Reencontro
Ele caminhava em direção ao bosque onde, duas vezes, se despedira de seu amado anjo. Quando chegou lá, o sol estava se pondo, e uma coloração alaranjada tingia o ambiente.
Adentrou alguns metros no bosque e avistou uma clareira. Estava chegando perto, e seu coração acelerou. Divisou uma figura parada de costas para ele, não parecia ter percebido sua entrada na clareira. Aos poucos, foi reconhecendo os traços tão amados: longos cabelos negros, presos por uma fita azul, um corpo feminino.
_ Kaoru...? _ chamou emocionado.
A garota, ao reconhecer a voz da única pessoa que ela havia amado, virou-se, muito surpresa.
Kenshin viu seu anjo derramar lágrimas e mais lágrimas. Ele se aproximou. Contemplou os belos olhos azuis, mais brilhantes que nunca. Kaoru, lentamente, passou-lhe a mão pelo rosto, como a saber se não era um sonho. O espadachim olhou bem dentro das safiras dela e mergulhou em seu oceano. Perdeu-se no olhar sereno que ela sustentava. Os dois se aproximaram, cada vez mais...
O beijo tão saudoso aconteceu em meio aos soluços abafados de Kaoru. Kenshin recordava de cada pedaço daquela boca, daquele rosto. Enfim, apareceu o que ele tanto queria ver: o sorriso mais lindo que alguém podia dar depois de tantos anos de sofrimento.
_ Kenshin...
Ela se enroscou em seu peito e chorou como nunca.
_ Não chore... Eu voltei, e nunca mais vou embora, não sem você! _ ele a abraçava forte.
Aos poucos, ela foi se acalmando, mas não o soltou.
_ Kaoru... _ ele levantou seu rosto, segurando seu queixo _ Eu te amo muito!
E a beijou novamente.
_ Eu... Também...
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Naquela noite, os cinco comemoravam, na casa de Megumi, a volta de Kenshin.
Kaoru não desgrudou dele um segundo.
_ Puxa, Kaoru, já fazia muito tempo que eu não te via sorrir desse jeito...
_ Megumi tem razão, nos últimos anos só o que você faz é chorar... _ acrescentou Yahiko.
_ Desculpe. _ Kenshin abraçou Kaoru.
Ela corou um pouco.
_ E então, quando vão se casar? _ perguntou Sanosuke, meio bêbado.
Kaoru ficou mais vermelha.
_ Nos próximos três meses, ou menos! _ respondeu Kenshin, sorrindo.
Todos olharam para ele, perplexos, inclusive Kaoru, que agora estava um pimentão. Vendo o espanto em que ela ficou, o espadachim disse:
_ Acho que eu esqueci de te avisar, né? _ ele remexeu no bolso _ Isto é seu!
E entregou-lhe um anel. Todos ainda estavam mudos, e a garota, a essa altura, estava ficando roxa.
_ O que foi, gente, vocês não acharam que eu ia perdê-la de novo, acharam?
_ Ai, Kenshin!!!
Kaoru se atirou em cima dele, derrubando-o. Seu sorriso estava nas orelhas. Mas, lembrando-se de algo, se recompôs e perguntou:
_ Mas... e o meu pai?
_ Vamos falar com ele amanhã...
_ Ah, Kenshin, eu tenho medo...
_ Eu não acredito! _ exclamou Yahiko _ Não posso acreditar que a feiosa tá com medo!
Normalmente, esse comentário não teria surtido nenhum efeito, devido à depressão em que Kaoru se encontrava, mas como naquele dia o humor dela havia finalmente voltado ao normal, depois de tantos anos, o garoto recebeu um soco na cabeça.
_ Desculpe, Kaoru, mas Yahiko tem razão. Você não é de ter medo por tão pouco _ ajuntou Megumi.
_ Pouco? Desculpe-me você, Megumi, mas não é pouco! É a nossa felicidade que está em jogo! Até agora está tudo bem, mas amanhã aquele cego do meu pai pode acabar com toda essa alegria, porque não consegue ver que eu amo o Ke... _ ela parou abruptamente e tapou a boca com as mãos ao ver que todos a olhavam espantados.
Kaoru abaixou a cabeça e sentou-se, muito envergonhada. Se era possível, ela estava mais corada do que nunca. Afinal, não era todo dia que ela tinha um ataque de nervos na frente de todos daquela maneira. Na verdade, a última vez que ela se lembrava de ter feito isso fôra a exatamente seis anos, quando seu pai insultara seus amigos.
Kenshin olhou para ela com carinho. Sentia uma vontade enorme de abraçá-la, dizer que estava tudo bem, e que nada iria separá-los de novo. Mas se segurou, já era bastante ruim que ela perdesse o controle, ele não precisava fazer o mesmo. Então, ele apenas tocou a mão de seu anjo, num gesto suave. Ela sorriu e disse:
_ Desculpem. Eu exagerei. Megumi, eu fui muito grossa com você.
E todos voltaram a comer e falar, perguntar, implicar, tudo finalmente estava como sempre deveria ter sido.
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Kenshin bateu à porta. Logo a seu lado, agarrada em seu braço, Kaoru estava visivelmente nervosa. E não melhorou quando uma figura alta e grisalha atendeu.
O Sr. Kamiya (eu realmente não faço idéia de como se chama o pai de Kaoru, por isso vou chamá-lo assim. Se alguém souber como ele se chama, por favor me diga) estreitou os olhos ao vê-los tão juntos, mas apenas estendeu a mão, num gesto de "vamos entrando".
O pai de Kaoru levou-os até a sala de treinamento, que era o maior lugar do dojo. Arrumou três lugares no chão: indicou um deles, mais distante para Kenshin, que sentou-se. Depois sentou num outro e indicou o terceiro, bem mais perto dele do que de Kenshin, para Kaoru. Ela o olhou secamente e sentou-se bem ao lado de Kenshin, num claro gesto de desafio.
Depois de refletir um pouco, o Sr. Kamiya chegou à conclusão de que merecia aquilo, embora jamais fosse admiti-lo em voz alta. Por isso, ficou calado, e Kenshin quebrou o silêncio:
_ Bem, o senhor deve saber o motivo de estarmos aqui hoje.
_ Imagino, e desde já aviso que terei de pensar muito bem no assunto.
_ Você não tem tempo _ Kaoru parecia muito incomodada em ter que falar com o próprio pai _ Não estamos com vontade de esperar mais.
_ Mulheres não devem se meter nesses assuntos.
Kenshin estava a ponto de interferir. Não era justo que ele falasse assim com a garota, afinal, a noiva era ela. Ela, mais do que ninguém, deveria participar daquela conversar. Mas ele controlou-se ao ver que aquele comentário não a afetou nem um pouco.
_ Não adianta você se irritar. Foi você mesmo que me ensinou a ser forte e corajosa, e a não me conformar com o que eu achava errado. E eu acho errado você se meter na minha vida depois de tantos anos de desaparecimento, mesmo sabendo que você tem todo o direito de fazer isso.
O senhor calou-se. Não podia ir contra aqueles fatos. Realmente, ele era o culpado, e bem lá no fundo se orgulhava de sua filha, por ela estar lutando por seus ideais, mesmo que ele não pensasse como ela.
_ Bem, nada vai te fazer mudar de idéia, não é? _ perguntou.
Kaoru, sentindo que finalmente ele estava entendendo que não podia separá-la de seu querido Kenshin, sorriu. Vendo aquele sorriso, Kenshin sentiu-se aliviado. Ele não gostava daquele homem, mas era o pai de Kaoru, e o espadachim não podia fazer nada. Então, ele realmente desejou que o Sr. Kamiya e sua filha se acertassem, para que eles pudessem viver em paz. E também sorriu. Sentindo uma leveza invadir o lugar quando sua pequena Kaoru sorriu, o mestre em kenjutsu decidiu que não podia mais vê-la sofrer, e perguntou:
_ Você realmente deseja se casar com este homem?
_ Ele tem um nome, e é um ser humano. Trate-o como ele merece, porque é ele que me faz feliz _ disse calmamente Kaoru.
Seu pai pigarreou, suspirou vencido, e reformulou:
_ Kaoru, minha pequena filha, você cresceu, e pelo que eu estou vendo já escolheu alguém que te completa. No entanto, devo insistir em perguntar: você quer realmente se casar com Kenshin Himura?
Kaoru abriu um largo sorriso, e respondeu:
_ Nada me deixaria mais satisfeita!
_ E você, Himura, irá cuidar da minha filha com todo o respeito e carinho que ela merece? Tem como sustentá-la?
_ Senhor Kamiya, farei de Kaoru a mulher mais feliz do mundo, se o senhor permitir. E se não permitir, também. E eu acumulei algumas posses nesse tempo em que estive viajando pelo país. Não é muito, mas creio que será suficiente para nós dois.
Resignado, o Sr. Kamiya continuou:
_ Então, não vejo mais obstáculos que possam impedi-los. Kaoru, tens a bênção de seu pai. Seja feliz com seu futuro marido.
_ Ah, papai, eu te adoro!!!
Esquecida de todo o rancor que sentira durante aqueles longos seis anos, Kaoru se atirou nos braços de seu pai, como fizera tantas vezes quando criança. Depois, enroscou seu braço no de Kenshin, que sorria docemente para ela.
De olhos brilhando, os dois se despediram e foram embora, queriam começar desde já a preparar as coisas para o casamento. E o sensei, muito surpreso, sentiu que apenas ouvir ela chamando-o de pai novamente havia valido todo o esforço que fizera para encontrar Kenshin, trazê-lo de volta e entregar a ele o seu tesouro mais precioso.
E, pela primeira vez depois de todo aquele tempo, sentiu-se feliz ao ver a filha nos braços de outro homem. Não um qualquer, mas o homem que ele finalmente percebera que ela amava e cujo sentimento era totalmente retribuído.
"Eu fui um idiota... E minha filha foi capaz de me perdoar. Agora vejo os dois se afastando, e a sinto mais perto do que antes" pensava ele vendo os dois de costas, caminhado em direção ao sol.
"Eles se amam. E, com certeza, serão muito felizes..."
+++ Fim +++
