Reencontro
Ele estava de volta. Estava passando novamente por aquelas ruas depois de sete anos. Já não se sentia muito à vontade naquela cidade. Antes, todos o conheciam, as pessoas o cumprimentavam quando ele passava. Agora, não mais. Muitos dos seus conhecidos haviam morrido, outros haviam ido embora, e a maioria já não lembrava dele. Ele olhava tudo com atenção. Definitivamente Tóquio havia crescido.
Ele pensou no motivo que o trouxera de volta. Quem o chamara ali era a mesma pessoa que o afastara. Aquele homem o afastara de seu lar, de sua vida e de tantas outras coisas... e agora o chamara de volta.
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"Fui negligente. Não quis enxergar o que estava diante dos meus olhos. Fiz ela sofrer. Apaguei a luz que havia nos olhos dela. Destruí os belos sonhos que o seu coração guardava. Anuviei sua existência de tal forma que a vida aqui deixou de valer a pena. Tentei convecê-la a continuar, mas ela me odiava de tal forma pelo que eu fiz que, só de teimosa, manteve-se triste e sombria. Ela não era mais que uma criança, compreenda. Eu tinha que fazer aquilo. Mas descobri que mesmo aquela criança já havia aprendido a amar. E não era um amor infantil. Ela era tão pura e doce que eu me sentia na obrigação de protegê-la. Mas só o que eu fiz foi endurecer seu coração e amargar seus dias. Dias que ela passou trancada no quarto. Dias que ela passou chorando. Dias que ela passou me odiando como pessoa. Ela me disse coisas terríveis, e hoje eu entendo que ela tinha razão. Era direito dela desabafar. Ela me chamou de insensível, negligente e cruel. Me culpou, com razão, pela minha ausência em todos esses anos. Disse que eu não tinha o direito de chegar e acabar com a vida que ela havia construído em dez anos. Hoje vejo que eu estava errado, e ela certa. Engulo meu orgulho e te peço desculpas. Volte. Volte e reavive a chama que brilhava ao redor da minha querida filha."
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Uma carta. Uma simples carta que tivera o mágico efeito de reencontrar os sentimentos perdidos naquela alma até então vazia. E que agora estavam de volta, tão reais quanto aquele portão no qual ele batia. Um portão que não mudara nada, mas perdera a movimentação desde o dia em que ele partira.
Continua...
