Parte 3: Rin- Noiva

- Então, é isso?

  Rin suspirou alto depois de ouvir a história contada por Jaken.Agora tudo estava explicado.A pressa, a seriedade, a longa viagem.Como ela havia imaginado, algo realmente importante.

- Agora, o que pretende fazer?

- Pretendo fazer... - ela coçou a cabeça, hesitando por um momento - O que devo fazer?

- Ora, Vamoss!!! - Jaken irritou-se - Onde foi parar toda aquela sseguransça???

- Não, eu sei - blançou a cabeça, tentando explicar - O problema é como dizer a ele...o que eu disse a você.

- Ai, humanoss!!!Sssempre envolvidoss em conflitoss da cabesça!Voscê é a maior faladeira que há por aqui!Apenass fale!

- É que não é simples assim, Jaken-sama... - ela corou imvoluntariamente.

- Ahn...entendo...

- Entende???? - Rin arregalou os olhos, já pensando em alguma desculpa para o seu constrangimento.

- Esstá magoada ainda...ssim, dá para entender...

- Ahn - ela aliviou-se, percebendo que Jaken não entenderia - Jaken-sama, não se preocupe com isso.Eu já perdoei...Afinal, quem ama, perdoa...

- Então, qual é o problema???

- Não tem problema nenhum, Jaken-sama!Besteira minha! - mais que a ele, tentava convencer a si mesma - Além disso, acho que já sei o que posso fazer...mas vou precisar de ajuda!

- Vê lá o que vai inventar,moleca...o que é? - mesmo ressabiado, Jaken estava disposto a fazer alguma coisa, desde que não prejudicasse a sua saúde.A parte difícil mesmo ficaria com Rin, que precisaria de toda a sua coragem para ir até o fim.

  Mal Jaken voltou à trilha onde Sesshoumaru aguardava, sentiu o ar pesado em volta.

- Você demorou demais. - como sempre, não se preocupou em olhar o servo.

- De...dessculpe, Ssessshoumaru-ssama.Não foi a coissa maiss fáscil...

- Mais uma palavra e te mato. - começou a marcha, sem se virar. Jaken segurou o Bastão de Duas Cabeças com mais força, engolindo em seco.

- É igual...antesss...nem quisss ssaber o que acontesceu...é melhor que a idéia da moleca funcione, ou minha cabesça vai pagar o presço!

  Quando os dois vultos quase sumiram no horizonte, Rin apareceu, cautelosa, na trilha.Seus olhos traziam preocupação, não pela decisão de continuar a viagem sozinha e às escondidas, mas pela cena que presenciara.

- Sesshoumaru-sama...agora eu tenho certeza de que não posso desistir.Por favor, não desista também!

  Devagar e em silêncio, ela tomou o mesmo caminho, repassando passo a passo o que Jaken chamou de "idéia maluca".

- Mas eu estava certa, não posso tentar passar por cima das palavras de Sesshoumaru-sama...não adiantaria.Por mais que seja ruim, preciso esperar para conseguir conversar com muita calma... muita calma mesmo.Ah, e também preciso tomar cuidado com o vento!

  Ela desviou-se para as árvores um segundo antes de Sesshoumaru virar-se na direção dela.Jaken congelou até os ossos.

- Sse...ssessshoumaru-ssama..?

  Sesshoumaru parecia enxergar até o fundo da alma de Jaken ao olhar para ele, que tentava, inseguro, seguir combinado.

- 'Só aja naturalmente!' Falar é fáscil, moleca...nem cinco minutoss e já pode esstar tudo perdido!

- Vamos embora.

  Aparentemente, não havia problemas ainda.Os dois continuaram caminhando, Jaken tentando disfarçar o nervosismo.Escondida, Rin respirou aliviada.

- Essa foi por pouco...calma, Rin!Em dez anos, você aprendeu alguma coisa sobre andar pela floresta!Agora é hora de mostrar o que sabe!Eu sei que posso fazer isso dar certo, se tiver cuidado...

  Conforme o dia avançava e a marcha continuava sem pausas, Sesshoumaru já começava a sentir o ambiente silencioso demais...

- Por um momento, julguei ter sentido o cheiro...mas ela não ficaria apenas nos observando partir, estando por perto.Sim, tudo saiu como deveria.

  Sorriu forçosamente, enquanto sentia um aperto espalhar-se pelo seu peito - algo que não acreditava ser capaz de conhecer na vida...

- Agora ela me odeia, e não mais irá querer ouvir falar de mim...

*****

  Naquela noite, caiu uma chuva pesada e monótona.Abrigados em uma caverna e iluminados pela fogueira, Sesshoumaru e Jaken guardavam silêncio de morte.Já mais calmo e ponderado, o mestre pensava no próximo passo de sua missão.Descobrira sobre a lenda do "cerne sagrado".Trata-se de um templo oculto que, de tão antigo, se mantém apenas pela magia da Miko guardiã, conhecida como "Miko Imortal".Dizem que, sob a proteção dela, o local jamais foi violado.E o Sakaki de lá recebe os maiores cuidados e é o mais frondoso de todos.O cerne sagrado.

- Claro que há mais nisso do que as tolas lendas que circulam. Ainda mais se o pai tem ligação com esse lugar, e se ele realmente selou um de seus tesouros lá.Com certeza, irei saber de todos os detalhes quando interrogar essa tal de 'Miko Imortal'...

  Revirou os olhos, reconhecendo a velha mania do pai de se associar a humanos, algo que absolutamente não herdara.

- E pensar que cheguei a entendê-lo, pai.Mas no final, eu estava certo.Humanos só trazem...aborrecimentos...

  Seus olhos adquiriram um brilho gélido que atravessava as chamas da fogueira.

- E eu não quero mais...aborrecimentos.Jaken!O que tanto olha lá fora?

- Eu?! - assustou-se, desviando o olhar da entrada - Eu...nada, o q-que poderia sser, Ssessshoumaru-ssama?Quer dizer, não tem nada lá messmo, hehe...

- Você está mais esquisito do que o usual..bem, não importa.

- Claro.Hehe...Aquela moleca...como sserá que esstá sse ssaindo nessse aguasceiro?A primeira noite nunca é fáscil, e ainda maiss asssim...

  Indiferente às súplicas de Jaken, a água caía sem piedade noite adentro.Encolhida sob uma grande árvore, Rin encarava o céu com ares de traída.

- Por que não quis colaborar?Isso é injusto...

  Um barulho de alguém se aproximando deixou Rin em alerta, e o ambiente a estimulava a criar imagens assustadoras.Encostou-se mais ao tronco, prendendo a respiração e contando com a sorte.

- Devo ter feito barulho demais...!

  O aparecimento do velho conhecido youkai de carga transformou o susto em alívio.A sorte viera.

- Ann Unn!!Vocês me acharam!O que foi?Vieram me ajudar?

  Ele respondeu com um relincho cordial e aproximou-se dela, barrando a chuva.rin acariciou o lombo do animal com ternura, emocionada pela demosntração de amizade no melhor momento.

- Obrigada, Ann Unn.

  Felizmente, o mau tempo não se estendeu pelos dias seguintes, embora o clima ao redor de Sesshoumaru ficasse cada vez mais pesado.Jaken acompanhava a mudança sem poder fazer nada.Até tentara retardar aquilo, mas trazer a lembrança de Rin parecia apenas piorar a situação, e ele era obrigado a se calar.A verdade é que nada no mundo o faria tocar no assunto, e não é difícil imaginar o porquê.Ele lutava para congelar o pouquinho de coração que lhe restava, e a imagem da garota sorridente tornaria isso impossível.

- O que eu possso fazer?Vou acabar morrendo sse abrir a boca! Ssó faz uma semana que a moleca foi esspulssa e já é tudo como...antess.

  Inegável o fato de que tudo era pior antes de Rin.Mesmo enquanto ela não passava de uma garotinha sem escolha além de segui-los, era como se algo diferente estivesse no ar.E agora Sesshoumaru notava a diferença.

- Isso está me incomodando.Quanto tempo?Sete dias, hoje.E nem por um momento deixei de sentir a presença.Maldição, não deveria ser difícil.

  Mesmo acostumado com as coisas como estavam, ele não acreditava que fosse ter problemas em continuar sozinho.Afinal, é vital para um ser de vida longa acostumar-se a isso.Tudo é passageiro, pensava.Entretanto, Sesshoumaru não sabia que, para esquecer uma pessoa, às vezes nem cem vidas de youkai são suficientes...

- Eu fui deixando acontecer.Pois seria passageiro, como tudo.

  Sentiu uma vontade de xingar alto, xingar a si mesmo.

- Mas não foi.E eu, tolo, acabei me acostumando.Mais do que isso, acabei gostando.Não queria mais aceitar o que antes o que antes considerava inevitável: que seria passageiro.Cada vez mais, me agradava pensar que seria assim para sempre.Por quê?Por que tanta tolice?Por que, mesmo longe, continua em minha mente até agora?

  A voz de Inuyasha soou de repente, como uma sentença final.

- Quem sabe um dia você não me entenderá?

  Sesshoumaru estacou, entrando em conflito com uma parte de si mesmo que acabava de despertar.

- Não.Isso não é possível.Não a Rin.Não com a Rin!

  Silenciou os pensamentos por um momento.

- Idiota... - rangiu entre dentes para si mesmo - Jaken, vamos parar por hoje.

- Ssim, Ssessshoumaru-ssama...esstranho, ainda é o meio da tarde...bem...

- Eu preciso pensar, então não me atrapalhe.Fique aqui. - a voz fria e inabalável não denunciava que precisava apenas de um momento para conversar com si mesmo.

  Afastou-se para o interior da floresta, para que pudesse raciocinar com clareza enquanto caminhava.

- Ou sou um idiota, ou sou louco.Como pude pensar em algo tão...

sem sentido!Certo, eu sempre a protegi, mas dái a...por Deus, é uma criança!Eu perdi o juízo!Mas...isto não é o pior...

  Olhou para o céu, sentindo o vento quente da tarde na face.

- O pior é essa felicidade absurda em meu coração...

  Sorriu com amargura, levando a mão ao peito.Chegara a uma conclusão.

- E precisei afastá-la para que isso acordasse...e eu não quero que adormeça novamente, eu...me sinto bem.

  O sorriso morreu, juntamente com a voz.A sensação de peso e solidão voltou com toda a força, obrigando-o a diminuir o passo.

- Feh..grande descoberta,agora...que nunca mais a verei.Agora que ela voltou...ao seu verdadeiro lugar.Eu deveria toamr isso como consolo.Sim, é o que farei.

  Sabendo que a leveza de espírito que o tomara a pouco nunca mais voltaria, mas que seria impossível tornar-se o youkai completamente sangue-frio de antes, ele caminhou devagar e resignado floresta adentro, sem pressa de voltar.

  Felizmente para Jaken, que não gostaria de ser encontrado neste momento.

- Moleca, eu não ssei como voscê ainda não foi pega, mass é melhor sse apresssar!!!

- Do que está falando, Jaken-sama?Por que está tão ansioso?

- Ssessshoumaru-ssama esstá muito esstranho hoje, eu não tenho idéia do que ele esstá penssando...e esstá cada vez maiss perigosso conviver com ele!!!

- Eu sei, é como no início...

- E não pára aí, moleca.O pior Ssessshoumaru-ssama que voscê conhesce não chega perto do que ele é capaz de sser.E é por issso que voscê precisa terminar logo com issso, menina. Antess que sseja tarde demaiss, esstá me entendendo???

- Eu entendo, Jaken-sama.Alguém tem que começar, né?Eu vou dizer a Sesshoumaru-sama tudo o que sinto..tudo.

  Ela virou-se, para que Jaken não visse seu rosto corando involuntariamente.Controlou a voz o máximo que pôde.

- Obrigada por toda a ajuda, Jaken-sama!E agradeça a Ann Unn também, por favor!Por que agora, só depende de mim!

  Dito isso, ela correu sem olhar para trás, temendo que Jaken percebesse algum sentimento que ela gostaria de esconder.

- ...o que há com ela?

- Eu entendo, Jaken-sama.Mas existem uma coisa que o senhor não entende...uma coisa que Sesshoumaru-sama não entende...e eu não sei como isso vai terminar, não sei mesmo.

  Parou, apoiando-se a uma árvore.A tarde acabava.Mais calma, Rin se situou e começou a andar novamente, à procura do mestre. Sabia que essa era a parte mais fácil.Podia controlar os passos, os movimentos.

- Mas o que poderei controlar quando olhar nos olhos dele?

*****

  A noite chegou, e com ela a Lua cheia ofuscando o brilho das estrelas.Sesshoumaru não retomara a marcha, deixando que os pensamentos voassem livres, enquanto andava sem chegar a lugar nenhum.

  Não lhe restavam mais dúvidas.O sentimento de proteção que tinha por Rin crescera, dia após dia, silenciosamente, até transformar-se naquele amor.Mesmo consciente, aquilo era algo novo e estranho para ele.

  Ora, ele sabia o que é sentir-se atraído por uma mulher, e isso jamais aconteceu em relação a ela.Aliás, imaginar algo assim o incomodava, como se fosse algo errado, desprezível até.Difícil admitir que ele, Lorde Sesshoumaru, pudesse ter remorsos de algo, mas com certeza isso o impedia de pensar em Rin como mulher.E como poderia ser diferente?

- Mesmo a criando como uma criança, aconteceu.Devo ser mesmo um incompetente.Mas não deixo de ter razão: sentimento estranho, esse 'amor'.

  Encontrava-se agora em uma clareira bem iluminada pela Lua. Finalmente parou.

- Não ganharei nada caminhando a esmo noite adentro, mas não tenho disposição para aturar Jaken hoje.É melhor descansar a mente aqui, ou acabarei matando-o quando voltar.

  Encostou-se à grande árvore da clareira e relaxou o corpo, olhando para o céu.

- As estrelas estão oscilantes hoje...é a Lua.

  Adormeceu, sem esperar sonhos bons ou ruins.Apagar a existência por algumas horas era o bastante.

  Completamente ao oposto, Rin procurava por ele muito bem acordada e apressada.A floresta noturna não a assustava mais, entretanto temia que a demora a fizesse perder a coragem.Quanto mais rápido o encontrasse, melhor.Ao menos assim esperava.

- Felizmente, a Lua está brilhando muito e me ajuda.Mas será que Jaken-sama estava tão aflito que me indicou o caminho errado?Já andei tanto e...

  A resposta veio logo em seguida, quando ela divisou uma clareira com uma grande árvore, e, mesmo à distância, pôde ver a silhueta semi-iluminada de Sesshoumaru.Na mesma hora, saltou para trás de uma rocha e prendeu a respiração.

- Tudo bem, não está ventando...mas preciso saber se realmente Sesshoumaru-sama está dormindo.

  Aproximou-se mais, com muito cuidado.Agora a face de Sesshoumaru era completamente visível para Rin.E aquela cena fez o coração dela bater ainda mais forte.

- Assim, como eu o encontrei..parecendo tão..solitário.E ao mesmo tempo, tão altivo.Eu soube o lorde que era.E que, apesar disso, sofria...

  Sem se preocupar com barulho, vento ou qualquer coisa, entrou na clareira e parou em frente a ele, fitando o rosto adormecido.

- Nesses anos todos, eu sabia que não podia aliviar seu sofrimento...então eu sorria, tentava animá-lo.Agradecê-lo.Era o único jeito.Afinal, eu sei que sou só uma humana...mas...

- Eu quero ser sua esposa.Eu te amo. - sussurrou.

- Quando isso começou?Eu não sei dizer...mas agora, o que importa é que está em mim...e eu não vou ignorar isso.

  Tomada de um impulso semelhante ao de anos atrás, quando ofereceu água a um certo youkai ferido na selva, Rin ajoelhou-se a frente de Sesshoumaru, sem tirar os olhos do rosto sereno.

- Eu quero ser...

  Seus lábios tocaram levemente os dele, como uma brisa.Sem se importar com consequências, o mais puro sentimento tentava libertar-se.Um momento eterno para Rin.

  Em compensação, os instantes seguintes foram rápidos demais para ficarem na memória.Quando Rin se deu conta, uma mão apertava sua garganta e os grandes olhos de Sesshoumaru a encaravam, frios, defensivos.Mas rapidamente sua expressão abrandou-se, e a força na mão também.

- Não pode ser...Rin?! - não conseguia raciocinar como gostaria, não com o olhar de Rin sobre o seu.Ela, tampouco.

- Eu sou uma...burra! - soltou-se e tentou correr, mas as pernas trêmulas não obedeciam.Acabou caída de joelhos a poucos metros da árvore, com os olhos baixos.Uma onda de medo a invadiu.

- O que ele vai pensar de mim agora???O que eu fiz, o que eu fiz? Quero sumir, quero desaparecer!

  Passada a surpresa, Sesshoumaru compreendeu o que acontecera.Ainda um pouco chocado, levou a mão aos lábios, e não notou que ela tremia levemente.

- Rin...não era um sonho.

  Ambos ficaram imóveis por um tempo.Ele olhou Rin como se quisesse ter certeza de que ela não desapareceria.

- Então...não era só impressão minha... - pensou alto.Rin conseguiu levantar o rosto, pronta para qualquer coisa.Tremeu mais ao encarar os olhos dele.

- Realmente, você estava me seguindo... - a voz não era repressora, zangada ou decepcionada.Era leve, como alguém que chega a uma conclusão óbvia.Apesar disso, Rin engoliu em seco. Mas não baixou o rosto.

- É...

- Por quê...?Depois do que eu te fiz, Rin...você deveria odiar-me... - não procurou disfarçar a culpa na voz.

- Odiar..?

  Ela conseguiria rir daquilo, não fosse a emoção.

- Eu jamais poderia odiar o senhor...nunca.O senhor...

  Não conseguiu terminar.Ele respirou fundo, sentindo a sinceridade das palavras dela.Levantou-se, olhando-a com ternura.

- Como você pode ser tão boazinha?Como pode ser assim...comigo?

  Rin reuniu toda a sua coragem e ficou frente a frente com ele. Nas tantas vezes que havia imaginado aquele momento, nunca pensou que estaria tão calma.Mas vê-lo havia sido um alívio, depois daqueles dias de incerteza.Não tinha mais o que temer.

- Sesshoumaru-sama.Eu queroser sua esposa.Eu te amo!

  Um turbilhão de emoções começou dentro dela, que conteve-se como pôde, sem saber que o mesmo acontecia com Sesshoumaru ao ouvir aquelas palavras tão de repente.Além disso, para um youkai acostumado com a frieza, era uma sensação completamente nova, desencadeada por uma singela - mas poderosa - frase.E tudo o que ele podia fazer era permitir que esse poder tomasse conta de seu espírito.

- Rin, não faça isso!

  Ele a abraçou forte, quase sufocando-a.

- Não está certo, Rin.Isto não está certo...

  Rin fechou os olhos, sabendo o que ele diria.Não reagiu, nem afastou-se.Apenas escutou.

- Você é uma criança.Uma criança humana, Rin...

- Qual dos dois...não está certo...? - falou baixo, ternamente.

- Os dois, Rin...os dois - suspirou - Agora sua cabecinha está confusa...porque você não viveu como um humano deve viver, e eu sou o culpado disso...

- O senhor só é culpado por eu ser feliz... - confessou.

  Sério, mas brando, ele segurou o queixo dela para que se olhassem nos olhos.

- Eu fui um egoísta, Rin.Eu não tomei a atitude que deveria.Nunca poderia substituir a família humana que você precisava.

  Agora era Rin quem tornava-se séria.

- Eu não poderia ter tido família melhor.Não há nada que me prenda ao mundo dos humanos, Sesshoumaru-sama.Não é um mundo menos cruel que o dos youkais, nem um pouco.Eu sou grata ao senhor por tudo, e...

- Esse é o ponto, Rin - interrompeu - Gratidão.Lealdade.Isso não é amor como você está pensando.

  Ela sorriu.Sim, havia um tempo em que pensava exatamente igual.

- Mas apenas gratidão e lealdade nos levam a fazer qualquer coisa para estar junto de uma pessoa?

  Silêncio.Apenas o farfalhar do vento nas folhas.

- Nos levam?

  Sesshoumaru entendia as palavras dela.Na sua frente estava alguém que o seguira por tanto tempo e continuou a fazer isso mesmo após ser expulsa cruelmente, sem desistir...o peito apertou-se quando pensou nela sozinha na floresta durante dias, escondendo-se como um animal...e depois de tudo isso, ainda sorria linda e corajosamente para ele naquele momento.

- Eu também fiquei confusa por muito tempo, Sesshoumaru-sama. Mas um dia, eu consegui entender.Eu parei e escutei o meu coração...

  Timidamente, ela tocou o peito dele enquanto falava.

- Se o senhor também...escutar...

  Devagar, a mão dele encontrou a de Rin e ambos sentiram o mesmo coração batendo, a prova de que os últimos esforços de Sesshoumaru para endurecê-lo haviam caído por terra.Então, ele soube que não precisaria mais de remorsos ou dúvidas barrando aquele sentimento.A última porta fora aberta por ela, finalmente.

- É a primeira vez que paro para escutá-lo... - ele sorriu - Gosto... do que ouço.

  Rin sentiu-se leve ao olhar para ele, como uma pétala ao vento. Fosse qual fosse o final daquela noite, ela estaria em paz consigo mesma.

- Você me perdoa, Rin?Por ter sido tão tolo?

- Eu estou aqui, não estou?

- Por mais incrível que isso seja...mas você é teimosa assim... sempre foi...

  Ela corou inteira.Era verdade mesmo.

- Mas eu estou muito feliz por você estar aqui.

  Tomou carinhosamente as mãos dela na sua, e olhou rapidamente do chão para o rosto dela.

- Precisaremos de um par de sapatos digno de uma noiva.

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pekeno glossário:

youkai: nome genérico de espíritos e criaturas mágicas das lendas japonesas;

miko: sacerdotisa

sakaki: árvore sagrada do templo xinto (aquela que geralmente tem enfeitinhos de papel no tronco)

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Notas finais básicas: Sim.Finalmente.Abriram o jogo.É o fim?Nããããão, é apenas o meio! ^_^ Demorei pra passar isso a limpo, mas a cada dia fica mais legal de escrever.E mais comprido também +_+ nossa, felizmente as coisas não estão tomando um rumo muito diferente do esperado...bem, espero que queiram ler os próximos capítulos!^^

qualquer coisa, email-me: animeana@zipmail.com.br