CAPÍTULO XX
Uma hora mais tarde, a porta do quarto se abriu para revelar Rony Weasley e sua esposa Hermione. Harry os tinha informado do nascimento de seu filho e os amigos foram visitá-lo, curiosos para conhecer o pequeno herdeiro Potter.
Rony abraçou o amigo rapidamente, aproximando-se de Pansy em seguida, enquanto Harry era abraçado por uma emocionada Hermione.
- Ele é lindo, não é? – Pansy mostrou o bebê ao ruivo, incapaz de tirar os olhos das feições delicadas da criança adormecida em seus braços.
- Maravilhoso! Posso... segurá-lo? – Rony pediu, surpreendendo Pansy.
Pansy o fitou e em seguida olhou para Harry, insegura. Ele anuiu com a cabeça.
- Claro!
Durante a troca de colo, o bebê acordou, mas permaneceu calmo. O pequeno ser olhou ao redor e se fixou na face da pessoa que agora o segurava.
- Harry, com certeza ele é seu filho. Não há como negar os olhos verdes, são iguais aos seus. De Pansy ele herdou esse pequeno nariz arrebitado. E dos dois, os cabelos negros e a pele clara.
Harry sorriu orgulhoso, encarando o bebê enrolado na manta.
- Aposto que ele tem mais de Pansy. Os meninos geralmente herdam algo mais da mãe. – Hermione comentou.
Pansy sorriu pela gentileza da mulher e olhou para Harry. A expressão dele ao observar o rosto da criança fez o coração de Pansy palpitar de emo ção. Ele parecia tão orgulhoso, tão envaidecido por aquela vida que ele próprio ajudara a gerar... Naquele momento, Pansy teve certeza de que nunca poderia privá-lo da presença do filho, e que essa criança seria profundamente amada.
- Talvez mais adiante possamos ver, mas por hora, ele me parece um mini Harry. – Decretou Rony.
- Harry sempre disse que seria um menino. – Comentou Pansy.
- É verdade – Concordou Harry. – Meu instinto me disse assim que eu soube que seria pai.
Pansy sempre se sentia estranha quando Harry mencionava algo assim. Se ele não a tivesse encontrado naquele dia fatídico, ele jamais saberia que seria pai. Ela nunca planejou contar a ele.
- Ele já tem um nome? – Questionou Hermione.
- Ainda não. Pensou em um nome, Harry?
- Está pedindo minha opinião? – Harry encarava Pansy com surpresa.
- Claro!
- Gosto de James. – Harry disse sem pensar muito.
- O nome de seu pai. – Comentou Hermione.
- Sim. – Harry disse emocionado.
- James Parkinson... – Pansy colocou a mão no queijo, avaliando a sonoridade - Hum... Adorei!
- James Parkinson Potter! – Harry a corrigiu, encarando-a.
Pansy sustentou o olhar de Harry. Ele queria assumir a criança dando seu sobrenome ao bebê.
- Você vai registrá-lo!? – Ela não conseguiu dissimular a surpresa.
- É claro! Ele é meu filho e eu quero que todos saibam. Não tenho motivos para escondê-lo, e eu estou orgulhoso por tê-lo. Obrigado, Pansy!
Pansy ruborizou e apenas deu um aceno com a cabeça. Ela pensou no escândalo que iria se desenrolar em breve, quando tivessem ciência de que um bebê fora registrado com o sobrenome dela e o de Harry. Ela nem queria pensar nas coisas que seriam ditas, mas imaginava que não seriam lisonjeiras. Ainda lembrava de tudo o que disseram quando eles apenas sumularam um namoro. Ela jamais seria boa o suficiente para o escolhido.
- É a coisa certa a fazer - Rony disse, passando o bebê de seus braços para o de sua esposa.
- Sim Harry. Ele é precioso! – Hermione comentou, agora embalando o bebê em seus braços.
Pansy se sentiu de certa forma apoiada ao ver que os amigos de Harry estavam de acordo com o ele havia decidido, e que eles estavam encantados com seu bebê. Pansy temia que eles a rejeitassem, mas eles estavam sendo agradáveis. Embora ela soubesse que era por causa de Harry, ela ainda se sentia feliz por isso. Era bom que fosse aceita, ou pelo menos seu filho fosse, por aqueles que eram importantes para Harry.
- É uma pena que precisemos voltar ao trabalho agora. – Hermione disse ainda arrulhando para o bebê – Mas viremos amanhã para vê-los. Se precisarem de algo, basta avisar. - Ela passou o bebê para os braços de Pansy.
- Obrigada! – Harry abraçou os amigos novamente.
- Parabéns Pansy e Harry! Vocês têm um filho é lindo! – Hermione disse para a morena.
- Obrigada pela visita! – Pansy também agradeceu.
Um segundo depois eles saíram, deixando apenas Harry, Pansy e o bebê. Ela olhou para o homem e viu que ele parecia cansado. Ela nem queria pensar no motivo disso.
- Você pode ir descansar Harry. – Disse Pansy. – Ficaremos bem.
- Não, não quero me afastar.
- Você claramente precisa. Eu vejo que você está cansado.
- Eu... Não quero sair do seu lado Pansy, ou de nosso filho.
Pansy o avaliou tentando entender o que ele realmente queria dizer. O tom de voz que Harry usara para dizer aquilo parecia... que ele sentia dor.
- Eu sei que é difícil acreditar nisso quando tudo o que eu fiz nos últimos meses foi me manter longe de você. Eu não sei o que dizer em minha defesa. Eu não fui bom com você... Mas peço que você me perdoe por tê-la deixado tão sozinha e ter posto em risco a sua vida e a de nosso filho.
Ele estava arrependido, ela podia ver claramente.
- Está tudo bem, Harry. – Ela queria dizer muitas coisas a ele, mas não ali, com seu bebê no colo.
- Não, não está. Se eu não tivesse chegado a tempo, o bebê poderia ter nascido na estrada, e isso poderia ter prejudicado vocês. Eu fui irresponsável ao me afastar de você nessa condição.
Pansy não negou, porque ela pensava o mesmo.
- Não adianta falar sobre isso agora. O que importa é que estamos aqui e estamos bem. Não se martirize!
- Eu não consigo deixar de sentir raiva de mim mesmo. Eu não estava pensando, não fui responsável, eu deveria...
- Harry, nada vai mudar o passado.
- Eu estive me divertindo enquanto você...
- Esqueça isso e faca o melhor que você puder daqui para a frente. – Pansy foi incisiva. Ela não queria ouvir Harry dando detalhes de como ele se divertiu com Ginny
Harry suspirou.
- Quero que se case comigo.
Pansy o encarou perplexa. Ela pensou que não tinha ouvido direito.
- Não precisa dizer nada agora, Pansy, mas pense no assunto.
- Quer fazer isso pelo bebê... por James?
- Ele precisa de nós dois.
Pansy fixou o olhar no rosto tenso de Harry, a mente confusa. Tudo o que tinha era objetividade, quando o que ela queria era amor. Ela sabia que aceitar seria o caminho mais fácil. Estava apaixonada por ele e podia desejar que durante o casamento ela o conquistasse. Mas não adiantava esperar por algo incerto. Se aceitasse, tudo poderia ser perfeito, duas pessoas compartilhando uma criança, mas Pansy não podia se enganar. James não mudaria o que Harry sentia por ela, ou melhor, o que não sentia. Seria uma ilusão esperar por algo diferente.
- Mas você está com Ginny!
- Não estamos juntos.
- Você passava o tempo todo... – Pansy acusou, embora não quisesse soar assim.
- Não assumimos um compromisso, foi apenas casual. Nos divertimos juntos e isso é tudo – Harry disse incomodado. Ele não queria discutir a natureza de seu relacionamento com Ginny, embora soubesse que era necessário para que Pansy entendesse o que ele estava propondo – Isso não vai acontecer se nos casarmos. Eu prometo ser fiel.
Aquilo fez o coração de Pansy dar um salto. Ele queria se casar com ela, e queria ficar apenas com ela. Tudo o que ele lhe pedia era que fizesse as mesmas concessões que, de certo modo, ele estaria fazendo. Como po deria recusar aquele pedido, apesar de toda a dor que lhe causaria? Precisava se lembrar de que não era ela quem ele escolhia, mas sim seu filho. Apesar disso, a esperança renasceu em seu peito com a possível dedicação exclusiva de Harry ao casamento.
O choro do bebê tirou os pais de seus devaneios. Pansy ajustou James em seu colo, supondo que ele estivesse com fome. Despindo seu seio, ela aconchegou o bebê perto de si e passou a amamentá-lo. James mamou com avidez, enquanto Harry observava com ar fascinado, enquanto o garotinho se alimentava, deliciando-se com o nutri tivo leite materno.
Harry se sentou na cadeira, ao lado da cama. Era incrível, ele pensava, como uma vida poderia mudar outra. Harry sempre quis ser pai, queria uma família, mas não tinha pensado que seria com Pansy Parkinson. Ele não imaginou que as coisas seriam assim, nem em seus sonhos mais loucos, muito menos que ele quisesse se casar com Pansy. Mas bastou olhar para o rosto de seu filho que Harry se arrependeu de tudo o que fizera para a mãe dele, desejando que ela o perdoasse e lhe desse uma oportunidade de estar por perto.
Desde que a encontrara por obra de Luna, ele se sentiu atraído por ela. Apesar de conhecê-la e nutrir certos sentimentos de desdém, Pansy estava muito diferente da garota do colégio quando ele a reencontrou. Ele tinha aceitado a proposta de Luna apenas porque queria avaliá-la devido aos comentários que tinha ouvido no Ministério, de que ela era amante do falecido Chefe de Departamento. Ele não duvidara que fossem verdadeiros, ela era uma slytherin, afinal, e slytherins faziam de tudo ao seu alcance para realizar seus sonhos. Mas conversar com ela durante o casamento mostrou a ele um lado que ele jamais imaginou ver nela, de vulnerabilidade e insegurança.
Não era do comportamento de Harry ter encontros sexuais com alguém no primeiro encontro, e muito menos com slytherins. Mas Pansy despertou um fascínio nele, uma atração inexplicável, e tudo o que ele pensou, quando a teve bem próxima a ele em um quarto mal iluminado, foi que ele queria fazer sexo com ela. E contra todos os seus princípios, foi o que ele fez. Fazer sexo com Pansy fora algo inevitável e intenso para ele.
No entanto, saber que ela tinha ido embora de manhã fora um golpe em seu orgulho. Ele se sentiu usado e abandonado, e sabendo de como ela era, ou pelos menos ele pensava que era, ele decidiu que faria o mesmo com ela. O objetivo de Harry, enquanto estavam trabalhando no Ministério, fora atrai-la para ele, seduzi-la, apenas para abandoná-la como ela fizera, como se não tivesse tido significado algum a noite que compartilharam. Mas para sua frustração ele a descobriu com Comarc e não conseguiu entender por que ela o preferiu. Ele mal conseguiu controlar a raiva.
Como Pansy deixara o Ministério, ele se obrigou a esquecê-la. Buscou conforto em Cho Chang, uma antiga namorada, na esperança de que ela pudesse despertar nele a mesma atração de antes. No fim não funcionou, ele continuava pensando em Pansy, desejando Pansy. Ele queria repetir a noite que tiveram, mais do que queria fazer com ela o que tinha planejado.
Saber da gravidez dela fora um choque. Saber que ela pretendia esconder isso dele, fora ainda pior. Ele queria a seu filho, não importava que ela fosse a mãe. Não que ela fosse ruim, como mãe ele tinha certeza de que ela seria ótima. Agora como mulher, ele não confiava nela. Julgava que Pansy era uma mulher frívola, interesseira, que queria subir na vida e por isso tinha utilizado de vários subterfúgios para isso. Ele chegou a pensar que ela tinha provocado isso, mas ao se lembrar de que fora ele quem começou tudo, ele tirou esse pensamento da cabeça.
Ainda assim ele não a levou a sério, apesar da atração que sentia por ela. Por isso ele não se preocupou em se divertir com Ginny todos os dias na vinícola, aceitando o que ela estava disposta a dar. Ele era jovem, solteiro e disposto. Gostava de mulheres. Ginny sabia que não era um retorno ao antigo relacionamento que tiveram, mas aceitara que tudo era casual. Ele queria acabar com essa atração que tinha pela mãe de seu filho, que o fazia pensar nela constantemente e desejá-la com intensidade. Estar perto dela era uma tortura. Ele pensou que Ginny pudesse ajudar com isso. Também não ajudou.
Apesar de tudo, ele admirava Pansy. Ela fora tão estoica durante todos os meses de gravidez! Depois que ele soube de seu filho, ele a obrigou a estar junto dele. Na verdade, ele não queria que ela se encontrasse com Comarc ou outro homem, ele a queria apenas para si, além de garantir que sua gravidez fosse tranquila. Mas agora ele pensava que isso não tinha sido certo, que ela não tinha tido uma gravidez tão tranquila, por causa dele.
Fora ele quem a deixou a maior parte do tempo sozinha. Ele se afastou com Ginny quando teve a oportunidade de se aproximar de Pansy. Agora, ele a queria mais do que nunca, com uma intensidade que o perturbava, e não somente porque ela era a mãe de seu filho, mas porque ela era uma mulher forte, pronta a enfrentar tudo, que suportou o que ele lhe fez.
Claro que ele pensava que Pansy teria que mudar, ela teria que ser uma mulher honesta no casamento deles. Ele não permitiria que ela tivesse amantes. Ela teria que se contentar apenas com ele. Assim como ele teria que se contentar apenas com ela, pelo menos por um tempo, por causa de James. No entanto, Harry não sentia que isso seria um sacrifício.
Se Pansy tivesse olhado para ele, naquele momento, teria notado a expressão inquieta nos olhos verdes.
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