28. JOGO DUPLO
Harry acordou desanimado. Era aniversário do seu primo Duda, e ele ficaria na casa de Arabella Figg enquanto seus tios e Duda comemorariam a data em um parque de diversões.
Não que Harry quisesse ir com os Dursley. Na verdade, quanto mais tempo ele ficasse longe dos parentes, melhor seria. O problema era ter que ficar na casa de Arabella Figg.
Arabella Figg era uma senhora idosa que morava na rua de frente à casa dos Dursley, e sempre que eles não podiam ficar com Harry, eles pediam para a vizinha cuidar do garoto. Harry se animaria mais se a casa da mulher não cheirasse a repolho e se ela não passasse o tempo a falar dos gatos dela.
Com um suspiro de desânimo, Harry desceu e encontrou os Dursley na sala, já arrumados.
- Venha comigo. - tia Petúnia disse com desagrado - Tenho que deixar você na casa da senhora Figg antes de irmos.
Harry não pensou em reclamar por não ter comido ainda, e foi com a tia até a casa da vizinha.
Aquele verão estava sendo o pior de todos. Apesar de Rony e Mione mandarem cartas quase que diariamente para ele, Harry não conseguia se animar. Voldemort havia voltado no final do semestre passado, mais forte do que nunca, e nesse reencontro, um colega de Hogwarts havia sido morto.
Harry gostaria de poder desabafar com alguém, mas não queria preocupar os amigos, e Sirius estava trabalhando em uma missão secretíssima da Ordem, ele havia dito na última carta.
- Bom dia, senhora Figg! - o tom falso da voz de tia Petúnia tirou Harry de seus pensamentos - Eu trouxe Harry para passar o dia com a senhora, já que ele preferiu não ir para o parque, e eu não posso deixar o garoto sozinho, algo pode acontecer! - ela disse as últimas palavras quase num sussurro.
Arabella Figg concordou com a cabeça, parecendo preocupada com Harry, sem suspeitar que Petúnia estava preocupada com sua casa.
- Não há problema nenhum, senhora Dursley, ficar com Harry vai ser uma alegria para mim - a senhora Figg olhou com compaixão para Harry, e por alguns instantes, ele se arrependeu de não querer ficar com a vizinha.
- Que ótimo, querida! - a tia Petúnia disse, animada por se livrar do sobrinho, e voltou-se para ele - Eu já vou indo, seu tio e Duda estão me esperando. Comporte-se! - ela advertiu em tom irritado, e saiu, deixando a senhora Figg e Harry a sós.
- Entre, garotinho... - a senhora Figg disse educadamente, mas antes que Harry pudesse entrar, um dos gatos da senhora Figg saltou na frente dele - Snuffles, quantas vezes eu vou ter que dizer para você parar de assustar as pessoas?!
Enquanto a senhora Figg falava, Harry olhou com incredulidade para ela. Snuffles era o apelido pelo qual ele chamava Sirius quando conversava com Rony e Mione em Hogwarts e por cartas.
- É melhor você ficar do lado de fora, Snuffles, a não ser que queira me ver irritada! - o gato miou raivosamente para a senhora Figg, e desapareceu entre as plantas do jardim. A senhora Figg olhou para Harry - Desculpe-me pelo Snuffles, às vezes ele não sabe se comportar. Mas, entre!
Harry entrou na casa, ainda curioso. Será que a senhora Figg conhecia Sirius? Não, era impossível. A senhora Figg era uma mulher muito cética, parecia abominar qualquer coisa que lembrasse magia. Deveria ser apenas uma coincidência.
O restante do dia passou sem nenhum outro problema. Harry viu as fotos dos gatos da senhora Figg sem empolgação, comeu um pudim com gosto de queimado, mas apesar de tudo isso, Harry conseguiu ficar desanimado quando a campainha tocou, e ouviu a voz de tia Petúnia enquanto ela conversava com a senhora Figg.
- Harry! - o rapaz se levantou do sofá quando a tia o chamou, e foi até ela - Obrigada, senhora Figg, por cuidar dele.
- Não há de que.
A senhora Figg começou a fechar a porta, mas tia Petúnia fez ela parar.
- Harry, você não diz nada para a senhora Figg?
Harry voltou-se para a senhora Figg, mas nesse instante, ele sentiu sua cicatriz doer como não havia doído durante todas as férias. A mão que ele havia erguido parou no ar, e ele engoliu em seco. Não poderia deixar que transparecesse o que estava sentindo. Harry tentou se recuperar o mais rapidamente possível, e respondeu com dificuldade.
- Obrigado, senhora Figg, por ter cuidado de mim, e desculpe qualquer incômodo.
A senhora Figg sorriu graciosamente.
- Não foi incômodo nenhum, Harry.
A senhora Figg se afastou da porta, e esticou o braço esquerdo para acariciar o rosto de Harry, mas quando fez isso, Harry viu, nitidamente, a Marca Negra de Voldemort. Harry deu um passo para trás num impulso, e seu rosto empalideceu. Percebendo o mal-estar de Harry, e achando que era porque não queria ser tocado, a senhora Figg abaixou a mão e sorriu.
- Eu posso cuidar do Harry sempre que for necessário, senhora Dursley.
Tia Petúnia respondeu com um aceno da cabeça, e empurrando Harry, se afastou da casa da velha vizinha.
Anne só teve tempo de fechar a porta para a imagem de Arabella Figg desaparecer, e reassumir seu corpo. Ela olhou para o braço esquerdo, e aparatou.
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Anne não precisou cuidar de Harry no restante do verão, mas ela tinha muitas coisas a fazer. As aulas em Hogwarts começariam em setembro, e ela preparava o material das aulas. Além disso, havia as reuniões da Ordem da Fênix e os encontros com Voldemort. Rapidamente, o verão passou, e dois dias antes das aulas começarem, Anne foi para Hogwarts no corpo de Arabella Figg, para ser apresentada aos outros professores.
Mais uma vez, Severo não estava em Hogwarts por causa de uma missão da Ordem das Trevas. Anne só reencontraria o irmão na festa de volta às aulas.
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O grande salão de Hogwarts estava cheio. Os alunos conversavam animadamente, mas todos se calaram quando a professora Minerva entrou no salão, seguida pelos novos alunos. Todos olhavam surpresos para um garoto franzino, de cabelos castanhos sem brilho, que estava numa cadeira de rodas, exceto os sonserinos, que apontavam para o garoto e não escondiam o riso de deboche.
A seleção começou, e enquanto os alunos eram selecionados para as casas, alguns conversavam sobre em qual casa o garotinho na cadeira de rodas ficaria. A seleção estava quase no fim. Só restava um aluno para ser selecionado, o garoto na cadeira de rodas, e a diretora da Grifinória anunciou o nome dele.
- William Wilder!
Empurrando a cadeira com as próprias mãos, William andou até a professor McGonagall, que colocou o chapéu sobre a cabeça do garoto. Não demorou muito para o chapéu dar a resposta.
- Sonserina!
Pela primeira vez naquela noite, mas não pela última, os alunos emudeceram, e olharam abismados para o chapéu. Os sonserinos estavam visivelmente irritados, e enquanto William Wilder ia até a mesa, eles olharam com desprezo para o garoto. Antes que os alunos começassem a conversar entre si, Dumbledore se levantou.
- Sejam bem-vindos, alunos, para mais um ano em Hogwarts! Sei que todos devem estar ansiosos para o banquete, mas antes, gostaria de apresentar a vocês a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Arabella Figg.
Os alunos começaram a cochichar entre si, falando sobre Arabella Figg com admiração, enquanto a professora entrava no salão e cumprimentava os professores da grande mesa antes de se sentar, mas ela estancou quando viu Severo.
Ao ver o irmão depois de tantos anos, Anne pendeu a respiração. Ele estava diferente, com uma aparência mais sombria do que da última vez que o vira, e havia um brilho de raiva no olhar, mas foi outra coisa que a surpreendeu mais ainda, e ela não conseguiu ficar calada.
- Severo Snape, o que você fez com o seu cabelo?!
O burburinho de conversa terminou imediatamente, e todos os alunos olharam pasmos para a professora, até mesmo alguns professores, mas isso só durou um segundo. No instante seguinte, todo o salão explodiu em uma gargalhada, e o professor Snape olhou para Arabella Figg com ódio enquanto murmurava em tom ofendido.
- Minha higiene pessoal só diz respeito a mim, professora.
Anne, no corpo de Arabella Figg, hesitou ante o olhar furioso do irmão, e quando falou, gaguejou um pouco.
- Sim, sim, claro, professor, me desculpe, eu...
- Bella, é melhor você se sentar - a professora McGonagall falou, severa.
- Sim, Minnie - Arabella disse humildemente, e se sentou.
Na mesa da Grifinória, Rony Weasley enxugava algumas lágrimas.
- Não importa como seja a aula da professora Figg, mas já sei que ela vai ser minha professora preferida!
- Francamente, Rony! - Hermione o repreendeu - Teria sido melhor para ela se ela tivesse ficado calada, não acha, Harry?
Mas Harry olhava fixamente para Arabella Figg. Depois que viu a Marca Negra no braço dela, teve certeza que ela era uma bruxa, e que Sirius deveria conhecê-la, mas se ela era uma Comensal, como Dumbledore poderia ter deixado ela ensinar em Hogwarts?
- Harry? - Rony chamava o amigo pela terceira vez, e agora cutucava o ombro dele - O que foi? Você não ouviu a Mione?
- Não, desculpa, mas é que eu estava pensando na nova professora... Eu conheço ela, ela é minha vizinha, não se lembra, Rony, que eu falei de uma mulher que cuidava de mim quando os Dursley saíram?
Rony arregalou os olhos e olhou com surpresa para Harry.
- É mesmo! Você tinha me dito isso, mas na hora eu não pensei que fosse a mesma pessoa... Caracas! Arabella Figg é sua vizinha!
- Mas não é só isso, Rony. - ele continuou falando quase num sussurro - Nessas férias, meus tios me deixaram na casa dela mais uma vez, e eu vi no braço dela a Marca Negra.
Rony e Hermione olharam surpresos para Harry.
- Tem certeza, Harry? Não pode ser, Arabella Figg sempre foi contra Você-Sabe-Quem!
- Não foi só impressão, Harry? Eu já li sobre a professora Figg em alguns livros, e ela não parece ser do tipo que se aliaria a Você-Sabe-Quem.
- Sim, Rony, eu tenho certeza, e não foi impressão, Mione. Ela tinha a Marca Negra no braço esquerdo, assim como o Snape. Mas isso não foi o mais estranho. O mais estranho é que um dos gatos dela se chama Snuffles.
Rony deixou cair a coxa de frango que comia, mas foi Hermione quem falou.
- Aí está a prova de que você só teve a impressão de ter visto a Marca, Harry. - ela continuou a frase em tom baixo - Sirius deve conhecer Arabella Figg, por isso adotou o nome de Snuffles, e acho que ele não seria amigo de um Comensal. Quer dizer, ele mal consegue suportar o Snape, apesar dele não ser mais um Comensal. E Dumbledore não deixaria que um Comensal ensinasse em Hogwarts, não depois do que aconteceu no último ano.
Hermione continuou a comer, dando o assunto por encerrado, mas Harry não estava tranqüilo. Assim como o último professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Arabella Figg poderia ser um Comensal de Voldemort, mas se ele não conseguiria convencer nem os próprios amigos, como conseguiria convencer Dumbledore?
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- Qual é a primeira aula? - Rony perguntou para Hermione quando a encontrou na sala comunal da Grifinória na manhã seguinte.
- Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Bem, se ela for um Comensal, vamos saber na aula, afinal, ela não vai querer ensinar Harry Potter a se defender de Você-Sabe-Quem.
Hermione girou os olhos.
- Rony, o Crouch foi nosso professor no ano passado, e apesar dele ser um Comensal, ensinou para Harry como lutar contra a Maldição Império depois que é atingido.
- Então você acha que ela pode ser um Comensal? - Rony perguntou, surpreso.
- É claro que não, Rony. - ela respondeu em tom impaciente - É melhor irmos para o salão, eu não quero chegar atrasada na aula.
Harry acompanhou os amigos até o salão, mas comeu pouco. Pensava num modo de convencer Rony e Hermione de que Arabella Figg era um Comensal, mas parecia que ia ser difícil, quase tão difícil quanto convencer Dumbledore, Harry pensou, enquanto se lembrava da conversa que teve com o diretor e a professora na noite anterior, em que o diretor explicou que Arabella Figg o protegia desde que ele morava com os Dursley.
Assim que os dois amigos terminaram de comer, eles foram para a sala da professora Figg, porém, pararam ao ver a professora Minerva ir falar com eles.
- O diretor quer falar com vocês.
Harry, Rony e Hermione seguiram a professora de Transfiguração até a sala de Dumbledore, onde eles entraram depois que Minerva disse a senha.
- Aqui estão eles, diretor.
- Obrigado, Minerva - Dumbledore cumprimentou a colega, que saiu da sala em seguida. Ao ficar a sós com os três alunos, o diretor fez um gesto para eles se sentarem.
- Alguma notícia de Voldemort? - Harry perguntou de supetão, ignorando a careta de Rony.
- Não, Harry, e isso só me faz recear por você. Voldemort deve estar juntando aliados antes de dar o primeiro passo, e para sua segurança, resolvi trazer uma pessoa a Hogwarts para proteger você.
O diretor se levantou, e abriu uma porta, e dela saiu um enorme e peludo cão preto, que imediatamente Harry reconheceu.
- Sirius!
O cão se transformou em Sirius, e abraçou o afilhado. Harry sorriu, feliz por ver o padrinho, pois nas férias, só havia recebido cartas dele.
- Harry!
Dumbledore esperou os dois se separarem para continuar.
- Infelizmente, Sirius não ficará com você por uma razão feliz. Ele está aqui para proteger você, Harry, e deverá permanecer o tempo todo na forma de cão. - diretor disse com severidade, e olhou para os três alunos - Ninguém pode saber que o cachorro de Harry é Sirius.
- Nós não vamos falar nada, Dumbledore - Hermione disse em tom firme.
- Com certeza - Rony concordou, com uma expressão séria no rosto.
- Bem, então é melhor vocês irem para a aula, eu já os atrasei demais.
Sirius, Harry, Rony e Mione se despediram do diretor, e depois de Sirius se transformar em cão, eles saíram.
- O que foi, Snuffles? - Harry perguntou olhando para o cachorro, que tocava a sua mão com o focinho.
- Acho que ele quer saber qual é a próxima aula... - Hermione respondeu em tom duvidoso.
- É Defesa Contra as Artes das Trevas, Snuffles. - Rony disse - A professora é a Arabella Figg, você não conhece? - ele perguntou encarando o cão.
O cão parou de andar, e depois de hesitar, ele desapareceu.
Rony e Harry trocaram olhares intrigados.
- Ehr... - Rony falou, gaguejando um pouco - Acho que você pode estar certo, Harry...
Hermione olhou indignada para os dois.
- Vocês deveriam parar de falar besteira e andar mais rápido. A aula já deve ter começado - e com passos rápidos, a garota foi para a sala de aula.
A professora Figg entrou na sala minutos depois que a sineta tocou, parecendo bastante calma.
- Bom dia, alunos. - ela sorriu - Essa não é a primeira vez que eu dou aulas em Hogwarts, e não é a primeira vez que ensinarei em tempos de trevas, por isso, espero que minhas aulas sejam aproveitadas por todos. Todos vocês têm o livro da matéria?
Os alunos trocaram olhares temerosos enquanto pegavam um livro pequeno, intitulado "O Lado Sombrio das Criaturas Sombrias - Volume 56: Dementadores".
- Vejo que todos têm o livro, ótimo. - a professora Figg sorriu, parecendo não perceber a aflição dos alunos, pois só de tocar no livro, eles se sentiam um pouco tristes - Como vocês podem ver, nós estudaremos os dementadores. Eu soube dos vários acidentes que aconteceram por causa deles, e achei que seria melhor vocês estarem prevenidos caso entrem em contato com dementadores novamente, mas não precisam se preocupar. Teremos muitas aulas teóricas antes de praticarmos com um verdadeiro dementador, e revisaremos as matérias dadas pelos professores dos anos anteriores, afinal, esse é o ano dos N.OM.'s de vocês, se não me engano. - ela se sentou, sorrindo, mas os alunos não estavam nem um pouco animados com a possibilidade de ter aulas práticas com dementadores. - Mas antes de qualquer coisa, é melhor eu conhecer vocês, já que devo crer que vocês já sabem muito sobre mim - Arabella Figg começou a fazer a chamada, e depois se levantou. - Como eu disse antes, estudaremos os dementadores. Alguém sabe me dizer porque os dementadores são tão temidos?
A mão de Hermione ergue-se, mas a professora Figg voltou-se para Simas Finnigan.
- Simas, você poderia responder?
O rapaz olhou surpreso para a professora, e respondeu, depois de gaguejar por instantes.
- Eles sugam a felicidade, professora Figg? - ele disse em tom incerto.
- Muito bem. Qual é a forma mais eficiente de combater um dementador? - ela olhou para Rony - Ronald.
- Conjurando um Patrono.
- Excelente. - Arabella olhou com satisfação, apesar do olhar magoado de Mione - O Patrono é a melhor forma de combater um dementador, e eu os ensinarei a fazer isso, mas antes, vocês conhecerão os dementadores profundamente...
E até o restante da aula, Arabella Figg explicou como os dementadores surgiram, e como um novo dementador era criado. Quando a aula terminou, todos os alunos pareciam animados, menos Mione.
- Nossa, ela é demais! - Simas dizia enquanto saia - Melhor que um vampiro!
- Eu acho que talvez nós não estejamos preparados para lidar com dementadores... - Hermione comentava, em tom ofendido.
- Você está dizendo isso porque não respondeu a nenhuma pergunta. - Rony disse com orgulho, pois por ter respondido à pergunta, havia conquistado cinco pontos para a Grifinória.
- Não é nada disso, Rony... - Hermione ia começar a falar, mas a voz de Arabella fez ela se calar.
- Hermione eu gostaria de falar com você por uns instantes, tudo bem?
- Sim, professora - ela disse com desânimo, enquanto Harry e Rony saíam da sala.
A professora se sentou em uma das cadeiras da sala, e com um gesto, pediu para Hermione se sentar na cadeira à sua frente.
- Eu gostaria de pedir desculpas por não ter deixado você responder às perguntas, Hermione. - a professora disse com um sorriso humilde - Eu sabia que você sabia as respostas de todas, por isso pedi para que outros alunos respondessem, não porque não quisesse que você respondesse. Há alguns anos atrás, eu ensinei em Hogwarts por dois anos, e tive o mesmo problema com uma aluna. Ela sabia mais que os outros alunos, por isso, eles não estudavam com tanto afinco quanto ela, até que eu comecei a fazer perguntas para os outros alunos, entende?
- Sim, professora. - Hermione concordou, menos magoada - Eu realmente pensei que a senhora estava com raiva de mim.
- De forma nenhuma, Hermione! - Arabella protestou - Você é muito inteligente, eu não duvido disso, mas eu queria conhecer os outros alunos, e incentivá-los a estudar. Desculpe mais uma vez se eu passei a impressão errada.
- Não precisa se desculpar, professora. - Hermione sorriu. - A senhora fez o certo, e eu às vezes exagero um pouco. - ela admitiu, corando levemente. - Eu não estou mais chateada.
- Então podemos ser amigas?
- Sim - Hermione sorriu, e saiu da sala, mais convencida do que nunca de que Harry estava errado.
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Estranhamente, não havia sinal de que Voldemort atacaria em breve, mas a cicatriz incomodava Harry sempre que ele se aproximava da professora Figg. Ele não sabia o que poderia acontecer, mas ninguém além dele parecia preocupado, e com a proximidade do primeiro jogo de quadribol da temporada, o ambiente na escola estava o mais calmo possível.
A primeira partida de quadribol da temporada seria Sonserina contra Lufa-lufa, e no dia da partida, as arquibancadas estavam cheias, até mesmo os professores foram assistir ao jogo.
Assim que madame Hooch apitou, ficou claro o quanto o time da Sonserina era superior. Depois que perderam Cedrico, os jogadores da Lufa-lufa ficaram sem rumo, e os sonserinos aproveitavam essa vantagem. Os artilheiros não faziam muito esforço para manter a posse da goles, e os batedores usaram os balaços poucas vezes, mas apesar do time da Sonserina estar vencendo, na arquibancada dos professores, Arabella Figg segurava com força a mão da professora McGonagall durante as jogadas do time.
- Isso! Isso! Vai, Warrington, vai!
- Eu nunca soube dessa sua paixão por quadribol, Bella - Minerva disse com visível irritação pela animação da outra professora.
- Desculpe, Minnie, mas faz tanto tempo que eu não vejo um jogo de quadribol... Acho que me exaltei um pouco... - Arabella Figg se desculpou enquanto sentava no banco, mas no instante seguinte, levantou-se de uma vez, e gritou - Vai, Draco!
No campo, Draco Malfoy voava rapidamente em direção às balizas da Lufa-lufa, sendo perseguido de perto pelo apanhador do outro time. Ele desviou habilmente de um balaço lançado por um dos batedores da Lufa-lufa, e imprimindo mais velocidade à vassoura, ele esticou os braços e pegou a bola dourada.
- Isso! Boa pegada, Draco! - a professora Figg gritava na arquibancada, mas ela não era a única que comemorava. Todos os alunos da Sonserina vibravam.
Os alunos da Grifinória e da Corvinal pareciam decepcionados, mas sabiam que a vitória foi justa. O time da Lufa-lufa estava muito despreparado pois não havia conseguido encontrar um capitão e apanhador à altura de Cedrico. E enquanto os jogadores da Lufa-lufa cumprimentavam os sonserinos humildemente, as arquibancadas foram se esvaziando.
- Nossa, eu nem consigo imaginar a última vez que vi uma partida de quadribol tão emocionante! - Arabella Figg comentava com Minerva McGonagall.
- Eu nunca pensei que você fosse se entusiasmar tanto por quadribol, Bella! Você sempre detestou qualquer tipo de competição, e quando estudávamos, você tentou fazer o impossível para eu largar a vaga de goleira!
- Ora, Minnie, até eu sei que de vez em quando é bom nos distrairmos!
- Arabella tem razão, Minerva.
As duas professoras olharam para trás, somente então percebendo que Dumbledore caminhava atrás delas.
- Viu, Minnie? Ninguém consegue viver só de trabalho, ou estudos... Pelo menos em Hogwarts existem várias distrações, como o quadribol, o baile...
- Baile?! - a outra professora disse, espantada - Bella, no ano passado tivemos um baile por causa do Torneio Tribuxo, mas exceto o Baile de Inverno, não acontecem bailes em Hogwarts desde 1977, e foi você quem sugeriu isso. - Minerva fez uma pausa antes de continuar - Bella, o que está acontecendo? Desde que você começou a dar aulas aqui você está agindo muito estranho.
Arabella desviou o rosto do olhar da professora de Transfiguração, e murmurou, um pouco atrapalhada.
- Ehr... Eu preciso corrigir alguns trabalhos, com licença - em seguida, ela se afastou da professora e do diretor rapidamente, e entrou no castelo.
Minerva McGonagall olhou a outra bruxa se afastar com um brilho estranho no olhar, e quando falou, sua voz tinha um tom temeroso.
- Dumbledore, algo está errado. Essa não é a verdadeira Arabella Figg.
O diretor continuou caminhando, e disse suavemente.
- Oh, Minerva, eu já sabia disso.
A professora parou de andar, mais espantada ainda.
- Você sabia, Dumbledore? Sabia e pediu que ela ensinasse aqui?! E se for outro Comensal?!
- Minerva, essa pessoa teve inúmeras oportunidades para matar Harry. Se fosse mesmo um Comensal, já teria feito isso antes.
- Dumbledore, eu não entendo, como você pode aceitar isso?! - ela perguntou, pasma.
- Minerva, existem coisas que não devemos tentar compreender, somente aceitar. Os Potter devem ter tido suas razões para confiar a vida do filho único a ela, e eu sempre confiei no julgamento de Lílian e de Tiago. - e como se o diálogo não tivesse acontecido, Dumbledore continuou - Mas Arabella está certa... Deveríamos manter o Baile do Inverno... Eu vou pedir para que ela me ajude a preparar a festa...
E ignorando a expressão perplexa de Minerva McGonagall, Dumbledore voltou para o castelo.
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Os lábios do professor Snape crisparam assim que ele entrou na masmorra onde dava aulas de Poções em Hogwarts e viu o cão preto ao lado de Harry Potter. Severo conseguia admitir trabalhar com Sirius Black por estarem no mesmo lado, mas ele não era obrigado a suportar o cão ao lado de Potter durante suas aulas! Havia discutido isso com Dumbledore, mas, inacreditavelmente, o diretor o convencera a aceitar Sirius. A única conseqüência disso foi que a cada aula de Poções, a Grifinória perdia pelo menos trinta pontos.
Naquele fim de tarde, Snape estava mais irritado do que o costume, e começou a aula abruptamente.
- Nas últimas aulas temos falado sobre a poção Polissuco, mas a poção Polissuco não é nada comparada à poção Melissuco. Enquanto o efeito da poção Polissuco dura somente uma hora, o efeito da poção Melissuco dura o quanto for necessário. Hoje vocês não irão fazer a poção porque é uma poção delicada, e que exige muita concentração do bruxo enquanto é feita.
Na mesa dos alunos, Mione e Harry suspiraram aliviados por não terem que repetir a experiência da aula em que tomaram a poção Polissuco, quando trocaram de corpo com Neville e Rony, respectivamente.
- Em compensação. - Snape continuou, com um estranho sorriso de triunfo no rosto - Faremos um teste para observar os efeitos da poção Melissuco com o sapo de Longbotton e o cão de Potter.
O rosto de Harry empalideceu, mas ele não teve muito tempo para se preocupar. Sirius, sabendo que o sapo assumiria sua forma humana, pulou sobre o caldeirão, transformado em cachorro, e derramou o líquido da poção sobre Severo Snape, que caiu no chão.
Quando o professor se levantou, todos na sala riram, até mesmo os sonserinos, disfarçadamente, claro. No rosto de Snape, cresciam vários espinhos, e suas vestes estavam rasgadas por causa dos espinhos que saíam de sua pele.
- Potter! Cinqüenta pontos a menos para a Grifinória, e você está em detenção! - ele gritou furioso, e saiu da sala, apressado, para a ala hospitalar.
- Harry, vamos procurar o Snuffles depois do treino, ele merece parabéns por essa! - Rony disse entre uma risada e outra.
- Com certeza! - Harry disse, sorrindo também, e em seguida, os dois foram para o treino de quadribol.
Rony acompanhava Harry porque agora era o goleiro da Grifinória, e Harry foi escolhido como capitão porque ele continuaria no próximo ano em Hogwarts.
Apesar de ser o capitão, ou por ser o capitão, Harry não relaxava nos treinos, e por não ser tão experiente quanto Olívio, ele ouvia os outros jogadores, e aceitava algumas sugestões de jogadas. Por causa disso, o treino terminou mais tarde que o normal.
- Harry, eu estou pregado, você vai demorar muito? - Rony perguntou ao amigo, enquanto os outros iam embora.
- Eu tenho que fazer algumas coisas, mas se você quiser, pode ir para o dormitório.
- Certo, Harry.
Rony voltou para o castelo, enquanto Harry guardava as bolas para devolver à Madame Hooch.
O castelo estava silencioso, pois já era quase dez horas. Harry andou mais rápido, queria chegar ao dormitório antes que encontrasse Filch. Já havia deixado as bolas com a professora de vôo, e passava pelo salão quando ouviu vozes.
- ... sempre me atrapalhando, sempre se metendo no que não é do seu interesse!
Harry ergueu a sobrancelha. Era a voz do professor Snape. Cautelosamente, ele andou até uma porta, de onde achava que vinham as vozes.
- Eu tinha que fazer alguma coisa, senão eu seria descoberto, e você sabia muito bem!
O rosto de Harry assumiu uma expressão preocupada ao reconhecer a outra voz como a de Sirius.
- Se você fosse descoberto, seria por sua vontade, Black, não ponha a culpa em mim!
As vozes diminuíram, e Harry encostou o ouvido na porta. Depois de ouvir a voz de Snape sussurrar alguma coisa, o rapaz ouviu a voz do padrinho em tom impaciente.
- Eu pensei que você pudesse esquecer uma brincadeira idiota, mas pelo visto, você nunca vai crescer, Snape!
- Eu poderia até esquecer sua tentativa de me matar, mas como eu poderia esquecer que você matou minha irmã?!
Do outro lado, Harry arregalou os olhos. Nunca imaginou que Severo pudesse ter algum parente, com sua expressão rígida, fazendo com que Harry pensasse que ele nunca teve pais, quanto mais uma irmã, e que ainda por cima ela tivesse sido morta por Sirius.
- Eu não matei Anne! Quantas vezes vou ter que dizer isso? Eu amava sua irmã, como poderia tê-la matado?
Se Harry estava surpreso, agora estava perplexo. Então era por isso que o professor de Poções odiava tanto Sirius... Ele havia se apaixonado pela irmã do Snape, e Snape, por alguma razão, achava que Sirius a matara...
Harry se aproximou mais da porta, mas nesse instante, ouviu passos, e antes que Filch surgisse, foi para o dormitório, pensando na conversa que havia escutado.
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Anne havia se atrasado propositalmente para a reunião da Ordem. Voldemort a pressionava, queria saber se Jack Hardwyn estava vivo ou morto, e sabendo quão cruel o Lord das Trevas poderia ser, ela decidiu que não poderia esperar mais.
Anne sabia onde estava o registro de pessoas com sangue mágico, Minerva McGonagall havia contado sem perceber em uma das várias conversas que as duas tiveram. Ela só precisava de uma oportunidade para entrar na sala do diretor sem que ninguém estivesse lá, e a reunião da Ordem da Fênix era o momento perfeito.
A sala de Dumbledore estava vazia. Com certeza a reunião havia começado, mas se ela se atrasasse, alguém poderia ir procurá-la, então antes que alguém saísse da sala de reunião, Anne, no corpo de Arabella, foi até os registros, e não demorou muito para encontrar o que procurava.
Com um suspiro de alívio, Anne fechou o registro e estava entrando na sala de reunião no momento em que Sirius e Severo entraram na sala do diretor, com expressões pouco amigáveis.
- Vocês estão atrasados, mas não perderam muita coisa. - ela disse amavelmente, como Julie havia dito que Arabella Figg reagiria.
- Culpe o seu amiguinho Black pelo nosso atraso - Severo disse entre dentes, e entrou na sala.
Arabella olhou com fúria para Sirius. Não havia nenhum traço de gentileza em seu rosto, mas sim uma expressão de impaciência e raiva.
- Quando você e ele vão perceber que têm que se unir?
- Não é minha culpa. O seu irmão é que se esqueceu que nós crescemos.
Arabella Figg olhou impaciente para Sirius, e os dois entraram na sala.
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Assim que sentiu a Marca arder no seu braço, o corpo de Arabela Figg desapareceu, fazendo com que surgisse o próprio corpo de Anne, e em seguida, ela aparatou. Mesmo estando em Hogwarts, a Marca Negra conseguia ser mais forte que o feitiço que impedia que alguém aparatasse de Hogwarts, e era mais forte que a poção Melissuco também. Sempre que Lord Voldemort chamava Anne, o efeito da poção desaparecia.
Anne desaparatou no salão de reunião da Ordem das Trevas. O lugar estava vazio, exceto por Voldemort, que estava sentado na cadeira, acariciando Nagini.
- Espero que você já tenha o que eu procuro - ele disse com frieza e um olhar calculista.
- Sim, milorde. Eu consegui descobrir - ela disse, ajoelhada.
- E então? Jack Hardwyn está vivo ou morto?
- Hardwyn está morto, milorde.
As mãos de Voldemort se uniram.
- Isso faz com que tenhamos que atacar Hogwarts antes do que eu previa...
- Se me permitir sugerir, milorde... - Anne começou a falar, e depois de um gesto de Voldemort, continuou - Haverá uma visita a Hogsmeade antes das férias de fim de ano, e talvez essa seja a nossa oportunidade de destruir Potter. Se milorde concordar, eu mesma cuidarei para que ele vá para Hogsmeade e fique totalmente desprotegido.
- Perfeito, Adrianne... - Voldemort disse com um olhar sagaz - E será melhor para você se nada der errado. Se esse ataque falhar, Dumbledore irá proteger o garoto mais ainda.
- Eu já falhei alguma vez? - Anne perguntou com um sorriso astuto - Pode confiar em mim. Harry Potter será seu.
Anne ajoelhou-se mais uma vez, e aparatou.
Harry acordou desanimado. Era aniversário do seu primo Duda, e ele ficaria na casa de Arabella Figg enquanto seus tios e Duda comemorariam a data em um parque de diversões.
Não que Harry quisesse ir com os Dursley. Na verdade, quanto mais tempo ele ficasse longe dos parentes, melhor seria. O problema era ter que ficar na casa de Arabella Figg.
Arabella Figg era uma senhora idosa que morava na rua de frente à casa dos Dursley, e sempre que eles não podiam ficar com Harry, eles pediam para a vizinha cuidar do garoto. Harry se animaria mais se a casa da mulher não cheirasse a repolho e se ela não passasse o tempo a falar dos gatos dela.
Com um suspiro de desânimo, Harry desceu e encontrou os Dursley na sala, já arrumados.
- Venha comigo. - tia Petúnia disse com desagrado - Tenho que deixar você na casa da senhora Figg antes de irmos.
Harry não pensou em reclamar por não ter comido ainda, e foi com a tia até a casa da vizinha.
Aquele verão estava sendo o pior de todos. Apesar de Rony e Mione mandarem cartas quase que diariamente para ele, Harry não conseguia se animar. Voldemort havia voltado no final do semestre passado, mais forte do que nunca, e nesse reencontro, um colega de Hogwarts havia sido morto.
Harry gostaria de poder desabafar com alguém, mas não queria preocupar os amigos, e Sirius estava trabalhando em uma missão secretíssima da Ordem, ele havia dito na última carta.
- Bom dia, senhora Figg! - o tom falso da voz de tia Petúnia tirou Harry de seus pensamentos - Eu trouxe Harry para passar o dia com a senhora, já que ele preferiu não ir para o parque, e eu não posso deixar o garoto sozinho, algo pode acontecer! - ela disse as últimas palavras quase num sussurro.
Arabella Figg concordou com a cabeça, parecendo preocupada com Harry, sem suspeitar que Petúnia estava preocupada com sua casa.
- Não há problema nenhum, senhora Dursley, ficar com Harry vai ser uma alegria para mim - a senhora Figg olhou com compaixão para Harry, e por alguns instantes, ele se arrependeu de não querer ficar com a vizinha.
- Que ótimo, querida! - a tia Petúnia disse, animada por se livrar do sobrinho, e voltou-se para ele - Eu já vou indo, seu tio e Duda estão me esperando. Comporte-se! - ela advertiu em tom irritado, e saiu, deixando a senhora Figg e Harry a sós.
- Entre, garotinho... - a senhora Figg disse educadamente, mas antes que Harry pudesse entrar, um dos gatos da senhora Figg saltou na frente dele - Snuffles, quantas vezes eu vou ter que dizer para você parar de assustar as pessoas?!
Enquanto a senhora Figg falava, Harry olhou com incredulidade para ela. Snuffles era o apelido pelo qual ele chamava Sirius quando conversava com Rony e Mione em Hogwarts e por cartas.
- É melhor você ficar do lado de fora, Snuffles, a não ser que queira me ver irritada! - o gato miou raivosamente para a senhora Figg, e desapareceu entre as plantas do jardim. A senhora Figg olhou para Harry - Desculpe-me pelo Snuffles, às vezes ele não sabe se comportar. Mas, entre!
Harry entrou na casa, ainda curioso. Será que a senhora Figg conhecia Sirius? Não, era impossível. A senhora Figg era uma mulher muito cética, parecia abominar qualquer coisa que lembrasse magia. Deveria ser apenas uma coincidência.
O restante do dia passou sem nenhum outro problema. Harry viu as fotos dos gatos da senhora Figg sem empolgação, comeu um pudim com gosto de queimado, mas apesar de tudo isso, Harry conseguiu ficar desanimado quando a campainha tocou, e ouviu a voz de tia Petúnia enquanto ela conversava com a senhora Figg.
- Harry! - o rapaz se levantou do sofá quando a tia o chamou, e foi até ela - Obrigada, senhora Figg, por cuidar dele.
- Não há de que.
A senhora Figg começou a fechar a porta, mas tia Petúnia fez ela parar.
- Harry, você não diz nada para a senhora Figg?
Harry voltou-se para a senhora Figg, mas nesse instante, ele sentiu sua cicatriz doer como não havia doído durante todas as férias. A mão que ele havia erguido parou no ar, e ele engoliu em seco. Não poderia deixar que transparecesse o que estava sentindo. Harry tentou se recuperar o mais rapidamente possível, e respondeu com dificuldade.
- Obrigado, senhora Figg, por ter cuidado de mim, e desculpe qualquer incômodo.
A senhora Figg sorriu graciosamente.
- Não foi incômodo nenhum, Harry.
A senhora Figg se afastou da porta, e esticou o braço esquerdo para acariciar o rosto de Harry, mas quando fez isso, Harry viu, nitidamente, a Marca Negra de Voldemort. Harry deu um passo para trás num impulso, e seu rosto empalideceu. Percebendo o mal-estar de Harry, e achando que era porque não queria ser tocado, a senhora Figg abaixou a mão e sorriu.
- Eu posso cuidar do Harry sempre que for necessário, senhora Dursley.
Tia Petúnia respondeu com um aceno da cabeça, e empurrando Harry, se afastou da casa da velha vizinha.
Anne só teve tempo de fechar a porta para a imagem de Arabella Figg desaparecer, e reassumir seu corpo. Ela olhou para o braço esquerdo, e aparatou.
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Anne não precisou cuidar de Harry no restante do verão, mas ela tinha muitas coisas a fazer. As aulas em Hogwarts começariam em setembro, e ela preparava o material das aulas. Além disso, havia as reuniões da Ordem da Fênix e os encontros com Voldemort. Rapidamente, o verão passou, e dois dias antes das aulas começarem, Anne foi para Hogwarts no corpo de Arabella Figg, para ser apresentada aos outros professores.
Mais uma vez, Severo não estava em Hogwarts por causa de uma missão da Ordem das Trevas. Anne só reencontraria o irmão na festa de volta às aulas.
-x-x-x-
O grande salão de Hogwarts estava cheio. Os alunos conversavam animadamente, mas todos se calaram quando a professora Minerva entrou no salão, seguida pelos novos alunos. Todos olhavam surpresos para um garoto franzino, de cabelos castanhos sem brilho, que estava numa cadeira de rodas, exceto os sonserinos, que apontavam para o garoto e não escondiam o riso de deboche.
A seleção começou, e enquanto os alunos eram selecionados para as casas, alguns conversavam sobre em qual casa o garotinho na cadeira de rodas ficaria. A seleção estava quase no fim. Só restava um aluno para ser selecionado, o garoto na cadeira de rodas, e a diretora da Grifinória anunciou o nome dele.
- William Wilder!
Empurrando a cadeira com as próprias mãos, William andou até a professor McGonagall, que colocou o chapéu sobre a cabeça do garoto. Não demorou muito para o chapéu dar a resposta.
- Sonserina!
Pela primeira vez naquela noite, mas não pela última, os alunos emudeceram, e olharam abismados para o chapéu. Os sonserinos estavam visivelmente irritados, e enquanto William Wilder ia até a mesa, eles olharam com desprezo para o garoto. Antes que os alunos começassem a conversar entre si, Dumbledore se levantou.
- Sejam bem-vindos, alunos, para mais um ano em Hogwarts! Sei que todos devem estar ansiosos para o banquete, mas antes, gostaria de apresentar a vocês a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, Arabella Figg.
Os alunos começaram a cochichar entre si, falando sobre Arabella Figg com admiração, enquanto a professora entrava no salão e cumprimentava os professores da grande mesa antes de se sentar, mas ela estancou quando viu Severo.
Ao ver o irmão depois de tantos anos, Anne pendeu a respiração. Ele estava diferente, com uma aparência mais sombria do que da última vez que o vira, e havia um brilho de raiva no olhar, mas foi outra coisa que a surpreendeu mais ainda, e ela não conseguiu ficar calada.
- Severo Snape, o que você fez com o seu cabelo?!
O burburinho de conversa terminou imediatamente, e todos os alunos olharam pasmos para a professora, até mesmo alguns professores, mas isso só durou um segundo. No instante seguinte, todo o salão explodiu em uma gargalhada, e o professor Snape olhou para Arabella Figg com ódio enquanto murmurava em tom ofendido.
- Minha higiene pessoal só diz respeito a mim, professora.
Anne, no corpo de Arabella Figg, hesitou ante o olhar furioso do irmão, e quando falou, gaguejou um pouco.
- Sim, sim, claro, professor, me desculpe, eu...
- Bella, é melhor você se sentar - a professora McGonagall falou, severa.
- Sim, Minnie - Arabella disse humildemente, e se sentou.
Na mesa da Grifinória, Rony Weasley enxugava algumas lágrimas.
- Não importa como seja a aula da professora Figg, mas já sei que ela vai ser minha professora preferida!
- Francamente, Rony! - Hermione o repreendeu - Teria sido melhor para ela se ela tivesse ficado calada, não acha, Harry?
Mas Harry olhava fixamente para Arabella Figg. Depois que viu a Marca Negra no braço dela, teve certeza que ela era uma bruxa, e que Sirius deveria conhecê-la, mas se ela era uma Comensal, como Dumbledore poderia ter deixado ela ensinar em Hogwarts?
- Harry? - Rony chamava o amigo pela terceira vez, e agora cutucava o ombro dele - O que foi? Você não ouviu a Mione?
- Não, desculpa, mas é que eu estava pensando na nova professora... Eu conheço ela, ela é minha vizinha, não se lembra, Rony, que eu falei de uma mulher que cuidava de mim quando os Dursley saíram?
Rony arregalou os olhos e olhou com surpresa para Harry.
- É mesmo! Você tinha me dito isso, mas na hora eu não pensei que fosse a mesma pessoa... Caracas! Arabella Figg é sua vizinha!
- Mas não é só isso, Rony. - ele continuou falando quase num sussurro - Nessas férias, meus tios me deixaram na casa dela mais uma vez, e eu vi no braço dela a Marca Negra.
Rony e Hermione olharam surpresos para Harry.
- Tem certeza, Harry? Não pode ser, Arabella Figg sempre foi contra Você-Sabe-Quem!
- Não foi só impressão, Harry? Eu já li sobre a professora Figg em alguns livros, e ela não parece ser do tipo que se aliaria a Você-Sabe-Quem.
- Sim, Rony, eu tenho certeza, e não foi impressão, Mione. Ela tinha a Marca Negra no braço esquerdo, assim como o Snape. Mas isso não foi o mais estranho. O mais estranho é que um dos gatos dela se chama Snuffles.
Rony deixou cair a coxa de frango que comia, mas foi Hermione quem falou.
- Aí está a prova de que você só teve a impressão de ter visto a Marca, Harry. - ela continuou a frase em tom baixo - Sirius deve conhecer Arabella Figg, por isso adotou o nome de Snuffles, e acho que ele não seria amigo de um Comensal. Quer dizer, ele mal consegue suportar o Snape, apesar dele não ser mais um Comensal. E Dumbledore não deixaria que um Comensal ensinasse em Hogwarts, não depois do que aconteceu no último ano.
Hermione continuou a comer, dando o assunto por encerrado, mas Harry não estava tranqüilo. Assim como o último professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Arabella Figg poderia ser um Comensal de Voldemort, mas se ele não conseguiria convencer nem os próprios amigos, como conseguiria convencer Dumbledore?
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- Qual é a primeira aula? - Rony perguntou para Hermione quando a encontrou na sala comunal da Grifinória na manhã seguinte.
- Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Bem, se ela for um Comensal, vamos saber na aula, afinal, ela não vai querer ensinar Harry Potter a se defender de Você-Sabe-Quem.
Hermione girou os olhos.
- Rony, o Crouch foi nosso professor no ano passado, e apesar dele ser um Comensal, ensinou para Harry como lutar contra a Maldição Império depois que é atingido.
- Então você acha que ela pode ser um Comensal? - Rony perguntou, surpreso.
- É claro que não, Rony. - ela respondeu em tom impaciente - É melhor irmos para o salão, eu não quero chegar atrasada na aula.
Harry acompanhou os amigos até o salão, mas comeu pouco. Pensava num modo de convencer Rony e Hermione de que Arabella Figg era um Comensal, mas parecia que ia ser difícil, quase tão difícil quanto convencer Dumbledore, Harry pensou, enquanto se lembrava da conversa que teve com o diretor e a professora na noite anterior, em que o diretor explicou que Arabella Figg o protegia desde que ele morava com os Dursley.
Assim que os dois amigos terminaram de comer, eles foram para a sala da professora Figg, porém, pararam ao ver a professora Minerva ir falar com eles.
- O diretor quer falar com vocês.
Harry, Rony e Hermione seguiram a professora de Transfiguração até a sala de Dumbledore, onde eles entraram depois que Minerva disse a senha.
- Aqui estão eles, diretor.
- Obrigado, Minerva - Dumbledore cumprimentou a colega, que saiu da sala em seguida. Ao ficar a sós com os três alunos, o diretor fez um gesto para eles se sentarem.
- Alguma notícia de Voldemort? - Harry perguntou de supetão, ignorando a careta de Rony.
- Não, Harry, e isso só me faz recear por você. Voldemort deve estar juntando aliados antes de dar o primeiro passo, e para sua segurança, resolvi trazer uma pessoa a Hogwarts para proteger você.
O diretor se levantou, e abriu uma porta, e dela saiu um enorme e peludo cão preto, que imediatamente Harry reconheceu.
- Sirius!
O cão se transformou em Sirius, e abraçou o afilhado. Harry sorriu, feliz por ver o padrinho, pois nas férias, só havia recebido cartas dele.
- Harry!
Dumbledore esperou os dois se separarem para continuar.
- Infelizmente, Sirius não ficará com você por uma razão feliz. Ele está aqui para proteger você, Harry, e deverá permanecer o tempo todo na forma de cão. - diretor disse com severidade, e olhou para os três alunos - Ninguém pode saber que o cachorro de Harry é Sirius.
- Nós não vamos falar nada, Dumbledore - Hermione disse em tom firme.
- Com certeza - Rony concordou, com uma expressão séria no rosto.
- Bem, então é melhor vocês irem para a aula, eu já os atrasei demais.
Sirius, Harry, Rony e Mione se despediram do diretor, e depois de Sirius se transformar em cão, eles saíram.
- O que foi, Snuffles? - Harry perguntou olhando para o cachorro, que tocava a sua mão com o focinho.
- Acho que ele quer saber qual é a próxima aula... - Hermione respondeu em tom duvidoso.
- É Defesa Contra as Artes das Trevas, Snuffles. - Rony disse - A professora é a Arabella Figg, você não conhece? - ele perguntou encarando o cão.
O cão parou de andar, e depois de hesitar, ele desapareceu.
Rony e Harry trocaram olhares intrigados.
- Ehr... - Rony falou, gaguejando um pouco - Acho que você pode estar certo, Harry...
Hermione olhou indignada para os dois.
- Vocês deveriam parar de falar besteira e andar mais rápido. A aula já deve ter começado - e com passos rápidos, a garota foi para a sala de aula.
A professora Figg entrou na sala minutos depois que a sineta tocou, parecendo bastante calma.
- Bom dia, alunos. - ela sorriu - Essa não é a primeira vez que eu dou aulas em Hogwarts, e não é a primeira vez que ensinarei em tempos de trevas, por isso, espero que minhas aulas sejam aproveitadas por todos. Todos vocês têm o livro da matéria?
Os alunos trocaram olhares temerosos enquanto pegavam um livro pequeno, intitulado "O Lado Sombrio das Criaturas Sombrias - Volume 56: Dementadores".
- Vejo que todos têm o livro, ótimo. - a professora Figg sorriu, parecendo não perceber a aflição dos alunos, pois só de tocar no livro, eles se sentiam um pouco tristes - Como vocês podem ver, nós estudaremos os dementadores. Eu soube dos vários acidentes que aconteceram por causa deles, e achei que seria melhor vocês estarem prevenidos caso entrem em contato com dementadores novamente, mas não precisam se preocupar. Teremos muitas aulas teóricas antes de praticarmos com um verdadeiro dementador, e revisaremos as matérias dadas pelos professores dos anos anteriores, afinal, esse é o ano dos N.OM.'s de vocês, se não me engano. - ela se sentou, sorrindo, mas os alunos não estavam nem um pouco animados com a possibilidade de ter aulas práticas com dementadores. - Mas antes de qualquer coisa, é melhor eu conhecer vocês, já que devo crer que vocês já sabem muito sobre mim - Arabella Figg começou a fazer a chamada, e depois se levantou. - Como eu disse antes, estudaremos os dementadores. Alguém sabe me dizer porque os dementadores são tão temidos?
A mão de Hermione ergue-se, mas a professora Figg voltou-se para Simas Finnigan.
- Simas, você poderia responder?
O rapaz olhou surpreso para a professora, e respondeu, depois de gaguejar por instantes.
- Eles sugam a felicidade, professora Figg? - ele disse em tom incerto.
- Muito bem. Qual é a forma mais eficiente de combater um dementador? - ela olhou para Rony - Ronald.
- Conjurando um Patrono.
- Excelente. - Arabella olhou com satisfação, apesar do olhar magoado de Mione - O Patrono é a melhor forma de combater um dementador, e eu os ensinarei a fazer isso, mas antes, vocês conhecerão os dementadores profundamente...
E até o restante da aula, Arabella Figg explicou como os dementadores surgiram, e como um novo dementador era criado. Quando a aula terminou, todos os alunos pareciam animados, menos Mione.
- Nossa, ela é demais! - Simas dizia enquanto saia - Melhor que um vampiro!
- Eu acho que talvez nós não estejamos preparados para lidar com dementadores... - Hermione comentava, em tom ofendido.
- Você está dizendo isso porque não respondeu a nenhuma pergunta. - Rony disse com orgulho, pois por ter respondido à pergunta, havia conquistado cinco pontos para a Grifinória.
- Não é nada disso, Rony... - Hermione ia começar a falar, mas a voz de Arabella fez ela se calar.
- Hermione eu gostaria de falar com você por uns instantes, tudo bem?
- Sim, professora - ela disse com desânimo, enquanto Harry e Rony saíam da sala.
A professora se sentou em uma das cadeiras da sala, e com um gesto, pediu para Hermione se sentar na cadeira à sua frente.
- Eu gostaria de pedir desculpas por não ter deixado você responder às perguntas, Hermione. - a professora disse com um sorriso humilde - Eu sabia que você sabia as respostas de todas, por isso pedi para que outros alunos respondessem, não porque não quisesse que você respondesse. Há alguns anos atrás, eu ensinei em Hogwarts por dois anos, e tive o mesmo problema com uma aluna. Ela sabia mais que os outros alunos, por isso, eles não estudavam com tanto afinco quanto ela, até que eu comecei a fazer perguntas para os outros alunos, entende?
- Sim, professora. - Hermione concordou, menos magoada - Eu realmente pensei que a senhora estava com raiva de mim.
- De forma nenhuma, Hermione! - Arabella protestou - Você é muito inteligente, eu não duvido disso, mas eu queria conhecer os outros alunos, e incentivá-los a estudar. Desculpe mais uma vez se eu passei a impressão errada.
- Não precisa se desculpar, professora. - Hermione sorriu. - A senhora fez o certo, e eu às vezes exagero um pouco. - ela admitiu, corando levemente. - Eu não estou mais chateada.
- Então podemos ser amigas?
- Sim - Hermione sorriu, e saiu da sala, mais convencida do que nunca de que Harry estava errado.
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Estranhamente, não havia sinal de que Voldemort atacaria em breve, mas a cicatriz incomodava Harry sempre que ele se aproximava da professora Figg. Ele não sabia o que poderia acontecer, mas ninguém além dele parecia preocupado, e com a proximidade do primeiro jogo de quadribol da temporada, o ambiente na escola estava o mais calmo possível.
A primeira partida de quadribol da temporada seria Sonserina contra Lufa-lufa, e no dia da partida, as arquibancadas estavam cheias, até mesmo os professores foram assistir ao jogo.
Assim que madame Hooch apitou, ficou claro o quanto o time da Sonserina era superior. Depois que perderam Cedrico, os jogadores da Lufa-lufa ficaram sem rumo, e os sonserinos aproveitavam essa vantagem. Os artilheiros não faziam muito esforço para manter a posse da goles, e os batedores usaram os balaços poucas vezes, mas apesar do time da Sonserina estar vencendo, na arquibancada dos professores, Arabella Figg segurava com força a mão da professora McGonagall durante as jogadas do time.
- Isso! Isso! Vai, Warrington, vai!
- Eu nunca soube dessa sua paixão por quadribol, Bella - Minerva disse com visível irritação pela animação da outra professora.
- Desculpe, Minnie, mas faz tanto tempo que eu não vejo um jogo de quadribol... Acho que me exaltei um pouco... - Arabella Figg se desculpou enquanto sentava no banco, mas no instante seguinte, levantou-se de uma vez, e gritou - Vai, Draco!
No campo, Draco Malfoy voava rapidamente em direção às balizas da Lufa-lufa, sendo perseguido de perto pelo apanhador do outro time. Ele desviou habilmente de um balaço lançado por um dos batedores da Lufa-lufa, e imprimindo mais velocidade à vassoura, ele esticou os braços e pegou a bola dourada.
- Isso! Boa pegada, Draco! - a professora Figg gritava na arquibancada, mas ela não era a única que comemorava. Todos os alunos da Sonserina vibravam.
Os alunos da Grifinória e da Corvinal pareciam decepcionados, mas sabiam que a vitória foi justa. O time da Lufa-lufa estava muito despreparado pois não havia conseguido encontrar um capitão e apanhador à altura de Cedrico. E enquanto os jogadores da Lufa-lufa cumprimentavam os sonserinos humildemente, as arquibancadas foram se esvaziando.
- Nossa, eu nem consigo imaginar a última vez que vi uma partida de quadribol tão emocionante! - Arabella Figg comentava com Minerva McGonagall.
- Eu nunca pensei que você fosse se entusiasmar tanto por quadribol, Bella! Você sempre detestou qualquer tipo de competição, e quando estudávamos, você tentou fazer o impossível para eu largar a vaga de goleira!
- Ora, Minnie, até eu sei que de vez em quando é bom nos distrairmos!
- Arabella tem razão, Minerva.
As duas professoras olharam para trás, somente então percebendo que Dumbledore caminhava atrás delas.
- Viu, Minnie? Ninguém consegue viver só de trabalho, ou estudos... Pelo menos em Hogwarts existem várias distrações, como o quadribol, o baile...
- Baile?! - a outra professora disse, espantada - Bella, no ano passado tivemos um baile por causa do Torneio Tribuxo, mas exceto o Baile de Inverno, não acontecem bailes em Hogwarts desde 1977, e foi você quem sugeriu isso. - Minerva fez uma pausa antes de continuar - Bella, o que está acontecendo? Desde que você começou a dar aulas aqui você está agindo muito estranho.
Arabella desviou o rosto do olhar da professora de Transfiguração, e murmurou, um pouco atrapalhada.
- Ehr... Eu preciso corrigir alguns trabalhos, com licença - em seguida, ela se afastou da professora e do diretor rapidamente, e entrou no castelo.
Minerva McGonagall olhou a outra bruxa se afastar com um brilho estranho no olhar, e quando falou, sua voz tinha um tom temeroso.
- Dumbledore, algo está errado. Essa não é a verdadeira Arabella Figg.
O diretor continuou caminhando, e disse suavemente.
- Oh, Minerva, eu já sabia disso.
A professora parou de andar, mais espantada ainda.
- Você sabia, Dumbledore? Sabia e pediu que ela ensinasse aqui?! E se for outro Comensal?!
- Minerva, essa pessoa teve inúmeras oportunidades para matar Harry. Se fosse mesmo um Comensal, já teria feito isso antes.
- Dumbledore, eu não entendo, como você pode aceitar isso?! - ela perguntou, pasma.
- Minerva, existem coisas que não devemos tentar compreender, somente aceitar. Os Potter devem ter tido suas razões para confiar a vida do filho único a ela, e eu sempre confiei no julgamento de Lílian e de Tiago. - e como se o diálogo não tivesse acontecido, Dumbledore continuou - Mas Arabella está certa... Deveríamos manter o Baile do Inverno... Eu vou pedir para que ela me ajude a preparar a festa...
E ignorando a expressão perplexa de Minerva McGonagall, Dumbledore voltou para o castelo.
-x-x-x-
Os lábios do professor Snape crisparam assim que ele entrou na masmorra onde dava aulas de Poções em Hogwarts e viu o cão preto ao lado de Harry Potter. Severo conseguia admitir trabalhar com Sirius Black por estarem no mesmo lado, mas ele não era obrigado a suportar o cão ao lado de Potter durante suas aulas! Havia discutido isso com Dumbledore, mas, inacreditavelmente, o diretor o convencera a aceitar Sirius. A única conseqüência disso foi que a cada aula de Poções, a Grifinória perdia pelo menos trinta pontos.
Naquele fim de tarde, Snape estava mais irritado do que o costume, e começou a aula abruptamente.
- Nas últimas aulas temos falado sobre a poção Polissuco, mas a poção Polissuco não é nada comparada à poção Melissuco. Enquanto o efeito da poção Polissuco dura somente uma hora, o efeito da poção Melissuco dura o quanto for necessário. Hoje vocês não irão fazer a poção porque é uma poção delicada, e que exige muita concentração do bruxo enquanto é feita.
Na mesa dos alunos, Mione e Harry suspiraram aliviados por não terem que repetir a experiência da aula em que tomaram a poção Polissuco, quando trocaram de corpo com Neville e Rony, respectivamente.
- Em compensação. - Snape continuou, com um estranho sorriso de triunfo no rosto - Faremos um teste para observar os efeitos da poção Melissuco com o sapo de Longbotton e o cão de Potter.
O rosto de Harry empalideceu, mas ele não teve muito tempo para se preocupar. Sirius, sabendo que o sapo assumiria sua forma humana, pulou sobre o caldeirão, transformado em cachorro, e derramou o líquido da poção sobre Severo Snape, que caiu no chão.
Quando o professor se levantou, todos na sala riram, até mesmo os sonserinos, disfarçadamente, claro. No rosto de Snape, cresciam vários espinhos, e suas vestes estavam rasgadas por causa dos espinhos que saíam de sua pele.
- Potter! Cinqüenta pontos a menos para a Grifinória, e você está em detenção! - ele gritou furioso, e saiu da sala, apressado, para a ala hospitalar.
- Harry, vamos procurar o Snuffles depois do treino, ele merece parabéns por essa! - Rony disse entre uma risada e outra.
- Com certeza! - Harry disse, sorrindo também, e em seguida, os dois foram para o treino de quadribol.
Rony acompanhava Harry porque agora era o goleiro da Grifinória, e Harry foi escolhido como capitão porque ele continuaria no próximo ano em Hogwarts.
Apesar de ser o capitão, ou por ser o capitão, Harry não relaxava nos treinos, e por não ser tão experiente quanto Olívio, ele ouvia os outros jogadores, e aceitava algumas sugestões de jogadas. Por causa disso, o treino terminou mais tarde que o normal.
- Harry, eu estou pregado, você vai demorar muito? - Rony perguntou ao amigo, enquanto os outros iam embora.
- Eu tenho que fazer algumas coisas, mas se você quiser, pode ir para o dormitório.
- Certo, Harry.
Rony voltou para o castelo, enquanto Harry guardava as bolas para devolver à Madame Hooch.
O castelo estava silencioso, pois já era quase dez horas. Harry andou mais rápido, queria chegar ao dormitório antes que encontrasse Filch. Já havia deixado as bolas com a professora de vôo, e passava pelo salão quando ouviu vozes.
- ... sempre me atrapalhando, sempre se metendo no que não é do seu interesse!
Harry ergueu a sobrancelha. Era a voz do professor Snape. Cautelosamente, ele andou até uma porta, de onde achava que vinham as vozes.
- Eu tinha que fazer alguma coisa, senão eu seria descoberto, e você sabia muito bem!
O rosto de Harry assumiu uma expressão preocupada ao reconhecer a outra voz como a de Sirius.
- Se você fosse descoberto, seria por sua vontade, Black, não ponha a culpa em mim!
As vozes diminuíram, e Harry encostou o ouvido na porta. Depois de ouvir a voz de Snape sussurrar alguma coisa, o rapaz ouviu a voz do padrinho em tom impaciente.
- Eu pensei que você pudesse esquecer uma brincadeira idiota, mas pelo visto, você nunca vai crescer, Snape!
- Eu poderia até esquecer sua tentativa de me matar, mas como eu poderia esquecer que você matou minha irmã?!
Do outro lado, Harry arregalou os olhos. Nunca imaginou que Severo pudesse ter algum parente, com sua expressão rígida, fazendo com que Harry pensasse que ele nunca teve pais, quanto mais uma irmã, e que ainda por cima ela tivesse sido morta por Sirius.
- Eu não matei Anne! Quantas vezes vou ter que dizer isso? Eu amava sua irmã, como poderia tê-la matado?
Se Harry estava surpreso, agora estava perplexo. Então era por isso que o professor de Poções odiava tanto Sirius... Ele havia se apaixonado pela irmã do Snape, e Snape, por alguma razão, achava que Sirius a matara...
Harry se aproximou mais da porta, mas nesse instante, ouviu passos, e antes que Filch surgisse, foi para o dormitório, pensando na conversa que havia escutado.
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Anne havia se atrasado propositalmente para a reunião da Ordem. Voldemort a pressionava, queria saber se Jack Hardwyn estava vivo ou morto, e sabendo quão cruel o Lord das Trevas poderia ser, ela decidiu que não poderia esperar mais.
Anne sabia onde estava o registro de pessoas com sangue mágico, Minerva McGonagall havia contado sem perceber em uma das várias conversas que as duas tiveram. Ela só precisava de uma oportunidade para entrar na sala do diretor sem que ninguém estivesse lá, e a reunião da Ordem da Fênix era o momento perfeito.
A sala de Dumbledore estava vazia. Com certeza a reunião havia começado, mas se ela se atrasasse, alguém poderia ir procurá-la, então antes que alguém saísse da sala de reunião, Anne, no corpo de Arabella, foi até os registros, e não demorou muito para encontrar o que procurava.
Com um suspiro de alívio, Anne fechou o registro e estava entrando na sala de reunião no momento em que Sirius e Severo entraram na sala do diretor, com expressões pouco amigáveis.
- Vocês estão atrasados, mas não perderam muita coisa. - ela disse amavelmente, como Julie havia dito que Arabella Figg reagiria.
- Culpe o seu amiguinho Black pelo nosso atraso - Severo disse entre dentes, e entrou na sala.
Arabella olhou com fúria para Sirius. Não havia nenhum traço de gentileza em seu rosto, mas sim uma expressão de impaciência e raiva.
- Quando você e ele vão perceber que têm que se unir?
- Não é minha culpa. O seu irmão é que se esqueceu que nós crescemos.
Arabella Figg olhou impaciente para Sirius, e os dois entraram na sala.
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Assim que sentiu a Marca arder no seu braço, o corpo de Arabela Figg desapareceu, fazendo com que surgisse o próprio corpo de Anne, e em seguida, ela aparatou. Mesmo estando em Hogwarts, a Marca Negra conseguia ser mais forte que o feitiço que impedia que alguém aparatasse de Hogwarts, e era mais forte que a poção Melissuco também. Sempre que Lord Voldemort chamava Anne, o efeito da poção desaparecia.
Anne desaparatou no salão de reunião da Ordem das Trevas. O lugar estava vazio, exceto por Voldemort, que estava sentado na cadeira, acariciando Nagini.
- Espero que você já tenha o que eu procuro - ele disse com frieza e um olhar calculista.
- Sim, milorde. Eu consegui descobrir - ela disse, ajoelhada.
- E então? Jack Hardwyn está vivo ou morto?
- Hardwyn está morto, milorde.
As mãos de Voldemort se uniram.
- Isso faz com que tenhamos que atacar Hogwarts antes do que eu previa...
- Se me permitir sugerir, milorde... - Anne começou a falar, e depois de um gesto de Voldemort, continuou - Haverá uma visita a Hogsmeade antes das férias de fim de ano, e talvez essa seja a nossa oportunidade de destruir Potter. Se milorde concordar, eu mesma cuidarei para que ele vá para Hogsmeade e fique totalmente desprotegido.
- Perfeito, Adrianne... - Voldemort disse com um olhar sagaz - E será melhor para você se nada der errado. Se esse ataque falhar, Dumbledore irá proteger o garoto mais ainda.
- Eu já falhei alguma vez? - Anne perguntou com um sorriso astuto - Pode confiar em mim. Harry Potter será seu.
Anne ajoelhou-se mais uma vez, e aparatou.
