Amor De Mães
"E então, Sasha? Gostou da comida? Sei que não deve ser muito devido ao que tinha no armário, mas..."
"Está gostosa, Mihoshi. Melhor do que a gente comia no campo. Você é uma cozinheira de mão cheia." Sasha disse sorrindo.
As duas moças sentiam-se bem em ver a alegria naquela menina que como elas, passou um grande pesadelo no campo de concentração. Sem dúvida, o riso de uma criança era de grande valor nos tempos difíceis. Tão logo jantaram, as três se sentaram diante da lareira para se aquecerem. Felizmente, além da comida, havia também roupas e cobertas armazenadas na cabana e pelo estado, deviam estar lá há bastante tempo sem serem tocados.
"Mas e então, Sasha? É só você que veio pra cá, ou tinha mais gente? E seus pais?"
"Bem," Ela foi falando pra Kiyone. "só tem eu mesmo. Mamãe morreu quando invadiram nossa casa para nos levar pro campo. Ela tentou me esconder, mas levou vários tiros. Papai quis socorrê-la, mas os homens maus o pegaram e nos jogaram no caminhão. Quando me virei pra ver nossa casa, um deles jogou uma granada lá e explodiu tudo. Perdi minha mãe para sempre." Sasha quis chorar, mas Mihoshi a amparou confortavelmente.
"Sinto muito. Aconteceu isso comigo e Mihoshi. Minha mãe morreu nos meus braços e papai terminou...bem, não quero te deixar mais triste. Mas e quanto ao seu pai?"
"Papai e eu fomos trazidos para o campo de prisioneiros. Ficávamos juntos o quanto dava e apesar da dolorosa vida, papai me dizia como era importante se manter de mente positiva, pois quando se tem um dia ruim, pode-se esperar que se terá outro feliz e ensolarado, não importando os problemas. E isso aconteceu de fato, pois pudemos sair daquele lugar horrendo quando nos chamaram para viajar de trem."
"E estava com seu pai?"
"Sim, Kiyone. Achei que íamos estar livres logo, mas não sei o que houve que o trem bateu e saiu dos trilhos. Deu uma chacoalhada como um terremoto, nos jogando pra todos os cantos, mas papai não me largava. Nos seguramos o quanto pudemos e daí, acho que desmaiei com uma pancada que sofri. Despertei e o papai ainda estava junto de mim, embora desmaiado. Fiquei contente quando ele acordou e estava bem. Saímos do trem, depois de passar pela pilha de corpos dos infelizes que morreram na batida. Parecia que tudo tinha terminado e estávamos livres, porém alguns soldados nos avistaram e fugimos floresta adentro. Corremos como nunca e fiquei com medo de nos pegarem, mas papai me segurou e falou para ter coragem, pois logo iriámos para um lugar seguro, livre e cheio de paz. Durante a fuga, vimos que não paravam de nos seguir e daí, papai me escondeu dentro de um tronco vazio enquanto ele ia despistar os soldados malvados. Não queria, mas ele disse que vinha me encontrar depois. Me escondi e vi ele correr para longe, atraindo os soldados malvados. Assim que eles se foram, fiquei esperando ele voltar e nada. Com medo do que podia ter acontecido, saí e fui buscá-lo, mas me perdi. Com o frio aumentando, pensei que nunca ia sobreviver sozinha e não iria achar meu pai, até encontrar a sua cabana."
"Uau. Seu pai é muito valente. Não duvido que ele te ame mais do que a vida, mas fica descansada, floquinho. Se ele escapou e do que falou sobre ele, pode ter conseguido despistar aqueles desumanos e estar por aí te procurando."
"Concordo com Mihoshi. Um bom pai faz de tudo para estar com a família e até que ele volte, nós seremos sua família, se quiser."
"Verdade? Seriam minha família?"
"Verdade. Claro, nunca iremos te fazer esquecer sua mãe, mas podemos ser suas segunda e terceira mães. Já gostamos de você como nossa filha." A loira lhe tocou o ombro carinhosamente, expressando seu afeto pela pequena ruiva.
Sasha mal tinha palavras para expressar o amor que lhe foi dado pelas duas mulheres ao seu lado. Em meio à lágrimas, se aconchegou no meio delas, sentindo-se feliz pela terna companhia oferecida por Kiyone e Mihoshi, a aquecendo mais do que o fogo perante às três.
Tendo colocado Sasha na cama de um dos quartos, este parecendo feito para crianças, Kiyone se dirigiu ao quarto onde Mihoshi a aguardava sentada na cama de casal. A jovem de cabelo verde escuro sentou-se perto dela e a abraçou, lhe dando um beijo na boca para demonstrar seu amor à mulher que esteve com ela nas semanas de confinamento no campo. Logo se deitaram.
"Que bom estar contigo, querida. Confesso que não ia saber como viver sem você."
"Digo o mesmo, Kiyone. Cada dia com você é como se fosse o mais bonito de todos. Escuta, sobre Sasha..."
"Algo te aflige por causa dela?"
"Não é bem afligir, mas sobre o pai dela...acha que ele conseguiu fugir dos nazistas?"
"Queria ter a resposta para essa questão, Mihoshi. Tomara que tenha escapado, na melhor das hipóteses, mas no caso do pior ter acontecido..."
"Está pensando de sermos...as mães dela? Confesso que gosto da ideia." A jovem de pele bronzeada se arrastou para mais perto de sua namorada.
"Falo a mesma coisa. Perdemos nossas famílias, mas acredito que nos foi dada uma nova, sendo você, eu e ela a formando."
"E ela vai ter todo o amor que deseja de nós. Amor de mãe."
"Quer dizer, amor de mães. Me abraça mais, paixão." Mihoshi atendeu ao pedido de Kiyone, a segurando com todo vigor, sem notar um certo olhar vindo da porta.
Sasha sabia que algo estava se dando ao se ver tentada em espionar o quarto das duas moças e se comover pelo que ouviu. A pequena ruiva ainda tinha esperança de rever seu pai, contudo, caso isso não se desse, estava radiante por ter com Mihoshi e Kiyone uma nova família, a qual ela amaria com todo seu coração, assim ela prometeu ao segurar seu ursinho e voltar para a cama.
Continua...
