Capítulo Noventa e Quatro
O Leão, A Serpente e a Cobra
25 de Junho, 1979
124,220 Grãos de Areia Restantes
Mia estava sentada em uma pequena mesa dentro de Gringotes, exausta. Ela esteve lá o dia todo, tendo sido enrolada antes mesmo de poder entrar em seu cofre pessoal para que pudesse ter algumas de suas coisas movidas de volta para o cofre principal da família Potter. O duende que a estava ajudando, Gornuk, desapareceu um total de treze vezes para discutir seus planos com nada menos do que quatro supervisores. Ela fez uma anotação mental de que se em algum momento no futuro ela acabasse trabalhando no Departamento de Regulamentação e Controle de Criaturas Mágicas, não seria no Gabinete de Conexão dos Duendes. Sua paciência como Mia Potter era bem menor do que como Hermione Granger.
Ela culpava os Marotos.
Pelo menos Harry e Ron a ouviam – uma ou duas vezes.
"E, Srta. Potter, você tem certeza de que quer acrescentar o Sr. Remus John Lupin como titular do seu cofre? Isso lhe dará a capacidade de acessar, depositar e remover todos os fundos e propriedades, seja trouxa, bruxo, ouro, artefatos feito por duendes," a pequena criatura zombou dela, "ou por outros."
"Sim. E, como especificado, no caso da minha morte o cofre estará estritamente em seu nome, sem necessidade de qualquer declaração. Zero restrições."
Gornuk acenou para ela secamente e continuou preenchendo a papelada.
Mia bocejou enquanto esperava, contemplando o futuro e refletindo sobre o conselho de Pandora. Ela seria a música; ela seria a que trazia esperança e coragem a quem precisasse. Ela já havia removido Peter da equação, pelo menos por enquanto, tornando-se assim uma pessoa muito mais agradável de se estar por perto. Ajudar Alice e Frank com a dor do futuro encontro que eles teriam com Barty Crouch Jr e os Lestranges já estava resolvido. Agora, ela estava em Gringotes, cedendo seu cofre pessoal para Remus, que seria a única pessoa no futuro que precisaria dele.
Com James e Lily mortos e Sirius em Azkaban, ela sabia que Remus não teria nada. Charlus e Dorea começaram a depositar dinheiro em sua conta pessoal há muito tempo, mas quando Remus começou a controlar suas próprias finanças, ele percebeu que James continuava fazendo depósitos mensais, e uma discussão começou envolvendo o frágil ego masculino para os nervos de Mia. Remus concordou em deixar Sirius e Mia cuidarem de coisas como aluguel e comida, mas qualquer outra "caridade" foi ignorada. Pelo menos dessa forma, se Mia fosse declarada morta - morrendo de verdade ou talvez voltando a 1998 - Remus seria cuidado. Ele não podia negar seu último pedido para que ele não passasse fome sem um tostão por quinze a vinte anos.
Enquanto ela pensava em uma maneira de informar seu melhor amigo sobre seus planos, Mia sentiu um calor crescente contra seu peito. Ela enfiou a mão na blusa, ignorando o olhar estranho que o duende deu à ela, e tirou o galeão encantado pendurado na ponta da corrente - o mesmo que James lhe dera anos antes no Natal. Ninguém na A.D. a usava como forma de comunicação há anos, então Mia começou a entrar em pânico quando olhou para a moeda que dizia:
Venha para casa agora.
- RL
Ela respondeu imediatamente.
O que houve?
- MP
A resposta que veio logo depois era clara.
Sirius.
- RL
"Remus? Sirius?" Mia gritou ao sair da lareira, jogando a bolsa e a capa no chão enquanto olhava em volta do flat. Quando ela não encontrou nenhum deles lá, começou a entrar em pânico até que a porta da frente se abriu e seu melhor amigo entrou parecendo exausto. "Remus, o que aconteceu? Onde está Sirius?"
Remus colocou as mãos nos ombros dela e respirou fundo. "Fique calma."
"Calma? Você me manda uma mensagem daquelas e me pede calma?"
"Mia..." Remus suspirou. "Sirius recebeu uma carta da mãe dele."
Sua raiva passou imediatamente e ela gemeu. Eles não ouviam uma palavra sobre Walburga há anos – desde que Sirius escapou de Grimmauld Place. Apesar de conhecer a linha do tempo, Mia ignorou qualquer razão pela qual a mulher horrível entraria em contato com seu filho renegado. "Merlin, o que aquela velha vadia nojenta tem a dizer agora?"
Remus franziu o cenho. "O pai e irmão de Sirius morreram."
Seu queixo caiu em choque ao se lembrar de muito tempo atrás, quando ela e um Sirius mais velho se sentaram juntos em Grimmauld Place. Harry e Ron estavam vasculhando o quarto de Regulus procurando por qualquer coisa que R.A.B. pudesse ter deixado para trás, especificamente uma Horcrux.
"Me fale sobre seu irmão."
"Talvez em outro momento, amor."
"Teve... um funeral?"
"Imagino que sim. Eu não fui convidado. Eu recebi uma adorável carta da minha mãe me avisando que meu pai e meu irmão estavam mortos."
"Isso é horrível."
"Esse era o normal."
"Então você não teve nem a chance de se despedir?"
"Não do jeito que você está pensando. Eu disse adeus para todos eles no momento que eles me riscaram da maldita árvore genealógica no outro quarto. Quando Reg morreu, no entanto... Eu me despedi enchendo a cara de firewhisky com uma namorada."
Entendendo seu papel agora, Mia foi até a cozinha e acenou com a varinha no ar, levitando uma garrafa grande e fechada de firewhisky. Olhando de volta para Remus, ela perguntou, "Onde ele está?"
"Lá embaixo," Remus respondeu, apontando para a porta. "Ele ameaçou duelar comigo se eu tentasse separá-lo do firewhisky." Ele olhou para a garrafa na mão dela, e Mia percebeu que ele estava se perguntando se ela estava fazendo a escolha certa.
"Sirius? Amor?"
Ao pé da escada, ela acendeu a varinha e se moveu pelas sombras até encontrar o namorado sentado no meio da grande sala vestindo nada além de calças. Seu cabelo comprido e preto estava bagunçado e encharcado de suor como se ele tivesse acabado de chegar de uma corrida. Depois que Remus disse que Sirius estava procurando por um duelo, não ficou surpresa. Ela se perguntou onde estava o resto de suas roupas.
Ao se aproximar dele por trás, ela notou que seu rosto estava virado para a mão esquerda, onde estava uma garrafa meio vazia de firewhisky. Dando a volta para encará-lo, ela viu que ele não estava olhando para a mão ou para a garrafa. Em vez disso, seu foco estava fixo na velha cicatriz em seu antebraço, de quando Lucius Malfoy tentou marcá-lo com a Marca Negra.
Mia franziu a testa, imaginando que ele estava repetindo aquela noite repetidamente em sua mente. Tendo visto ela mesma quando entrou em sua mente através de Legilimência, ela entendeu. Ela tinha visto Sirius, ensanguentado e espancado, ainda tentando convencer Regulus a fugir com ele.
"Oi, gatinha," Sirius murmurou enquanto inclinava a cabeça para trás para olhar para ela. "Você soube? Eu sou o único herdeiro vivo da Nobre e Mais Fodida Casa dos Black."
Ela estendeu a mão enquanto se sentava ao lado dele. "Sirius, me dê a garrafa."
"Não, é minha."
"Então divide comigo," ela insistiu. "Eu não vou abrir a minha até que essa acabe."
Sirius a encarou, uma pálpebra semicerrada.
Ela deu um suave beijo em sua boca, saboreando os restos do uísque em seus lábios. Ao seu toque, Sirius se inclinou, deslizando a língua em sua boca em um esforço para aprofundar o beijo.
Ah não. Isso não vai acontecer agora, ela pensou e tentou empurrá-lo.
"Você tem os olhos mais bonitos, gatinha..." Sirius sorriu para ela. "Eu já te disse isso? Como firewhisky." Ele estendeu a garrafa meio vazia para ela como se quisesse comparar a cor. "Ei, seus olhos não são mais castanhos."
"Eu sei." Mia pegou a garrafa dele e deu um longo gole direto dela.
"Desde quando?"
Ela estremeceu um pouco quando sua garganta queimou - ele havia escolhido uma safra barata - colocando a garrafa entre suas pernas. "O Ritual do Vínculo da Matilha. Mesmo quando um lobisomem não está totalmente transformado, a mordida pode ter outros efeitos colaterais. Desejos estranhos, irritabilidade em torno da lua cheia... Eu acho que minha forma Animaga reagiu com a mordida de Remus e fez a mudança de olho permanente."
Sirius fez uma pausa e se concentrou como se estivesse tentando se forçar a ficar sóbrio por um momento. "Você nunca disse nada antes sobre os efeitos colaterais."
"Porque Remus teria tido um ataque. Isso te incomoda?" Ela perguntou, preocupada que um pouco do ciúme de Sirius pudesse aparecer quando ele estivesse bêbado. Ela olhou para ele com preocupação apenas para encontrá-lo rindo. "Por que você está rindo?"
"Chocolate. Isso é o que eles costumavam parecer," disse ele, bufando. "Chocolate para Remus. Mas eu sempre preferi assim, no entanto. Como se essa cor de firewhisky fosse minha e a outra fosse... E de alguma forma foi preciso que Remus cravasse os dentes em seu pescoço," ele continuou falando enquanto sua mão tocava sua bochecha e então moveu-se para o ombro dela, onde seu polegar roçou a Marca da Matilha pensativamente, "para que seu corpo descobrisse que sempre foi feito para ser meu."
Ela fez o seu melhor para ignorar a forma como os olhos dele escureceram e como a língua dele saiu para molhar o lábio inferior.
Não. Essa noite não era sobre isso.
"Isso é estranhamente poético e bem pensado, considerando o quão absolutamente bêbado você está agora." Mia pegou a garrafa e a estendeu para ele. "À que devemos beber?"
Sirius pegou o firewhisky dela e ergueu a garrafa como se fosse fazer um brinde. "O fim da mais pura e poluída Casa..." ele disse quase com orgulho antes de beber profundamente da garrafa. "Eu sou o último de nós, você sabe. O último Black."
"Jamie e eu somos Blacks." Embora ela tenha se pronunciado como Potter praticamente desde o início de seu tempo no passado, Mia levou mais tempo para se identificar com o lado da família de Dorea. Quanto mais velha ela ficava, no entanto, mais ela notava que de alguma forma – apesar de não ser relacionado ao sangue – ela era, de fato, uma Black. O temperamento por si só era revelador, se nada além. "Ainda há Andromeda e Narcissa. E os Weasleys e Prewetts são tecnicamente da Casa Blacks. O mesmo com os Longbottoms."
"Eu sou o último pelo nome. Vai morrer comigo."
Ela franziu a testa. "Você não quer que continue com seus filhos?"
Sirius deu uma risada. "Você quer dar aos nossos filhos o meu nome?"
Mia sorriu presunçosamente. "Oh, são nossos filhos agora?"
"Claro que são nossos filhos." Sirius suspirou e colocou um braço em volta dela, devolvendo a garrafa. "Eu sou um tipo de homem agradável hoje em dia, gatinha, mas você não vai ter os filhotes de Remus."
Mia revirou os olhos e tomou outro gole. "Contanto que não seja uma ninhada inteira, acho que ficarei bem em dar à luz as suas crias."
"E eles serão todos Potters," ele insistiu.
Mia discordou. "Eles serão Blacks."
"Não, isso deve morrer comigo. A maldita Casa e tudo o que ela representa," Sirius rosnou baixinho.
Mia continuou a discutir, sem saber por que, considerando que era improvável que ele se lembrasse dessa conversa sobre seus futuros filhos hipotéticos. "Não, você deveria reconstruí-la. Tornar um nome que valha alguma coisa novamente. Faça um nome do qual a mãe se orgulharia."
Sirius não disse nada, mas se inclinou para o lado e se arrastou para o colo dela, envolvendo os braços em volta da sua cintura.
Ela suspirou e passou os dedos pelo cabelo dele como tinha feito mil vezes desde que tinham onze anos. Ela desejou que eles pudessem ficar assim, dessa forma, para sempre. Sem Comensais da Morte, sem Voldemort, sem guerra e sem Azkaban no horizonte. Como ele fez isso? Como ele sobreviveu a Azkaban todos esses anos? Todos esses anos sem isso? Sem mim?
E então um pensamento mais sombrio veio à sua mente e ela lutou para conter as próprias lágrimas: Como eu vou sobreviver sem ele?
"Eles mataram meu irmão, Mia," Sirius sussurrou, interrompendo o silêncio na escuridão.
"O que aconteceu?" Ela perguntou mesmo sabendo a resposta.
"Ele queria sair. Ele me disse quando... quando brigamos." Sirius sentou e esfregou o rosto. "O pequeno covarde do caralho pulou no fundo dos Comensais da Morte e no segundo que ficou demais... Você não pode simplesmente sair. Ele esperava fazer uma tatuagem de aparência estúpida e esse fosse o fim de tudo quando ele ficasse entediado? Comensal da Morte é para a vida. Significa morte. Sua morte. E eles... eles o mataram. Eles mataram meu..."
Mia mordeu o lábio inferior para não chorar quando ouviu o nó na garganta de Sirius – a forma como a voz dele começou a falhar. Ela sabia o quanto ele odiava chorar, e se ele mostrasse o que ele percebia como fraqueza enquanto estava bêbado, ele provavelmente ficaria furioso e seria ainda mais difícil de controlar.
"Você sabia... quando ele era pequeno ele tinha medo do escuro. Reggie rastejava para a minha cama e... eles o mataram, Mia."
"Quando é o funeral?" Ela perguntou, esperando distrai-lo.
Sirius zombou com raiva. "Duas semanas atrás."
Mia rosnou, chocada. Ela sabia que Sirius tinha descoberto sobre a morte de Regulus através de uma carta e tinha se lamentado sem sua família, mas ela sempre assumiu que tinha sido sua escolha evitar o funeral. "Aquela vadia!"
"Eu não teria ido de qualquer forma. Eu o odeio. Ele... tão idiota."
"Talvez não fosse porque ele estava assustado," ela ofereceu. "Talvez ele quisesse finalmente fazer a coisa certa."
"Duvido."
"Talvez a gente possa fingir."
"Finja para mim, gatinha." Sirius suspirou e caiu de volta no colo dela. "Conte-me uma história sobre um irmão que não era um... apenas... torne melhor."
Mia passou os dedos mais uma vez pelo cabelo de Sirius e soltou um suspiro suave de alívio quando o sentiu relaxar em seu corpo. "Era uma vez, uma família de cobras acordou uma manhã para encontrar um presente mágico em sua casa. Um pequeno filhote de leão." Ela sorriu quando ouviu Sirius rir. "Eles o criaram e ensinaram tudo o que havia para saber sobre ser uma cobra. Por mais que tentasse - e ele não se esforçava muito - o filhote de leão ainda tinha garras em vez de presas, ainda tinha pele em vez de escamas e ainda rugia em vez de sibilar. E apesar de ser tão diferente, o filhote de leão amava a menor cobra da família, que era uma cobra em todos os sentidos que havia para ser uma cobra."
Mia franziu a testa quando sentiu a risada de Sirius morrer e ele ficar imóvel em seus braços.
"A pequena cobra e o leão cresceram juntos, mas depois foram separados por uma longa distância, e o leão encontrou seu próprio orgulho e se tornou um feroz Rei da Selva."
"Os leões não vivem em savanas?" Sirius a interrompeu.
"Fica quieto, você está arruinando a minha história."
"Sua história é estranha," reclamou Sirius. "Eu não acho que você seja muito boa nisso."
"Cala a boca. Então o pequeno filhote se tornou um leão feroz, e a pequena cobra se tornou uma adequada serpente, como ele foi criado para ser. Eles se tornaram inimigos e raramente falavam um com o outro. Então a serpente venenosa atacou, mordendo e atacando os amigos do leão. Mas ele se arrependeu."
Sirius mais uma vez ficou imóvel e ela não conseguiu evitar imaginar o que ele estava pensando.
"Um dia, enquanto estava no poço das cobras, a jovem serpente encontrou um tesouro que pertencia ao Rei Cobra," disse ela com um sorriso ao se lembrar do momento em que encontraram a Horcrux falsa com o bilhete de R.A.B. dentro dele. "Ele o roubou e fugiu, esperando compartilhar esse segredo maravilhoso com seu irmão, o leão. Ele queria se reconectar com ele para que pudessem ser uma família novamente."
"Mas a cobra o matou," Sirius disse a interrompendo.
Mia franziu a testa. Ela tinha planejado mudar o final da história, é claro, mas Sirius era esperto demais para isso. Ele não podia ser enganado por mentiras. Não podia ser influenciado por contos de fadas. "Mas a cobra o matou", ela concordou.
"Eles encontraram o corpo dele no Tâmisa na praia perto de Gravesend. Comensais da Morte simplesmente jogaram o corpo dele lá. Trouxas o tiraram."
Mia franziu as sobrancelhas ao se lembrar da verdade por trás da morte de Regulus. Seus companheiros Comensais da Morte não tiveram nada a ver com isso. Ele havia morrido um herói. Salvou um elfo doméstico, desertou do Lorde das Trevas e sacrificou sua vida no final na tentativa de derrubá-lo.
"Talvez... talvez ele tenha se afogado."
"É, e talvez ele fosse realmente uma boa pessoa," Sirius disse sarcasticamente. "Existem 'talvez' demais neste mundo se você quer saber." Ele pegou a garrafa, tomando outro longo gole. Ela sentiu um pouco da poça de líquido no tecido de sua saia. "Ele queria sair. Eu não acreditei nele."
"Você não tinha como saber, Sirius."
"Eu poderia ter... eu... eu apenas fiquei trás e assisti. Eu tinha o poder de fazer alguma coisa, qualquer coisa." Sua voz era suave e sua respiração ficou rasa, chegando mais perto do sono. "'Em vez disso, eu apenas... apenas me recostei e deixei meu único irmão morrer."
Quando ela teve certeza de que Sirius estava completamente adormecido, Mia soltou um pequeno soluço e sussurrou, "Eu também."
"Acorda. Moony, levanta sua bunda."
Remus abriu os olhos para a escuridão. "Sirius?" Quando seu foco se ajustou, ele olhou para o rosto exausto de seu amigo, que cheirava a firewhisky. "Pads, o que há de errado?"
"Mia. Algo está..." Sirius franziu a testa, parecendo desesperado, e balançou a cabeça enquanto Remus se sentava. "Eu não sei como ajudá-la."
Remus gemeu, puxando-se para fora da cama. "O que aconteceu?"
Sirius foi até a porta e a abriu. "Eu desmaiei horas atrás, cara. Acordei, e ela estava jogando coisas por toda a loja lá embaixo. Metade do que estava lá está quebrado, e a garrafa que eu trouxe está vazia. Não fui eu que terminei."
"E você não pode lidar com sua própria bruxa bêbada?" Remus rosnou um pouco amargamente.
"Eu tentei, Moony. Sempre que ela tenta falar comigo, ela tem essa... gagueira ou algo assim. Não consigo entender nada do que ela está dizendo."
"Ah, porra," Remus disse, entendendo tudo. "Tudo bem." Ele abriu a porta do apartamento e então se virou para ver que Sirius tinha planejado segui-lo para baixo. "Não, vá descansar um pouco. Você teve uma noite difícil e ainda tem que trabalhar amanhã. Eu cuido da sua bruxa."
"Tem certeza?"
"Eu só posso cuidar de um de vocês de cada vez. Vá."
Sirius lhe deu um sorriso agradecido. "Obrigado, Moony."
"Vou levá-la para sua cama se eu conseguir que ela se acalme." Depois que Sirius foi embora, Remus olhou para a porta e suspirou, passando a mão pelo cabelo antes de descer as escadas.
Ele viu cacos de vidro quebrados e estremeceu. De repente, ele ficou incrivelmente grato por eles terem decidido não guardar nada de suas próprias coisas na loja vazia, com exceção do que havia sido deixado para trás pelo proprietário anterior. Ele encontrou Mia parada no canto da sala, uma garrafa vazia de firewhisky a seus pés e outra com menos da metade em uma mão, sua varinha na outra.
"Mia?"
Ela girou nos calcanhares e correu para ele, envolvendo os braços ao redor de sua cintura com força, o conteúdo da garrafa se espalhando. "Remus? Remus, espere..." Ela se afastou dele e olhou para cima com as pálpebras pesadas. "Qual deles você é?" Ela perguntou, e ele podia vê-la tentando focar o olhar.
"O mais novo," ele respondeu, já sabendo qual era o problema dela. Ele estava feliz por algo assim não ter acontecido anos atrás antes de Dumbledore lançar o Feitiço da Verdade nela. Considerando que o futuro da guerra dependia dos fatos dentro de sua cabeça, firewhisky era uma má decisão para a bruxa que aparentemente tinha uma língua muito solta quando bem embriagada com licor. "Você está sonhando com outro lugar, amor?"
"Outro lugar... outro quando." Ela assentiu e então estendeu a mão, passando os dedos pela franja dele. "Sinto falta do seu cabelo grisalho. Você era tão bonito."
"Eu sou tão horrível agora?" Remus brincou carinhosamente.
"Eu amo esse sorriso." Ela tocou seus lábios de maneira investigativa. "Você deve sempre sorrir Remus... Mesmo quando... Mesmo depois de... J-J-Ja-" Ao contrário de quando ela tentou forçar as palavras, agora ela estava apenas tentando parar de gaguejar.
Ele a puxou de volta para seu peito quando notou lágrimas se formando em seus olhos. "Está tudo bem, Mia. Você não precisa dizer nada."
Ela chorou contra ele. "Eu deveria ser forte. Remus, eu não posso ser forte. Eu não sou corajosa o suficiente. Eu não sei o que vai acontecer. Eu vou morrer depois que isso acontecer? Depois que todos morrerem e todos que eu a-a-am-"
"Pare de falar."
Ele podia ver como isso iria assustar o inferno de Sirius, que não tinha ideia de que o amor de sua vida era uma garota que não nasceria até mais tarde naquele ano. "Eu não sei tudo o que você sabe, e Merlin, eu gostaria que você também não soubesse. Eu gostaria de poder tirar isso de você. Eu não quero envelhecer e mandá-la de volta para cá. Eu não quero machucá-la mais. Eu faria qualquer coisa para evitar o que quer que você esteja passando."
Ela se afastou dele instantaneamente e olhou para ele com grandes olhos âmbar. "Mas você precisa. Você me prometeu", disse ela em uma voz em pânico.
"Eu sei."
À beira de um soluço, ela implorou, "Por favor, me mande de volta. Sempre me mande de volta. Remus, não tire minha vida de mim. Não tire ele de mim."
Remus só podia pensar que ela se referia a Sirius, e ele entendeu. Cabia a ele enviar uma garota de dezenove anos para trinta anos no passado apenas para que ela pudesse se apaixonar por Sirius Black – e por ele mesmo em um certo ponto. Sirius era a parte importante agora. Ela precisava de Sirius, e Sirius definitivamente precisava de Mia. Remus estava ficando exausto tentando cuidar dos dois.
"Demorou tanto para recuperá-lo", ela sussurrou. "Ele perdeu muito, Remus. Eu nem fiz isso por mim, sabe? Pelo menos eu não pensava assim na época. Eu só... eu pensei nele quando vi o feitiço naquele livro... E eu pensei... Harry precisa dele e talvez eu possa dar isso a ele."
Embora ele não tivesse a menor ideia do que Mia estava falando, ele continuou acariciando o cabelo dela, usando sua varinha para limpar o vidro quebrado em todos os lugares antes de se sentar e puxá-la contra ele. Ele pegou a garrafa da mão dela e a colocou ao lado dele. "Conte-me sobre Harry."
"Não posso." Ela amuou. "Você sabe que eu não posso."
"Você pode me falar sobre ele porque você não vai mudar nada", explicou. "É assim que funciona, certo?"
Depois de um longo momento de silêncio, Mia sussurrou: "Sinto falta dele. Ele era meu melhor amigo."
Remus sorriu, pressionando os lábios no topo da cabeça dela. "Estou chateado. Não sabia que eu era tão facilmente substituível."
"Você é meu melhor amigo também", disse ela, enfiando o dedo em seu peito.
"Então, o que torna Harry diferente? Como vocês se conheceram?"
"No trem. Óculos quebrados, cabelo de Potter, e os mais vibrantes olhos verdes que eu já vi."
"Os olhos da Lily," Remus murmurou com um sorriso.
Mia soltou uma risada suave e chorosa. "Foi tão engraçado. Ele estava lá com Ron-"
"Quem é Ron?"
"Você vai ver", disse ela, ignorando a pergunta. "De qualquer forma, Ron estava tentando fazer um feitiço para se exibir. Ele disse esse feitiço inútil sobre seu r-r-r... Scab-b-b- Foda-se!"
"Está tudo bem, amor." Remus se perguntou o que diabos poderia ter acontecido no maldito Expresso de Hogwarts que não apenas tivesse algo a ver com o impacto no futuro, mas também a irritou a um nível tão extremo. "Pule essa parte. Volte sobre Harry."
Ela respirou fundo várias vezes e pegou a garrafa de firewhisky. Antes que ela pudesse levá-la aos lábios, Remus a arrancou de suas mãos e a lançou do outro lado da sala. O vidro se estilhaçou e o barulho ecoou pelas paredes. Mia momentaneamente fez beicinho e então suspirou, recostando-se nele.
"Ele voou com sua vassoura... mas não deveria. Malfoy estava implicando com Neville."
"O menino da Alice e Frank?"
"Isso. Harry o defendeu. Brilhante."
Ele sorriu. "E o que, posso perguntar, você estava fazendo?"
"Dando um sermão no Harry para ficar no chão, é claro. Sempre dando sermão nele. Nos dois." Ela bocejou, esfregando o rosto contra o peito dele. Provavelmente para coçar o nariz. Ele sabia que o nariz dela sempre ficava vermelho e coçava quando ela chorava. "Todos eles. Nada além de problemas. Sirius também. Imprudentes."
"E quanto a mim?" Remo perguntou. "Conte-me mais sobre mim."
"Tão inteligente e corajoso. Você en-ensinou... n-não ter medo."
"Ok, está tudo bem," ele a assegurou imediatamente antes que ela começasse a chorar novamente. "Você não precisa ter medo. Eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui."
Ela soltou um longo suspiro e bocejou. "Estou cansada, Remus."
Ele lentamente se levantou e puxou-a em seus braços, colocando uma mão atrás dos joelhos e a levantando. Os braços dela caíram sobre seus ombros, e a cabeça enfiada sob o seu queixo como a de uma criança. Remus sorriu carinhosamente com o quão inocente ela parecia quando apenas alguns minutos atrás ela estava uma bagunça delirante.
"Vamos então, amor. Vou levá-la para a cama."
"Melhor Sirius não ouvir isso," ela murmurou.
"Muito engraçado." Ele revirou os olhos e abriu a porta do apartamento, carregando-a para dentro. "Eu vou te levar para a cama de Sirius."
"Cuidado, ele dorme nu às vezes."
Remus fez uma careta enquanto caminhava pelo longo corredor, notando que Sirius havia deixado a porta do quarto aberta. "Eu estou ciente", disse ele antes de enfiar a cabeça dentro do quarto.
Apesar de estar totalmente exausto, Sirius claramente esperou por Remus e Mia. Ele pareceu aliviado quando viu sua namorada calma nos braços de Remus. Ele se levantou para pegá-la de Remus, que a entregou de bom grado.
"Obrigado, Moony."
"Você me deve uma," Remus insistiu com um bocejo enquanto saía, fechando a porta atrás de si.
Sirius sorriu para a bruxa em seus braços enquanto a carregava para a cama, colocando-a suavemente no colchão. "Ei, gatinha bêbada com sono."
"Ei, cachorro bêbado com sono," Mia murmurou, enfiando as mãos no cabelo dele e puxando acidentalmente quando ele a colocou no chão. Sirius estremeceu um pouco e então decidiu seguir em frente, caindo em cima dela. Quando ela não pareceu se importar, ele fez um travesseiro de seus seios.
"Você está bem agora?
"Uhum. Remus me ajudou."
"Ele é bom nisso."
"Sirius?" Ela sussurrou.
"Sim, gatinha?"
"Me promete uma coisa?"
"Qualquer coisa, amor."
Ela fez uma pausa e respirou longa e lentamente antes de falar novamente. "Prometa-me que... que você sempre confiará em Remus. Lembre-se sempre que ele nunca machucaria ninguém. E... e quando ele mais precisar de você, por favor, cuide dele para mim."
Sirius franziu a testa com o pedido, imaginando o que diabos havia provocado algo assim. Mas ele não podia encontrar falhas na necessidade disso. Eles estavam em guerra. Após a morte de Mary, Mia provavelmente estava com medo de perder todos ao seu redor. Com medo de que ela também pudesse morrer e deixá-los todos para trás. Sirius não queria pensar em perdê-la. Ele não queria pensar em perder mais ninguém.
"Eu prometo."
123,728 Grãos de Areia Restantes
