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Capítulo Noventa e Nove
Harry


26 de Julho, 1980

"Remus, me promete uma coisa?"

"Qualquer coisa, amor."

"Prometa que... que você sempre vai confiar no Sirius. Lembre-se sempre que ele é um bom homem. E quando ele mais precisar de você, por favor, tome conta dele por mim."

"Eu prometo."

Remus estava engolindo essas palavras enquanto olhava para o homem desmaiado no chão ao lado de uma bruxa loira.

Pelo menos ele não está deitado no próprio vômito de novo, Remus pensou amargamente.

Ele tinha acabado de voltar para casa do seu turno como segurança de um clube trouxa local. Apesar do seu corpo estreito, Remus provou sua força na primeira noite jogando um homem com o dobro de seu tamanho pela porta dos fundos quando ele passou a mão em uma das bartenders. O dono do clube também mencionou que as cicatrizes ajudariam a evitar problemas. Aparentemente, ninguém queria mexer com um homem que parecia ter sobrevivido a uma briga de facas e estava pronto para outra rodada. Era um trabalho temporário, como sempre. Sua licantropia o fazia ficar doente com muita frequência, para não mencionar as reuniões de última hora da Ordem que ele era obrigado a participar. Ele levava o pouco dinheiro que conseguia e ficava grato pelo trabalho, temporário ou não. O que ele não agradecia era o fato de que ele passava a noite toda vendo os Trouxas se embriagarem estupidamente só para chegar em casa e ver Sirius fazendo a mesma coisa.

Era a quinta vez que Remus chegava em casa de manhã cedo e via Sirius inconsciente com uma garota aleatória – ou duas – enrolada em volta dele. Ele beliscou a ponta do nariz. Ele sabia que Sirius nunca tinha a intenção de trazer garotas para casa. Na maioria das vezes, uma vez que ele passava do limite – que geralmente era uma garrafa e meia de firewhisky – tudo que Sirius fazia era falar sobre Mia e o quanto ele sentia falta dela. As garotas se agarravam ao seu coração sensível e partido, pagando-lhe mais bebidas até que Sirius não pudesse dizer a diferença entre o taco de um batedor e sua própria varinha.

Nas manhãs em que Sirius acordava antes das mulheres, ele via o que tinha feito e xingava, se trancando no banheiro e esfregando a pele até sangrar como se pudesse lavar a culpa. Remus foi o único a ajudá-lo quando ele rasgava a pele ou usava água muito quente e se queimava.

Peter insistiu que Sirius não tinha nada para se culpar. James tentou ignorar o problema já que ele tinha coisas maiores com que se preocupar, como Lily pronta para dar à luz a qualquer dia, e o incômodo problema de Você-Sabe-Quem querendo matar o bebê deles.

Remus, por outro lado, estava oficialmente cheio do comportamento de Sirius.

"Levanta, porra!" Ele gritou, chutando a perna de Sirius.

"Remus, eu te amo. Você é meu melhor amigo, e eu te amo. Por favor, cuide dele. Lembre-se do que eu disse: confie em Sirius. Sempre Sirius."

Suas últimas palavras para ele antes de desaparecer de suas vidas.

Remus balançou a cabeça. Ele não podia confiar no idiota para se manter vivo agora. O pensamento o deixou muito mais irritado, e ele chutou Sirius novamente. "Levante-se, Padfoot!"

Sirius gemeu e rolou, protegendo os olhos da luz e estremecendo ao olhar para cima. "Que porra é essa, Moony? Me deixe em paz," ele gemeu e tentou rolar de volta.

"Petrificus Totalus!" Remus gritou, apontando sua varinha para seu amigo que congelou imediatamente. Levitando o corpo de Sirius do chão, Remus gentilmente limpou a garganta e cutucou a mulher que ainda dormia, enrolada em um cobertor próximo ao espaço agora vazio que Sirius havia ocupado anteriormente. "Hmm... Senhorita?"

A bruxa rolou lentamente e olhou para Remus, que imediatamente ficou boquiaberto para ela.

"Só pode ser brincadeira." Remus rosnou amargamente. "Com todo o respeito, Marlene, por favor, vá embora."

Marlene zombou e puxou o cobertor para se cobrir - como se Remus fosse querer ver qualquer parte dela - antes de passar a mão por seus longos cabelos loiros e fazer uma careta para ele. "Até onde eu sei, este lugar é de propriedade de Sirius. Você é apenas um convidado."

"E até onde eu sei, amanhã é lua cheia, então fique à vontade para ficar por aqui se quiser, e veremos o que acontece, sim?" Ele assistiu com um pouco de diversão e um pouco de culpa enquanto a garota se afastava dele, aterrorizada. Antes que ela tivesse a chance de dizer mais alguma coisa, ele invadiu o corredor, chutando a porta do quarto dos fundos e levitando Sirius para o banheiro.

Depois de encher a banheira de cobre com pés de garra e usar um Feitiço de Desaparecimento para se livrar das roupas de Sirius, Remus removeu o Petrificus Totalus e deixou o corpo de Sirius cair na banheira com força. Sirius lutou contra a água, tossindo e cuspindo enquanto Remus se sentava no parapeito da janela próxima depois de fechar e trancar a porta. Ele acenou com a varinha, encantando uma barra de sabão e uma flanela próxima para esfregar Sirius contra sua vontade.

"Merda! Remus!" Sirius gritou. "Moony, para!"

"Considere esse o Dia Um de sua desintoxicação forçada," Remus declarou, não afetado pelos olhares que Sirius estava lançando nele. "Eu prometi a Mia que cuidaria de você não importa o que acontecesse, então aqui estou, literalmente dando banho em você bêbado porque você não pode fazer isso sozinho."

"Você não tem o direito-!" Sirius começou a gritar.

"McKinnon!?" Remus gritou, levantando-se e chutando a lixeira de cerâmica próxima, lançando-a contra a parede oposta onde ela se estilhaçou em mil pedaços. "Você está brincando comigo? Mia odiava Marlene!"

Sirius teve a graça de parecer envergonhado e finalmente parou de lutar contra a flanela encantada que agora estava tirando sujeira e suor de seu peito e ombros, revelando uma infinidade de novas tatuagens que agora cobriam a maior parte de seu corpo; havia mais tinta do que pele nos dias de hoje.

"Eu não queria. Eu... eu nem sabia que era..." Sirius fez uma careta. "Marlene? Sério?" Ele perguntou, olhando para Remus que assentiu com raiva. "Merda."

"Isso precisa parar."

"Dói parar," admitiu Sirius, claramente tentando controlar suas emoções, mas indo mal. "Eu não consigo respirar quando estou sóbrio, Moony. Todas as evidências dizem que ela ainda está viva, mas todo mundo me diz que ela está morta. Por que eles estão me dizendo que ela está morta quando eu ainda posso senti-la?" O punho contra o peito. "O Vínculo da Alma, está... está diferente. Como se fosse quase inteiramente apoiado por mim, mas ainda está lá. Parece quebrado. Eu me sinto quebrado." Ele enterrou o rosto nas mãos e soluçou abertamente. "E se isso significa que ela está ferida, e ela precisa de mim? Ela está em algum lugar... Você sente isso também? Através do Vínculo da Matilha?"

"Sim," Remus respondeu tristemente, desejando como o inferno poder contar a verdade a Sirius, mas um Voto Pérpetuo era apenas isso: perpétuo. "Eu não sei o que te dizer sobre Mia, cara. Mas você tem que se concentrar. Vencer esta guerra é o que é importante agora. Proteger o bebê de Prongs e Lily é o importante agora."

"Ou o bebê de Alice e Frank," Sirius acrescentou.

Remus suspirou e balançou a cabeça. "De qualquer forma, temos amigos e familiares para proteger e você não pode fazer isso bêbado. Limpe-se, vista-se. Vai ter uma reunião da Ordem esta tarde."

"Você não acabou de chegar do trabalho?"

"Lua cheia amanhã," disse Remus, uma parte dele triste por Sirius não saber, pelo jeito que ele estremeceu com a lembrança. Por outro lado, Remus ficou sem companhia por várias luas cheias desde que Mia partiu. Prongs estava muito ocupado cuidando de Lily, e Padfoot raramente estava sóbrio, mesmo como Padfoot. Wormtail, embora leal e sempre disposto a acompanhar Remus, era bastante inútil devido ao seu pequeno tamanho.

"Vou dormir no dia seguinte." Remus deu de ombros e saiu do banheiro.

"Não será perigoso? Dar à luz fora do St. Mungus?" Alice perguntou nervosa, torcendo as mãos no colo enquanto Dumbledore estava na frente da sala, Alastor Moody de um lado dele, Severus Snape do outro.

"Seria mais perigoso dentro do St. Mungus," Snape entrou na conversa. "Como eu disse," ele continuou, sua voz manchada de impaciência, algo que estava ganhando olhares de todos na sala, exceto Dumbledore, "é o maior desejo do Lorde das Trevas descobrir esse suposto rival da profecia, e quanto mais nos aproximamos do final de julho, mais volátil ele está ficando. Ele atacou o hospital com muito menos a perder no passado."

Dumbledore colocou a mão no ombro de Snape, do qual o Comensal da Morte desertado se encolheu antes de ir totalmente para longe, desviando o foco de si mesmo.

"Nós acreditamos que seria mais seguro para as crianças nascerem aqui na Mansão Potter ou Longbottom," Dumbledore disse a Alice. "Ambas possuem proteções que os manterão protegidos até a hora de transferir suas duas famílias para uma casa permanente segura."

Depois que a reunião terminou, Snape vagarosamente atravessou a sala, aproximando-se dos Marotos e de Lily com cautela.

Sirius deu crédito a ele por nunca ter dado as costas a nenhum deles. Um olhar errado na direção de Lily, e Sirius pensou que estaria disposto a matar um amigo, quanto mais um inimigo.

Snape limpou a garganta. "Lil-er... Sra... Potter. Posso ter uma palavra?"

Sirius deu um passo à frente e rosnou ferozmente. "Sobre o meu cadáver."

Snape ergueu lentamente uma sobrancelha questionadora. "Se você quiser."

Antes que Sirius pudesse atacar, James colocou a mão em seu ombro. "Acalme-se, Pads. O que você quer, Snape?"

"Falar com sua esposa."

"Isso não vai acontecer," Sirius disse com outro rosnado.

Lily suspirou frustrada, uma mão descansando em sua grande barriga, a outra em suas costas. "James, Sirius... por favor."

James hesitou por um longo momento, mas então assentiu e se inclinou para beijar sua esposa como se a estivesse marcando. Snape revirou os olhos para a cena.

"Eu estarei logo ali," insistiu James, apontando para onde Moody e Dumbledore estavam falando com Alice e Frank. Ele girou nos calcanhares e saiu, arrastando Remus e Peter com ele.

Sirius se demorou.

Lily sorriu suavemente para ele e tocou seu rosto carinhosamente como se quisesse desviar sua atenção de Snape de volta para ela. "Sirius, vá. Estou bem."

Embora ele tenha hesitado tanto quanto James, Sirius eventualmente cedeu e foi até os outros Marotos, deixando Snape e Lily sozinhos para conversar. Ele, no entanto, manteve-se perto o suficiente para escutar cada palavra.

"Black está ciente de que um casamento inclui duas, não três pessoas?"

"O que você quer, Sr. Snape?" Lily soltou.

"Senhor Snape? Que formal," ele falou lentamente. "Eu não exatamente aprecio do vocativo. Você conhecia meu pai."

"Você e eu não temos mais um relacionamento informal de qualquer tipo."

"Sim, Potter cuidou disso."

"Não, você cuidou disso," Lily disse defensivamente. "Essa marca no seu braço é o resultado de tudo que eu avisei anos atrás. Anos antes de eu sequer me apaixonar por James."

"Eu costumava ser seu melhor amigo," ele sussurrou.

"Sim, então você se tornou um Comensal da Morte."

"Um Comensal da Morte que está arriscando a vida para salvar o seu filho."

Lily ignorou sua tentativa de manipular suas emoções, seu tom não se elevou para combinar com o dele. "Pelo que sou grata, mas isso não apaga o passado. Nunca vai pode voltar a ser como era, e isso parte meu coração de maneiras que você não pode imaginar. Todos nós perdemos muito. Eu enterrei meus pais, vi meus amigos fazerem o mesmo. Perdi dois dos meus melhores amigos no ano passado. Uma porque ela foi brutalmente assassinada - por Comensais da Morte - e a outra porque ela desapareceu - presumivelmente sequestrada por Comensais da Morte. Agora eu tenho que sentar nas reuniões da Ordem e ver outro dos meus melhores amigos ali, usando a marca de algo que tirou quase tudo de mim."

Snape levou um longo momento para digerir suas palavras antes de proferir suavemente, "Foi um erro."

"Eu sei, Sev."

"Eu gostaria..." ele hesitou. "Eu gostaria que houvesse algo que eu pudesse fazer para me desculpar adequadamente, mas estou ciente de que nada do que eu digo pode compensar as coisas que fiz."

"Continue nos ajudando. E me diga a verdade."

"Sobre o quê?"

Lily fez uma pausa, provavelmente contemplando sua pergunta com cuidado. "Você-Sabe-Quem levou Mia?"

Snape ergueu uma sobrancelha, confuso. "Não que eu saiba. A única vez que me lembro dela sendo discutida foi quando o Lorde das Trevas desejou trazer Black para o nosso, er, lado deles. Me perguntaram se a bruxa seria uma maneira de chegar até ele. Eu informei ao Lorde das Trevas e seu círculo íntimo que, apesar de propensa à violência... — Ele inconscientemente esfregou a mandíbula, como um cão Pavloviano, pois aparentemente associara o nome de Mia com dor facial. "... A Srta. Potter era tão contra os Comensais da Morte quanto se poderia ser."

"Obrigada," disse Lily franzindo a testa, claramente insatisfeita com a resposta.

Sirius sabia como ela se sentia. Mesmo que a resposta partisse seu coração novamente, era o não saber que o estava matando lentamente.

"Eu estava... eu estava esperando que eles realmente a tivessem levado. Então, pelo menos, teríamos respostas."

"Estou chocado que ela teria se permitido ser levada. Eu tinha a impressão de que a irmã de Potter tivesse a Visão."

Lily o olhou surpresa. "O quê? Isso foi apenas uma piada que ela nos contou anos atrás para tentar sair da aula de Adivinhação."

"Você tem certeza?"

Lily assentiu. "Absoluta, por quê?"

"Coisas que a garota me disse antes de sair de Hogwarts. E houve uma briga com um ex-associado meu: Regulus Black. Ele me informou que acreditava que ela estava ciente de sua lealdade ao Lorde das Trevas, mas manteve o segredo dele. Ele mencionou que ela sabia coisas que não deveria saber. Claro, quem sabe o que o menino estava pensando na época."

Ele não estava pensando, Sirius pensou consigo mesmo, enterrando a mágoa remanescente sobre a morte de Regulus bem no fundo de todo o resto.

"O que Mia te falou, Sev?"

Snape fez uma pausa e engoliu em seco. "Ela me ofereceu perdão por algo que eu ainda faria."

"O quê?"

Ele desviou o olhar de Lily, a vergonha estampada em seu rosto. "Prefiro não dizer. Ela me informou que eu cometeria um erro e pediria perdão, mas que não seria oferecido e, portanto, ela estava me dando. Então ela me aconselhou a procurar Dumbledore quando eu estava pronto para... me desculpar."

"Ela disse isso?"

Ele assentiu. "Em muitas palavras. Ela tinha muito talento para ser enigmática. Independentemente disso, eu cometi um grande erro e, para me desculpar sobre meus pecados, procurei Dumbledore, o que me trouxe à minha situação atual. Relatórios sobre as intenções do Lord das Trevas e aconselhando onde eu puder para te manter seguro."

"Eu e Alice," Lily o corrigiu.

"Se você quiser."

Sirius observou enquanto Lily desviava o olhar, sem vontade de encarar o olhar intenso de Snape.

"Nós estamos a salvo?"

"Nem um pouco." Snape zombou. "Você deveria ter fugido no momento em que descobriu que estava grávida. Potter deveria ter te levado e sumido."

"Não podemos abandonar nossos amigos. Não podemos deixar nosso mundo. Temos que lutar", argumentou ela.

"Vocês todos confiam muito facilmente. Eu já relatei isso a Dumbledore, mas há um traidor em sua Ordem."

Sirius sentiu como se o chão tivesse sido derrubado debaixo dele.

Os olhos de Lily se arregalaram e ela engasgou. "O quê? Como você sabe?"

"Porque logo depois que comecei meu papel como espião, fui levado à presença do Lorde das Trevas e questionado sobre minhas idas e vindas," ele a informou. "Alguém tinha relatado a ele que eu tinha desertado. Felizmente, eu sou um ótimo Oclumente e fui capaz de convencê-lo a acreditar que eu falsamente me ofereci para ajudar Dumbledore a fim de me aproximar dele e descobrir todos os seus segredos. Agora, eu deveria estar tentando descobrir sua localização. É por isso que eu tenho tentado fazer nosso ex-diretor ver a razão e manter você e os Longbottoms isolados, sob um Feitiço Fidelius, se necessário, mas longe de qualquer e todos os olhos, inclusive os meus."

Lily parecia estar absorvendo todas as informações. A mão descansando em seu estômago a apertou protetoramente. "Eu deveria confiar em você, Severus?"

"Você não deve confiar em ninguém; esse é o ponto." O foco de Snape se estreitou pela sala, e Sirius desviou o olhar antes que eles fizessem contato visual.

"O Feitiço Fidelius nos manteria seguros?" Lily perguntou.

"Sim. Desde que você escolha um Fiel do Segredo adequado, mas aí que está o problema. Nós não sabemos quem é o traidor. Claro, meus galeões estão em Black ou Lupin."

Sirius apertou a mão com força em torno da cerveja amanteigada que James entregou. Ele respirou várias vezes para se acalmar para evitar quebrar o vidro.

"Você está errado sobre Sirius e Remus. Eles nunca-"

"Não?" Severus a interrompeu. "Black foi criado por supremacistas de sangue e é conhecido por andar na linha tênue entre imprudência e loucura. E Lupin é um maldito lobisomem. Se a irmã de Potter aparecer morta, eu estaria disposto a apostar que foi qualquer um deles que fez isso em algum tipo de surto ciumento."

Algo amargo e doloroso se moveu no estômago de Sirius com as palavras de Snape. James e Peter estavam discutindo os últimos relatórios da Irlanda com Kingsley. Remus estava no canto, sussurrando com Dumbledore com algum tipo de Feitiço Silenciador lançado ao redor deles. Seus instintos lhe diziam que Dumbledore provavelmente estava tentando convencer Remus a falar com as matilhas de lobisomens novamente, mas as palavras de Snape ecoaram em sua cabeça, e Mia não estava lá para ajudá-lo a ignorar.

"Eles são minha família," Lily disse a Snape. "Eles nunca fariam uma coisa dessas. Além disso, você não conhece Sirius e Remus, ou nada sobre o relacionamento deles com Mia."

Snape levou um longo momento antes de falar. "Você ficaria muito surpresa ao ver aonde um homem vai como resultado de ciúmes mesquinhos."


31 de Julho, 1980

Sirius abriu os olhos lentamente, surpreso por não estar de ressaca. Ele estava, no entanto, com uma sede incrível — como se não bebesse nada há dias. Ele olhou ao redor da sala, perguntando-se onde exatamente ele estava. Qual foi a última coisa que ele se lembrava? Um pub, muito firewhisky e uma conversa com Peter sobre se Remus era ou não confiável. Ele se lembrava de Wormtail o avisando que ele sempre suspeitou que Remus estivesse com ciúmes do relacionamento de Sirius e Mia, e como ele estava surpreso por ele ter desistido dela tão facilmente.

Sirius argumentou de volta no início, insistindo que na noite em que Mia desapareceu, Remus estava em uma reunião com Dumbledore, ou pelo menos foi onde Remus disse que estava quando Sirius finalmente o localizou em pânico depois de chegar ao apartamento para encontrar Mia desaparecida.

Apesar de acreditar que Remus nunca poderia machucar Mia, um vestígio de dúvida dentro de Sirius aumentou, alimentado pelo firewhisky e as palavras de Peter. Ele então bebeu mais do que nunca em sua vida, um último hurra para tentar enterrar permanentemente a desconfiança, a mágoa, o luto e a dor.

Então, por que ele não estava de ressaca?

Sirius olhou para o lado, notando que estava na Mansão Potter – seu antigo quarto. Uma grande variedade de poções estava em uma mesa ao lado de sua cama. James estava sentado em uma cadeira próxima, olhando para ele.

"Ah," Sirius murmurou.

James levantou uma sobrancelha. "Ah?"

Sirius tossiu, tentando limpar a secura da garganta. "Bom dia, Prongs." Ele sorriu para seu melhor amigo, que de repente estava pairando sobre ele com um olhar perturbado em seu rosto. Ah não.

"Seu idiota!" James gritou, mandando um punho cerrado na bochecha de Sirius. "Você bebeu até entrar em coma, e você acorda e diz 'Ah?' como se nada tivesse acontecido?"

Coma?!

"Ai! Idiota, pare de me bater!" Sirius estremeceu, tentando se defender, mas não tendo forças para se mexer muito. Há quanto tempo ele estava inconsciente?

"O que diabos está acontecendo aqui?" Lily gritou, irrompendo na sala, os olhos arregalados fixos no marido. Ao fazer contato visual com Sirius, ela correu para a cama, envolvendo os braços em volta do pescoço dele. "Oh Deus, nós pensamos que você ia morrer, seu idiota. Se você fosse um Trouxa, você estaria morto, você sabia disso, seu homem horrível? Nós tivemos sorte que Peter estava sóbrio o suficiente para trazê-lo aqui!"

Sirius olhou por cima do ombro dela para onde Peter estava sentado no canto da sala, evitando a atenção de todos.

"Madame Pomfrey disse que o Vínculo da Matilha provavelmente salvou sua vida," disse Lily, soltando-o.

Remus entrou na sala bem a tempo de pegar Lily em seus braços, olhando para Sirius enquanto a bruxa soluçava em seu peito. Ele a colocou nos braços de Peter assim que James recuou novamente e bateu com força no ombro de Sirius.

"Prongs!" Remus gritou enquanto corria para seu amigo, puxando-o para longe da cama. "Ele ainda está ferido!"

"Ele é um maldito alcoólatra que precisa levar uma surra!" James gritou com lágrimas nos olhos e furioso. "Você quase morreu! Você tem alguma ideia do que isso teria feito comigo? Perdi meus pais e minha irmã, e agora você vai me deixar também?"

Sirius olhou para baixo, incapaz de enfrentar os intensos olhares de desaprovação de seus amigos. Eles tinham brincado sobre uma intervenção e o repreendido por beber, mas Sirius nunca tinha chegado nesse ponto. Ele não conseguia olhar para eles. As expressões de preocupação e raiva o lembravam de como Mia ficava em sua cama na ala hospitalar depois de uma lesão de Quadribol ou briga com Sonserinos, implorando para ele parar de ser imprudente e se machucar.

"Estou prestes a ser pai e não tenho ideia do que diabos estou fazendo, eu preciso de você!" James confessou em voz alta. "Eu preciso do meu melhor amigo!"

Sirius estremeceu de vergonha.

"James," Lily murmurou.

"Você é um idiota egoísta e precisa crescer, Sirius!" James gritou, apontando um dedo no rosto de Sirius.

"James!" Lily gritou.

James se virou e encarou sua esposa, a irritação ainda em seu rosto. "O quê?!"

"Acho que minha bolsa estourou."


"Merlin, olhe para esta cabeleira." Sirius sorriu, olhando para o bebê em seus braços.

Madame Pomfrey correu para a Mansão Potter quando Remus ligou via flu para Hogwarts. James entrou em pânico com o anúncio de que em breve seria pai. Sirius, sabendo que seu melhor amigo precisava dele, bebeu cada poção perto de sua cama e correu para o lado de Lily, arrastando James atrás dele. Madame Pomfrey não ficou feliz em ver Sirius já acordado, mas as necessidades de Lily superavam as dele, então ela segurou sua bronca.

Madame Pomfrey admitiu para Lily que estava grata por ter aguentado tanto tempo. Aparentemente, ela tinha acabado de voltar para Hogwarts, tendo passado a noite anterior na casa dos Longbottom fazendo o parto do filho de Alice e Frank.

Horas depois, quando julho ameaçava se transformar em agosto, Harry James Potter entrou no mundo e gritou até que alguém o envolveu com força em um pequeno cobertor e o colocou nos braços de Lily.

Ele imediatamente ficou em silêncio quando olhos esmeralda encontraram sua imagem espelhada entre mãe e filho.

"Eu pensei que bebês nascessem com olhos azuis," disse Remus.

"Mágica," Lily sussurrou, um olhar apaixonado em seu rosto.

Enquanto Lily dormia de exaustão, os Marotos se revezaram passando a criança entre eles. Ou pelo menos, esse tinha sido o plano. Até agora, Sirius se recusava a abrir mão de seu afilhado, que estava aninhado na dobra de um braço, enquanto seus dedos brincavam com a massa de cabelo preto na cabeça do bebê.

"Ele vai descobrir como consertar isso," disse Remus, rindo em referência ao cabelo. "Prongs de alguma forma puxou Lily, embora ela possa estar sob a Maldição Imperius pelo que sabemos."

Sirius sorriu e balançou a cabeça. "Improvável. Ele não é inteligente o suficiente para ser capaz de lançar essa. Espero que o menino tenha o talento de sua mãe para feitiços."

"Eu posso ouvir você, sabe," um cansado James gemeu de uma cadeira próxima.

Sirius riu. "Bem, isso é bom. Por um segundo eu fiquei preocupado que Lily tivesse gritado em seus ouvidos tão alto que você tivesse ficado surdo."

James fez beicinho. "Ainda não consigo acreditar que ela me expulsou."

"Foram apenas por vinte minutos," Remus disse com uma risada.

"Você não perdeu muito," disse Sirius. "Pelo menos você ainda será capaz de olhar para sua esposa e querer fazer sexo com ela. Depois de ver o que eu vi hoje, eu tenho certeza que meu pau murchou e morreu. Ai!" Ele estremeceu e olhou para James que estava instantaneamente ao seu lado, socando o braço que não segurava o bebê. "Porra. Para que isso?"

"Não xingue na frente do meu bebê," James sibilou.

Sirius riu baixinho em resposta. "Você tem um filho, Prongs."

Os três bruxos ficaram em silêncio olhando para a criança nos braços de Sirius. Na cama, Lily dormia tranquilamente, apesar do ronco que vinha de Peter, que havia desmaiado em uma poltrona próxima.

"Nós vamos ensiná-lo tanto." Sirius sorriu, pensando em todas as possibilidades que o futuro reservava. "Como pregar peças e pilotar uma vassoura e paquerar bruxas e..."

"Oh, Merlin," Remus gemeu. "Espero que o garoto tenha o bom senso de Lily. Se não, suponho que podemos tentar descobrir como neutralizar quaisquer hábitos horríveis que Sirius ensinará a ele."

"Temos que mantê-lo vivo primeiro."

Remus e Sirius se viraram e encararam James, que havia perdido toda a alegria de sua expressão enquanto observava seu filho dormindo. Harry tinha seu pequeno punho apertado firmemente ao redor do dedo indicador de Sirius.

Remus colocou a mão no ombro do novo pai. "James..."

"O que?" James retrucou. "É verdade. Voldemort quer matar m-meu filho," ele chorou baixinho, estendendo a mão trêmula e tocando suavemente o cabelo macio do menino. "Não sei o que fazer para protegê-lo. Não consegui salvar mamãe ou papai... e não consegui salvar..."

"Não," Sirius disse em advertência quando sentiu suas próprias emoções começarem a subir à superfície. "Não diga isso."

James o ignorou. "Não consegui salvar Mia."

Sirius estendeu o bebê para seu amigo. "Remus, pegue o Harry," ele insistiu quando sentiu seu coração começar a acelerar, a familiar vontade de beber o dominando. Ele queria se afogar na dor e nunca ressurgir, mas tinha um trabalho a fazer. Sirius não podia se afogar – não enquanto James estava tendo dificuldades.

Ele puxou seu amigo para um abraço apertado e o segurou lá por um longo tempo. "Se recomponha, parceiro."

"Eu não sei como," James soluçou no ombro de seu amigo. "Eu me sinto impotente. Voldemort quer meu filho morto, e eu não pude nem salvar o resto da minha família de ser morta por Comensais da Morte. Como devo fazer isso? O que devo fazer? É meu trabalho protege-lo. É meu trabalho mantê-lo seguro."

Uma pausa pesada encheu o ar antes de Sirius sussurrar, "Nosso trabalho."

Remus assentiu, aproximando-se para que Harry fosse cercado por todos os três. "Nosso trabalho."

Sirius pressionou sua testa contra a de James. "É nosso trabalho manter Harry a salvo."