Reencontro

Quem atendeu aos seus chamados foi um homem. Aquele homem. O homem que o fizera sofrer por tantos anos. Mas a expressão que ele viu naquele rosto não permitia que ele o odiasse como deveria. Era desespero: a face contraída, os olhos agitados.

_ Vejo que recebeu o meu chamado.

Apesar daquela expressão, o homem ainda se dirigia a ele como um superior. Tratava como um empregado, pronto para chicoteá-lo caso não cumprisse sua vontade. Mas aquilo não o intimidava, pelo contrário, lhe ascendia uma vontade de enfrentar aquele ser desprezível.

_ Vim porque me disse que ela precisava de mim. Onde está ela?

_ Não está aqui. Me abandonou naquele mesmo dia. Disse que não suportaria viver com o homem que acabara com sua felicidade. Foi viver com aquela médica, Megumi...

_ Se ela não está, não tenho nada para fazer aqui, vou embora.

Ele se virou, não podia permanecer ali mais um minuto. Não suportava estar confuso. Odiava aquele homem, e ao mesmo tempo sentia tanta pena dele por tudo que contou, tanto na carta como agora.

_ Espere! _ ouvindo o chamado, ele se virou de volta _ Antes de encontrá-la, tenho algo a lhe dizer. Por favor, entre.

Finalmente aquela criatura nojenta o tratava como um ser humano. Acompanhando-o, olhou para uma das portas do dojo. Era ali que o seu anjo dormia. Depois olhou para tudo ao redor, nada havia mudado. Parecia impossível, mas ele estava novamente no dojo Kamiya.

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Agora, ele se dirigia à casa de Megumi, e pensava no que o homem havia lhe dito: "Ela está mudada. Perdeu o brilho nos olhos. Não sorri, não fala muito, principalmente comigo. Não sei como está, ninguém 'daquele lado' fala comigo. De fato, a única vez que falei com algum deles foi quando apanhei uma gripe e fui até a clínica. Ela saiu da sala quando me viu, e sorriso da doutora se desfez instantaneamente. Me perguntou somente o necessário, prescreveu o remédio e, na saída, quando perguntei se havia alguma chance de Kaoru voltar para casa, a doutora respondeu: 'Não. E não reclame, a culpa foi sua. Ela era feliz, sonhava em se casar com ele, e você acabou com isso. O afastou não só dela, mas de todos nós também'. Por favor, a faça feliz de novo!"

Kenshin, então, começou a recordar do dia em que ele voltara...

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Alguém batia à porta do dojo. Kaoru foi abrir. Quase caiu dura quando viu quem estava a sua frente: seu pai.

Depois de muitas explicações, ele contou que fôra dado como morto na guerra, mas não era verdade. Estivera por muitos anos refugiado na casa de um amigo que combatera junto com ele. E agora, finalmente, estava de volta. Perguntou quem eram aquelas pessoas, referindo-se a Kenshin, Sanosuke, Yahiko e Megumi. Quando Kaoru contou-lhe que eles eram seus amigos e que Kenshin e Yahiko moravam com ela, o homem ficou irado. Levantou-se e começou a gritar que não era direito uma moça solteira viver com um rurouni e um menino sem pai nem mãe, e que aquelas não eram as amizades certas para ela. Olhou para eles de cima a baixo e disse:

_ Não acredito que você ande com este tipo de gente! Vagabundos que só querem se aproveitar de você!

_ Cale-se! _ Kaoru agora já estava de pé, cara a cara com seu pai, muito surpreendida, no início, mas já vermelha de raiva _ Quem você pensa que é? Passa doze anos fora, sem dar as caras, nem uma carta para dizer que estava vivo! E agora chega aqui como o dono da verdade, querendo mudar a minha vida! Eu não vou aceitar que você se meta entre eu e os meus amigos, porque, queira ou não, foram eles que estiveram comigo nas horas difíceis, não você!

Mas não houve jeito, ele estava irredutível. Não permitira, em momento algum, que sua filha, que ele criara tão bem (ele pensava assim), se atirasse de cabeça em uma paixãozinha sem futuro, que só lhe traria infelicidade (já disse que era ele que assim pensava).

_ Não me importa o que você acha, eu sei o que é melhor para você! E vocês _ ele se dirigiu aos três amigos de Kaoru _ saiam já do meu dojo.

_ MEU dojo! Você está morto perante a sociedade, esqueceu? Não tem direito algum sobre esta propriedade! Mas não se preocupe, não vou incomodá-lo mais! Kenshin, Sano, Megumi, Yahiko, me desculpem, mas devo pedir que se retirem. Este é um problema que eu gostaria de discutir somente com este indivíduo. Sinto muito pelo que aconteceu aqui, vocês realmente não deveriam ter ouvido aquelas coisas...

Naquele mesmo dia, Kenshin arrumou suas coisas e Yahiko se mudou para a casa de Sano. Ao entardecer, o espadachim se encontrou com Kaoru no mesmo bosque onde havia se despedido dela antes de partir para Kyoto. Ela estava chorando, como fizera a tarde inteira.

Os dois ficaram se olhando. Sabiam que, se o pai da garota era contra, eles jamais conseguiriam ficar juntos. Mais do que uma tradição, aquilo era a lei. Kaoru quebrou o silêncio:

_ Kenshin... Me desculpe, eu... O meu pai não tem esse direito...

_ Shhhhh! _ ele calou-a com o dedo, o que a fez enrubescer _ Sei que a culpa não é sua! _ ele falava docemente _ Mas se ele não permite, não podemos ficar juntos... _ ele estava surpreendendo a si próprio, jamais pensou que fosse dizer isso (nem eu!) _ não podemos mais nos ver.

Ela soluçou, e ele abraçou-a (essa cena não é familiar?).

_ Por isso _ continuou ele _ eu tomei uma decisão. Eu vou embora. Não suportaria ficar aqui sem vê-la, sabendo que está tão perto... Assim será mais fácil para nós dois.

Ela concordou com a cabeça, soluçando muito. Ele se virou, se continuasse ali, acabaria desistindo da idéia. Kaoru ficou tão desesperada com o pensamento de que não o veria nunca mais, que num impulso agarrou-se a ele, pelas costas. Kenshin derramava suaves lágrimas, se virou rapidamente e colou seus lábios nos dela, num primeiro e último beijo. Depois, sem dizer ou escutar palavras, se afastou... para sempre da vida dela.

Passou na casa de Megumi, onde encontrou Yahiko e Sano também, explicou-lhes tudo, e recebeu apoio de todos, um abraço infinitamente triste de Megumi e Yahiko e palavras de conforto de Sano. Nenhum deles poderia contestar a decisão que o espadachim tomara. Afinal, ele amava Kaoru com todas as suas forças, e eles sabiam disso. Só lhes restava aceitar e apoiar Kenshin.

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Naquele dia, um homem mudara completamente a vida de cinco pessoas. E ele não o perdoaria jamais se algo tivesse acontecido com o seu anjo.

Kenshin bateu à porta. Quem atendeu foi uma bela mulher, que os anos haviam mudado muito pouco. Os longos cabelos negros, os olhos castanhos, os lábios sempre pintados, o avental, tudo isso lhe conferia um ar muito familiar.

_ Kenshin!!! _ exclamou ela.

O rosto da doutora mostrou grande surpresa, e em seguida seus olhos se encheram de lágrimas.

_ É bom vê-la outra vez, Megumi.

Megumi se jogou nos braços do espadachim, perguntando muitas coisas, e ele a acalmou, mostrando-lhe a carta.

_ Você foi até o dojo? _ perguntou preocupada _ Falou com aquele idiota?

_ Sim, e ele me disse que Kaoru vivia aqui com você... Onde está ela?

Megumi pôde notar que ele estava inquieto, e sorriu.

_ Já são duas horas... Ela já saiu do Akabeko, está trabalhando lá agora, mas avisou que hoje vai chegar tarde. Todos os anos no dia de hoje é assim, ela passa o dia inteiro distraída, depois sai e fica por aí, caminhando. Não sei ao certo onde ela vai, desculpe...

_ Tudo bem, vou procurá-la, acho que sei onde ela está...

_ Kenshin, me responde uma coisa: foi neste dia que...

_ Sim. Hoje fazem exatamente seis anos que eu fui embora...

Kenshin ficou melancólico, lembrando-se do beijo...

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Megumi só liberou Kenshin depois de servir a ele um bom almoço. O espadachim resolveu passar primeiro na casa de Sano. Queria cumprimentá-lo, dizer que estava de volta.

Os dois (Sano e Yahiko, lembrem-se de que o garoto estava morando com ele) tiveram a mesma reação de Megumi e eles conversam por muito tempo. Até que Kenshin se desculpou, mas ficar ali, com eles, lhe trazia lembranças dos velhos tempos, e da pessoa que ele queria tanto encontrar. Saiu apressado, logo anoiteceria.

Continua...

Bom, eu sei que muitos de vocs já conhecem esse fic, mas será que dava pra deixar reviews? Bom, algumas pessoas me mandaram e-mails pedindo uma versão em inglês (inclusive o ÚNICO review que eu recebi fala sobre isso), mas acontece que eu sou péssima em inglês! Só sei o básico, não daria para traduzir o fic inteiro. Pra começar, eu nem sei como é que se diz "Reecontro" em inglês! Mas, se alguém quiser fazê-lo, eu ficaria muito feliz! Então, se alguém se oferece para traduzir o fic para o inglês, é só me mandar um e-mail, tá? Bjus da Queen!