne, mas continuou em um tom brando - Eu não vou deixar, Annie... Eu não vou deixar...
Anne soluçou e, em seguida, abraçou Sirius com força enquanto chorava, como se ficar abraçada a ele pudesse salvá-la. Surpreendido, Sirius demorou um pouco a corresponder ao abraço da mulher, mas quando o fez, acariciou os cabelos negros de Anne, e como se ela fosse uma pequena criança, a segurou nos braços e a deitou na cama.
- Eu nunca vou deixar ninguém te machucar, Annie... - ele sussurrou no ouvido dela.
Sirius se deitou ao lado de Anne, e a abraçou. Logo Anne dormiu, mas ele não dormiu por nenhum instante. Ele só descansou quando, pela manhã, sentiu a respiração de Anne acelerar, e percebeu que ela havia acordado.
- Está melhor? - ele perguntou.
- Um pouco... Faz tempo que você acordou? - Anne perguntou depois que se virou para poder ver Sirius.
- Uns dez minutos. Quer comer?
Anne respondeu com um aceno negativo, e desviou o olhar do de Sirius.
- Posso fazer uma pergunta?
- O que foi? - ele disse apoiando o queixo na mão.
- Eu queria saber por que você se importa tanto comigo... Eu sei que você fez aquela promessa, mas agora você está cuidando de mim, quando você poderia estar... eu não sei, com alguma garota, ou com os amigos...
Sirius acariciou o rosto de Anne delicadamente, e respondeu.
- Eu me preocupo com você porque eu amo você, Annie, e eu não vou deixar você escapar outra vez.
Sirius esticou a mão para tocar o rosto de Anne outra vez, mas ela se sentou na cama de costas para ele. Suspeitava que essa seria a resposta dele, mas não havia imaginado que seu coração bateria acelerado daquela forma, e nem que seria tão difícil dizer tudo o que havia pensado dizer.
- Sirius... Você tem que me esquecer...Você merece alguém que não carregue uma condenação no braço... Você deveria...
Anne não terminou a frase, pois Sirius estava em sua frente, ajoelhado, segurando as suas mãos.
- Annie... Tantas coisas ficaram entre nós, e agora que podemos ficar juntos, eu não vou deixar essa oportunidade passar. - Anne voltou os olhos para a parede, reunindo forças para não ser levada pelas palavras de Sirius - Olhe para mim, Annie. - ele segurou o queixo dela - Diga o que você realmente está sentindo, não o que acha que deve fazer.
- Sirius, eu gostaria que as coisas fossem fáceis assim, mas não são. Eu não me sentiria bem se você desistisse de toda a sua vida por minha causa... - ela abaixou o olhar e depois segurou o rosto dele com as duas mãos - Eu nunca agradeci pelo que você fez por mim...
- Não precisa agradecer. Eu só fiz o que tinha que fazer - ele disse, levemente magoado.
- Não, Sirius. Você fez mais do que até eu mesma teria feito, e esse é um motivo suficiente para você não insistir mais.
- Annie...
Anne engoliu em seco antes de continuar, ignorando o pedido que Sirius fazia com o olhar.
- Sirius, por favor, vá embora. Deve ter acontecido um ataque, ou talvez ainda não tenha acontecido. Você precisa avisar Dumbledore - ela disse com severidade.
Sirius se levantou, decepcionado.
- Você tem razão. - ele disse, sem emoção - Dumbledore precisa saber sobre esse ataque.
Sem olhar novamente para Anne ou se despedir, Sirius saiu do quarto. Anne só se mexeu quando ouviu o som do motor da moto, indicando que ele havia ido embora.
-x-x-x-
Graças ao aviso de Anne, os planos de Voldemort para um novo ataque foram impedidos, mas Sirius continuou preocupado com ela. Tiago mandou uma coruja dizendo que Anne havia saído do quarto, mas estava muito abatida. Porém, por mais que Sirius quisesse resolver o problema de Anne, ele não podia abandonar a missão ainda. Quando ele pôde visitar Tiago e Lílian, já estavam na metade de fevereiro de 1981.
Sirius teve dificuldade para encontrar a casa em Godric's Hollow. Quando estava quase chegando, começou a nevar, e em pouco tempo, a neve se transformou em uma forte nevasca. Ele quase se perdeu uma vez, mas depois disso, encontrou a casa dos Potter em Godric's Hollow. Ele entrou sem ninguém ouvi-lo, por causa da nevasca, ao mesmo tempo em que Anne entrava na sala com Harry nos braços.
- Lílian, Harry está com a fralda suja... - ela estancou ao ver Sirius - O que você está fazendo aqui?! Essa é a nevasca mais forte dos últimos seis anos!
Harry começou a chorar, e atraída pelo choro do filho, Lílian foi para a sala.
- Com quem você está falando, Anne? - ao ver Sirius, ela sorriu - Sirius! Que bom ver você!
Lílian abraçou o amigo e depois Anne passou Harry para ela, sem deixar de olhar com reprovação para Sirius.
- Tiago está tomando banho, mas ele vem logo. Eu vou trocar a fralda do Harry, e volto já.
- Lílian! - Anne disse em tom de reprovação - Como você pode falar assim com ele?! Você ouviu no rádio, essa é a nevasca mais forte dos últimos seis anos! Poderia ter acontecido algo!
- Bem, ele já está aqui, e eu conheço ele o bastante para saber que não adianta reclamar... Eu volto já.
Lílian foi para o quarto, deixando Anne e Sirius a sós.
- Eu não acredito como você consegue ser tão irresponsável!
- Mas não aconteceu nada, Anne! Eu estava agasalhado, voando sobre as nuvens, e além do mais, só peguei vinte minutos de nevasca - apesar de Anne estar brigando com ele, Sirius sorria, pois sabia que ela não o repreenderia se não estivesse preocupada com ele.
- Essa não é a questão! E se você tivesse se perdido?
- Ora, Anne, eu estou bem! Não precisa olhar para mim como se eu tivesse chutado a gata do Filch!
- Realmente, eu não devia ter me preocupado com você. É a sua vida, e você faz dela o que bem entender, e até mesmo com a vida dos outros, não é?
Anne olhou com raiva para Sirius, e voltou para o quarto. Assim que ela fechou a porta, Tiago saiu do quarto que dividia com Lílian, e foi falar com Sirius.
- Almofadinhas!
- Oi, Pontas! - ele cumprimentou o amigo alegremente, tentando esquecer a discussão com Anne.
Os dois se abraçaram, e com um gesto de Tiago, Sirius sentou-se na cadeira em frente ao sofá no qual Tiago se sentou.
- Como estão as coisas por aqui?
- Nem tão bem quanto deveria ser. Remo esteve aqui no Natal, mas quase que a Snape estragou tudo.
- Ela não sentiu a Marca outra vez, sentiu? - ele perguntou com apreensão.
- Não, e ainda bem.
- Mas mesmo assim, eu estou preocupada com ela... - Lílian disse enquanto se sentava ao lado de Tiago - Eu não acho que ela suporte ficar aqui por mais tempo...
- Ela não pode ir para a América agora?
- Não, Tiago. - Sirius respondeu com um aceno negativo - O Ministério está sendo muito rigoroso com viagens... Alguns Comensais tentaram fugir usando aviões trouxas, e eu ainda não pensei num jeito de levar Anne em segurança... Minha moto não é o que eu chamaria de discreta... - ele confessou levemente encabulado.
Lílian e Tiago trocaram olhares, e com um sinal quase imperceptível de Tiago, Lílian começou a falar.
- Eu e Tiago já havíamos conversado sobre isso, e tivemos uma idéia caso nós tivéssemos que ficar escondidos por mais tempo...
- O que vocês pensaram?
- Bem, como tivemos que fugir, o batizado do Harry teve que ser adiado... Eu e Lílian conversamos, e resolvemos fazer o batizado aqui mesmo. Só teremos que tomar algumas precauções para que ninguém descubra nosso esconderijo, como falar com um sacerdote trouxa...
- Pode deixar essa parte comigo.
- E... - Lílian começou. - Tem mais uma coisa... Nós não tivemos oportunidade de perguntar antes, mas Tiago e eu só conseguimos pensar em você... Você gostaria de ser o padrinho do Harry?
O enorme sorriso no rosto de Sirius já respondia à pergunta de Lílian, mas ele não conseguiu ficar calado.
- Ora, Lily, não precisava nem perguntar! Claro que eu aceito!
A conversa continuou pelo restante da noite, e quando Sirius foi embora, depois que a nevasca ficou mais fraca, ele estava bem mais aliviado.
-x-x-x-
Por causa de mais uma missão para a Ordem, o batizado de Harry teve que ser adiado, mas quando a missão terminou, Sirius entrou em contato com um sacerdote trouxa, e ele aceitou fazer o batizado na capela de Godric's Hollow.
Com o adiamento do batizado, Lílian decidiu comemorar a festa de aniversário de um ano de Harry no mesmo dia do batizado, e até lá, Lílian, Tiago e Anne cuidaram dos preparativos da festa. Ter que se preocupar com a festa fez com que Anne não se preocupasse mais com a próxima vez que sentiria a Marca, e apesar de ter sentido a Marca algumas vezes, conseguiu disfarçar para não preocupar Lílian.
Cada vez mais ela gostava de Lílian. Ela era gentil, e sabia como fazer com que Anne e Tiago a obedecessem sem parecer mandona. Anne a estimava muito, e por isso, estava preocupada com Lílian. Desde que a data do batizado havia sido marcada, Lílian havia deixado, quase sem perceber, Tiago de lado, e Anne sabia que a amiga deveria sentir falta de um momento íntimo com Tiago, então, na véspera do dia do batizado, Anne acordou mais cedo e preparou o café da manhã.
- Anne! O que você fez?! - Lílian perguntou, surpresa, quando entrou na cozinha com Harry nos braços.
- Eu acordei mais cedo, e fiz o café. Sente-se - ela sorriu, apontando para a mesa.
- Lily, você quer ajuda? - Tiago perguntou, mas se calou ao ver a mesa - Você não fez nenhum feitiço aqui, fez, Lílian?
- Ela não fez nada, Potter, fui eu quem fez o café - ela olhou para ele o provocando. - Vai ficar em pé, ou vai comer?
Tiago sentou-se, olhando desconfiado para Anne, enquanto Ginger enroscava em sua perna, como se o protegesse, e começou a comer.
- Deixa que eu cuido da louça... - Lílian disse quando terminou de comer, passando Harry para Anne, mas Anne levantou a mão.
- De jeito nenhum. Hoje sou eu quem trabalha por aqui. Desde que o dia da festa foi marcado vocês só têm se preocupado com isso, e merecem um dia de descanso, afinal, a festa é amanhã, vocês têm que estarem alegres. O Harry só vai fazer um ano amanhã.
- Mas, Anne... - Lílian começou, mas Tiago a interrompeu.
- Você nunca cuidou sozinha do Harry antes - Tiago disse, desconfiado.
- Tem sempre uma primeira vez para tudo - Anne respondeu com despreocupação.
- Anne, realmente, você não precisa fazer isso.
- Vocês também não precisavam ter me aceitado aqui. - Anne olhou gentilmente para Lílian por uns segundos, mas logo olhou com severidade para ela e o marido - É melhor vocês irem logo antes que eu acabe mudando de idéia.
Lílian olhou agradecida para Anne, e segurou a mão de Tiago.
- Nós voltamos logo.
- Não se preocupem com a hora, mas sim em se divertir!
Tiago e Lílian saíram, e Anne começou a limpar a mesa, depois de colocar Harry numa cadeira, quando viu que o gato de Lílian a encarava.
- O que foi? Nunca viu gente? - ela disse mal-humorada - Eu queria saber o que você tem contra mim... - ela se abaixou para segurar a gata, mas ela esticou uma pata, e por pouco não acertou o nariz de Anne - Ora, sua estúpida! - ela gritou, e tentou segurar a gata outra vez, mas ela desviou - Ah, eu não vou perder tempo com você!
Anne deu as costas à gata, e continuou o que estava fazendo, até que Harry começou a chorar.
- O que foi, Harry? - ela perguntou segurando o bebê, e logo descobriu o que era - Estou torcendo para que você aprenda a usar a privada logo, sabia?
Com Harry nos braços e Ginger a seguindo, ela foi para o quarto de Lílian, onde pegou uma fralda, e foi para o banheiro. Anne tirou a fralda suja, e exatamente como já havia visto Lílian fazer inúmeras vezes, limpou Harry, e em seguida, colocou a fralda.
- Prontinho... Agora você está limpinho... - Anne disse depois que terminou, e levantou Harry, mas a fralda caiu no chão.
- Harry! Isso não é hora de brincar!
O menino riu, e balançando a cabeça, Anne voltou para o quarto, pegou outra fralda, mas, como da outra vez, ela caiu no chão. Isso aconteceu mais duas vezes, até que Anne ouviu alguém entrar na casa.
- Lílian, é você? Eu preciso de uma ajudinha! - ela chamou olhando apreensiva para Harry, que sacudia os braços inocentemente.
- O que foi?
Anne olhou com surpresa para a porta.
- Sirius! A festa é só amanhã!
- Eu sei, mas vim saber se tudo estava certo. - ele olhou para Harry - Qual é o problema?
- São essas fraldas que não querem ficar presas... Esses trouxas não sabem nem fazer fraldas decentes, humpf! - ela resmungou, cruzando os braços, e Sirius riu.
- Você não tem jeito mesmo com crianças...
- Não é nada disso! Eu nunca fiz o Harry chorar! - ela observou Sirius colocar a fralda em Harry por alguns instantes, resmungou, com um pouco de raiva. Não gostava de ver alguém fazendo algo melhor do que ela era capaz - Eu vou fazer o almoço, Tiago e Lílian devem chegar daqui a pouco.
Anne foi para a cozinha, e pouco depois, Sirius se sentou em uma das cadeiras da mesa, segurando Harry.
- Onde está o Tiago e a Lílian?
- Foram passear. Eles estavam precisando ficar sozinhos.
- Aham... - Sirius balançou a cabeça, e ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto Anne cozinhava. Ele estava bastante sério, e não parecia querer conversar muito.
- Aconteceu alguma coisa? - Anne perguntou, sem se virar.
- Por que você está perguntando?
- Você está quieto, e não é do seu costume ficar mais de três minutos sem falar qualquer bobagem. - ela olhou para Sirius - O que aconteceu?
- Bem... Você está satisfeita morando aqui com Lílian e Tiago?
- Estou, porque? - ela colocou a mão esquerda na cintura, e olhou intrigada para ele - Eu vou ter que ir embora?
- Não, quero dizer, só se você quiser. Já é seguro o bastante para você ir para a América sem ninguém descobrir - ele disse a última frase num sussurro, com os olhos voltados para o chão.
- Eu posso? - ela perguntou em um tom inseguro - Quando eu quiser?
- Quando você quiser. - Sirius concordou - Você quem sabe.
- Eu... - Anne disse lentamente, se sentando na cadeira em frente a Sirius - Eu não sei o que dizer... Não esperava por isso..
- Eu não acho que seja bom você ficar aqui, Anne. Alguém pode descobrir. Não sei como ainda não descobriram.
- Claro, eu sei disso, mas... Eu posso ficar mais um pouco? Não queria ir embora assim, de uma hora para outra, e amanhã é o aniversário do Harry... Será que eu não poderia...
- Claro. - Sirius apressou-se em concordar - Eu não estava dizendo que você tinha que ir agora...
Ela não queria ir embora. Nunca quis deixar a Inglaterra, na verdade, e sempre achou que Sirius encontraria um jeito dela ficar, mas agora teria que aceitar que havia se enganado.
- Certo - Anne levantou-se da cadeira, e voltou a preparar o almoço.
-x-x-x-
A cerimônia do batizado não foi detalhada como a cerimônia bruxa, mas mesmo assim, Anne achou que foi uma bela celebração. Depois do batismo, ela, Tiago, Lílian e Sirius, com Harry nos braços, voltaram para casa. Lílian e Tiago queriam ter convidado Remo e Julie, mas eles já corriam o risco de terem o esconderijo descoberto todas as vezes que Sirius ia até Godric's Hollow, por isso, a festa de aniversário só teria quatro convidados.
Assim que eles entraram na casa, Ginger tentou atacar Anne.
- Lílian, essa sua gata deve estar com algum problema! Ela sempre tenta atacar quando me vê!
- Ginger não é uma gata, Anne! É um amasso, ela deve achar que você é perigosa por que você não deveria estar aqui.
Anne e Sirius trocaram olhares de cumplicidade. Anne preferiu esperar a festa de Harry para contar que teria que ir embora em breve.
- Hmmm... Ginger, você está estranha... É como se você estivesse com medo da Anne se aproximar... - então ela se abaixou, segurou a gata, mas quando a tocou, olhou com surpresa - Oh meu Deus! Ginger! Você vai ter filhotes! Por isso você está se defendendo... Está com medo da Anne te machucar, mas ela não vai, Ginger... - Lílian colocou a gata no chão, que correu.
- Você também pode sentir o que os animais sentem? - Anne perguntou.
- Sim, mas só quando a emoção é muito forte.
- Essa gata deve mesmo ter muito medo de mim... - ela disse com sarcasmo.
Lílian ficou encabulada, mas Tiago, percebendo o embaraço da esposa, falou.
- Eu nunca vi uma festa sem música, o que vocês acham de ligarmos o som?
Ninguém disse nada contra, e Tiago colocou um LP e ligou a vitrola. Ele e Lílian começaram a dançar, enquanto que Anne foi para a cozinha pegar alguns salgados antes que Sirius a chamasse para dançar. Quando ela voltou, Lílian e Tiago riam de Sirius, que dançava com Harry.
- Desculpe, afilhado, mas acho que seu pai não gostaria que eu dançasse com sua mãe, e como você pode observar, eu fui trocado por alguns aperitivos, o que é revoltante, mas eu não vou falar nada, se ela quiser dançar, eu estarei aqui.
- Anne, por que você não dança uma música pelo menos? - Lílian perguntou, rindo - Daqui a pouco o Sirius vai deixar o Harry tonto!
- Boa idéia, Lílian. - Anne disse, sorrindo, e voltou-se para Sirius - O senhor aceita dançar comigo?
Sirius sorriu, surpreendido com a atitude da mulher.
- Claro... - ele virou-se para Lílian - Posso deixar o Harry no berço?
- Não, Sirius, eu não estava convidando você. Estava convidando o Harry! - ela disse com um sorriso travesso, enquanto Sirius entregava Harry para ela.
- Ele tem o meu charme natural, Almofadinhas, o que posso fazer? - Tiago brincou com o amigo, e Lílian deu uma pequena gargalhada.
Anne afastou-se com Harry nos braços até uma janela, e ficou brincando com ele, enquanto que na sala, Tiago, Sirius e Lílian conversavam e comiam, mas quando o casal Potter começou a dançar outra vez, Sirius foi falar com Anne.
Ele se aproximou lentamente, e Anne só percebeu que Sirius estava atrás de si quando ele, quase a abraçando, passou o braço em torno da cintura dela para acariciar o cabelo escuro de Harry.
- Ele dormiu? - Sirius perguntou.
- Quase agora...
Anne sorriu para Sirius, e os dois ficaram observando Harry por um tempo, até que uma luz os cegou.
- Desculpe. - Lílian disse um pouco encabulada, segurando uma câmera fotográfica em uma das mãos - Eu não resisti. Vocês estavam tão tranqüilos vendo o Harry, que eu tinha que tirar essa foto. Engraçado. - ela observou - Essa é a primeira vez que eu tenho uma máquina fotográfica por perto quando quero tirar uma foto...
- Tudo bem, Lílian. - Anne apressou-se a dizer - Eu talvez tivesse feito o mesmo. - ela olhou de Harry para Lílian - Ele dormiu.
- Me dá... - Lílian disse erguendo os braços, e Anne entregou a criança para a mãe - Ele teve um dia bem agitado...
Lílian se afastou, e por alguns instantes, Sirius e Anne não disseram nada, até que ele, um pouco encabulado, começou a falar.
- Bem, eu acho que já vou indo... Parece que só sobrou eu mesmo... - ele brincou, e Anne sorriu. Sirius olhou fixamente para ela, e esticou a mão - Acho que da próxima vez que eu vier será para te levar daqui, então... você não quer dançar comigo? Só uma dança, como uma despedida...
Anne mordeu o lábio, pensativa, mas concordou, afinal, como Sirius havia dito, ela iria embora logo, e gostaria de ter uma boa lembrança de Sirius.
- Está bem, mas só uma música.
Sirius puxou Anne para a sala pela mão.
- Espera um pouco, eu vou mudar a música. A Lílian me ensinou como mexer nessa tal de votrola.
- Vitrola, Sirius.
- Que seja - ele disse dando de ombros, e mudou a música.
Aos primeiros acordes da música, Anne olhou com surpresa para Sirius.
- Essa é minha musica preferida! Como você soube? - ela sorriu, mas logo depois perguntou, intrigada - Não me diga que a Lílian também contou isso?
- Anne. - ele disse a puxando para perto de si - Vamos dançar.
Os rostos dos dois se tocaram, as mãos se entrelaçaram suavemente, e eles começaram a dançar.
My love must be a kind of blind love
I can't see anyone but you.
Are the stars out tonight?
I don't know if it's cloudy or bright.
I only have eyes for you, Dear.
Dançando com Sirius, Anne se sentia livre das preocupações, e cantarolava baixinho.
- The moon may be high... but I can't see a thing in the sky... I only have eyes for you... I don't know if we're in a garden, or on a crowded avenue.
Sirius segurou o queixo de Anne, e a encarou fixamente enquanto ela cantava. A canção descrevia exatamente o que um sentia pelo outro quando estavam juntos, e Anne cantava para Sirius.
- You are here... So am I. Maybe millions of people go by... But they all disappear from view... And I only have eyes for you.
O disco parou de girar, mas Anne e Sirius não desviaram o olhar um do outro. Ele acariciou o rosto dela suavemente, e antes que os lábios deles se tocassem, Anne fechou os olhos. Naquele instante, não pensou que teria que ir embora. Só conseguia pensar em Sirius, e no quanto sentia falta da sensação de beijá-lo.
- Acho que você tem um problema... - ela disse abraçada a Sirius depois que o beijo terminou.
Sirius fechou os olhos. Não queria que Anne fosse embora, mas ela tinha que ir, e ele sabia sobre o que ela estava falando. Agora seria muito mais difícil esquecê-la.
- Eu sei, você tem que ir embora, mas isso não importa...
Anne sorriu, e o interrompeu.
- O problema é exatamente o contrário, Sirius. Eu não quero ir embora.
Ele a enlaçou pela cintura firmemente, aliviado. Não pensava nos riscos que Tiago e Lílian poderiam sofrer se Anne ficasse com eles por mais tempo, não pensava em nada além de que Anne havia desistido de lutar contra os próprios sentimentos e estava com ele.
- Eu não deixaria você ir mesmo se quisesse, Annie... - ele sorriu, e os dois se beijaram mais uma vez.
-x-x-x-
"I Only Have Eyes For You", cantada por The Flamingos
Eu Só Tenho Olhos Para Você
Meu amor deve ser o tipo de amor cego
Eu não consigo ver ninguém além de você
As estrelas estão lá fora esta noite?
Eu não sei se está nublado ou ensoralado
Eu só tenho olhos para você, Querida.
A lua deve estar cheia
Mas eu não consigo ver qualquer coisa no céu
Eu só tenho olhos para você.
Eu não sei se estamos em um jardim
Ou em uma avenida movimentada
Você está aqui. Eu também estou
Talvez milhões de pessoas estejam por perto
Mas todas elas desaparecem de vista
E eu só tenho olhos para você.
Aos poucos, Anne adaptou-se à vida em Godric's Hollow. Sempre havia uma coisa para fazer, fosse cuidar de Harry, o filho de Lílian e Tiago, ou aprender a cozinhar sem usar magia (o que era muito complicado, na opinião de Anne), esperar a neve derreter para Lílian poder ensinar à Anne como cavalgar, nos cavalos que Sirius havia comprado a pedido de Tiago, ou até mesmo assistir a televisão trouxa (apesar de que Anne nunca admitiria que se divertia com algo criado por um trouxa).
Pela primeira vez, Anne tinha uma amiga. Os únicos problemas eram a gata de Lílian, Ginger, que seguia Anne sempre, como se quisesse ter certeza de que ela não faria mal nenhum, e Tiago. Ele confiava em Anne, mas isso não queria dizer que os dois se tornariam amigos. Os dois só se suportavam, e para evitar que ele a olhasse com raiva, Anne sempre ajudava Lílian. E era isso o que ela estava fazendo naquela manhã de dezembro.
Lílian começava a preparar o almoço, enquanto Anne limpava a louça do café da manhã. O rádio trouxa estava ligado, as duas cantavam uma música animadamente, mas, subitamente, Anne se calou, e o prato que ela enxugava se partiu em vários pedaços ao cair no chão.
- Anne? - Lílian perguntou e se aproximou dela, mas antes que pudesse tocar no ombro de Anne, ela gritou.
- Fica longe de mim!!
Lílian deu um passo para trás, assustada. O olhar de Anne tinha um estranho brilho desesperado.
- Anne, deixa eu te ajudar...
Foi como se Anne não tivesse escutado a ruiva. Ela caminhou para fora da cozinha quase sem perceber, dando pequenos passos. Lílian a seguiu, mas foi em vão. Assim que chegou à sala, Anne correu para o quarto, fechou a porta com força, e a trancou com a chave.
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- Onde ela está?
Sirius perguntou apreensivo, sem cumprimentar Tiago ou Lílian, assim que entrou na casa. O casal Potter estava em pé, pois ouviram o som do motor da moto antes do bruxo entrar.
- Ela está no quarto, Sirius... - Lílian disse, preocupada - Ela ficou trancada o dia inteiro no quarto, e não respondeu quando eu chamei...
- Como ela está? Você sentiu?
- Não, ela não deixou que eu me aproximasse, mas eu vi que alguma coisa aconteceu... Ela estava com medo de alguma coisa, ou alguém, não sei direito...
Sirius não esperou que Lílian falasse mais, e foi para o quarto de Anne.
- Anne! - ele gritou enquanto batia à porta - Anne, abra essa porta! - ele disse em tom imperativo, mas ela não respondeu.
- Ela falou alguma coisa? - Tiago perguntou quando chegou ao corredor.
- Não. - Sirius olhou para o amigo - Pontas, Lily, é melhor vocês se afastarem...
Tiago se aproximou de Sirius, mas antes que ele pudesse impedir o amigo, Sirius chutou a porta com força, que cedeu depois do terceiro chute.
Sirius e Tiago entraram, e o olhar deles demonstrava toda a surpresa que sentiram. Encostada na parede, no lado oposto ao da porta, Anne estava sentada no chão, arranhando o braço esquerdo com fúria, e parecia não ter notado a entrada dos dois marotos.
Tiago foi atrás de Sirius, mas a mão de Lílian em seu ombro fez ele parar.
- Eles precisam ficar sozinhos.
- Lily, ela está enlouquecida!
- Nós estaremos aqui do lado. Se algo acontecer, nós entramos.
Tiago relutou por alguns instantes, mas concordou, e saiu do quarto enquanto Sirius ia até Anne.
Ela ainda continuava a arranhar o braço, que estava vermelho, mas não o bastante para esconder o brilho da Marca Negra.
Sirius estava assustado e preocupado, mas não demonstrou isso. Ele se abaixou, e decidido, tentou segurar as mãos de Anne, mas a mulher desviou os braços das mãos dele, e gritou com veemência, olhando para a Marca brilhante em seu braço.
- Isso nunca vai acabar! Nunca!
Sirius continuou a tentar impedir que Anne se machucasse, mas agora ela se defendia tentando acertar o rosto dele com as mãos, e os dois lutaram até que Sirius segurou os braços dela firmemente e disse com severidade.
- Olhe para mim. - ele disse, mas Anne se debatia, tentando se soltar, então Sirius disse com autoritarismo - Olhe para mim, Anne! - ela olhou, mas era um olhar feroz - Isso não é culpa sua. Entendeu? Você não faz mais parte disso! - ele disse olhando firmemente para Anne, mas continuou em um tom brando - Eu não vou deixar, Annie... Eu não vou deixar...
Anne soluçou e, em seguida, abraçou Sirius com força enquanto chorava, como se ficar abraçada a ele pudesse salvá-la. Surpreendido, Sirius demorou um pouco a corresponder ao abraço da mulher, mas quando o fez, acariciou os cabelos negros de Anne, e como se ela fosse uma pequena criança, a segurou nos braços e a deitou na cama.
- Eu nunca vou deixar ninguém te machucar, Annie... - ele sussurrou no ouvido dela.
Sirius se deitou ao lado de Anne, e a abraçou. Logo Anne dormiu, mas ele não dormiu por nenhum instante. Ele só descansou quando, pela manhã, sentiu a respiração de Anne acelerar, e percebeu que ela havia acordado.
- Está melhor? - ele perguntou.
- Um pouco... Faz tempo que você acordou? - Anne perguntou depois que se virou para poder ver Sirius.
- Uns dez minutos. Quer comer?
Anne respondeu com um aceno negativo, e desviou o olhar do de Sirius.
- Posso fazer uma pergunta?
- O que foi? - ele disse apoiando o queixo na mão.
- Eu queria saber por que você se importa tanto comigo... Eu sei que você fez aquela promessa, mas agora você está cuidando de mim, quando você poderia estar... eu não sei, com alguma garota, ou com os amigos...
Sirius acariciou o rosto de Anne delicadamente, e respondeu.
- Eu me preocupo com você porque eu amo você, Annie, e eu não vou deixar você escapar outra vez.
Sirius esticou a mão para tocar o rosto de Anne outra vez, mas ela se sentou na cama de costas para ele. Suspeitava que essa seria a resposta dele, mas não havia imaginado que seu coração bateria acelerado daquela forma, e nem que seria tão difícil dizer tudo o que havia pensado dizer.
- Sirius... Você tem que me esquecer...Você merece alguém que não carregue uma condenação no braço... Você deveria...
Anne não terminou a frase, pois Sirius estava em sua frente, ajoelhado, segurando as suas mãos.
- Annie... Tantas coisas ficaram entre nós, e agora que podemos ficar juntos, eu não vou deixar essa oportunidade passar. - Anne voltou os olhos para a parede, reunindo forças para não ser levada pelas palavras de Sirius - Olhe para mim, Annie. - ele segurou o queixo dela - Diga o que você realmente está sentindo, não o que acha que deve fazer.
- Sirius, eu gostaria que as coisas fossem fáceis assim, mas não são. Eu não me sentiria bem se você desistisse de toda a sua vida por minha causa... - ela abaixou o olhar e depois segurou o rosto dele com as duas mãos - Eu nunca agradeci pelo que você fez por mim...
- Não precisa agradecer. Eu só fiz o que tinha que fazer - ele disse, levemente magoado.
- Não, Sirius. Você fez mais do que até eu mesma teria feito, e esse é um motivo suficiente para você não insistir mais.
- Annie...
Anne engoliu em seco antes de continuar, ignorando o pedido que Sirius fazia com o olhar.
- Sirius, por favor, vá embora. Deve ter acontecido um ataque, ou talvez ainda não tenha acontecido. Você precisa avisar Dumbledore - ela disse com severidade.
Sirius se levantou, decepcionado.
- Você tem razão. - ele disse, sem emoção - Dumbledore precisa saber sobre esse ataque.
Sem olhar novamente para Anne ou se despedir, Sirius saiu do quarto. Anne só se mexeu quando ouviu o som do motor da moto, indicando que ele havia ido embora.
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Graças ao aviso de Anne, os planos de Voldemort para um novo ataque foram impedidos, mas Sirius continuou preocupado com ela. Tiago mandou uma coruja dizendo que Anne havia saído do quarto, mas estava muito abatida. Porém, por mais que Sirius quisesse resolver o problema de Anne, ele não podia abandonar a missão ainda. Quando ele pôde visitar Tiago e Lílian, já estavam na metade de fevereiro de 1981.
Sirius teve dificuldade para encontrar a casa em Godric's Hollow. Quando estava quase chegando, começou a nevar, e em pouco tempo, a neve se transformou em uma forte nevasca. Ele quase se perdeu uma vez, mas depois disso, encontrou a casa dos Potter em Godric's Hollow. Ele entrou sem ninguém ouvi-lo, por causa da nevasca, ao mesmo tempo em que Anne entrava na sala com Harry nos braços.
- Lílian, Harry está com a fralda suja... - ela estancou ao ver Sirius - O que você está fazendo aqui?! Essa é a nevasca mais forte dos últimos seis anos!
Harry começou a chorar, e atraída pelo choro do filho, Lílian foi para a sala.
- Com quem você está falando, Anne? - ao ver Sirius, ela sorriu - Sirius! Que bom ver você!
Lílian abraçou o amigo e depois Anne passou Harry para ela, sem deixar de olhar com reprovação para Sirius.
- Tiago está tomando banho, mas ele vem logo. Eu vou trocar a fralda do Harry, e volto já.
- Lílian! - Anne disse em tom de reprovação - Como você pode falar assim com ele?! Você ouviu no rádio, essa é a nevasca mais forte dos últimos seis anos! Poderia ter acontecido algo!
- Bem, ele já está aqui, e eu conheço ele o bastante para saber que não adianta reclamar... Eu volto já.
Lílian foi para o quarto, deixando Anne e Sirius a sós.
- Eu não acredito como você consegue ser tão irresponsável!
- Mas não aconteceu nada, Anne! Eu estava agasalhado, voando sobre as nuvens, e além do mais, só peguei vinte minutos de nevasca - apesar de Anne estar brigando com ele, Sirius sorria, pois sabia que ela não o repreenderia se não estivesse preocupada com ele.
- Essa não é a questão! E se você tivesse se perdido?
- Ora, Anne, eu estou bem! Não precisa olhar para mim como se eu tivesse chutado a gata do Filch!
- Realmente, eu não devia ter me preocupado com você. É a sua vida, e você faz dela o que bem entender, e até mesmo com a vida dos outros, não é?
Anne olhou com raiva para Sirius, e voltou para o quarto. Assim que ela fechou a porta, Tiago saiu do quarto que dividia com Lílian, e foi falar com Sirius.
- Almofadinhas!
- Oi, Pontas! - ele cumprimentou o amigo alegremente, tentando esquecer a discussão com Anne.
Os dois se abraçaram, e com um gesto de Tiago, Sirius sentou-se na cadeira em frente ao sofá no qual Tiago se sentou.
- Como estão as coisas por aqui?
- Nem tão bem quanto deveria ser. Remo esteve aqui no Natal, mas quase que a Snape estragou tudo.
- Ela não sentiu a Marca outra vez, sentiu? - ele perguntou com apreensão.
- Não, e ainda bem.
- Mas mesmo assim, eu estou preocupada com ela... - Lílian disse enquanto se sentava ao lado de Tiago - Eu não acho que ela suporte ficar aqui por mais tempo...
- Ela não pode ir para a América agora?
- Não, Tiago. - Sirius respondeu com um aceno negativo - O Ministério está sendo muito rigoroso com viagens... Alguns Comensais tentaram fugir usando aviões trouxas, e eu ainda não pensei num jeito de levar Anne em segurança... Minha moto não é o que eu chamaria de discreta... - ele confessou levemente encabulado.
Lílian e Tiago trocaram olhares, e com um sinal quase imperceptível de Tiago, Lílian começou a falar.
- Eu e Tiago já havíamos conversado sobre isso, e tivemos uma idéia caso nós tivéssemos que ficar escondidos por mais tempo...
- O que vocês pensaram?
- Bem, como tivemos que fugir, o batizado do Harry teve que ser adiado... Eu e Lílian conversamos, e resolvemos fazer o batizado aqui mesmo. Só teremos que tomar algumas precauções para que ninguém descubra nosso esconderijo, como falar com um sacerdote trouxa...
- Pode deixar essa parte comigo.
- E... - Lílian começou. - Tem mais uma coisa... Nós não tivemos oportunidade de perguntar antes, mas Tiago e eu só conseguimos pensar em você... Você gostaria de ser o padrinho do Harry?
O enorme sorriso no rosto de Sirius já respondia à pergunta de Lílian, mas ele não conseguiu ficar calado.
- Ora, Lily, não precisava nem perguntar! Claro que eu aceito!
A conversa continuou pelo restante da noite, e quando Sirius foi embora, depois que a nevasca ficou mais fraca, ele estava bem mais aliviado.
-x-x-x-
Por causa de mais uma missão para a Ordem, o batizado de Harry teve que ser adiado, mas quando a missão terminou, Sirius entrou em contato com um sacerdote trouxa, e ele aceitou fazer o batizado na capela de Godric's Hollow.
Com o adiamento do batizado, Lílian decidiu comemorar a festa de aniversário de um ano de Harry no mesmo dia do batizado, e até lá, Lílian, Tiago e Anne cuidaram dos preparativos da festa. Ter que se preocupar com a festa fez com que Anne não se preocupasse mais com a próxima vez que sentiria a Marca, e apesar de ter sentido a Marca algumas vezes, conseguiu disfarçar para não preocupar Lílian.
Cada vez mais ela gostava de Lílian. Ela era gentil, e sabia como fazer com que Anne e Tiago a obedecessem sem parecer mandona. Anne a estimava muito, e por isso, estava preocupada com Lílian. Desde que a data do batizado havia sido marcada, Lílian havia deixado, quase sem perceber, Tiago de lado, e Anne sabia que a amiga deveria sentir falta de um momento íntimo com Tiago, então, na véspera do dia do batizado, Anne acordou mais cedo e preparou o café da manhã.
- Anne! O que você fez?! - Lílian perguntou, surpresa, quando entrou na cozinha com Harry nos braços.
- Eu acordei mais cedo, e fiz o café. Sente-se - ela sorriu, apontando para a mesa.
- Lily, você quer ajuda? - Tiago perguntou, mas se calou ao ver a mesa - Você não fez nenhum feitiço aqui, fez, Lílian?
- Ela não fez nada, Potter, fui eu quem fez o café - ela olhou para ele o provocando. - Vai ficar em pé, ou vai comer?
Tiago sentou-se, olhando desconfiado para Anne, enquanto Ginger enroscava em sua perna, como se o protegesse, e começou a comer.
- Deixa que eu cuido da louça... - Lílian disse quando terminou de comer, passando Harry para Anne, mas Anne levantou a mão.
- De jeito nenhum. Hoje sou eu quem trabalha por aqui. Desde que o dia da festa foi marcado vocês só têm se preocupado com isso, e merecem um dia de descanso, afinal, a festa é amanhã, vocês têm que estarem alegres. O Harry só vai fazer um ano amanhã.
- Mas, Anne... - Lílian começou, mas Tiago a interrompeu.
- Você nunca cuidou sozinha do Harry antes - Tiago disse, desconfiado.
- Tem sempre uma primeira vez para tudo - Anne respondeu com despreocupação.
- Anne, realmente, você não precisa fazer isso.
- Vocês também não precisavam ter me aceitado aqui. - Anne olhou gentilmente para Lílian por uns segundos, mas logo olhou com severidade para ela e o marido - É melhor vocês irem logo antes que eu acabe mudando de idéia.
Lílian olhou agradecida para Anne, e segurou a mão de Tiago.
- Nós voltamos logo.
- Não se preocupem com a hora, mas sim em se divertir!
Tiago e Lílian saíram, e Anne começou a limpar a mesa, depois de colocar Harry numa cadeira, quando viu que o gato de Lílian a encarava.
- O que foi? Nunca viu gente? - ela disse mal-humorada - Eu queria saber o que você tem contra mim... - ela se abaixou para segurar a gata, mas ela esticou uma pata, e por pouco não acertou o nariz de Anne - Ora, sua estúpida! - ela gritou, e tentou segurar a gata outra vez, mas ela desviou - Ah, eu não vou perder tempo com você!
Anne deu as costas à gata, e continuou o que estava fazendo, até que Harry começou a chorar.
- O que foi, Harry? - ela perguntou segurando o bebê, e logo descobriu o que era - Estou torcendo para que você aprenda a usar a privada logo, sabia?
Com Harry nos braços e Ginger a seguindo, ela foi para o quarto de Lílian, onde pegou uma fralda, e foi para o banheiro. Anne tirou a fralda suja, e exatamente como já havia visto Lílian fazer inúmeras vezes, limpou Harry, e em seguida, colocou a fralda.
- Prontinho... Agora você está limpinho... - Anne disse depois que terminou, e levantou Harry, mas a fralda caiu no chão.
- Harry! Isso não é hora de brincar!
O menino riu, e balançando a cabeça, Anne voltou para o quarto, pegou outra fralda, mas, como da outra vez, ela caiu no chão. Isso aconteceu mais duas vezes, até que Anne ouviu alguém entrar na casa.
- Lílian, é você? Eu preciso de uma ajudinha! - ela chamou olhando apreensiva para Harry, que sacudia os braços inocentemente.
- O que foi?
Anne olhou com surpresa para a porta.
- Sirius! A festa é só amanhã!
- Eu sei, mas vim saber se tudo estava certo. - ele olhou para Harry - Qual é o problema?
- São essas fraldas que não querem ficar presas... Esses trouxas não sabem nem fazer fraldas decentes, humpf! - ela resmungou, cruzando os braços, e Sirius riu.
- Você não tem jeito mesmo com crianças...
- Não é nada disso! Eu nunca fiz o Harry chorar! - ela observou Sirius colocar a fralda em Harry por alguns instantes, resmungou, com um pouco de raiva. Não gostava de ver alguém fazendo algo melhor do que ela era capaz - Eu vou fazer o almoço, Tiago e Lílian devem chegar daqui a pouco.
Anne foi para a cozinha, e pouco depois, Sirius se sentou em uma das cadeiras da mesa, segurando Harry.
- Onde está o Tiago e a Lílian?
- Foram passear. Eles estavam precisando ficar sozinhos.
- Aham... - Sirius balançou a cabeça, e ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto Anne cozinhava. Ele estava bastante sério, e não parecia querer conversar muito.
- Aconteceu alguma coisa? - Anne perguntou, sem se virar.
- Por que você está perguntando?
- Você está quieto, e não é do seu costume ficar mais de três minutos sem falar qualquer bobagem. - ela olhou para Sirius - O que aconteceu?
- Bem... Você está satisfeita morando aqui com Lílian e Tiago?
- Estou, porque? - ela colocou a mão esquerda na cintura, e olhou intrigada para ele - Eu vou ter que ir embora?
- Não, quero dizer, só se você quiser. Já é seguro o bastante para você ir para a América sem ninguém descobrir - ele disse a última frase num sussurro, com os olhos voltados para o chão.
- Eu posso? - ela perguntou em um tom inseguro - Quando eu quiser?
- Quando você quiser. - Sirius concordou - Você quem sabe.
- Eu... - Anne disse lentamente, se sentando na cadeira em frente a Sirius - Eu não sei o que dizer... Não esperava por isso..
- Eu não acho que seja bom você ficar aqui, Anne. Alguém pode descobrir. Não sei como ainda não descobriram.
- Claro, eu sei disso, mas... Eu posso ficar mais um pouco? Não queria ir embora assim, de uma hora para outra, e amanhã é o aniversário do Harry... Será que eu não poderia...
- Claro. - Sirius apressou-se em concordar - Eu não estava dizendo que você tinha que ir agora...
Ela não queria ir embora. Nunca quis deixar a Inglaterra, na verdade, e sempre achou que Sirius encontraria um jeito dela ficar, mas agora teria que aceitar que havia se enganado.
- Certo - Anne levantou-se da cadeira, e voltou a preparar o almoço.
-x-x-x-
A cerimônia do batizado não foi detalhada como a cerimônia bruxa, mas mesmo assim, Anne achou que foi uma bela celebração. Depois do batismo, ela, Tiago, Lílian e Sirius, com Harry nos braços, voltaram para casa. Lílian e Tiago queriam ter convidado Remo e Julie, mas eles já corriam o risco de terem o esconderijo descoberto todas as vezes que Sirius ia até Godric's Hollow, por isso, a festa de aniversário só teria quatro convidados.
Assim que eles entraram na casa, Ginger tentou atacar Anne.
- Lílian, essa sua gata deve estar com algum problema! Ela sempre tenta atacar quando me vê!
- Ginger não é uma gata, Anne! É um amasso, ela deve achar que você é perigosa por que você não deveria estar aqui.
Anne e Sirius trocaram olhares de cumplicidade. Anne preferiu esperar a festa de Harry para contar que teria que ir embora em breve.
- Hmmm... Ginger, você está estranha... É como se você estivesse com medo da Anne se aproximar... - então ela se abaixou, segurou a gata, mas quando a tocou, olhou com surpresa - Oh meu Deus! Ginger! Você vai ter filhotes! Por isso você está se defendendo... Está com medo da Anne te machucar, mas ela não vai, Ginger... - Lílian colocou a gata no chão, que correu.
- Você também pode sentir o que os animais sentem? - Anne perguntou.
- Sim, mas só quando a emoção é muito forte.
- Essa gata deve mesmo ter muito medo de mim... - ela disse com sarcasmo.
Lílian ficou encabulada, mas Tiago, percebendo o embaraço da esposa, falou.
- Eu nunca vi uma festa sem música, o que vocês acham de ligarmos o som?
Ninguém disse nada contra, e Tiago colocou um LP e ligou a vitrola. Ele e Lílian começaram a dançar, enquanto que Anne foi para a cozinha pegar alguns salgados antes que Sirius a chamasse para dançar. Quando ela voltou, Lílian e Tiago riam de Sirius, que dançava com Harry.
- Desculpe, afilhado, mas acho que seu pai não gostaria que eu dançasse com sua mãe, e como você pode observar, eu fui trocado por alguns aperitivos, o que é revoltante, mas eu não vou falar nada, se ela quiser dançar, eu estarei aqui.
- Anne, por que você não dança uma música pelo menos? - Lílian perguntou, rindo - Daqui a pouco o Sirius vai deixar o Harry tonto!
- Boa idéia, Lílian. - Anne disse, sorrindo, e voltou-se para Sirius - O senhor aceita dançar comigo?
Sirius sorriu, surpreendido com a atitude da mulher.
- Claro... - ele virou-se para Lílian - Posso deixar o Harry no berço?
- Não, Sirius, eu não estava convidando você. Estava convidando o Harry! - ela disse com um sorriso travesso, enquanto Sirius entregava Harry para ela.
- Ele tem o meu charme natural, Almofadinhas, o que posso fazer? - Tiago brincou com o amigo, e Lílian deu uma pequena gargalhada.
Anne afastou-se com Harry nos braços até uma janela, e ficou brincando com ele, enquanto que na sala, Tiago, Sirius e Lílian conversavam e comiam, mas quando o casal Potter começou a dançar outra vez, Sirius foi falar com Anne.
Ele se aproximou lentamente, e Anne só percebeu que Sirius estava atrás de si quando ele, quase a abraçando, passou o braço em torno da cintura dela para acariciar o cabelo escuro de Harry.
- Ele dormiu? - Sirius perguntou.
- Quase agora...
Anne sorriu para Sirius, e os dois ficaram observando Harry por um tempo, até que uma luz os cegou.
- Desculpe. - Lílian disse um pouco encabulada, segurando uma câmera fotográfica em uma das mãos - Eu não resisti. Vocês estavam tão tranqüilos vendo o Harry, que eu tinha que tirar essa foto. Engraçado. - ela observou - Essa é a primeira vez que eu tenho uma máquina fotográfica por perto quando quero tirar uma foto...
- Tudo bem, Lílian. - Anne apressou-se a dizer - Eu talvez tivesse feito o mesmo. - ela olhou de Harry para Lílian - Ele dormiu.
- Me dá... - Lílian disse erguendo os braços, e Anne entregou a criança para a mãe - Ele teve um dia bem agitado...
Lílian se afastou, e por alguns instantes, Sirius e Anne não disseram nada, até que ele, um pouco encabulado, começou a falar.
- Bem, eu acho que já vou indo... Parece que só sobrou eu mesmo... - ele brincou, e Anne sorriu. Sirius olhou fixamente para ela, e esticou a mão - Acho que da próxima vez que eu vier será para te levar daqui, então... você não quer dançar comigo? Só uma dança, como uma despedida...
Anne mordeu o lábio, pensativa, mas concordou, afinal, como Sirius havia dito, ela iria embora logo, e gostaria de ter uma boa lembrança de Sirius.
- Está bem, mas só uma música.
Sirius puxou Anne para a sala pela mão.
- Espera um pouco, eu vou mudar a música. A Lílian me ensinou como mexer nessa tal de votrola.
- Vitrola, Sirius.
- Que seja - ele disse dando de ombros, e mudou a música.
Aos primeiros acordes da música, Anne olhou com surpresa para Sirius.
- Essa é minha musica preferida! Como você soube? - ela sorriu, mas logo depois perguntou, intrigada - Não me diga que a Lílian também contou isso?
- Anne. - ele disse a puxando para perto de si - Vamos dançar.
Os rostos dos dois se tocaram, as mãos se entrelaçaram suavemente, e eles começaram a dançar.
My love must be a kind of blind love
I can't see anyone but you.
Are the stars out tonight?
I don't know if it's cloudy or bright.
I only have eyes for you, Dear.
Dançando com Sirius, Anne se sentia livre das preocupações, e cantarolava baixinho.
- The moon may be high... but I can't see a thing in the sky... I only have eyes for you... I don't know if we're in a garden, or on a crowded avenue.
Sirius segurou o queixo de Anne, e a encarou fixamente enquanto ela cantava. A canção descrevia exatamente o que um sentia pelo outro quando estavam juntos, e Anne cantava para Sirius.
- You are here... So am I. Maybe millions of people go by... But they all disappear from view... And I only have eyes for you.
O disco parou de girar, mas Anne e Sirius não desviaram o olhar um do outro. Ele acariciou o rosto dela suavemente, e antes que os lábios deles se tocassem, Anne fechou os olhos. Naquele instante, não pensou que teria que ir embora. Só conseguia pensar em Sirius, e no quanto sentia falta da sensação de beijá-lo.
- Acho que você tem um problema... - ela disse abraçada a Sirius depois que o beijo terminou.
Sirius fechou os olhos. Não queria que Anne fosse embora, mas ela tinha que ir, e ele sabia sobre o que ela estava falando. Agora seria muito mais difícil esquecê-la.
- Eu sei, você tem que ir embora, mas isso não importa...
Anne sorriu, e o interrompeu.
- O problema é exatamente o contrário, Sirius. Eu não quero ir embora.
Ele a enlaçou pela cintura firmemente, aliviado. Não pensava nos riscos que Tiago e Lílian poderiam sofrer se Anne ficasse com eles por mais tempo, não pensava em nada além de que Anne havia desistido de lutar contra os próprios sentimentos e estava com ele.
- Eu não deixaria você ir mesmo se quisesse, Annie... - ele sorriu, e os dois se beijaram mais uma vez.
-x-x-x-
"I Only Have Eyes For You", cantada por The Flamingos
Eu Só Tenho Olhos Para Você
Meu amor deve ser o tipo de amor cego
Eu não consigo ver ninguém além de você
As estrelas estão lá fora esta noite?
Eu não sei se está nublado ou ensoralado
Eu só tenho olhos para você, Querida.
A lua deve estar cheia
Mas eu não consigo ver qualquer coisa no céu
Eu só tenho olhos para você.
Eu não sei se estamos em um jardim
Ou em uma avenida movimentada
Você está aqui. Eu também estou
Talvez milhões de pessoas estejam por perto
Mas todas elas desaparecem de vista
E eu só tenho olhos para você.
