27. O PRISIONEIRO E A COMENSAL
A porta de ferro rangeu quando foi aberta vagarosamente. Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, olhou com desprezo para o homem que estava dentro. Na verdade, ele não sabia se poderia chamá-lo de homem. O prisioneiro tinha o corpo tão frágil que ele tinha dúvidas sobre como ainda conseguia ficar de pé. O rosto estava afinalado, os olhos com profundas olheiras, a pele incrivelmente pálida, como se ele fosse um fantasma, mas ao ver que a porta havia sido aberta, olhou para o ministro do lado de fora com um sorriso simpático.
- Olá, Fudge. Como o tempo passa rápido, não é? Parece que foi ontem que você veio fazer a visita anual. Talvez seja porque os dias aqui são terrivelmente entediantes.
Fudge tentou disfarçar o mal-estar. Fazia quase doze anos que Sirius Black havia sido preso, mas ao contrário dos outros prisioneiros, estranhamente, ele mantinha a lucidez.
- Pelo visto, você está muito bem, Black.
- Considerando os outros prisioneiros, acho até que estou muito bem. - ele disse com um sorriso sarcástico - E então, Fudge, como está o trabalho?
- Ehr... - o ministro não conseguia disfarçar o quanto o incomodava aquele olhar curioso de Sirius, tão fora do normal em Azkaban - Estou sempre muito ocupado. - ele cruzou os braços enquanto respondia, revelando o jornal que segurava em uma das mãos.
- O que é isso? - Sirius perguntou, curioso, e apontou - Profeta Diário?
Fudge olhou espantado para o jornal que Sirius apontava, e apressou-se a responder.
- Sim, é, recebi hoje de manhã.
- Você já leu? É que não há muita coisa para se fazer por aqui, e eu realmente sinto falta das palavras cruzadas... - ele disse com tranqüilidade, e não mentia. Sentia-se muito solitário em Azkaban, mas pelo menos, os dementadores não o atingiam. Por isso ele ainda mantinha a sanidade.
- Sim, eu já li, ehr... - ele disse com nervosismo, e entregou o jornal para Sirius apressadamente - Pode ficar com ele. - Fudge fez um gesto para que os dementadores fechassem a porta, mas antes que Sirius fosse trancado, o ministro ouviu o prisioneiro falar animadamente.
- Até o ano que vem, Fudge!
Assim que a porta foi fechada, Sirius começou a ler o jornal. O Chudley Cannons havia sido o último colocado na Liga Britânica de Quadribol mais uma vez... Um funcionário do Ministério da Magia havia ganhado na loteria do Profeta Diário... Os filhos dele freqüentavam Hogwarts... Será que seriam colegas de Harry? Com curiosidade, ele olhou para a foto da família, se concentrando na menina e no menino mais novo, mas, subitamente, seus olhos se abriram mais, deixando transparecer sua surpresa.
- Não pode ser... Ele está em Hogwarts!
Pasmo, Sirius olhava para o rato no ombro do menino mais novo. Ele reconheceria aquele rato em qualquer lugar, afinal, foi com a sua ajuda que Pedro Pettigrew conseguiu se transformar nele. E Rabicho iria para Hogwarts com o garoto, onde Harry também estaria...
-x-x-x-
Durante dias, Sirius não conseguiu tirar da cabeça a idéia de que Rabicho estava em Hogwarts, junto com Harry. O prisioneiro sabia que Voldemort havia perdido os poderes, mas ele poderia ressurgir a qualquer momento, os Lestrange, presos depois dele, não cansavam de repetir isso, e com os poderes de seu mestre totalmente restabelecidos, Sirius não duvidava que Pedro fosse capaz de atacar Harry para provar que ainda era leal a Voldemort.
O medo de que algo pudesse acontecer ao afilhado deixou a mente de Sirius em alerta. Cada vez mais ele passava o tempo na forma de cão, tentando encontrar um meio de proteger Harry, sem sucesso, até que um dia, observou que quando os dementadores abriam a porta para deixar a comida, as grades ficavam abertas o suficiente para que ele pudesse passar por elas na forma animaga.
O plano era arriscado, mas Sirius não se importou, e talvez por isso ele conseguiu escapar da prisão, passando pelos dementadores sem ser percebido por estar transformado em animago. E sem que nenhum dementador notasse, Sirius Black fugiu de Azkaban.
-x-x-x-
Fazia duas semanas que Sirius havia chegado à costa, e durante esse tempo, havia descoberto muitas coisas, mas deixou tudo de lado para ver Harry. A última vez que ele vira o afilhado foi no dia que o viu nos braços de Hagrid, então, foi para Surrey. Queria rever o afilhado
Era noite quando Sirius chegou em Surrey. Ele caminhava pelas ruas, na forma de cachorro, e cada vez mais se aproximava da rua dos Alfeneiros, mas enquanto caminhava em uma rua de prédios geminados, ele viu um garoto iluminado por um poste, segurando um malão.
- Tiago?! - ele pensou, surpreso. Não podia ser Tiago, ele estava morto. Só podia ser... - Harry!
O garoto olhou para os dois lados da rua, e em seguida, para a varinha. Sirius se aproximou dele, se escondendo no espaço vazio entre uma garagem e a grade atrás de Harry, sem desviar o olhar do garoto, e observou atento ele procurar por alguma coisa dentro do malão. Instintivamente, Sirius deu um passo na direção de Harry, e só percebeu que havia pisado em um graveto quando ouviu o barulho do galho se partir.
Com medo de que Harry o visse, Sirius não se mexeu, mas foi em vão. O garoto pegou a varinha, e disse o feitiço.
- Lumus!
Sirius segurou a respiração, torcendo para que Harry não o visse, mas o garoto tanto o viu quanto se assustou. O cão se aproximou para ajudar Harry, mas antes que pudesse alcançá-lo, um ônibus de três andares roxo-berrante surgiu. Era o Nôitibus Andante, e com medo de ser reconhecido, afinal, ele não sabia se Remo contara que ele era um animago, se escondeu na garagem.
Sirius permaneceu olhando para o lugar onde o ônibus estivera depois que ele desapareceu. Harry parecia amedrontado, como se estivesse fugindo, assim como ele próprio ficou depois que alcançou a terra. Alguma coisa deveria ter acontecido. O cão olhou com severidade, e se tornou humano.
Entre outras coisas, desde que havia fugido, Sirius descobriu que Arabella Figg estava vigiando Harry, mas quando foi para Surrey, não pensava em rever Anne, por causa do que sentia por ela, e por causa do filho que achava que tinha. Se ele tivesse um filho, era melhor para essa criança ficar longe de um pai como ele, mas agora não tinha outra alternativa. Talvez Anne não soubesse que Harry estava fora de casa.
Subitamente, ele se sentiu incrivelmente cansado, como se só agora sentisse as conseqüências de ter caminhado por horas sem parar. Sirius respirou fundo antes de começar a ir para a casa de Arabella Figg.
Sirius encontrou a casa sem menores dificuldades. Ele sentiu que a casa estava enfeitiçada. Qualquer trouxa que passasse em frente à casa, veria todas as luzes apagadas, e pensaria que os moradores estavam dormindo, mas não Sirius. Ele viu a luz da sala acesa, e foi até a janela, observar quem estava na sala.
Anne lia um livro, por isso ele não conseguiu ver direito o rosto dela, e nem ela o viu, mas o gato que estava no colo dela percebeu que alguém os observava, e saltou para a porta. Sirius se abaixou, e enquanto Anne ia até a porta, ele abriu a janela e entrou silenciosamente, ouvindo ela ralhar com o gato.
- Snuffles... Da próxima vez que você ver um cachorro, tente não me assustar, está bem?
Anne ergueu o rosto, e enquanto ela olhava espantada para ele, Sirius a encarava pela primeira vez depois de doze anos. Ela estava diferente da Anne de doze anos atrás. O rosto estava pálido, e os cabelos negros iam até pouco abaixo da cintura, mas a diferença estava no olhar. Era um olhar corajoso, apesar da surpresa por vê-lo, um olhar de quem havia sofrido, mas havia encontrado força de vontade para continuar, e ele sabia que isso era algo que ela nunca mais perderia.
Sirius encarou Anne somente por poucos segundos. A vida dela era mais uma das vidas que haviam sido estragadas por sua culpa, e essa culpa era forte o bastante para fazer com que ele se sentisse intimidado.
Os dois ficaram em silêncio. Sirius sentia que Anne o observava, e ele pensou com sarcasmo que a única coisa que ele queria fazer era dizer o que aconteceu com Harry, mas ver Anne outra vez trouxe a lembrança do filho que ela esperava, e antes que percebesse, estava perguntando pela criança.
- Onde está a criança? - ele perguntou com os olhos pulando de um objeto para o outro, sem se fixar em nenhum ponto.
Sirius percebeu que a pergunta não deixou Anne muito à vontade, e ela desviou o rosto, evitando o encarar. Ele desejou que o que estivesse pensando não fosse verdade, mas quando Anne conseguiu falar, ela disse exatamente o que ele temia.
- Não tem criança. Eu perdi o bebê.
Por alguns segundos, Sirius olhou fixamente para Anne, que se assustou com o olhar dele. Era um olhar vazio, que não demonstrava nada. Um olhar que só uma pessoa que somente por ter sofrido demais e já ter se acostumado com a dor que poderia ter.
Sirius tentou esconder a dor e o sentimento de culpa que sentia. Mais uma vez ele havia falhado com Anne. Primeiro, quando quebrou a promessa de protegê-la sempre, depois, quando foi preso, deixando-a sozinha, e agora, ele se culpava pela perda do filho.
Porém, Sirius não tinha tempo para lamentar a perda do filho, pois agora, sabendo que não havia filho nenhum, ele tinha certeza de que não havia mais qualquer laço entre ele e Anne, e que o que quer que ele sofresse, ela não seria afetada diretamente.
- Você está aqui por causa do Harry, não é?
A voz de Sirius trouxe Anne de volta a realidade, e ela não se surpreendeu por Sirius saber o que ela estava fazendo morando perto da casa dos tios de Harry, afinal, ele a havia encontrado.
- Sim. Eu estou aqui para proteger o garoto.
- O garoto que sobreviveu...! - Sirius disse com um sarcasmo que magoou Anne - Se você quer que ele continue sendo o garoto que sobreviveu, você está fazendo um péssimo trabalho. Eu vi Harry fugindo de casa a alguns minutos no Nôitibus Andante.
Uma onda de raiva invadiu Anne quando Sirius desprezou o seu trabalho, e por alguns instantes, ela se sentiu novamente a garota de quinze anos que havia sido, mas quando se lembrou que Harry estava fora de casa, conseguiu se controlar.
- Onde você o viu?
- Há umas oito ruas daqui. - ele olhou com impaciência para Anne, e disse com desprezo, magoando-a propositalmente. Não poderia deixar ela amá-lo novamente. Ele era um fugitivo, que espécie de futuro poderia dar para ela? - Você está esperando o que para avisar Dumbledore?
Anne ficou por alguns instantes sem saber o que fazer, atrapalhada.
- Vamos logo, o Harry não pode ficar perdido por aí! Não com ele....
Anne olhou com curiosidade para Sirius. Parecia que ele sabia algo que ela não sabia.
- Ele quem?
Sirius olhou assustado para Anne. Ele só havia pensado em voz alta, não esperava que ela o escutasse.
- Vá avisar Dumbledore, quando você voltar nós conversamos melhor.
Anne respondeu com um meneio afirmativo da cabeça, e depois de tomar a poção Melissuco, foi até a lareira e a acendeu.
- Alvo? Alvo, você está aí? - ela perguntou depois de jogar uma espécie de pó nas chamas.
Segundos depois, o rosto do diretor de Hogwarts surgiu na lareira.
- Sim, Arabella. Aconteceu alguma coisa com Harry?
- Harry fugiu de casa, ele está no Nôitibus Andante.
- Você sabe para onde ele foi?
Anne mordeu os lábios, pensando em se virar e perguntar se Sirius sabia de algo, mas ela não queria denunciá-lo.
- Não, Alvo, eu não sei de nada. Só vi Harry entrando no Nôitibus.
- Está bem, Arabella, obrigado por me avisar. Eu falarei com o Ministério, eles terão mais chances de encontrar Harry.
- Eu acho que alguém deveria ir à casa dos tios dele para saber o que aconteceu.
- Eu cuidarei disso. Obrigado, Arabella.
Em seguida, o rosto de Dumbledore desapareceu, e Anne voltou para a sala, no corpo de Arabella Figg. Pouco antes de entrar na sala, ela sentiu um vento frio, mas o ignorou e falou para Sirius.
- Já avisei Dumbledore, agora, Sirius, você poderia me explicar o que você está escondendo?
Só depois que ela terminou de falar é que percebeu que a sala estava vazia, e a porta aberta. Anne olhou com decepção para a porta, percebendo o que havia acontecido: Sirius havia ido embora, e não voltaria tão cedo. Anne caminhou lentamente em direção à porta, e tentou ver um cão preto na rua, mas não o encontrou, e fechou a porta. Enquanto fechava, se lembrou do desprezo de Sirius ao falar sobre ela proteger Harry, e murmurou num misto de raiva e decepção.
- Você vai ver, Sirius. - ela ergueu o rosto com altivez - Eu vou proteger Harry como ninguém seria capaz.
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Assim que Anne foi falar com Dumbledore, Sirius saiu pela porta, e se transformou em cachorro outra vez. Não poderia ficar mais tempo na casa de Arabella Figg, poderia ser descoberto, ou pior ainda, poderia não resistir a todo o amor que ainda sentia por Anne.
Pelo menos o Ministério agora deveria estar procurando por Harry, e assim que o encontrasse, ele ficaria em segurança até voltar para Hogwarts, mas Sirius ainda não estava tranqüilo. Pedro estava em Hogwarts, e ele era o único que sabia disso. Não, não poderia acreditar que Harry estava seguro. O cão que Sirius era olhou para o céu, e partiu, com somente uma obsessão: ir para Hogwarts.
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Anne sentou-se na cama de uma vez, sentindo uma dormência familiar no braço esquerdo. O que ela esperava desde o começo de setembro de 1994, quando viu a Marca do braço esquerdo brilhar vivamente, havia acontecido. Voldemort havia voltado. Rapidamente, Anne se levantou, cobriu-se com uma capa negra, e aparatou.
Demorou alguns instantes para ela perceber onde havia desaparatado. Era um cemitério, e ao ouvir vozes, Anne se escondeu atrás de uma lápide antes que fosse descoberta, e passou a observar a cena.
Vários bruxos envolvidos em capas negras também acabavam de desaparatar, e iam à direção de Voldemort. Ele poderia ter ficado treze anos vagando pelo mundo, sem estar vivo ou morto, mas agora, havia voltado, e ainda era poderoso, Anne reconheceu.
Voldemort recepcionou os Comensais com crueldade, e ela não esperava outra coisa. Em seguida, ele virou-se para Pettigrew, e Anne olhou com desprezo para o bruxo. Rabicho só havia procurado Voldemort porque não tinha mais a proteção do disfarce de rato, pelo menos não em Hogwarts. Anne sabia que o bruxo estava vivo porque Dumbledore contou a ela todos os acontecimentos do terceiro ano de Harry, e disse que o garoto precisava ser vigiado mais atentamente.
Rabicho recebeu uma nova mão, e Voldemort continuou a falar com seus Comensais.
- ...E aqui temos seis Comensais da Morte ausentes... três morreram a meus serviços. Um demasiado covarde para voltar... ele me pagará. Um que eu acredito ter me deixado para sempre... este será morto, é claro... e um que continua sendo meu mais fiel servo, e que já reingressou no meu serviço. Ele está em Hogwarts, esse servo fiel, e foi graças a seus esforços que nosso jovem amigo chegou aqui esta noite.
Os Comensais olharam para o garoto que estava no meio do círculo, e só então Anne viu que Harry estava lá, mas ela não fez nada para ajudar o filho de Lílian e Tiago Potter, nem quando Voldemort o atingiu com o feitiço Cruccio. Anne continuou escondida, observando o que estava acontecendo.
Voldemort e Harry duelavam. Anne não deixou de admirar o sangue-frio de Harry. Apesar de ter sido atingido pelo Cruccio mais uma vez, ter resistido ao feitiço Imperio, ele conseguiu escapar por instantes de Voldemort, mas foi corajoso o bastante para encarar o Lord das Trevas e lutar.
Os dois disseram o feitiço ao mesmo tempo, mas nenhum dos dois foi atingido. Ao invés disso, um fio de luz uniu as duas varinhas, e os corpos de Harry e Voldemort flutuaram no ar. Harry titubeou, e a luz que saía da varinha de Voldemort se aproximou da sua varinha, mas o garoto segurou a sua própria varinha com determinação. Em seguida, a luz começou a voltar em direção à varinha de Voldemort vagarosamente, enquanto a varinha do bruxo tremia em sua mão, e sons de grito e dor começaram a sair dela, sendo seguidos pela sombra da mão de Rabicho e mais gritos de dor.
Então algo muito largo começou a sair da varinha de Voldemort. Primeiro a cabeça, depois o corpo, e Anne viu o vulto de um rapaz, quase que como um fantasma, que falou com Harry.
Mais gritos de dor saíram da varinha... Um outro vulto surgiu, e uma mulher saiu da varinha de Voldemort. Era Berta Jorkins, Anne se lembrava dela de Hogwarts, apesar dela ter estado alguns anos adiantados a ela.
Uma outra cabeça surgiu. Anne não respirava, na expectativa de confirmar uma suspeita de quem seria o próximo vulto a sair da varinha. Era Lílian Potter, e logo depois, o vulto de Tiago Potter saiu da varinha de Voldemort. Eles falaram com Harry, enquanto Voldemort os encarava com surpresa e temor, mas sem reagir.
Anne não conseguia escutar o que os Potter falavam, mas quando Harry quebrou o elo que unia as duas varinhas, ela soube o que Tiago e Lílian falaram com o filho. Os olhos de Harry foram à direção de um troféu que estava quase ao lado de Anne, mas antes de segurar o troféu, Harry correu em direção ao corpo do rapaz, ignorando os Comensais que o perseguiam, e os feitiços que passavam pelo eu corpo, não o atingindo por poucos centímetros.
Harry conseguiu alcançar o rapaz, mas estava claro que se ele tentasse ir até o troféu, seria capturado por Voldemort, mas o garoto surpreendeu a todos quando apontou a varinha para o troféu, e disse o feitiço, a última coisa que disse antes de desaparecer.
- Accio!
Os Comensais ainda tentaram lançar feitiços, apesar de Harry não estar mais no cemitério, porém, não queriam encarar Voldemort depois de terem deixado o garoto escapar.
- Seus imprestáveis! - Voldemort bradou com fúria depois de um silêncio tenso - Mesmo depois de treze anos, vocês ainda cometem os mesmos erros estúpidos!
- Mas, mestre, nós não...
- Quieto, Macnair! Saia da minha frente! Todos vocês, desapareçam!
E antes que Voldemort mudasse de idéia, os Comensais aparataram, exceto Rabicho, que foi falar com o Lord das Trevas.
- Me-me-mestre, aquele menino só teve sorte, eu garanto que da próxima vez...
- Você não ouviu o que eu disse, Rabicho?! Desapareça, seu verme inútil!
- Si-si-sim, milorde, sim... - ele disse balançando a cabeça várias vezes, e voltou para a casa.
Ao se ver sozinho, Voldemort soltou um suspiro, e virou-se.
- E quanto a você... - ele disse olhando em direção à lápide na qual Anne estava escondida - Prefere se revelar, ou terei que ir até aí?
Anne fechou os olhos, e sem hesitar, levantou-se. Se Voldemort ficou surpreso ao ver a mulher, soube disfarçar muito bem.
- Ora, ora, ora... Adrianne Snape... Pensei que estava morta... - em nenhum momento o Lord das Trevas desviou o olhar astuto de Anne.
- Você não é o único... - ela respondeu com um sorriso sarcástico - Mas, como pode ver, estou de volta.
Voldemort observou Anne cuidadosamente. Podia sentir que ela estava nervosa, mas ao mesmo tempo, ansiosa. Não mataria ela agora. Queria ouvir o que ela tinha a dizer, afinal, ela não o procuraria por nada.
- E como você... - ele disse em tom sarcástico - ... voltou do mundo dos mortos?
- Tudo aconteceu no ataque aos Potter. Eu fui atingida por um feitiço, e desmaiei. Quando acordei, estava no corpo de Arabella Figg. Sirius Black havia trocado nossas identidades.
- Por que ele faria isso? - o Lord das Trevas perguntou astutamente.
- Ele sempre foi apaixonado por mim, desde Hogwarts. - ela respondeu em tom firme - Queria... me proteger. - ela disse com um sorriso irônico - Eu pensei em fugir quando percebi que não iria para Azkaban porque todos me consideravam morta, mas quando Black disse que eu iria me esconder com os Potter, achei que o melhor seria fingir que estava arrependida de tudo o que eu fiz, e me escondi com os Potter. Queria conseguir o máximo de informações possíveis para entregá-las a milorde.
- Você se escondeu com os Potter? - ele olhou enfurecido para Anne - Então porque não me disse imediatamente onde eles estavam?
- Eu não poderia fazer sem que Sirius desconfiasse de mim, e eu pretendia continuar espionando a Ordem da Fênix depois que os Potter fossem mortos.
- E quando você pretendia me contar o que sabia sobre os Potter? - Voldemort disse começando a duvidar de que Anne falava a verdade.
- Eu fui para o castelo de milorde enquanto Sirius levava Pedro para fazer o feitiço Fidelius, mas quando cheguei, não havia ninguém, e eu tive que voltar, Sirius não poderia suspeitar que eu não estava arrependida. Cheguei na casa dele antes que Sirius voltasse, e por pouco ele não descobriu a verdade. Depois disso, não tive mais nenhuma oportunidade de sair de casa, e infelizmente, milorde perdeu os poderes em Godric's Hollow.
Voldemort encarou Anne com os olhos semicerrados. O que ela dizia poderia ser verdade ou mentira, mas ele iria arriscar confiar nela. Era mais prudente tê-la por perto. Se estivesse sendo enganado, Adrianne teria o merecido castigo.
- Sim, hoje sei que fui apressado demais, e confiei nas pessoas erradas... Por isso, não quero cometer mais o mesmo erro, e pergunto porque deveria confiar em você...
Um sorriso de triunfo surgiu no rosto de Anne.
- Assim que os Potter morreram, Dumbledore quis falar com Arabella Figg, e eu fui, disfarçada com a poção Polissuco. Ele me disse que era da vontade dos Potter que eu fosse a tutora de Harry caso algo acontecesse com Sirius Black, e eu aceitei proteger Harry Potter. Eu sei onde o garoto está, e posso levar milorde até ele assim que for possível, embora eu ache que seria melhor esperar um pouco mais. Eu posso conseguir informações valiosas da Ordem da Fênix, afinal, Dumbledore nunca desconfiaria de Arabella Figg.
- E como ninguém nunca suspeitou que a Arabella Figg que eles conheciam não era a mesma que cuidava de Harry? Afinal, o efeito da poção Polissuco só dura uma hora...
- Milorde, meu irmão sempre foi interessado em poções, e eu aprendi muitas com ele, inclusive a poção Melissuco, muito mais forte que a Polissuco. Severo nunca imaginou que eu poderia usar o conhecimento dele contra seus aliados. - ela finalizou com uma expressão de triunfo no rosto.
Voldemort observou Anne minuciosamente, e percebeu o que havia sentido de estranho na mulher no dia em que ela recebeu a Marca. Adrianne Snape era traiçoeira, assim como o pai havia sido, e ele estava satisfeito por tê-la como aliada.
- Será ótimo contar com seus serviços, Snape. Você está preparada?
- Milorde. - ela disse, ajoelhando-se - Estou aqui para servi-lo.
-x-x-x-
Anne soube que Bartolomeu não estava morto, mas não chegou a ver o antigo namorado. Antes que isso acontecesse, ele recebeu o beijo do dementador, mas logo ela esqueceu-se de Bartolomeu. Tinha várias coisas para fazer. Diariamente, mandava para Voldemort informações sobre Harry, a família, a casa, e o que ele estava fazendo nas férias.
Paralelo a isso, Anne foi para a primeira reunião da Ordem da Fênix como Arabella Figg. Remo Lupin a avisou, e no dia marcado, ela foi para o castelo de Hogwarts.
Anne estava ansiosa pela reunião, pois iria reencontrar o irmão depois de tantos anos. Remo havia dito que Severo fazia parte da Ordem, e Anne não sabia como iria conseguir encarar o irmão. Apesar dela estar espionando para Voldemort, ainda amava o irmão, e sempre amaria.
Como da outra vez que esteve em Hogwarts, Hagrid a recepcionou, e a levou até a sala do diretor. A sala de reuniões da Ordem ficava escondida na sala de Dumbledore, e lá estavam vários bruxos que Anne conhecia do Ministério, como Mundungo Fletcher, Alastor Moody, e outros. Anne não encontrou Severo, mas viu que Sirius estava lá, e evitou olhá-lo. Ele sempre percebeu o que ela sentia somente olhando para ela, e Anne temia que ele descobrisse que ela era a espiã de Voldemort.
A reunião começou quando Dumbledore entrou na sala. Ele falou sobre o que a Ordem da Fênix faria para impedir o avanço de Voldemort, e então soube porque Severo não estava lá. Naquela noite, ele havia sentido o chamado de Voldemort mais uma vez, e foi mostrar para o Lord das Trevas que era fiel a ele, e não a Dumbledore, mas tudo não passava de um truque. Severo seria o espião da Ordem da Fênix na Ordem das Trevas, e Anne não deixou de pensar o quanto isso era irônico.
No restante da reunião, Dumbledore informou o que os outros iriam fazer. Hagrid e a diretora de Beauxbatons iriam procurar os gigantes. Fletcher e Moody tentariam descobrir no Ministério as pessoas que começariam a mostrar simpatia por Voldemort. Sirius e Remo estavam trabalhando na tradução de uns pergaminhos velhos, e estavam quase descobrindo qual era o feitiço que somente Harry Potter seria capaz de executar para derrotar Voldemort.
A reunião terminou sem que Dumbledore dissesse o que queria que Arabella Figg fizesse, mas antes que ela fosse embora, o diretor a chamou.
- Espere, Arabella. Eu gostaria de falar com você a sós, se não se importar.
- De forma alguma, Alvo - Anne, no corpo de Arabella Figg, respondeu, sem deixar de notar o olhar curioso de Sirius.
- O que eu tenho para falar com você não é assunto da Ordem, pelo menos não diretamente, por isso esperei para conversarmos ao final da reunião. Depois dos acontecimentos do último ano na escola, Arabella, eu achei que Harry e os outros alunos estariam mais seguros com uma professora com maior experiência em combate contra as Artes das Trevas, e pensei se você não gostaria de ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas no próximo período letivo de Hogwarts.
Arabella Figg sorriu, encantada com a proposta.
- Mas é claro que aceito, Alvo! Terei o maior prazer em ensinar novamente aqui em Hogwarts! - enquanto sorria, Anne pensava em quão orgulhoso Voldemort ficaria dela, e depois de se despedir do diretor, voltou para casa.
Enquanto se deitava, Anne sentiu a tatuagem queimar no braço esquerdo, e aparatou, reaparecendo na sala de reuniões da Ordem das Trevas, no antigo castelo de Voldemort.
Voldemort estava sentado na mesma cadeira imponente, e com um gesto da mão, fez com que Anne se aproximasse.
- Seu irmão acabou de sair do castelo. Ele me disse que estava arrependido de ter dado informações sobre a Ordem das Trevas para Dumbledore, que não passava de um velho maluco e tolo por insistir em lutar contra mim, e disse que ele não era estúpido para ficar no lado perdedor novamente - ele olhou com ardileza para Anne.
Era um teste. Desde que Anne havia procurado Voldemort, ele testava a lealdade dela, e Anne sabia que estava sendo testada.
- Ele está nos espionando. Dumbledore disse hoje que era esse o trabalho de Severo.
- Muito bem, Adrianne... - Voldemort olhou com aprovação para ela - Qual castigo você acha que ele merece?
Anne fez um meneio com a cabeça, e respondeu calmamente.
- Nenhum, milorde.
A expressão de Voldemort não se alterou, exceto por um brilho cruel em seu olhar.
- Está protegendo o seu irmão?
Anne deu uma pequena risada.
- Claro que não, milorde! Mas se soubermos usar Severo, ele poderá nos ser muito útil.
- Explique-se - Voldemort disse friamente.
- Poderemos passar informações erradas sobre o que faremos para ele, assim confundiremos a Ordem da Fênix.
- Continue.
- Precisaremos que alguém seja culpado quando os planos de Dumbledore começarem a falhar, e quando a Ordem da Fênix for derrotada. Severo já foi um dos seus Comensais mais fiéis, não será difícil para os membros da Ordem da Fênix concluir que ele resolveu retomar os velhos hábitos, ao invés de suspeitarem de que outra pessoa traiu a Ordem da Fênix. É por isso que Severo é mais útil para nós vivo que morto. Quanto ao castigo, acho que os aliados de Dumbledore poderão fazer esse trabalho sujo - ela finalizou com um brilho de triunfo no olhar.
- Ótimo plano, Adrianne... - Voldemort disse com um pequeno sorriso no rosto, e um brilho de satisfação no olhar - Agora conte-me tudo sobre a reunião. O que você terá que fazer?
- Eu não recebi nenhuma missão da Ordem, mas Dumbledore pediu que eu ensinasse em Hogwarts..
- Será perfeito ter você em Hogwarts, vigiando aquele garoto por mim... - ele sorriu astutamente, mas ficou sério em seguida - O que os outros estão fazendo?
- Hagrid e a diretora de Beauxbatons irão procurar os gigantes. Fletcher e Moody tentarão descobrir que funcionários do Ministério estarão do nosso lado. Black e Lupin estão trabalhando na tradução de um pergaminho que fala sobre o feitiço que poderá destruí-lo, milorde.
O que Anne disse pareceu deixar Voldemort muito satisfeito.
- Eles estão muito atrasados... Os gigantes estão praticamente do nosso lado, e os funcionários do Ministério que são nossos aliados foram advertidos a não demonstrar de forma nenhuma lealdade a mim... Eu não vou cometer os erros do passado...
- E o pergaminho? - Anne perguntou - Eu posso descobrir facilmente o que está escrito. Sirius Black é tão vulnerável... - ela sorriu com sarcasmo, e um brilho de prazer surgiu em seus olhos. Seria fácil seduzir Sirius. Já havia feito isso para poder ficar na Inglaterra quando estava escondida com os Potter.
- Não será necessário, Adrianne. Eu já tive aquele pergaminho em minhas mãos, e o tenho traduzido.
Anne olhou com surpresa para Voldemort.
- Então qual é o feitiço que Ravenclaw usou? Como podemos impedi-lo?
- Ravenclaw se lembrou de um feitiço que há tempos havia sido proibido de ser executado por qualquer algum bruxo. Você conhece as três Maldições Imperdoáveis, é claro... Esse feitiço é pior do que todas as três Maldições... Ele suga toda a magia de um bruxo, e por fazer isso, não existe um contra-feitiço, já que quando um bruxo é atingido por esse feitiço, toda a sua magia desaparece. Potter me tornou algo mais desprezível que um fantasma, mas eu ainda possuía magia, por isso consegui recuperar meu corpo. Se eu for atingido por esse feitiço, não haverá nenhuma possibilidade de eu me recuperar.
Anne olhou impressionada para Voldemort, e admirou a inteligência da fundadora da Corvinal. Realmente, aquele feitiço era a arma perfeita contra Voldemort. Se ele fosse atingido, estaria derrotado para sempre.
- Então devemos impedir que Dumbledore descubra qual é o feitiço imediatamente! - ela disse com veemência.
- De forma nenhuma, Adrianne. - Voldemort disse com um brilho de triunfo - Pelo menos não por enquanto. Eu sei de algo que talvez aquele velho amante de trouxas não saiba...
- O que? - ela perguntou, intrigada.
- Harry Potter não é o único descendente dos Potter. - o Lord das Trevas sorriu ao ver o olhar surpreso da Comensal - O pai de Tiago Potter tinha uma irmã que se casou com um trouxa, e foi morar com ele. Eles tiveram um filho, mas quando eu soube desse detalhe, eles já haviam sido mortos, e o menino estava desaparecido. Não sabemos se ele está morto ou vivo, mas eu poderei saber com a sua ajuda.
-Eu farei o que for da vontade de milorde. - Anne disse humildemente.
- Em Hogwarts há um registro de todas as crianças que nascem com magia no sangue, e esse registro só desaparece quando o bruxo morre. Eu quero que você procure o registro desse garoto. O nome dele é Jack Hardwyn. Se ele estiver vivo, eu não precisarei me preocupar com Harry Potter, pois só o descendente mais velho é capaz de realizar esse feitiço.
Anne concordou com um aceno de cabeça.
- No que depender de mim, milorde, eu descobrirei tudo, e não deixarei que Dumbledore suspeite de qualquer coisa - ela disse corajosamente.
Depois de Bartolomeu Crouch, Voldemort não esperava encontrar um Comensal fiel, mas Anne o surpreendia cada vez mais. Enquanto ela aparatava, ele a observava com um olhar de aprovação. Não tinha a menor dúvida de que Anne era, de todos os Comensais, a mais leal a ele.
A porta de ferro rangeu quando foi aberta vagarosamente. Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, olhou com desprezo para o homem que estava dentro. Na verdade, ele não sabia se poderia chamá-lo de homem. O prisioneiro tinha o corpo tão frágil que ele tinha dúvidas sobre como ainda conseguia ficar de pé. O rosto estava afinalado, os olhos com profundas olheiras, a pele incrivelmente pálida, como se ele fosse um fantasma, mas ao ver que a porta havia sido aberta, olhou para o ministro do lado de fora com um sorriso simpático.
- Olá, Fudge. Como o tempo passa rápido, não é? Parece que foi ontem que você veio fazer a visita anual. Talvez seja porque os dias aqui são terrivelmente entediantes.
Fudge tentou disfarçar o mal-estar. Fazia quase doze anos que Sirius Black havia sido preso, mas ao contrário dos outros prisioneiros, estranhamente, ele mantinha a lucidez.
- Pelo visto, você está muito bem, Black.
- Considerando os outros prisioneiros, acho até que estou muito bem. - ele disse com um sorriso sarcástico - E então, Fudge, como está o trabalho?
- Ehr... - o ministro não conseguia disfarçar o quanto o incomodava aquele olhar curioso de Sirius, tão fora do normal em Azkaban - Estou sempre muito ocupado. - ele cruzou os braços enquanto respondia, revelando o jornal que segurava em uma das mãos.
- O que é isso? - Sirius perguntou, curioso, e apontou - Profeta Diário?
Fudge olhou espantado para o jornal que Sirius apontava, e apressou-se a responder.
- Sim, é, recebi hoje de manhã.
- Você já leu? É que não há muita coisa para se fazer por aqui, e eu realmente sinto falta das palavras cruzadas... - ele disse com tranqüilidade, e não mentia. Sentia-se muito solitário em Azkaban, mas pelo menos, os dementadores não o atingiam. Por isso ele ainda mantinha a sanidade.
- Sim, eu já li, ehr... - ele disse com nervosismo, e entregou o jornal para Sirius apressadamente - Pode ficar com ele. - Fudge fez um gesto para que os dementadores fechassem a porta, mas antes que Sirius fosse trancado, o ministro ouviu o prisioneiro falar animadamente.
- Até o ano que vem, Fudge!
Assim que a porta foi fechada, Sirius começou a ler o jornal. O Chudley Cannons havia sido o último colocado na Liga Britânica de Quadribol mais uma vez... Um funcionário do Ministério da Magia havia ganhado na loteria do Profeta Diário... Os filhos dele freqüentavam Hogwarts... Será que seriam colegas de Harry? Com curiosidade, ele olhou para a foto da família, se concentrando na menina e no menino mais novo, mas, subitamente, seus olhos se abriram mais, deixando transparecer sua surpresa.
- Não pode ser... Ele está em Hogwarts!
Pasmo, Sirius olhava para o rato no ombro do menino mais novo. Ele reconheceria aquele rato em qualquer lugar, afinal, foi com a sua ajuda que Pedro Pettigrew conseguiu se transformar nele. E Rabicho iria para Hogwarts com o garoto, onde Harry também estaria...
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Durante dias, Sirius não conseguiu tirar da cabeça a idéia de que Rabicho estava em Hogwarts, junto com Harry. O prisioneiro sabia que Voldemort havia perdido os poderes, mas ele poderia ressurgir a qualquer momento, os Lestrange, presos depois dele, não cansavam de repetir isso, e com os poderes de seu mestre totalmente restabelecidos, Sirius não duvidava que Pedro fosse capaz de atacar Harry para provar que ainda era leal a Voldemort.
O medo de que algo pudesse acontecer ao afilhado deixou a mente de Sirius em alerta. Cada vez mais ele passava o tempo na forma de cão, tentando encontrar um meio de proteger Harry, sem sucesso, até que um dia, observou que quando os dementadores abriam a porta para deixar a comida, as grades ficavam abertas o suficiente para que ele pudesse passar por elas na forma animaga.
O plano era arriscado, mas Sirius não se importou, e talvez por isso ele conseguiu escapar da prisão, passando pelos dementadores sem ser percebido por estar transformado em animago. E sem que nenhum dementador notasse, Sirius Black fugiu de Azkaban.
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Fazia duas semanas que Sirius havia chegado à costa, e durante esse tempo, havia descoberto muitas coisas, mas deixou tudo de lado para ver Harry. A última vez que ele vira o afilhado foi no dia que o viu nos braços de Hagrid, então, foi para Surrey. Queria rever o afilhado
Era noite quando Sirius chegou em Surrey. Ele caminhava pelas ruas, na forma de cachorro, e cada vez mais se aproximava da rua dos Alfeneiros, mas enquanto caminhava em uma rua de prédios geminados, ele viu um garoto iluminado por um poste, segurando um malão.
- Tiago?! - ele pensou, surpreso. Não podia ser Tiago, ele estava morto. Só podia ser... - Harry!
O garoto olhou para os dois lados da rua, e em seguida, para a varinha. Sirius se aproximou dele, se escondendo no espaço vazio entre uma garagem e a grade atrás de Harry, sem desviar o olhar do garoto, e observou atento ele procurar por alguma coisa dentro do malão. Instintivamente, Sirius deu um passo na direção de Harry, e só percebeu que havia pisado em um graveto quando ouviu o barulho do galho se partir.
Com medo de que Harry o visse, Sirius não se mexeu, mas foi em vão. O garoto pegou a varinha, e disse o feitiço.
- Lumus!
Sirius segurou a respiração, torcendo para que Harry não o visse, mas o garoto tanto o viu quanto se assustou. O cão se aproximou para ajudar Harry, mas antes que pudesse alcançá-lo, um ônibus de três andares roxo-berrante surgiu. Era o Nôitibus Andante, e com medo de ser reconhecido, afinal, ele não sabia se Remo contara que ele era um animago, se escondeu na garagem.
Sirius permaneceu olhando para o lugar onde o ônibus estivera depois que ele desapareceu. Harry parecia amedrontado, como se estivesse fugindo, assim como ele próprio ficou depois que alcançou a terra. Alguma coisa deveria ter acontecido. O cão olhou com severidade, e se tornou humano.
Entre outras coisas, desde que havia fugido, Sirius descobriu que Arabella Figg estava vigiando Harry, mas quando foi para Surrey, não pensava em rever Anne, por causa do que sentia por ela, e por causa do filho que achava que tinha. Se ele tivesse um filho, era melhor para essa criança ficar longe de um pai como ele, mas agora não tinha outra alternativa. Talvez Anne não soubesse que Harry estava fora de casa.
Subitamente, ele se sentiu incrivelmente cansado, como se só agora sentisse as conseqüências de ter caminhado por horas sem parar. Sirius respirou fundo antes de começar a ir para a casa de Arabella Figg.
Sirius encontrou a casa sem menores dificuldades. Ele sentiu que a casa estava enfeitiçada. Qualquer trouxa que passasse em frente à casa, veria todas as luzes apagadas, e pensaria que os moradores estavam dormindo, mas não Sirius. Ele viu a luz da sala acesa, e foi até a janela, observar quem estava na sala.
Anne lia um livro, por isso ele não conseguiu ver direito o rosto dela, e nem ela o viu, mas o gato que estava no colo dela percebeu que alguém os observava, e saltou para a porta. Sirius se abaixou, e enquanto Anne ia até a porta, ele abriu a janela e entrou silenciosamente, ouvindo ela ralhar com o gato.
- Snuffles... Da próxima vez que você ver um cachorro, tente não me assustar, está bem?
Anne ergueu o rosto, e enquanto ela olhava espantada para ele, Sirius a encarava pela primeira vez depois de doze anos. Ela estava diferente da Anne de doze anos atrás. O rosto estava pálido, e os cabelos negros iam até pouco abaixo da cintura, mas a diferença estava no olhar. Era um olhar corajoso, apesar da surpresa por vê-lo, um olhar de quem havia sofrido, mas havia encontrado força de vontade para continuar, e ele sabia que isso era algo que ela nunca mais perderia.
Sirius encarou Anne somente por poucos segundos. A vida dela era mais uma das vidas que haviam sido estragadas por sua culpa, e essa culpa era forte o bastante para fazer com que ele se sentisse intimidado.
Os dois ficaram em silêncio. Sirius sentia que Anne o observava, e ele pensou com sarcasmo que a única coisa que ele queria fazer era dizer o que aconteceu com Harry, mas ver Anne outra vez trouxe a lembrança do filho que ela esperava, e antes que percebesse, estava perguntando pela criança.
- Onde está a criança? - ele perguntou com os olhos pulando de um objeto para o outro, sem se fixar em nenhum ponto.
Sirius percebeu que a pergunta não deixou Anne muito à vontade, e ela desviou o rosto, evitando o encarar. Ele desejou que o que estivesse pensando não fosse verdade, mas quando Anne conseguiu falar, ela disse exatamente o que ele temia.
- Não tem criança. Eu perdi o bebê.
Por alguns segundos, Sirius olhou fixamente para Anne, que se assustou com o olhar dele. Era um olhar vazio, que não demonstrava nada. Um olhar que só uma pessoa que somente por ter sofrido demais e já ter se acostumado com a dor que poderia ter.
Sirius tentou esconder a dor e o sentimento de culpa que sentia. Mais uma vez ele havia falhado com Anne. Primeiro, quando quebrou a promessa de protegê-la sempre, depois, quando foi preso, deixando-a sozinha, e agora, ele se culpava pela perda do filho.
Porém, Sirius não tinha tempo para lamentar a perda do filho, pois agora, sabendo que não havia filho nenhum, ele tinha certeza de que não havia mais qualquer laço entre ele e Anne, e que o que quer que ele sofresse, ela não seria afetada diretamente.
- Você está aqui por causa do Harry, não é?
A voz de Sirius trouxe Anne de volta a realidade, e ela não se surpreendeu por Sirius saber o que ela estava fazendo morando perto da casa dos tios de Harry, afinal, ele a havia encontrado.
- Sim. Eu estou aqui para proteger o garoto.
- O garoto que sobreviveu...! - Sirius disse com um sarcasmo que magoou Anne - Se você quer que ele continue sendo o garoto que sobreviveu, você está fazendo um péssimo trabalho. Eu vi Harry fugindo de casa a alguns minutos no Nôitibus Andante.
Uma onda de raiva invadiu Anne quando Sirius desprezou o seu trabalho, e por alguns instantes, ela se sentiu novamente a garota de quinze anos que havia sido, mas quando se lembrou que Harry estava fora de casa, conseguiu se controlar.
- Onde você o viu?
- Há umas oito ruas daqui. - ele olhou com impaciência para Anne, e disse com desprezo, magoando-a propositalmente. Não poderia deixar ela amá-lo novamente. Ele era um fugitivo, que espécie de futuro poderia dar para ela? - Você está esperando o que para avisar Dumbledore?
Anne ficou por alguns instantes sem saber o que fazer, atrapalhada.
- Vamos logo, o Harry não pode ficar perdido por aí! Não com ele....
Anne olhou com curiosidade para Sirius. Parecia que ele sabia algo que ela não sabia.
- Ele quem?
Sirius olhou assustado para Anne. Ele só havia pensado em voz alta, não esperava que ela o escutasse.
- Vá avisar Dumbledore, quando você voltar nós conversamos melhor.
Anne respondeu com um meneio afirmativo da cabeça, e depois de tomar a poção Melissuco, foi até a lareira e a acendeu.
- Alvo? Alvo, você está aí? - ela perguntou depois de jogar uma espécie de pó nas chamas.
Segundos depois, o rosto do diretor de Hogwarts surgiu na lareira.
- Sim, Arabella. Aconteceu alguma coisa com Harry?
- Harry fugiu de casa, ele está no Nôitibus Andante.
- Você sabe para onde ele foi?
Anne mordeu os lábios, pensando em se virar e perguntar se Sirius sabia de algo, mas ela não queria denunciá-lo.
- Não, Alvo, eu não sei de nada. Só vi Harry entrando no Nôitibus.
- Está bem, Arabella, obrigado por me avisar. Eu falarei com o Ministério, eles terão mais chances de encontrar Harry.
- Eu acho que alguém deveria ir à casa dos tios dele para saber o que aconteceu.
- Eu cuidarei disso. Obrigado, Arabella.
Em seguida, o rosto de Dumbledore desapareceu, e Anne voltou para a sala, no corpo de Arabella Figg. Pouco antes de entrar na sala, ela sentiu um vento frio, mas o ignorou e falou para Sirius.
- Já avisei Dumbledore, agora, Sirius, você poderia me explicar o que você está escondendo?
Só depois que ela terminou de falar é que percebeu que a sala estava vazia, e a porta aberta. Anne olhou com decepção para a porta, percebendo o que havia acontecido: Sirius havia ido embora, e não voltaria tão cedo. Anne caminhou lentamente em direção à porta, e tentou ver um cão preto na rua, mas não o encontrou, e fechou a porta. Enquanto fechava, se lembrou do desprezo de Sirius ao falar sobre ela proteger Harry, e murmurou num misto de raiva e decepção.
- Você vai ver, Sirius. - ela ergueu o rosto com altivez - Eu vou proteger Harry como ninguém seria capaz.
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Assim que Anne foi falar com Dumbledore, Sirius saiu pela porta, e se transformou em cachorro outra vez. Não poderia ficar mais tempo na casa de Arabella Figg, poderia ser descoberto, ou pior ainda, poderia não resistir a todo o amor que ainda sentia por Anne.
Pelo menos o Ministério agora deveria estar procurando por Harry, e assim que o encontrasse, ele ficaria em segurança até voltar para Hogwarts, mas Sirius ainda não estava tranqüilo. Pedro estava em Hogwarts, e ele era o único que sabia disso. Não, não poderia acreditar que Harry estava seguro. O cão que Sirius era olhou para o céu, e partiu, com somente uma obsessão: ir para Hogwarts.
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Anne sentou-se na cama de uma vez, sentindo uma dormência familiar no braço esquerdo. O que ela esperava desde o começo de setembro de 1994, quando viu a Marca do braço esquerdo brilhar vivamente, havia acontecido. Voldemort havia voltado. Rapidamente, Anne se levantou, cobriu-se com uma capa negra, e aparatou.
Demorou alguns instantes para ela perceber onde havia desaparatado. Era um cemitério, e ao ouvir vozes, Anne se escondeu atrás de uma lápide antes que fosse descoberta, e passou a observar a cena.
Vários bruxos envolvidos em capas negras também acabavam de desaparatar, e iam à direção de Voldemort. Ele poderia ter ficado treze anos vagando pelo mundo, sem estar vivo ou morto, mas agora, havia voltado, e ainda era poderoso, Anne reconheceu.
Voldemort recepcionou os Comensais com crueldade, e ela não esperava outra coisa. Em seguida, ele virou-se para Pettigrew, e Anne olhou com desprezo para o bruxo. Rabicho só havia procurado Voldemort porque não tinha mais a proteção do disfarce de rato, pelo menos não em Hogwarts. Anne sabia que o bruxo estava vivo porque Dumbledore contou a ela todos os acontecimentos do terceiro ano de Harry, e disse que o garoto precisava ser vigiado mais atentamente.
Rabicho recebeu uma nova mão, e Voldemort continuou a falar com seus Comensais.
- ...E aqui temos seis Comensais da Morte ausentes... três morreram a meus serviços. Um demasiado covarde para voltar... ele me pagará. Um que eu acredito ter me deixado para sempre... este será morto, é claro... e um que continua sendo meu mais fiel servo, e que já reingressou no meu serviço. Ele está em Hogwarts, esse servo fiel, e foi graças a seus esforços que nosso jovem amigo chegou aqui esta noite.
Os Comensais olharam para o garoto que estava no meio do círculo, e só então Anne viu que Harry estava lá, mas ela não fez nada para ajudar o filho de Lílian e Tiago Potter, nem quando Voldemort o atingiu com o feitiço Cruccio. Anne continuou escondida, observando o que estava acontecendo.
Voldemort e Harry duelavam. Anne não deixou de admirar o sangue-frio de Harry. Apesar de ter sido atingido pelo Cruccio mais uma vez, ter resistido ao feitiço Imperio, ele conseguiu escapar por instantes de Voldemort, mas foi corajoso o bastante para encarar o Lord das Trevas e lutar.
Os dois disseram o feitiço ao mesmo tempo, mas nenhum dos dois foi atingido. Ao invés disso, um fio de luz uniu as duas varinhas, e os corpos de Harry e Voldemort flutuaram no ar. Harry titubeou, e a luz que saía da varinha de Voldemort se aproximou da sua varinha, mas o garoto segurou a sua própria varinha com determinação. Em seguida, a luz começou a voltar em direção à varinha de Voldemort vagarosamente, enquanto a varinha do bruxo tremia em sua mão, e sons de grito e dor começaram a sair dela, sendo seguidos pela sombra da mão de Rabicho e mais gritos de dor.
Então algo muito largo começou a sair da varinha de Voldemort. Primeiro a cabeça, depois o corpo, e Anne viu o vulto de um rapaz, quase que como um fantasma, que falou com Harry.
Mais gritos de dor saíram da varinha... Um outro vulto surgiu, e uma mulher saiu da varinha de Voldemort. Era Berta Jorkins, Anne se lembrava dela de Hogwarts, apesar dela ter estado alguns anos adiantados a ela.
Uma outra cabeça surgiu. Anne não respirava, na expectativa de confirmar uma suspeita de quem seria o próximo vulto a sair da varinha. Era Lílian Potter, e logo depois, o vulto de Tiago Potter saiu da varinha de Voldemort. Eles falaram com Harry, enquanto Voldemort os encarava com surpresa e temor, mas sem reagir.
Anne não conseguia escutar o que os Potter falavam, mas quando Harry quebrou o elo que unia as duas varinhas, ela soube o que Tiago e Lílian falaram com o filho. Os olhos de Harry foram à direção de um troféu que estava quase ao lado de Anne, mas antes de segurar o troféu, Harry correu em direção ao corpo do rapaz, ignorando os Comensais que o perseguiam, e os feitiços que passavam pelo eu corpo, não o atingindo por poucos centímetros.
Harry conseguiu alcançar o rapaz, mas estava claro que se ele tentasse ir até o troféu, seria capturado por Voldemort, mas o garoto surpreendeu a todos quando apontou a varinha para o troféu, e disse o feitiço, a última coisa que disse antes de desaparecer.
- Accio!
Os Comensais ainda tentaram lançar feitiços, apesar de Harry não estar mais no cemitério, porém, não queriam encarar Voldemort depois de terem deixado o garoto escapar.
- Seus imprestáveis! - Voldemort bradou com fúria depois de um silêncio tenso - Mesmo depois de treze anos, vocês ainda cometem os mesmos erros estúpidos!
- Mas, mestre, nós não...
- Quieto, Macnair! Saia da minha frente! Todos vocês, desapareçam!
E antes que Voldemort mudasse de idéia, os Comensais aparataram, exceto Rabicho, que foi falar com o Lord das Trevas.
- Me-me-mestre, aquele menino só teve sorte, eu garanto que da próxima vez...
- Você não ouviu o que eu disse, Rabicho?! Desapareça, seu verme inútil!
- Si-si-sim, milorde, sim... - ele disse balançando a cabeça várias vezes, e voltou para a casa.
Ao se ver sozinho, Voldemort soltou um suspiro, e virou-se.
- E quanto a você... - ele disse olhando em direção à lápide na qual Anne estava escondida - Prefere se revelar, ou terei que ir até aí?
Anne fechou os olhos, e sem hesitar, levantou-se. Se Voldemort ficou surpreso ao ver a mulher, soube disfarçar muito bem.
- Ora, ora, ora... Adrianne Snape... Pensei que estava morta... - em nenhum momento o Lord das Trevas desviou o olhar astuto de Anne.
- Você não é o único... - ela respondeu com um sorriso sarcástico - Mas, como pode ver, estou de volta.
Voldemort observou Anne cuidadosamente. Podia sentir que ela estava nervosa, mas ao mesmo tempo, ansiosa. Não mataria ela agora. Queria ouvir o que ela tinha a dizer, afinal, ela não o procuraria por nada.
- E como você... - ele disse em tom sarcástico - ... voltou do mundo dos mortos?
- Tudo aconteceu no ataque aos Potter. Eu fui atingida por um feitiço, e desmaiei. Quando acordei, estava no corpo de Arabella Figg. Sirius Black havia trocado nossas identidades.
- Por que ele faria isso? - o Lord das Trevas perguntou astutamente.
- Ele sempre foi apaixonado por mim, desde Hogwarts. - ela respondeu em tom firme - Queria... me proteger. - ela disse com um sorriso irônico - Eu pensei em fugir quando percebi que não iria para Azkaban porque todos me consideravam morta, mas quando Black disse que eu iria me esconder com os Potter, achei que o melhor seria fingir que estava arrependida de tudo o que eu fiz, e me escondi com os Potter. Queria conseguir o máximo de informações possíveis para entregá-las a milorde.
- Você se escondeu com os Potter? - ele olhou enfurecido para Anne - Então porque não me disse imediatamente onde eles estavam?
- Eu não poderia fazer sem que Sirius desconfiasse de mim, e eu pretendia continuar espionando a Ordem da Fênix depois que os Potter fossem mortos.
- E quando você pretendia me contar o que sabia sobre os Potter? - Voldemort disse começando a duvidar de que Anne falava a verdade.
- Eu fui para o castelo de milorde enquanto Sirius levava Pedro para fazer o feitiço Fidelius, mas quando cheguei, não havia ninguém, e eu tive que voltar, Sirius não poderia suspeitar que eu não estava arrependida. Cheguei na casa dele antes que Sirius voltasse, e por pouco ele não descobriu a verdade. Depois disso, não tive mais nenhuma oportunidade de sair de casa, e infelizmente, milorde perdeu os poderes em Godric's Hollow.
Voldemort encarou Anne com os olhos semicerrados. O que ela dizia poderia ser verdade ou mentira, mas ele iria arriscar confiar nela. Era mais prudente tê-la por perto. Se estivesse sendo enganado, Adrianne teria o merecido castigo.
- Sim, hoje sei que fui apressado demais, e confiei nas pessoas erradas... Por isso, não quero cometer mais o mesmo erro, e pergunto porque deveria confiar em você...
Um sorriso de triunfo surgiu no rosto de Anne.
- Assim que os Potter morreram, Dumbledore quis falar com Arabella Figg, e eu fui, disfarçada com a poção Polissuco. Ele me disse que era da vontade dos Potter que eu fosse a tutora de Harry caso algo acontecesse com Sirius Black, e eu aceitei proteger Harry Potter. Eu sei onde o garoto está, e posso levar milorde até ele assim que for possível, embora eu ache que seria melhor esperar um pouco mais. Eu posso conseguir informações valiosas da Ordem da Fênix, afinal, Dumbledore nunca desconfiaria de Arabella Figg.
- E como ninguém nunca suspeitou que a Arabella Figg que eles conheciam não era a mesma que cuidava de Harry? Afinal, o efeito da poção Polissuco só dura uma hora...
- Milorde, meu irmão sempre foi interessado em poções, e eu aprendi muitas com ele, inclusive a poção Melissuco, muito mais forte que a Polissuco. Severo nunca imaginou que eu poderia usar o conhecimento dele contra seus aliados. - ela finalizou com uma expressão de triunfo no rosto.
Voldemort observou Anne minuciosamente, e percebeu o que havia sentido de estranho na mulher no dia em que ela recebeu a Marca. Adrianne Snape era traiçoeira, assim como o pai havia sido, e ele estava satisfeito por tê-la como aliada.
- Será ótimo contar com seus serviços, Snape. Você está preparada?
- Milorde. - ela disse, ajoelhando-se - Estou aqui para servi-lo.
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Anne soube que Bartolomeu não estava morto, mas não chegou a ver o antigo namorado. Antes que isso acontecesse, ele recebeu o beijo do dementador, mas logo ela esqueceu-se de Bartolomeu. Tinha várias coisas para fazer. Diariamente, mandava para Voldemort informações sobre Harry, a família, a casa, e o que ele estava fazendo nas férias.
Paralelo a isso, Anne foi para a primeira reunião da Ordem da Fênix como Arabella Figg. Remo Lupin a avisou, e no dia marcado, ela foi para o castelo de Hogwarts.
Anne estava ansiosa pela reunião, pois iria reencontrar o irmão depois de tantos anos. Remo havia dito que Severo fazia parte da Ordem, e Anne não sabia como iria conseguir encarar o irmão. Apesar dela estar espionando para Voldemort, ainda amava o irmão, e sempre amaria.
Como da outra vez que esteve em Hogwarts, Hagrid a recepcionou, e a levou até a sala do diretor. A sala de reuniões da Ordem ficava escondida na sala de Dumbledore, e lá estavam vários bruxos que Anne conhecia do Ministério, como Mundungo Fletcher, Alastor Moody, e outros. Anne não encontrou Severo, mas viu que Sirius estava lá, e evitou olhá-lo. Ele sempre percebeu o que ela sentia somente olhando para ela, e Anne temia que ele descobrisse que ela era a espiã de Voldemort.
A reunião começou quando Dumbledore entrou na sala. Ele falou sobre o que a Ordem da Fênix faria para impedir o avanço de Voldemort, e então soube porque Severo não estava lá. Naquela noite, ele havia sentido o chamado de Voldemort mais uma vez, e foi mostrar para o Lord das Trevas que era fiel a ele, e não a Dumbledore, mas tudo não passava de um truque. Severo seria o espião da Ordem da Fênix na Ordem das Trevas, e Anne não deixou de pensar o quanto isso era irônico.
No restante da reunião, Dumbledore informou o que os outros iriam fazer. Hagrid e a diretora de Beauxbatons iriam procurar os gigantes. Fletcher e Moody tentariam descobrir no Ministério as pessoas que começariam a mostrar simpatia por Voldemort. Sirius e Remo estavam trabalhando na tradução de uns pergaminhos velhos, e estavam quase descobrindo qual era o feitiço que somente Harry Potter seria capaz de executar para derrotar Voldemort.
A reunião terminou sem que Dumbledore dissesse o que queria que Arabella Figg fizesse, mas antes que ela fosse embora, o diretor a chamou.
- Espere, Arabella. Eu gostaria de falar com você a sós, se não se importar.
- De forma alguma, Alvo - Anne, no corpo de Arabella Figg, respondeu, sem deixar de notar o olhar curioso de Sirius.
- O que eu tenho para falar com você não é assunto da Ordem, pelo menos não diretamente, por isso esperei para conversarmos ao final da reunião. Depois dos acontecimentos do último ano na escola, Arabella, eu achei que Harry e os outros alunos estariam mais seguros com uma professora com maior experiência em combate contra as Artes das Trevas, e pensei se você não gostaria de ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas no próximo período letivo de Hogwarts.
Arabella Figg sorriu, encantada com a proposta.
- Mas é claro que aceito, Alvo! Terei o maior prazer em ensinar novamente aqui em Hogwarts! - enquanto sorria, Anne pensava em quão orgulhoso Voldemort ficaria dela, e depois de se despedir do diretor, voltou para casa.
Enquanto se deitava, Anne sentiu a tatuagem queimar no braço esquerdo, e aparatou, reaparecendo na sala de reuniões da Ordem das Trevas, no antigo castelo de Voldemort.
Voldemort estava sentado na mesma cadeira imponente, e com um gesto da mão, fez com que Anne se aproximasse.
- Seu irmão acabou de sair do castelo. Ele me disse que estava arrependido de ter dado informações sobre a Ordem das Trevas para Dumbledore, que não passava de um velho maluco e tolo por insistir em lutar contra mim, e disse que ele não era estúpido para ficar no lado perdedor novamente - ele olhou com ardileza para Anne.
Era um teste. Desde que Anne havia procurado Voldemort, ele testava a lealdade dela, e Anne sabia que estava sendo testada.
- Ele está nos espionando. Dumbledore disse hoje que era esse o trabalho de Severo.
- Muito bem, Adrianne... - Voldemort olhou com aprovação para ela - Qual castigo você acha que ele merece?
Anne fez um meneio com a cabeça, e respondeu calmamente.
- Nenhum, milorde.
A expressão de Voldemort não se alterou, exceto por um brilho cruel em seu olhar.
- Está protegendo o seu irmão?
Anne deu uma pequena risada.
- Claro que não, milorde! Mas se soubermos usar Severo, ele poderá nos ser muito útil.
- Explique-se - Voldemort disse friamente.
- Poderemos passar informações erradas sobre o que faremos para ele, assim confundiremos a Ordem da Fênix.
- Continue.
- Precisaremos que alguém seja culpado quando os planos de Dumbledore começarem a falhar, e quando a Ordem da Fênix for derrotada. Severo já foi um dos seus Comensais mais fiéis, não será difícil para os membros da Ordem da Fênix concluir que ele resolveu retomar os velhos hábitos, ao invés de suspeitarem de que outra pessoa traiu a Ordem da Fênix. É por isso que Severo é mais útil para nós vivo que morto. Quanto ao castigo, acho que os aliados de Dumbledore poderão fazer esse trabalho sujo - ela finalizou com um brilho de triunfo no olhar.
- Ótimo plano, Adrianne... - Voldemort disse com um pequeno sorriso no rosto, e um brilho de satisfação no olhar - Agora conte-me tudo sobre a reunião. O que você terá que fazer?
- Eu não recebi nenhuma missão da Ordem, mas Dumbledore pediu que eu ensinasse em Hogwarts..
- Será perfeito ter você em Hogwarts, vigiando aquele garoto por mim... - ele sorriu astutamente, mas ficou sério em seguida - O que os outros estão fazendo?
- Hagrid e a diretora de Beauxbatons irão procurar os gigantes. Fletcher e Moody tentarão descobrir que funcionários do Ministério estarão do nosso lado. Black e Lupin estão trabalhando na tradução de um pergaminho que fala sobre o feitiço que poderá destruí-lo, milorde.
O que Anne disse pareceu deixar Voldemort muito satisfeito.
- Eles estão muito atrasados... Os gigantes estão praticamente do nosso lado, e os funcionários do Ministério que são nossos aliados foram advertidos a não demonstrar de forma nenhuma lealdade a mim... Eu não vou cometer os erros do passado...
- E o pergaminho? - Anne perguntou - Eu posso descobrir facilmente o que está escrito. Sirius Black é tão vulnerável... - ela sorriu com sarcasmo, e um brilho de prazer surgiu em seus olhos. Seria fácil seduzir Sirius. Já havia feito isso para poder ficar na Inglaterra quando estava escondida com os Potter.
- Não será necessário, Adrianne. Eu já tive aquele pergaminho em minhas mãos, e o tenho traduzido.
Anne olhou com surpresa para Voldemort.
- Então qual é o feitiço que Ravenclaw usou? Como podemos impedi-lo?
- Ravenclaw se lembrou de um feitiço que há tempos havia sido proibido de ser executado por qualquer algum bruxo. Você conhece as três Maldições Imperdoáveis, é claro... Esse feitiço é pior do que todas as três Maldições... Ele suga toda a magia de um bruxo, e por fazer isso, não existe um contra-feitiço, já que quando um bruxo é atingido por esse feitiço, toda a sua magia desaparece. Potter me tornou algo mais desprezível que um fantasma, mas eu ainda possuía magia, por isso consegui recuperar meu corpo. Se eu for atingido por esse feitiço, não haverá nenhuma possibilidade de eu me recuperar.
Anne olhou impressionada para Voldemort, e admirou a inteligência da fundadora da Corvinal. Realmente, aquele feitiço era a arma perfeita contra Voldemort. Se ele fosse atingido, estaria derrotado para sempre.
- Então devemos impedir que Dumbledore descubra qual é o feitiço imediatamente! - ela disse com veemência.
- De forma nenhuma, Adrianne. - Voldemort disse com um brilho de triunfo - Pelo menos não por enquanto. Eu sei de algo que talvez aquele velho amante de trouxas não saiba...
- O que? - ela perguntou, intrigada.
- Harry Potter não é o único descendente dos Potter. - o Lord das Trevas sorriu ao ver o olhar surpreso da Comensal - O pai de Tiago Potter tinha uma irmã que se casou com um trouxa, e foi morar com ele. Eles tiveram um filho, mas quando eu soube desse detalhe, eles já haviam sido mortos, e o menino estava desaparecido. Não sabemos se ele está morto ou vivo, mas eu poderei saber com a sua ajuda.
-Eu farei o que for da vontade de milorde. - Anne disse humildemente.
- Em Hogwarts há um registro de todas as crianças que nascem com magia no sangue, e esse registro só desaparece quando o bruxo morre. Eu quero que você procure o registro desse garoto. O nome dele é Jack Hardwyn. Se ele estiver vivo, eu não precisarei me preocupar com Harry Potter, pois só o descendente mais velho é capaz de realizar esse feitiço.
Anne concordou com um aceno de cabeça.
- No que depender de mim, milorde, eu descobrirei tudo, e não deixarei que Dumbledore suspeite de qualquer coisa - ela disse corajosamente.
Depois de Bartolomeu Crouch, Voldemort não esperava encontrar um Comensal fiel, mas Anne o surpreendia cada vez mais. Enquanto ela aparatava, ele a observava com um olhar de aprovação. Não tinha a menor dúvida de que Anne era, de todos os Comensais, a mais leal a ele.
