Nota da autora: o presente capítulo se passa logo após o Saga prender o Kanon na Cela do Cabo Sounion. Ambos, em minhas fics, nessa época tem vinte anos de idade. Vai começar o tormento do Saguinha... mal sabe ele o que o espera.

Maiores detalhes sobre como se efetuou a prisão do Kanoso estão na minha fic "Meu doce irmãozinho". Ainda penso em escrever uma fic detalhando (de forma não-canonica e totalmente fanfiquenta, rsssss) como foi a prisão do Kanon, dia após dia - foram dez dias no xilindró. E os dez dias pro Saga também. Ironicamente, pro gêmeo mais velho será muito pior do que pro mais novo, que é quem ficou preso. Mas deixa essa suposta fic pra depois.

Por enquanto, vamos ficar com essa aqui. E se segura que lá vem muito angst.

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Meu menino, meu milagre

IV

Estou em casa completamente sozinho. Pela primeira vez na vida.

Tento, de alguma forma, acalmar minha mente. Tudo que aconteceu nos últimos dias foi tão absurdo, que eu ainda não consegui digerir direito. Shion deu a sucessão a Aioros, e ele mesmo se surpreendeu. Alguns dias atrás, o Santo de Sagitário me disse que ia me indicar a Shion como o novo Patriarca. E no entanto eu fui rejeitado. Eu mesmo não dei muita importância ao fato, uma vez que nunca quis nada para mim mesmo. E inclusive preferia que fosse Aioros a ser escolhido, uma vez que eu ainda tenho esse ser horrendo dentro de mim e ele poderia vir a utilizar meus poderes para fazer coisas ruins.

Kanon, porém, ficou muito abalado. Praguejou, ofendeu, ficou péssimo. As esperanças dele de ser algo além de uma sombra minha se acabaram. Então, no mesmo dia, ele veio com um plano completo para dar um golpe no Santuário.

Foi horrível. Jamais pensei que meu irmão iria tão longe na maldade. Ele queria matar Atena e Shion. Eu não pude deixá-lo impune. Me sinto muito culpado, pois não comuniquei em momento algum essas questões ao Grande Mestre. Uma da razões de isso acontecer é que eu temi que Kanon fosse imediatamente sentenciado à morte, tamanha a gravidade de seu delito. Mas a outra razão...

A outra razão é o receio que tenho de Shion descobrir esse demônio que tenho. Essa voz, essa coisa horrenda. Pois se até mesmo Kanon percebeu...

Sim. Kanon percebeu. Ele me disse que a minha verdadeira natureza é má. As palavras que ele profere são iguais às que a voz me diz.

Céus! Será que até mesmo meu irmão considera que eu não sou uma pessoa boa? Isso é de enlouquecer qualquer um.

Não querendo matá-lo e nem denunciá-lo a Shion, e no entanto não podendo deixá-lo solto, tomei uma medida a qual considero ser a minha última esperança em relação a meu irmão: o prendi na antiga cela do Cabo Sounion. Aquela era a antiga prisão a qual Atena usava para castigar seus prisioneiros. Estava desativada há séculos, mas eu tinha poder suficiente para reativá-la, e assim o fiz.

Como Kanon não esperava que eu o atacasse - de fato eu tolerei por anos as bobagens que ele fez, e por isso ele me creu como alguém que jamais reagiria mesmo a uma afronta tão grande quanto sugerir matar Atena e Shion - e, por estar sem armadura, ele não tinha condições de resistir a mim; eu consegui imobiliza-lo e fazer com que ele ficasse desacordado. Quando acordou, já estava preso. Nem mesmo eu poderia retirá-lo de lá mais. Apenas um deus, caso tivesse piedade.

No calor do momento, com a adrenalina a mil no sangue, cri ser aquela a melhor opção. Mas agora, de repente, me vejo sozinho em casa. E com todo o tempo do mundo para pensar.

Gêmeos nunca estão de fato sozinhos - até a hora em que alguma ocorrência faz com que se separem. No mundo dito "normal", tal ocorrência é marcada por algum evento da vida adulta, como estudar ou trabalhar em outra cidade, ou mesmo um relacionamento amoroso, o que faz com que ambos os irmãos vivam em casas separadas a partir de então.

Em meu caso e de Kanon, tínhamos a mesma causa. O mesmo trabalho. Ele era criado justamente para me substituir. E quanto a relacionamentos amorosos, bem... éramos o par um do outro até nesse aspecto.

O que nos separou foi justamente a ambição dele. Essas ideias horríveis que ele teve. Ideias essas iguais às do ser que me fustiga diariamente.

Ele, aliás, logo vem me atormentar; eu sinto sua voz ainda mais intensa, mais forte.

"Você é de fato muito ruim. Quem em sã consciência mataria o próprio irmão?!"

- Kanon não morrerá. Ele vai sobreviver, eu sei.

"Como pode ter tanta certeza?"

- Ele vai. Atena tem poderes próprios e vai redimir o coração dele.

"Não vai. Ela vai deixá-lo morrer".

- Por que deixaria?

"Porque ele quer matá-la. O que te dá tanta certeza de que ela o perdoará?"

Fico em silêncio. A mente trabalha a mil, imaginando que Kanon será morto. A essa hora, a cela já passou pela primeira maré alta. E o cosmo de Kanon ainda é fortemente sentido. Cheio de raiva, de indignação. Mas positivamente pertencente a alguém ainda vivo.

- Ele foi poupado da primeira maré alta. Será poupado das demais também.

"Quem sabe os deuses não estão somente brincando de dar esperança a ele?"

- Não! Ele vai sobreviver. E vai sair redimido de lá! Eu confio em Atena!

"Para que ele saia, será necessário um milagre. Uma intervenção divina."

- Eu acredito em milagres. Eu acredito que um milagre vai acontecer em minha vida e na de Kanon!

Para me consolar e acalmar, começo a imaginar ele já fora da cela, redimido, sorrindo ao ter enxergado a Verdade. É tudo o que eu quero que aconteça. A voz nefasta, porém, me interrompe mais uma vez:

"E se Kanon morrer?"

- Ele não vai morrer! Eu confio em Atena!

"Não é impossível. Você não pode garantir que seu irmão não será morto".

- Cale-se! Eu creio que os deuses intercederão por ele. Atena intercederá por ele!

Volto a tentar me concentrar na esperança que tenho: a de que Kanon se redimirá e eu conseguirei conter esse ser horrendo que me atormenta cada vez mais. Todavia, por mais que eu tente não pensar nisso, sempre sobra aquela terrível porém possível opção: a de Kanon morrer no cárcere. E somente em vislumbrar essa possibilidade, um sentimento vago porém terrível começa a despontar em meu coração. De repente, passo a lembrar dos bons momentos: das alegrias; de quando ele desejava sempre que eu triunfasse, e não ele próprio. De quando treinávamos juntos. De quando admitimos amar um ao outro como "mais que irmãos".

Nunca vislumbrei poder perder Kanon. Sei que poderia acontecer, uma vez que o risco de morte em nosso cotidiano de guerreiros é sempre iminente. Mas sempre o vi como um jovem extraordinariamente forte. Sei que ele o é. Então nunca pensei seriamente em como seria perdê-lo.

Tento desviar o pensamento dessa probabilidade horrível e volto a pensar em sua redenção. Procuro seu cosmo outra vez. Ainda está lá, forte e vibrante, embora ainda cheio de raiva. Penso nele logo saindo da cela, já uma nova pessoa.

E no entanto, apesar de teimar em pensar de forma positiva, o sentimento de apreensão não diminui; pelo contrário, aumenta.

Quando dou por mim, o dia amanheceu e eu não dormi nem sequer por um minuto.

To be continued

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Pior que já sabemos como vai terminar, mas até lá vai ter tanto chão ainda!

Na presente fic, como os sentimentos são muito mais enfatizados do que os acontecimentos, algumas coisas eu estou simplesmente "pulando", até porque já narrei em fics prévias.

No próximo capítulo, o angst vai piorar: Saga vai aparecer completamente tomado pelo Lemur enfim.

Beijos a todos e todas!