29. O FIM
Os alunos estavam animados. Graças a Arabella Figg, o Baile de Inverno do ano passado aconteceria novamente, e esse era o assunto principal das conversas, mas nem todos estavam animados.
William Wilder andava cabisbaixo em sua cadeira de rodas pelo corredor. Evitava ficar na Sonserina sempre que possível, pois quase sempre alguém o importunava com uma brincadeira de mau gosto.
Às vezes ele se lembrava com saudade do terrível orfanato em que morava, e desejava nunca ter recebido a carta de Hogwarts, o que não deixava de ser irônico. Quando recebeu a carta, pensou que finalmente seria respeitado, mas em Hogwarts estava sendo mais humilhado que no orfanato.
O pior de todos era Draco Malfoy. Sempre que Will se encontrava com Malfoy, o loiro fazia questão de mostrar a repulsa que sentia pelo outro. Por isso, quando Will viu Draco dobrando o corredor para entrar no salão principal, o garotinho pousou a mão com firmeza nas rodas, mas Draco já o vira.
- O que foi, Wilder? Vai lubrificar as rodas? Talvez assim você consiga chegar para a aula de Herbologia antes que a aula de Feitiços termine... - ele finalizou com um sorriso zombeteiro.
- Cuide da sua vida, Malfoy - Will resmungou.
- E eu estou cuidando, Wilder. Já pensou se essa sua cadeira estúpida de trouxa quebra em frente à sala de Poções? Como eu irei para a aula de Transfiguração?
Havia um tom de desprezo na voz de Draco que irritou Will, e antes que ele pudesse pensar, ele girou a cadeira, mas antes que avançasse em direção a Malfoy, eles ouviram sons de vozes animadas, e logo surgiram os rostos de Rony, Mione e Harry.
- O que está acontecendo por aqui? - Hermione perguntou com o autoritarismo de sua função de monitora da Grifinória.
- Eu só estava ajudando o Wilder. - Malfoy disse com uma expressão de falsidade - A cadeira dele emperrou.
- Eu não preciso da sua ajuda, Malfoy - Will disse com raiva.
- Ah, então você já consegue segurar a varinha sem a ajuda de um professor? - ele se virou para Harry - Ouviu isso? Talvez o Wilder possa te ensinar, Potter!
Harry olhou com fúria para Malfoy, e sem pensar que poderia perder pontos, apontou a varinha para o sonserino.
- Hoctu...
- Harry Potter!
O pequeno grupo voltou-se para a porta de entrada do salão, onde estava a professora Figg, os encarando com um olhar mais severo que o da professora McGonagall.
- Eu não consigo acreditar que você estivesse tentando enfeitiçar um colega seu! Infelizmente, vou ter que tirar quinze pontos da Grifinória, e você terá que ficar em detenção.
Enquanto Harry estava surpreso, no rosto de Draco, havia uma expressão de divertimento.
- Desculpe, professora, mas Draco zombou de Harry! - Rony interviu, bastante contrariado com a punição do amigo - Ele também merece ser punido!
- Hermione. - a professora voltou-se para a aluna - Você é monitora, se não me engano. Como pôde deixar isso acontecer?
- Ela não teve culpa, professora Figg. - Will disse, encarando a professora com coragem - Malfoy me desprezou como bruxo, e ofendeu Potter, e antes que Granger pudesse fazer qualquer coisa, Potter se defendeu.
A professora pareceu mais calma, mas continuava um pouco irritada.
- Harry pode ter tentado se defender de uma ofensa de Draco, mas isso não justifica uma tentativa de enfeitiçá-lo, Will. Infelizmente, Harry, você está em detenção. - ela engoliu em seco, e encarou Draco e William - Quanto a vocês dois, venham comigo.
O sorriso de vitória desapareceu imediatamente do rosto de Draco.
- Mas, professora, o que eu fiz?
- Venha comigo, Draco - Arabella Figg disse com firmeza, e Draco, contrariado, a seguiu até a sala da professora.
Era uma sala agradável, limpa e confortável. Havia alguns livros de História da Magia dos últimos anos, mas nada que mostrasse qualquer coisa da vida pessoal de Arabella Figg.
- Muito bem. - a professora começou depois que os três entraram na sala - Pelo que eu entendi, Draco, você acha que Will não é um bruxo muito eficiente. Então você deve ser um bruxo muito bem preparado. - ela disse com um tom quase imperceptível de sarcasmo.
- Eu tenho orgulho disso, professora. - Draco disse com soberba.
- Bem, se você é um bruxo tão poderoso como diz ser, então deve ser capaz de ajudar Will a se tornar um bruxo tão poderoso quanto você é.
Draco e William olharam em pânico para a professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, tanto um como o outro querendo impedir que essas aulas acontecessem.
- Mas, professora, eu tenho os N.O.M.'s!
- Ora, Draco, você deve saber tanto que a prova do N.O.M. vai parecer uma simples tarefa extra-classe.
Draco gaguejou uma resposta, mas não conseguiu argumentar. Se continuasse a se recusar, a professora poderia pensar que ele havia mentido, e Draco nunca deixaria que isso acontecesse.
- Professora, eu não preciso de aula nenhuma! Eu sou capaz de aprender tudo sozinho!
- Minha decisão já foi tomada, Will. - Arabella Figg disse energeticamente. - As aulas poderão ser na minha sala, três vezes por semana depois da última aula, e não vou tolerar atrasos.
Arabella Figg disse em tom irredutível, e sabendo que não conseguiriam convencer a professora, saíram da sala derrotados.
-x-x-x-
A decoração do salão não era grandiosa como a do ano anterior, mas os alunos estavam se sentindo muito à vontade. Várias fadas foram encantadas para sobrevoar o salão, e delas saíam pequenas faíscas de várias cores que iluminavam o ambiente e desapareciam antes de tocar alguém ou de atingir o chão. Nas paredes, luzes coloridas refletiam como se um iluminador trouxa estivesse no teto, mas claro que era magia. No chão, as grandes mesas das casas haviam sido afastadas, exceto a dos professores e a mesa com as comidas, e no lugar delas, havia poucas mesas pequenas, dando espaço para os que queriam dançar. No lado de fora, vários banquinhos que se iluminavam com uma luz nebulosa quando alguém se sentava tornava o jardim bastante acolhedor para os que queriam mais privacidade.
Arabella Figg recebia o cumprimento de muitos, pois foi a principal organizadora do baile, e fizera o possível para que nada saísse errado, mas ela ficou pouco tempo no salão. Dizendo que havia feito a festa para os alunos, ela foi embora, mas todos estavam contentes demais para se importar com isso. Era a noite do baile, e no dia seguinte, eles visitariam Hogsmeade.
-x-x-x-
- Você não vai dançar? - Rony perguntou para Harry quando se levantou, ao mesmo tempo em que Hermione, sua acompanhante. Depois do que aconteceu no baile do ano passado, ele decidiu seguir o conselho da própria garota, e a convidou antes que alguém o fizesse.
- Agora não - Harry olhou de Cho para o amigo com um pouco de tristeza. Ele também convidou a corvinal para ir ao baile, e a garota havia aceitado, mas depois de algumas conversas com ela, Harry percebeu que ela só conseguiria ser sua amiga. Cho ainda sentia a morte de Cedrico.
Rony e Mione se afastaram, deixando Cho e Harry sozinhos, mas eles não ficaram intimidados. Conversavam animadamente até que o cão de Harry se aproximou de onde eles estavam.
- O que foi, Snuffles? - Harry perguntou, enquanto o cachorro olhava em direção a uma porta - Quer sair? Tudo bem, não vai acontecer nada comigo.
- Engraçado esse seu cachorro... - Cho disse sorrindo, enquanto o animal se afastava. - Parece que você entende o que ele quer, mas o mais estranho é que ele entende o que você diz.
- Será que ele seria da Corvinal se fosse humano? - Harry perguntou brincalhão, fazendo Cho sorrir, e piscou para o cachorro.
O cachorro atravessou o salão, e saiu em direção às escadas, mas parou em frente a uma porta, e entrou.
-x-x-x-
Assim que entrou na sala, o corpo de Arabella Figg desapareceu para que o de Anne surgisse. Sem preocupar se alguém a veria ali, ela foi para o seu antigo refúgio, como se pudesse se esconder. No dia seguinte, aconteceria o ataque a Hogsmeade, e ela já havia feito a sua parte.
Naquele momento, Voldemort estava escondido com alguns Comensais em uma caverna perto de Hogsmeade, e entre esses Comensais, estaria Pedro Pettigrew, mas depois do que aconteceria, faria pouca diferença se alguém descobrisse ou não que Rabicho era o verdadeiro traidor dos Potter.
A cabeça de Anne doía. Por alguns instantes, ela pensou se conseguiria fazer tudo o que estava planejado, mas uma onda de coragem percorreu o seu corpo quando ela percebeu que não havia mais volta. Depois do ataque a Hogsmeade, tudo seria diferente.
Anne estava tão distraída, que só percebeu que Sirius estava ali quando ele falou.
- Imaginei que você estaria aqui...
Como se tivesse levado um choque, Anne voltou-se na direção onde Sirius estava.
- Sirius... O que você está fazendo aqui? - ela perguntou aturdida.
- Eu não queria que você ficasse sozinha esta noite. - ele quase sorriu - Me lembro de como você reclamava que seus bailes sempre foram péssimos, e não queria que você tivesse mais um na lista.
- Obrigada - ela olhou ternamente para ele.
Sirius se sentou no sofá, ao lado de Anne, sem que nenhum dos dois dissesse uma palavra. Como sempre aconteceu entre eles, era como se o silêncio fizesse com que um percebesse com clareza o que o outro sentia, e Sirius não deixou de notar a agitação de Anne, mas não perguntou nada. Sabia que ela não falaria.
Parecia ter passado um longo tempo quando Sirius finalmente se levantou, mas ele só estava lá há pouco mais de uma hora.
- Eu acho melhor ir, deixei Harry sozinho com uma garota da Corvinal.
Sirius deu um passo, mas a mão de Anne o reteve.
- Sirius, por favor, fica comigo esta noite!
O tom desesperado na voz dela o preocupou, e ele não relutou quando Anne o abraçou, como se ele fosse a única pessoa que pudesse salvá-la, nem quando sentiu que os lábios dela procuravam os seus. Como se tivesse sido derrotado, ele não resistiu quando os lábios temerosos de Anne uniram-se aos seus, fazendo com que uma onda de desejo reprimida a muito custo surgisse com força.
- Por favor, não me deixe sozinha... - ela murmurou.
- Eu não poderia nem se quisesse, Annie.
Anne se enlaçou a Sirius com urgência, e suas mãos desceram pelas costas dele, enquanto a língua dele percorreu a boca dela com desespero, e as mãos de Sirius passeavam pelo corpo de Anne com impetuosidade.
Sirius havia lutado para não deixar que isso acontecesse, mas subitamente, não conseguiu mais resistir, e enquanto ele a beijava, sentia que ela precisava dele mais do que nunca.
Sirius sentiu que as mãos de Anne começavam a desabotoar as suas vestes, e então, como se acordasse de um sonho, percebeu a loucura que estavam fazendo. Ele era um prisioneiro fugitivo, estava correndo um risco, e se continuasse ali, colocava Anne na mesma situação de perigo que estava. Com dificuldade para vencer o próprio desejo, Sirius a afastou.
- Não, Annie. Eu não estou sendo justo com você.
E sem esperar pela resposta da mulher, ele se transformou em cão outra vez, saindo em seguida.
Anne olhou para a porta desnorteada, quase achando que nada havia acontecido, mas recuperando o controle, ela tomou a poção e seu corpo se transformou no de Arabella Figg, e voltou para o seu quarto, onde se sentou na cadeira em frente à mesa, e começou a escrever quatro cartas.
-x-x-x-
Apesar do baile ter terminado tarde, no dia seguinte, os alunos que iriam para Hogsmeade acordaram animados. Era a última visita antes das férias de fim de ano, e ninguém queria perder um minuto.
Rony levantou-se apressadamente.
- Harry, acorda, hoje tem visita a Hogsmeade!
Harry se sentou na cama, desanimado.
- Não posso, minha detenção foi ficar sem visitar Hogsmeade, esqueceu?
- Pensei que você ia falar com a professora Minerva...
- A professora McGonagall não deixou, e acho que a professora Figg não voltaria atrás. Talvez a Hermione vá.
- Não, Harry, ela tem reunião de monitores, por causa do baile de ontem. - ele parecia decepcionado - Droga, eu queria que você fosse comigo...
- Por que? - Harry perguntou, curioso.
- Bem... - Rony corou - É que eu queria comprar um presente para a Mione...
Harry sorriu. Já havia percebido que os dois amigos estavam mais próximos, e que Rony finalmente havia entendido o que Hermione disse para ele no baile do ano passado.
- Você não precisa da minha opinião para comprar um presente para a Mione. Compre uma coisa que você acha que a divertiria, e ela com certeza vai gostar.
- Certo, mas nada de livros. - Rony disse taxativo - Acho que ela já tem livros demais aqui em Hogwarts.
-Acho que você vai se sair muito bem - Harry disse, confiante, e acompanhou o amigo até o salão principal.
-x-x-x-
Hermione encontrou-se com Harry quando ele saía do salão.
- O que houve com a reunião?
- Cancelada. Um monitor da Corvinal teve que ir para a ala hospitalar.
- Já comeu?
- Sim, eu comi antes da reunião. E o Rony?
- Foi para Hogsmeade. O que você acha... - mas Harry não terminou a frase. Sentiu a cicatriz doer, nunca havia doído tão forte assim, exceto quando esteve frente à frente com Voldemort no final do quarto ano, e levou a mão à testa.
- Harry, o que foi? - Hermione perguntou, preocupada - Harry, fala comigo!
Ignorando a amiga, Harry foi até uma janela, e viu, brilhando fortemente, a Marca Negra de Voldemort pintada no céu sobre Hogsmeade, em cor verde.
- Ah, Meu Deus! - a garota murmurou, surpresa, enquanto que ao redor deles, vários alunos dos primeiro e segundo anos observavam a Marca, apavorados - Rony está lá! - ela disse com a voz esganiçada, muito assustada - Temos que avisar Dumbledore, Harry!
- S-sim... - Harry apressou-se a concordar, com raiva de si mesmo. Dumbledore havia dito que sua cicatriz era um elo entre ele e Voldemort, então como não conseguiu "ver" que o bruxo planejava atacar Hogsmeade?
Rapidamente, Harry e Hermione saíram do salão, a tempo de verem a professora Figg passar apressada pelos dois, sem notar os alunos, ou o vidro que havia deixado cair, que Hermione apanhou.
- Venha comigo, Hermione - ele disse subitamente, seguindo um instinto.
- Mas, Harry, e Dumbledore?
- Ele já deve saber o que está acontecendo, Mione! Vamos logo!
Mione olhou espantada para Harry. Nunca vira o amigo tão nervoso, e sabendo que ele não estava agindo assim em ao, seguiu Harry até a mesma sala que a professora Figg entrou.
A porta abriu depois que Harry disse o feitiço, e o rapaz e Hermione olharam espantados para a professora Figg, que estava prestes a entrar numa passagem. Hermione era a mais surpresa.
Arabella Figg estava fugindo, era óbvio, e só podia estar indo para um lugar. Hogsmeade. Ela nunca se sentiu tão estúpida. Havia confiado nela, havia brigado com Harry e Rony por causa dela, e o tempo todo, ela a estava enganando.
- Você estava certo, Harry! - Hermione admitiu, com raiva, e atraiu a atenção da professora.
- Harry... Hermione... O que vocês estão fazendo aqui? - ela perguntou, a cor desaparecendo de seu rosto.
- Nós é que deveríamos fazer essa pergunta, afinal, é você quem está fugindo, não é?! - ele disse com raiva, pensando em Rony, que estava em Hogsmeade.
- Eu não estou tentando fugir, Harry, eu estou tentando proteger você!
Harry olhava com uma mistura de incredulidade e obstinação. Ele segurava a varinha e a apontava com firmeza para a professora de Defesa contra as artes das trevas, Arabella Figg.
- Não tente me enganar! Eu não vou deixar você sair daqui!
Anne, no corpo de Arabella Figg, estava nervosa, e ao mesmo tempo, impaciente. Se Harry não a deixasse passar logo, tudo o que havia planejado teria sido em vão, pois já era tarde demais para que ela pudesse pensar em algo que evitasse que seus planos não fossem arruinados.
- Harry, por favor, eu preciso ir agora!
- É claro que você precisa! Você tem que ir ao encontro dele, não é? - Harry disse com fúria, sem desviar a varinha da direção da professora.
Os lábios da mulher pareceram hesitar antes que a resposta saísse.
- Eu... eu não sei do que você está falando...
O grito do rapaz saiu como uma explosão.
- Voldemort! Eu sei para onde você está indo, eu sei o que você é!
A professora Figg mordeu o lábio, titubeando em qual decisão tomar. Por fim, ela fechou os olhos e pegou a sua varinha.
- Harry, eu sinto muito, mas se você não deixar eu passar, eu vou ter que usar isso, por mais que doa em mim.
Uma voz atrás de Harry surgiu antes que o garoto pudesse tomar uma atitude.
- Eu tenho certeza que não vai doer nada, afinal, você foi capaz de coisas bem piores! Expelliarmus!
No instante seguinte, a varinha da professora estava na mão de Hermione, que olhava furiosa para a professora.
- Hermione, por favor... Devolva-me essa varinha!
A voz da professora geralmente doce agora estava rouca e num tom diferente, mas mesmo impressionada com a mudança de voz da professora, Hermione não relaxou.
- Nunca! Se depender de mim, você não sai desse castelo, a não ser se for para ir direto a Azkaban!
Arabella olhou de Hermione para Harry com o olhar suplicante.
- Por favor, eu tenho que ir! Eu tenho que ajudar Dumbledore!
Harry olhou com raiva para a professora, e gritou a plenos pulmões.
- Como você pode falar de ajudar Dumbledore depois de todas as traições que você fez a ele? Você pode ter enganado Dumbledore, mas não me enganou! Eu sempre soube o que você era! Uma Comensal! Eu vi a marca no seu braço no outro dia!
Arabella Figg olhava sem surpresa para Harry, consciente de que havia perdido. Mas quem olhava surpreso para ela era o próprio Harry, pois os olhos de Arabella Figg mudavam de cor. Ao invés dos gentis olhos azuis-turquesa, surgia um par de olhos verde-escuros com algumas manchas amareladas. A professora percebeu o olhar de Harry, e imediatamente começou a procurar por algo em seus bolsos.
- Meu remédio! Eu preciso tomar meu remédio!
- Você está procurando por isso? - Hermione chamou a atenção da professora e mostrou um vidro com um líquido dentro dele - Desculpe, mas eu acho que não vou poder dar a você. Faz mal tomar remédio quando não se está doente.
Harry olhou impressionado para Hermione. Nunca havia visto a amiga tão implacável quanto agora, mas entendia o que ela deveria estar passando para estar agindo dessa forma.
Arabella arfava, assustada. Depois de uns instantes, ela fez um gesto com os braços como se tivesse desistido de lutar. No instante seguinte, os cabelos brancos começavam a mudar para um tom preto bastante escuro, o corpo frágil se tornava mais forte, e qualquer sinal de velhice desaparecia. Agora, ao contrário da delicada professora Figg, estava na frente de Harry e Hermione uma jovem de pouco mais de trinta anos, com um olhar determinado no rosto de expressão dura. Harry e Hermione não deixam de notar uma marca forte, bastante visível, no braço esquerdo da mulher: a Marca Negra.
- Quem é você? - Harry perguntou, achando que havia algo nela que lembrava alguém.
A mulher suspirou. Eles já haviam descoberto que ela não era Arabella Figg, não faria diferença nenhuma se soubessem quem ela era de verdade.
- Meu nome é Adrianne. Adrianne Snape.
Harry olhou surpreso para Hermione e depois para a mulher. Como ela poderia ser quem dizia que era? A irmã do professor de Poções estava morta, e ele ouviu isso do próprio Snape.
- Você... você está morta! - Harry disse, confuso, depois de uns instantes em que observou a mulher.
- Não, Harry, eu não estou morta. Arabella Figg está morta, e acho que Hermione percebeu tudo, não é?
Hermione concordou com a cabeça antes de falar.
- Você deixou cair quando passou por nós. - ela mostrou o vidro, enquanto encarava a professora com olhar feroz - Poção Melissuco, não é? Eu reconheci imediatamente. Snape nos ensinou, talvez para que nós descobríssemos sobre você. Ele também deve saber que você é uma Comensal, mas errou quando não denunciou você. - ela disse com desprezo.
- Severo não sabe sobre mim, Hermione. Ninguém sabe - ela disse, evitando mencionar Sirius, sem saber que Harry sabia que ela e o padrinho se conheciam.
- Como ele não poderia saber? - Harry perguntou - Ele está espionando Voldemort, deve conhecer todos os Comensais!
- Eu tomei cuidado para que Voldemort não me visse com meu irmão, Harry, senão ele descobriria a verdade.
- Que verdade? - Harry perguntou com raiva - Do que você está falando?
- Voldemort é um bruxo poderoso o bastante para reconhecer sentimentos só pelo olhar. Quando ele me viu, depois de tantos anos, enxergou duas coisas em mim, lealdade e traição, mas não percebeu que eu estava sendo leal a Dumbledore e o traindo. Durante todo esse tempo, Harry, eu fui uma Comensal, espionei para Voldemort, mas ao mesmo tempo, eu conheci a Ordem das Trevas como talvez só Voldemort a conheça, e tudo o que eu descobri está na minha sala, para Dumbledore saber e combater Voldemort, mas ainda tenho uma coisa a fazer, Harry, e se você não me deixar ir, todos os meus esforços terão sido por nada.
Enquanto Anne falava, Harry percebeu que ela tinha o mesmo olhar que Sirius tinha quando descobriu que o padrinho não havia sido o culpado pela morte de seus pais, e entendeu que a mulher falava a verdade. O tempo todo ela o protegeu, tanto que fez com que a detenção dele fosse ficar no castelo no dia do ataque. Surpreendendo Hermione, Harry pegou a varinha da mulher e a devolveu.
- Tome. Vá logo para Hogsmeade, e proteja Rony. Ele está lá.
Anne acenou com a cabeça para Harry, e depois de se transformar em pantera, ela entrou na passagem que levava para a Floresta Proibida, mas não foi imediatamente para Hogsmeade. Antes disso, ela tinha que fazer valer a pena todos os sacrifícios que Sirius havia feito. Iria entregar o verdadeiro traidor dos Potter.
-x-x-x-
Sirius acordou na forma de cachorro, e procurou Harry, mas enquanto caminhava, viu a agitação dos alunos da Grifinória que estavam no salão comunal.
- Colin está lá!
- Ah, Merlin, isso não pode estar acontecendo!
Intrigado, Sirius foi até a uma das janelas, e viu a Marca Negra no céu. Imediatamente, ele foi até a sala da professora Figg.
Assim que entrou na sala, Sirius fechou a porta e se transformou, mas ninguém estava na sala. Ele foi até a mesa, e viu quatro envelopes, um para Dumbledore, um para Harry, para Severo, e outro para ele. Sirius segurou o envelope e leu o pergaminho que estava dentro.
"Meu querido
Nunca conseguirei recompensar todos os sacrifícios que você fez por mim. Por minha culpa, Tiago e Lílian foram mortos, e você perdeu sua liberdade. Não conseguirei devolver tudo o que você perdeu por causa dos meus erros, mas darei a você uma nova chance.
Quando você estiver lendo isso, eu já terei ido, mas isso não importa. O que importa é que você continuará, livre, e poderá cuidar do Harry como Lílian e Tiago queriam, e como deveria ter sido desde o começo.
Eu só quero que você me prometa uma coisa. Procure alguém que te faça feliz como eu nunca consegui fazer, e seja feliz. Você, mais do que qualquer outra pessoa que conheci, merece isso.
Annie."
Sirius deixou o pergaminho cair no chão, sem perceber que o fazia. Anne iria se sacrificar. Iria entregar Rabicho, e sabia que não conseguiria escapar da prisão, por isso ela parecia tão perturbada na outra noite.
- Não, Annie, eu não posso deixar você fazer isso - ele disse entre dentes, e depois de se transformar em cão, foi para a sala secreta, chegando lá no instante em que Mione e Harry saíam.
- Onde Anne está? - ele perguntou com veemência depois de voltar à forma humana.
- Ela já foi, Sirius. - Harry disse, tentando acalmar o padrinho - Ela tinha que ajudar Dumbledore.
- Harry, ela não vai ajudar Dumbledore, ela vai se sacrificar para que Rabicho vá para Azkaban!
Entendendo o medo do padrinho, Harry concordou com um gesto da cabeça.
- Temos que ir para Hogsmeade. Tem uma passagem... - ele começou, mas Sirius o interrompeu.
- Eu sei onde fica. Vamos.
E sem se importar com os olhares apavorados dos alunos ao verem Sirius, ele, Harry e Hermione foram até a passagem da bruxa de um olho só que Harry havia usado tantas vezes no terceiro ano para ir para Hogsmeade.
-x-x-x-
Transformada em pantera, Anne chegou rapidamente ao esconderijo de Voldemort. Rabicho havia ficado, pois seria arriscado se ele fosse para o povoado e alguém o reconhecesse. A mulher esperava por isso, e não se surpreendeu ao encontrar o bruxo na caverna.
- Pettigrew. - ela o chamou, tentando disfarçar o ódio - Você está aí?
O pequeno bruxo saiu. Ele era o único, além de Voldemort, que sabia sobre Anne.
- O que foi, Snape?
- Precisamos de você. Já temos Potter, mas precisamos de todos para derrotar os professores de Hogwarts.
- Mas milorde disse para eu ficar aqui, e não sair por nada - ele disse, temeroso.
- Ora, você não passa de um miserável covarde mesmo! Milorde não ficará nada satisfeito se você não for.
Com medo do castigo, Rabicho, depois de relutar mais um pouco, acabou concordando, e os dois foram para o povoado.
Quanto mais Anne e Pedro se aproximavam, ficava mais visível o estado de destruição do povoado. Ele se voltou para Anne sem entender porque ela o trouxera até lá, mas quando se virou e viu que a mulher apontava a varinha em sua direção, percebeu que havia caído numa armadilha.
- Larga. A. Varinha. - Anne disse ferozmente, sem desviar o olhar de Pettigrew.
Rabicho olhou para os lados, covardemente, e sem conseguir pensar numa forma de fugir, pegou a varinha, e a levou lentamente para o chão. Anne, pensando que havia conseguido dominar o outro bruxo, relaxou a vigilância por um segundo, mas foi o suficiente para que Pedro segurasse a varinha com firmeza, e apontasse na direção de Anne.
- Se você se mexer, Snape, eu acabo com você!
Anne não reagiu, surpresa por ver Pedro demonstrar tanta bravura. Nunca imaginou que ele fosse capaz disso, mas não iria deixar que ele escapasse mais uma vez. A tensão no ar era palpável, e nenhum dos dois desviava o olhar um do outro. Pedro, um olhar misto de coragem e insegurança, Anne, um olhar determinado.
Sem que Pedro esperasse, Anne se transformou em pantera, e saltou sobre o Comensal. Rabicho arregalou os olhos, e antes que a pantera o acertasse, gritou o feitiço.
- Cruccio!
Assim que foi atingida, a pantera caiu, mas mesmo o animal estando no chão, Pedro continuou segurando a varinha com determinação, até que vindo do povoado, um grande cachorro preto saltou sobre o bruxo, e atrás dele, vinham três alunos de Hogwarts: Harry, Rony e Mione.
O cão e Pedro lutaram com violência. O cachorro só relaxou quando a varinha do bruxo voou para longe, e Rony se aproximou dos dois.
- Pode deixar, Sirius, ele não vai fugir dessa vez. - corajosamente, o ruivo apontou a varinha para Rabicho - E nem pense em se transformar!
Depois que Sirius atacou Pedro, Anne deixou de ser atingida pelo Cruciatus e conseguiu voltar à forma humana, mas tremia e suava muito, e seu rosto estava bastante pálido. Toda célula de seu corpo doía como nunca, e a dor percorreu todo seu corpo até se concentrar em seu cérebro. Anne mal conseguia pensar. A única coisa que conseguia sentir era dor.
Num gesto veemente, Sirius se voltou para Harry e Hermione, que estavam com Anne, e a segurou nos braços.
- Annie, o que você fez? - ele perguntou tentando disfarçar o quanto estava preocupado com ela, e afastou os cabelos do rosto dela.
- Eu... eu tinha... - ela estava fraca, e sua voz saía devagar e quase num sussurro - que inocentar... você... - ela fechou os olhos.
- Fica comigo, Anne! Você não pode ir, Annie! - ele gritou com desespero, e ficou aliviado quando ela abriu os olhos.
Mas Anne não olhava para Sirius. Ela olhava para alguma coisa atrás dele, e sorriu, um sorriso trêmulo, antes de falar, ainda fraca.
- Eu... não posso, Sirius! Preciso voltar para... o dormitório.
Em seguida, ela fechou os olhos, e Sirius a abraçou, chorando, sem querer soltar o corpo cada vez mais frio de Anne.
Os alunos estavam animados. Graças a Arabella Figg, o Baile de Inverno do ano passado aconteceria novamente, e esse era o assunto principal das conversas, mas nem todos estavam animados.
William Wilder andava cabisbaixo em sua cadeira de rodas pelo corredor. Evitava ficar na Sonserina sempre que possível, pois quase sempre alguém o importunava com uma brincadeira de mau gosto.
Às vezes ele se lembrava com saudade do terrível orfanato em que morava, e desejava nunca ter recebido a carta de Hogwarts, o que não deixava de ser irônico. Quando recebeu a carta, pensou que finalmente seria respeitado, mas em Hogwarts estava sendo mais humilhado que no orfanato.
O pior de todos era Draco Malfoy. Sempre que Will se encontrava com Malfoy, o loiro fazia questão de mostrar a repulsa que sentia pelo outro. Por isso, quando Will viu Draco dobrando o corredor para entrar no salão principal, o garotinho pousou a mão com firmeza nas rodas, mas Draco já o vira.
- O que foi, Wilder? Vai lubrificar as rodas? Talvez assim você consiga chegar para a aula de Herbologia antes que a aula de Feitiços termine... - ele finalizou com um sorriso zombeteiro.
- Cuide da sua vida, Malfoy - Will resmungou.
- E eu estou cuidando, Wilder. Já pensou se essa sua cadeira estúpida de trouxa quebra em frente à sala de Poções? Como eu irei para a aula de Transfiguração?
Havia um tom de desprezo na voz de Draco que irritou Will, e antes que ele pudesse pensar, ele girou a cadeira, mas antes que avançasse em direção a Malfoy, eles ouviram sons de vozes animadas, e logo surgiram os rostos de Rony, Mione e Harry.
- O que está acontecendo por aqui? - Hermione perguntou com o autoritarismo de sua função de monitora da Grifinória.
- Eu só estava ajudando o Wilder. - Malfoy disse com uma expressão de falsidade - A cadeira dele emperrou.
- Eu não preciso da sua ajuda, Malfoy - Will disse com raiva.
- Ah, então você já consegue segurar a varinha sem a ajuda de um professor? - ele se virou para Harry - Ouviu isso? Talvez o Wilder possa te ensinar, Potter!
Harry olhou com fúria para Malfoy, e sem pensar que poderia perder pontos, apontou a varinha para o sonserino.
- Hoctu...
- Harry Potter!
O pequeno grupo voltou-se para a porta de entrada do salão, onde estava a professora Figg, os encarando com um olhar mais severo que o da professora McGonagall.
- Eu não consigo acreditar que você estivesse tentando enfeitiçar um colega seu! Infelizmente, vou ter que tirar quinze pontos da Grifinória, e você terá que ficar em detenção.
Enquanto Harry estava surpreso, no rosto de Draco, havia uma expressão de divertimento.
- Desculpe, professora, mas Draco zombou de Harry! - Rony interviu, bastante contrariado com a punição do amigo - Ele também merece ser punido!
- Hermione. - a professora voltou-se para a aluna - Você é monitora, se não me engano. Como pôde deixar isso acontecer?
- Ela não teve culpa, professora Figg. - Will disse, encarando a professora com coragem - Malfoy me desprezou como bruxo, e ofendeu Potter, e antes que Granger pudesse fazer qualquer coisa, Potter se defendeu.
A professora pareceu mais calma, mas continuava um pouco irritada.
- Harry pode ter tentado se defender de uma ofensa de Draco, mas isso não justifica uma tentativa de enfeitiçá-lo, Will. Infelizmente, Harry, você está em detenção. - ela engoliu em seco, e encarou Draco e William - Quanto a vocês dois, venham comigo.
O sorriso de vitória desapareceu imediatamente do rosto de Draco.
- Mas, professora, o que eu fiz?
- Venha comigo, Draco - Arabella Figg disse com firmeza, e Draco, contrariado, a seguiu até a sala da professora.
Era uma sala agradável, limpa e confortável. Havia alguns livros de História da Magia dos últimos anos, mas nada que mostrasse qualquer coisa da vida pessoal de Arabella Figg.
- Muito bem. - a professora começou depois que os três entraram na sala - Pelo que eu entendi, Draco, você acha que Will não é um bruxo muito eficiente. Então você deve ser um bruxo muito bem preparado. - ela disse com um tom quase imperceptível de sarcasmo.
- Eu tenho orgulho disso, professora. - Draco disse com soberba.
- Bem, se você é um bruxo tão poderoso como diz ser, então deve ser capaz de ajudar Will a se tornar um bruxo tão poderoso quanto você é.
Draco e William olharam em pânico para a professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, tanto um como o outro querendo impedir que essas aulas acontecessem.
- Mas, professora, eu tenho os N.O.M.'s!
- Ora, Draco, você deve saber tanto que a prova do N.O.M. vai parecer uma simples tarefa extra-classe.
Draco gaguejou uma resposta, mas não conseguiu argumentar. Se continuasse a se recusar, a professora poderia pensar que ele havia mentido, e Draco nunca deixaria que isso acontecesse.
- Professora, eu não preciso de aula nenhuma! Eu sou capaz de aprender tudo sozinho!
- Minha decisão já foi tomada, Will. - Arabella Figg disse energeticamente. - As aulas poderão ser na minha sala, três vezes por semana depois da última aula, e não vou tolerar atrasos.
Arabella Figg disse em tom irredutível, e sabendo que não conseguiriam convencer a professora, saíram da sala derrotados.
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A decoração do salão não era grandiosa como a do ano anterior, mas os alunos estavam se sentindo muito à vontade. Várias fadas foram encantadas para sobrevoar o salão, e delas saíam pequenas faíscas de várias cores que iluminavam o ambiente e desapareciam antes de tocar alguém ou de atingir o chão. Nas paredes, luzes coloridas refletiam como se um iluminador trouxa estivesse no teto, mas claro que era magia. No chão, as grandes mesas das casas haviam sido afastadas, exceto a dos professores e a mesa com as comidas, e no lugar delas, havia poucas mesas pequenas, dando espaço para os que queriam dançar. No lado de fora, vários banquinhos que se iluminavam com uma luz nebulosa quando alguém se sentava tornava o jardim bastante acolhedor para os que queriam mais privacidade.
Arabella Figg recebia o cumprimento de muitos, pois foi a principal organizadora do baile, e fizera o possível para que nada saísse errado, mas ela ficou pouco tempo no salão. Dizendo que havia feito a festa para os alunos, ela foi embora, mas todos estavam contentes demais para se importar com isso. Era a noite do baile, e no dia seguinte, eles visitariam Hogsmeade.
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- Você não vai dançar? - Rony perguntou para Harry quando se levantou, ao mesmo tempo em que Hermione, sua acompanhante. Depois do que aconteceu no baile do ano passado, ele decidiu seguir o conselho da própria garota, e a convidou antes que alguém o fizesse.
- Agora não - Harry olhou de Cho para o amigo com um pouco de tristeza. Ele também convidou a corvinal para ir ao baile, e a garota havia aceitado, mas depois de algumas conversas com ela, Harry percebeu que ela só conseguiria ser sua amiga. Cho ainda sentia a morte de Cedrico.
Rony e Mione se afastaram, deixando Cho e Harry sozinhos, mas eles não ficaram intimidados. Conversavam animadamente até que o cão de Harry se aproximou de onde eles estavam.
- O que foi, Snuffles? - Harry perguntou, enquanto o cachorro olhava em direção a uma porta - Quer sair? Tudo bem, não vai acontecer nada comigo.
- Engraçado esse seu cachorro... - Cho disse sorrindo, enquanto o animal se afastava. - Parece que você entende o que ele quer, mas o mais estranho é que ele entende o que você diz.
- Será que ele seria da Corvinal se fosse humano? - Harry perguntou brincalhão, fazendo Cho sorrir, e piscou para o cachorro.
O cachorro atravessou o salão, e saiu em direção às escadas, mas parou em frente a uma porta, e entrou.
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Assim que entrou na sala, o corpo de Arabella Figg desapareceu para que o de Anne surgisse. Sem preocupar se alguém a veria ali, ela foi para o seu antigo refúgio, como se pudesse se esconder. No dia seguinte, aconteceria o ataque a Hogsmeade, e ela já havia feito a sua parte.
Naquele momento, Voldemort estava escondido com alguns Comensais em uma caverna perto de Hogsmeade, e entre esses Comensais, estaria Pedro Pettigrew, mas depois do que aconteceria, faria pouca diferença se alguém descobrisse ou não que Rabicho era o verdadeiro traidor dos Potter.
A cabeça de Anne doía. Por alguns instantes, ela pensou se conseguiria fazer tudo o que estava planejado, mas uma onda de coragem percorreu o seu corpo quando ela percebeu que não havia mais volta. Depois do ataque a Hogsmeade, tudo seria diferente.
Anne estava tão distraída, que só percebeu que Sirius estava ali quando ele falou.
- Imaginei que você estaria aqui...
Como se tivesse levado um choque, Anne voltou-se na direção onde Sirius estava.
- Sirius... O que você está fazendo aqui? - ela perguntou aturdida.
- Eu não queria que você ficasse sozinha esta noite. - ele quase sorriu - Me lembro de como você reclamava que seus bailes sempre foram péssimos, e não queria que você tivesse mais um na lista.
- Obrigada - ela olhou ternamente para ele.
Sirius se sentou no sofá, ao lado de Anne, sem que nenhum dos dois dissesse uma palavra. Como sempre aconteceu entre eles, era como se o silêncio fizesse com que um percebesse com clareza o que o outro sentia, e Sirius não deixou de notar a agitação de Anne, mas não perguntou nada. Sabia que ela não falaria.
Parecia ter passado um longo tempo quando Sirius finalmente se levantou, mas ele só estava lá há pouco mais de uma hora.
- Eu acho melhor ir, deixei Harry sozinho com uma garota da Corvinal.
Sirius deu um passo, mas a mão de Anne o reteve.
- Sirius, por favor, fica comigo esta noite!
O tom desesperado na voz dela o preocupou, e ele não relutou quando Anne o abraçou, como se ele fosse a única pessoa que pudesse salvá-la, nem quando sentiu que os lábios dela procuravam os seus. Como se tivesse sido derrotado, ele não resistiu quando os lábios temerosos de Anne uniram-se aos seus, fazendo com que uma onda de desejo reprimida a muito custo surgisse com força.
- Por favor, não me deixe sozinha... - ela murmurou.
- Eu não poderia nem se quisesse, Annie.
Anne se enlaçou a Sirius com urgência, e suas mãos desceram pelas costas dele, enquanto a língua dele percorreu a boca dela com desespero, e as mãos de Sirius passeavam pelo corpo de Anne com impetuosidade.
Sirius havia lutado para não deixar que isso acontecesse, mas subitamente, não conseguiu mais resistir, e enquanto ele a beijava, sentia que ela precisava dele mais do que nunca.
Sirius sentiu que as mãos de Anne começavam a desabotoar as suas vestes, e então, como se acordasse de um sonho, percebeu a loucura que estavam fazendo. Ele era um prisioneiro fugitivo, estava correndo um risco, e se continuasse ali, colocava Anne na mesma situação de perigo que estava. Com dificuldade para vencer o próprio desejo, Sirius a afastou.
- Não, Annie. Eu não estou sendo justo com você.
E sem esperar pela resposta da mulher, ele se transformou em cão outra vez, saindo em seguida.
Anne olhou para a porta desnorteada, quase achando que nada havia acontecido, mas recuperando o controle, ela tomou a poção e seu corpo se transformou no de Arabella Figg, e voltou para o seu quarto, onde se sentou na cadeira em frente à mesa, e começou a escrever quatro cartas.
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Apesar do baile ter terminado tarde, no dia seguinte, os alunos que iriam para Hogsmeade acordaram animados. Era a última visita antes das férias de fim de ano, e ninguém queria perder um minuto.
Rony levantou-se apressadamente.
- Harry, acorda, hoje tem visita a Hogsmeade!
Harry se sentou na cama, desanimado.
- Não posso, minha detenção foi ficar sem visitar Hogsmeade, esqueceu?
- Pensei que você ia falar com a professora Minerva...
- A professora McGonagall não deixou, e acho que a professora Figg não voltaria atrás. Talvez a Hermione vá.
- Não, Harry, ela tem reunião de monitores, por causa do baile de ontem. - ele parecia decepcionado - Droga, eu queria que você fosse comigo...
- Por que? - Harry perguntou, curioso.
- Bem... - Rony corou - É que eu queria comprar um presente para a Mione...
Harry sorriu. Já havia percebido que os dois amigos estavam mais próximos, e que Rony finalmente havia entendido o que Hermione disse para ele no baile do ano passado.
- Você não precisa da minha opinião para comprar um presente para a Mione. Compre uma coisa que você acha que a divertiria, e ela com certeza vai gostar.
- Certo, mas nada de livros. - Rony disse taxativo - Acho que ela já tem livros demais aqui em Hogwarts.
-Acho que você vai se sair muito bem - Harry disse, confiante, e acompanhou o amigo até o salão principal.
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Hermione encontrou-se com Harry quando ele saía do salão.
- O que houve com a reunião?
- Cancelada. Um monitor da Corvinal teve que ir para a ala hospitalar.
- Já comeu?
- Sim, eu comi antes da reunião. E o Rony?
- Foi para Hogsmeade. O que você acha... - mas Harry não terminou a frase. Sentiu a cicatriz doer, nunca havia doído tão forte assim, exceto quando esteve frente à frente com Voldemort no final do quarto ano, e levou a mão à testa.
- Harry, o que foi? - Hermione perguntou, preocupada - Harry, fala comigo!
Ignorando a amiga, Harry foi até uma janela, e viu, brilhando fortemente, a Marca Negra de Voldemort pintada no céu sobre Hogsmeade, em cor verde.
- Ah, Meu Deus! - a garota murmurou, surpresa, enquanto que ao redor deles, vários alunos dos primeiro e segundo anos observavam a Marca, apavorados - Rony está lá! - ela disse com a voz esganiçada, muito assustada - Temos que avisar Dumbledore, Harry!
- S-sim... - Harry apressou-se a concordar, com raiva de si mesmo. Dumbledore havia dito que sua cicatriz era um elo entre ele e Voldemort, então como não conseguiu "ver" que o bruxo planejava atacar Hogsmeade?
Rapidamente, Harry e Hermione saíram do salão, a tempo de verem a professora Figg passar apressada pelos dois, sem notar os alunos, ou o vidro que havia deixado cair, que Hermione apanhou.
- Venha comigo, Hermione - ele disse subitamente, seguindo um instinto.
- Mas, Harry, e Dumbledore?
- Ele já deve saber o que está acontecendo, Mione! Vamos logo!
Mione olhou espantada para Harry. Nunca vira o amigo tão nervoso, e sabendo que ele não estava agindo assim em ao, seguiu Harry até a mesma sala que a professora Figg entrou.
A porta abriu depois que Harry disse o feitiço, e o rapaz e Hermione olharam espantados para a professora Figg, que estava prestes a entrar numa passagem. Hermione era a mais surpresa.
Arabella Figg estava fugindo, era óbvio, e só podia estar indo para um lugar. Hogsmeade. Ela nunca se sentiu tão estúpida. Havia confiado nela, havia brigado com Harry e Rony por causa dela, e o tempo todo, ela a estava enganando.
- Você estava certo, Harry! - Hermione admitiu, com raiva, e atraiu a atenção da professora.
- Harry... Hermione... O que vocês estão fazendo aqui? - ela perguntou, a cor desaparecendo de seu rosto.
- Nós é que deveríamos fazer essa pergunta, afinal, é você quem está fugindo, não é?! - ele disse com raiva, pensando em Rony, que estava em Hogsmeade.
- Eu não estou tentando fugir, Harry, eu estou tentando proteger você!
Harry olhava com uma mistura de incredulidade e obstinação. Ele segurava a varinha e a apontava com firmeza para a professora de Defesa contra as artes das trevas, Arabella Figg.
- Não tente me enganar! Eu não vou deixar você sair daqui!
Anne, no corpo de Arabella Figg, estava nervosa, e ao mesmo tempo, impaciente. Se Harry não a deixasse passar logo, tudo o que havia planejado teria sido em vão, pois já era tarde demais para que ela pudesse pensar em algo que evitasse que seus planos não fossem arruinados.
- Harry, por favor, eu preciso ir agora!
- É claro que você precisa! Você tem que ir ao encontro dele, não é? - Harry disse com fúria, sem desviar a varinha da direção da professora.
Os lábios da mulher pareceram hesitar antes que a resposta saísse.
- Eu... eu não sei do que você está falando...
O grito do rapaz saiu como uma explosão.
- Voldemort! Eu sei para onde você está indo, eu sei o que você é!
A professora Figg mordeu o lábio, titubeando em qual decisão tomar. Por fim, ela fechou os olhos e pegou a sua varinha.
- Harry, eu sinto muito, mas se você não deixar eu passar, eu vou ter que usar isso, por mais que doa em mim.
Uma voz atrás de Harry surgiu antes que o garoto pudesse tomar uma atitude.
- Eu tenho certeza que não vai doer nada, afinal, você foi capaz de coisas bem piores! Expelliarmus!
No instante seguinte, a varinha da professora estava na mão de Hermione, que olhava furiosa para a professora.
- Hermione, por favor... Devolva-me essa varinha!
A voz da professora geralmente doce agora estava rouca e num tom diferente, mas mesmo impressionada com a mudança de voz da professora, Hermione não relaxou.
- Nunca! Se depender de mim, você não sai desse castelo, a não ser se for para ir direto a Azkaban!
Arabella olhou de Hermione para Harry com o olhar suplicante.
- Por favor, eu tenho que ir! Eu tenho que ajudar Dumbledore!
Harry olhou com raiva para a professora, e gritou a plenos pulmões.
- Como você pode falar de ajudar Dumbledore depois de todas as traições que você fez a ele? Você pode ter enganado Dumbledore, mas não me enganou! Eu sempre soube o que você era! Uma Comensal! Eu vi a marca no seu braço no outro dia!
Arabella Figg olhava sem surpresa para Harry, consciente de que havia perdido. Mas quem olhava surpreso para ela era o próprio Harry, pois os olhos de Arabella Figg mudavam de cor. Ao invés dos gentis olhos azuis-turquesa, surgia um par de olhos verde-escuros com algumas manchas amareladas. A professora percebeu o olhar de Harry, e imediatamente começou a procurar por algo em seus bolsos.
- Meu remédio! Eu preciso tomar meu remédio!
- Você está procurando por isso? - Hermione chamou a atenção da professora e mostrou um vidro com um líquido dentro dele - Desculpe, mas eu acho que não vou poder dar a você. Faz mal tomar remédio quando não se está doente.
Harry olhou impressionado para Hermione. Nunca havia visto a amiga tão implacável quanto agora, mas entendia o que ela deveria estar passando para estar agindo dessa forma.
Arabella arfava, assustada. Depois de uns instantes, ela fez um gesto com os braços como se tivesse desistido de lutar. No instante seguinte, os cabelos brancos começavam a mudar para um tom preto bastante escuro, o corpo frágil se tornava mais forte, e qualquer sinal de velhice desaparecia. Agora, ao contrário da delicada professora Figg, estava na frente de Harry e Hermione uma jovem de pouco mais de trinta anos, com um olhar determinado no rosto de expressão dura. Harry e Hermione não deixam de notar uma marca forte, bastante visível, no braço esquerdo da mulher: a Marca Negra.
- Quem é você? - Harry perguntou, achando que havia algo nela que lembrava alguém.
A mulher suspirou. Eles já haviam descoberto que ela não era Arabella Figg, não faria diferença nenhuma se soubessem quem ela era de verdade.
- Meu nome é Adrianne. Adrianne Snape.
Harry olhou surpreso para Hermione e depois para a mulher. Como ela poderia ser quem dizia que era? A irmã do professor de Poções estava morta, e ele ouviu isso do próprio Snape.
- Você... você está morta! - Harry disse, confuso, depois de uns instantes em que observou a mulher.
- Não, Harry, eu não estou morta. Arabella Figg está morta, e acho que Hermione percebeu tudo, não é?
Hermione concordou com a cabeça antes de falar.
- Você deixou cair quando passou por nós. - ela mostrou o vidro, enquanto encarava a professora com olhar feroz - Poção Melissuco, não é? Eu reconheci imediatamente. Snape nos ensinou, talvez para que nós descobríssemos sobre você. Ele também deve saber que você é uma Comensal, mas errou quando não denunciou você. - ela disse com desprezo.
- Severo não sabe sobre mim, Hermione. Ninguém sabe - ela disse, evitando mencionar Sirius, sem saber que Harry sabia que ela e o padrinho se conheciam.
- Como ele não poderia saber? - Harry perguntou - Ele está espionando Voldemort, deve conhecer todos os Comensais!
- Eu tomei cuidado para que Voldemort não me visse com meu irmão, Harry, senão ele descobriria a verdade.
- Que verdade? - Harry perguntou com raiva - Do que você está falando?
- Voldemort é um bruxo poderoso o bastante para reconhecer sentimentos só pelo olhar. Quando ele me viu, depois de tantos anos, enxergou duas coisas em mim, lealdade e traição, mas não percebeu que eu estava sendo leal a Dumbledore e o traindo. Durante todo esse tempo, Harry, eu fui uma Comensal, espionei para Voldemort, mas ao mesmo tempo, eu conheci a Ordem das Trevas como talvez só Voldemort a conheça, e tudo o que eu descobri está na minha sala, para Dumbledore saber e combater Voldemort, mas ainda tenho uma coisa a fazer, Harry, e se você não me deixar ir, todos os meus esforços terão sido por nada.
Enquanto Anne falava, Harry percebeu que ela tinha o mesmo olhar que Sirius tinha quando descobriu que o padrinho não havia sido o culpado pela morte de seus pais, e entendeu que a mulher falava a verdade. O tempo todo ela o protegeu, tanto que fez com que a detenção dele fosse ficar no castelo no dia do ataque. Surpreendendo Hermione, Harry pegou a varinha da mulher e a devolveu.
- Tome. Vá logo para Hogsmeade, e proteja Rony. Ele está lá.
Anne acenou com a cabeça para Harry, e depois de se transformar em pantera, ela entrou na passagem que levava para a Floresta Proibida, mas não foi imediatamente para Hogsmeade. Antes disso, ela tinha que fazer valer a pena todos os sacrifícios que Sirius havia feito. Iria entregar o verdadeiro traidor dos Potter.
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Sirius acordou na forma de cachorro, e procurou Harry, mas enquanto caminhava, viu a agitação dos alunos da Grifinória que estavam no salão comunal.
- Colin está lá!
- Ah, Merlin, isso não pode estar acontecendo!
Intrigado, Sirius foi até a uma das janelas, e viu a Marca Negra no céu. Imediatamente, ele foi até a sala da professora Figg.
Assim que entrou na sala, Sirius fechou a porta e se transformou, mas ninguém estava na sala. Ele foi até a mesa, e viu quatro envelopes, um para Dumbledore, um para Harry, para Severo, e outro para ele. Sirius segurou o envelope e leu o pergaminho que estava dentro.
"Meu querido
Nunca conseguirei recompensar todos os sacrifícios que você fez por mim. Por minha culpa, Tiago e Lílian foram mortos, e você perdeu sua liberdade. Não conseguirei devolver tudo o que você perdeu por causa dos meus erros, mas darei a você uma nova chance.
Quando você estiver lendo isso, eu já terei ido, mas isso não importa. O que importa é que você continuará, livre, e poderá cuidar do Harry como Lílian e Tiago queriam, e como deveria ter sido desde o começo.
Eu só quero que você me prometa uma coisa. Procure alguém que te faça feliz como eu nunca consegui fazer, e seja feliz. Você, mais do que qualquer outra pessoa que conheci, merece isso.
Annie."
Sirius deixou o pergaminho cair no chão, sem perceber que o fazia. Anne iria se sacrificar. Iria entregar Rabicho, e sabia que não conseguiria escapar da prisão, por isso ela parecia tão perturbada na outra noite.
- Não, Annie, eu não posso deixar você fazer isso - ele disse entre dentes, e depois de se transformar em cão, foi para a sala secreta, chegando lá no instante em que Mione e Harry saíam.
- Onde Anne está? - ele perguntou com veemência depois de voltar à forma humana.
- Ela já foi, Sirius. - Harry disse, tentando acalmar o padrinho - Ela tinha que ajudar Dumbledore.
- Harry, ela não vai ajudar Dumbledore, ela vai se sacrificar para que Rabicho vá para Azkaban!
Entendendo o medo do padrinho, Harry concordou com um gesto da cabeça.
- Temos que ir para Hogsmeade. Tem uma passagem... - ele começou, mas Sirius o interrompeu.
- Eu sei onde fica. Vamos.
E sem se importar com os olhares apavorados dos alunos ao verem Sirius, ele, Harry e Hermione foram até a passagem da bruxa de um olho só que Harry havia usado tantas vezes no terceiro ano para ir para Hogsmeade.
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Transformada em pantera, Anne chegou rapidamente ao esconderijo de Voldemort. Rabicho havia ficado, pois seria arriscado se ele fosse para o povoado e alguém o reconhecesse. A mulher esperava por isso, e não se surpreendeu ao encontrar o bruxo na caverna.
- Pettigrew. - ela o chamou, tentando disfarçar o ódio - Você está aí?
O pequeno bruxo saiu. Ele era o único, além de Voldemort, que sabia sobre Anne.
- O que foi, Snape?
- Precisamos de você. Já temos Potter, mas precisamos de todos para derrotar os professores de Hogwarts.
- Mas milorde disse para eu ficar aqui, e não sair por nada - ele disse, temeroso.
- Ora, você não passa de um miserável covarde mesmo! Milorde não ficará nada satisfeito se você não for.
Com medo do castigo, Rabicho, depois de relutar mais um pouco, acabou concordando, e os dois foram para o povoado.
Quanto mais Anne e Pedro se aproximavam, ficava mais visível o estado de destruição do povoado. Ele se voltou para Anne sem entender porque ela o trouxera até lá, mas quando se virou e viu que a mulher apontava a varinha em sua direção, percebeu que havia caído numa armadilha.
- Larga. A. Varinha. - Anne disse ferozmente, sem desviar o olhar de Pettigrew.
Rabicho olhou para os lados, covardemente, e sem conseguir pensar numa forma de fugir, pegou a varinha, e a levou lentamente para o chão. Anne, pensando que havia conseguido dominar o outro bruxo, relaxou a vigilância por um segundo, mas foi o suficiente para que Pedro segurasse a varinha com firmeza, e apontasse na direção de Anne.
- Se você se mexer, Snape, eu acabo com você!
Anne não reagiu, surpresa por ver Pedro demonstrar tanta bravura. Nunca imaginou que ele fosse capaz disso, mas não iria deixar que ele escapasse mais uma vez. A tensão no ar era palpável, e nenhum dos dois desviava o olhar um do outro. Pedro, um olhar misto de coragem e insegurança, Anne, um olhar determinado.
Sem que Pedro esperasse, Anne se transformou em pantera, e saltou sobre o Comensal. Rabicho arregalou os olhos, e antes que a pantera o acertasse, gritou o feitiço.
- Cruccio!
Assim que foi atingida, a pantera caiu, mas mesmo o animal estando no chão, Pedro continuou segurando a varinha com determinação, até que vindo do povoado, um grande cachorro preto saltou sobre o bruxo, e atrás dele, vinham três alunos de Hogwarts: Harry, Rony e Mione.
O cão e Pedro lutaram com violência. O cachorro só relaxou quando a varinha do bruxo voou para longe, e Rony se aproximou dos dois.
- Pode deixar, Sirius, ele não vai fugir dessa vez. - corajosamente, o ruivo apontou a varinha para Rabicho - E nem pense em se transformar!
Depois que Sirius atacou Pedro, Anne deixou de ser atingida pelo Cruciatus e conseguiu voltar à forma humana, mas tremia e suava muito, e seu rosto estava bastante pálido. Toda célula de seu corpo doía como nunca, e a dor percorreu todo seu corpo até se concentrar em seu cérebro. Anne mal conseguia pensar. A única coisa que conseguia sentir era dor.
Num gesto veemente, Sirius se voltou para Harry e Hermione, que estavam com Anne, e a segurou nos braços.
- Annie, o que você fez? - ele perguntou tentando disfarçar o quanto estava preocupado com ela, e afastou os cabelos do rosto dela.
- Eu... eu tinha... - ela estava fraca, e sua voz saía devagar e quase num sussurro - que inocentar... você... - ela fechou os olhos.
- Fica comigo, Anne! Você não pode ir, Annie! - ele gritou com desespero, e ficou aliviado quando ela abriu os olhos.
Mas Anne não olhava para Sirius. Ela olhava para alguma coisa atrás dele, e sorriu, um sorriso trêmulo, antes de falar, ainda fraca.
- Eu... não posso, Sirius! Preciso voltar para... o dormitório.
Em seguida, ela fechou os olhos, e Sirius a abraçou, chorando, sem querer soltar o corpo cada vez mais frio de Anne.
